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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI LÍNGUA ESPANHOLA I GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 4 2 CULTURA ..................................................................................................................... 5 3 COMUNICAÇÃO EM ESPANHOL .............................................................................. 11 4 LÍNGUA ESPANHOLA NO CENÁRIO MUNDIAL ....................................................... 17 5 IDENTIDADE NACIONAL: UMA QUESTÃO DE LÍNGUA ........................................... 22 6 A CHEGADA DO IMPÉRIO ROMANO À PENÍNSULA IBÉRICA ................................ 23 7 O PROCESSO DE ROMANIZAÇÃO LINGUÍSTICA ................................................... 25 8 A LÍNGUA ROMANCE: LEGADO DA ROMANIZAÇÃO .............................................. 27 9 LÍNGUA ESPANHOLA: A FILHA DO LATIM ............................................................... 30 10 A EVOLUÇÃO GRAMATICAL DA LÍNGUA ESPANHOLA DESDE NEBRIJA ATÉ O SÉCULO XX....................................................................................................................32 10.1 O período medieval ................................................................................................ 34 10.2 O espanhol moderno .............................................................................................. 35 10.3 O espanhol contemporâneo ................................................................................... 36 11 AS DIFERENTES VISÕES GRAMATICAIS NA HISTÓRIA DA LÍNGUA ESPANHOLA...................................................................................................................38 11.1 Diferenciação de metaclasses de palavras invariáveis e indeclináveis .................. 39 11.2 A invariabilidade como característica comum a todas as classes .......................... 41 11.3 A ausência de especificação .................................................................................. 41 12 DIFERENTES ABORDAGENS DE NOMENCLATURA NA HISTÓRIA GRAMATICAL DA LÍNGUA ESPANHOLA ............................................................................................. 42 12.1 Definições................................................................................................................43 13 CONCORDÂNCIA VERBAL: OS CASOS DOS SUJEITOS EXPRESSO E TÁCITO..45 2 14 COMPLEMENTOS: DIRETO, INDIRETO, DE RÉGIMEN VERBAL E CIRCUNSTANCIAL ........................................................................................................ 50 14.1 Complementos direto e indireto .............................................................................. 50 14.2 Complemento de régimen preposicional e circunstancial ...................................... 53 15 ORAÇÕES EM LÍNGUA ESPANHOLA: IMPERATIVAS, INTERROGATIVAS, EXCLAMATIVAS E DE NEGAÇÃO ................................................................................ 55 15.1 Orações declarativas: afirmativas e negativas ....................................................... 56 15.2 Orações interrogativas ........................................................................................... 57 15.3 Orações exclamativas ............................................................................................ 58 15.4 Orações imperativas............................................................................................... 58 16 A ORGANIZAÇÃO DA NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA DA RAE (SÉCULO XXI) ............................................................................................................... 60 17 REAL ACADEMIA ESPAÑOLA: ORIGEM E NOMENCLATURA .............................. 62 18 A NOMENCLATURA DA LÍNGUA ESPANHOLA E A SUA IMPORTÂNCIA PARA O ENSINO...........................................................................................................................66 19 O QUE SIGNIFICA “GRAMÁTICA” E QUAIS SÃO OS SEUS TIPOS? ..................... 68 20 O PERCURSO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA ................................... 72 21 O SÉCULO XXI E A NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA: UMA GRAMÁTICA CONTEMPORÂNEA ................................................................................ 75 21.1 Fonologia/fonética .................................................................................................. 77 21.2 Morfologia................................................................................................................77 21.3 Sintaxe.....................................................................................................................78 22 OBJETO DE ESTUDO DA FONÉTICA ..................................................................... 81 23 IMPORTÂNCIA DA FONÉTICA NO ESTUDO DA LÍNGUA ...................................... 86 24 DIFERENTES PRONÚNCIAS DA LÍNGUA ESPANHOLA A PARTIR DA ANÁLISE FONÉTICA.......................................................................... ............................................88 3 25 ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ................................................................ 91 25.1 Definição..................................................................................................................91 26 DIFERENTES VARIAÇÕES DA LÍNGUA ESPANHOLA ........................................... 95 27 ELEMENTOS HISTÓRICOS, GEOGRÁFICOS E SOCIAIS ASSOCIADOS À VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ............................................................................................. 98 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 CULTURA A língua espanhola surgiu numa região que vivia em guerra e que, por isso, era cheia de fortifi cações e castelos de pedra — motivo pelo qual esse lugar passou a se chamar Castela (em espanhol, Castilla). As pessoas que viviam nessa região falavam o latim de forma diferente: misturavam termos germânicos e romanos (BIZELLO, 2019). No período da reconquista, houve uma desagregação dos povos, que fez com que não houvesse mais comunicação entre eles. Essa não comunicação gerou muitas diferenças e, por isso, surgiram o galego, o catalão, o basco e o castelhano (língua de Castela). Entretanto, devido à força política e literária de Castela, o castelhano passou a ser considerado mais importante. Dessa forma, o latim vulgar falado antes se modificou. Outras línguas se misturaram a ele e, ao contrário do que ocorreu com os seus vizinhos, surgiram mais ditongos, e os falantes diminuíram as vogais postônicas e introduziram sons guturais e velares (BIZELLO, 2019). É importante destacar, porém, que essas mudanças eram predominantemente orais. Naescrita, a chamada língua romance ganhou mais espaço na época dos reis católicos, pois passou a ser tratada como língua oficial da corte e, assim, foi se desprendendo das regras latinas. Dessa forma, o castelhano apareceu na literatura, nas crônicas reais e na legislação. Outra mudança significativa do período do Rei Alfonso X foi a ordem da frase, que passou a se basear em sujeito, verbo e complemento. Além disso, o latim culto passou cada vez mais a se misturar com o latim vulgar. Nessa época, também houve a mistura com o galego, o catalão, o italiano e o francês (BIZELLO, 2019). Durante a conquista da América, embora os espanhóis impusessem a sua língua como oficial, o contato com os povos conquistados levou esse idioma a mais transformações. No período depois da conquista da América, o espanhol se assemelhava mais ao que é hoje. Nessa época, surgiram as regras de bom uso da língua e, para isso, Antonio de Nebrija escreveu a Gramática castellana e Juan Valdés escreveu o Diálogo de la lengua. Na literatura, a obra de Cervantes, além da sua importância literária, surgiu como modelo de perfeição de linguagem: ele mesclou a linguagem culta do personagem Quixote com a língua do povo do personagem Sancho (BIZELLO, 2019). 6 Outro fato que contribuiu para a força da língua espanhola foi a fundação da Real Academia Española (RAE), em 1713, indo ao encontro do momento do espanhol no mundo. Embora a Espanha como país não estivesse em evidência, o espanhol era considerado a língua da ciência e da educação. De acordo com o Portal do Governo da Espanha (2017, documento on-line), o país: […] contaba en 1492 con una potente maquinaria de guerra, una sólida economía, una proyección exterior, una experiencia marinera y exploradora de rutas mercantiles y un notable potencial científico-técnico: matemáticos, geógrafos, astrónomos y constructores navales. A conquista da América gerou uma questão a ser resolvida: como nomear a língua? Castelhano, por ser a língua de Castela, ou espanhol, por ser a língua da Espanha? Ainda que as duas denominações sejam adequadas, os hispanohablantes da América costumam dizer que falam castelhano, e não espanhol — que seria a língua da Espanha. Veja na Figura 1 os países que falam espanhol (SÓ ESPANHOL, 2018). Um aspecto que merece destaque é que, ao longo da história do castelhano, houve uma mistura com outras línguas que se adequaram ao espanhol. Segundo Fuentes (1991, p. 97), “[…] a partir de la revolución industrial del siglo XIX, y con la 7 intensificación del comercio anglosajón, se adoptaron muchos términos del inglés que se adecuaron al español”. Nesse contexto, foi construída a identidade cultural da língua espanhola: com diversidade e mistura de valores. Aliás, a própria história da Espanha se fundamenta na diversidade e na influência de diferentes povos, que deixaram as suas marcas nas tradições, na língua e na arquitetura do país (BIZELLO, 2019). Uma das tradições mais conhecidas da Espanha é a tourada, um evento ocorre em Plazas de Toros espalhadas por todo o país. Entretanto, na atualidade esse aspecto cultural tem sofrido modificações e é inclusive proibido em várias regiões. De acordo com Jokura (2018, documento on-line): É um espetáculo sangrento em que um toureiro enfrenta, quase sempre até a morte, um touro selvagem dentro de uma arena. A fiesta nacional da Espanha tem origem em caçadas a touros que rolavam já no século 3 a.C. No fim do século 18 — quando assumiu seu formato atual —, a distração já havia caído definitivamente no gosto popular. Além disso, a Espanha é conhecida pelas suas festas populares. Las Fallas: ocorre em Valência como uma competição de grandes esculturas, que são conhecidas como fallas. Semana Santa: no sul da Espanha, durante a Páscoa, várias procissões percorrem as cidades, principalmente Sevilha e Granada, as quais são decoradas com flores e símbolos religiosos. Feira de Abril: em Sevilha, ocorre uma festa com comidas e bebidas típicas, apresentações culturais e passeios de carruagem com trajes típicos. Fiestas de San Fermín: ocorrem em Pamplona como uma homenagem ao padroeiro da região. Os participantes se vestem de branco e usam um lenço vermelho no pescoço, antes de saírem correndo diante dos touros que são soltos nas ruas estreitas da cidade. 8 La Tomatina: trata-se de uma batalha de tomates que ocorre em Buñol, a qual começa às 11h e dura o dia todo. Surgiu em 1945, quando um grupo de amigos fez uma guerra de tomates. A Argentina, na época das imigrações europeias, recebeu muitos estrangeiros, e a sua cultura é resultado dessa mistura. O tango, uma das suas maiores marcas, era considerado no início impróprio a ambientes familiares, pois surgiu nos subúrbios e bordéis. Quando passou a ser admitido nos salões, abdicou das coreografias mais extravagantes e sensuais. Outras marcas desse país são o futebol, o churrasco e o vinho. A Bolívia é um dos países colonizados pela Espanha que mais apresenta uma cultura autóctone. A tradição artística indígena aparece no exterior dos edifícios, geralmente revelando a flora e a fauna locais (BIZELLO, 2019). O Chile é um país que apresenta uma mistura cultural: há uma forte presença indígena (especialmente os mapuches) junto aos costumes católicos herdados dos espanhóis. Uma curiosidade a respeito desse país é que ele foi conquistado pela Espanha apenas no século XVII. A partir disso, teve uma grande exploração dos recursos naturais, que o levou a um auge econômico. A literatura chilena conta com prêmios Nobel (Pablo Neruda e Gabriela Mistral) e com muitas vendas internacionais, principalmente com as obras de Isabel Allende (BIZELLO, 2019). A Colômbia é um país marcado pelas festas culturais. O carnaval de negros e brancos ocorre em Pasto, a partir da primeira semana de janeiro, desde 1546, reunindo tradições étnicas andinas e do pacífico. Em 2009, foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. O carnaval de Barranquilla é o principal festival colombiano, sendo reconhecido internacionalmente, e se destaca entre outros importantes festivais da América Latina. As Festas de Padroeiro (em San Andrés) envolvem todo o complexo de ilhas, com muita música caribenha e pratos típicos dessa região insular. Vale ressaltar também que, na Colômbia, há touradas em muitas festas (BIZELLO, 2019). A Costa Rica é um grande mosaico cultural. Há uma mistura da cultura africana, trazida pelos escravos, da caribenha, da espanhola e da jamaicana, resultado da imigração de trabalhadores (BIZELLO, 2019). 9 Cuba é um país conhecido pela implementação e manutenção do regime socialista, e pouco se fala nas mídias sobre a sua cultura. Ela é fruto da mistura dos aspectos espanhóis com costumes africanos, e a música é a expressão mais destacada nessa cultura: a rumba e a salsa são dançadas em todos os espaços (BIZELLO, 2019). O Equador tem na sua cultura a expressão da mistura de povos indígenas. As culturas pré-colombianas se destacam em cerâmica, confecção, escultura, pintura e trabalhos com ouro e prata. Na arte religiosa, presente em museus e igrejas, destacam- se as obras coloniais religiosas realizadas pelos indígenas (BIZELLO, 2019). Em El Salvador, há uma mistura da cultura indígena (representada pelo legado do mundo maia) com a cultura espanhola (representada pelas construções arquitetônicas religiosas) (BIZELLO, 2019). Na Guatemala, a cultura maia está na religião, na arquitetura, nos costumes e nas vestimentas. Entretanto, a presença espanhola na época da colonização fez com que aspectos europeus se misturassem a essa cultura e formasse o que hoje é a cultura guatemalteca (BIZELLO, 2019). A Guiné Equatorial está localizada na África Ocidental. Como foi inicialmente colonizada por portugueses, tem raízes portuguesas na sua cultura — algunshabitantes da região falam português, mas cerca de 90% da população fala espanhol. Essa mistura de colonizadores deixou marcas, como o legado ibérico na gastronomia: a preferência por frutos do mar e o uso de azeite estão muito presentes. O cristianismo é a religião com mais praticantes, mas também há influências africanas (BIZELLO, 2019). Em Honduras, o espanhol é a língua predominante, embora alguns habitantes usem o inglês, e há misturas com dialetos indígenas e com o dialeto garifuna. Mistura é a palavra-chave para definir a cultura hondurenha: as ilhas da Baía têm população composta quase que totalmente por ingleses, contrastando com as ilhas de Bata, cuja população é em sua maioria negra (BIZELLO, 2019). O México foi território de muitas civilizações, das quais se destacam os maias e os astecas; logo, a sua cultura é marcada pelo legado desses povos e pela colonização espanhola. Uma evidência da pluralidade mexicana é a gastronomia, que foi reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2010. De acordo com o Portal Universia ([201-?], documento on-line), 10 [...] a cozinha mexicana mistura ingredientes típicos da época pré-hispânica, como o milho, o chile, o cacau, o abacate e o nopal, com outros que foram introduzidos durante a época colonial, como as carnes, o arroz e o trigo. O pulque, a tequila e o mescal são as bebidas mais características. Uma festa popular no México é a que celebra o dia dos mortos: nos cemitérios, as pessoas comem, bebem, tocam músicas e realizam oferendas. Na Nicarágua, não há religião oficial, mas a maioria da população é católica. A literatura nicaraguense projetou-se no mundo com o modernista Rubén Darío, considerado um dos maiores poetas hispano-americanos (BIZELLO, 2019). O Panamá apresenta uma cultura em que há uma mistura das tradições espanholas, africanas, ameríndias e norte-americanas. De acordo com Nadale (2018, documento on-line), “No Corpus Christi, uma das tradições são os ‘diabinhos sujos’: figuras com máscara de papel machê, mortalha (geralmente preta e vermelha), castanholas e um sininho. Eles dançam pelas ruas, jogam água nas pessoas e fazem bagunça com as crianças”. A principal língua falada no Peru é o espanhol, a segunda mais falada é o quéchua — a língua antiga dos incas. Essa coexistência de culturas se manifesta em todos os aspectos da sociedade peruana, como a religião: a maioria da população peruana é católica, mas muitas crenças e costumes tradicionais permanecem. Há vários festivais tradicionais que mostram isso; o exemplo mais famoso é o festival Inti Raymi, quando Inti, o deus do Sol da cultura inca, é honrado em uma procissão (BIZELLO, 2019). Porto Rico tem uma cultura marcada pela colonização espanhola e pela condição contraditória de, mesmo após a independência, sofrer intervenções dos Estados Unidos. Essa peculiaridade surge também na língua. De acordo com as informações do Portal São Francisco ([201-?]), a “guerra da língua” demonstra que a população quer defender a sua identidade todas as vezes em que algum dos governadores tenta mudar a Lei da língua oficial única (1949), a qual determina que o ensino na escola pública seja feito somente em espanhol. “Porto Rico não é uma ilha bilíngue, mas um centro significativo, criador de cultura hispânica, onde é utilizado também o inglês como instrumento de comunicação”, frisa Ramón-Darío Molinary (apud PORTAL SÃO FRANCISCO ([201-?], documento on-line). 11 A República Dominicana tem como principal aspecto da sua identidade o merengue. Esse ritmo musical, que tem origem na fusão das músicas africanas com o pasodoble espanhol, era considerado vulgar, mas atualmente é a principal manifestação cultural da ilha (BIZELLO, 2019). O Uruguai tem forte tradição na figura do gaúcho, de onde surgem algumas danças e músicas folclóricas, como a milonga. Contudo, as danças e os rituais de origem africana revelam um rico folclore afro-uruguaio. O candomblé é uma dança que surgiu dessa tradição (BIZELLO, 2019). Na Venezuela, a música é uma forte expressão da sua cultura. Trata-se de uma mistura de espanhol com ritmos africanos e indígenas. Em resumo, a língua espanhola é um elemento cultural de vários países de diferentes continentes. Essa diversidade e mistura caracterizam as manifestações culturais de todas as regiões e contribuem com as variações linguísticas (BIZELLO, 2019). 3 COMUNICAÇÃO EM ESPANHOL Como em qualquer língua, há diferentes maneiras de expressar a mesma ideia em espanhol. Contudo, há as mais usuais e mais adequadas, de acordo com o contexto. Segundo Raúl Prada (2018, documento on-line): […] se puede definir la comunicación como el encuentro de un organismo viviente con su medio ambiente o entorno, cuando se entiende por dicho encuentro la recepción de informaciones sobre el mundo circundante y una reacción ante la información recibida. Esta fórmula abarca todas las posibilidades de "encuentro" del hombre con su medio ambiente físico, social y cultural; las relaciones humanas en sus diversas manifestaciones: económicas, políticas, deportivas, etc.; donde caben también niveles de relación con los productos de la tecnología: comunicación hombre máquina en la industria, en los procesos de aprendizaje y en los del entretenimiento. Incluye, asimismo, la relación del hombre con los medios masivos. Cubre el entorno variado y complejo que rodea al ser humano, esfera dentro de la cual actúa reaccionando objetos, hechos, funciones y relaciones son agentes emisores de mensajes para el receptor. Del entorno parten señales de variada índole que el hombre acomoda a sus necesidades. 12 Nesse sentido, quem deseja se comunicar em outra língua — nesse caso, em espanhol — precisa conhecer e praticar formas simples de comunicação. Por exemplo, para perguntar um nome, podem-se usar as seguintes interrogações: ¿Cómo te llamas? ¿Cuál es tu/su nombre? ¿Cómo se llama usted? Observe que as duas primeiras formas, com o uso de se, são utilizadas em contextos formais. Para dizer o seu nome, uma pessoa pode dizer: ¡Hola! Me llamo... Mi nombre es... Soy... Contudo, a segunda forma indicada é pouco aplicada no dia a dia, surgindo mais em contextos formais. Para saudar alguém, usa-se: ¡Buenos días! ¡Buenas tardes! ¡Buenas noches! ¿Cómo está usted? ¿Cómo tú estás? ¿Como está vos? Hola, ¿qué tal? Note que, ao contrário do que ocorre na língua portuguesa, as saudações de acordo com o turno do dia (primeiro exemplo), em espanhol, são feitas no plural. As indicações que constituem o segundo exemplo são utilizadas tanto na finalidade social (isto é, apenas para saudar) como para realmente obter a resposta de como a pessoa está. Usted é usado em situações formais e pode ser substituído, por exemplo, por ¿Cómo la señora está?. Tú indica um tratamento mais informal e íntimo, enquanto vos ocorre em localidades em que se usa o voseo (BIZELLO, 2019). 