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Nutrição-UFGD Estado clínico de má-absorção intestinal secundário à perda da superfície mucosa funcionante, em consequência de ressecção cirúrgica (ex. doença de Crohn), derivações do trânsito intestinal, como no caso de fístulas e cirurgia bariátrica, ou por perdas das células mucosas (enterócitos) devido à infecção, isquemia quimio e/ou radioterapia. Intestino humano: 3 a 6 metros de comprimento. SIC: perda de 2/3 dessa estrutura ou mais. A maioria dos indivíduos com intestino remanescente inferior a 2 metros, com ou sem cólon em continuidade, apresentam SIC. SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS NO PÓS- OPERATÓRIO IMEDIATO Diarreia aquosa. Desidratação. Esteatorreia. Perda de peso. Desnutrição. Manifestações clínicos dependem: • Da integridade da mucosa no intestino remanescente; • Da habilidade de compensação da porção restante; • Da presença ou ausência da válvula ileocecal e do cólon. ANASTOMOSE ILEOCÓLICA Remoção de parte do íleo, podendo ou não envolver o cólon. Área remanescente: • < 60cm íleo + cólon (total ou parcial) = dieta via oral prejudicada; • ≤ 60cm íleo + cólon (total ou parcial) = necessidade NPT longo prazo. Melhor balanço hidroeletrolítico: presença de parte do cólon reduz velocidade do trânsito intestinal e promove reabsorção de sódio e água. Cólon pode se adaptar e se tornar órgão com função digestiva. ANASTOMOSE JEJUNÓLICA Remoção do íleo e parte do jejuno, podendo ou não envolver o cólon. Área remanescente: • 50-100cm jejuno + cólon (parcial) = possível manter dieta via oral; • < 50cm jejuno + cólon (total ou parcial) = necessidade NPT longo prazo. Melhor balanço hidroeletrolítico se houver presença do cólon: reduz velocidade do trânsito intestinal e promove reabsorção de sódio e água. Nutrição-UFGD Cólon pode se adaptar e se tornar órgão com função digestiva. JEJUNOSTOMIA TERMINAL Remoção do cólon, íleo e parte do jejuno. Área remanescente: • > 100cm jejuno = possível manter dieta via oral; • < 100cm jejuno = necessidade NPT a longo prazo. Pacientes podem ficar rapidamente depletados de líquidos e eletrólitos. Rápido tempo de trânsito intestinal, má-absorção severa de gordura, ácidos biliares, vitamina B12 e vitaminas lipossolúveis. Após ressecção cirúrgica, o intestino remanescente sofre um processo de adaptação individual, ainda não totalmente compreendido, que envolve alterações estruturais e de motilidade que melhoram o desempenho do intestino remanescente. • Adaptação individual: os nutrientes por via digestiva são potentes estimuladores da adaptação intestinal, sendo por isso importante iniciar a NE ou alimentação oral logo que possível após a cirurgia. ADAPTAÇÃO INTESTINAL 1° período (1 a 3 meses): • Desequilíbrio hidroeletrolítico (diarreia); • Necessidade de NPT. 2° período (até 1 ano): • Estabilização dos sintomas intestinais; • Início da dieta via oral e do desmame da NPT. 3° período (2 anos ou mais): • Adaptação máxima; • Dieta via oral com os nutrientes necessários. OBJETIVOS DA TERAPIA NUTRICIONAL Manutenção e/ou recuperação do estado nutricional. Maximizar a capacidade digestiva e absortiva do intestino remanescente. Proporcionar a adequada ingestão de calorias, carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais. Garantir a reposição hidroeletrolítica. Promover um balanço nitrogenado positivo. Evitar e tratar efeitos indesejáveis: diarreia, perda de fluídos e de eletrólitos. Terapia nutricional nas diferentes fases clínicas da Síndrome do Intestino Curto Fase inicial: dependência da TNP. • Iniciada logo após a ressecção intestinal; • Desequilíbrio hidroeletrolítico; • Incapacidade de utilização do TGI; • Início da Nutrição Parenteral Total (precoce): o Iniciar quando hemodinamicamente estável; o O tempo da NPT irá variar conforme a área e quantidade de intestino delgado ressecado; o Avaliação metabólica e do estado nutricional. Fase intermediária: transição entre TNP e TNE. • Desmame progressivo da TNP concomitante com a introdução da TNE; • TNE início após balanço hidroeletrolítico estável e retorno dos ruídos gastrointestinais; • Mesmo que a oferta calórica seja mínima, deve ser mantida: estímulo às vilosidades intestinais, ↑ capacidade absortiva, manutenção microbiota intestinal e imunidade; Nutrição-UFGD • Absorção média: 65% da ingestão calórica total. O restante deve ser compensado com o aumento da ingestão (1,5 a 3x o VCT); • Adequar a dieta às necessidades proteico- calóricas do paciente, sem promover diarreia/esteatorreia; • TCM: indicado para ↑ valor calórico (dependente