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ANEMIA INFECCIOSA EQUINA (AIE) ❖ É uma epizootia (atinge apenas os animais, sendo transmissível de animal para animal, afetando os equídeos (equinos, asininos e muares) ❖ É uma infecção persistente (causada por um retrovírus), ou seja, o animal é permanentemente infectado, podendo ser assintomático, mas estará sempre com o agente etiológico no organismo ❖ Provoca anemia (significa que a quantidade de hemácias e hemoglobina estão diminuídas, o que faz com que não haja transporte de O2 suficiente) ❖ Afeta a capacidade de trabalho dos animais (o trabalho exige gasto de energia para ter deslocamento, então se não há como gastar energia a capacidade é afetada) ❖ Leva a proibição de trânsito e comércio dos animais infectados (doença de notificação obrigatória para a Organização Mundial de Saúde Animal) ❖ No Brasil é uma doença controlada (é possível erradica-la, mas é preciso investimentos no diagnostico dos animais infectados e o principal método de controle é a eliminação dos positivos para a doença) ETIOLOGIA ➢ É um RNA de fita simples não complementar (os retrovírus têm, no geral, um curso de vida longo, pois muitas vezes são incorporados e ficam reativos - o DNA é incorporado, mas não gera replicação, porém, quando isso ocorre e o DNA volta a fazer RNA e este passa ao citosol e é utilizado para a tradução das proteínas virais começa a manifestar de forma clinica, pois nesse momento que as infecções passam a ser “enxergadas” pelo sistema imune) → Quando as infecções por retrovírus são ativadas e passam a se replicar com o surgimento de novos vírus o sistema imune começa a enxergar essa infecção produzindo anticorpos e ativando células da imunidade, mas ao fazer isso, acaba agredindo o próprio organismo → Passa-se a entender, portanto, que, no caso das anemias, não é o vírus que causa o rompimento das hemácias, mas sim a resposta imune feita contra ele que acaba atingindo-as ➢ É pleomórfico na microscopia eletrônica (pode ter mais de 1 forma, indo de esférica a ovalada) ➢ É um vírus envelopado (são menos resistentes, pis podem sofrer facilmente ações de detergentes, sendo facilmente desestruturados) TAXONOMIA ➢ Família Retroviridae, subfamília Orthoretrovirinae, gênero Lentivirus (pois o curso da doença é lento) ESTRUTURA → Glicoproteína 45 e 90: possuem alta taxa de mutação do seu DNA e com isso geram muita variabilidade viral impedindo o desenvolvimento de vacinas Sua presença na superfície do vírus é também importante para interagirem com, principalmente, macrófagos ou células da mesma linhagem dele, como células da glia, etc. → Transcriptase reversa: enzima que faz a síntese de DNA a partir do RNA viral → Embora seja um RNA de fita simples, o que se encontra dentro da estrutura do vírus são 2 fitas de RNA fita simples de 8,2Kpb (dentro desse RNA existem 3 genes principais) → Possui dupla camada lipídica formando o envoltório, que é derivada da célula do hospedeiro de onde o vírus se replicou (essa derivação tem também proteínas, então quando o organismo vai fazer uma resposta ao vírus, ele acaba fazendo também uma resposta a componentes de membrana da célula do próprio hospedeiro – esse é o problema dos vírus com envoltório rígido) → Os 3 principais genes são GAG, POL e ENV, sendo que dentro do POL há o gene precursor que gera informação para a transcriptase reversa, no ENV estão as glicoproteínas sofrendo alta taxa de mutação, sendo um problema na elaboração de vacinas CÉLULAS ALVO: monócitos (a medula), macrófagos (nos tecidos de maneira geral) e células da derme (principalmente células de Langherans e macrófagos) SENSIBILIDADE: sensível a desinfetantes comuns RESISTÊNCIA: 100ºC por 15 minutos e luz solar por varias horas TRANSMISSÃO ➢ Transmissão horizontal: lança mão de 2 métodos principais, além da transmissão venérea → Vetores artrópodes (insetos hematófagos): tabanídeos são os principais, além de Stomoxys calcitrans, Chrysops e Hybromitra, que fazem o repasto sanguíneo picando o animal infectado e logo depois picam o animal saudável, transmitindo a ele Vetores: Tabanus sp. – mosca dos cavalos, mutuca, tabanídeos, várias espécies → Forma iatrogênica: reaproveitamento de equipamentos contaminados com sangue ➢ Transmissão vertical: via transplacentária, pela ingestão do colostro (que não é rico apenas em anticorpos, mas também em células) ou pela ingestão do leite ➢ Um animal infectado contendo o vírus próximo a animais não infectados e se houver o vetor fazendo o repasto em um animal infectado e em seguida em um não infectado, ele irá transmitir para este animal e, o que pode acontecer com o infectado é: → 1ª situação: desenvolvimento de uma infecção inaparente (sem identificação clinica – ocorre com 95% dos animais) → 2ª situação: o animal começa a apresentar estados febris leves e um emagrecimento progressivo à longo prazo (infecção crônica) → 3ª situação: manifestação aguda, sendo que o animal tem picos febris, icterícia (eventualmente), presença de petéquias na mucosa, mas depois tende a sair