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FICHA CATALOGRÁFICA (Preparada pelo Centro de Catalogaçâo-na-fonte, Câmara Brasileira do Livro, SP) Figueiredo, Djairo Guedes de, 1934- F489a Análise de Fourier e equações diferenciais parciais. Rio de Janeiro, Instituto ds Matemática Pura e Aplicada, CNPq, 1977. (Projeto Euclides) Bibliografia. 1. Análise de Fourier 2. Título. II. Série. Equações diferenciais parciais 77-1420 17. CD D -517.355 18. -515.2433 17. -517.383 18. -515.353 índices para catálogo sistemático: 1. Análise de Fourier: Matemática 517.355 (17.) 515.2433 (18.) 2. Equações diferenciais parciais: Matemática 517. 383 (17.) 515.353 (18.) djairo guedes de figueiredo anáiise de fourier e equações diferenciais parciais Quarta Edição impa INSTITUTO DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA Copyright, © 2000 by Djairo Guedes de Figueiredo Direitos reservados, 2000 por Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, Av. W-3 Norte, Brasília, DF Impresso no Brasil / Prínted in Brazíl capa: Gian Calví Criação Visual Ltda. Projeto Euclides Comissão Editorial: • Elon Lages Lima (editor) • Jonas Gomes • Paulo Sad Títulos Publicados: • Curso de Análise, Volume 1 - Elon Lages Lima • Aplicações da Topologia à Análise - Chaim Samuel Hônig • Espaços Métricos - Elon Lages Lima • Introdução aos Sistemas Dinâmicos - Jacob Palis e Wellington C. de Melo • Introdução à Álgebra - Adilson Gonçalves • Aspectos Teóricos da Computação - Cláudio L Lucchesi, Imre Simon, Istvan Simon, Janos Simon e Tomasz Kowaltowski • Teoria Geométrica das Folheações - Alcides Lins Neto e Cesar Catnacho • Geometria Riemanniana - Manfredo R do Carmo • Lições de Equações Diferenciais Ordinárias - Jorge Sotomayor • Curso de Análise, Volume 2 - Elon Lages Lima • Introdução à Teoria ergódica - Ricardo Mané • Operadores Auto-adjuntos e Equações diferenciais Parciais - Javier Thayer • Teoria dos Números Algébricos - Otto Endler • Equações Diferenciais Parciais: uma introdução - Rafael lório Jr. e Valéria lório • Álgebra: um curso de Introdução - Arnaldo Leite R Garcia e Yves ALbert E. Lequain • Grupo Fundamental e Espaços de Recobrimento - Elon Lages Lima • Funções de Uma Variável Complexa - Alcides Lins Neto • Probabilidade: um curso em nível introdutório - Barry R. James • Medida e Integração - Pedro Jesus Fernandez • Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais - Djairo Guedes de Figueiredo Distribuição SBM, Sociedade Brasileira de MatemÀtica Estrada Dona Castorina, 110 22460-320, Rio de Janeiro, RJ e-mail: sbm@impa.br ISBN 85-244-0120-6 mailto:sbm@impa.br À dona Mira, minha mãe, Sorriso e bondade. Em seus setenta anos. CO NTEÚDO PREFÁCIO..................................................................................................... IX INTRODUÇÃO.............................................................................................. XIII CAPÍTULO 1 POR QUE ESTUDAR SÉRIES DE FOURIER?................. 1 1.1 Condução do calor numa b a r ra ....................................................... 1 1.2 Formulação matemática do problema da condução do calor 5 CAPITULO 2 SÉRIES DE FOURIER......................................................... 12 2.1 Funções periódicas.......................................................................... 12 2.2 Convergência un ifo rm e................................................................... 14 2.3 Coeficientes de F o u rie r ................................................................... 16 2.4 Série de F o u rie r............................................................................... 18 2.5 Séries de Fourier de funções pares e ím p ares................................ 23 2.6 Cálculo de algumas séries de Fourier............................................... 24 2.7 Integração de séries de Fourier......................................................... 31 2.8 Estimativas dos coeficientes de Fourier.......................................... 35 2.9 Forma complexa da série de Fourier............................................... 37 2.10 Identidade de Parseval..................................................................... 38 2.11 Nota histórica.................................................................................... 40 Exercícios........................................................................................................ 42 CAPÍTULO 3 CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER ........... 48 3.1 Classes das funções consideradas.................................................... 48 3.2 Convergência pontual da série de Fourier..................................... 53 3.3 Lema de Riemann-Lebesgue........................................................... 56 3.4 Convergência pontual da série de Fourier (continuação).............. 58 3.5 Desigualdade de Bessel..................................................................... 60 3.6 Desigualdades de Cauchy-Schwarz e de Minkowski...................... 63 3.7 Convergência uniforme da série de Fourier................................... 68 3.8 Núcleos de D ira c ............................................................................ 72 3.9 Teorema da aproximação de Weierstrass........................................ 77 3.10 O teorema de Fejér.......................................................................... 80 3.11 Identidade de Parseval..................................................................... 84 3.12 Funções de variação lim itada ......................................................... 88 3.13 Fenômeno de G ib b s ....................................................................... 93 3.14 Problema isoperimétrico ................................................................ 96 3.15 Nota h istó rica ................................................................................. 99 Exercícios....................................................................................................... 100 CAPfTUL0 4 EQUAÇÃO DO CA LO R .......................... 102 4.1 Condução do calor: barra com extremidades mantidas a 0 °C 102 4.2 Condução do calor: barra sujeita a outras condições laterais 108 4.3 Condições de fronteira não-homogéneas........................................ 112 4.4 Equação do calor não-homogênea.................................................. 114 4.5 Condução do calor em uma barra não-homogênea....................... 118 4.6 Unicidade de solução do PVIF (1 ) .................................................. 120 4.7 Variações da temperatura do s o lo .................................................. 124 Exercícios........................................................................................................ 127 CAPÍTULOS EQUAÇÃO DAS O N D A S............................................. 130 5.1 Equação da corda vibrante.............................................................. 130 5.2 Resolução por séries de Fourier .................................................... 134 5.3 Energia da corda vibrante .............................................................. 139 5.4 Harmônicos, freqüéncia, am plitude............................................... 142 5.5 Corda dedilhada............................................................................... 144 5.6 Vibrações forçadas. Ressonância............................................. 146 5.7 Corda infinita .................................................................................. 149 5.8 Corda semi-infinita.......................................................................... 160 5.9 Linhas de transmissão..................................................................... 164 5.10 Vibrações longitudinais de uma bana e lástica.............................. 168 5.11 Soluções generalizadas à Sobolev ..................................................... 172 f^xercícios........................................................................................................ 182 CAPÍTULO 6 TRANSFORMADA DE FOURIER EAPLICAÇÕES-------- 191 6.1 À guisa de motivação ...................................................................... 191 6.2 Definição da transformada de F o u rie r........................................... 196 6.3 Espaço e transformada de Fourier em 5^ ............................. 200 6.4 Produto de convolução................................................................... 207 6.5 Teorema de Plancherel ................................................................... 211 6.6 Fórmula do somatório de Pòisson e equação do calor ................. 213 6.7 Problema de Cauchy para a equação do c a lo r .............................. 216 6.8 Condução do calor na barra semi-infmita...................................... 220 Apêndice Funções representadas por integrais.......................................... 222 Exercícios........................................................................................................ 238 CAPÍTULO 7 EQUAÇÃO DE LAPLACE.............................................. 245 7.1 Problema de D irichlet............ ......................................................... 245 7.2 Problema de Dirichlet no retângulo................................... .. . . . . 249 7.3 Problema de Dirichlet no disco....................................................... 251 7.4 Problema de Dirichlet para a equação de Laplace num semiplano 257 Exercícios........................................................................................................ 