Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 1 Leishmanioses Trata-se de zoonoses, afetando saúde de humanos e mamíferos. O principal reservatório dessa doença no ambiente doméstico é o cão. É uma doença tipicamente silvestre, que se tornou rural e vem se urbanizando. É uma doença de ciclo heteroxênico que depende de hospedeiros vertebrados (mamíferos e humanos) e invertebrados (mosquitos-palha: fêmeas hematófogas). Há duas formas básicas: Leishmaniose tegumentar: os tropozoários provocam ações nas regiões cutâneo mucosa Leishmaniose visceral (vamos estudar a americana): possui ações sistêmicas A principal diferença entre elas é onde agem os protozoários. Classificação Taxonômica Reino: Protozoa Filo: Sarcomastigophora (presença de flagelos ou pseudópodes) Subfilo: Mastigophora (com um ou mais flagelos) Classe: Zoomastigophorea Ordem: Kinetoplastida – um ou dois flagelos; Subordem: Trypanosomatina (flagelo livre ou com membrana ondulante) Aula passada: membrana ondulante com três flagelos livres – trichomonas vaginalis. Família: Trypanosomatidae (parasito obrigatório) Espécies: Trypanosoma cruzi (vai ser estudado depois) Leishmania braziliensis – LTA É a principal causador da LTA (Leishmaniose tegumentar americana) no Brasil. Pele é o órgão afetado. Leishmania infantum (=Leishmania infantum chagasi) – LVA Única espécie causadora de LAVA (Leishmaniose visceral americana) no Brasil. Observação! Só existe a forma trofozoítica, não há forma cística (de resistência), dessa forma, a transmissão se dá por transferência de trofozoítos – principalmente via inseto vetor. L. braziliensis: principal espécie em relação a LTA no território nacional. Produz a maior parte das formas clínicas. L. infantum: apenas ela causa LVA no Brasil. Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) Cerca de 1,5 milhões de casos novos/ano no mundo sendo 700.000 nas Américas Central e do Sul. No Brasil a média é de 3.000 novos casos/ano. Ela não é prevalente no Sul, mas tem no resto do brasil. Definição: é uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos. Há quatro formas clínicas (dependendo da espécie de envolvida e de aspectos relacionados ao próprio hospedeiro): A forma cutânea localizada é caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas; De modo geral as lesões surgem posicionadas no local em que houve a picada pela fêmea do mosquito, ou seja, no local onde a hematofagia foi praticada. Mosquito sugou o sangue fêmea regurgita saliva na saliva estão os protozoários que determinam as lesões. A forma disseminada apresenta múltiplas úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática; Várias úlceras vão derivar de uma úlcera inicial, isso acontece a partir de disseminação hematogênica ou linfática. A partir de um ponto de picada pela fêmea do mosquito há disseminação das formas dos protozoários para produzirem novas lesões. A partir de uma lesão há disseminação do protozoário formação de lesões satélites lesões normalmente em linha. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 2 A forma cutaneomucosa é caracterizada por leões mucosas agressivas que afetam as regiões nasofaríngeas; Se não houver diagnóstico precoce o indivíduo pode perder o nariz pelo processo inflamatório (necrose) e pode levar à óbito se atingir a faríngea. A forma difusa com lesões nodulares não ulceradas. Nódulos são formados na pele do indivíduo, determinando essa forma clínica que é produzida principalmente pela espécie L. amazonensis. Em geral quem tem essa forma é imunodeprimido. As três primeiras formas clínicas são produzidas por L. braziliensis, a última forma clínica (difusa) é produzida por L. amazonensis. Em todos os casos o paciente apresente ulcerações, exceto na última forma. De modo geral, a L. tegumentar é mais mutiladora do que falta, ou seja, é uma doença que gera mais lesões no paciente, contudo, a forma cutaneomucosa é mais agressiva, podendo