13 Verifique no Quadro 1 as maneiras formais e informais de perguntar e de responder como uma pessoa está (BIZELLO, 2019). Observe que os formais se relacionam com os pronomes de tratamento, que são flexionados na terceira pessoa. Já os informais são flexionados na segunda pessoa. Os verbos são conjugados de acordo com o pronome utilizado (BIZELLO, 2019). Há também diferentes formas de perguntar sobre o estado civil de alguém. Veja os exemplos a seguir. ¿Cuál es el estado civil de tu hermana? ¿Tu abuela está casada? ¿Tu primo está soltero? ¿Estás soltera o casada? Observe que uma pessoa pode estar soltera ou casada e ser viúda ou divorciada. Para conversar sobre a profissão das pessoas, pode-se recorrer a diferentes perguntas: 14 ¿A qué te dedicas? ¿En qué trabajas? ¿Qué haces? Para responder a essas perguntas, o interlocutor pode dizer: Soy... Trabajo en...A comunicação pode ter como tema as datas. Nesse caso, podem surgir questões como: ¿Qué día es hoy? ¿Qué día de la semana...? ¿Cuándo es...? Num diálogo, os interlocutores podem fazer perguntas referentes a descrições, como: ¿Cómo es? ¿De qué número/talla? ¿De qué color? ¿Con qué estampa? ¿De qué está hecho? ¿Cómo está? Veja no Quadro 2 como seria uma conversa sobre pedidos de comida (BIZELLO, 2019). 15 Há diferentes formas de pedir informações sobre uma localização. Veja: ¿Cómo se llega a ...? ¿Hay una... cerca de aquí? Você notou que há situações em que se usa o verbo tener e, em outras, o verbo haber? Geralmente, o verbo tener é utilizado para indicar posse, já haber é aplicado para mostrar a existência. Além disso, haber nunca vai para o plural, enquanto tener nunca aparece com preposição (BIZELLO, 2019). Assim, observe os exemplos a seguir: Mi barrio no tiene árboles. En la sala, hay dos alumnos. Las salas tienen aire condicionado. En este barrio hay muchas flores. Ao contrário do que ocorre na língua portuguesa, o verbo tener é utilizado diante de hambre, sed, sueño e ganas. Veja: Tengo hambre. Todos tienen sed aqui. Ella tiene sueño. Tengo ganas de pasear. 16 Há situações em que a comunicação se relaciona com convites. Veja a seguir como fazer para convidar alguém: ¿Quieres ir? ¿Te gustaría ir conmigo? ¿Te apuntas? Observe que a segunda pessoa é sempre a forma escolhida. Para aceitar, o interlocutor pode dizer: ¡Claro! ¡Por supuesto! ¡Sí! ¡Cuenta conmigo! Para recusar, o interlocutor pode dizer: No va a ser posible. No, perdona, tengo otro compromiso. Lo siento, no puedo. Em situações de comunicações comerciais, costuma-se perguntar: ¿Cuánto vale? ¿Cuánto cuesta? ¿A cuánto está? De forma geral, essas diferenças referem-se ao estilo do falante e à situação de comunicação. Todavia, os diferentes modos de comunicação podem ser oriundos das variações linguísticas. Nesse sentido, encontram-se, na língua espanhola, diferenças de léxico (na Espanha, abacaxi é designado como piña; na América, como ananá) e de 17 pronúncia (a letra y pode ser pronunciada como fonema vocálico ou como fonema consonantal palatal) (BIZELLO, 2019). Em resumo, a observação e a aplicação dessas estruturas são fundamentais para o desenvolvimento da aprendizagem de uma língua estrangeira. Segundo Rosales Bremont, Zarate Ortiz e Lozano Rodríguez (2018, documento on-line): En el aprendizaje de una segunda lengua son importantes dos términos: uno de ellos es el aprendizaje de una lengua en sí, entendido éste como el desarrollo de conocimiento consciente de la segunda lengua; es decir, el dominio de sus reglas y fórmulas por medio de un estudio formal. Portanto, para que haja uma comunicação eficiente em língua espanhola, é necessário conhecer a cultura, os costumes e as variedades desse idioma (BIZELLO, 2019). 4 LÍNGUA ESPANHOLA NO CENÁRIO MUNDIAL Quando se fala em comunicação, é inegável o papel da linguagem na compreensão e na possibilidade de relações políticas, financeiras, comerciais e profissionais. Em um mundo globalizado, a comunicação eficiente é uma exigência. Para isso, utilizar ou conhecer os mesmos sinais e símbolos que o interlocutor é fundamental para emissores e receptores de mensagens. Assim, num mundo composto por tantas línguas diferentes e culturas diversificadas, é importante conhecer idiomas e culturas que podem facilitar ou engrandecer as relações (BIZELLO, 2019). Fonte: todamateria.com.br 18 Apontar uma língua predominante ou mais importante é uma atitude complexa, visto que há vários aspectos envolvidos, tanto nos critérios de escolha quanto nos elementos que promovem um idioma. De acordo com Xoán Lagares (2018, documento on-line): [...] ao pensarmos as relações entre línguas no espaço mundial, devemos prestar atenção nas relações entre os falantes, no modo como eles interagem entre si, com falantes da sua mesma língua e de outros idiomas. Essas relações são mediadas, por sua vez, por todo tipo de representações em torno de ideias de beleza, utilidade, identidade, representatividade etc., e mesmo por interdições sociais que têm a ver com os âmbitos de uso, as funções comunicativas ou os gêneros discursivos implicados na utilização de uma ou de outra língua. Assim, por exemplo, as "escolhas" de uso de falantes bilíngues, em situações de línguas em contato, estão condicionadas por toda uma história de coerções sociais construídas na relação entre grupos humanos e pelas relações de poder existentes. O espanhol soma um total de 480 milhões de falantes no mundo, segundo o relatório do Instituto Cervantes de Madri (2018). Dessa forma, revela-se como o segundo idioma mundial em termos de nativos — perde apenas para o chinês. Se considerarmos ainda os aprendizes distribuídos em todos os continentes, esse número supera os 577 milhões. Isso significa que “[...] el español es la segunda lengua materna del mundo por número de hablantes, tras el chino mandarín, y también la segunda lengua en un cómputo global de hablantes (dominio nativo + competencia limitada + estudiantes de español)” (INSTITUTO CERVANTES, 2018, p. 5). Veja outros dados indicados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 14): En 2018, el 7,6% de la población mundial es hispanohablante (esos 577 millones de usuarios potenciales de español mencionados en la primera línea). Las previsiones estiman que el peso de la comunidad hispanohablante en 2050 será ligeramente superior al actual (concretamente el 7,7% de la población mundial). Sin embargo, dichas previsiones también pronostican que, en 2100, este porcentaje se situará en el 6,6%, debido fundamentalmente al descenso de la población de los países hispanohablantes. Más de 21 millones de alumnos estudian español como lengua extranjera em 2018. En concreto 21.815.280. Além desses números, que mostram a relevância do idioma, o espanhol é o segundo idioma mais utilizado na comunicação internacional e o terceiro oficial no campo da política, da economia e da cultura internacional. Veja a seguir os números indicados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 25). 19 La contribución del conjunto de los países hispanohablantes al PIB mundiales del 6,9%. El PIB generado por el conjunto de los países hispanohablantes es superior al generado por el conjunto de los países donde el francés tiene estatus de lengua oficial. Norteamérica (México, Estados Unidos y Canadá) y España suman el 78% del poder de compra de los hispanohablantes. En 2016, el poder de compra de la población hispana de Estados Unidos era de 1,4 billones de dólares y se espera que en 2021 este alcance los 1,66 billones. En el caso del español, la lengua común multiplica por cuatro las exportaciones bilaterales entre los países hispanohablantes. El 79% de las empresas exportadoras españolas cree que el hecho de que en el mercado de destino se hable en español puede facilitar su actividad internacional. Parte desses números se deve à influência dos latinos na sociedade: dos 21 países nos quais o espanhol é a língua oficial, 19 são da América Latina. Estes mostram um grande crescimento econômico, e isso gera a necessidade de parcerias para negócios e o desenvolvimento de negociações. Nesse sentido, amplia-se a importância da língua espanhola no cenário mundial. Para quem negocia com esses países, é fundamental conhecer as suas particularidades, isto é, a sua cultura. Esse conhecimento torna-se uma importante ferramenta, já que quem desconhece a cultura de um povo pode cometer erros e gafes nas relações cotidianas de trabalho, numa imigração a um país de fala hispânica ou até mesmo num simples turismo no exterior. Conhecer a cultura de um povo garante o respeito à identidade da população e uma adaptação menos traumáticapara quem chega com outros costumes e vivências (BIZELLO, 2019). Vale ressaltar que algumas empresas têm exigido o diploma de espanhol como língua estrangeira (DELE) para que possam se certificar do nível de conhecimento que os seus colaboradores têm do espanhol. Para os brasileiros, a importância desse conhecimento é ainda maior, porque, com os acordos firmados com o Mercosul, ampliou- se o número de negócios entre empresas brasileiras e estrangeiras que têm o espanhol como principal idioma. Essa necessidade de desenvolver a língua dos hermanos é ratificada pelas exigências de um mundo globalizado. Afinal, a comunicação com pessoas de diferentes lugares do mundo é não só uma realidade, mas também uma exigência. Conhecer outras línguas é, portanto, indispensável, seja no trabalho, seja nos estudos, seja para o lazer, seja para o simples contato com pessoas de outros países. Nesse sentido, vale ressaltar que o espanhol é a terceira língua mais utilizada nas redes sociais. Veja os resultados de pesquisas do Instituto Cervantes (2018, p. 40). 20 El español es la tercera lengua más utilizada en la Red. El 8,1% de los usuarios de Internet se comunica en español. El uso del español en la Red ha experimentado un crecimiento del 1.696% entre los años 2000 y 2017. Solo un país de habla hispana, México, se encuentra entre los diez con el mayor número de usuarios en Internet. El español es la segunda lengua más utilizada en Wikipedia, en Facebook y em Twitter. El número de usuarios de Facebook en español coloca a este idioma a gran distancia del portugués y del francés. El español es la segunda lengua más utilizada en Twitter en ciudades mayoritariamente anglófonas como Londres o Nueva York. O Brasil está muito próximo de países que têm o espanhol como o idioma oficial. Além disso, em algumas regiões dos Estados Unidos, essa também é uma língua importantíssima nas relações comerciais — 15% da população do país têm o espanhol como a sua primeira língua. Portanto, conhecê-la facilita também os negócios financeiros e profissionais com a maior potência do mundo. Há ainda muitos estudantes de espanhol nos Estados Unidos: “[…] el número de alumnos matriculados en cursos de español en las universidades estadounidenses supera al número total de alumnos matriculados en cursos de otras lenguas” (INSTITUTO CERVANTES, 2018, p. 15). Na África, desde 2001 o espanhol é considerado uma das línguas oficiais da Organização da Unidade Africana (OUA), juntamente com o árabe, o francês, o inglês e o português. Isso significa que, nesse contexto, a língua espanhola se revela como uma das escolhas mais vantajosas para as questões profissionais, acadêmicas e culturais. No mundo acadêmico, principalmente no âmbito dos cursos de pós-graduação, há muita bibliografia escrita em espanhol e que não tem tradução para o português. Vale ressaltar a forte presença do espanhol na ciência e na cultura. Veja a seguir os dados apresentados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 49). El porcentaje de participación del conjunto de los países hispanohablantes en la producción científica mundial ha experimentado un crecimiento constante desde 1996. El principal actor en la difusión científica en español sigue siendo España, seguido a gran distancia de México. Casi el 75% de la producción científica en español se reparte entre tres áreas temáticas principales: ciencias sociales, ciencias médicas y artes y humanidades. Tres países hispanohablantes (España, Argentina y México) se encuentran entre los quince principales países productores de películas del mundo. España es el tercer país exportador de libros del mundo. Dos países hispanohablantes (España y Argentina) se encuentran entre los 15 principales productores de libros del mundo. 21 El español científico y técnico se encuentra relegado a un plano secundario en el ámbito internacional. Quando se analisa o âmbito acadêmico, nota-se também a gama de oportunidades de estudos no exterior. Para os brasileiros, é mais próximo e mais barato estudar nos países vizinhos do que, por exemplo, ir aos Estados Unidos ou à Europa. Porém, como no Brasil há o costume de valorizar e seguir a cultura norte-americana, pouco se aproveita para imergir na cultura dos países hispanohablantes. Quando brasileiros se permitem conhecer esse universo, notam não só uma variedade de folclores, tradições, festividades, valores, mas também a similaridade com a diversidade cultural brasileira. Somos latino-americanos, colonizados por europeus, oriundos da mistura com povos pré-colombianos, marcados pela escravidão. Essa percepção é construída também pelos turistas: cresce cada vez mais o número de turistas no mundo hispânico (BIZELLO, 2019). No entanto, o espaço político do espanhol no mundo está relacionado também à valorização dada a esse idioma em cada país no qual ele é língua oficial. Segundo Xoán Lagares (2018), esse espaço está em permanente mutação, num jogo dinâmico de confrontos e de solidariedades. A crise econômica na Espanha e os sucessivos recortes orçamentários em políticas públicas provocaram nos últimos anos uma evidente desaceleração das ações de expansão ideadas pelos agentes da política linguística do espanhol. Por outro lado, novas iniciativas — muitas delas calcadas no modelo de ação inaugurado pela própria Espanha — surgem em diversos pontos do mundo hispânico. A Colômbia e a Argentina, por exemplo, têm investido no turismo idiomático, promovendo cursos para estrangeiros e buscando destacar a importância do espanhol no cenário mundial. Em síntese, a língua espanhola está crescendo e ocupando um lugar de destaque no cenário mundial. Assim, os aprendizes desse idioma têm maiores chances de se inserir na comunicação em âmbito global (BIZELLO, 2019). 22 5 IDENTIDADE NACIONAL: UMA QUESTÃO DE LÍNGUA Saussure (1969, p. 18) nos levanta a questão de que língua, além de ser “um sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas”, também é “um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (SAUSSURE, 1969, p. 17). Em outras palavras, além de ser um instrumento de fala e de comunicação, é ainda um fator constituinte da identidade pessoal e social. Segundo Saussure (1969, p. 86), “nenhuma sociedade conhece nem conheceu jamais a língua de outro modo que não fosse como um produto herdado de gerações anteriores”. A língua como produto social da faculdade da linguagem é produzida a partir do indivíduo e/ou de um coletivo, pois “a língua não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade” (SAUSSURE, 1969, p. 22). O processo de criação, negociação e adoção de sentido de uma palavra se dá mediante uma aceitação do seu significado na coletividade. É nessa coletividade que o significado se elabora, pois, com o passar do tempo, vai sendo utilizado, desenvolvendo- se, ganhando força, ressignificando-se e se modificando, ou seja, trata-se de um ciclo (fator diacrônico). Assim, a língua é um sistema de signos cuja principal função é justamente significar, ao mesmo tempo em que é um forte fator de identidade individual e coletiva, porque confere coesão social (ALVES, 2018). A língua é um dos elementos de identidade — embora não seja o único — e tem relação direta com o território que ocupa, dando sustentabilidade àquela sociedade que ali habita. Com esse pensamento, entende-se a importância de Roma para a civilização ocidental. A expansão militar do Império Romano envolveu não somente território, mudando as fronteiras, mas também mudou o mundo, influenciando-o com sua política, suas ideias, sua cultura e religião. Esta foi um veículo importante de difusão e oficialização do latim como a língua de todos os povos conquistados (ALVES, 2018).Ao aprender latim, o indivíduo se tornava parte daquela cultura e civilização, passando a fazer parte de um legado extraordinário, que perdurou grandiosamente durante muitos séculos, tornando-se influência não só em sua época, mas para além 23 daquele tempo. Até hoje esse povo e essa língua permanecem, seja como herança das novas línguas ou mesmo em palavras e expressões que se conservaram intactas, e são usadas no discurso jurídico e em textos religiosos, acadêmicos e científicos (ALVES, 2018). 6 A CHEGADA DO IMPÉRIO ROMANO À PENÍNSULA IBÉRICA No mundo ocidental atual, não há língua que não tenha a presença do latim em sua formação, e isso se deve ao prestígio de Roma. A cidade foi a capital de um dos maiores impérios do mundo antigo, deixando a sua marca na história com a cultura, política, religião e ciência. Essa grandiosidade foi alcançada graças ao processo de romanização (ALVES, 2018). No Mediterrâneo Ocidental, durante a Segunda Guerra Púnica (218 a.C.), as legiões romanas se moviam em direção à Hispânia, a fim de conquistar o território da Península Ibérica e libertá-la do domínio dos cartagineses — outro grande império que disputava o poder com Roma. No entanto, a chegada dos romanos na região ibérica não significou vitória certa. A pax romana, expressão latina que significa “a paz romana” e que representava uma relativa paz gerada pelo autoritarismo romano imposto por meio de armas e forças militares romanas, custou a chegar à Península Ibérica. Foi somente o fim das Guerras Cantábricas, com o processo de romanização, que assegurou a Roma as fronteiras conquistadas desse novo território. Esse capítulo da história tem uma enorme importância para a formação da língua espanhola (ALVES, 2018). Durante todo o século III a.C., ocorreu a romanização do território da Península Ibérica, mas o que nos interessa aqui é o território da Hispânia. Esse processo se prolongou até o século I a.C. e modificou muitos aspectos, inclusive a língua. A Figura 1 mostra um exemplo da arquitetura romana, ainda presente no território onde hoje fica a Espanha (ALVES, 2018). 24 Ao longo de quase três séculos, nos principais centros conquistados, os povos que ali conviviam se estabeleceram por meio de uma negociação comunicativa bilíngue: a língua original do povo submetido ao poder de Roma e a língua oficial de Roma — o latim. Assim, essa romanização linguística se deu por um processo de socialização cultural, no qual a língua latina era imposta pelos conquistadores romanos. Esse processo não foi uniforme: os povos do norte foram os mais resistentes (ALVES, 2018). A romanização gradual fez com que o latim se transformasse em nossa base linguística. Essa língua passou a ser, então, usada na parte administrativa, legislativa, jurídica e nas ministrações religiosas, principalmente em sua variedade culta, na forma escrita. Enquanto isso, nos espaços públicos, a língua oral usada era a variedade vulgar, trazida pelos soldados e outros servidores do Império Romano, como os colonos e comerciantes. Essa variedade oral acabaria se transformando na base para o surgimento do castelhano. Porém, havia muitas outras línguas nesse território (ALVES, 2018). Antes do processo de romanização na Hispânia, já existiam outras línguas pertencente aos povos que habitavam naquele espaço conquistado, como os celtas, iberos e bascos. As línguas desses e de outros povos pertencem ao período chamado prerromano (em espanhol). Todas as línguas desse período desapareceram, exceto a 25 eusquera (língua basca), mas deixaram algumas palavras, como perro, peñasco, cacharro e outras terminadas em -arro, -orro, -asco (ALVES, 2018). 