da presença do cólon);; • TCL: óleo de peixe e outros ácidos graxos ômega- 3 (melhor adaptação do remanescente intestinal); • Tipo de dieta: o Poliméricas; o Isoméricas; o Pobres em gorduras e lactose; o Estimulem a secreção biliopancreática → processo adaptativo; o Dietas elementares: apenas para pacientes intolerantes. • Observar diarreia, distúrbios hidroeletrolíticos, distensão abdominal, entre outros sinais e sintomas. Fase tardia (recuperação): alimentação via oral. • Dieta fracionada 6 a 8 vezes por dia, com volume reduzido; • Hiperproteica e hipercalórica, normolipídica (até 30% das calorias totais), com restrição de lactose e sacarose: o A eliminação total destes sacarídeos deve ocorrer somente em casos de intolerância observada clinicamente (ex.: aumento da diarreia, ostomias de alto débito). • Consistência: de acordo com a idade e condições de mastigação, deglutição e absorção do paciente; • Fibras: evitar as insolúveis → diarreia; • Vitaminas e minerais: suplementação em caso de deficiência. TERAPIA NUTRICIONAL ORAL/ENTERAL DE ACORDO COM A ANATOMIA INTESTINAL CONSIDERAÇÕES FINAIS A abordagem destes pacientes é altamente complexa e individualizada: heterogeneidade em termos de anatomia residual do intestinal e necessidades nutricionais. A TN deve ser individual e ajustada às necessidades do paciente: avaliar, educar e monitorar adequada e de forma contínua todas as fases. Primordial: atuação de equipes multidisciplinares. Abertura feita na parede abdominal = estoma (palavra de origem grega, significa “abertura”, “boca”, “orifício”). Novo trajeto para saída das fezes e gases. Não é recomendada a suplementação de glutamina, probióticos ou outros nutrientes para promover o processo de reabilitação intestinal. Nutrição-UFGD Principais localizações das ostomias intestinais: ILEOSTOMIA Volume de drenagem dos efluentes: está relacionado com os alimentos ingeridos (500 a 800mL/dia). Os gases e cheiros são reduzidos. Características das fezes: líquidas/semilíquidas, de cor castanho esverdeadas. Elimina grande quantidade de eletrólitos e enzimas, devido a diminuição de absorção pelo trato digestório. pH muito alcalino → corrosivo. COLOSTOMIA Características das fezes: • Cólon ascendente: fezes semilíquidas logo após a cirurgia e pastosas após a readaptação intestinal; • Cólon transverso: fezes semilíquidas e pastosas; • Cólon descendente: fezes pastosas a sólidas (semelhante às fezes eliminadas pelo ânus). CUIDADOS NUTRICIONAIS NAS OSTOMIAS INTESTINAIS Necessidade energética: adequado às necessidades do paciente. Alimentação normal, evitando somente as intolerâncias individuais. Ingestão adequada de água devido as perdas excessivas de sal e água pela ileostomia. Ileostomia: verificar necessidade de suplementação de vit. B12. Mastigar bem todos os alimentos. CISLER, J. J.; BUCHMAN, A. L. Intestinal adaptation in short bowel syndrome. Journal of Investigative Medicine, v. 53, n. 8, p. 402-413, 2005. DECHER, N.; KRENISTSKY, J.S. In: Mahan, LK. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 13ª Rio de janeiro: Elsevier, 2012.NOGUEIRA, N. N. et al. Doenças do sistema digestório. In: ROSSI, L; POLTRONIERI, F. Tratado de Nutrição e Dietoterapia. 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan. pp. 663-670, 2019. PIRONI, L. et al. ESPEN guidelines on chronic intestinal failure in adults. Clinical Nutrition, v. 35, n. 2, p. 247-307, 2016. ROCHA, E. E. M. et al. Terapia Nutricional na Síndrome do Intestino Curto - Insuficiência/ Falência Intestinal. Projeto Diretrizes – Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, 2011. SOARES, L. M. M. Abordagem Nutricional no Adulto com Síndrome do Intestino Curto. Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, Porto, 2017. Nutrição-UFGD A síndrome do intestino irritável (SII) é caracterizada por dor abdominal recorrente por pelo menos um dia por semana nos últimos 3 meses (com início dos sintomas nos últimas 6 meses), associado com duas ou mais das seguintes situações: 1. Relacionado à defecação; 2. Associado com mudanças na frequência das evacuações; 3. Associado com mudanças na forma/frequência das evacuações. Sintomas comuns da SII e bases para o diagnóstico • Frequência anormal de evacuações (<3x por semana ou >3x ao dia). • Formato anormal das fezes (duras e/ou moles). • Dificuldade para evacuar. • Urgência para evacuar. • Sensação de evacuação incompleta. • Presença de muco nas fezes. • Distensão abdominal. Características comportamentais que ajudam a reconhecer a SII na prática geral: • Os sintomas se mantêm durante mais de 6 meses. • O