ser potencialmente fatal se não for diagnosticada precocemente. Morfologia dos protozoários Importante! Não existe forma cística no ciclo da Leishmaniose, nem na tegumentar e nem na visceral. Existem apenas os trofozoítos, que adquirem as formas: 1. Formas amastigotas: apresenta-se tipicamente, ovóides ou esféricas. Parasitos intracelulares obrigatórios do SFM (sistema mononuclear fagocitário) de vertebrados. São destituídos de flagelos. Eles invadem e se multiplicam em SFM, em especial os macrófagos teciduais. Então, ao invés de serem destruídas pelos macrófagos, essas formas amastigotas são capazes de se multiplicar no interior dessas células, determinando o quadro clínico derivado dessa invasão. 2. Formas promastigotas: são formas alongadas em cuja região anterior emerge um flagelo livre. Presentes trato digestivo e glândulas salivares de mosquitos palha (Lutzomyia sp.) Possuem flagelo na região anterior do corpo celular. São as formas que invadem o organismo do hospedeiro vertebrado e serão inoculadas juntamente com a saliva das fêmeas dos mosquitos que praticam hematofagia no organismo humano. Então, essas fêmeas do mosquito que estão infectadas pelo protozoário, vão injetar juntamente com a saliva as formas promastigotas. Essas formas serão especialistas em invadir as células do SFM – invadindo as células do SFM, as formas promastigotas sofrem alteração morfológica e originam as formas amastigotas. As formas amastigotas são as que estão adaptadas aos macrófagos e serão capazes de realizar divisão binária no interior dessas células, até chegar ao ponto em que o macrófago se rompa e libere essas formas amastigotas no meio extracelular – com isso, elas serão fagocitadas por outros macrófagos, dando continuidade ao ciclo do protozoário no organismo do ser humano. Essa lise dos macrófagos origina o quadro clínico de LTA nas suas várias formas clínicas. 3. Formas paramastigotas: apresentam-se ovais ou arredondadas. São encontradas aderidas ao epitélio do trato digestivo dos mosquitos pelo flagelo através de hemidesmossomas. Essa forma na realidade está presente no trato gastrointestinal dos mosquitos e tem como finalidade manter esses mosquitos parasitados por leishmania enquanto eles viverem. É uma espécie de estoque permanente de protozoários no mosquito – que não sofreram e metaciclogênese. Reprodução: divisão binária. Importante! Diferença entre LTA e LVA Essas formas acontecem desse mesmo modo nas duas doenças. A diferença é que as formas do protozoário que causam a LTA se multiplicam a nível de tecidos cutâneos ou na região nasofaríngea do indivíduo. Já na LVA, as formas amastigotas se multiplicam nas células de órgãos intestinos (células de Kupffer do fígado, células da medula óssea, etc). Lembrete: assistir vídeo monstrado em aula “Ciclo de vida da Leishmania no homem” https://www.youtube.com/watch?v=LveRTb8EJjI No caso da tegumentar, uma parte dos amastigotas vão para o sangue, mas só conseguem se multiplicar se forem para algum local nos tecidos cutâneos; se acontecer de eles se deslocarem para o interior do corpo, esses amastigotas morrem. NA TEGUMENTAR OS AMASTIGOTAS PRECISAM FICAR NOS TEGUMENTOS. A forma tegumentar tem que estar associada ao tegumento – se ela permanece na corrente circulatória, ela é destruída. No caso da visceral, a interiorização dos amastigotas é obrigatória, eles só se multiplicam se chegarem até órgãos internos. Na LTA os protozoários precisam ser inoculados, ou seja, só há contaminação pela picada do mosquito. Na LVA, há possibilidade de contaminação por transfusão sanguínea. https://www.youtube.com/watch?v=LveRTb8EJjI Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 3 Ciclo biológico Esse ciclo biológico também é válido para LVA, pois o mecanismode infecção dessas doenças é muito parecido. A disseminação dos protozoários que é diferente entre LTA e LVA. Na LTA os protozoários se multiplicam nos