7 O PROCESSO DE ROMANIZAÇÃO LINGUÍSTICA Romanização é, em outras palavras, tornar-se romano. Todo o território conquistado pelo Império Romano passou por esse processo; porém, para nós, o que interessa é como esse processo influenciou as mudanças linguísticas dos territórios ocupados pelos romanos, originando novas línguas (ALVES, 2018). Sabemos que a língua é um sistema de signos que serve de instrumento para a comunicação e, por ser um organismo vivo, vive em constante mudança. Esse estado natural da língua permitiu — e permite — atualizações e formação de novas palavras, novas estruturas e novos fonemas (ALVES, 2018). O período de romanização contribuiu de maneira expressiva para a evolução das línguas que passaram a estar em contato. Sistemas linguísticos diferentes, falados por povos diferentes, com culturas diferentes passaram a interagir no cotidiano e, por questão de sobrevivência, influenciaram-se mutuamente (ALVES, 2018). Os romanos, aos se estabelecerem no território da Hispânia, impuseram sua a cultura, o seu sistema político, administrativo e judiciário, e a sua língua, cabendo aos povos dominados adaptar-se a esse novo sistema — principalmente o linguístico. Essa imposição linguística fez com que, ao passar dos anos, os sistemas linguísticos que coexistiam fossem reduzidos, adaptados, modificados, para que as pessoas pudessem negociar, trabalhar, reclamar — enfim, para que houvesse comunicação (ALVES, 2018). Em um primeiro momento, conviviam o latim vulgar, o latim clássico e as línguas pertencentes aos outros povos. O latim vulgar era falado por todo tipo de romano em diversos lugares, como no comércio e em ambientes mais familiares. Já o latim clássico era usado em cerimônias, documentos jurídicos, legislativos, etc. Essa era a variedade usada principalmente para escrever, mas era lido e falado em eventos oficiais, em saraus e momentos religiosos, ou seja, em ambientes mais formais (ALVES, 2018). O resultado do contato linguístico, a imposição de uma língua de prestígio e a necessidade de sobreviver nesse ambiente multilíngue propiciaram mudanças dialetais 26 que foram surgindo de forma espontânea. Cada língua foi deixando de herança palavras, mudanças de articulação fonética, sistemas e estruturas, nutrindo assim a nova língua que começava a surgir: o romance (ALVES, 2018). A língua romance surgiu, então, de uma evolução do latim vulgar. Ela se originou a partir dessa tentativa de comunicação em um ambiente multilíngue que misturou, sobretudo, o latim vulgar às línguas dos povos dominados. Houve também alguma influência do latim clássico, com contribuições oriundas das literaturas e de documentos oficiais e religiosos, como ley (lex), orden (ordo, -inis), ciudad (civitas), fe (fides), diablo (diabolus – lat. tardio), virgen (virgo, -inis), ángel (angelus – lat. tardio), templo (templum) (ALVES, 2018). O romance foi, antes de tudo, uma língua para uso oral, sendo oriundo de outra língua oral (o latim vulgar), que contribuiu na organização fonética e lexical. Entretanto, cabia ao latim clássico a modalidade escrita e a influência na constituição da estrutura gramatical conhecida como SVO (sujeito–verbo– objeto). Não podemos nos esquecer também de que grandes celebridades, já nascidas nesses novos territórios, ajudaram no estabelecimento do latim na Hispânia, como é o caso de Lucius Annaeus Sêneca, que foi um advogado, intelectual e escritor do Império Romano, nascido na Hispânia (na região de Córdoba), que deixou obras como Medeia e Édipo. A Figura 2 apresenta uma estátua de Sêneca, que foi erguida em sua cidade natal (ALVES, 2018). 27 8 A LÍNGUA ROMANCE: LEGADO DA ROMANIZAÇÃO O uso do latim na Hispânia foi um processo que garantiu a coesão do povo com o passar do tempo. É importante perceber que esse processo foi longo — durou séculos — e não foi um processo forçado. O peso das circunstâncias e das vantagens econômicas é que levou os povos conquistados a aceitarem as novas leis e estruturas impostas e, consequentemente, a usar a nova língua, mesmo que com dificuldades (ALVES, 2018). Essas dificuldades geraram adaptações e, com isso, novas línguas foramsurgindo: as consideradas neolatinas ou românicas. São línguas decorrentes do 28 processo de romanização dos territórios dominados pelo Império Romano. Estas passaram a ser percebidas e aceitas como unidades de identificação a partir do século V d.C., quando o Império Romano perdeu força política e governamental nas áreas antes ocupadas (ALVES, 2018). Quando o Império Romano começou o seu declínio, os visigodos passaram a ocupar a România. Sua maior influência linguística foi ao norte do território onde hoje é a Europa, dando origem ao alemão e ao inglês, por exemplo. Sobretudo no sul da Europa, por não serem muito influentes, os povos adotaram a língua dos vencidos (o latim), mas deixaram sua contribuição linguística nesse território, principalmente em vocábulos bélicos, como guerra, yelmo, guardián, espía, e também em nomes próprios, como Alfonso, Álvaro, Fernando (ALVES, 2018). O processo linguístico de latinização ou romanização linguística gerou transformações fonológicas e gramaticais distintas em diversas regiões, dificultando a compreensão e criando barreiras linguísticas. É nesse momento que surgem as línguas chamadas de romance. Não é uma fase muito diferenciada do latim, mas já começava a gerar uma nova identidade para as línguas que surgiriam posteriormente: as neolatinas (ALVES, 2018). Toda essa história influenciou o processo que originou a língua castelhana. Foram séculos de transformações e mudanças: novos territórios passaram a novos governos, novas limitações geográficas, novas conquistas e reconstrução da identidade local. Consequentemente, a língua é motriz para a criação da personalidade dos novos povos. Segundo Saussure (1969), a separação geográfica contribui, de maneira geral, para a diversidade linguística. Todavia, todo esse processo só iria se institucionalizar depois dos primeiros escritos, pois, conforme Saussure (1969), a língua literária tem poder de destruir uma língua natural, pois é ela que normalmente contém as regras e na qual é pautada a organização linguística de uma comunidade. Uma vez decidido qual é a língua oficial, ela se impõe sobre as outras que com ela coexistem, até o desaparecimento da menos importante socialmente, da menos estruturada ou da menos usada. Os primeiros escritos em romance foram encontrados nas Glosas Emilianenses e Silenses, ao final do século X e princípio do XI. Alguns monges, ao ler um códice em 29 latim, fizeram anotações ao lado dos escritos, a fim de aclarar as suas dúvidas com relação ao que liam. Essas anotações foram feitas na língua popularmente falada: o romance. Na Figura 3, você pode ver exemplos das anotações feitas nas Glosas (ALVES, 2018). A literatura foi outro fator essencial para a formação da língua castelhana. Um momento muito importante para a constituição dessa nova língua foram as poesias de Gonzalo de Berceo, no século XIII — poesias cultas, conhecidas como Mester de Clerencía. Além disso, há também o legado cultural deixado pelo rei Alfonso X, o Sábio (século XIII), pois, antes dele, cada um escrevia como queria ou podia, gerando um caos ortográfico. Sua insígnia de rei influenciou os outros escritores (ALVES, 2018). 30 A produção literária auxiliou na unificação das variantes dialetais e na fixação lexical-ortográfica. Foi assim também que, com mudanças e adaptações, surgiu a língua castelhana. Essa língua provém do romance, bem como o francês, o romeno, o português, o italiano e todas as chamadas línguas neolatinas (ALVES, 2018). 9 LÍNGUA ESPANHOLA: A FILHA DO LATIM Hoje o latim é um exemplo da ligação entre o passado e o presente. Considerado por muitos como uma língua morta, em função de não ser mais falada por um povo, ainda mantém o seu valor e está bastante presente no dia a dia. Além do fator histórico que originou as línguas neolatinas, após o processo de romanização, o latim ainda faz parte do vocabulário usado atualmente. Um exemplo é o objeto no qual você anota os horários e as tarefas que realizará ao longo do dia: a agenda (ALVES, 2018). A palavra agenda vem do latim e é usada na sua forma conservada, mas nem nos damos conta disso, uma vez que ela já faz parte do nosso vocabulário cotidiano. No entanto, se você, ao ler um texto acadêmico ou um artigo falando sobre a teoria saussuriana da língua, encontrar a expressão a priori, seguramente dirá que ela está escrita em latim. Em ambos os casos, ocorre o que chamamos de latinismo (ALVES, 2018). Latinismo se refere a palavras ou expressões latinas que foram introduzidas na língua espanhola e que mantiveram a sua forma e os seus significados idênticos ao que tinham no latim. Esse tipo de palavras e/ou expressões pode ser encontrado em todas as línguas que passaram pelo processo de romanização linguística, tornando-se uma língua neolatina (ALVES, 2018). 31 Podemos observar que alguns latinismos são mais habituais do que outros, dependendo do propósito para o qual o termo será usado. Algumas formas são tão comuns e assimiladas, que não percebemos mais sua origem latina, como é o caso de agenda e ómnibus; outras, como currículum vitae e ultimátum, preservam uma forma mais latinizada. Há também os menos habituais, mas existentes, como ad hoc (para tal fim, para isso), lapsus (erro), in albis (em branco) (ALVES, 2018). Assim, para usar num texto palavras e expressões em sua forma latina, convém levar em consideração algumas dicas: Não abusar do seu uso, pois pode parecer pedante — pode ser usado para esclarecer um registro, seja ele formal ou informal, de acordo com a situação comunicativa; Conhecer muito bem o seu significado; Estar atento quanto à sua ortografia. No que se refere especialmente à ortografia, segundo a RAE (Real Academia Española), há latinismos que não são adaptados e mantêm a sua forma original, como o caso de quorum; enquanto outros foram adaptados ao sistema ortográfico da língua espanhola, como em cuórum (hispanização da palavra latina quorum). Dessa maneira, a RAE apresenta uma série de normativas a seguir, por exemplo, sempre que se optar pela forma não adaptada, deve-se fazer algum tipo de destaque, seja itálico ou entre aspas. Já para as formas adaptadas, é preciso estar atento à acentuação, que nesse caso segue a regra ortográfica, como vemos em cuórum, currículum, ultimatum (ALVES, 2018). 32 Para finalizar, você encontra a seguir uma lista de 10 expressões em latim. Aproveite para testar a sua aproximação com o latim e veja se essas expressões são mais ou menos habituais para você: Ad referendum: sujeto a aprobación; Agnus Dei: cordero de Dios; Carpe diem: aprovecha cada día, no te fíes del mañana; Data venia: dado el permiso; Deficit/Déficit: saldo negativo; Dura lex, sed lex: dura ley, pero es ley; Fiat lux: que se haga luz; Vox populi, vox Dei: la voz del pueblo, voz de Dios; Paquiderme: piel muy gruesa – elefante; Homo Sapiens: hombre sabio. 10 A EVOLUÇÃO GRAMATICAL DA LÍNGUA ESPANHOLA DESDE NEBRIJA ATÉ O SÉCULO XX Ver a gramática como parte da nossa relação com a sociedade e com a história (ORLANDI, 1996) transforma a língua — um instrumento linguístico (AUROUX, 1992) — em um objeto vivo. A língua, além de representar uma comunidade de fala, faz parte das transformações históricas e sociais. Quando nos deparamos com a gramática, é 33 importante ressaltar que não estamos nos referindo necessariamente ao uso de uma língua (até porque ela está viva e, mesmo que de forma paulatina, sofre mudanças o tempo inteiro), mas falamos da construção de um objeto histórico. De acordo com Saussure (1986), considerado o pai da linguística, a concepção de gramática: “[...] é baseada na lógica e está desprovida de qualquer visão científica e desinteressada da própria língua; visa unicamente formularregras para distinguir as formas corretas das incorretas”. Já em estudos mais recentes, encontramos outra definição sobre a gramatização: caracteriza-se como “[...] o processo que conduz a descrever e instrumentar uma língua na base de duas tecnologias que são hoje os pilares de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário [...]” (AUROUX, 1992). A escrita é uma representação da língua falada, por meio de signos gráficos, que se conserva com o passar do tempo. Em contrapartida, a fala se desenvolve, modifica- se e pode, inclusive, desaparecer. Segundo Orlandi (2001), “[...] a gramática é parte de um processo em que os sujeitos constituem-se em sua relação e participam da formação histórica [...]”. Cabe ressaltar que a língua escrita e a gramática preservam a cultura e uma suposta unificação linguística, uma vez que, pela gramática, é possível compreender a estrutura, o funcionamento e as mudanças. A formalização da língua, de certo modo, garante a permanência e a expansão dos sistemas de comunicação. Obviamente, a língua muda, e a gramática tenta acompanhá-la — esse é o principal motivo pelo qual as gramáticas da língua espanhola sofreram diversas transformações, desde a sua primeira edição até os dias de hoje (SPESSATO, 2018). Portanto, ao nos depararmos com a função da gramática, deparamo-nos com a organização da língua em um tripé organizacional: o falante, a língua e a sociedade em uma perspectiva histórica. Essa constituição organizacional representa a objetividade do saber sobre a língua, pois a escrita materializa aquilo que aprendemos com a nossa gramática universal (SPESSATO, 2018). Em A revolução tecnológica da gramatização, Auroux (1992) afirma que, entre os séculos V e XIX, ocorreu um processo único, chamado de “gramatização massiva”, a partir de uma só tradição linguística: a greco-latina. Essa gramática constitui a segunda 34 revolução técnico-linguística (a primeira foi o surgimento da escrita). Essa revolução criou uma rede de conhecimentos linguísticos centrada na Europa; nesse cenário, a primeira gramática de língua vulgar europeia foi escrita por Nebrija, a chamada Gramática castellana, como apresenta Castillo (1992, p. 221): La Gramática de la lengua castellana (1492) de Elio Antonio de Nebrija es una obra fundamental en la historia del pensamiento lingüístico hispánico, ya que es la primera gramática de una lengua romance. Nebrija alumbra el nacimiento de la lingüística española con una clara visión de las grandes posibilidades de nuestra lengua. Si en el período correspondiente a la lingüística española del Siglo de Oro la importancia de la obra gramatical del gran Maestro sevillano es decisiva, no es menos cierto que hoy sigue siendo una brillante referencia como fuente de inspiración para nuestros estudios gramaticales. Como recuerdan algunos estudiosos, nunca debe olvidarse el estudio de la vasta herencia lingüística de que hemos sido depositarios. Por ello, la proyección de la Gramática de la lengua castellana en el campo de nuestros estudios gramaticales constituye un buen estímulo para la docencia y para la investigación. Essa gramática da língua espanhola foi a primeira obra impressa e completa que se dedicou aos estudos da língua castelhana. Além disso, foi também a primeira gramática das línguas românicas, servindo de modelo a obras posteriores (SPESSATO, 2018). Na formação do espanhol, cabe distinguir três importantes períodos: o medieval ou antigo (séculos X a XV), o moderno (séculos XVI a XVII) e, por fim, o contemporâneo, que marcou com a fundação da Real Academia Española (RAE), no século XVIII (SPESSATO, 2018). 10.1 O período medieval O nome castellano foi determinado pela sua origem, e esse período se manteve dos séculos X a XV. Sua formação oficial se deu no século XVIII, com o rei Alfonso X, que ordenou que se escrevesse em espanhol, não mais em latim. O castelhano medieval possuía uma série de fonemas que hoje já não existem mais. Do ponto de vista gramatical, já não havia as declinações do latim, e eram as preposições que marcavam a função das palavras na oração. Os adjetivos possessivos eram acompanhados por artigos — hoje a regra proíbe esse uso. Além disso, não existia nada que normalizasse 35 a língua espanhola a fim de oficializá-la, uma vez que ela ainda era vista como uma “sublíngua”, ou uma língua inferior ao latim (SPESSATO, 2018). 10.2 O espanhol moderno A publicação da obra de Nebrija marca o início da segunda etapa do espanhol, e é aqui que se consolida o idioma. Essa etapa é marcada pelas mudanças consonantais e pela consolidação definitiva do sistema fonológico do espanhol (SPESSATO, 2018). Do ponto de vista léxico, foram incorporadas novas palavras, principalmente em consequência do momento de expansão de Castela, que proporcionou um grande contato com novas culturas (SPESSATO, 2018). A consolidação do espanhol foi tão forte, que foi possível oficializá-lo inclusive em documentos importantes, os quais seguiam a gramática normativa de 1492. Para Nebrija (1992), a gramática se dividia em quatro áreas e, posteriormente, em uma quinta: 1. Ortografía. Prosodia y sílaba. 2. Etimología y dicción. 3. Sintaxis. 4. Las introducciones de la lengua castellana para los que de extraña lengua querrán deprender. O primeiro trata da ortografia, tomando por base a correspondência fonética da fala com a escrita — para Nebrija (1992), a pronúncia determinava as regras de ortografia. O segundo trata da sílaba e do acento, o terceiro apresenta as classes de palavras, o quarto aborda a ordem das orações e o quinto se refere à etimología e à sintaxis. Esse quinto ponto apresenta uma visão mais geral sobre a gramática da língua castelhana: ortografía, prosodia, etimología e sintaxis. Essa divisão perdurou até a Idade Moderna; no entanto, a sua análise sobre as partes da oração, como nombre, pronombre, artículo, verbo, preposición, adverbio e conjunción, continua até hoje. 36 Porém, o que mais chama atenção na comparação das gramáticas, em relação ao tempo em que elas estão inseridas, não são as nomenclaturas, mas a ideia que elas procuram passar. Por exemplo, para Nebrija (1992), a gramática é uma solução para evitar o desaparecimento da língua, ou seja, o seu objetivo era, sobretudo, preservar a língua. Atualmente, não apenas na Nueva Gramática de la Lengua Española (ASOCIACIÓN DE ACADEMIAS DE LA LENGUA ESPAÑOLA, 2009), da RAE, mas em tantas outras abordagens, a ideia da utilização da gramática serve para registrar o estado “atual” da língua, demarcando as suas transformações e o seu uso. Após a gramática precursora de Nebrija, outras obras seguiram um modelo similar. Inicialmente, esse mesmo autor publicou Reglas de ortografia, em 1517; após, em 1535, Valdés publicou Diálogo de la lengua; na sequência, surgiram, em 1552, Arte para bien leer y escribir, de Andrés Flórez; em 1556, La manera de escribir en castellano, de Martín Cordero; em 1558, Gramática Castellana, de Villón; e, por fim, em 1630, Ortografía castellana, de Correas (SPESSATO, 2018). 10.3 O espanhol contemporâneo Em 1713, foi fundada a Real Academia Española, e a sua primeira tarefa foi estabelecer o idioma e acabar com as mudanças que ele havia sofrido nos últimos tempos. Nessa época, as mudanças fonéticas e fonológicas haviam cessado, e os tempos verbais simples e compostos eram os mesmos vigentes até a primeira metade do século XX (SPESSATO, 2018). O espanhol contemporâneo se compôs com a colaboração de alguns gramáticos importantíssimos, como Bello (1847) e Alarcos Llorach (1994). Inclusive, a gramática de Bello (1847) é considerada até os dias de hoje uma das mais importantes gramáticas da língua espanhola. Em relação à estrutura gramatical, os pronomes átonos já não se combinavam com as formas de particípio e, graças à variação morfológica, os elementosda oração podem ser ordenados de diferentes formas e inúmeros estilos literários. Enquanto Nebrija pregava a gramática como uma apropriação da língua castelhana fechada e sistematizada, Bello (1847) via a língua não como algo fechado e estreito, mas ampliada e com um funcionamento muito superior à escrita. Para Nebrija 37 (1992), a gramática organizava a língua para que ela não se modificasse (ou seja, a gramática mandava, e a língua obedecia); já para Bello (1847), a gramática apenas sistematizava o seu objeto vivo — a língua — e tentava acompanhar essa mudança linguística com as normas. Para Bello (1847), a língua continuava sendo uma unidade, mas uma unidade que possuía diversidade. O autor renegou a tradição imposta até então e passou a pensar a língua como um objeto vivo a ser estruturado e organizado pela gramática. A partir disso, ele não colocou em questão as nomenclaturas de forma gratuita; pelo contrário, ele as utilizou pensando no seu funcionamento e na sua estrutura estudada até então. Por exemplo, ao se referir a gênero gramatical, Bello (1847) não analisava a questão simplesmente de sexo biológico: ele conseguiu perceber que existem palavras que não possuem sexo, mas sim gênero feminino ou masculino. Obviamente, a terminologia sofreu transformações desde a sua primeira gramática. Contudo, cabe ressaltar que, ao estudar a nomenclatura na língua espanhola, estudamos uma nova língua latina. Em outras palavras, estamos nos referindo não a uma língua morta, mas a uma língua que sofreu transformações e que se transformou em línguas que conhecemos atualmente. A prova disso é que, ao falarmos em sujeito, predicado, substantivo ou adjetivo, não nos referimos apenas à nomenclatura do espanhol, mas também à do português, do francês, do italiano e, inclusive, do inglês (SPESSATO, 2018). Nesse sentido, a mudança de nomenclatura não interfere na análise gramatical, mas as mudanças linguísticas interferem na estrutura, e a nomenclatura deve acompanhar essas mudanças, trazendo uma explicação lógica da gramática. Inclusive, para Alarcos Llorach (1994), a terminologia não deve ser considerada uma grande preocupação, pois os termos gramaticais não devem ser um objeto de discussão científica: [...] las etiquetas, como las ideologías, nos importan poco [...]