259 Respostas e sugestões.................................................................................... Referências...................................................................................................... Índice............................................................................................................... PREFÁC IO O objetivo central do presente texto é a resolução de algumas equações diferenciais parciais que aparecem em problemas da Física Matemática. Para isso, teremos de desenvolver certos métodos, sendo que o primeiro deles é o Método de Fourier, cujo ingrediente essencial é a série de Fourier. Um outro método introduzido utiliza a transformada de Fourier. Por tanto, sendo a série e a transformada de Fourier as duas ferramentas básicas usadas, dedicamos alguns capítulos à chamada Análise de Fourier. O espírito que nos guiou na ordenação da matéria do texto foi o de desenvolver o instrumental matemático à proporção em que ele se fazia necessário. Assim, decidimos iniciar o presente trabalho apresen tando um problema da Física Matemática. A seguir, durante a resolução do mesmo, fomos motivando a introdução de certos conceitos e justi ficando certos teoremas. Parece-nos que esse ponto de vista é particular mente instrutivo para o estudante. Um tal procedimento responde, por si mesmo, àquela preocupação do aluno sobre a utilidade das teorias matemáticas que estuda, mostrando como e por que elas foram criadas. Procuramos também mostrar a força dos métodos introduzidos, apli- cando-os à resolução de vários outros problemas da Física Matemática. Tentamos fazer um texto que fosse utilizável pelos alunos de graduação dos cursos de Engenharia, Física e Matemática, bem como pelos alunos do curso de Mestrado em Matemática. Visando os primeiros, pusemos como pré-requisito apenas o Cálculo Diferencial e Integral de uma e várias variáveis. Entretanto algum material requerendo maior conhe cimento matemático foi colocado em secções e observações isoladas ao longo do texto, de modo a permitir que o leitor as omita caso desejar. Fizemos isso visando a um duplo objetivo: despertar a curiosidade do leitor iniciante e mostrar ao leitor mais avançado a relevância de algumas teorias matemáticas que ele estudou. A necessidade de um texto com o enfoque escolhido se deve, ao nosso ver, a uma série de problemas atuais no ensino de Matemática, os quais estão intimamente interligados, como passamos a expor. a) Nos cursos de Engenharia e de Física, as disciplinas do ciclo básico ministradas pelos Departamentos de Matemática contêm poucas apli cações, e seus programas visam pouco ao uso futuro no ciclo profissional. Neste, a Matemática é utilizada de “modo diferente” daquele que o aluno viu no ciclo básico! Em algumas disciplinas do ciclo profissional, a Mate mática necessária é desenvolvida ad hoc! Parecem faltar, no ciclo básico, algumas disciplinas de conexão, como sejam Métodos Matemáticos da Física ou Equações Diferenciais Parciais, ou, até mesmo. Equações Dife renciais Ordinárias, apresentadas com uma forte dosagem de aplicações à Física e à Engenharia. Onde anda aquela cadeira, dos antigos cursos de Engenharia, que era tão útil nesse espírito de conexão, a qual era mi nistrada pelos departamentos de Matemática, e que trazia aquele nome tão pitoresco: “Mecânica racional precedida de elementos de cálculo vetorial”? b) Nos cursos de graduação em Matemática, bacharelado e licen ciatura, quase todas as disciplinas são oferecidas pelo Departamento de Matemática, via de regra, com um enfoque pouco aplicado. A Física, a Química e a Biologia comparecem na quantidade mínima para atender às exigências da legislação federal. Existe em alguns lugares a idéia bizarra de que essas matérias são um trambolho que deve ser logo superado para que o aluno possa logo se dedicar às disciplinas matemáticas, pois são estas que realmente importam. Será? Que vão fazer esses alunos após se tornarem bacharéis ou licenciados? Talvez a maior parte deles vá ensinar pessoas para as quais a Matemática é apenas uma ferramenta. Não seria bom que esses professores tivessem aprendido um pouco da linguagem das aplicações para melhor motivar seus alunos? c) O aluno de Mestrado em Matemática é o bacharel ou o licenciado formado no espírito da letra (b) acima. É, via de regra, pessoa avessa às aplicações, não porque as conheça e as julgue desagradáveis, mas sim por que não as conhece e as teme. A maioria dos programas de Mestrado em Matemática não procura sanar esse problema. Talvez se julgue que seja demasiado tarde. Desse modo, os cursos de Mestrado se limitam a melhorar o nível de conhecimento estritamente matemático dos alunos egressos de nossas graduações. Mestres formados nesse esquema pouco poderão fazer no sentido de minorar os problemas das letras (a) e (b) acima. Não cremos que seja dificil fazer algo, nesse nível de Mestrado, para atacar os problemas que expusemos anteriormente. A introdução de certas disciplinas, como, por exemplo. Equações Diferenciais Parciais, no espírito do presente texto, seria um passo na direção de futuros pro gramas mais ambiciosos. Meus agradecimentos a todos que leram o manuscrito ou partes do mesmo e nos deram sugestões e apontaram incorreções; em particular, aos professores David Goldstein Costa, José Valdo Gonçalves, Nelson Ortegosa da Cunha, Pedro Nowosad e Wellington Santiago. Brasília, novembro de 1977 Djairo Guedes de Figueiredo “Returning to the question of the Conduction of Heat, we have first of all to say that the theory of it was discovered by Fourier, and given to the world through the French Academy in his Théorie analytique de la chaleur, with Solutions of problems naturally arising from it, of which it is difficult to say whether their uniquely original quality, or their trans- cendently intense mathematical interest, or their perennially important instructiveness for physical Science, is most to be praised.” (Kelvin, Ency- clopaedia Britannica, 1878.) “Par rimportance de ses decouvertes, par Tinfluence décisive qu’il a exercé sur le développement de la Physique mathématique, Fourier méritait rhommage qui est rendu aujourd’hui à ses travaux et à sa mé- moire. Son nom figurera dignement à côté des noms, ilustres entre tous, dont la liste, destinée à s’accroitre avec les années, constitue dés à présent un véritable titre d’honneur pour notre pays. La Théorie analytique de la Chaleur. . . ,que l’on peut placer sans injustice à côté des écrits scien- tifiques les plus parfaits de tous les temps, se recommande par une expo- sition intéressante et originale des principes fondamentaux.” (Darboux, Oeuvres de Fourier, 1, 1888.) “La théorie de la chaleur de Fourier est un des premiers exemples de Tapplication de 1’analyse à la physique; en partant d’hypothéses simples qui ne sont autre chose des faits expérimentaux généralisés, Fourier en a déduit une série de conséquences dont Tensemble constitue une théorie compléte et cohérente. Les résultats qu’il a obtenu sont certes intéressants par eux-mêmes, mais ce qui l’est plus encore est la méthode qu’il a employé pour y parvenir et qui servira toujours de modèle à tous ceux qui voudront cultiver une branche quelconque de la physique mathématique. J’ajouterai que le livre de Fourier a une importance capitale dans 1’histoire des mathé- matiques et que Tanalyse pure lui doit peut-être plus encore que 1’analyse appliquée.” (Poincaré, Théorie analytique de la propagation de la chaleur, 1891.) IN TRO DU ÇÃO O estudo das Equações Diferenciais começa com a criação do Cálculo Diferencial e Integral no século XVII, e é guiado, inicialmente, por suas aplicações à mecânica das partículas. Nessas aplicações, o uso de leis fisicas, como as três de Newton da Dinâmica e a lei da gravitação uni versal, possibilita obter equações diferenciais ordinárias que representam os fenômenos em estudo. O sucesso em tratar esses problemas utilizando o Cálculo Diferencial foi um enorme estímulo aos físicos e matemáticos do século XVIII em procurar modelos para problemas da Mecânica do Contínuo e de outros ramos da Física (Termologia, por exemplo) que expressem os fenômenos em termos de Equações Diferenciais. Entretanto as equações resultantes, sendo equações diferenciais parciais, trazem sérias dificuldades matemáticas em sua resolução. As três equações básicas que já aparecem nos estudos dos matemáticos do século XVIII são as seguintes: no problema das vibrações transversais de uma corda, a posição u(x, t) de um ponto x da corda, num instante í, deve satisfazer à equação das ondas no problema da condução do calor em uma barra, a temperatura w(x, í) do ponto X da barra, no instante í, deve satisfazer à equação do calor • No problema do equilíbrio de uma membrana sob a ação de certas forças, obtém-se que uma certa função u(x, y) deve satisfazer à equação de Laplace + “yy = em uma região do plano x, y. Para esses problemas, a obtenção de soluções satisfazendo, além da equação diferencial, a certas condições iniciais ou condições de fronteira é uma tarefa difícil. E esse é o objetivo central deste trabalho. O método de resolução desses problemas é conhecido como o método de Fourier, o qual consiste em duas etapas. Na primeira, utiliza-se sepa ração de variáveis para obter problemas de autovalor, para equações diferenciais ordinárias, estreitamente relacionados com as equações dife renciais parciais em estudo. Nessa etapa, obtém-se uma família de soluções da equação diferencial parcial que satisfazem a uma parte das condições de fronteira. A idéia básica, a seguir, é utilizá-las para compor a solução do problema como uma série cujos termos são produtos dessas soluções por coeficientes adequadamente escolhidos; essa é a segunda etapa, que requer a chamada Análise de Fourier. No Capítulo 1, aplica-se o método de Fourier para o tratamento detalhado do problema da condução do calor em uma barra; visamos, desse modo, motivar o estudo das séries de Fourier através de um exemplo de bastante significado histórico. De fato, esse é precisamente um dos problemas estudados por Fourier em seu tratado de 1822, Théorie