macrófagos dos tecidos cutâneos, região nasofaríngea e mucosas. Na LVA a maior multiplicação ocorre nos macrófagos dos órgãos internos, iniciando pelo fígado e migrando para outros locais, inclusive em tecidos hemocitopoieticos. O hospedeiro vertebrado recebe as formas infectantes promastigotas quanto a fêmea do mosquito se alimenta de sangue as formas promastigotas serão fagocitadas pelos macrófagos teciduais no interior dos fagossomos os promastigotas mudam para amastigotas amastigotas são adaptados aos macrófagos e passam a se multiplicar por divisão binária com o crescimento da quantidade das formas amastigotas no meio intracelular os macrófagos se rompem liberação dos amastigotas no meio extracelular parte das formas amastigotas são incorporadas por outros macrófagos e uma outra parte é ingerida por fêmeas de mosquito que praticam hematofagia no indivíduo que está parasitado. Quando uma parte é ingerida pela fêmea do mosquito no trato gastrointestinal as formas amastigotas se transformam em formas promastigotas iniciais no intestino, se transformam em para mastigotas (fontes permanentes de leishmania no organismo do mosquito – enquanto ela viver ela produz novas formas) a partir das paramastigotas produz formas promastigotas metacíclicas (é a forma infectante) chegam até as glândulas salivares do mosquito hematofagia injetadas no local da picada juntamente com a saliva ciclo recomeça O mosquito Os transmissores são insetos dípteros da subfamília Phlebotominae e do gênero Lutzomyia. Os flebotomíneos infectam-se quando sugam o sangue de pessoas ou animais parasitados. No intestino do inseto, a multiplicação sob a forma promastigota é intensa; mormente se, depois, esse inseto fizer um repasto com sucos de plantas. Dias depois, ao picar novamente, esses flebotomíneos inoculam seus parasitos (as formas promastigotas metacíclicas) nas pessoas, que, se forem suscetíveis, contraem a leishmaníase visceral. São pequenos e se criam em solo úmido, rico em matéria orgânica e áreas sombreadas – grupos de risco são as pessoas que vivem em áreas de mata, florestas. Contudo, esse mosquito tem se urbanizado. Os machos desses mosquitos se alimentam de vegetais, as fêmeas são hematófagas, sendo as únicas capazes de transmitir leishmaniose. Uma vez infectada, a fêmea estará infectada até o fim da sua vida (vivem até 50 dias). O mosquito tem cor de palha, pernas longas e asas pequenas – isso confere ao mosquito uma incapacidade de voar longas distâncias. Ou seja, se alguém contrai leishmaniose a pessoa provavelmente está próxima do foco onde estão os mosquitos, pois eles não voam mais de 500 metros de distância (o raio de ação é no máximo 500 metros do local onde ele se criou como larva). Fontes luminosas são atrativas para as fêmeas adultas, assim como o quimiotropismo. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 4 O mosquito da leishmaniose é do gênero Lutzomya – a fêmea é parasita obrigatória (hematófaga). Pessoas criadas na mata ou que se interiorizam são grupos de risco para leishmaniose. O mosquito é pequeno e tem picada dolorida. As larvas do mosquito têm fototropismo negativo – a insolação mata as larvas. Reprodução em macrófagos As leishmânias têm por hábitat os vacúolos digestivos de células do sistema fagocitário mononuclear, onde se multiplicam sob a forma amastigota. Ciclo silvestre da leishmaniose com reservatórios Mosquito tem hábitos que perfazem fim da tarde, noite e início da manhã. Ele entra e sai das casas, não fica tanto tempo naquele local, ou seja, frequentar mata favorece leishmaniose. Raposas: um dos hospedeiros silvestres mais importantes. Leishmaniose tegumentar americana (LTA) Formas Cutâneas ou cutânea simples: lesões ulcerosas, indolores, múltiplas ou únicas. Elas são indolores – mas infecções secundárias por bactérias fazem com que essas lesões fiquem dolorosas. Formas Cutaneomucosas: lesões agressivas que afetam a região