. En la práctica cualquier “significante” o etiqueta que utilicemos para referimos a un morfema puede ser válido [...]. Como las “etiquetas” que utilizamos unos y otros son bastante parecidas, resulta que gran parte de las discusiones, discrepancias y confusiones es un mero revolver naipes de barajas distintas. 38 Assim, o importante é entender o funcionamento da língua e se adequar à nomenclatura utilizada, já que esta não deve ser um problema, mas um auxílio para que possamos compreender melhor a estrutura da gramática do espanhol. 11 AS DIFERENTES VISÕES GRAMATICAIS NA HISTÓRIA DA LÍNGUA ESPANHOLA A preocupação em elaborar regras que deem conta da realidade da língua está presente na construção das gramáticas do espanhol. Nebrija (1992), com a sua primeira gramática, foi pretensioso e tinha alguns objetivos: (i) uniformizar a língua, de modo a criar condições para a sua perpetuidade; (ii) fazer da língua um instrumento de auxílio na manutenção da unidade de seus países; (iii) criar material pedagógico para que se pudesse ensinar a língua nacional aos povos conquistados. O autor, ao utilizar a nomenclatura latina e seguir a divisão grega da gramática, apresentou a sua obra em quatro partes: ortografia, prosódia, etimologia e sintaxe. No entanto, nem todas as classes gramaticais tiveram o mesmo valor para os gramáticos. O advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição não constituíram, na história das gramáticas, o centro de interesse, provavelmente por não se encontrarem no grupo das 39 “principais partes da oração”. Geralmente, o termo partículas é utilizado para representar o conjunto de palavras que são invariáveis. Bosque (2007, p. 193) começa seu capítulo dedicado a essas categorias gramaticais com a seguinte afirmação: “El diminutivo latino que reconocemos en el término partículas es el primer síntoma del tradicional desinterés por estas unidades, que se traduce en la relativa falta de atención que han recibido en nuestra tradición”. Essa visão sobre determinadas classes fez com que cada gramático, de acordo com o que acreditava, determinasse a importância e o valor dessas partículas na língua espanhola (SPESSATO, 2018). 11.1 Diferenciação de metaclasses de palavras invariáveis e indeclináveis São três as principais obras que diferenciam uma (meta)classe de classes de palavras invariáveis e indeclináveis: Villalón, Correas e a Gramática de la Lengua Española (GRAE), de 1971. Embora essas três gramáticas procurassem delinear uma classe organizando as suas palavras em grupos, a sua visão é totalmente convergente. Por exemplo, a nomenclatura escolhida por Villalón para designar uma classe — ou metaclasse — das partículas se refere aos artigos e, abaixo deles, estão adverbio, preposición, conjunción e interjección. Essa colocação é surpreendente nos dias de hoje; todavia, para esse gramático, os artigos estariam em um patamar superior, uma vez que “[...] la voz artículo le sirve tanto para designar a las partes invariables de la oración como a los demostrativos. Únicamente falta el sentido propio de esta palabra para cualquier otro gramático […]” (VILLALÓN, 1971). Além disso, os artigos seriam: […] todas aquellas diçiones y vocablos que el Latino llama indeclinables que usa la lengua Castellana de muchos vocablos y diçiones para manifestar el hombre sus conçibimientos y affectos del alma los cuales ni son nombres, ni verbos, ni pronombres. El Latino los llama preposiciones, aduerbios, interjeçiones, conjunçiones (VILLALÓN, 1971). No caso de Correas (1954), a metaclasse de partículas (ou partezillas) é somente uma classe de palavras em que o verbo e o nome estão no mesmo nível hierárquico. Já o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição são subclasses de partículas. Inclusive, Correas (1954) insiste nessa hierarquia: 40 […] Son pues las partes de la orazion tres, nonbre, verbo, particula) […] podriamos hazer todas quantas partes quisiesemos, i se podria prozeder casi en infinito, mas nunca saldriamos, ni salen de uno destos tres generos […]. I ansimesmo las espezies de adverbios, de conxunziones, i de preposiziones é interieziones: mas todas estas son partes menores espezificas contenidas debaxo de sus xeneros nonbre, verbo i particula, i no partes por si, sino partes de partes, aunque se dividan en espezies por sus calidades. No capítulo XII da gramática, Correas (1954) propõe uma definição diferente sobre a metaclasse. Nela, ele não apenas inclui a invariabilidade como critério de definição, mas também de alguma forma as características englobadas pelas quatro subclasses. La particula, ó partecilla es una palavra que sirve al nonbre, i verbo, i orazion, i sinifica alguna calidad, afecto i zircunstanzia, ó trava i xunta partes i oraziones, como bien, casi, tarde, nunca, ansi, i no tiene mas de una terminazion ó boz sin mas numero ni variazion (Correas, 1954, p. 133). Já a GRAE, de 1771, diferencia-se em maior medida das duas anteriores, principalmente por se tratar de um sistema mais complexo (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001a). Por exemplo, Correas (1954) e Villalón (1971) tratam a gramática como um sistema composto por três partes da oração; todavia, a GRAE (de 1771) apresenta um sistema composto por nove partes e apresenta uma metaclasse específica para cada uma das partículas (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001a). […] y baxo el nombre genérico de partícula [Correas] comprehende la preposicion, el adverbio, la conjuncion, y la interjeccion. La Academia que tiene por verdaderas partes de la oracion las palabrasque Correas agrega al nombre y al verbo, y las que comprehende en la partícula, entiende que las partes de la oracion son nueve; y así quando alguna vez usa de la voz partícula no intenta designar a una parte determinada de la oracion, sino una voz, comun que conviene á todas las palabras que no son: nombre, pronombre, artículo, verbo, ni participio (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001a). A RAE não concorda com o fato de que as partes invariáveis da oração formem uma categoria (ou mesmo uma metaclasse); ao contrário, acredita que todas as classes de palavras estão no mesmo nível (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001a). 41 11.2 A invariabilidade como característica comum a todas as classes Os gramáticos desse segundo grupo não falam de nenhuma metaclasse e nem usam o termo partícula (exceto a GRAE de 1771) (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001a). Entretanto, destacam que, de alguma forma, todas as classes possuem um caráter em comum: são invariáveis ou indeclináveis. Gayoso (2001) especifica, após enumerar as classes de palavras, que quatro delas são indeclináveis, e que isso é bastante comum na língua espanhola. Além disso, compara a sua língua com o latim e, com isso, mantém as definições de cada uma das partículas: La oracion Castellana tiene nueve partes, que son: Artículo, Nombre, Pronombre, Verbo, Participio, Preposicion, Adverbio, Interjeccion, y Conjuncion. Las cinco primeras se declinan: y las otras cuatro son indeclinables como las Latinas (GAYOSO, 2001). De acordo com Benito de San Pedro (2001), a propriedade morfológica é outro dos procedimentos frequentes que os gramáticos utilizam. O autor não deixa isso explícito em nenhum momento, mas as quatro partículas são descritas como lições de um mesmo capítulo, intitulado De las partes de la oración indeclinables. Logo, ele segue o modelo de Gayoso (2001), que mantém as definições de cada uma delas. Embora a GRAE de 1771, por um lado, adote posições distintas, por outro acaba convergindo com as opiniões anteriores (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001a). Ao mesmo tempo em que considera que o termo partícula é comum às quatro palavras invariáveis, o seu tratamento também é muito similar ao de Gayoso (2001) de San Pedro (2001) e da GRAE de 1796 (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001b). […] estas partes de la oracion se dividen en declinables, é indeclinables […] y partes indeclinables son las que tienen un solo modo de significar acompañadas con aquellas á que pueden y deben juntarse. […] las indeclinables [son] adverbio, preposicion, conjuncion, interjección (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001b). 11.3 A ausência de especificação O último grupo de gramáticos é constituído por aqueles que não especificam nada. Por um lado, Nebrija (1992) e Jiménez Patón (2001) definem essas quatro classes 42 sem incluir características de invariabilidade, por exemplo. Por outro, Villar (2001) menciona classes as variáveis e, por dedução, o leitor da gramática pode compreender que as restantes são invariáveis. 12 DIFERENTES ABORDAGENS DE NOMENCLATURA NA HISTÓRIA GRAMATICAL DA LÍNGUA ESPANHOLA Como você viu na seção anterior, a denominação das partículas não varia entre as gramáticas, ou seja, todos utilizam as mesmas terminologias: advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Essa utilização é comum e constante na tradição gramatical: Desde Nebrija, los gramáticos españoles han introducido cambios sustanciales en las definiciones de lo que pretendían enseñar, pero las innovaciones que afectan a la doctrina difícilmente alcanzan al vocabulario. […] Las nociones de adverbio o de preposición que proporciona Saqueniza no guardan relación con las que enseñaba Ballot, salvo que ambos gramáticos utilizaron términos categoriales idénticos. […] El metalenguaje básico es casi lo único que permanece inmutable en la historia de la gramática (LLITERAS PONCEL, 1996, p. 131). Determinada nomenclatura permanece não apenas pela tradição latina precedente, mas também por permanecer intacta na tradição gramatical espanhola (provavelmente pelo fato de seguir a primeira gramática de Nebrija) (SPESSATO, 2018). 43 12.1 Definições Com o objetivo de comprovar que a nomenclatura das gramáticas normalmente não se modifica, mas a sua análise aprofundada sim, vamos comparar as abordagens gramaticais em relação aos advérbios e às interjeições. Antes disso, no entanto, é sempre interessante pesquisar quais foram os principais critérios para que a partícula fosse atribuída a um grupo específico. Portanto, inicialmente analisaremos os advérbios. Segundo Gómez Asencio (1981), os advérbios possuem dois critérios predominantes para a sua definição: […] el criterio sintáctico colocacional («se junta a») es el que dicta el rasgo caracterizador de esta clase de palabras; y en todas aparece como segunda parte de la definición un rasgo semántico complementario que obedece a la utilización del criterio lógico-objetivo (vid. abajo el apartado dedicado a los valores encomendados al adverbio), exactamente lo mismo que sucedía en las definiciones más tradicionales en que estos autores con toda seguridad se inspiran (GÓMEZ ASENCIO, 1981). O critério semântico lógico-objetivo surge mediante a caracterização do advérbio como classe de palavras que normalmente modifica o verbo. O que se pode perceber é a evolução da análise do papel do advérbio nas gramáticas de língua espanhola. Sua abordagem iniciou de maneira mais básica, com Nebrija, e foi se especificando mais, com o passar dos séculos (SPESSATO, 2018). Para Nebrija (1992), o advérbio é só uma das dez classes de palavras, e o seu papel principal é mudar o valor do verbo: Adverbio es una delas diez partes dela oracion. La cual añadida al verbo hinche o mengua o muda la significacion de aquel como diziendo bien lee. mal lee. […]. I llama se adverbio por que comunmente se junta i arrima al verbo para determinar alguna qualidad enel. Assi como el nombre adjectivo determina alguna qualidad en el nombre substantivo (NEBRIJA, 1992). Segundo Villalón (1971), o advérbio muda o significado do verbo e a ideia que a oração busca passar. Ele afirma: Ay otras palabras, o vocablos en la lengua Castellana que el Latino llama Aduerbios: porque añadidos al verbo añaden, engrandeçen, o desminuyen la sinificaçion en la clausula Castellana en que se ponen […] 44 De acordo com Correas (1954), o advérbio, além de modificar o verbo, denota alguma circunstância a ele. Para o autor: El adverbio es una particula que comunmente se xunta la verbo para denotar alguna zircunstanzia ó calidad en él, como el nombre adxetivo se llega al sustantivo: i por esta xunta que haze con el verbo se llama adverbio […]. El qual acrezenta ó desminuie, hinche ó mengua, ó muda la sinificazion del verbo, como diziendo bien lee, mal escribe, no sabe nada… (CORREAS, 1954, p. 338). Tanto para Correas (1954), quanto para Nebrija (1992), o advérbio assume para o verbo o mesmo papel que o adjetivo assume para o substantivo. Já para a GRAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001b), o advérbio, além de modificar o significado do verbo, é uma partícula invariável, ou seja, não possui gênero, nem número. Dessa forma, a sua definição é que o “Adverbio es una parte indeclinable de la oracion, que se junta al verbo para modificar su significacion, como: es tarde, escribe mal, lee bien […]” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001b). Além disso, a GRAE justifica outras construções que podem aparecer com ele, por exemplo, quando ele se une a outras partes da oração. Contudo, a ideia inicial de ser em função do verbo não é modificada, pois “[...] quando [el adverbio] se halla con otras partes de la oracion, no es porque va junto con ellas, sino con algun verbo que hay, ó debe suplirse […]” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2001b). Ao comparar o grupo das interjeições, deparamo-nos com duas opiniões gramaticais distintas: há gramáticos que as consideram uma classe de palavrasou uma subclasse de palavras, e há aqueles que não as consideram uma classe. Os gramáticos que colocam as interjeições no mesmo nível de outras classes são representados por Villalón (1971), Correas (1954), Villar (2001) e pelas GRAEs. Contudo, para Nebrija (1992), a interjeição deve ser considerada um tipo de advérbio, e não uma classe gramatical. Los latinos como diximos en otro lugar: pusieron la interjection por parte dela oracion distinta delas otras. pero nos otros a imitacion delos griegos: contamos la con los adverbios. Assi que sera interjection una delas significaciones del adverbio: la cual significa alguna passion del anima con boz indeterminada, como ai (NEBRIJA, 1992). 45 Nesse sentido, pode-se afirmar que, mesmo com características específicas, normalmente há uma aproximação entre as nomenclaturas gramaticais, pois todas têm a mesma origem. Todavia, quando tratamos das interjeições, essa aproximação acaba sendo desestabilizada, e conseguimos perceber mais objetivamente as modificações que as nomenclaturas gramaticais sofreram com o passar dos séculos (SPESSATO, 2018). 13 CONCORDÂNCIA VERBAL: OS CASOS DOS SUJEITOS EXPRESSO E TÁCITO Você sabe o que é sujeito? Em uma oração, sujeito é o elemento (pessoa, animal, coisa) que realiza, causa ou sofre a ação do verbo. De maneira mais simplificada, podemos dizer que é o elemento sobre o qual se diz alguma coisa na oração (WAQUIL, 2018). Assim, a partir de uma perspectiva gramatical, podemos entender o sujeito como um sintagma (palavra ou conjunto de palavras que têm alguma função sintática) que mantém uma relação de concordância com o verbo. Esse sintagma pode estar formado por um núcleo, um determinante e um complemento (Figura 1) (WAQUIL, 2018). Geralmente, é possível reconhecer o sujeito em uma oração perguntando ao verbo ¿quién? Veja o exemplo no Quadro 1 a seguir: 46 É importante destacar que, embora seja muito útil, em grande parte dos casos, nem sempre essa pergunta nos leva ao sujeito. No caso de Me gusta mucho el frío, o sujeito não é agente da ação, mas paciente (é quem a sofre). Por isso, a pergunta que nos leva a ele deveria ser ¿qué me gusta?, e a resposta nos levaria ao sujeito: el frío (WAQUIL, 2018). De todos os modos, o verbo, sem dúvida, tem uma relação fundamental com o sujeito, já que é a partir dele que identificamos o elemento da oração que tem essa função. Antes de analisar essa relação, você vai ver quais os tipos de sujeitos que existem em espanhol (WAQUIL, 2018). Os critérios para definir a tipologia variam de acordo com a perspectiva. Aqui, veremos o critério gramatical denominado fonético, que classifica o sujeito de acordo com a sua existência explícita ou implícita em uma oração. Assim, distinguem-se os tipos a seguir: Sujeito expresso/explícito: é o que aparece e se destaca na oração de forma explícita (WAQUIL, 2018). Las clases de español son muy interesantes. María y Sabrina no quieren ir a la fiesta de Felipe. Mañana Pedro viene a visitarnos. ¡Eso es una barbaridad! Sujeito tácito/implícito: é o que está subentendido na oração, embora não esteja representado explicitamente (WAQUIL, 2018). 47 Tenemos cinco días de vacaciones. (sujeito: nosotros) Fui a la playa dos veces el año pasado. (sujeito: yo) Jugaste al fútbol durante dos años en el centro deportivo, ¿no? (sujeito: tú) Quiero ver dos películas en el cine. (sujeito: yo) O sujeito tácito também pode ser indeterminado, ou seja, embora saibamos a pessoa, não temos informação sobre outros traços, como número e gênero, a partir dos elementos e das informações que constam na oração: Es una persona muy tranquila, pero a veces se enfada. (sujeito: él ou ella). Robaron el centro comercial anoche. (sujeito: ellos ou ellas). Com base nesses dois tipos de sujeitos, podemos analisar a relação que eles desenvolvem com os verbos na oração — a denominada concordância verbal (WAQUIL, 2018). Costuma haver consenso entre os gramáticos a respeito de alguns dos critérios que definem a concordância verbal: é entendida como a harmonia entre verbo e sujeito, no que se refere a número e pessoa. Veja os exemplos a seguir: Rodolfo me dijo que tiene hambre. Las tijeras que me compré están sobre la mesa. A concordância do sujeito expresso com o verbo, em grande parte dos casos, é simples: se o número ou a pessoa do verbo muda, o sujeito também terá de mudar, e vice-versa. Em outras palavras, sujeito e verbo devem estar em harmonia no que se refere à pessoa e ao número (WAQUIL, 2018). La oficina está cerrada. Las oficinas está cerrada. (construção equivocada) 48 Las oficinas están cerradas. No entanto, há alguns casos especiais de concordância com sujeito explícito que você deve conhecer: Sujeito composto por mais de um elemento, com uma conjunção copulativa – se os elementos se referem a objetos distintos, o verbo fica no plural: María y Juan tienen dos hijos. Se os elementos formam uma só unidade, o verbo fica no singular: El hambre en el mundo y su consecuencia desigualdad es lo que me entristece. Se os elementos se referem à mesma pessoa, o verbo se mantém no singular: El jugador de fútbol y héroe nacional es un hombre especial. Sujeito composto por dois elementos coordenados que têm papel gramatical neutro, como verbos no infinitivo – o verbo deve ficar no singular: Me parece que cantar y bailar es lo que más le gusta a Camila. Se, no entanto, esses verbos representam realidades distintas, o verbo é conjugado no plural: Las mejores cosas de la vida son ir al cine y jugar al baloncesto. Sujeito composto por dois elementos que se unem com tanto…como – o verbo é conjugado no plural: Tanto Julia como Verónica llegaron a las ocho de la mañana. 49 Sujeito formado por um substantivo coletivo – o verbo é conjugado no singular: El clero es un grupo muy respetado./La manada destruyó todo (WAQUIL, 2018). Com o sujeito tácito, a questão da concordância verbal é imprescindível — e mesmo inerente à sua existência. Como o sujeito, nesse caso, não é representado nem por um pronome, nem por um substantivo ou sintagma nominal, só é possível inferir quem ele é a partir do verbo presente na oração e de sua desinência. Em outras palavras, se o verbo está conjugado na primeira pessoa do plural (nosotros), sabemos que o sujeito também é essa pessoa: Fuimos a la fiesta de nuestros amigos. (sujeito: nosotros) Comieron nuestra comida con mucho gusto. (sujeito: ellos/ellas) Fui a París el año pasado. (sujeito: yo) ¡Estáis lindos! (sujeito: vosotros) Me contaste esta historia ayer. (sujeito: tú) Esse tipo de estrutura é muito recorrente em língua espanhola, a qual — assim como o árabe e o latim, por exemplo — não requer um sujeito obrigatoriamente expresso. É comum, portanto, que as orações se constituam com o sujeito tácito, oculto ou elíptico, de modo que é apenas por meio da análise do contexto e da conjugação do verbo presente que podemos constatar a quem se refere o predicado da oração. Línguas como 50 o inglês, por outro lado, não admitem essa estrutura e precisam expressar explicitamente o sujeito em suas orações (WAQUIL, 2018). 