ana~ lytique de la chaleur (Teoria analítica do calor). É nesse trabalho que o problema de representação de uma função por uma série trigonométrica é colocado em termos mais claros, concluindo uma era de estudo desse problema, marcada por dúvidas e controvérsias mantidas entre eminentes matemáticos como d’Alembert, Euler, Daniel Bernoulli e Lagrange. Re- conheça-se que o trabalho de Fourier carece de rigor, o que é absoluta mente compreensível porque, na época, a Análise não estava ainda em bases sólidas. Foram precisamente as dúvidas e imprecisões em problemas como os da convergência da série de Fourier, cuja relevância era indis cutível, que motivaram matemáticos como Cauchy, Bolzano, Dirichlet e outros, a procederem a uma formalização mais cuidadosa da Análise. Os Capítulos 2 e 3 contêm uma teoria das séries de Fourier, e a sepa ração em dois capítulos visa a atender diferentes grupos de leitores. Aqueles que têm menor interesse pelas questões matemáticas e visam mais ás aplicações das séries de Fourier poderão omitir o Capítulo 3, ou, pelo menos, ler apenas os resultados, deixando as demonstrações de lado. Com o instrumental adquirido nos Capítulos 2 e 3, tratam-se, no Capítulo 4, vários problemas de condução do calor em uma barra. O Capítulo 5 estuda os vários problemas para a equação unidimen sional das ondas. Além de utilizarmos o método de Fourier, tratamos alguns problemas usando o fato de que a equação das ondas possui uma solução geral, o que já foi observado por d’Alembert. Esse capítulo contém, na Secção 5.11, um estudo detalhado da existência de solução generalizada para a equação das ondas; os leitores que não estejam familiarizados com a teoria da integral de Lebesgue podem omitir essa secção, onde se faz uso dos chamados espaços de Sobolev. Outro instrumental básico introduzido neste texto é a transformada de Fourier. O Capítulo 6 versa sobre ela e algumas de suas aplicações às equações do calor e das ondas. Finalmente, o Capítulo 7 trata o problema de Dirichlet para a equação de Laplace em regiões muito simples como retângulos, discos ou coroas. Para essas regiões, que têm um certo grau de simetria, o método de Fourier funciona particularmente bem. O problema de Dirichlet para regiões mais gerais requer outras técnicas, e foge ao objetivo deste trabalho. Esperamos ter procedido a um desenvolvimento, suficiente para nossos propósitos, das séries e transformadas de Fourier, bem como discutido um número de exemplos que mostram a força e a utilidade dos métodos introduzidos. O Autor procurou manter a um mínimo os pré-requisitos matemáticos, visando a tornar o texto acessível a pessoas que tenham interesse nas aplicações, mas que careçam ainda de um conhecimento mais amplo das modernas teorias matemáticas. Apesar disso, procurou-se, através de diversas observações (quando marcadas com um asterisco (*), re querem o conhecimento de Álgebra Linear; quando marcadas com dois (**), exigem, além disso, familiaridade com a integral de Lebesgue), mostrar as conexões do que estudamos com outros ramos da Matemática atual; e não esqueçamos que boa parte dessa Matemática foi criada no estudo de ques tões como as consideradas neste texto. Espera-se assim motivar os leitores a aprofundarem seus conhecimentos matemáticos. A questão central na teoria das séries de Fourier é expressar uma dada função como uma série de senos ou (e) co-senos, os quais, como veremos no texto, são autofunções de determinados problemas de auto valor. A consideração de certos problemas para as equações diferenciais parciais em estudo conduz à necessidade de escrever-se uma dada função como uma série de autofunções de problemas de autovalor mais gerais. Essas questões são bem mais dificeis e, para atacá-las de modo mais con ciso e elegante, requer-se um instrumental matemático mais poderoso: em vista disso, decidimos omiti-las do presente trabalho. CAPÍTULO 1 POR QUE ESTU DAR S É R IE S DE FO U R IER7 Este capitulo, além de responder à pergunta enunciada no titulo do capitulo, mostra como surgiu a teoria das séries de Fourier, e assim se constitui em uma motivação adequada para o trabalho desenvolvido em parte substancial deste texto. Estudaremos o problema da condução do calornuma barra. Na tentativa de resolvê-lo, usaremos a matemática que aprendemos nos cursos de Cálculo Diferencial e Integral e de Equações Diferenciais, e chegaremos à conclusão de que ela é insuficiente. Espe ramos convencer o leitor de que a resolução do problema requer algo mais, e que esse algo mais é a série de Fourier. 1.1 Condução do calor numa barra Considere uma barra de comprimento L, cuja secção transversal tem área A, feita de um material condutor uniforme de calor. Suponhamos que a superficie lateral da barra esteja isolada termicamente de modo a não permitir, através dela, transferências de calor com o meio ambiente. Transferências podem, entretanto, ocorrer através das extremidades da barra. Figura 1.1 Isolamento térmico A uniformidade do material e o isolamento térmico lateral implicam que o fluxo de calor se dê somente na direção longitudinal, e, portanto, estamos em presença de um problema de condução do calor em uma dimensão apenas. Mais precisamente, as várias grandezas fisicas são cons tantes em cada secção transversal, podendo, obviamente, variar de uma secção para outra. A lei do resfriamento de Fourier diz o seguinte: considere duas placas, Pj e P2 » de áreas iguais a A, mantidas constantemente às temperaturas [ Capftulo 1 ] Tj e T2 , respectivamente; se colocadas paralelamente a uma distância d uma da outra, haverá passagem de calor da placa mais quente para a mais fria, e a quantidade de calor, por unidade de tempo, transferida de uma placa para outra é dada por kA\T2-T^\ Q = (1) onde k é a condutibilidade térmica do material entre as placas. No sistema CGS, k tem as dimensões de cal/cm-s-°C. Utilizaremos a seguir essa lei para estudar a condução do calor na barra. Representemos por m(x , t) a temperatura de um ponto de abcissa x (imaginemos que a barra esteja colocada sobre o eixo dos x, como indica a Figura 1.2) no tempo t. Observe que a temperatura independe das coor denadas espaciais y c z. Tomemos duas secções transversais da barra localizadas em x e em X -h d. Para aplicar a lei de Fourier, imaginamos essas secções como as placas Pj e P2 acima. Entretanto há uma dificuldade porque as tem peraturas nessas secções variam com o tempo, e, portanto, não são cons tantes como requer a lei de Fourier. Para superar essa dificuldade, vamos introduzir a grandeza fluxo de calor através duma secção x, num instante í, o que será feito do seguinte modo: fixe o tempo f em (1), faça T2 = u(x -h d, t) e Tj = u(x, í), e passe ao limite quando d tende a zero. Tal limite será kA\u^(x, í)|. Definimos, então, o fluxo de calor na direção positiva do eixo X como uma função q(x, t) dada por q(x, t) = -kAu^(x, t), (2) O sinal menos em (2) é justificado do seguinte modo: se a temperatura u crescesse com x, seria positivo; mas, como o calor fluiria para a esquerda, [ Secçâk) 1 -1 ] q deveria ser negativo. Por outro lado, se u decrescesse com x, seria negativo, mas, como o calor fluiria para a direita, q deveria ser positivo. Fixemos agora um elemento da barra entre Xq e Xq + á, e vejamos qual é a quantidade de calor (q) que aí entra, no período de tempo entre íq e íq -h T. Usando o fluxo de calor q(x, í), podemos ver que q = <7(Xq , t ) d t - \ q{xo + S, t) dt, t̂o •'ÍO OU seja. Jto to + r 0 - dt. (3) Por outro lado, sabemos que o calor específico (c) de uma substância é a quantidade de calor necessária para elevar em 1 ”C a temperatura de um grama dessa substância. Portanto q pode ser também escrito como J*to + T pOCo + <5 cu,{x, t)dt p A dx, (4) to Jxo onde p é a densidade da substância. Usando o teorema fundamental do cálculo em (3) e, a seguir, igua lando o valor de q assim obtido com o valor de q dado em (4), obtemos lío + T fXo + ó pfo + t pxo + S ku^J^x, t)dx dt = cpUj(x, t)dxdt (5) wo •'XO Como a expressão (5) é válida para todo íq > 0, todo 0 < Xq < L e todos T > 0 e á > 0, concluímos que 0 = í), ou seja. pio + T pjc JiO •'■XO u, = Ku^ (6) onde K = k/(cp) é a difusibilidade térmica, que, no sistema CGS, tem as dimensões cm^/s. Na Tabela 1.1 apresentamos os valores de K para dife rentes substâncias. A Equação (6) é chamada a equação do calor, e é a lei de variação da temperatura m(x , í) numa barra uniforme com a super fície lateral isolada termicamente. Observações. Na dedução da equação do calor, fizemos várias hipóteses, algumas ditadas pela experiência, e, nesse caso, elas são leis físicas. Os fatos básicos na dedução foram: (i) a lei do resfriamento de Fourier e (ii) a expressão (4) da quantidade de calor em função do calor específico, c. Além disso, fez-se a hipótese de que a temperatura é uma função cujas derivadas parciais até segunda ordem são contínuas na região do plano (x, í), dada por 0 < x < L e í > 0. Tabela 1.1 Valores de K para diferentes substâncias 4 Capítulo 1 ] Material Prata Cobre Alumínio Ferro fundido Granito Argila Agua X(cm Vs) ^ 1,71 1,14 0,86 0,12 0,011 0,0038 0,00144 Análise do que fizemos até aqui. A temperatura m(x, t) da barra obedece à equação do calor (6). Entretanto tal equação tem muitas soluções. Por exemplo, qualquer constante, m(x, t) = = constante, é uma solução de (6). Outras soluções triviais seriam m(x, t) = = cx, onde c é uma constante. E vemos que há muitas outras. Qual delas vai representar a distribuição de temperatura na barra? Aí entram em cena informações adicionais sobre o problema específico em estudo. Ini cialmente vemos que a distribuição de temperatura deve depender da temperatura inicial ao longo da barra. Fisicamente isso é razoável; mate maticamente é um dado essencial na determinação de m(x. t). Essa dis tribuição inicial da