estresse agrava os sintomas. • Consultas frequentes por sintomas não gastrointestinais. • Antecedentes de sintomas anteriores sem explicação médica. • Agravamento depois das refeições. • Acompanhado de ansiedade e/ou depressão. Sintomas não gastrointestinais associados: • Apatia, fadiga. • Dor nas costas e outras dores musculares e articulares. • Fibromialgia. • Cefaleias. • Sintomas urinários: noctúria, frequência e urgência à micção, esvaziamento incompleto da bexiga. • Dispareunia. • Insônia. • Baixa tolerância aos medicamentos em geral. O diagnóstico da SII é suspeitado com base na anamnese e no exame físico do paciente, sem testes adicionais. A confirmação do diagnóstico requer a exclusão confiável de doença orgânica. Sinais de alarme para SII: • Perda de peso involuntária (>10% em três meses); • Presença de melena não causada por hemorroidas ou fissuras anais; • Sintomas que acordam o paciente à noite; • Febre em associação com sintomas intestinais; • História familiar de câncer colorretal, DII ou doença celíaca; • Início dos sintomas da SII após 50 anos de idade. FATORES DE RISCO DA SII Fatores pessoais: • Sexo feminino; • Idade > 50 anos. Condições sociais: • História familiar de abuso de substâncias; • História familiar de doenças mentais. Questões somáticas: • Infecções gastrointestinal; • Sintomas somáticos (dores); • Obesidade abdominal; • Doença diverticular; • Uso de antibióticos; • Cirurgia abdominal. Fatores psicológicos: • Baixa qualidade de vida; • Estresse psicológico aguda; • Eventos estressantes no dia a dia; • História de abuso físico ou sexual; • Ansiedade, depressão, somatização. Principais fatores que iniciam ou exacerbam os sintomas da SII: Nutrição-UFGD • Gastroenterite prévia; • Intolerâncias alimentares; • Estresse crônico; • Doença diverticular; • Cirurgia. Depende da frequência evacuatória do padrão das fezes (Escala de Bristol). • SII com DIARREIA (SII-D); • SII com CONSTIPAÇÃO (SII- C); • SII MISTA (SII-M); • SII INDETERMINADA (SII-I). SII COM DIARREIA (SII-D) Mais de 25% das evacuações nos tipos 6 e 7 da escala de Bristol e menos de 25% das evacuações nos tipos 1 e 2. SII COM CONSTIPAÇÃO (SII-C) Mais de 25% das evacuações nos tipos 1 e 2 da escala de Bristol e menos de 25% das evacuações nos tipos 6 e 7. SII MISTA (SII-M) Mais de 25% das evacuações nos tipos 1 e 2 da escala de Bristol e mais de 25% das evacuações nos tipos 6 e 7. SII INDETERMINADA (SII-I) Aqueles que cumpre os critérios para SII, mas que não se encaixam em nenhuma das classificações anteriores. • Pelos menos 14 dias seguidos devem ser avaliados para classificar a SII. SII Garantir a ingestão adequada de nutrientes. Adequar a dieta ao padrão gastrointestinal específico da síndrome. Nutrir e recuperar o peso. Esclarecer ao paciente o papel dos alimentos no manejo dos sintomas. Dieta normal é recomendada, embora algumas dietas especializadas (de exclusão: glúten, lactose, FODMAPs) podem melhorar os sintomas em alguns pacientes. Ingestão suficiente de líquidos. Evitar excessos de gordura dietética, cafeína, açúcares e álcool. Identificar alergias e intolerâncias alimentares. FIBRAS Alimentos com alto teor de fibras (total: 20 a 30g/dia). Benefício aos pacientes com predominância de constipação. Nutrição-UFGD Constipação: fibras insolúveis aumentadas (≥ 30g/dia). Diarreia: fibras solúveis aumentadas. FODMAPS Oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos fermentáveis e polióis. Pouco absorvidos no intestino delgado, altamente osmóticos e rapidamente fermentáveis por bactérias. Restrição de alimentos que contêm frutose, lactose, oligossacarídeos, polióis (sorbitol, manitol, xilitol e maltitol). Alguns estudos sinalizam que pode ser uma estratégia efetiva no tratamento da síndrome do intestino irritável. Alimentos ricos em FODMAPs: Alimentos pobres em FODMAPs: SII DECHER, N.; KRENISTSKY, J.S. In: Mahan, LK. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 13ª Rio de janeiro: Elsevier, 2012. ENCK, P. et al. Irritable bowel syndrome. Nature Reviews Disease Primers, v. 24, n. 2:16014, 2016. LACY, B. E. et al. Bowel disorders. Gastroenterology, v. 150, n. 6, p. 1393–1407, 2016 LEWIS, S.J.; HEATON, K.W. Stool form scale as a useful guide to intestinal transit time. Scandinavian Journal of Gastroenterology, v. 32, n. 9, p. 920–924, 1997. QUIGLEY, E. M et al. World Gastroenterology Organisation Global Guidelines Irritable Bowel Syndrome: A Global Perspective Update September 2015. Journal of Clinical Gastroenterology, v. 50, n. 9, p. 704-713.
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