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Aplicação da lei penal no tempo: Disciplina: direito penal 1 Estuda-se duas problemáticas: 1. Em que momento o crime se considera praticado; 2. Que a lei é a aplicável a determinado caso concreto em havendo sucessão de leis penais. Momento do crime (conduta) No que tange ao momento em que se considera que o crime foi praticado. - Art. 4º, CP: considera-se praticado o crime do momento da ação ou omissão ainda que outro seja o momento do resultado. Quanto ao tempo do crime, a teoria adotada pelo código penal é a teoria da atividade (teoria da ação). Em primeiro lugar, é no momento da conduta (ação ou omissão) que iremos verificar se os três elementos do crime estão presentes (princípio da coincidência ou congruência). - Exemplo: caso x, com intenção de matar, atire em y, ainda que y morra em outro momento, é no momento do disparo efetuado por x que a presença dos elementos do crime será analisada. Logo, caso x no momento do disparo possuísse idade inferior a 18 anos não haveria crime de homicídio, mas sim ato infracional, pois no momento da conduta o terceiro elemento do crime (culpabilidade) não estava presente. Assim, a ele será aplicado o ECA e não o Código Penal. Observação: os três elementos do crime são fato típico, antijurídico e culpável (culpabilidade). - Em se tratando de crime permanente, ou seja, crimes que se consumam em determinado momento, mas essa consumação se estende no tempo, como no caso do sequestro e cárcere privado, será considerada a idade do sujeito ativo no momento de cessação da permanência e não no momento de início desta. Observação: existem três momentos no crime permanente, o início da permanência, quando o crime se consuma; a duração da permanência, quando a consumação vai se elastecendo; e cessação da permanência, o elastecimento da consumação acaba. - Exemplo: x, então com 17 anos, sequestra y e o coloca em cárcere privado (início da permanência). Passados alguns meses, y é libertado e, neste momento (cessação da permanência) x já contava com 18 anos. Neste caso a idade considerada para fins penais será a do momento de cessação da permanência, ou seja, 18 anos. x terá cometido crime e a ele será aplicado o código penal. Sucessão das leis penais Princípio da continuidade das leis (Art. 2º, LINDB): não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. O que é sucessão de leis penais? Aplicação da lei penal no tempo: Disciplina: direito penal 1 É um fato de uma nova lei penal entrar em vigor revogando uma lei penal antiga. Ou seja, quando uma lei é sucedida por outra, tendo a lei nova revogando uma lei antiga. Há presença de uma lei revogadora e uma lei revogada. Ocorrendo a sucessão de leis penais, qual lei será aplicável em determinado caso concreto? A regra é o tempus regit actum: lei do tempo, desde que ainda esteja vigente, rege o ato. Assim, se uma lei penal está em vigor hoje, e eu pratico um fato hoje, meu fato é regido pela lei penal que está em vigor hoje. Quais as exceções para essa regra? É possível que uma lei penal retroaja, se aplicando para fatos que aconteceram antes de ela existir; ou ultra-aja, quando uma lei que já foi revogada, continue a reger determinado fato que se deu a seu tempo mesmo após haver sido revogada. Assim, essa exceção à regra do tempus regit actum é condicionada ao fato de que só pode ocorrer quando for para beneficiar determinado réu em determinado caso concreto. A lei penal mais benéfica ao réu é dotada de extra atividade, ou seja, possibilidade de retroagir ou ultra-agir desde que para beneficiar o réu. Assim, ou ela será aplicada para fatos que aconteceram antes dela, ou ela mesmo revogada vai continuar a ser aplicada para fotos que aconteceram durante sua vigência. A nova lei penal pode prejudicar ou beneficiar o réu. Assim, caso a lei nova seja melhor do que a antiga, ela retroagirá e a antiga, por ser pior, não ultra-agirá; e caso a lei nova seja pior, ela não retroagirá e a antiga, por ser melhor, ultra-agirá. Caso a nova lei penal deixe de considerar criminosa determinada conduta, temos o que se conhece por abolitio criminis. Assim, são cessados todos os efeitos penais. Porém extrapenais (civis ou administrativos) permanecem. Abolitio Criminis versus Continuidade Normativo-típica Em ambos ocorre a revogação de um tipo penal. Assim, existem dois tipos de revogação: a) Formal: tipo penal é retirado da lei; b) Material: aquela conduta que foi retirada formalmente do tipo penal, deixa de ser considerada criminosa pelo legislador (descriminaliza). Abolitio Criminis: a revogação do tipo penal é formal e também material, como no caso do adultério. Continuidade Normativo-Típica: a revogação do tipo penal é somente formal, ou seja, o tipo penal é retirado da lei, mas a conduta continua a Aplicação da lei penal no tempo: Disciplina: direito penal 1 ser considerada criminosa pelo legislador através de outro tipo penal, como no caso do atentado violento ao pudor. Casos especiais No brasil, a regra é a continuidade das leis, ou seja, quando uma lei entra em vigor no brasil a regra é que ela permaneça em vigor indefinidamente. A regra é que ela só perca a sua vigência se uma nova lei entrar em vigor retirando a sua vigência. As exceções são: a) Leis excepcionais e leis temporárias: entram em vigor para vigorar durante determinado período, de circunstâncias (leis excepcionais) e de tempo (leis temporárias). Assim, quando termina o período excepcional ou temporário a lei se auto-revoga, ou seja, ela não precisa que uma nova lei a retire do ordenamento, ela sai sozinha, pois elas são autorrevogáveis e ultra-ativas (continuarão a surtir efeitos para os fatos que acontecerem durante sua vigência mesmo após o término de sua existência). Leis excepcionais: tem data de início de vigência, mas não de término, vigorando durante todo o período de excepcionalidade; Leis temporárias: tem data de início e data de término de vigência. b) Sucessão de leis penais em caso de crime continuado ou crime permanente: - Súmula 711, STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Ou seja, nos casos de crime permanente e de crime continuado, tendo havido sucessão de leis penais após o início da conduta, a nova lei penal será aplicável sempre que ela seja a que esteja em vigor quando do momento de cessação da permanência ou da continuidade, independentemente se mais grave ou mais benéfica à lei do momento de início da conduta. c) Lei intermediária: Ocorre quando em determinado caso concreto, tendo havido sucessão de leis penais, a lei aplicável ao caso nem é a lei que vigorava quando da prática da conduta e nem é a lei que atualmente vigora, é a lei do meio, a que ficou entre as duas. - Assim, Sempre que uma nova lei penal revoga a antiga é necessário comparar as duas para ver qual é a melhor. - Exemplo: a lei vigente à época da conduta era a lei x, a qual previa dita conduta como criminosa. Após a conduta, entrou em vigor a lei y, a qual descriminalizou a conduta. Se neste momento a lei y (nova) é melhor que a lei x (antiga), retroagirá. Entretanto entrou em vigor a lei z, que voltou a criminalizar aquela conduta, se neste momento a lei z (nova) é pior que a lei y (antiga), não poderá retroagir, sendo caso, então, da lei y precisar ultra-agir.
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