temperatura é a condição inicial do problema, e escre vemos que M(x, 0) = / ( x ) , onde / : [0, L] -► IR é uma função dada que descreve a temperatura nos vários pontos da barra no instante t = 0. Além dessa condição, é importante saber o que se passa nas extre midades da barra. Como elas não estão isoladas termicamente, pode haver entrada ou saída de calor. Isso deve, necessariamente, influir no valor de m(x, í). Temos, pois, de enunciar as condições de fronteira, as quais podem ser de vários tipos. CONDIÇÕES DE FRONTEIRA. Tipo I. Suponhamos que, por algum processo, as extremidades da barra sejam mantidas a temperaturas conhecidas. Por exemplo, tempera- tura constante em cada extremidade, u (0 ,t)= T i e m(L, í) = T 2 , onde Tj e T2 são temperaturas dadas. Um caso mais complexo seria aquele em que se conhece a variação da temperatura em uma extremidade (ou em ambas), isto é, w(0, t) = h^{t) e u(L, t) = h,(tl onde ^q(í) e h^(t\ para í > 0, são as temperaturas (conhecidas) em cada uma das extremidades. Tipo II. Suponhamos que as extremidades estejam isoladas termicamente. Isso quer dizer que os fluxos de calor através dex = 0 e x = L são nulos. Da Expressão (2) para o fluxo de calor, vemos que as condições laterais nesse caso têm a forma u,(0, t) = t) = 0. Tipo III. Suponhamos que o meio ambiente tenha temperatura Uq e que haja transferências de calor, entre a barra e o meio ambiente, regidas pela lei kuJO, t) = ^{m(0, O-Uq}, -ku,(L, t) = e{u(L, í)-Wo}, onde e é uma constante, dita emissividade, característica do par constituído pelo material da barra e pelo meio ambiente. Tipo IV. Uma combinação de duas quaisquer das condições acima, como, por exemplo, u(0, í) = 0 e Wĵ (L, í) = 0. [ Secção 1.2] 5 1.2 Formulação matemática do problema da condução do calor Vamos representar por ât a região do plano (x, t) determinada por 0 < x < L e í > 0 , e por ât a união de ^ com sua fronteira que é for mada pelas semi-retas (x = 0, í > 0} e {x = L, í > 0} e pelo segmento {0 ^ X < L, í = 0}. O problema da condução do calor consiste em de terminar uma função real u(x, t) definida em ^ que satisfaça à equação [ Caprtulo 1 ] do calor em que satisfaça à condição inicial m(x, 0) = /(x), 0 < X < L, (1) (2) onde /: [0, /.] -► IR é uma função dada, e, finalmente,que satisfaça às condições de fronteira. Vamos começar com o caso em que as tempe raturas nas extremidades da barra são mantidas constantemente zero, isto é, u(0, t) = u(L, t) = 0. (3) O problema dado em (l)-(3) é chamado um problema de valores inicial e de fronteira, ou problema misto. Neste trabalho preferimos a primeira terminologia porque ela explica melhor a natureza do problema. Método de Fourier. Esse método consiste em, primeiramente, usar sepa ração de variáveis e procurar soluções w(x, í) do pro blema na forma u(x, t) = F(x)G(t). (4) Ao iniciar essa busca, esclarecemos que vamos proceder como o pesqui sador que procura descobrir algo. Faremos uma série de raciocínios infor mais, sem nos preocuparmos com a justificação rigorosa de cada passo. Nossa meta é descobrir uma função ou funções que se constituam candi datos razoáveis à solução do nosso problema. Uma vez identificado esse candidato tentaremos provar rigorosamente que ele é a solução do pro blema. Substituindo (4) na equação do calor, obtemos F(x)G'(t) = KF\x)G{t) (5) ou 1 G '(t)^F '(x) K G(t) F(x) (6) [Observe que, para passar de (5) para (6), devemos admitir que G(t) e F(x) nunca se anulam. Entretanto, no espírito enunciado acima, não nos preocuparemos com isso, por enquanto.] Agora observe que o lado esquerdo de (6) é função apenas de t, en quanto que o lado direito é função apenas de x. Logo, tanto o lado es querdo de (6) como o lado direito (que são iguais!) devem independer [ Secção 1. 2] de X e de t. Isso quer dizer F"(x) = a 1 G'(t) = (7)F(x) K G(t) onde a é um parâmetro independente de í e de x. A primeira equação, em (7), nos diz que F deve satisfazer à equação diferencial ordinária F"{x) - (tF(x) = 0, para 0 < x < L, (8) e, como m(0, t) = w(L, í) = 0 a função F(x) deve satisfazer também às con dições F(0) = F(L) = 0, (9) pois, como m(0, t) = F(0)G(í) = 0 para todo t > 0, segue-se que, se F(0) ^ 0, então G(t) = 0 e, portanto, m = 0. E, se bem que m = 0 seja solução da equação do calor e satisfaça às condições de fronteira, essa função não tem chance de satisfazer à condição inicial m(x , 0) = /(x), a menos que m ^ 0. Agora procedemos no sentido de ver quais os valores de a que con duzem a soluções F(x) do problema dado em (8)-(9). É claro que estamos interessados apenas nas soluções F não identicamente nulas, de outro modo, obteríamos w = 0, o que não interessa. Hà três possibilidades para a, conforme segue. i) Se (T > 0, a solução geral de (8) é da forma F(X) = -h C2^ - y/~ãx Portanto, se tal F satisfizer a (9), o par (Cj, C2 ) de constantes deverá ser solução do sistema c 1 4- c 2 = 0, -h = 0. Mas a única solução desse sistema é Cj = C2 = 0. E isso implica F = 0, o que não interessa. ' ii) Se (T = 0, a solução geral de (8) é da forma F(x) = CjX + Cj , e, para satisfazer às condições (9), devemos ter V C2 = 0 e c^L + Cj = 0, o que implica c, = C2 = 0 e, portanto, F = 0. 8 [ Capítulo 1 ] iii) Se (7 < 0, fazemos a = -)?, e a solução geral de (8) é da forma F{x) = Cj COS Xx H- C2 sen Xx. Para que uma tal F satisfaça (9), devemos ter Cj = 0 e C2 sen XL = 0. Como não queremos C2 = 0, devemos ter sen XL = 0, o que implica XL = nn, onde n é um inteiro não-nulo (n = ±1, ± 2,.. .)• Os valores de -a = X̂ : A? = n 71 (10) são chamados os valores próprios ou autovalores do problema dado em (8)-(9), e as funções F„(x) = sen mix (11) são chamadas as funções próprias ou autofunçôes do problema dado em (8)-(9). Não há necessidade de considerar os valores negativos de X̂ , pois isso conduziria apenas a uma autofunção diferindo apenas no sinal de uma outra obtida para um X̂ positivo. Mais adiante trabalharemos com expressões da forma c^F„(x\ com a constante a determinar. Vejamos agora a segunda equação diferencial ordinária em (7). Sua solução geral é G(t) = (12) Logo, para cada n = 1, 2, 3 ,.. ., temos uma função u„(x, t) = e sen >Lá (13) a qual satisfaz à Equação (1) e às condições de fronteira (3), como o leitor poderá verificar sem dificuldades. Esses chegaram quase a resolver nosso problema dado em (l)-(3). A dificuldade está em que, sendo u„(x, 0) = sen nnx M„(x, t) só seria solução de (1), (2) e (3) se a função dada /(x) tivesse a forma /(x) = sen — • [ Secção 1.2 J Assim, a solução de (l)-(3) com f(x) = sen 5nx/L é a' função u^(x, t) = Suponha agora que a condição inicial seja /(x) = 3 sen 5nx/L. Algo nos diz que a solução do problema dado em (l)-(3), nesse caso, deveria ser s e n - ^ ' (14)m(x, t) = 3e E, de fato, podemos verificar isso, mostrando primeiro que tal função satisfaz à Equação (1). A seguir, fazendo x = 0 e x = L, obtemos as con dições de fronteira (3). E, finalmente, fazendo í = 0, obtemos a condição inicial (2) satisfeita. Vamos um passo além. Suponha que a condição inicial dada fosse ̂ 27TX ̂ 5tix / ( x) = 4 sen —r— -h 3 sen - j - • Algo nos diz que, nesse caso, a solução do problema dado em (l)-(3) de veria ser U(X, t) = sen -h 3̂ -25n2|Cí/L2 E, de fato, como acima, poderemos verificar que todas as condições são satisfeitas. A verificação de que (14) e (15) satisfazem à Equação (1) possivelmente indicou ao leitor que o seguinte fato geral é verdadeiro, explicando aquele algo misterioso! “Se m(x, t) e v{x, t) forem soluções da Equação (1), então qualquer função da forma au{x, t) -I- bv(x, í), onde a c b são constantes, será também uma solução de (1).” Esse fato é expresso dizendo-se que a Equação (1) é linear. Ou, ainda, uma combinação linear de soluções é também uma solução. Esse é o chamado princípio da superposição, o qual vale também para combinações lineares de três ou mais (qualquer número finito de) soluções. Portanto qualquer expressão da forma N E í), 10 [ Capítulo 1 ] ^ nnx L ^nSen — n = l ^ onde os são constantes e os são as funções definidas em (13), é solução de (1) e (3). Conseqüentemente, se a condição inicial /(x) for da forma então, nesse caso, a solução de (l)-(2)-(3) será 0 = E c „ e - " '- 'W s e n ^ - n = l ^ E se / não tiver a forma simples acima? Aí vem a idéia de tomarmos “somas infinitas”. A seguir apresentamos a motivação informal para o estudo das séries de Fourier. Suponhamos que a função dada /(x) possa ser ex pressa em uma série da forma m nnxc„sen — n = l ^ (16) Então o candidato para solução do problema dado em (l)-(3) nesse caso seria u(x, í) = f n = l ^ (17) O método de Fourier culmina com a indicação desse candidato. Traba lharemos agora no sentido de elegê-lo. O trabalho não será trivial. Vários problemas surgeni. PROBLEMA 1. Será que a função /(x) dada pode ser escrita na forma (16)7 Aí deveremos estudar que funções podem ser es critas nessa forma, bem como a questão de obter os coeficientes , para uma dada função /. PROBLEMA 2. Sendo a função (17) definida por uma série, põe-se a questão de convergência da série. E, em seguida, a questão de verificar que, de fato, essa função satisfaz à equação diferencial (1). Para resolver o Problema 1 vamos, nos Capítulos 2 e 3, desenvolver a teoria das séries de Fourier. Uma vez feito isso, voltaremos, no Capí tulo 4, ao problema da condução do calor, para completar sua resolução. E estudaremos, nos capítulos posteriores, outros problemas físicos que [ Secção 1.2 ] 11 podem ser atacados com as técnicas desenvolvidas na resolução do pro blema do calor. EXERCÍCIO. Proceda como na Secção 1.2 acima e estude o problema M, = , em M,(0, í) = mJL, t) = 0, para t > 0, u(x, 0) = /(x), para 0 < x < L. CAPÍTULO 2 S É R IE S DE FO U R IER Vimos no Capítulo 1 a necessidade de saber se (ou quando) uma função real /(x), definida para 0 < x < L, pode ser expressa como ^ nnx/W= I, ‘̂ nSen-̂ .. n = 1 ^ (1) com os coeficientes escolhidos adequadamente. No Exercício 1, do Capítulo 1, coloca-se uma questão semelhante, que é a de saber se uma função /(x) pode ser expressa como \ V flTíXf{x) = X c„ COS — • n = 0 É, pois, importante considerar a questão geral seguinte:“que funções / : IR -► (R podem ser expressas na forma y., , 1 ^ / nnx , MTTxV,,/(x) = Y ^ o + I ( ■ (2) A justificativa para ja^ em vez de virá mais adiante, sendo essa escolha apenas por conveniência. 