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Inteligência Emocional nas Organizações

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Inteligência emocional
Adriana Duarte de Souza Carvalho da Silva
Introdução
Nesta aula estudaremos a inteligência emocional, como ela pode ser aproveitada e incentivada 
dentro do contexto organizacional, bem como as competências emocionais e como elas podem ser 
estimuladas nas equipes. 
Objetivos de aprendizagem
Ao finalizar esta aula, você será capaz de:
 • conhecer o que significa inteligência emocional;
 • identificar as atitudes e as capacidades do inteligente emocional; 
 • entender a respeito de como desenvolver a inteligência emocional.
1 O que é inteligência emocional?
Para iniciar nossos estudos sobre inteligência emocional, vamos romper com alguns pres-
supostos estabelecidos pelo senso comum em relação à inteligência. Ela, explica Antunes (2015), 
não é meramente um elemento neurológico, embora, as funções neurológicas sejam fundamen-
tais para explicar a inteligência; ela também tem componentes sociais e psíquicos.
Figura 1 – Cérebro humano 
Fonte: ESB Professional/Shutterstock.com
Isso implica que a inteligência não surge pronta enquanto nascemos, ao contrário, é algo sem-
pre em construção, que se desenvolve ao longo de toda a nossa vida e no contexto da coletividade.
EXEMPLO
É muito comum ouvir alguém dizer: “Nunca fui bem em matemática. Não consigo 
aprender”. Hoje, no entanto, sabemos que a inteligência é desenvolvida a partir de nos-
sas experiências, da afetividade estimulada em relação a um determinado conteúdo. 
Dessa forma, ninguém nasce predestinado a não compreender matemática, apenas 
não recebeu os estímulos corretos. 
Outro ponto importante, é que a inteligência não deve ser utilizada meramente como crité-
rio de avaliação e mensuração dos indivíduos. Ao contrário, seu conceito deve ser utilizado para 
desenvolver as pessoas, não para medi-las. 
Muito já foi pesquisado na área da inteligência e também muitos equívocos já foram feitos 
ao querer entender a existência do que Antunes (2015) chama de inteligência geral. A inteligência 
deve ser compreendida em seus múltiplos aspectos.
FIQUE ATENTO!
Vários pressupostos errados sobre inteligência acabam criando situações de vio-
lência psicológica, como no caso do aluno que, por não tirar boas notas na escola, 
é rotulado de pouco inteligente. No entanto, se olharmos para o contexto social em 
que vive, descobrimos que mora em um lar desestruturado e que se alimenta mal, 
por exemplo. Então, na verdade, não é que ele não seja inteligente, ele apenas não 
tem as condições mínimas de desenvolver suas potencialidades.
Mas, afinal, o que é inteligência emocional? Veja a definição de Woyciekoski e Hutz (2010, 
p.151-2):
A inteligência emocional (IE) constitui um campo de estudo que reúne pesquisas exten-
sivas sobre a inter-relação entre pensamentos, sentimentos e habilidades. Sobretudo, in-
vestigam-se as reações e interpretações emocionais de sujeitos, bem como a função das 
emoções no comportamento inteligente. 
Como podemos perceber pela leitura, o âmbito das emoções faz parte da inteligência, ou 
seja, saber lidar com as emoções de forma racional é justamente possuir inteligência emocional. 
SAIBA MAIS!
Leia mais sobre inteligência emocional no artigo de Woyciekoski e Hutz, acesse: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-7972200900010 
0002&lng=en&nrm=iso>. 
Agora, vamos conhecer mais sobre as habilidades relacionadas à inteligência emocional. 
2 Capacidades relacionadas à inteligência emocional
Woyciekoski e Hutz (2009) reconhecem que, no âmbito organizacional, a inteligência emo-
cional tem uma utilização estratégica. Eles explicam que, dentro das empresas, não basta aos 
indivíduos terem competências técnicas, pois há outras habilidades a serem avaliadas, que não 
são técnicas, mas emocionais. Os autores nos apresentam estes exemplos:
 • entendimento de suas próprias emoções;
 • empatia;
 • controle sobre suas próprias emoções;
 • confiança;
 • iniciativa;
 • trabalho com os outros.
Figura 2 – Trabalho em grupo 
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com
Existe a crença de que quanto mais inteligência emocional, mais sucesso teria a pessoa. 
