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CRISTALIZAÇÃO A cristalização é uma das mais antigas e mais importantes operações unitárias, é largamente utilizada na indústria para uma purificação, separação ou produção, rendendo cristais de boa qualidade. É um método prático para se obter uma substância química concentrada na forma pura, conveniente para manuseio. É um processo de separação sólido-líquido no qual há transferência de massa de um soluto da solução líquida para uma fase cristalina sólida pura. Um exemplo importante é a produção de sacarose a partir do açúcar de beterraba, onde a sacarose é cristalizada a partir de uma solução aquosa. Em alguns casos o produto desejado pode ser uma fase líquida não cristalina. A cristalização é um processo onde partículas sólidas são formadas a partir de uma fase homogênea. Esse processo pode ser: ● o congelamento da água para formar gelo, a formação de partículas de neve a partir de um vapor, ● a formação de partículas sólidas em um material fundido ● a formação de cristais sólidos em uma solução líquida (o mais importante comercialmente) - explicação deste resumo está baseado neste tipo de processo Diagrama de solubilidade e Classificação das soluções quanto à quantidade de soluto Solução insaturada: São aquelas que contêm menos soluto do que o estabelecido pelo coeficiente de solubilidade. Não está em equilíbrio, porque se for adicionado mais soluto, ele se dissolve até atingir a saturação [soluto] < [solvente] Solução saturada: São aquelas que atingiram o coeficiente de solubilidade. Está no limite da saturação, ou seja, contém a máxima quantidade de soluto dissolvido, está em equilíbrio com o soluto não dissolvido em determinada temperatura. [soluto] = [solvente] Solução supersaturada: São aquelas que contêm mais soluto do que o necessário para formar uma solução saturada, em determinada temperatura. Ultrapassa o coeficiente de solubilidade. São instáveis e podem precipitar, formando o chamado precipitado ou corpo de chão. [soluto] > [solvente] Figura 1 - Diagrama de fases esquemático da saturação de soluções em função da temperatura. Na região denominada de solução insaturada, o sistema apresenta uma única fase, a líquida. O máximo que o solvente consegue dissolver é chamado de limite de solubilidade, ao ultrapassar esse limite existe uma zona metaestável, também monofásica, em que a solução se torna supersaturada. Após ultrapassar a curva de nucleação, o sistema se torna bifásico com a presença da fase líquida (solução saturada) e a fase sólida (cristais). O diagrama também mostra que existe uma relação entre a temperatura e a solubilidade de um sal para uma determinada concentração. O equilíbrio na cristalização é alcançado quando a solução está saturada, representado pela curva de solubilidade. Logo a solução saiu da condição de supersaturação PROCESSO DE CRISTALIZAÇÃO De modo geral, a cristalização ou a transformação de fases líquido-sólido pode ser descrita por duas etapas: a de nucleação, cuja característica principal é a do aparecimento de pequenas regiões com arranjo ordenado de átomos (no caso de metais) ou moléculas (para outros materiais); e a de crescimento dos cristais, onde estas regiões, após se estabilizarem como núcleos da nova fase formam uma estrutura cristalina que é continuamente incorporada com solutos da fase líquida, e assim crescem formando cristais. Além disso, a força motriz para a nucleação e o crescimento é a supersaturação assim, esses dois processos ocorrem apenas em soluções supersaturadas. 