2.1 Funções periódicas Uma função / : IR -► IR é periódica de período T se /(x H- T) = /(x) para todo x. EXEMPLOS. 1) A função sen x é periódica de período 2tc. 2) A função /(x) = x -[x ] , onde [x] representa o maior inteiro menor do que ou igual a x, é periódica de p>eríodo 1. Veja o gráfico da Figura 2.1. Se T é um período para a função /, então 2T também é um período, pois /(X + 2T) = /(x + T) = /(x). [ Secção 2.1 ] 13 E, em geral, kT é um período, onde k é um inteiro positivo, negativo ou nulo. Bom, fc = 0, implicaria em dizer que 0 é um período da /. Mas isso não tem interesse pois 0 é um período de qualquer função. Por esse motivo, sempre que falamos em período T, consideramos T # 0. O menor período positivo é chamado o período fundamental Entretanto é praxe usar apenas a expressão período para designar período fundamental. Assim, quando dizemos que 2n é o período da função senx, estamos nos referindo ao período fundamental. É claro que 4n, -4n, 6tc, etc., são também períodos do senx. EXEMPLO 3. O período fundamental T da função sen nnx/L pode ser determinado do seguinte modo. Devemos ter nn{x -h T)sen nnx= sen- j - » para todo x e ILá ou seja. nnx nnT nnx nnT nnxsen —j— COS —z— -h cos sen = sen —r- 'Li Lí Li Lí Li Para x = L/2n, obtemos o que implica n nnT nsen ^ COS — = sen 2 L 2 nnT . COS — = 1 (3) (4) e, daí, usando a identidade sen^ 6 + cos^ 0 = 1 , obtemos nnTsen- = 0. (5) 14 [ Capítulo 2 ] Como estamos interessados no menor valor positivo de T que satisfaça (4) e (5), simultaneamente, obtemos nuT/L = 2n, isto é, o período funda mental de sen mttx/L é T = 2Lln. O período fundamental de cos nnx/L é também 2L/n. Por quê? 2.2 Convergência uniforme Uma série numérica converge se a sucessão das reduzidas, também chamadas de somas parciais, converge. Lembremos que a su cessão das reduzidas é aquela cujo termo geral é (reduzida de ordem n). O leitor está convidado a relembrar que as séries (i) z CO"’ a > 1, (ii) Z com |A| < 1, n = l convergem. A segunda série é chamada a série geométrica, e sua soma, que é definida como o limite da sucessão das reduzidas, é A/(l-A). Por outro lado, a série 1/n®, com a < 1, não converge, e, então, diz-se que ela diverge. Para a = 1, essa série é conhecida como a série harmônica. Uma série de funções w„(x), onde û : / -► R são funções reais definidas em um subconjunto / de U, convergirá pontualmente se, para cada XqSI fixado, a série numérica convergir. Isso equivale a dizer que, dados 6 > 0 e Xq g 7, existe um inteiro N, dependendo de £ e de Xq , tal que m Z "jW <« j = n para todos n < m, tais que n > N. Uma série de funções m„(x) convergirá uniformemente, se, dado £ > 0, existir um inteiro N, dependendo apenas de £ (e não de x), tal que Uj(x)\ < £, para todos m > n N. EXEMPLOS. 1) A série w„(x), onde w„(x) = x/n^ é considerada como definida em [0, 1], converge uniformemente. Deüa^o, para x g [0, 1], 1Z j = n J [ Secção 2.2 ] 15 2) A série w„W, onde u^{x) = x, m„(x ) = x " - x""S n > 1, é uma função definida para 0 < x < 1, converge pontualmente para cada x e [0, 1]. De fato, a reduzida de ordem, n, Uj[x) = x", con vergirá para 0 s e 0 < x < 1, e para 1 se x = 1. Tal série não converge uni formemente, pois, dados 0 < £ < l / 2 e N inteiro, tomamos x = em e, portanto, dado e > 0, podemos determinar um inteiro N, independente de X e dependente apenas de £„ tal que 1/j^ < e, para m > n > N. -1Y, Uj{x) = x '"- x^ j = N e, daí, |x"*-x^ ̂| = |(26)'"/̂ ̂ ^^-2£|. Logo, se m for suficientemente grande, (26)"*̂ ^̂ ” ^̂ < 6, e obtemos que j = N > B para x = Na verificação de que a série do Exemplo 1 acima converge unifor memente, usamos o artificio de majorar a série de funções por uma série numérica convergente. É essa idéia que está atrás do chamado teste M de Weierstrass, que enunciamos a seguir. Esse critério não só assegura convergência uniforme, mas também convergência absoluta. Uma série Zw„(x) convergirá absolutamente se a série Z|w„(x)| dos valores absolutos convergir. Teste M de Weirstrass. "̂ Seja j m„(x ) uma série de funções û : I R de finida em um subconjunto I de R. Suponha que existam constantes > 0 tais que I u„(x) I < , para todo x 6 7, e que a série numérica Z®̂ j convirja. Então, a série de funções Z®̂ j m„(x ) converge uniforme e absolutamente em /.” Esse critério de convergência uniforme é muito cômodo, pois ele reduz o problema (nada simples!) de verificar a convergência de uma série de funções àquele da convergência de uma série numérica. Por que estudar convergência uniforme? A razão é que as séries que convergem uniformemente apresentam excelentes propriedades. Vejamos algunías delas, que enunciamos a seguir sob forma de proposições, cujas demonstrações são omitidas. 16 [ Capítulo 2 ] Observações. 1) No Exemplo 1 acima, a soma da série é = = 7r^x/6, que é uma função contínua em [0, 1]. Ainda neste capitulo, usaremos a teoria das séries de Fourier para mostrar que p r o p o s iç ã o 2.1. Suponhamos que as funções û sejam contínuas e que a série j m„(x) convirja uniformemente. Então a soma da série u(x) = ̂w„(x) é também uma função contínua. t-2 = ^2= 7176. 2) No Exemplo 2, a soma da série é a função w(x), definida como sendo 0 para 0 < x < 1, e 1 para x = 1. Logo, uma função des contínua. Observe que, nesse caso, as funções m„(x) são contínuas, mas a convergência não é uniforme. p r o p o s iç ã o 2.2. Suponhamos que as funções û sejam integráveis em um intervalo I e que a série j uj^x) convirja unifor memente. Então ( Z W„(x)^dx = Z Í I \ n = l J n = l J j PROPOSIÇAO 2.3. Suponhamos que as funções m„(x) definidas em um in- ̂" tervalo I sejam continuamente deriváveis e que a série 1 K M das derivadas convirja uniformemente. Suponhamos ainda que, pàrá um dado Xq € /, a série Z®̂ ̂w„(̂ o) convirja. Então s ( | . “■»*>) 2.3 Coeficientes de Fourier í / ; j ' ̂ '7 .Se üma função f(x) for expressa como , . 1 ^ / nnx , nnx\ ̂ f ix) = y «0 + I COS - y + sen - j - j .yío ri .q r b. /(x) = y ÚQ + ^ a „ c o s -^ + fc „ s e n ^ j, (6) í>rr:ij é de se esperar qiie os coeficientes â e estejam intimamente ligados àiifunçâò^/.f^Que expressões têm eles em termos da função /? Para des- eobrHlòà, vaiwiòs supor que a igualdade (6) se verifique, e mais, que a série em}i6y''Cáw4ffq^Mniformemente. Observe que, como conseqüência da Pro posição 2.1, a função / deve ser contínua (e, portanto, pode ser integrada) [ Secção 2.3 ] 17 e deve ser periódica de período 2L, pois o período (fundamental) de COS nx/L é 2L, e 2L é período para as demais funções seno e co-seno que aparecem na série. Assim, usando a Proposição 2.2, podemos integrar ambos os lados de (6) para obter Í f {x)dx = 1 * -yao àx+ Y, a„ nnx , , COS —=— dx -h nnx , sen dx J - L e, daí, ^ J - L "=* 1 í J-L • •L J-L " o - r J /(x) dx. (7) pois, /•L 1 ^ 1 COS- j - dx = J-L \ j asen dx = 0. (8) Para obter os demais coeficientes, exploramos a mesma idéia e usamos as relações de ortogonalidade: nnx mnx , ^ ^ COS ~Y- sen —j— ax = 0, se n, m > 1; (V)J-i Lir nnx mnx . ÍL, se n = m > 1, COS - j - COS - j — dx = < (10) -í- *‘0, se n # m,n, m > 1; nnx mnx , ÍL, se n = m > 1, S Q n —i - s c n —i— d x = i ' ̂ , (11)J L L |0, se n ^ m, n, m > 1. Para demonstrar (9), (10), (11), o leitor poderá usar as identidades trigonométricas que expressam produtos de senos, ou de co-senos, ou de seno por co-seno, como soma de senos ou de co-senos. Agora, multiplicando (6) por cos mnx/L, para m > 1 fixado, e inte grando, obtemos , mnx . ,/ (x )c o s -^ á x = a„L. ( 12) De modo semelhante, obtemos r . tmtx , , ,f ( x ) s e n - j -d x = b„L. (13) 18 [ Capítulo 2 ] Finalmente, de (7), (12) e(13), obtemos 1 ~ L f / ( x ) c o s ^ d x . « > 0; (14) J-L /•L I /•/ ̂ J J / (x )se n -y -d x , « > 1, (15) e agora o leitor pode apreciar a introdução do 1/2 antes do em (6), pois, assim, temos uma única fórmula para todos os . Agora estamos em condições de dar uma boa definição. Seja / : IR -► R uma função periódica de período 2L, integrável e absolutamente inte grável em cada intervalo limitado; em particular, í^£^|/(x)|dx < oo. Os números para n > 0, e para n > 1 dados em (14) e (15) são defi nidos como os coeficientes de Fourier da função /. A exigência da inte- grabilidade e integrabilidade absoluta de / é necessária para que as Ex pressões (14) e (15) façam sentido. Um estudo detalhado e cuidadoso dessa questão foi adiado para a Secção 3.1. Observe que j* /(x) COS ^ áx I < j* I /(x) I dx. 2.4 Série de Fourier Dada uma função /: IR -► IR periódica de período 2L, integrável e absolutamente integrável, podemos calcular seus coeficientes de Fourier pelas Expressões (14) e (15) da Secção 2.3. E, assim, podemos escrever J_ 2 , 1 ^ / nnx , nnx\ /(x) ~ y «0 + I I C O S + «Cn y - j- (16) e isso significa que a expressão do lado direito é a série de Fourier de f. Uma questão natural surge imediatamente. Que relação há entre / e sua série de Fourier? Seria bom se fosse igualdade! Infelizmente isso não ocorre sempre. E algo mais grave pode acontecer: a série de Fourier pode até divergir. Há exemplo de função contínua cuja série de Fourier diverge (veja Titchmarsh, Theory of Functions, p. 416). A seguir, estudaremos condições suficientes para que a função / seja igual à sua série de Fourier. Uma função / ; IR -► IR será seccionalmente contínua se ela tiver apenas um número finito de descontinuidades (todas de primeira espécie) em [ Secção 2.4 ] 19 /(a . + 0 )= lim / ( X ) e / ( a . - 0 ) = lim /(x). x-*aj+ x - * a j - É claro que toda função contínua é seccionalmente contínua. A função /(x) = 1/x, X ^ 0, nãoé seccionalmente contínua, pois sua descontinuidade em X = 0 é de segunda espécie. A função / : IR -► IR definida por qualquer intervalo limitado. Em outras palavras, dados a < b, existem a < fli < Ü2 < . . . < < b, tais que / é contínua em cada intervalo aberto ; = 1, . . . , n - 1, e existem os limites 1 ’ se X ^ 1, m = \ l/n. se l/(n + 1) < X < l/n. 0 , se X < 0. não é seccionalmente continua, apesar de todas as descontinuidades serem de primeira espécie; acontece, porém, que, no intervalo (0, 1), há um número infinito de tais descontinuidades. EXEMPLOS DE FUNÇÕES SECCIONALMENTE CONTÍNUAS 1) A função sinal de x, definida abaixo: sign X = 2) A função /(x) = x - [x ] (veja o gráfico na Figura 2.1). 