nasofaríngea. Forma Disseminada: múltiplas úlceras cutâneas que são disseminadas hematogenicamente A partir de uma úlcera surgem outras úlceras por disseminação hematogênica ou linfática. Forma Difusa: lesões modulares não ulceradas. Hospedeiro Invertebrado: Lutzomyia sp. (Lutzomyia intermedia) – principal transmissora. Hospedeiros Vertebrados: roedores, endentados (tatu, tamanduá, preguiça), marsupiais (gambá), canídeos (raposas e cães) e primatas (incluindo o homem). Formas Clínicas Leishmaniose Cutânea: Leishmania braziliensis provoca no homem lesões conhecidas por úlcera-de-Bauru, ferida brava, ferida seca e bouba (fundo granuloso – bouba porque tem inicialmente um nódulo, e ele ulcera). Principal agente etiológico. Produz a forma cutânea simples, cutânea disseminada e cutaneomucosa. Leishmania guyanensis lesões cutâneas conhecidas por pian bois. Úlcera única do tipo “cratera de lua” e frequentemente dissemina-se dando origem a úlceras similares pelo corpo: metástases linfáticas. Produz a forma cutânea simples e cutânea disseminada. Tanto a L. braziliensis quanto a guyanensis podem produzir a forma cutânea simples ou cutânea disseminada, mas a cutaneomucosa é produzida pela forma de L. braziliensis. Leishmania amazonensis lesões ulceradas simples e limitadas, contendo numerosos parasitos nos bordos da lesão. Não é um parasito comum do homem. É a principal envolvida na transmissão da forma difusa. Patologia Na área do tegumento onde se processa a ação parasitária, ocorre reação inflamatória caracterizada por: 1. Hiperplasia histiocitária 2. Edema e infiltração celular (composto principalmente por células do SFM – granulócitos) 3. Hipertrofia do epitélio Frequentemente a inflamação cutânea evolui para necrose, formando uma úlcera rasa ou uma ulceração profunda de bordos salientes, com o fundo da úlcera granuloso e limpo. A contaminação bacteriana tende a alterar esse quadro histológico, a purulência determina que lesão indolor se torne uma lesão dolorosa. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 5 Cutânea simples Lesões de bordas altas; essas lesões podem se fusionar. Leishmaniose Cutaneomucosa Essa forma clínica é conhecida por espúndia, nariz de tapir ou de anta. O agente etiológico é a L. braziliensis. Afeta região nasofaringea, o septo nasal vai ser removido inicialmente e posteriormente pode afetar palato e gengivas. Processo inflamatório – infiltrado celular e o protozoário de leishmania vai destruindo as células. Essa forma pode ser letal. Leishmaniose Cutânea Difusa (LCD) Caracteriza-se pela formação de lesões difusas não ulceradas por toda a pele, contendo grande número de amastigotas. A LCD está estreitamente associada a uma deficiência imunológica do paciente. L. amazonensis no Brasil. Em geral, a LCD forma lesões nodulares que podem ser confundidas com outras doenças, inclusive a hanseníase. Por isso, é preciso fazer diagnóstico diferencial para hanseníase. Hanseníase lesões são indolores, já é diagnóstico diferencial pois na leishmaniose é dolorosa (ver isso melhor). Tratamento da Leishmaniose Tegumentar É feito com: Antimoniais trivalentes: dos quais o mais recomendado é a glucantime ou antimoniato de meglumine, por via intramuscular. Taxa de cura em torno de 70%. Pentamidinas: menos eficazes e mais tóxicas que glucantime, como segunda opção, via intramuscular; porém são indicadas na infecção por L. guianensis. Anfotericina B: administrada gota a gota, por via intravenosa. Azitromicina: nova droga, por via oral, sem efeitos colaterais e capaz de curar 85% dos casos. Quase todos os pacientes apresentam reaçõescolaterais com tais medicamentos, como cefaleia, artralgias, mialgias e, em alguns casos, depressão da medula óssea; exceto no tratamento com a azitromicina. Antiprotozoário traz muitos efeitos colaterais, mas a azitromicina é uma exceção. Não há método seguro para o controle de cura, que exige repetidos testes diagnósticos (PCR, imunofluores- cência etc). As lesões mucosas podem surgir tempos depois da “cura” dos processos cutâneos. Em alguns casos, aparentemente curados, podem ocorrer recidivas. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 6 Diagnóstico Diagnóstico Clínico: pode ser feito com base na característica da lesão que o paciente apresenta, associado a anamnese. Diagnóstico Laboratorial: pesquisa do parasito Material obtido da lesão: Exame direto de esfregaços corados – remove da borda da lesão parte do tecido Exame histopatológico – o fragmento de pele obtido pela biópsia é submetido a técnicas histológicas. O encontro de amastigotas ou de um infiltrado inflamatório compatível pode definir ou sugerir o diagnóstico. Cultura – cultura de fragmentos do tecido. Usa meio NNN que favorece a multiplicação dos amastigotas, permitindo melhor visualização. Métodos Imunológicos Resposta Celular: Teste de Montenegro teste imunológico mais utilizado no Brasil. Sua sensibilidade varia entre 82,4% e 100%. O teste consiste no inóculo de 0,1ml de antígeno intradermicamente na face interna do braço. Interpretação dos resultados: Na forma cutânea simples da LTA, a reação inflamatória pode variar de acordo com a evolução da doença, sendo maior nas úlceras crônicas. Na forma mucosa da LTA, reação inflamatória intensa: flictemas e necrose. Na forma difusa a resposta é usualmente negativa. Em pacientes tratados, instala-se uma imunidade celular duradoura, permanecendo teste positivo durante muitos anos e, em alguns casos indefinidamente. Para forma difusa, o teste de Montenegro não funciona, pois é um método imunológica de resposta celular. Dessa forma, se o indivíduo é imunodeprimido ele não dará resposta para que esse exame seja realizado de forma efetiva. Resposta Humoral Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) Leishmaniose Visceral Americana 300 a 400.000 novos casos no mundo/ano. No Brasil, média de 2500 casos/ano. Tem perfil diferente da tegumentar. É uma doença muito mais agressiva, pois o protozoário invade órgãos internos. Definição: enfermidade infecciosa generalizada, crônica (tem tendência a longos períodos de infecção), caracterizada por: febre irregular e de longa duração (na forma tegumentar não há febre), hepatoesplenomegalia, pancitopenia (vai até medula óssea e interfere na hematopoiese – há produção drástica de células do sangue, determinando pancitopenia – redução da taxa de células sanguíneas), linfadenopatia (protozoário circulam no sistema linfático e vão ao linfonodo, que é onde tem SFM e se reproduzem nessas células), anemia (por conta da hematopoiese prejudicada) com leucemia (lança no sangue células incapazes de produzir defesa), hipergamaglobulinemia e hipoalbuminemia, emagrecimento, edema e estado de debilidade progressivo levando à caquexia e, finalmente, a óbito se o paciente não for submetido ao tratamento específico. “Kala-azar”: doença mortífera. Agente Etiológico Leishmania infantum chagasi no Brasil – crianças são afetadas de forma grave. Aspectos Biológicos Formas amastigotas, promastigotas e paramastigotas. Promastigotas metacíclicos invadem o organismo do hospedeiro invertebrado. Transmissão: Lutzomyia longipalpis – maxadilan (vasodilatador) na saliva. O mosquito produz uma saliva com poderoso vasodilatador (maxadilan) que facilita a invasão dos protozoários no hospedeiro, favorecendo invasão das formas amastigotas aos vasos sanguíneos, permitindo a dispersão e disseminação do protozoário pelo organismo do hospedeiro. Ciclo biológico É exatamente o mesmo da LTA. A diferença é que no caso da LVA os amastigotas invadem os órgãos internos. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 7 Leishmaniose visceral Macrófago abarrotado de leishmanias em multiplicação Sob a forma de amastigotas, os parasitos crescem sobretudo nas células de Kupffer do fígado e nas do sistema fagocítico mononuclear do baço, da medula óssea e dos linfonodos. Também crescem nos pulmões, nos rins, nas suprarrenais, nos intestinos e na pele. As células hospedeiras destruídas permitem a disseminação dos parasitos, que podem ser vistos circulando no sangue, inclusive no interior de monócitos. A sintomatologia intestinal pode ser causada pela presença do protozoário no intestino – diarreia. Importante! Não há eliminação de formas do protozoário nas fezes, pois a LEISHMANIA NÃO FORMA CISTOS. Quando as formas amastigotas invadem os monócitos elas têm sua disseminação pelo organismo favorecida. Infecção O mosquito inocula as formas promastigotas do parasita, essas formas invadir os macrófagos nos linfáticos. Posteriormente caem da corrente sanguínea e se espalham pelo fígado, medula óssea, rim, linfonodos, etc. Mecanismos de Transmissão Transmissão pelo Vetor Acidentes de Laboratório Transfusão Sanguínea Uso de Drogas Injetáveis – compartilhamento de seringas e agulhas Transmissão Congênita células do SFM infectadas por amastigotas que atravessariam a fina membrana que separa a circulação fetal materna ou durante o contado do sangue materno com o do filho no momento do parto. Enquanto na LTA o único mecanismo de transmissão é a picada do mosquito, na LVA existe o mecanismo de contaminação por sangue de indivíduos parasitados. Observação: o baço possui muitas células do SFM, sendo assim, há muita multiplicação de amastigota nesse órgão – hipertrofia do baço (esplenomegalia). Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 8 Patogenia A L. chagasi é um parasito de células do SMF. As formas amastigotas se multiplicam rapidamente dentro dos macrófagos teciduais no sítio da picada do flebotomíneo. Posteriormente: visceralização das amastigotas, principalmente órgãos linfóides. Porque a L. braziliensis não se visceraliza e a L. infantum chagasi se visceraliza? Pesquisadores apontam que há relação com a temperatura. Na superfície do organismo há uma temperatura maior do que nos órgãos internos, cerca de 0,5º de diferença. Período de Incubação: varia entre dois e sete meses. Existem indivíduos assintomáticos para LVA, sobretudo em áreas endêmicas. Patogenia – o que acontece em LVA é o mesmo que ocorre em LTA, mas nesse caso é à nível de órgãos internos. I. A hipertrofia e a hiperplasia do sistema macrofágico das vísceras é a razão da hepatesplenomegalia, bem como das alterações da medula óssea hematógena; II. Os histiócitos se transformam em extenso campo de proliferação de amastigotas; III. O baço aumenta de volume, com cápsula espessa e polpa mostra predominância de macrófagos com consequente contração da circulação dos capilares e congestão do órgão. É preciso fazer diagnóstico diferencial com esquistossomose, pois nessa parasitose também existe hepatoesplenomegalia. Alterações Fisiológicas e Histopatológicas Alterações Esplênicas – hiperplasia e hipertrofia das células do SFM – esplenomegalia. Alterações Hepáticas – hiperplasia das células do SFM e dilatação dos sinusóides – levando às alterações hepáticas e hepatoesplenomegalia. Alterações no Tecido Hemocitopoetico - hiperplasia do setor histiocitário e formador de sangue. Alterações Renais – relacionada à presença de imunocomplexos circulantes. Alterações Pulmonares – pneumonia intersticial associada a infecções secundárias – broncopneumonia – óbito. Alterações nos Linfonodos – infartamento (aumento do volume) Alteraçõesno Tubo Digestivo – edema e alongamento das vilosidades do jejuno e do íleo – redução da absorção intestinal, potencializando quadros diarreicos e cólicas intestinais. Alterações Cutâneas – leishmaniose dérmica pós-calazar; queda de cabelos. Formas Clínicas da Leishmaniose Visceral 1. Forma Assintomática: essa forma é comum na maioria dos indivíduos de áreas endêmicas. 2. Forma Oligossintomática ou Subclínica: é a forma mais frequente da doença. Sintomatologia inespecífica: febre baixa recorrente, tosse seca, diarreia, sudorese, prostração. 