1. Nucleação Apesar de ser um fator primordial, somente a condição de supersaturação não é suficiente para que um sistema comece a cristalizar. Antes que os cristais se desenvolvam, deve existir na solução vários corpos sólidos, embriões, núcleos ou sementes, que atuam como centros de cristalização. A nucleação pode ocorrer espontaneamente ou pode ser induzida artificialmente. No entanto, nem sempre é possível decidir se os núcleos em um sistema surgiram por conta própria ou se ocorreu sob a influência de algum estímulo externo. A nucleação é a etapa onde as moléculas dispersas (em solução ou no fundido) começam a se agrupar, em uma escala manométrica, definindo a estrutura cristalina. Estes agregados estáveis formam os núcleos. No entanto, estes núcleos devem atingir uma dimensão crítica para tornarem-se estáveis, que é ditada pelas condições de processamento (temperatura, supersaturação, taxa de resfriamento). Os mecanismos da nucleação podem ser classificados como: Nucleação primária: Aplicação maior em: supersaturações elevadas, como na precipitação e em soluções muito puras É quando as partículas ou moléculas do soluto entram em contato e formam aglomerações de forma espontânea; alguns destes adicionam mais moléculas de soluto e começam a crescer, enquanto outros se desfazem e retornam ao seu status de moléculas individuais. O crescimento das aglomerações as transforma em cristais que continuam a absorver moléculas de soluto da solução. É homogênea se a solução é absolutamente pura É heterogênea se houver substâncias estranhas ao meio (pó, colóides e paredes do cristalizador) Nucleação secundária (ou de contato): Aplicação maior em: uma suspensão cristalina, como é usual em equipamentos de cristalização. É o método de nucleação mais eficaz e comum na cristalização de soluções, é apresentada quando os cristais colidem uns com os outros, com as pás do misturador, ou com as paredes do tubo ou vaso de processo. Logo, um fator de influência será a intensidade da agitação, pois ocorre em baixa supersaturação, onde a taxa de crescimento do cristal tem um valor ótimo para um bom tamanho deles. OBS: Alguns mecanismos precisos de nucleação ainda são desconhecidos, como por exemplo, não há teoria disponível para prever as velocidades Preocupação: o efeito do tamanho das partículas é um fator importante na nucleação, pois: Quanto maior o cristal, menor a sua solubilidade. - A solubilidade de pequenos cristais na ordem de micrômetros é maior do que os cristais grandes. Obs: os dados comuns de solubilidade referem-se a cristais grandes. Um cristal grande -> crescerá Um pequeno -> se dissolverá. 2. Crescimentos do cristal Assim que núcleos estáveis são formados em um sistema supersaturado, seu crescimento ocorre para tamanhos visíveis do cristal. Muitos são os mecanismos propostos que discutem o crescimento de cristais. De acordo com as teorias da difusão o processo de crescimento do cristal pode ser dividido em duas etapas: A etapa de difusão: na qual o soluto é transportado do fluido supersaturado através da camada limite da solução adjacente à superfície do cristal A etapa de integração (ou de reação ou deposição): na qual íons ou moléculas de soluto adsorvidos na superfície do cristal são depositados e integrados à estrutura cristalina. Nos dois processos, considerando uma temperatura e pressão constantes, o potencial químico é consumido. Assim, a existência de um gradiente no potencial químico promove o transporte de material. Durante o crescimento em solução, as faces de um cristal crescem a taxas diferentes. Interferência por fatores que influenciam no processo (explicado no próximo tópico) podem acarretar em mudanças de hábito no cristal, que induzem no cristal um desenvolvimento em determinadas direções Nucleação x crescimento Continuam ocorrer enquanto a supersaturação existir Competem entre si pelo soluto São "inversamente proporcionais": quando a nucleação é forte, o crescimento é fraco e o contrário Variáveis do processo: As principais variáveis que podem afetar as taxas de cristalização são o índice de temperatura e a presença de outros materiais (impurezas). Assim as propriedadesdos cristais dependem: 1. Dos fatores que controlam a cinética de cristalização: supersaturação, concentração dos reagentes, temperatura, taxa de agitação, pH, pressões extremas. 