desse quadro e ir para o crônico ➢ Não é uma doença que infecta muito o rebanho, pois a própria forma de disseminação dificulta sua transmissão (não é por secreção, ar, água, etc., devendo haver troca de sangue e transporte de células) – por isso a morbidade e a letalidade são baixas EPIDEMIOLOGIA: tem distribuição mundial, mas é mais comum em regiões tropicais e subtropicais por conta do vetor que fica concentrado nessas áreas, sendo que no Brasil 2 regiões são as mais acometidas (Vale do Ribeira e Pantanal) PATOGENIA ➢ Período de incubação de 3-70 dias (lentivirus), de curso variável e morte em alguns casos agudos (de animais jovens) ➢ Curso da doença: infecção dos animais, infecções de células como os macrófagos, sendo que ela consegue fechar o ciclo celular e faz a viremia, há replicação e o vírus vai para o meio extracelular, o sistema imune consegue enxergar o vírus e é ativado iniciando os sinais clínicos, principalmente a anemia (antes achava-se que ela ocorria apenas pela destruição de hemácias, mas também por uma aplasia de medula óssea → Quando os macrófagos são atingidos, dentro deles é feita a viremia e a partir do macrófago inicial se espalha para os restantes presentes no organismo, atingindo órgãos e comprometendo a imunidade, mas não é uma doença tão imunossupressora como a AIDS nos seres humanos (é erroneamente chamada de AIDS equina, mas não provoca destruição de linfócitos T como ela, mas sim compromete macrófagos ➢ Ciclo celular: uma vez que entra na célula, dentro dela começa a liberar suas enzimas, desencapsula, faz ativação da transcriptase reversa e produz DNA no citoplasma, que migra ao núcleo e é incorporado e assim, começa a produzir o RNA viral, que é utilizado para a produção das proteínas virais e, aproveitando componentes da própria célula hospedeira, principalmente membrana, faz o brotamento → Após o brotamento cai no meio extracelular e na corrente sanguínea (viremia) e o sistema imune passa a enxergar com mais frequência → Através das glicoproteínas o vírus se liga a receptores na célula do hospedeiro (monócito), lança seu conteúdo, o RNA viral é liberado e as enzimas são ativadas, é produzido o DNA viral que entra dentro no núcleo das células do hospedeiro, onde é incorporado, passando a ser transcrito gerando fitas de RNA viral que serão traduzidas em proteínas formando novamente a estrutura do capsídeo viral que vai em direção à membrana, se associa com componentes da membranas (lipídeos e algumas lipoproteínas do hospedeiro) e forma novamente o vírus fora do meio extracelular, ocorrendo brotamento e nesse momento há ativação dos sistema imune → A ativação do sistema imune só ocorre quando há viremia e brotamento SINAIS CLÍNICOS ➢ Etapa aguda: onde começa a manifestação clinica, com quadro de hipertermia(febre) e, com esses picos, o animal começa a ter destruição das barreiras circulantes e o animal passa a ter predisposição a hemorragias petequiais, icterícia (em função da grande destruição de hemácias - menos comum, mas pode ocorrer) e edema em alguns casos (pois pode haver comprometimento do fígado, diminuindo a produção de albumina, extravasando líquidos para o tecido conjuntivo) → Nesta fase há febre de até 41ºC, sem soroconversão, sendo a manifestação fetal rara (5%) e progressão para a fase crônica (95%) ➢ Etapa crônica: tem duração de mês até 1 ano com ciclos recorrentes de viremia (3-5 dias) ocorrendo episódios de hipertermia mais espaçados (cada episódio de febre é em consequência da viremia), além de anorexia, anemia, hemorragia, diarreia, letargia, intolerância ao exercício e emagrecimento ➢ Etapa inaparente: há pouco ou nenhum sinal clinico (animal aparentemente sadio), sendo que eles podem retornar por estresse ou pelo uso de drogas imunossupressoras (dessa forma o vírus se replica e faz viremia) DIAGNÓSTICO ➢ Clínico (febre, hemorragia, petéquias - suspeita) ➢ Epidemiológico (casos na região) ➢ Anatomopatológico ➢ Laboratorial (histopatológico, patologia clinica e imunológico) → Patologia clínica: verificação de anemia (baixa quantidade de hematócritos), trombocitopenia (menor nº de plaquetas), leucopenia (menor nº de linfócitos), linfocitose discreta → Imunológico: imunodifusão em gel de ágar (com soro, sendo ele reativo após 45 dias de infecção – se fizer ele antes disso certamente será negativo) ou ELISA ➢ Diferencial: Babesiose, Erlichiose, Púrpura hemorrágica, Helmintose, Anemia hemolítica autoimune (eritrose fetal – anticorpos maternos reagem com hemácias) PREVENÇÃO E CONTROLE ➢ Não reutilizar agulhas ➢ Controle de tabanídeos (evitar acumulo de dejetos) ➢ Quarentena (com realização de 2 exames com 30 e 60 dias) ➢ Controle de trânsito de animais pelo GTA, exames dentro do prazo de validade de 60 dias e certificação de propriedades (com certificado o prazo de validade passa a ser maior para as propriedades) ➢ Abate sanitário de animais reagentes ➢ Destinação adequada dos corpos dos animais sacrificados ➢ IN 17 do SDA do MAPA - 8 de maio de 2008
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