14 COMPLEMENTOS: DIRETO, INDIRETO, DE RÉGIMEN VERBAL E CIRCUNSTANCIAL A língua espanhola é muito rica. Uma prova disso são as possibilidades de complemento que os verbos comportam. Nos estudos gramaticais, também no que se refere à análise sintática, tem grande importância e destaque a noção de complemento — elementos que se relacionam com os verbos em uma oração, tanto em um vínculo obrigatório como em um vínculo opcional e contextual. Você vai aprender agora sobre quatro tipos de estruturas que podem complementar os verbos: os complementos direto e indireto, que se relacionam com a transitividade dosverbos; o de “régimen preposicional”, com sintagma preposicional obrigatório; e o circunstancial, que destaca alguma característica da ação em questão (WAQUIL, 2018). 14.1 Complementos direto e indireto Em língua espanhola, distinguem-se dois tipos de estruturas que complementam verbos transitivos: os complementos diretos e os indiretos. Verbos transitivos são aqueles que precisam de um elemento que os oriente ou determine, isto é, que exigem um complemento para que seu significado seja completo (WAQUIL, 2018). El celular manda mensajes de texto. El celular manda seria uma oração Incompleta e, portanto, incorreta. La película muestra la vida en Colombia. La película muestra seria uma oração sem sentido. Los chicos quieren volver, no te preocupes. Los chicos quieren seria uma oração incompreensível. 51 O complemento direto pode ter a forma de substantivos ou sintagmas nominais, pronomes e orações subordinadas substantivas (WAQUIL, 2018). Amparo envió mensajes ayer. (Substantivo) Amparo envió un mensaje ayer. (Sintagma nominal) Amparo lo envió ayer. (Pronome) Amparo me dijo que me enviaría la carta Ayer. (Oração subordinada) Quando o complemento direto se refere a pessoas ou a seres de modo geral, é acompanhado pela preposição “a”. Se é relativo a objetos inanimados, geralmente, não se usa a preposição: Vimos la película en la tele. Vimos a tu hermana en el cine. Para reconhecer o complemento direto em uma oração, veja algumas dicas que podem lhe ajudar — embora não se apliquem a todos os casos, a grande maioria pode lhe ser útil. A primeira delas é trocar a unidade ou a estrutura por seu pronome pessoal átono correspondente: la, las, lo, los (WAQUIL, 2018). Compramos la corbata roja./ La compramos. Compramos las mochilas nuevas para el comienzo de las clases./ Las compramos para el comienzo de las clases. Compramos el libro que pidió la profesora./Lo compramos. 52 Compramos los billetes con la tarjeta de crédito./ Los compramos con la tarjeta de crédito. Outra opção é transformar a oração de ativa para passiva: se o complemento, nessa transformação, tiver a sua função alterada para sujeito paciente (que sofre/recebe a ação), o complemento é, de fato, direto (WAQUIL, 2018). Pedro adquirió el departamento con mucho esfuerzo. El departamento fue adquirido por Pedro con mucho esfuerzo. O complemento indireto, embora também se relacione com um verbo transitivo, geralmente é opcional (diferentemente do complemento direto) e indica o receptor da ação do verbo, isto é, o complemento indireto indica a quem ou a que se dirige a ação do verbo (WAQUIL, 2018). Llevamos un regalo a Esmeralda. Julieta nos dio las llaves de la casa. Es el cumple de María. Le compramos el bolso que quería. A mí no pueden decir que no. Ainda que comumente se refira a pessoas ou seres, também pode ser representado por um objeto inanimado: Echamos sal a la comida. 53 Em espanhol, quando o complemento indireto tem a forma de um sintagma nominal, ele é introduzido pela preposição “a”. A outra possiblidade é que ele seja um pronome átono (me, te, le, nos, os, les), sem preposição, ou tônico/ oblíquo, quando a preposição também é obrigatória (a mí, a ti, a él/ella/usted, a nosotros(as), a vosotros(as), a ellos/ellas/ustedes) (WAQUIL, 2018). Carlos compró el libro a Esteban. Carlos le compró el libro. Carlos compró el libro a él. Com o objetivo de dar ênfase a uma oração, é possível inserir um complemento indireto não obrigatório, cuja função é apenas destacar o que se diz: ¡No me comas las manzanas, están podridas! O pronome, nesse caso, apesar de funcionar como um complemento indireto, é totalmente dispensável para a compreensão da oração, e sua ausência apenas lhe tiraria a força emocional (WAQUIL, 2018). 14.2 Complemento de régimen preposicional e circunstancial Para uma efetiva compreensão das orações em língua espanhola, é importante conhecer e distinguir outros dois tipos de complemento, os quais se relacionam com os verbos e são fundamentais para o domínio de sua sintaxe (WAQUIL, 2018). 54 O complemento de régimen preposicional (regência, em português) é extremamente importante, já que é exigido pelo verbo para complementá-lo, e não pode ser deslocado, nem eliminado. Sempre é introduzido por uma preposição, a qual nunca varia, de modo que se configura como um sintagma preposicional. Assim, por exemplo, as gramáticas costumam apresentar listas com verbos e a preposição pela qual devem ser, obrigatoriamente, acompanhados, como os casos a seguir: Mesmo que a preposição nunca possa ser eliminada nesses casos, o outro elemento do sintagma pode ser substituído por um pronome tônico (él, ella, ellos, ellas, eso...), desde que seja mantida a preposição (WAQUIL, 2018). Nos acordamos de la historia de Pilar ayer. Nos acordamos de eso ayer. Los españoles confían mucho en la justicia. Los españoles confían mucho en ella. Outro tipo de complemento que tem características muito diversas das do de régimen preposicional é o circunstancial. Trata-se de um sintagma que pode ser adverbial, nominal ou preposicional e que destaca alguma característica ou circunstância de lugar, tempo, modo, causa, finalidade, instrumento, etc., complementando o verbo. Esse tipo de complemento pode ser eliminado da oração, deslocado da ordem em que aparece ou substituído. Para reconhecer esse complemento na oração, algumas perguntas podem ser feitas (Quadro 3): 55 Existem algumas construções, no entanto, em que o complemento circunstancial pode ser obrigatório para que a oração seja compreensível: Felipe reside en Madrid. Nesses casos, a diferença em relação ao complemento de régimen preposicional é que o circunstancial pode ser substituído por um advérbio, como em Felipe reside allá (WAQUIL, 2018). 15 ORAÇÕES EM LÍNGUA ESPANHOLA: IMPERATIVAS, INTERROGATIVAS, EXCLAMATIVAS E DE NEGAÇÃO Um elemento fundamental dos estudos gramaticais em língua espanhola é a análise das orações, outro objeto da área da sintaxe. Uma oração pode ser entendida como um conjunto de palavras ou apenas uma palavra que expressa uma ideia ou uma informação de modo completo. Quando nos expressamos, transmitimos nossas ideias por meio de orações, e essa transmissão é feita com alguma intenção e a partir de ânimos diferentes, relacionados à intenção que temos ou ao contexto em que estamos (WAQUIL, 2018). 56 Se a nossa intenção é perguntar alguma coisa, a oração que construímos, em língua espanhola, é denominada interrogativa. Se algo nos surpreende, chama a atenção ou assusta, produzimos orações exclamativas. Se queremos ordenar algo com ênfase, utilizamos orações imperativas. Além dessas, as orações mais comumente produzidas são as declarativas (afirmativas ou negativas), a partir das quais falamos de alguma informação concreta (Quadro 4) (WAQUIL, 2018). A seguir, você vai ver um pouco mais sobre cada uma dessas possibilidades. 15.1 Orações declarativas: afirmativas e negativas Grande parte das orações que produzimos e enunciamos no dia a dia são denominadas declarativas, isto é, têm a função de declarar algo. Essas orações, utilizadas tanto na oralidade quanto na escrita, referem-se a algo concreto e objetivo, e têm uma função informativa. No que se refere à sua estrutura, podem se formar com o verbo conjugado tanto no presente, quanto no passado ou no futuro (WAQUIL, 2018): Isabel trabaja en el centro de la ciudad. Isabel trabajaba en el centro de la ciudad. Isabel trabajará en el centro de la ciudad. Além disso, as orações declarativas podem se referir à informação enunciada, afirmando-a ou negando-a — é por isso que são divididas em orações declarativas 57 afirmativas(Pedro estudia todos los días) e orações declarativas negativas (Pedro no estudia todos los días). As negativas, ainda que em sua maioria se baseiem na presença do advérbio no, também podem ser formuladas com outros pronomes indefinidos, como vemos nos exemplos a seguir (WAQUIL, 2018): Ningún coche puede cruzar esta avenida ahora. Nadie avisó que el concierto empezaba a las diez. Nunca han pintado la casa de mi abuela. Carlota tampoco me dijo que venía. 15.2 Orações interrogativas Quando temos alguma dúvida sobre algo, comunicamo-nos por orações interrogativas, que podem ser dirigidas a alguém ou mesmo retóricas (feitas a nós mesmos) (WAQUIL, 2018): ¿Qué te parece si vamos a la playa mañana? Dios mío, ¿qué hago yo? As interrogativas podem ser de dois tipos: indiretas e diretas. Em ambos os casos, o pronome interrogativo (qué, quién, cuándo, dónde, cuánto) deve ser acentuado. ¿Cuándo llega Juan? Quería saber cuándo llega Juan, lo extraño mucho... Nas interrogativas diretas, temos um enunciado próprio; já nas indiretas, a oração interrogativa é subordinada a uma principal (Em Quería saber cuándo llega Juan, cuándo llega Juan é subordinada a Quería saber) (WAQUIL, 2018). As interrogativas diretas também têm uma subdivisão interna. Podem ser pronominais, quando a oração inclui um pronome, advérbio ou determinante interrogativo (¿Quién es tu madre?); disjuntivas, quando as respostas possíveis estão na formulação 58 da pergunta de modo implícito (¿Te buscamos ahora o más tarde?); polares, quando a resposta pode ser duas opções opostas, como sim ou não (¿Tienen hambre? – resposta: sí o no); alternativas, quando oferecemos pelos menos duas opções para a pessoa a quem nos dirigimos (¿Invitamos a Marta o a Carolina?) (WAQUIL, 2018). 15.3 Orações exclamativas A construção de orações exclamativas está muito relacionada à entonação empregada pelo falante que a produz (escrita ou oralmente), e expressa um estado de ânimo específico, como os exemplos a seguir (WAQUIL, 2018): Surpresa: ¡No me lo puedo creer! Alegria: ¡Aprobamos en el test! Indignação: ¡Qué barbaridad! Susto: ¡Ay, niño! Así me matas de susto. Medo: ¡Estoy temblando! Raiva: ¡La injusticia me vuelve loco! As orações exclamativas podem ser formadas com os pronomes exclamativos (que sempre são acentuados – qué, quién, cuánto, cuándo, dónde), como em ¡Qué linda casa! ou ¡Cuánto tiempo sin vernos! Esses pronomes, porém, não são necessários, e a exclamação pode ser construída em uma oração sem a sua utilização, como em ¡Estáis otra vez retrasados! ou ¡No la hemos invitado! 15.4 Orações imperativas Quando queremos dar uma ordem, fazer um pedido com ênfase ou proibir alguém de fazer algo, de modo que o interlocutor aja da forma correspondente, formamos orações imperativas, cuja estrutura se baseia em um verbo conjugado no modo gramatical imperativo. Um modo gramatical é um traço que indica a forma pela qual o verbo pode ser expressado (e, consequentemente, conjugado). Em espanhol, além do 59 imperativo, também contamos com os modos indicativo e subjuntivo, que indicam outras formas de expressar o verbo (WAQUIL, 2018). Há casos em que as orações imperativas correspondem, ao mesmo tempo, a orações exclamativas, como em ¡Ven! ou ¡Acércate ahora! Além disso, outra opção em relação à formação de orações imperativas é a sua formação em negativa, isto é, orações cuja ordem se refere a algo que o interlocutor não deve fazer. Nesses casos, em língua espanhola, a conjugação para o verbo é outra e, por isso, fala-se em imperativo afirmativo e imperativo negativo (WAQUIL, 2018). 60 16 A ORGANIZAÇÃO DA NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA DA RAE (SÉCULO XXI) A Nueva Gramática de la Lengua Española, da Real Academia Española de la Lengua ‒ RAE (2010) é a primeira gramática acadêmica desde 1931. Ignacio Bosque é o autor e coordenador de uma obra que é o resultado de onze anos de trabalho das 22 academias da língua, as quais representam os países cuja língua oficial é o espanhol. Ela oferece não apenas uma descrição detalhada da língua espanhola, mas também uma avaliação normativa de seus usos nas diferentes variedades linguísticas. Ressalta-se que mais de uma centena de consultores e especialistas americanos e europeus estiveram envolvidos na sua preparação. Com essa obra, visa-se apresentar ao mundo a gramática da língua espanhola como um trabalho coletivo. Além disso, busca-se descrever as construções gramaticais típicas do espanhol e refletir adequadamente sobre as suas variantes fônicas, morfológicas e sintáticas, bem como oferecer recomendações de natureza normativa e apresentar-se como um trabalho de referência para o conhecimento e ensino da língua espanhola (SPESSATO, 2018). A Nueva Gramática de la Lengua Española possui um caráter social, uma vez que reflete a unidade e a diversidade do espanhol, e mostra a língua espanhola a partir de todas as áreas linguísticas, com as suas variantes geográficas e sociais. Ainda, tem um caráter descritivo, porque expõe as diretrizes que compõem a estrutura da língua e 61 analisa detalhadamente as propriedades de cada construção. Além disso, possui um caráter normativo, uma vez que recomenda alguns usos e desencoraja outros. O seu caráter sintético fica por conta da apresentação de uma síntese de estudos clássicos e modernos sobre a gramática do espanhol, combinando tradição e novidade. Por fim, da perspectiva prática, estabelece um ponto de referência para estudantes e professores de espanhol em vários níveis acadêmicos (SPESSATO, 2018). A divisão interna da Nueva Gramática de la Lengua Española (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010) é paradoxal, pois aparentemente é simples, se for analisada nas suas três subdivisões internas. Todavia, é extremamente complexa, considerando a quantidade de capítulos e subdivisões que compõem cada parte. A primeira parte, Cuestiones Generales, possui um capítulo chamado Partes de la gramática: Unidades fundamentales del análisis gramatical, o qual conta com sete subcapítulos. A segunda parte, Morfología, é composta por dez capítulos, os quais apresentam, no mínimo, três subcapítulos cada. A terceira parte, Sintaxis, possui 37 capítulos, compostos por, no mínimo, cinco subcapítulos. Segundo a Nueva Gramática de la Lengua Española, a gramática estuda a estrutura das palavras e a forma como elas se relacionam. Nesse sentido, ela compreende que a morfologia se ocupa da estrutura interna das palavras, da sua constituição interna e das suas variações; já a sintaxe corresponde à análise da forma como as palavras se combinam e se organizam linearmente, assim como os grupos que elas formam. A gramática é, portanto, uma disciplina combinatória, centrada fundamentalmente na constituição interna das mensagens e no sistema que permite criá- las e interpretá-las. No entanto, não se constata na gramática a semântica (que cuida do significado linguístico), nem a pragmática (que analisa o uso que os falantes fazem dos recursos idiomáticos). Em um sentido mais amplo, a gramática compreende ainda a análise dos sons da fala, que compete à fonética, e a sua organização, que corresponde à fonologia (SPESSATO, 2018). Cada parte da gramática pertence a várias unidades fundamentais e as suas diversas relações. Dessa maneira, na fonologia, os traços distintivos se agrupam em fonemas, os quais constituem as sílabas. Os segmentos da morfologia são os morfemas, 62 os quais se agrupam em palavras; enquanto isso, o vocábulo constitui a unidade máxima da morfologia e a unidade mínima da sintaxe (SPESSATO, 2018). As palavras pertencem a determinada categoria ou classe, em função de suas propriedades morfológicas ou sintáticas, formando grupos sintáticos; por exemplo, mi bufanda (minha manta) é um grupo nominal,e beber leche (beber leite) é um grupo verbal. A combinação de determinados grupos sintáticos forma as orações, as quais relacionam um sujeito com um predicado. As funções sintáticas, como el sujeto (o sujeito), são unidades relacionais (SPESSATO, 2018). 17 REAL ACADEMIA ESPAÑOLA: ORIGEM E NOMENCLATURA A Nueva Gramática de la Lengua Española, como já referido, é uma obra coletiva. Na sua elaboração, não foram ignoradas as obras de seus antepassados; pelo contrário, a ideia do seu nascimento se deu em onze anos de pesquisa e de estudo, em que as principais gramáticas vistas até então auxiliaram na sua formação, combinando-se aos atuais estudos da área (SPESSATO, 2018). A última edição de uma gramática da Real Academia Española foi publicada em 1931. No entanto, em 1973, a RAE publicou uma nova gramática chamada Esbozo de una Nueva Gramática de la Lengua Española, que se apresentava como uma nova gramática acadêmica, desenvolvida com aspectos da linguística estruturalista. Porém, essa obra não teve a sua continuidade concretizada (SPESSATO, 2018). As gramáticas publicadas nos últimos 30 anos possuem uma análise consideravelmente mais detalhada que as gramáticas clássicas, e é essa linha que a 63 Nueva Gramática de la Lengua Española segue. Ela busca unir a tradição com a novidade; dessa forma, “asume, por lo tanto, las mejores aportaciones de la tradición gramatical hispánica y las completa con las procedentes de la bibliografía gramatical contemporánea.” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010). Em essência, a Nueva Gramática de la Lengua Española inspirou-se nas gramáticas mais importantes da história da língua espanhola. Até a publicação da gramática da RAE (2010), a Gramática de la Lengua Española (1994), de Emilio Alarcos Alarcos, juntamente com o Esbozo (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 1973), eram consideradas pela Real Academia Española as gramáticas de referência do século XX. Inclusive, ambas as publicações foram produzidas no âmbito desse órgão institucional. Alarcos foi o primeiro e maior representante da corrente estruturalista no campo da linguística na Espanha, e a sua gramática, mesmo após a publicação da gramática oficial da RAE, continua sendo uma das principais referências mundiais do espanhol. Como Alarcos (1994) reconhece, a sua gramática possui uma análise e uma linguagem bastante aprofundadas e se direciona a estudiosos do idioma. O autor utiliza a terminologia gramatical da tradição linguística espanhola, em termos de classificação morfológica e função sintática (substantivo, adjetivo, artigo, sujeito, predicado, objeto direto, etc.), embora incorpore contribuições conceituais do estruturalismo (morfema, suplemento, adjacente, etc.); contudo, ele também mantém as nomenclaturas mais específicas. Essa mescla acaba tornando a sua gramática pouco acessível a um público não especializado. No entanto, a nomenclatura utilizada para a descrição dos tempos verbais é a mesma que foi introduzida por Andrés Bello (1847), há mais de um século, e que permanece com a Nueva Gramática de la Lengua Española da RAE. Alarcos (1994) divide a sua gramática em três partes. A primeira é a fonologia, em que os problemas básicos (fonemas, sílabas, acento e entonação) são expostos com simplicidade. A segunda se chama Las unidades en el enunciado: forma y función, em que a análise passa a ser morfológica; nessa parte, inclui- -se a descrição morfossintática dos diferentes tipos de palavras (substantivos, adjetivos, demonstrativos, possessivos, relativos, interrogativos, indefinidos, números, advérbios, verbos, pronomes, preposições, conjunções e interjeições). A terceira parte, apresentada como Estructura 64 de los enunciados: oraciones y frases, inclui a descrição sintática das diferentes funções de sentença (núcleo verbal e adjacente: sujeito, objeto direto, objeto preposicionado, objeto indireto, adjacente e atributos circunstanciais), das orações complexas (coordenadas e subordinadas: de substantivo, de adjetivo, de comparativo, de consequência, de advérbio, de causa, de finalidade, de concessão e de condição) e de frases ou declarações sem núcleo verbal. A Gramática Española, de Juan Alcina Franch e José Manuel Blecua, publicada em 1975, simultaneamente descreve de forma detalhada o sistema da língua espanhola e sintetiza os trabalhos gramaticais mais importantes publicados até a data da sua redação. Sua descrição abrange a fonética e a fonologia, a morfologia e a sintaxe. Essa obra não tem pretensões normativas — apesar de sua época de publicação — e é vista como um importante material de consulta sobre a estrutura do espanhol. Destaca-se o fato de que a linguagem tomada como modelo é a da península espanhola culta, mas são apresentados também registros e frequências na fala, o que provavelmente inspirou a Nueva Gramática de la Lengua Española (SPESSATO, 2018). A referida obra trata de quatro aspectos da gramática (introdução histórica e teórica, fonética e fonologia, morfologia e sintaxe), que são desenvolvidos em 10 capítulos de comprimento variável. A introdução histórica apresenta uma imagem bastante sucinta e resumida das principais questões teóricas que surgiram ao longo da história da linguística e suas repercussões nos estudos sobre a língua espanhola, estendendo-se até o ano de 1973. A fonética e a fonologia são trabalhadas de uma forma ampla e detalhada. Já as exposições dedicadas à morfologia são divididas em cinco capítulos: no primeiro, são expostas as bases teóricas do estudo e, nos quatro seguintes, são analisadas as classes de palavras (substantivo, adjetivo, categorizadores nominais de gênero, número, artigo, pronome, advérbio, verbo e interjeição). A sintaxe é descrita nos quatro capítulos finais do trabalho e, após expor algumas noções sintáticas, como os conceitos de enunciação e frase, são definidos e classificados os elementos da sentença, de maneira bastante aprofundada. Essa gramática espanhola realiza uma descrição meticulosa e exaustiva do sistema da língua espanhola em seus três níveis: fonológico, morfológico e sintático (SPESSATO, 2018). 