3. Forma Aguda: forma semelhante à septicemia e caracterizada por diarreias, febre alta e tosse. 4. Forma Sintomática, Crônica ou Calazar Clássico: Febre irregular; Emagrecimento (desnutrição e caquexia); Hepatoesplenomegalia – ascite e edema generalizado; Pancitopenia Dispneia, cefaleia, dores musculares; Perturbações digestivas e até retardo na puberdade. Complicações Pneumonia e broncopneumonia. A tuberculose pode ocorrer. Diarreia e disenteria ocorrem com frequência. Otite média, gengivite, estomatite e cancrum oris (muito registrado no continente africano – infecção bacteriana que se inicia na boca) também ocorrem. Infecções concomitantes por Plasmodium ou Schistosoma têm sido encontradas associadas ao calazar. Superposição destas endemias. Aidéticos e portadores de HIV – leishmaniose é considerada infecção oportunista. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 9 Animais reservatórios do calazar No Brasil, os cães são os principais reservatórios da doença, que tem caráter endemo-epidêmico. A foto (A) mostra um cão calazarento (de Sobral, CE) com áreas glabras e úlceras disseminadas pela pele (rica em leishmânias). As unhas longas indicam falta de atividade, em fase avançada da doença. Outros sintomas são diarreia e caquexia. Canídeos silvestres participam também da transmissão, além de, eventualmente, outros mamíferos. No Nordeste, foi identificada a raposa (Lycalopex vetulus) como um dos reservatórios (foto B, segundo L. M. Deane). Epidemiologia do calazar no Brasil A leishmaníase visceral é encontrada sobretudo nas zonas rurais, onde as casas ficam situadas próximo das matas. Entre os ambientes geográficos que a sustentam estão as terras firmes da Amazônia, o litoral e as planícies dos grandes rios do Nordeste, vales úmidos e sopé das serras do sertão, assim como os vales boscosos da Bahia e de Minas Gerais. As Lutzomyia longipalpis que aí se criam são as transmissoras da infecção. Diagnóstico e tratamento do calazar A pesquisa de parasitos é o método básico para fazer o diagnóstico. As leishmânias podem ser encontradas em aspirado de medula óssea, do baço ou de linfonodos, sendo a punção esternal (ou a punção da crista ilíaca, em crianças) as preferidas – para alguns autores o método de punção é considerado padrão-ouro para diagnóstico, pois é possível encontrar formas amastigotas na medula óssea. Fazer um esfregaço em lâmina adequada, fixá-lo e corá-lo. Examinar ao microscópio. Os métodos sorológicos (ELISA, a imunoeletroforese ou a imunofluorescência indireta) servem para inquéritos ou para quando não forem encontrados os parasitos. Os tratamentos de primeira linha são feitos com antimoniais pentavalentes, de uso prolongado e administração parenteral: Antimoniato de meglumine (ou antimoniato de N-metilglucamina). Estibogluconato de sódio (ou gluconato de sódio e antimônio). Na segunda linha estão: Pentamidina, por via intravenosa. Anfotericina B, para perfusão intravenosa. Alopurinol, por via oral. Controlar os efeitos colaterais dessas drogas. Controle das leishmanioses Requer estudos epidemiológicos preliminares sobre os fatores mais importantes do problema: Conhecimento da área endêmica e da incidência da doença na população. Estudo da fauna flebotômica local e sua densidade no decurso do ano. Inquérito sorológico na população canina. Vacinas para cães: Leihmune, Leshvacin e Leish-Tec (atual) Coleiras para cães: Seresto, Excalibur, etc. Estudo sobre os eventuais reservatórios silvestres. Combater os flebotomíneos vetores da infecção, aplicando inseticidas de ação residual nas casas e nos anexos, bem como nos abrigos de animais domésticos. Cipermetrina, na formulação pó molhável (PM) e a deltametrina, em suspensão concentrada (SC). Tratar todos os doentes, inclusive os assintomáticos. Recolher, tratar e isolar os cães sorologicamente positivos e os cães errantes.
Compartilhar