No entanto, é fundamental romper com essa visão, já que o sucesso profissional é um fenômeno 
muito mais complexo. Contudo, possuir inteligência emocional pode tornar mais fácil a convi-
vência diária com outras pessoas, além de ajudar o indivíduo a se sair melhor em situações que 
envolvam riscos e incertezas. 
EXEMPLO
Suponha que um colega de trabalho o acuse de ter perdido documentos importantes, 
no entanto é uma acusação infundada, pois você não fez isso. É comum, nesse caso, 
agir apenas pela emoção e responder de forma agressiva. Porém, o indivíduo que tem 
inteligência emocional usará a razão e solicitará um diálogo com o acusador. 
Um indivíduo que desenvolveu sua inteligência emocional tem a habilidade de assumir res-
ponsabilidades. Por exemplo, ao perceber o desencadeamento negativo de determinada ação que 
tomou, ele rapidamente tende a assumir a responsabilidade, sem injustamente espalhar culpa por 
outras pessoas. 
Hoje há muitos testes que possibilitam ao empregador conhecer as habilidades emocionais 
dos indivíduos em um processo de recrutamento, no entanto apenas o psicólogo pode aplicá-los, 
conforme a Lei 4.119/62, em seu artigo 13. 
FIQUE ATENTO!
Apenas o psicólogo é o profissional especializado e capacitado para realizar diag-
nósticos psicológicos, como especificado na alínea a do parágrafo primeiro do 
artigo 13 da Lei nº. 4.119/62. 
Com os resultados, o líder pode conhecer as habilidades emocionais de sua equipe e traba-
lhar com isso. Porém, é fundamental lembrar que os testes são reduções da realidade, a qual é 
sempre mais complexa do que eles conseguem afirmar. 
3 Atitudes relacionadas à inteligência emocional
Os conflitos no trabalho e as brigas interpessoais, combinadas a um ambiente altamente 
competitivo, podem levar a situações de amplo stress e adoecimento no trabalho, diminuindo a 
qualidade de vida no trabalho. 
Figura 3 – Stress no trabalho 
Fonte: Alphaspirit/Shutterstock.com
Esse é um conceito que tem sido muito utilizado na área de teoria das organizações e pode 
ser definido, conforme Gonzaga e Monteiro (2011, p.117-8), da seguinte forma:
 [...] para preservar e promover a saúde psíquica no ambiente de trabalho – a qualidade de 
vida no trabalho – o sujeito precisa encontrar espaço para as diferentes “perspectivas” de 
sua realidade (profissional, pessoal, amorosa, familiar), que caminham em paralelo às suas 
atividades profissionais.
Note, portanto, que a qualidade de vida no trabalho é muito mais do que ter segurança física, 
é também ter segurança emocional. Gonzaga e Monteiro (2011) explicam que a emoção tem um 
papel central dentro das relações organizacionais, influenciando-as. Para que essa influência seja 
positiva, os líderes precisam ser empáticos, ou seja, serem capazes de se colocar no lugar do 
outro e refletir a respeito de como seus subordinados, pares e superiores sentem-se nas situações 
organizacionais diárias. 
FIQUE ATENTO!
Saber equilibrar emoção e razão faz parte da qualidade de vida no trabalho. Para 
melhorá-la, você deve compreender suas emoções de forma racional, tal atitude 
pode mudar tudo. 
Woyciekoski e Hutz (2009) mostram exatamente que os estudos na área de inteligência emo-
cional nascem para romper com antigos entendimentos sobre inteligência e mostrar a relação 
dela com os sentimentos. Assim, os autores (2009, p.01) afirmam: “a verificação das relações 
entre cognição e emoção poderia resultar no reconhecimento da capacidade do homem lidar com 
seu mundo emocional de forma inteligente, compatível com seus objetivos mais amplos de vida”.
A inteligência emocional, quando bem desenvolvida, proporciona ao indivíduo condições de 
viver melhor a sua vida, sabendo lidar com conflitos, com situações de incertezas e controlando 
racionalmente seus sentimentos. 
4 Inteligência emocional – como desenvolvê-la?
A inteligência emocional deve serdesenvolvida nas organizações por meio de processos de 
educação corporativa, que foi conceituada por Cruz (2010, p. 344) da seguinte forma: “um sistema 
de desenvolvimento de pessoas, pautado pela gestão por competências, cujo papel é o de servir 
de ponte entre o aprimoramento pessoal e a estratégia de atuação da instituição”.