65 Publicada há mais de 150 anos, a Gramática de la lengua castellana destinada al uso de los americanos, de Andrés Bello (1847), em suas próprias palavras: [...] se dirigen a mis hermanos, los habitantes de Hispanoamérica. Juzgo importante la conservación de la lengua de nuestros padres en su posible pureza, como un medio providencial de comunicación y un vínculo de fraternidad entre las varias naciones de origen español derramadas sobre los dos continentes. Constata-se, por meio da citação, o principal objetivo da gramática: fornecer uma manutenção da unidade de linguagem, mas sem tomar a norma peninsular como referência exclusiva. Essa ideia, embora exposta por Bello há mais de 100 anos, é a fundamentadora da Nueva Gramática de la Lengua Española (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010). Apesar de a antiguidade e os seus destinatários serem os falantes hispano-americanos, a gramática de Bello continua sendo um dos principais manuais de gramática do espanhol, devido à correção de sua análise e à profundidade de suas intuições. Bello, como já foi dito, tinha a intenção de preservar a união linguística contra os neologismos lexicais, por medo de desintegrar o espanhol. Embora os seus medos se baseassem apenas na intuição (ou seja, não houvesse um aprofundamento sobre questões sociolinguísticas e de cunho da evolução da língua), isso não impediu que o manual trouxesse análises altamente atuais, que continuam sendo usadas por pesquisadores da linguagem de perspectivas muito diversas e, inclusive, diacrônicas. A gramática de Bello (1847) tem uma clara intenção prescritiva em seu título. Sua concepção de gramática, altamente relevante, consiste em ensinar os significados e usos de cada forma, como se não houvesse outro idioma no mundo, alémdo castelhano. Essa perspectiva radicalmente sincrônica, em conjunto com a combinação de significados e de usos de cada forma, é hoje o objetivo descritivo da gramática da língua espanhola (SPESSATO, 2018). Mesmo não podendo renunciar ao instrumental explicativo gramatical no qual estava inserido, Bello tem um caráter vanguardista, pois conseguiu ver as limitações descritivas das grandes correntes da análise gramatical de seu tempo. A grande originalidade de Bello, no entanto, reside no uso lúcido que ele fez desse instrumento para a descrição de fenômenos gramaticais fundamentais do espanhol, como modos e tempos verbais ou artigos. Obviamente, as gramáticas evoluíram muito desde lá, mas é 66 impossível negar todo o legado gramatical que Andrés Bello nos deixou para a formação da Nueva Gramática de la Lengua Española da RAE. (SPESSATO, 2018) 18 A NOMENCLATURA DA LÍNGUA ESPANHOLA E A SUA IMPORTÂNCIA PARA O ENSINO Todos os recursos da língua, em todos os seus planos (fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático) e níveis (lexical, frasal e textual-discursivo), em termos de unidades e estruturas (fonológicas, morfológicas ou sintáticas), estruturam-se seguindo a lógica, mas de forma inconsciente, pois a criança nasce com uma predisposição natural para a aprendizagem da sua língua materna. Essa predisposição natural é exatamente o que chamamos de gramática universal: um conjunto de princípios (responsáveis pelos aspectos comuns a todas as línguas humanas) e parâmetros (explicam a variação encontrada entre as línguas) que permitem a uma criança normal o desenvolvimento da linguagem, durante os seus primeiros anos de vida, a partir da exposição à sua língua materna. Todavia, essa gramática não deve ser confundida com a gramática que estudamos nos manuais (SPESSATO, 2018). Pensar sobre a sua estrutura gramatical é uma atividade indispensável para o amadurecimento das competências linguísticas e culturais de qualquer idioma. Sabe-se que a língua espanhola é um sistema complexo; compreender a sua nomenclatura e referenciá-la com os seus significados faz com que o estudante também consiga analisar 67 as relações entre os seus subgrupos, o que resulta num domínio maior do idioma (SPESSATO, 2018). Provavelmente, você já se perguntou o porquê de estudar a nomenclatura gramatical, ou mesmo o porquê de estudar gramática. Essa questão perpassa séculos, mas foi justificada ainda na primeira gramática acadêmica da língua espanhola (da RAE), em 1771, em seu prólogo: “La Gramática [...] nos hace ver el maravilloso artificio de la lengua, enseñandonos de qué partes consta, sus nombres, definiciones, y oficios, y como se juntan y enlazan para formar el texido de la oración”. A Nueva Gramática de la Lengua Española (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010) visa demonstrar o espanhol como uma unidade, porém com suas diversidades. Em outras palavras, ela não possui um caráter autoritário: não preconiza uma única forma apresentada como correta da língua espanhola. A normatização se apresenta nela como uma variável da descrição das construções gramaticais, em que algumas são comuns a todos os falantes de espanhol, enquanto outras não. Além disso, ela agrega a ideia de ausência ou presença de prestígio social. Portanto, cabe ressaltar que a nomenclatura gramatical atual na língua espanhola é um meio de leitura de mundo e de compreensão do funcionamento do idioma. Sua importância se deve, principalmente, ao fato de ter como objetivo trazer aos falantes de espanhol espalhados pelo mundo a reflexão da língua espanhola como conscientizadora das suas inúmeras possibilidades. Trata-se não apenas de um idioma que possui uma unidade, mas uma riqueza patrimonial que leva em consideração as suas mudanças e variações (SPESSATO, 2018). [...] la nueva gramática académica quiere contribuir a que los hispanohablantes reflexionen sobre su propia lengua, tomen conciencia de sus posibilidades expresivas, de las estructuras lingüísticas que la caracterizan y de la enorme riqueza patrimonial que suponen su unidad y su variedad. La nueva gramática pretende ayudar, asimismo, a que los hablantes conserven este patrimonio, amplíen su dominio del idioma, y ensanchen con ello su propia cultura y su formación integral (Prólogo da Nueva Gramática de la Lengua Española). Assim, essa nomenclatura é importante para o ensino da língua espanhola, pois mostra o seu funcionamento, os seus usos nas suas diferentes modalidades escrita e 68 oral e como ela se organiza. Dentro do campo de ensino de espanhol para estrangeiros, essa informação também é de grande relevância, uma vez que entender o funcionamento da gramática não apenas auxilia na resolução da questão da equivalência funcional com a língua materna, mas serve principalmente como um recurso para se alcançar o aprendizado consciente sobre regras que contribuem para a compreensão do sistema linguístico (SPESSATO, 2018). Portanto, para que você tenha domínio completo da língua espanhola, não basta saber se comunicar — afinal, o processo de comunicação abrange muito mais do que a oralidade. Dominar o espanhol significa compreender a sua cultura, o seu sistema linguístico e a sua gramática (SPESSATO, 2018). 19 O QUE SIGNIFICA “GRAMÁTICA” E QUAIS SÃO OS SEUS TIPOS? O termo gramática é polissêmico: ele pode se referir: 1) à ciência que se dedica ao estudo da língua, suas características, possibilidades e componentes; 2) à arte de colocar a língua em prática, do ponto de vista da fala ou da escrita, de modo correto e adequado, demonstrando domínio desta; 3) ao conjunto de normas, regras e princípios que caracterizam determinada língua e o seu funcionamento. Embora essas acepções se diferenciem, podemos encontrar um denominador comum entre elas: a gramática tem 69 como base uma língua, as combinações que lhe são típicas e os preceitos que definem o seu uso (WAQUIL, 2018). O espanhol não foge à regra, sendo objeto da gramática desde o século XV, com o trabalho do mestre Antonio de Nebrija. Em 1492, ele publicou a primeira gramática dedicada à língua espanhola (e a primeira dedicada às línguas de origem românica), a Gramática de la lengua castellana, a qual tem um papel fundamental na história, uma vez que serviu de modelo para o desenvolvimento de inúmeros trabalhos, nas mais diversas línguas (WAQUIL, 2018). De 1492 até hoje, o caminho percorrido pelos gramáticos de língua espanhola levou — e segue levando — a uma produção muito variada, com a qual estudantes, professores e demais interessados nessa língua podem contar. Assim, distinguem-se muitos tipos de gramáticas do espanhol, as quais, ainda que tenham objetivos diferentes, apresentam um caráter pedagógico, isto é, caracterizam-se por um componente didático e têm o objetivo de ensinar algum aspecto específico relacionado à gramática. Veja os tipos mais comuns e discutidos de gramáticas de língua espanhola: Gramática tradicional: com foco na classificação e na terminologia que classifica os conceitos gramaticais das línguas, exibe regras concretas e normas internas, que objetivam apresentar a língua em questão, em termos de sintaxe (indicando as possibilidades de estruturas das orações) morfologia (apontando as possibilidades de formas e variações das palavras) e análise de orações. Apesar de suas limitações, é a mais comumente utilizada no ensino de línguas em escolas, para crianças e aprendizes de língua estrangeira (WAQUIL, 2018). Gramática funcional: baseia-se na linguagem enquanto instrumento social e no estudo de seus elementos a partir do contexto, das situações comunicativas e de interações sociais em que é empregada e organizada. O foco dessa gramática está nas relações funcionais entre os constituintes de uma língua, que se constatam em três níveis — o semântico, o sintático e o pragmático.70 Gramática gerativa: descreve as línguas a partir de sua análise sintática e da sua capacidade de gerar construções com base na recursividade, isto é, sustentadas por regras e unidades abstratas. As sequências sintáticas analisadas são decompostas no que se denomina constituintes sintáticos — combinações que são compostas por um núcleo (WAQUIL, 2018). Gramática formal: dedica-se ao estudo das línguas a partir de uma perspectiva matemática, definindo as regras (de acordo com a sintaxe da língua em questão) pelas quais é possível produzir cadeias de caracteres que compõem — e geram — uma linguagem formal. Também tem a função de permitir o reconhecimento de uma cadeia como pertencente ou não a uma linguagem, bem como analisar a sua correção e incorreção. Cabe destacar, no entanto, dois tipos de gramáticas frequentemente colocados em oposição no estudo da língua espanhola: a normativa (também denominada prescritiva) e a descritiva (Figura 1). A gramática normativa, como o próprio nome indica, baseia-se na apresentação de normas, regras e determinações a respeito da língua, geralmente ignorando variantes geográficas ou de classe social, por exemplo. Assim, busca padronizar a norma culta do idioma, impondo regras de uso, recomendações ou até mesmo, dependendo da abordagem escolhida, obrigações para o falante. Em geral, privilegia alguma variedade linguística e o modo escrito da língua, e é produzida por uma instituição oficial reguladora do idioma (WAQUIL, 2018). Por outro lado, a gramática descritiva toma como base o uso da língua, a partir do qual, sem juízo de valor (diferentemente da prescritiva), descreve a utilização em contextos reais de um idioma, analisando de modo mais global e democrático os diversos aspectos que esse idioma pode apresentar, com base na observação de comunidades linguísticas (WAQUIL, 2018). Em espanhol, é muito comum encontrar obras que misturam as duas perspectivas, produzindo descrições da língua, mas oferecendo versões de construções linguísticas ou de formas de pronúncia, por exemplo, mais “corretas” e “adequadas”, em comparação com outras. Por outro lado, também há obras que claramente expressam o seu objetivo e ponto de vista sobre a língua, como é o caso de Hablar y escribir 71 correctamente: gramática normativa del español actual, de Leonardo Gómez Torrego, publicada em 2006. Como fica claro pelo próprio título, a sua proposta é apresentar uma versão, segundo o autor, “correta” da língua espanhola contemporânea em suas formas falada e escrita. Além disso, a obra é descrita como “[...] una herramienta utilísima para profesores y estudiantes de español, que tienen la obligación de conocer las actuales normas de corrección gramatical y los cambios normativos que se han producido ultimamente [...]” (GÓMEZ TORREGO, 2006, grifo nosso). Desse modo, fica clara a característica de imposição em sua abordagem, já que, ainda que reconheça as mudanças sofridas pela língua espanhola, propõe normatizá-las e as apresenta como regras. Embora possa parecer fácil questionar essa perspectiva gramatical, podemos entender o seu valor na resolução de dúvidas e inseguranças que surjam naqueles que se interessam pelo espanhol na sua modalidade culta (WAQUIL, 2018). Em contrapartida, contamos com o exemplo da Gramática descriptiva de la lengua española, de Ignacio Bosque e Violeta Demonte, que coordenaram uma equipe de mais de setenta linguistas de diferentes lugares para a organização da obra, publicada em 1999. Afastando-se da perspectiva normativa, os autores se propõem a descrever a língua espanhola no que se refere aos seus aspectos morfológicos e sintáticos. Trata-se de uma obra abrangente, que busca representar variedades linguísticas e que, embora não dê o mesmo espaço às variantes americanas que dá à espanhola, considera a sua importância e reconhece a existência de alternativas e possibilidades expressivas dentro de um mesmo sistema — o da língua espanhola (WAQUIL, 2018). 72 Ainda que a Real Academia Española (RAE) simplifique, definindo gramática como “[...] parte de la linguística que estudia los elementos de una lengua, así como la forma en que estos se organizan y se combinan [...]”,vimos que são diversas as possibilidades de realizar esse estudo. Com base em uma visão de língua e em um recorte que se queira apresentar aos interessados nela, diversas abordagens podem ser selecionadas e, do mesmo modo, diferentes obras podem servir como objeto de consulta. 20 O PERCURSO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA Falar da história da gramática da língua espanhola é voltar, impreterivelmente, ao ano de 1492, não porque foi o ano em que Cristóvão Colombo chegou às Américas, mas porque foi quando o sevilhano humanista Elio Antonio de Nebrija (1441-1522), considerado por muitos como o pai da língua espanhola, publicou a Gramática de la lengua castellana (Figura 2). Essa obra marca o nascimento da gramática e da linguística espanhola. Mas por que voltar tanto no tempo? Porque, ainda que a distância entre Nebrija e o estudos linguísticos atuais, em termos de cronologia e metodologia, seja muito grande, a base do que se produz hoje e do que se produzirá no futuro está justamente 73 nessa data, quando o sevilhano elaborou do zero — mas tomando como referência a produção teórica latina — a obra base da gramática da língua espanhola e das línguas românicas de modo geral. Foi somente a partir desse trabalho que Portugal, Itália e França, por exemplo, começaram a pensar e organizar sistematicamente as suas respectivas línguas, décadas depois da publicação da obra de Nebrija (WAQUIL, 2018). Três objetivos específicos basearam a “Gramática”: 1) contribuir para a consolidação e fixação da língua espanhola, de modo a garantir a sua sobrevivência; 2) facilitar o acesso ao latim, já que, conhecendo com precisão o espanhol, os falantes teriam acesso mais fácil à língua latina; 3) ensinar o espanhol a falantes de outros idiomas (WAQUIL, 2018). Apesar de seus méritos, Nebrija foi muito criticado, principalmente porque era andaluz, ou seja, falante de um espanhol não padrão, segundo os castelhanos. Não obstante, seu trabalho inaugurou o que seria um longo caminho na história da gramática da língua espanhola, até então sem precedentes (WAQUIL, 2018). Assim, com total independência do latim, a “Gramática” focava completamente no espanhol e era dividida em uma parte destinada à metodologia, composta por regras e princípios que regiam a língua (o que confere à obra um caráter normativo), e em uma parte histórica, que retomava poetas e autores cujas obras foram produzidas em língua espanhola, como testemunhos do seu uso adequado e correto (WAQUIL, 2018). 74 Com a publicação do trabalho de Nebrija, estabeleceu-se então um marco nos estudos gramaticais: a partir da “Gramática”, foi fundada a área — ciência, arte ou disciplina — que colaboraria para o estabelecimento da linguística. Assim, nos séculos posteriores (XVI a XVIII), passaram a se multiplicar o estudo, o trabalho e a produção de gramáticas, entre as quais se destacam a Gramática castellana (VILLALÓN, 1558), a Instituciones de la gramática española (JIMÉNEZ PATÓN, 1614), a Gramática de la lengua castellana (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 1796), entre outras. No século XIX, período em que ainda conviviam duas abordagens gramaticais distintas (a tradicional, baseada na teoria grecolatina, e a racionalista, influência dos franceses), merece destaque especial o trabalho de Bello (2002), Gramática: gramática de la lengua castellana destinada al uso de los americanos, que teve o mérito de unir abordagens distintas e produzir um sistema gramatical que viria a servir de referência para a elaboração de autores posteriores. O século XX, por sua vez, é reconhecido como a época em que passaram a se desenvolver e seaplicar diversas correntes linguísticas, em diferentes momentos. Nesse cenário, começaram a ser empregados métodos científicos e sistemáticos para a produção de obras e estudos científicos, tomando a linguagem como objeto. Esse 75 movimento levou à publicação de trabalhos consagrados e renomados, como os Estudios de gramática funcional del español (ALARCOS, 1970). Para entender o percurso realizado pelos estudos gramaticais em língua espanhola, é fundamental olhar para o passado, para os precursores e iniciadores de uma tradição tão rica. No entanto, cabe destacar também a importância do passado para o que se faz hoje: conhecer a tradição gramatical nos oferece tanto a possibilidade de entendê-la para poder criticá-la, quanto a possibilidade de aproveitá-la, tirando dela ensinamentos que contribuam para a produção atual (WAQUIL, 2018). É nesse sentido que se manifesta Peñalver Castillo (1992), que, analisando o caráter normativo da obra de Nebrija, sugere que se evite negar totalmente o trabalho do pai da gramática espanhola. Peñalver Castillo (1992) propõe o contrário: que se possa utilizar o caráter normativo, aliando-o ao descritivo, considerando objetivos pedagógicos que levem em conta a importância de apresentar para os estudantes e interessados na língua espanhola, entre outras coisas, as regras, já que “[...] uma síntese fundamentada e científica entre as duas concepções pode contribuir decisivamente para abrir novos caminhos no ensino do espanhol como língua materna e a melhorar sua didática [...]” (PEÑALVER CASTILLO, 1992, p. 226). 