3) A função da Figura 2.3 + 1 , se X > 0 ; 0, se x = 0 ; - 1 . se X < 0. f{x) ^ fx + 1 , 10 . X ^ 0 ; X < 0. 4) A função da Figura 2.4; /(x) = 1, 0, 0 ^ X < n; ^ ^ X < 0 ; e periódica de período 2n. 20 [ Capítulo 2 ] 5) A função da Figura 2.5: /(x) = |x|, para |x| < 1 e periódica de pe ríodo 2 . Uma função / : R -► R será seccionalmente diferenciàvel se ela for seccionalmente continua e se a função derivada / ' for também seccional mente contínua. Observe que a derivada f não está definida em todos os pontos: com certeza f \ x ) não existe nos pontos x onde / é descontínua; e mais, f \ x ) pode não existir, mesmo em alguns pontos onde / é contínua. As funções dos Exemplos (1) a (5) acima são seccionalmente diferenciáveis. A seguinte função é contínua, mas não seccionalmente diferenciável: [ Secção 2.4 ] 21 f(x) _ f v T ^ , se |x| < 1 , e periódica de período 2, pois, nos pontos onde / ' é descontínua, a descontinuidade é de segunda espécie. Veja o gráfico da Figura 2.6. Agora enunciamos um resultado que fornece condições suficientes para a convergência da série de Fourier de uma função /. TEOREMA DE FOURIER. Seja f: IR-► R uma função seccionalmente diferenciável e de período 2L. Então a série de Fourier da função f dada em (16), converge, em cada ponto x, para j[ f{ x + 0) + / ( x - 0)], isto é, y U ix + 0) + /(x - 0)] = y Uo + X ( «n COS ^ sen — j- (17) A demonstração desse teorema será feita no Capítulo 3. No momento, aplicá-lo-emos para obter alguns resultados interessantes. EXERCÍCIO 1. Calcular a série de Fourier da função / definida no Exemplo 4 acima e traçar o gráfico da função definida por essa série. Compare esse gráfico com o gráfico da função na Figura 2.4. Resolução, (i) Cálculo dos coeficientes: f(x)dx- 1 22 [ Capftulo 2 ] e para n 0 a. = — I f(x) COS nxdx = - fJo . 1 sen nx COS nxdx = —n n = 0, , 1 -c o sn x r 1sen nxdx = ------------- = — (1 - cos nn\nn ou í » 2 * - 0 e ^ 2 t - i k = 1 , 2 , . . . (ii) A série de Fcurier será: / w ~ - y + Z sen (2 fc- l)x. (18) (19)2 (2fc-l)7T^ (iii) Pelo teorema de Fourier, o gráfico da função definida pela série é o da Figura 2.7 [e nem é preciso conhecer a Expressão (19) para traçá-lo!]. EXERCÍCIO 2. Use os resultados do Exercício 1 para obter uma ex pressão em série para n. Resolução, No ponto x = tc/2, a série de Fourier é igual a 1, em virtude do teorema de Fourier. Logo, 1 2 (2fc-l)7i sen |̂ (2f e - l ) ^ j . OU seja, T - | , ou, finalmente, 4 3 5 7 9 , t ', 21-1 que é conhecida como a série de Leibniz, [ Secção 2.5 ] 23 2.5 Séries de Fourier de funções pares e ímpares Uma função / : IR -► (R é par se f(x) = /(-x), para todo xg IR. Isso significa que o gráfico da função / é simétrico com relação ao eixo dos y. Uma função / : IR IR é ímpar se /(x) = -/(-x), para todo xg IR. E isso significa que o gráfico da / é simétrico com relação à origem. EXEMPLOS, (i) As funções /(x) = cos nnx/L,f{x) = x^" para n = 1, 2 ,.. ., são funções pares. (ii) As funções f(x) = sen nnx/L, f(x) = x^""^ para n = = 1 , 2, . . . , são funções ímpares. A proposição seguinte, sobre funções pares e ímpares, é facilmente demonstrável. PROPOSIÇÃO 2.4. (i) A soma de duas funções pares é uma função par. A soma de duas funções ímpares é ímpar. (ii) 0 produto de duas funções pares é uma função par. (iii) O produto de duas funções ímpares é uma função par. (iv) O produto de uma função par por uma função ímpar é uma função ímpar. Para dar uma idéia de como esses fatos são provados, vamos de monstrar (iv). Sejam /: IR -► IR uma função par e IR -► IR uma função ímpar. Então (fgKx) = f{x)g{x) = /(-x)[-ff(-x)] = -[ /( -x ) • 0(-x)] = O que mostra que fg é ímpar. Outro fato importante que será utilizado é a proposição exposta a seguir. PROPOSIÇÃO 2.5. (i) Seja / : IR -► IR uma função par que é integrável em qualquer intervalo limitado. Então /•L /»L r / - í > (ii) Se f: U R é uma função ímpar e integrável em qualquer intervalo limitado, então f̂ L / = 0.I Demonstração de (i). Basta observar que L / 24 Í Í ÍJ - L J - L Jo ^0 0̂ f{x)dx = - \ f{-y)dy= f(y)dy, J - L J l J o [ Capítulo 2 ] (20) (2 1 ) onde fizemos a mudança de variável y = -x, para obter a segunda integral em (21), e usamos o fato de que / é par para obter a terceira integral. De modo análogo se demonstra (ii). Agora aplicamos as duas proposições anteriores ao cálculo da série de Fourier de funções pares e ímpares. (a) Se / for uma função par, periódica de período 2L, integrável e absolutamente integrável, então a„ = - r í f ( x ) c o s ^ d x , b„ = 0, Jo pois, em virtude da Proposição 2.4, a função /(x) cos nnxILé par e a função /(x)sen mttx/ L é ímpar, e os valores dos coeficientes a„ e acima, são obtidos usando-se a Proposição 2.5. Portanto a série de Fourier de uma função par é uma série de co-senos. (b) Se / for uma função ímpar, periódica de período 2L, integrável e absolutamente integrável, então «n = 0 e K = y Í Jo usando as Proposições 2.4 e 2.5 como fizemos no caso de / par, em (a) acima. Assim, a série de Fourier de uma função ímpar é uma série de senos. 2.6 Cálculo de algumas séries de Fourier I) Seja / j i IR -► IR periódica de período 2L e definida por/^(x) = x, para - L< x < L. Como é ímpar, teremos uma série de senos cujos coeficientes são , 2 nnx ,= — X sen - j — dx. Jo [ Secção 2.6 ] 25 Fazendo a mudança de variável y = nnx/L, obtemos 2L (*"" í»» = ^ ysenydy. Jo Integrando por partes, ry sen ydy = -y cos y r+ COS ydy = -nn cos nn. Logo, " nn Portanto a série de Fourier da função (gráfico na Figura 2.8) é II) Seja / 2 : (R -► R periódica de período 2L e definida por . { L - X, para 0 < x < L; h W -L < X < 0. Como /2 é uma função par, temos uma série de co-senos, cujos coeficientes são 2 f \ , . . 2 , ío = 77 (L-x)dx = — y = L, Jo 2a, = y (L -x )co sy -d x . Jo 26 [ Capítulo 2 ] 2L Fazendo uma mudança de variável como no exemplo acima e integrando por partes, = n n ou seja. a,* = 0 , a. 4L 1 , 2 , . . . Portanto a série de Fourier da função / j (gráfico na Figura 2.9) é , L 4L ^ / 2(^) ~ ^ + :;;t Z 1 2 (2k-iy5 COS (2/c-l)7tx Observe que, em virtude do teorema de Fourier, o símbolo ~ pode ser substituído por =. Usando o teorema de Fourier, para x = 0, obtemos 1_L ^ ^ ou seja. 1 ^ 1 1 1 8 Z III) Seja / 3 : IR -► R periódica de período 2Le definida por / 3(x) = x ,̂ para -L < x < L. Como é par, teremos uma série de co-senos cujos coeficientes são: 2 2 . Jo 2 2 j= — x ^ COS - j — d x . Jo [ Secção 2.6 ] 27 Fazemos a seguinte mudança da variável independente y = nnx/L, e obtemos 2l 2 p COS y dy. Integrando por partes, temos 4^2 /«- J o y sen y dy e, usando o valor da integral já obtido no exemplo I acima, temos 4L^ n n Portanto a série de Fourier da função / j (gráfico na Figura 2.10) é 4L^ ^ (- 1)" nnx Observe que, de fato, tem-se = em vez de como conseqüência do teo rema de Fourier. Usando o teorema de Fourier para x = L, obtemos T 2 AT 2 00 1 n= 1 OU seja. 71̂ ^ 1 , 1 1 1 6 - - I j íT = í + 2í + 3T + 4T + --- n= 1 Atenção: ""Uma função dada num intervalo [0, L] pode ser representada por mais de uma série de Fourief\ Vamos elaborar este ponto. Em todas as séries de Fourier calculadas anterior mente, a função era dada em toda a reta; de fato, dávamos uma expressão para / num intervalo fundamental 28 [ Capítulo 2 ] (-L, L] e dizíamos que / era periódica de período 2L. Se agora dermos a função num intervalo [0, L] e nada dissermos sobre o período, teremos a liberdade de escolher um período qualquer T, T > L, e de definirmos a função do jeito que nos convier no intervalo (L, T). Essa liberdade de escolha será utilizada em problemas de aplicação para atingir certos objetivos. Vamos ilustrar esses comentários com os seguintes exemplos. EXEMPLO 1. Dada f(x) = x, para 0 < x < tt, escreva / como uma série de senos. Resolução. Para obter uma série de senos, devemos definir / para outros valores de x, de modo que seja uma função ímpar. Portanto tomemos /(x) = x, para - tt < x < tt, e periódica de período 2n. A série de Fourier de uma tal / foi calculada em (I) acima, e é 2 > — —̂ sennx.n Conseqüentemente, pelo teorema de Fourier, temos para 0 < x < n.X = 2 2 ̂ -------- sen nx, (E, em verdade, para - tt < x < 0, mas isso não foi pedido no problema. Observe que a série de Fourier não é igual a x para x = n.) EXEMPLO 2. Observe ainda que, no exemplo anterior, poderíamos ter escolhido um período maior que 2n. Por exemplo, 4n. E aí teríamos de definir também / no intervalo (tt, 2ti], além de dizer que ela é ímpar. Considere a função definida no intervalo -2n < x < 2n pelo [ Secção 2.6 ] 29 Calculemos os coeficientes , lembrando que L = 2n, ^ ĵ J* X sen ^ J + 27t) sen ^ dxj» ou , S nn^ sen — " n^n 2 Portanto a série de Fourier é 71 ^ 1 nn nx— > ^ se n ^ se n - ;^ * 8 „t-i 2 2 Assim, em virtude do teorema de Fourier, 8 ^ 1 nn nx r\ ^ ^X = — X -T sen ^ sen » 0 < x < tt, ^ n= 1 ^ ̂ ^ OU 8 ® (2k-l)xX = — ^ ̂ sen ^ ) 0 < X < 7T.TT (2k-l)^ Observação. A série de Fourier que