A educação corporativa é um processo de ensino/aprendizado baseado na formação de 
competências humanas e no desenvolvimento de inteligência emocional, o que torna possível tra-
balhar com técnicas de assertividade, trabalho em equipe, liderança e gestão de conflitos. 
SAIBA MAIS!
Para ler sobre a educação corporativa, acesse: <http://www.scielo.br/scielo.php?s-
cript=sci_arttext&pid=S0102-46982010000200016&lng=en&nrm=iso>
Cruz (2010) explica que a educação corporativa introduz um novo olhar sobre a relação edu-
cação/trabalho. Esta relação deixa de ser centrada meramente na formação técnica e passa a 
ser focada no desenvolvimento de competências emocionais. Hoje, as propostas de educação 
profissional devem ser voltadas para a formação de novas competências, como as que você pode 
verificar no quadro a seguir.
Quadro 1 – Competências emocionais
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Situação 1 – Prejuízo para a empresa
Durante uma transação financeira, Eduardo toma a decisão menos correta, o que ocasiona em 
perda para a empresa. Ele, como tem inteligência emocional, não irá se desesperar, pois sabe 
que isso faz parte do mundo dos negócios e assume a responsabilidade pelo ocorrido. Irá pen-
sar racionalmente sobre o que aconteceu e ficará determinado a não repetir os mesmos erros.
Situação 2 – Injustiça no trabalho
O líder do setor em que Mariana trabalha está exigindo que sejam feitas muitas horas extras 
sem, no entanto, pagar por elas. Se ela tiver inteligência emocional, não agirá com agressivida-
de, gritando ou exigindo que sejam pagas. Ela será capaz de estabelecer diálogo para chegar a 
um consenso, mostrando seus direitos sem ameaças ou violência verbal.
Situação 3 – Disputa por promoção
João está interessado em uma promoção no seu departamento. Ele se encaixa perfeitamente 
nesta vaga, pois tem todas as habilidades e conhecimentos necessários. No entanto, há outro 
colega, menos qualificado, também interessado, só que ele, como é amigo do líder, acaba con-
seguindo a promoção. Como tem inteligência emocional, João sabe que a vida é injusta e não 
se permite desistir diante das insjustiças.
Fonte: elaborado pela autora, 2017.
As competências emocionais não são facilmente desenvolvidas. Afinal, quem quer reconhe-
cer seus fracassos, culpas e a injustiça da vida? Mas as organizações devem criar processos de 
aprendizagem que envolvam o desenvolvimento de habilidades emocionais, pois certamente será 
uma vantagem competitiva para as empresas. 
Fechamento
Chegamos ao final desta aula. Aqui, mostramos que a inteligência emocional pode ser um 
fator competitivo para as empresas, mas ela precisa ser estimulada e desenvolvida. 
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 • conhecer as novas concepções de inteligência; 
 • compreender o conceito de inteligência emocional;
 • entender as competências emocionais;
 • aprender sobre os processos de desenvolvimento de competências emocionais. 
Referências 
ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas: Papirus, 2015. 
BRASIL. Presidência da República. LEI nº. 4.119, de 27 de agosto de 1962. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4119.htm>. Acesso em: 13 maio 2017. 
CRUZ, Daniele. Educação corporativa: A proposta empresarial no discurso e na prática. Educação 
em Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 2, p. 317-357, ago. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982010000200016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 
18 mar. 2017. 
GONZAGA, Alessandra Rodrigues; MONTEIRO, Janine Kieling. Inteligência emocional e qua-
lidade de vida em gestores brasileiros. Avaliação Psicológica Itatiba, v. 10, n. 2, p. 117-127, ago. 
2011. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712 
011000200003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 18 mar. 2017.
WOYCIEKOSKI, Carla; HUTZ, Claudio Simon. Inteligência emocional: teoria, pesquisa, medida, 
aplicações e controvérsias. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 22, n. 1, p. 1-11, 
2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-797220 
09000100002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 mar. 2017.
____. Inteligência emocional avaliada por autorrelato difere do construto personalidade? Psico-USF 
(Impr.), Itatiba, v. 15, n. 2, p. 151-159, ago. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?s-
cript=sci_arttext&pid=S1413-82712010000200003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 16 mar. 2017.

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