21 O SÉCULO XXI E A NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA: UMA GRAMÁTICA CONTEMPORÂNEA A gramática do espanhol, como vimos, percorreu um longo e rico caminho até os dias de hoje. Analisada, pensada e produzida a partir de muitas perspectivas, acompanhou a evolução dos tempos, o desenvolvimento dos mais de 20 países que têm o espanhol como língua oficial e a configuração, estruturação e afirmação do pensamento científico. Atualmente, os idiomas podem ser analisados sob o ponto de vista de diferentes tipos de gramática, com os mais variados objetivos: observar as regras de formação das palavras, descobrir suas possibilidades combinatórias, inteirar-se dos usos padrão, etc (WAQUIL, 2018). Sem entrar no mérito de qual estudo gramatical é mais ou menos eficiente ou relevante, e sem classificá-lo como melhor ou pior, é importante que o estudante, o 76 professor ou qualquer interessado na língua espanhola tenha um conhecimento dos elementos base da gramática dessa língua. Assim, cabe destacar que, muito resumidamente, uma gramática representa ou é composta por um estudo das palavras, a partir de dois aspectos que lhe são fundamentais: a sua formação e as suas combinações. Nesse contexto, estamos nos situando nas áreas linguísticas que se denominam morfologia (área que se centra na estrutura das palavras) e sintaxe (cujo foco está nas relações e nos grupos que as palavras podem formar). Além disso, costumam integrar a gramática de língua espanhola as análises fonológicas (sobre os sons da língua) e fonética (centrada na organização dos sons em termos linguísticos) (WAQUIL, 2018). A Real Academia Española, instituição fundada em 1713 por Juan Manuel Fernández Pacheco, é reconhecida por seu trabalho de fomento da língua espanhola, por meio de pesquisa e elaboração de obras que têm papel fundamental na organização e difusão da língua. A Nueva gramática de la lengua española (2009-2011) é um marco nos estudos gramaticais em espanhol, ao ser introduzida, no século XXI, como uma obra de enorme valor didático. Ela se propõe, ao mesmo tempo, a uma abordagem descritiva e normativa, já que apresenta a língua padrão e seus registros formais, mas também descreve a variação linguística de acordo com questões geográficas, sociais e de estilo. Ainda, trata-se de uma obra sincrônica, uma vez que se centra na língua atual e em uso corrente, mas também apresenta referências históricas, oferece explicações etimológicas e cita autores e acepções de outras épocas da língua espanhola. Além disso, embora não negue a tradição iniciada por Antonio de Nebrija, séculos antes, está formulada e sustentada em princípios metodológicos e científicos da gramática contemporânea (WAQUIL, 2018). A seguir, com base no reconhecido trabalho da RAE, apresentaremos as principais características tomadas como base de análise e produção gramatical em língua espanhola, apontando elementos linguísticos fundamentais, divididos nas três grandes áreas objeto de atenção da gramática: fonologia/ fonética, morfologia e sintaxe (WAQUIL, 2018). 77 21.1 Fonologia/fonética Assim como no português, os sons do espanhol se dividem em vocálicos e consoantes; unidos, eles formam cadeias que compõem as sílabas, consideradas o menor grupo que apresenta estrutura interna. É nesse sentido que a RAE, em sua gramática, apresenta a oposição entre unidades do espanhol, como em dado e dato: essas palavras se diferenciam em função de unidades da língua que são abstratas, como os fonemas /t/ e /d/ (WAQUIL, 2018). As unidades fonológicas, em língua espanhola, interferem fortemente nos processos morfológicos. Assim, por exemplo, alterações de vogais geram processos de ditongação, como pensar ~ pienso, llover ~ llueve, as quais são extremamente frequentes em espanhol. De forma similar, alterações de consoantes afetam unidades como sueco ~ Suecia (alteração entre os fonemas /k/ e /s/) ou filólogo ~ filología (alteração entre os fonemas /g/ e /x/) (WAQUIL, 2018). 21.2 Morfologia A área da morfologia se dedica à análise da estrutura e da formação das palavras, suas possibilidades de variação e a função gramatical que apresentam em relação umas às outras. Na gramática de língua espanhola, esse estudo se dá em duas abordagens: a morfologia flexiva e a morfologia léxica (WAQUIL, 2018). A morfologia flexiva analisa as flexões às quais se submetem as unidades que formam as palavras (morfemas), em sua relação umas com as outras, as quais produzem alterações de sentido gramatical e têm consequências para a sintaxe. Para tal, são analisados os elementos que influenciam a estrutura das palavras por meio de flexões (que indicam alguma informação sobre as palavras). No caso da língua espanhola, essas flexões são número (ciudad/ciudades), gênero (escocês/escocesa), pessoa (él/ella), caso (yo – caso nominativo; me – caso acusativo), tempo (estuvimos, están), aspecto (estoy comiendo, comimos) e modo (quiero que vengas – modo subjuntivo; ¡ven! – modo imperativo) (WAQUIL, 2018). 78 Já a morfologia léxica se dedica ao estudo da formação das palavras em dois processos básicos, que afetam a base léxica: a composição e a derivação. No processo de composição, duas bases léxicas se juntam e formam uma palavra, como lavamanos. Na derivação, a partir de uma base léxica que carrega o significado, acrescenta-se um afixo (que contribui com informação nova), formando uma nova unidade: cohabitar. O afixo acrescentado nesse processo pode ser um prefixo — anteposto à base (reponer) — ou um sufixo — posposto a ela (rojizo). Por fim, há casos em que ambos os processos (composição e derivação), unidos, formam uma nova unidade. Esse processo duplo é denominado parassíntese, como cuentacorrentista (composição de cuenta com corriente e sufixação com –ista) (WAQUIL, 2018). 21.3 Sintaxe Em espanhol, considera-se que existem nove classes de palavras, as quais podem se combinar umas com as outras, em relações que são objeto de estudo da sintaxe: substantivo, pronome, artigo, adjetivo, advérbio, verbo, preposição, conjunção e interjeição. Os artigos, pronomes e alguns casos de advérbios, preposições, conjunções e verbos contêm informação apenas gramatical, de modo que são abstratos e desempenham função de referenciar, indicar plural ou colaborarcom a organização sintática das orações. Por outro lado, há classes de palavras que se caracterizam pelo conteúdo léxico que carregam, como os substantivos, os adjetivos e quase todos os verbos e advérbios (WAQUIL, 2018). 79 Além disso, na sintaxe da língua espanhola, entende-se que as palavras, enquanto unidades sintáticas, podem, a partir de um núcleo, formar grupos, frases ou sintagmas que desempenham funções sintáticas. Assim, podem ser identificados grupos nominais (Comimos la manzana verde), grupos adjetivais (Esta revista no es fácil de comprar), grupos verbais (Se fueron a pasear ahora), grupos adverbiais (Estamos muy lejos), grupos pronominais (¿Quién de ustedes vendrá mañana?) e grupos preposicionais (No ganó por imprudente). Todos esses grupos são constituídos a partir da base que lhes dá nome (por exemplo, grupos adverbiais se estruturam em torno de um advérbio) (WAQUIL, 2018). Esses grupos são compreendidos como constituídos por um grau de liberdade, em oposição às locuções, que são grupos sintáticos mais fixos e lexicalizados, os quais funcionam como uma só unidade. Uma locução verbal (llevar a cabo), por exemplo, equivale a um verbo (realizar); uma locução conjuntiva (a pesar de), a uma conjunção (aunque); uma locução adjetiva (sano y salvo), a um adjetivo (bien) (WAQUIL, 2018). Vale destacar também as funções sintáticas que se identificam na língua espanhola e que cumprem um papel fundamental na sua gramática, já que “[...] representam as formas pelas quais se manifestam as relações que expressam os argumentos [...]” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2009, p. 15), sendo reconhecidas por marcas que as indicam. As mais conhecidas em espanhol (assim como em português) 80 são as de sujeito e predicado. Por exemplo, na frase Juan se compró unos libros, Juan tem a função de sujeito, e unos libros, de predicado. Finalmente, a noção de orações tem grande importância para a gramática. Trata- se de unidades que são compostas por sujeito e predicado e que, em espanhol, têm a particularidade bastante comum da omissão do sujeito. Em outras palavras, a informação referente ao sujeito está na oração, mas não é necessariamente explicitada: em Dormiremos mañana, sabemos que o sujeito é nosotros pela conjugação verbal (WAQUIL, 2018). Há alguns critérios que permitem classificar as orações em língua espanhola. O primeiro deles — a atitude do falante (ou modalidade) — divide as orações em declarativas (Está nevando), interrogativas (Qué pasa?), exclamativas (No me digas!) e imperativas (Se prohíbe fumar). De acordo com o predicado (ou as exigências que o verbo em questão tem), distinguem-se orações transitivas (o verbo exige complemento — Coge la pelota, por favor), intransitivas (o verbo não exige complemento — Ayer llovía) e copulativas (formadas por um verbo copulativo, como ser, estar, parecer — Lo que importa es ser feliz.) (WAQUIL, 2018). Por fim, segundo a dependência/independência que a oração apresenta em relação a outras, podem ser identificadas orações simples (que não dependem e não se relacionam com outra que a modifique — La fiesta está llena), subordinadas (que se inserem em uma oração principal, a qual modificam — La ropa que me compré está muy larga) e compostas (identificadas porque contêm pelo menos uma oração subordinada — Los niños juegan y luego comen.) (WAQUIL, 2018). Além disso, uma gramática contemporânea do espanhol que corresponda à língua que encontramos hoje, espalhada em mais de 20 países, deve ter um caráter democrático e considerar as nacionalidades que têm como o espanhol língua oficial. As diferenças e as particularidades de uso da língua dessas nacionalidades se manifestam em todos os níveis gramaticais (morfológico, sintático, fonológico) e, por isso, são fundamentais para que se possa ter a devida compreensão da amplitude tão característica desse idioma (WAQUIL, 2018). É importante reconhecer, por fim, que a “Nueva gramática de la lengua española” é um excelente referencial para qualquer interessado em conhecer as palavras da língua, 81 no que se refere à sua formação, às possibilidades combinatórias e aos sons e às unidades que a caracterizam. No entanto, para a sua publicação, em 2009, foi imprescindível que, cinco séculos antes, Antonio de Nebrija nos tivesse brindado com o início dos estudos gramaticais. Foi a partir deles que toda a tradição gramatical da língua se desenvolveu e, principalmente, que estudos contemporâneos como o da RAE puderam cimentar-se, desenvolvendo os seus próprios pressupostos teóricos. A discussão sobre os trabalhos de seus antecessores serviu tanto para mostrar as falhas destes, quanto para promover e divulgar os seus próprios princípios científicos (WAQUIL, 2018). 22 OBJETO DE ESTUDO DA FONÉTICA A língua está presente em qualquer ato de comunicação, e sabemos que todo ato de fala se manifesta em uma sequência de sons proferidos pelo falante. Desde a infância, somos habituados a associar certos segmentos dessas sequências a certos signifi cados. Por exemplo, a série de sons representados na escrita pela sequência de letras da palavra casa imediatamente evoca o conceito de “moradia”. Segmentos como esse, dentro da sequência pronunciada, são signos, ou seja, são unidades sonoras que carregam um signifi cado. De acordo com Alarcos Llorach (1999), o ato de fala retrata a coexistência de signos e signifi cado sonoro, pois ambos os componentes são combinados e ordenados segundo as regras de cada idioma. O estudo dos signos e suas combinações é um dos domínios atribuídos à gramática internalizada de cada interlocutor. A fonética é a área responsável por estudar os sons de maneira física, isto é, como eles são produzidos no nosso aparelho fonador. Na fonética, estudamos as partes que correspondem aos signos linguísticos, mas não necessariamente os seus significados. Atrelados aos estudos da fonética, encontramos também os estudos da fonologia, que averigua o sistema dos sons, a sua estrutura e o seu funcionamento. Assim, segundo os estudos de Matzenauer (2014, p. 13), “[...] a fonética apreende os sons efetivamente realizados pelos falantes da língua em toda sua diversidade; a fonologia abstrai essa diversidade para captar o sistema que caracteriza a língua”. Desse 82 modo, ainda que sejam estudos separados, a fonética pode auxiliar os estudos da fonologia, de maneira que muitas vezes os estudos andam juntos. Toda e qualquer língua pode ser analisada fonética e fonologicamente. Além disso, tanto uma como outra são passíveis de serem descritas por meio de alfabetos elaborados que representam, por exemplo, os seus sons. É importante, assim, que você saiba as características peculiares de cada uma, para que não as confunda. Nas descrições fonéticas, atribuímos o uso de colchetes (por exemplo, [t] e [d]) para representar o que chamamos de fones; nas descrições fonológicas, representamos os fonemas por meio de barras (por exemplo, /t/ e /d/). Logo, podemos representar os sons de uma língua por meio de dois níveis de descrição: o fonético e o fonológico (FELIPE, 2019). O plano de estudo da fonética é aprofundado em três aspectos: articulatório, acústico e perceptual. O primeiro aborda como os sons são produzidos e articulados no aparelho fonador no corpo humano; o segundo, as propriedades físicas da propagação dos sons, isto é, as ondas sonoras que produzimos em um ato de fala; e o terceiro, como recebemos e interpretamos uma onda sonora. A unidade comum representada pelos sons dentro da língua é chamada, na fonética, de fone. Segundo Battisti (2014, p. 64), fone é o “[...] som da fala, de natureza linguística”. Entretanto, outros tipos de sons, como trovões, espirros, bocejos, etc., não são considerados parte do estudo fonético. Para representar um fone na escrita, utilizamos também um alfabeto específico, chamadode Alfabeto Fonético Internacional (IPA), elaborado pela Associação Internacional de Fonética. A Figura 1 apresenta os símbolos utilizados na descrição dos fones por meio do IPA (FELIPE, 2019). 83 Por exemplo, a consoante ñ é grafada no Alfabeto Fonético Internacional como [ɲ], correspondente ao dígrafo nh em niño, no espanhol, e ninho, em português. Além de sentidos diferentes, essas palavras apresentam quantidades de letras diferentes, mas o mesmo número de fones. Assim como no alfabeto que conhecemos, no alfabeto fonético, cada símbolo designa um único fone; no entanto, para abranger os inúmeros fones que 84 produzimos em uma língua, esses fones são descritos no alfabeto fonético conforme a sua articulação no aparelho fonador. Veja a seguir alguns exemplos utilizando a transcrição fonética (FELIPE, 2019). Observe que, quando realizamos a transcrição fonética, nem sempre o número de letras corresponde ao número de fones. Por exemplo, em aburrido, temos oito letras, mas sete fones. Para entendermos mais sobre os fones, precisamos estudar outras nomenclaturas importantes no que tange à fonética. Por isso, vamos retomar a relação entre fone e fonema, definindo e exemplificando este último (FELIPE, 2019). De acordo com Battisti (2014), a fonologia é responsável por estudar o sistema dos sons, isto é, o padrão produzido inconscientemente pela nossa mente e que remete a um sistema no qual esses sons descrevem uma sequência. Logo, os fonemas são, para Battisti (2014, p. 66), “[...] a unidade mínima de som capaz de produzir diferença de significado”. Por exemplo, os fones [t] e [d], do ponto de vista articulatório, são sons bem parecidos, devido à proximidade da produção dos seus sons, mas essa diferença mínima de produção nos faz distinguir [t] e [d], que correspondem a “[...] unidades de som com valor contrastivo ou distintivo no sistema” (BATTISTI, 2014, p. 65). Dessa forma, esses dois sons coincidem com os fonemas /t/ e /d/ e os fones [t] e [d], respectivamente. Veja um exemplo: /t/ − pata /d/ − data 85 Nesse exemplo, distinguimos as duas palavras pela distinção que fazemos entre t e d. Logo, por haver essa distinção, conferimos outro significado às palavras apenas por ouvir uma ou outra. Assim, facilmente observamos que pata, em espanhol, não significa a mesma coisa que data. A primeira tem como tradução o feminino de pato ou a pata de um animal; o segundo pode ser traduzido para data e tem como sinônimo, na língua espanhola, a palavra fecha. Veja, em outro exemplo, outros pares mínimos, como em paño (pano) e baño (banho). Essa relação que fazemos entre os fones e os fonemas em uma língua é denominada na fonética de alofonia. Para Battisti (2014, p. 70), a alofonia “[...] dá origem à variação fonético-fonológica nas línguas do mundo, a um tipo de variação determinado por um ambiente ou contexto sonoro específico”. Desse modo, um alofone é, na realidade, uma variação de um fonema, mas que não modifica o sentido da palavra. Veja um exemplo a seguir. Vejamos agora as partes que definem a fonética em três aspectos: articulatória, acústica e perceptual. A fonética articulatória compreende o modo como produzimos os sons no nosso corpo — no nosso aparelho fonador. Por exemplo, quando produzimos o som das vogais, não há obstrução na passagem do ar; entretanto, experimente produzir o som de uma consoante. Provavelmente você perceberá que algum articulador entrará em ação para a produção do som, como podemos ver na emissão da consoante “b”: para produzi-la, precisamos encostar os lábios e, portanto, obstruir a corrente de ar. Já a fonética acústica estuda as propriedades físicas nos processos de fala. Na realidade, esse estudo visa somente à análise das ondas sonoras, como vibração, ressonância, altura, intensidade, entre outros aspectos do campo da física. A fonética perceptual — 86 ou auditiva — colabora para os estudos da fonética, finalizando todos os modos de produção, articulação, emissão e compreensão dos sons. Logo, fica a cargo desse ramo estudar como o ouvido humano recebe as ondas sonoras advindas dos processos da fala; a interface desse estudo se dá com os estudos nas áreas da neurologia e da psicologia (FELIPE, 2019). Vale ressaltar, no entanto, que para o ensino e a aprendizagem de línguas, saber qual é o objeto de estudo da fonética não é suficiente. Por isso, a seguir você verá a importância da fonética no estudo da língua (FELIPE, 2019). 23 IMPORTÂNCIA DA FONÉTICA NO ESTUDO DA LÍNGUA A fonética tem papel fundamental no estudo de línguas estrangeiras, em função da sua importância na aquisição das competências orais e auditivas necessárias no processo comunicativo. Partindo da ideia de que aprendemos uma língua para poder utilizá-la, é inegável que, de forma a usá-la bem, precisamos abordar tanto os seus aspectos gramaticais como os orais, isto é, os fonético-fonológicos (FELIPE, 2019). É importante lembrar que o ensino de língua, em meados da década de 1970, pautava-se no estudo isolado de formas gramaticais e era distante do enfoque comunicativo. Desse modo, ensinar a pronúncia, por exemplo, era uma atividade desestimulante, pautada na aproximação da pronúncia a um falante nativo. Imagine o quão desesperador é aprender uma língua com o objetivo de pronunciar igual àqueles que a têm como língua materna. É claro que podemos, em uma aula, abordar a pronúncia e tentar aproximá-la a um nativo; no entanto, devemos nos preocupar com outros 87 aspectos mais válidos, como ler e compreender diferentes tipos de texto, conseguir se comunicar em diferentes esferas, compreender diferentes sotaques, etc (FELIPE, 2019). Dentro da história, a fonética passou a ser estudada muito antes do que imaginamos. Já na Antiguidade, por exemplo, os gregos e os romanos demonstravam uma curiosidade sobre aquilo que hoje já distinguimos: a letra versus o fone. No entanto, segundo Borstel, Klein e Hitz (2002), a grafia ainda era extremamente influenciada pela maneira como se falava. Eles exemplificam essa visão em seu trabalho: Exemplifica-se com um fragmento de um texto arcaico de Vasconcelos sobre o português escrito, provavelmente, do século XIII ou XIV: “Lenda do Rrey Leyr – Este rrey Leyr nom ouue fi lho, mas ouue três fi lhas muy fermosas e amaua-as muito. E huum dia ouue sas rrazõoes com ellas e disse-lhes que lhe dissessem verdade, qual dêllas o amaua mais...” (VASCONCELOS, 1970, p. 40, apud BORSTEL; KLEIN, HITZ, 2002, p. 356). A fonética passou a ter reconhecimento nos estudos da língua a partir do século XVII, com as pesquisas da fonética articulatória. No século XIX, conceituou-se a fonética mais claramente, observando-a e comparando-a às demais línguas — surgiu, assim, a conhecida “Lei de Grimm”, uma evolução de algumas consoantes nas línguas germânicas (FELIPE, 2019). Após esse avanço, muitos estudos pontuam que, antes de um professor de língua ensinar a escrita, por exemplo, é imprescindível que o aluno entre em contato com os aspectos fonéticos que remetem à audição e à oralidade. Diferentemente do que constatamos no passado, hoje a fonética tem espaço importantíssimo nas aulas de língua, visto que entendemos que, para uma aprendizagem efetiva, é necessária a mobilização de quatro habilidades linguísticas: ler e escrever, ouvir e falar (FELIPE, 2019). Além dessas habilidades necessárias, é com o estudo da fonética em sala de aula que podemos refletir sobre alguns estigmas internalizados no ensino de língua, oriundos do preconceito linguístico. Em contraste com a língua portuguesa, em que o português brasileiro por vezes é visto como uma língua não correspondente ao português de Portugal, o espanhol é regido e normatizado de forma unificada pela Real Academia Española (RAE). Surgida em meados de 1700, essa instituição se responsabilizapor alimentar, até hoje, tudo o que se refere à língua espanhola, como variações fonético- 88 fonológicas e lexicais, novas entradas lexicais, etc. É importante notar que a RAE não tem uma referência específica, pois há 21 academias — dos 21 países falantes de espanhol — trabalhando a serviço do espanhol, sendo, portanto, representante de no mínimo 21 variedades da língua. Dessa forma, o espanhol nos é apresentado como uma língua falada em diversos países, mas com variações específicas (FELIPE, 2019). Assim, quando abordamos em sala de aula como é a pronúncia de determinada palavra na Espanha e na América, estamos desmistificando o preconceito ainda existente de que apenas um espanhol é “certo”, e que exclusivamente este deve ser ensinado em sala de aula. Desse modo, a fonética colabora também, no estudo da língua, para acompanharmos os diferentes modos de falar em diferentes regiões hispanohablantes. Logo, ela permite também que estudemos aspectos interculturais importantes que caracterizam a língua (FELIPE, 2019). 