acàbamos de calcular poderia ser obtida da série de Fourier da função de (II) acima. Para tanto, basta observar que a função / do Exemplo 2 acima está relacionada com a função de (II) (que, para efeito do que estamos explicando, vamos chamar de g t fazer L = 27t) pela expressão f{x) = g (x -n )-n . Logo, a^if) = a^ig) - 2n, e deixamos ao leitor mostrar que a„(/) = c o s y a„(0), K (f) = senya„(3), e essas expressões fornecerão a série de Fourier da função /. EXEMPLO 3. Dada /(x) = x, para 0 < x < tt, escreva / como uma série de co-senos. Resolução. Para obter uma série de co-senos, devemos definir / para outros valores de / de modo que seja uma função par. Tomemos, então, /(x) = |x | para -n ^ x ^ n e periódica de período 2n. (Como no exemplo acima, se tomarmos outros períodos, por exemplo, teremos 30 [ Capítulo 2 ] uma outra série de co-senos.) Portanto, = 0 e t X COS nx dx, ^ Jo que calculado dá n n = 1 , 2 , . . . = - f” Jo }U- = ^ 2 1 2xdx = -----—n^ = n.n 2 Portanto a série de Fourier da função é 4 ® 17T 4 y e, daí. 7t 4 ^ ^ = - 5 - - v z 2 1 ^cos (2k - l)x 2 7T (2fc-l) ̂COS (2k - l)x, 0 ^ X < 71. Compare a série acima com a série de (II). A série acima pode ser obtida da série em (II) fazendo-se L = ti e, a seguir, transladando de tt, ao longo do eixo dos x, a função de (II). EXEMPLO 4. Dada /(x) = x, para 0 < x < tt, escreva / como uma função de senos e co-senos. Resolução. Podemos definir /, para outros valores de x, de modo que seja periódica de período 2n e /(x) = 0 para - tt < x < 0. Assim, 1 r . 1 r i>. = — X ̂ Jo X áx = y Jt, X COS nx dx = sen «X dx = ( - iy - 1 n^n (_!)»+1 Logo, a série de Fourier dessa / é J_ ^ ___1 4 ^ 7t tt 'i (2fe-l) 00 / l̂ w+l j COS (2ÍC - l)x + Y, '— z— n = l [ Secção 2.7 ] 31 daí. Jt 2 à ^ = —A------ 2Á “TT \fl+ 1 4 7Ü fcTi (2fc 1 ® (-\ \n — COS (2fc - l ) x + Y, — ~— sen nx, “ n=l ^ 0 ^ X < ;r. Observe que essa expressão pode ser obtida somando-se as séries dos Exemplos 1 e 3 e dividindo por 2. O conjunto de exercícios ao final do capitulo formaliza as idéias expressas nas observações anteriores, em que se chamou atenção para o fato de que, se uma função puder ser obtida de outra mediante uma translação, ou uma mudança da variável independente, então sua série de Fourier poderá ser obtida imediatamente a partir da série de Fourier da outra. 2.7 Integração de séries de Fourier Se uma função /: IR IR for igual à sua série de Fourier y/ X ^ . nnx\f{x) = y + K COS - y + sen j . a qual se supõe convergir uniformemente, pode-se usar a Proposição 2.2 para concluir que j^ /(x )dx = ^ d x + Z a . c o s ^ d x + b „ sen ^d x" j- (22) Nesta seção mostraremos que (22) será válida mesmo se a série de Fourier não convergir uniformemente para /, ou mesmo se a série de Fourier não convergir para /. Isso é uma indicação de que a série de Fourier é um tipo muito especial de série, rica de propriedades interessantes. Vejamos. Iniciamos com uma função / : IR IR periódica de período 2L e sec cionalmente contínua. Definimos a função F : IR -► IR, pela expressão (23) a qual é contínua. Como conseqüência do teorema fundamental do Cálculo, temos que F'(x) existe em todos os pontos x onde / é contínua e, além disso, F'(x) = /(x) nesses pontos. Assim, F'(x) é seccionalmente contínua. 32 [ Capítulo 2 ] Observe também que F é periódica de período 2L, pois F(x + 2L)-F(x) = |^ / ( í ) - ^ j á í = j |^ / ( t ) - ^ já í , (24) onde usamos, para escrever a última igualdade, os fatos de que f ( t ) -a J 2 é periódica de período 2L e de que a + L (̂L 9f + t ç̂L^ = 1 I-L J-L para toda função g periódica de período 2L e todo número real a fixado. Agora, concluímos que a Expressão (24) é zero, porque I fit)d t = a ^ L = j ^ d t . Resumindo, a função F definida em (23) é contínua, tem derivada F' continua por partes e é periódica de período 2L. Logo, pelo Teorema de Fourier, temos ̂ ^ í . « nnx\f(^) = ^ + E COS — + sen — j . onde os coeficientes de Fourier e são dados por (25) 1 L í F(x) COS dx.n> 0, (26) J - L 1Bn = J F{x) sen dx. n > 1 . (27) Agora usaremos a fórmula de integração por partes para relacionar os coeficientes de Fourier da F com aqueles da /: . 1 r_ . , L nnx\^ . L nnx . 1 ou seja. De modo semelhante, . -L ^A = — f> , n > 1. " n n " (28) _ 1 r - L nnx ^ \ ^ 1 B. - x [ - f W ; s “ ' T + J_^ [ Secção 2.7 ] 33 e, daí, usando o fato de que F(L) = F(-L), obtemos B„ = — n > 1. " n n ” (29) Para calcular o coeficiente Aq , fazemos x = 0 em (25) e obtemos a se guinte expressão, lembrando que F(0) = 0: 0 = ^ + l A , ,n= 1 OU seja. ̂ 2L ” b„ Ao = — 1 -T- (30) Agora, usando (23), (25) e as expressões para os coeficientes de Fourier de F, dados em (28), (29) e (30), obtemos J*"". flo L, ^ ^ f-b„ nnx a„ nnx\f. = ^ x + — X -!>- + — X — COS— + -^sen— .0 2 „t'i n 7T „=1 V " L n L J que também pode ser escrita como J* = J * ^ d t + a „ c o s ^ d t + j**b „ s e n '^ d ty (31) A Expressão (31) fornece (22) fazendo-se x = a e x = b e subtraindo-se as expressões obtidas. Resumindo, demonstramos o resultado exposto a seguir. TEOREMA SOBRE A INTEGRAÇÃO DE SÉRIES DE FOURIER. Seja f: R -> IR uma função periódica de período 2L e seccionalmente continua e seja ^ / tinx , nnx\ y + k COS - y + sen — j (32) sua série de Fourier. Então i) a série pode ser integrada termo a termo e o valor da série integrada é a integral de /; mais precisamente, /(x) dx = y <(x + Y COS ^ ^ ii) a função F(x) = |q \^f(t)-(aJ2)] dt é periódica de período 2L, con tínua, tem derivada F' seccionalmente contínua e é representada por sua 34 [ Capftulo2 ] série de Fourier nr, ̂ <̂ o"| J L ^ ^ ^ {-i>n rmx\ ,, ̂ ^ ^ í». 1 r'' J T . ? , T - 2 l J _ / W ‘' '- <’ ’ • Observação. Para as aplicações, o teorema acima toma a forma prática seguinte: se y/ X ^ . n7rx\/(x) ~ y + Z IC O S - y + í>„ sen — j . então F(«)-r(/(oy)..= Aplicações. Todas as funções abaixo são periódicas de período 2L. i) Considere a função /j da Secção 2.6, f^(x) = x, para -L < x < L. Temos /iW 2L ® (- 1)"^ nnxsen- , n L Logo, e, portanto. F(x) = y e íí: F{x)dx = y X^ 2L^ ^ (-1)" MTTX + S - - 2 00Z | —II ruLJS. _ _-- 2 ^ COS —r - > -L < X < L. (36) ii) Aplicando novamente o teorema a (36), e como = y - V’ i obtemos x ̂ L^x 2L ̂ ® (-1)" nnx —---- 7— = —r- / —^ sen > 6 6 n^ L -L < X < L. (37) [ Secção 2.8 ] 35 iii) Usaremos o teorema acima mais uma vez em (37). Como , r / t ^ L h \ . _ x * L V 1 r . _ IL* Jo ^ 24 12 360’ obtemos X* L^x^ 7L“ 2L* ^ ( - i r " ‘ nnx = -TÃn + ^ - I24 12 360 ■ „t'i n* L Fazendo x = Z. em (38), obtemos 90 ^ - L < x < L. (38) (39) n = 1 2.8 Estimativas dos coeficientes de Fourier Mostraremos nesta secção como obter certas estimativas dos coe ficientes de Fourier de uma função dada, a partir de hipóteses sobre deri- vabilidade da mesma. i) Supondo que / seja periódica de período 2L, integrável e absolu tamente integrável, podemos obter imediatamente as seguintes estimativas: 1 L f /(x )c o s^ ^ d x 4 Í | / ( ^ ) |‘í^. (40)J-L J -L 1 J /(x )sen ^ ^ íix J \f{x)\dx. (41)|í>nl = onde utilizamos o fato de que as funções seno e co-seno são limitadas, erfi valor absoluto, por 1. Portanto, com a simples hipótese de integra- bilidade de / e | / 1, concluímos que existe uma constante M [em verdade, M = L~^ f(x)\dx], tal que |u^| < M, \b„\ < M, para todo n. ii) Suponhamos agora que / seja periódica de período 2L, derivável, e tal que a derivada / ' seja integrável e absolutamente integrável. Então, integrando por partes, temos, para n > 1, Li ' L'... , nnx . E , nnx f (x ) COS —r - dx = — f(x) sen —p - L nn' L f-i- J-L , nnx j f (x) sen - j - dx. 36 [ Capítulo 2 ] OU seja. a„ = - — í f'(x) sen dx, rm L ’ (42) e, tomando os valores absolutos, \n x )\d x . De modo análogo, tem-se , , r /•/ X nnx , -L . nnx ̂ . L . nnx , = f(x) sen - j - <(̂ = — /(>:) cos ̂ + — f ~ TJ L nn -L J_ t ou seja. Lb = — {f{L) COS n n - f (-L) cos (-/irt)} -f-nu nu e, daí, em virtude da periodicidade de /, L nnx— f{ x )c o s - j -d xJ-L ^ = — í f'(x) COS dx. nn 1 / L (43) Tomando valores absolutos, | b j < ^ j J/'(x)|dx. Portanto, na hipótese de que / seja contínua e que tenha derivada inte grável e absolutamente integrável, concluímos que existe uma constante M [de fato, M = | /'(x)| Jx], tal que |a „ |< ^ > \b „ \< ^ , para todo M = 1 ,2 ,... (44) iii) Se supusermos que / seja periódica de período 2L com primeira derivada contínua, e a segunda derivada integrável e absolutamente inte grável, poderemos melhorar as estimativas (44), realizando mais uma integração por partes em (42) e (43). De fato, em (42), obtemos 1 í L nux ̂ L nux j e, daí, \ f ”iX)\dx. [ Secção 2.9 J 37 De modo análogo, obtemos Portanto concluímos que existe M [= Ltc ̂^-L\f"(x)\dx], tal que I I II I ~p a ra « = 1 , 2 , . . . 2.9 Forma complexa da série de Fourier Usamos a fórmula de Euler, = COS 6 + i sen 6, e suas conseqüências, COS 0 = -----r----- e sen 0 = 2 i para escrever M7TX COS —— h b„ sen - innx/L Logo, o coeficiente de é dado por a„ b„ 1 , , 1 y MTTX . n n x \ , „̂ = y + ^ = y K - ‘í>n) = y : J^/(x)(^cos — - ,s e n — jdx , OU seja. Definimos também c = ^ = - L r “ 2 2L J_^ f { x ) d x . Resumindo, mostramos que, se / : R -► R for periódica de período 2L, integrável e absolutamente integrável, então a série de Fourier de / poderá ser escrita na forma Z ,innxlL 38 [ Capítulo 2 ] onde -íj: f(x)e dx, para « = 0, ± 1 , ± 2 , . . . 