2. Dos processos de nucleação e crescimento de cristaris: Natureza e concentração de impurezas, presença de partículas sólidas; Agitação, choque mecânico, fricção 3. Fatores externos (para soluções eletrolíticas): campos eletromagnéticos, descargas elétricas, luz ultravioleta, raios X, raios ϒ, radiação sônica e ultrassônica Supersaturação: é considerada como a força motriz para a nucleação e crescimento dos cristais. Além de influenciar na morfologia dos cristais Impurezas: faz com que ocorram alterações no padrão de crescimento, alterando o hábito do cristal, bem como a quantidade e distribuição de tamanho dos mesmos. Temperatura: a cristalização pode ser desencadeada por uma queda brusca na temperatura, isto é, um resfriamento rápido, ou pela existência de um gradiente térmico que altera as condições de transporte de massa dentro do líquido provocando um gradiente de concentração Campos eletromagnéticos: podem reduzir o tempo de nucleação, controlar o local da nucleação, aumentar o rendimento dos cristais gerados, controlar o tamanho dos cristais, orientação e polimorfismo Tipos de cristais Para descrever um cristal tem-se os seguintes conceitos: Morfologia: é o conjunto das faces Hábito do cristal: desenvolvimento em determinadas direções Sólido cristalino: é aquele em que os átomo e moléculas que o constituem estão organizados em uma estrutura tridimensional regular Rendimentos e balanços de materiais na cristalização. O rendimento de cristais de um processo de cristalização pode ser calculado apenas conhecendo a concentração inicial do soluto, a temperatura final e a solubilidade a essa temperatura MÉTODOS DE CRISTALIZAÇÃO + APLICAÇÃO + EQUIPAMENTO A escolha do tipo de cristalizador para cristalizar um determinado produto, a partir de uma solução, depende fundamentalmente da técnica de cristalização a ser empregada e do modo de operação (batelada ou contínuo). Sendo os métodos de cristalização identificados de acordo o modo pelo qual a supersaturação é alcançada. Cristalização por arrefecimento/ resfriamento: É a mais eficaz para produzir a supersaturação, nos casos em que a solubilidade aumenta muito com a temperatura. O arrefecimento é obtido com as paredes do cristalizador Equipamento: Contínuo - Cristalizadores com permutador externo (Cristalizadores Swenson-Walker) – superfície raspada, agitador helicoidal, a solução retorna ao processo e os cristais úmidos são centrifugados Descontínuo – processamento de pequeno porte, baixo custo de instalação Cristalização por evaporação: Utilizado quando a solubilidade da solução não variar com a temperatura, na qual vai concentrar a solução através da vaporização do solvente por ebulição Equipamentos: Evaporador-Cristalizador de circulação forçada (Cristalizador Oslo): efetua o controle da distribuição granulométrica dos cristais Cristalizador de vácuo: pode ser batelada ou contínua; a evaporação é obtida pelo flash da solução quente num vaso a pressão, resultando na supersaturação Cristalização por semeadura: Aquela em que sementes são introduzidas no sistema para reduzir a supersaturação. Opera com soluções concentradas e materiais de solubilidade normal. Aplicação: produção de açúcar Equipamento: Tanques de cristalização Cristalização por reação química: produto é obtido através de uma reação química como a neutralização de ácido/base a reação química ocorre entre 2 compostos solúveis para formar um composto insolúvel / precipitado Cristalização por Salting - out: A cristalização se dá pela adição de um não-solvente, composto que reduz a solubilidade do soluto, tendo como vantagem a redução de consumo de energia Cristalização Fracionada: Ocorre a evaporação do solvente, separando misturas, onde as substâncias da mistura são sólidas Aplicação: Utilizado nas salinas para obtenção de sais da água do mar Resumão – 6 etapas do processo de cristalização: Etapa 1: Escolha um solvente apropriado Etapa 2: Dissolva o produto no solvente aumentando a temperatura até que todos os sólidos do produto desapareçam Etapa 3: Reduza a solubilidade por meio de métodos de cristalização Etapa 4: Cristalize o produto Etapa 5: Permitir que o sistema atinja equilíbrio para maximizar a produtividade do produto sólido Etapa 6: Filtre e seque o produto purificado Bibliografia: ALMADA, Liliane Ferreira Araújo de et al. 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