24 DIFERENTES PRONÚNCIAS DA LÍNGUA ESPANHOLA A PARTIR DA ANÁLISE FONÉTICA Conforme o contexto social, histórico e geográfi co, a língua se modifi ca e apresenta inúmeras variações, vistas na pronúncia, no léxico, na sintaxe, etc. A partir da 89 análise fonética, podemos averiguar os diversos modos de pronunciar a língua espanhola pelo mundo. Vamos primeiramente estudar o alfabeto da língua espanhola (Quadro 1) e, a partir dele, aprofundar o nosso conhecimento acerca das pronúncias realizadas pelos falantes (FELIPE, 2019). A letras que estão marcadas em negrito no quadro apresentam variações nos 21 países de fala espanhola. Por exemplo, na Espanha, a letra “Z”, diante de “A” “O” e “U” (za, zo e zu), é pronunciada com o fonema [θ] (visto no th de think em inglês), como em zapato [ θa 'pa to ]. Já na América, a mesma palavra é falada com outro alofone: a pronúncia é [ sa 'pa to ]. Esse caso ocorre também com a letra “C”, diante de “E” e “I” (ce e ci), como em cielo. Na Espanha, a pronúncia é [ 'θje lo ]; na América, é [ sje lo ] (FELIPE, 2019). Além dos exemplos mencionados acima, a principal diferença entre os países latinos se configura na pronúncia das letras “LL” e “Y”. Veja o Quadro 2 (FELIPE, 2019). 90 Como você pôde perceber, falar espanhol corresponde não somente a conseguir se comunicar, mas também a mergulhar em diferentes universos sociais e linguísticos. O nosso papel como professores perpassa o ensino formal desse idioma: devemos conscientizar os nossos alunos de que o sotaque escolhido será reconhecido em qualquer canto do universo. Nesse sentido, a RAE cumpre bem o seu papel de respeitar 91 todas as variantes, fazendo com que elas formem essa unidade linguística e cultural heterogênea que é a língua espanhola (FELIPE, 2019). 25 ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA As línguas são sistemas vivos e estão em constantes modificações. Essas modificações levam ao surgimento de variação linguística, isto é, diversificação de aspectos da língua, como vocabulário, pronúncia e questões sintáticas e morfológicas. Você conhece variações da língua espanhola? Já percebeu os elementos que estão associados a elas? 25.1 Definição Ao realizar estudos sobre uma língua, pretende-se analisar questões próprias de um sistema de comunicação utilizado por um grupo, de determinada região. Para estudar a língua espanhola, é preciso observar o sistema utilizado em mais de uma região, por mais de um grupo regional e até mesmo por mais de um grupo social. Afi nal, o espanhol é o idioma ofi cial de 21 países, os quais pertencem inclusive a três continentes diferentes (BIZELLO, 2019). Para entender melhor como esse processo funciona, vamos recorrer à definição de língua apresentada pelo dicionário on-line da Real Academia Española (RAE): […] 2. f. Sistema de comunicación verbal propio de una comunidad humana y que cuenta generalmente con escritura. 3. f. Sistema lingüístico considerado en su estructura. 4. f. Vocabulario y gramática propios y característicos de una época, de un escritor o de un grupo social. La lengua de Góngora. La lengua gauchesca (LENGUA, 2018, documento on-line). Note que, nas definições apresentadas, de forma geral, há uma menção à comunidade ou à sociedade, isto é, aos falantes/usuários da língua. Esses usuários são os responsáveis pelas pequenas modificações que são incorporadas a esse sistema. Isso ocorre porque a língua não é um sistema imutável e homogêneo como muitos acreditam: a mudança linguística é contínua, gradual e dinâmica (BIZELLO, 2019). 92 Essa crença na imutabilidade da língua se deve a várias questões, mas certamente um fator de peso é o conjunto de regras estabelecidas pelas gramáticas normativas. Essas normas, porém, não visam eliminar as diferenças linguísticas existentes entre uma mesma comunidade de falantes, e sim determinar orientações a um modelo para a escrita, o qual geralmente é tratado com mais prestígio e valorização (BIZELLO, 2019). No entanto, como a língua é um sistema vivo, essas normas não impedem que transformações ocorram — principalmente aquelas que não modificam a espinha dorsal da língua. Essa constatação revela que a língua é um sistema heterogêneo e diversificado. Você já pensou por que isso acontece? Simples: todas as comunidades linguísticas passam por variadas experiências (sociais, políticas, históricas, culturais), que interferem no comportamento linguístico dos seus componentes. Essas interferências geram a chamada variação linguística (BIZELLO, 2019). Segundo o Diccionario de términos clave de ELE, elaborado pelo Centro Virtual del Instituto Cervantes, o termo variedad lingüística (2018, documento on-line) refere- se a: La diversidad de usos de una misma lengua según la situación comunicativa, geográfica o histórica en que se emplea y según el nivel de conocimiento lingüístico de quien la utiliza. Así pues, em función de la variable que interviene, se distinguen cuatro tipos de variedades: las variedades funcionales o diafásicas, las variedades socioculturales o diastráticas, las variedades geográficas o diatópicas y las variedades históricas o diacrónicas. Portanto, as línguas variam no tempo (gerações diferentes podem revelar variações diferentes), no espaço (países cuja língua oficial é a mesma podem apresentar variações), na sociedade (pessoas de classes sociais diferentes podem utilizar variações 93 diferentes) e na situação (o mesmo falante pode utilizar expressões mais formais ou informais, de acordo com a situação) (BIZELLO, 2019). O surgimento dessas variedades se deve à chamada interacción lingüística (GODENZZI, 2007). Esse conceito descreve as relações que se estabelecem entre duas variedades em um espaço geográfico e social determinado e define o processo do bilinguismo social, ou seja, ratifica a existência de usos alternantes de línguas, de acordo com a situação. De acordo com Durán y Ramos (1989, p. 97), “El habla, el contacto lingüístico y las características sociolingüísticas de los pueblos son determinados por hechos históricos de naturaleza sociocultural”. Entretanto, as variedades linguísticas não surgem aleatoriamente. A ação comunicativa está associada com vários aspectos ideológicos, sociais e culturais, os quais serão determinantes na participação de um falante em um grupo social. Portanto, a variedade costuma responder às necessidades comunicativas (BIZELLO, 2019). Os textos escritos costumam empregar a variedade padrão: a língua espanhola de Madrid. Assim, mesmo nas reportagens regionais, é comum o uso da variedade utilizada onde surgiu o espanhol. Um exemplo de variação é a palavra bus: os colombianos usam-na na linguagem informal para designar ônibus. O exemplo a seguir analisa essa variação (BIZELLO, 2019). 9495 26 DIFERENTES VARIAÇÕES DA LÍNGUA ESPANHOLA O espanhol é uma língua nativa falada por mais de 480 milhões de pessoas, espalhadas por vários países. Essa língua é considerada homogênea, pois compartilha um sistema alfabético simples, um léxico comum e uma sintaxe básica, e não apresenta obstáculos para que esses falantes se comuniquem com efi ciência. Todavia, uma análise mais cautelosa revela algumas variedades (BIZELLO, 2019). Assim como ocorre, por exemplo, com a língua portuguesa no Brasil, a língua espanhola é falada de diferentes formas, conforme a região do falante e a situação de comunicação. Conforme alerta Moreno Fernández (2010, p. 24): La variación lingüística consiste em la alternancia […] de unos elementos que cumplen unas mismas funciones, responden a una misma intención comunicativa y ocupan unos mismos espacios lingüísticos, em cualquiera de los niveles que conforman la lengua. Observe como isso ocorre nas expressões usadas para falar ao telefone. No Uruguai, atende-se uma chamada falando ¡Hola! ¿Quién habla? O termo descolgar significa atender ao telefone, e teléfono portátil é celular. Já a expressão “Quer deixar recado?” é construída assim: ¿Quieres dejar algo dicho?. Na Espanha, para coger ou atender el telefono, fala-se ¡Dígame!. Para perguntar se a pessoa quer deixar recado, usa-se ¿Quieres dejar un recado?. O termo usado para celular é teléfono movil ou portátil. Na Argentina, atende-se ou se agarra el teléfono com ¡Hola! ou ¿Sí?, e se usa um movil, um movicón ou um Motorola (termos usados para celular). Na Colômbia, para colgar el teléfono, diz-se ¡Aló! ¡A ver! O termo usado para celular é teléfono celular. Em Cuba, para coger el teléfono, diz-se ¡Oigo! ¿Sí? ¡Diga!, e também se usa teléfono celular. No Chile se colga el telefono com ¡Aló! e se diz teléfono celular (BIZELLO, 2019). Essa diversidade de formas de comunicação surge também no vocabulário. Observe algumas palavras que aparecem no portal Descubra o mundo em intercâmbio. Na Colômbia, chamam Papai Noel de Papá Noel; no México e na América Central, Santa Claus; no Chile, Viejito Pascuero. Pipoca é chamada de rositas em Cuba, pipoca na Bolívia, pó no Uruguai, cabrita no Chile, cotufa na Venezuela, canchita ou popcor no Peru, 96 crispetas na Colômbia, pochoclo na Argentina e palomitas no México. Banqueta (México), vereda (Argentina) e acera (Espanha) designam calçada (BIZELLO, 2019). As diferenças se estendem para palavras de vestuário. Veja a seguir algumas diferenças lexicais (BIZELLO, 2019). Saia: falda (Espanha, Chile, México, Uruguai e Venezuela) e pollera (Chile, Argentina e Uruguai). Camiseta: camiseta (Espanha, México e Uruguai), remera (Argentina e Uruguai), chomba (Argentina), polera (Chile), franela (Venezuela), buzo (Uruguai). Calcinhas: bragas (Espanha), bombachas (Argentina e Uruguai), calzones (Chile e México), pantaletas (México e Venezuela), blumer (Venezuela). Sutiã: sostén (Espanha, Chile, Uruguai e Venezuela), sutién ou soutién (Argentina e Uruguai), corpiño (Argentina e Uruguai), brassiere (México e Venezuela), brassier ou brasier (México), sujetador (Espanha). Jaqueta de frio: cazadora (Espanha), campera (Argentina e Uruguai), casaca (Chile), chamarra (México), chaqueta (Venezuela). Bife: filete (Espanha), bife (Argentina e Uruguai), bistec (Espanha, Chile, México e Venezuela), beaf-steak (Chile), churrasco (Uruguai). Quando se observam situações informais, as diferenças se acentuam: estar de ressaca, na Espanha, é tener resaca; no México, tener cruda; na Colômbia, tener guayabo; no Chile, tener caña. Também se notam variedades na expressão “isso é legal”: 97 na Espanha, é esto mola; no México, está chido; na República Dominicana, esto tá; em Porto Rico, está chévere; na Colômbia, está bacano (BIZELLO, 2019). No café da manhã, você encontrará mantequilla na Espanha, no Chile, no México e na Venezuela, e manteca na Argentina e no Uruguai. O pão de forma é pan de molde na Espanha, no Chile e no Uruguai; pan de miga na Argentina; pan bimbo no México; e pan cuadrado na Venezuela (BIZELLO, 2019). As diferenças se evidenciam na fonética: as pronúncias do /s/, do /x/ e do /y/ são as que mais diferem. Na Espanha, as letras c (seguida de e e i) e z são pronunciadas com a língua entre os dentes, ou seja, com fonema fricativo interdental surdo. Já na América, essas mesmas letras são pronunciadas da mesma forma que a letra s, isto é, com fonema fricativo palatal surdo. Nesse sentido, para os espanhóis, há diferença no som das palavras ciento e siento; já na pronúncia americana, não há distinções, então a percepção do sentido se dá no contexto. Quanto à pronúncia da letra s, há ainda mais possibilidades: na região do Rio da Prata, na América, ela pode ser aspirada quando aparece antes de consoantes; na Andaluzia, na Espanha, pode ser eliminada da fala em qualquer palavra, desde que seja a última da sílaba. Nessa região da Europa, é comum a supressão de fonemas, o que também revela as variedades linguísticas fonéticas (BIZELLO, 2019). O dígrafo ll é pronunciado na Espanha com som do lh do português, isto é, com fonema lateral palatal sonoro. Já na América, pode ser pronunciado com som de ch (fonema fricativo palatal surdo), com som de j (fricativo palatal sonoro), com som de dz (fricativo alveolopalatal sonoro) — as duas primeiras possibilidades são mais comuns na região do Rio da Prata. Na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, a pronúncia do dígrafo ll costuma coincidir com a da letra y. Assim, não há diferença na expressão das letras iniciais de yo e llamo. Contudo, no restante da América também existe a possibilidade de as duas letras serem pronunciadas com fonema fricativo alveolopalatal sonoro. Já na Espanha, a letra y é pronunciada como fonema vocálico (BIZELLO, 2019). É fácil encontrar a influência das línguas nativas no vocabulário dos dialetos latino-americanos. O uso da segunda pessoa, seja no singular ou no plural, apresenta contrastes significativos nos dialetos espanhóis, variando até mesmo as conjugações verbais. Na região do Rio da Prata, principalmente na Argentina, usa-se o voseo: uso do 98 pronome vos no lugar de tú. O uso desse pronome de tratamento altera também a conjugação: no presente do indicativo e no imperativo afirmativo, os verbos são flexionados de forma diferente à da segunda pessoa do singular. Veja um exemplo: Presente: Vos querés x Tú quieres Imperativo: Vos hablás x Tú hablas As disparidades ocorrem no próprio território espanhol, que é dividido entre os dialetos falados nas regiões da Andaluzia, das Ilhas Canárias, da Galícia e de Castela — este último é o adotado para a padronização da língua. As diferenças principais localizam- se na pronúncia das vogais e no vocabulário. Já na América Latina, muitas variações da língua têm relação com as línguas nativas indígenas e com a imigração europeia para a região (BIZELLO, 2019). Em resumo, as principais variações linguísticas da língua espanhola estão associadas ao lugar de origem do falante. Entretanto, há diferentes elementos que provocam as variedades, como você verá na próxima seção. 27 ELEMENTOS HISTÓRICOS, GEOGRÁFICOS E SOCIAIS ASSOCIADOS À VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Quem usa e observa a língua espanhola constata frequentemente que nem todos os falantes utilizam a língua da mesma maneira, isto é, nem todos usam a mesma variedade linguística. Além disso, sabe-se que o espanhol atual não é o mesmo falado na Espanha no século XV, por exemplo, quando houve a conquista da América. Da mesma forma, constata-se que o falante uruguaio não usa a mesma variedade que o peruano, ou que o peruano não fala como o caribenho, e assim por diante. Evidencia-se, portanto, que é possível identifi car a origem do falante apenas pela observação sobre a sua fala. Isso signifi ca que os falantesusam traços iguais, que identifi cam a língua, mas esta permite uma flexibilidade (BIZELLO, 2019). A variação linguística pode se manifestar em diferentes níveis da língua: fonético, lexical e gramatical. Geralmente, o léxico é a parte que mais apresenta variações; são 99 poucas as alterações de nível fonético e gramatical. Entretanto, as variações de todos os níveis podem estar associadas a diferentes elementos: históricos, geográficos e sociais. De acordo com o Centro Virtual Cervantes (VARIACIÓN LINGÜÍSTICA, 2018, documento on-line): En cuanto a los tipos de variación, se distinguen, por un lado, las variaciones determinadas por las características personales de quien emplea la lengua y, por otro lado, las variaciones condicionadas por factores del contexto: - La variación lingüística relacionada con el usuario tiene que ver con la interrelación entre variedad lingüística y características del hablante. - Según su origen geográfico, se distingue entre dialectos o variedades diatópicas. - Según su formación cultural, se establecen distintos niveles de lengua o variedades diastráticas. - Según su edad o profesión, se distingue entre jergas o lenguas especiales. - La variación lingüística determinada por el contexto de uso caracteriza los distintos registros de lengua, también llamados variedades funcionales o diafásicas. Dessa forma, o elemento geográfico faz parte da variedade diatópica que costuma ser associada aos dialetos. No caso do espanhol, costuma-se dividir as zonas de fala em dois grandes blocos: o europeu e o americano. No entanto, nem o espanhol da Espanha, nem o espanhol da América são uniformes. Portanto, a variação linguística diatópica deve ser analisada em cada área que apresenta alguma uniformidade na variação. Assim, não se corre o risco de cair em generalizações extremas (BIZELLO, 2019). Os dados geográficos facilitam a compreensão do uso de variações, pois a proximidade com regiões de línguas diferentes, por exemplo, pode contribuir para a influência. Na Espanha, geralmente se dividem os dialetos em duas zonas: a centro-norte e a andaluza. Essa divisão está associada à própria história da língua espanhola, que nasceu da evolução do latim perto da região onde hoje se localiza Burgos, ou seja, no norte de Castela. A expansão para o sul, isto é, até Andaluzia, ocorreu séculos mais tarde. Veja no Quadro 1 algumas características do espanhol do centro-norte da Espanha (BIZELLO, 2019). 100 Na América, há ainda mais divisões dialetais, pois cada país foi colonizado em épocas diferentes e teve graus distintos de interferência da língua local. Segundo Cos Ruiz (2018, p. 339), as falas dos hispanohablantes da América podem ser divididas de acordo com a Figura 1. 101 Veja algumas diferenças significativas (BIZELLO, 2019). Todos os dialetos das Américas usam o yeísmo, à exceção do espanhol andino, que distingue o som de ll e y. No espanhol americano, há uma tendência à aspiração do fonema /s/ em final de sílaba, mas o México e a zona andina não seguem essa tendência. Na Costa Rica, na Guatemala e na zona andina, a vibrante múltipla é assibilada. No Caribe, é velarizada. No Caribe, as vogais são nasalizadas se estão perto de uma consoante nasal. No México e na zona andina, há uma tendência de as vogais tornarem-se a sílaba átona: todos [toas]. O voseo é típico da Argentina, mas é utilizado também no Uruguai e em algumas regiões da Bolívia, do Chile, da Colômbia e da Venezuela. 102 Na Venezuela e no Panamá, quando há sujeito preposto, é comum o uso de infinitivo depois de para: para yo poder venir. Outro elemento que constitui a variação é o aspecto social: são as chamadas variações diastráticas. Elas têm relação com o grau de formação e domínio da língua. Geralmente, são classificadas em nível alto ou culto (os recursos linguísticos são diversos e elaborados, e têm grande prestígio na sociedade); médio (o falante tem um conhecimento médio sobre o idioma) e baixo (pouco domínio da língua, por isso é considerado vulgar). Já as variedades diafásicas têm relação com o contexto ou com a situação de comunicação. As gírias são um exemplo desse tipo de variação (BIZELLO, 2019). O elemento histórico também influencia as variações. O uso atual de voseo tem as suas raízes em várias transformações anteriores. Por volta do século IV, vos era um pronome utilizado para dirigir-se a autoridades supremas, como os imperadores ou reis. Com a queda do Império Romano, esse pronome continuou a ser utilizado para grandes autoridades, como políticos, militares e religiosos. Nesse sentido, vos era mais formal e tú era utilizado para tratamento informal, ou seja, entre pessoas de mesmo nível. Depois da reconquista da Península Ibérica pelos reis católicos, houve várias modificações na língua, e uma delas foi que o tú seria o pronome de segunda pessoa do singular e o vos, o de segunda do plural. Com o tempo, essa forma de tratamento entrou em desuso e foi substituída por vuestramerced que, mais adiante, transformou-se em usted (BIZELLO, 2019). Outro exemplo da interferência histórica é o contato entre as línguas. Na América, por exemplo, há grande influência das línguas indígenas. Embora algumas dessas línguas indígenas tenham desaparecido com a chegada dos espanhóis, em outras regiões, os habitantes mantiveram os seus idiomas, uma vez que, fora das cidades de maior prestígio e poder espanhol, principalmente as cidades de mais difícil acesso, era mais fácil que os habitantes conseguissem manter as suas origens. Assim, o contato das comunidades de hispanohablantes com as comunidades indígenas favoreceu as variedades de acordo com o nível e a situação de contato (BIZELLO, 2019). 103 Dessa forma, constata-se que há diferentes elementos envolvidos na variação linguística do espanhol. Por mais que as alterações mais evidentes sejam as relacionadas às questões geográficas, é preciso considerar que há outros fatores de peso, como os elementos históricos e sociais, que impulsionam as modificações (BIZELLO, 2019). 104 REFERÊNCIA BÁSICA BATTISTI, E. Fonologia. In: SCHWINDT, L. C. (Org.). Manual de linguística: fonologia, morfologia e sintaxe. Petrópolis: Vozes, 2014. 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