2.10 Identidade de Parseval Dada uma função / : R -► (R periódica de período 2L, onde /, | / 1 e I / l̂ são integráveis, vimos, nas secções anteriores, que se podem cal cular seus coeficientes de Fourier e b„. y «0 + Z («n + T I l (45) Apesar de não a demonstrarmos de imediato, essa identidade é uma arma tão poderosa no estudo das séries de Fourier que decidimos não adiar sua introdução. Sua demonstração e seu interessante significado geo métrico serão tratados na Secção 11 do Capítulo 3. Aplicação /. Cálculo de soma de séries. Por exemplo, a Expressão (37) nos diz que os coeficientes de Fourier da função f{x) = x^-L^x, periódica de período 2L, são = 0 e (- 1)" 1 2L̂ b = Daí, uma aplicação direta da Fórmula (45) nos dá 945 V -L = ^ .2̂ ^6 — QAC ‘ Aplicação II. Convergência de algumas séries. Por exemplo, seja/: [0, L] -► R uma função continuamente derivável, tal que/(O) = f(L) = 0, e seja nnxf (x) sen - j - dx. Então provaremos, como conseqüência de (45), que t IM <n = 1 (46) (47) [ SecçSo 2.10 ] 39 Para isso, integramos por partes em (46) Portanto, pensando / como uma função ímpar e periódica de período 2L, e / ' como uma função par e periódica de período 2L, concluímos que K = --- »" WTT " (48) onde são os coeficientes de Fourier de / e a'̂ os coeficientes de Fourier de / ' . Agora, usando a desigualdade ab \b^, obtemos, de (48), e, portanto. r 2 00 1 1 00 I \b„\<^2 z i + i In = 1 = 1 wn = 1 2 n = 1 onde a segunda série converge em virtude da identidade de Parseval. Nas aplicações, é importante estabelecer convergência de séries do tipo (47) (cf. Capítulo 4). Aplicação III. Esta aplicação refere-se à decisão de que certas séries tri gonométricas não são séries de Fourier de funções / tais que / e | / |^ sejam integráveis. Por exemplo, qualquer que seja a > 0, a série sen nxz n = 1 (49) converge,, para todo x e R; e, além disso, a convergência é uniforme em todo subintervalo fechado de (0,27i). Aqui está um exemplo de uma série convergente, e que não converge absolutamente se a < 1. Conseqüente- mente, a convergência de (49) não pode ser decidida pelo teste M de Weierstrass; necessita-se de critérios de convergência condicional, como os critérios de Abel e Dirichlet. Nesse caso é conveniente usar o critério de Abel (veja p. 212 do nosso livro de Análise /): tome e = cos nx; a condição (ii) é facilmente verificável se observamos que 1 1 ^ a ( n + l ) “n* em virtude do teorema do valor médio. Em resumo, a série (49) define uma função /(x), i.e., ^ sen nx / (^ )= Z —Z5-- n = l " 40 [ Capítulo 2 ] n = l e a conclusão se segue da identidade de Parseval. Entretanto, se a < 1/2, a série (49) não é a série de Fourier de uma função / como especificada acima, pois, nesse caso, 00 1 2.11 Nota histórica Em cursos de Análise, estudam-se vários critérios de convergência de séries ligados com os nomes de Dirichlet, Abel, Dedekind e outros matemáticos; as condições envolvidas são artificiais, se vistas de per si, e levam um estudante mais crítico a pensar por que e para que esses emi nentes matemáticos as criaram. É importante, sob o ponto de vista de educação científica, esse estudante compreender que a motivação desses matemáticos não foi simplesmente generalizar os critérios conhecidos. Os matemáticos do século XIX receberam de seus colegas do século an terior, problemas dificeis ligados a questões de Física, entre os quais o mais ilustrativo é o problema de vibração de cordas, e eles tiveram de desenvolver intensamente o instrumental matemático existente. Veja a Aplicação III da Secção 2.10. As observações que apresentamos a seguir são baseadas no excelente apanhado histórico de autoria de Carslaw. Como veremos no Capítulo 5, o problema de vibração de uma corda se reduz á solução da equação conhecida como equação das ondas. As primeiras tentativas de resolvê-la foram feitas por d’Alembert (1747), Euler (1748) e Daniel Bernoulli (1753). Os dois primeiros chegaram à conclusão de que a solução devia ser da forma m( x , t) = F(x + c*í) -h G(x - ct). (a) Já Bernoulli chegou á expressão 00 0 = Z (b) n = í quando a corda (de comprimento n) vibra por um deslocamento de sua posição de repouso. [ Secção 2.11 ] 41 Olhando para as Expressões (a) e (b), dizemos: ótimo! Todos eles chegaram à expressão correta. Para entender as apaixonadas polêmicas entre Euler, d’Alembert e Bernoulli, será preciso atentar para o fato de que o conceito de função, como o que hoje entendemos, não estava as sentado na época; aliás o conceito de função só foi formalizado durante o século XIX. Na época de Euler, havia duas classes de funções: as funções contínuas, que eram aquelas que podiam ser expressas por uma equação entre x e e as funções geométricas, que eram todas aquelas que podiam ser traçadas à mão livre. E se admitia que, se uma função contínua fosse dada por uma fórmula em um pequeno intervalo, então a função estaria determinada nos demais pontos fora desse intervalo. (Veja você a confusão da época: uma função com esta última propriedade é de uma categoria muito restrita de funções, chamadas analíticas.) Admitia-se também que a classe das funções contínuas era menor que a das funções geométricas, porque uma linha quebrada não era uma função contínua, no sentido da época, e sim várias funções. Formalmente as soluções de d’Alembert e Euler eram as mesmas, mas, em cada caso, o significado de função era diferente. Euler admitia quaisquer funções geométricas para dados iniciais; d’Alembert tomava apenas funções contínuas. Assim, o problema de vibração da corda dedi lhada, com posição inicial dada por uma poligonal, era impossível para d’Alembert. Bernoulli sustentava que sua solução era absolutamente geral e que deveria conter aquelas dadas por d’Alembert e Euler. Este contestava que isso era impossível, pois, se a função fosse representada por uma série de senos, isso implicaria ser ela periódica e ímpar; a idéia de que uma expressão analítica representasse a função apenas em um intervalo não era aceita na época, o que explica esse argumento de Euler. Em 1759, Lagrange entrou em cena e mostrou que a solução da equação das ondas — no caso da posição inicial da corda (de comprimento 1) ser f(x) e a velocidade inicial ser g{x) — é dada por m(x, t) Jo í ' Z - Jo " = 1 (sen nny sen nnx cos nnct) f (>̂) dy -h (sen nny sen nnx sen nnct) g(y) dy e daí ele transformou a expressão na forma prevista por Euler. É curioso notar que Lagrange não observou que, fazendo í = 0 em sua expressão e permutando a integral com o somatório, obtém-se o desenvolvimento da função / em uma série de senos, cujos coeficientes são precisamente o que hoje chamamos coeficientes de Fourier. 42 [ Capítulo 2 ] Coube a Fourier (1811), em sua Théorie mathématique de la chaleur (Teoria matemática de condução do calor), explicitar os coeficientes e escrever as séries de senos e co-senos de várias funções. Ele afirmou que qualquer função podia ser expressa pela série que hoje leva seu nome. Apesar de isso não ser verdade, Fourier tem o mérito de ter explicitado claramente a forma da série que deveria representar a função. Dirichlet foi um dos primeiros a reconhecer que nem toda função pode ser representada por sua série de Fourier, e produziu os primeiros critérios para validade dessa representação, em 1829 e 1837. Enquanto isso, a Análise ganhava uma fundamentação mais rigorosa com os tra balhos de Cauchy, Bolzano e outros. Isso propiciá as contribuições de Riemann à teoria das séries de Fourier, sem esquecer que ele próprio é responsável por parte desse trabalho da colocação da Análise em uma base sólida. Riemann se propôs a achar condições necessárias e suficientes para que uma função pudesse ser representada por sua série de Fourier. Como obviamente essas questões se ligam à integração de funções, o Cálculo Integral teve de ser posto em base firme. E data daí a teoria da integral de Riemann que hoje estudamos. A esperança de provar que toda função contínua pudesse ser repre sentada por sua série de Fourier ruiu quando, em 1876, du Bois-Reymond construiu uma função contínua cuja série de Fourier divergia em um dado ponto, e, mais tarde, ele construiu uma função contínua cuja série de Fourier divergia em um conjunto denso. Exemplos mais simples foram dados, em 1909, por Fejér. Os exemplos de du Bois-Reymond motivaram a busca de novos critérios para a convergência da série de Fourier de uma função. O cri tério de Dini, que estudaremos no Capítulo 3, data de 1880. Outro critério, de autoria de Jordan, surgiu em 1881 e envolvia a idéia de função de va riação limitada, por ele criado. O critério de Lipschitz (1864) é um caso particular do critério de Dini. Todas essas investigações conduziram a uma melhor compreensão das funções descontínuas e propiciaram os trabalhos de Harnack, Hankel, Borel e Lebesgue, que culminaram com a introdução de um novo con ceito de integral. E aí começou a teoria moderna das séries de Fourier. EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 2 1.1. Defina uma função periódica de período 2 e igual a no intervalo aberto (0,2). Há mais de uma resposta? E se a função pedida fosse igual a x ̂ no intervalo [0,2)7 43 1.2. Se f c g forem périódicas de período T, mostre que f g e fg serão também periódicas de período T. 1.3. Se / for periódica de período T, mostre que Xf será periódica de mesmo período, onde X é um número real dado. 1.4. Se / for uma função diferenciável e periódica de período 7, mostre que a função derivada / ' será também periódica de mesmo período. 1.5. Seja /: (R -► IR uma função periódica de período T, e integrável em qualquer intervalo. Mostre que f + T i*T onde a é um número real qualquer fixado. 1.6. A soma de duas funções periódicas de períodos diferentes pode ser periódica. Dê um exemplo. 1.7. A soma de duas funções periódicas de períodos diferentes pode não ser periódica. Dê um exemplo. 1.8. Mostre que, se /^i IR -► IR é periódica de período Tj e IR -► IR é periódica de período T2 , e se existem inteiros m e n tais que mTi = /7T2 , então /j + / 2 é periódica de período m Tj. 1.9. Mostre que senax + senbx é periódica se e só se a/b é racional. 1.10. Seja / : IR-► IR uma função periódica de período T. Mostre que a função F(x) é periódica (de período T) se e só se í / = 0. Jo 1.11. Para /: IR -► IR periódica de período 7, determine a constante
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