Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aluno: Letícia Pitoli Orientador: à designar “A superlotação carcerária e o COVID-19: Massacre aos direitos humanos.”. 1 – Apresentação do problema Não é nenhuma novidade que o sistema prisional brasileiro é demasiadamente falido, pois além da população carcerária ser muito maior que a sua capacidade, as condições básicas de vida em algumas das unidades prisionais são precárias, faltando condições mínimas de higiene, alimentação, assistência médica, dentre outros. Inclusive, sabe-se que no sul da América, o Brasil está no ranking com o título de país com maior população carcerária, tanto é que até o ano de 2016, esse número perfazia o quantum de 607.731 (seiscentos e sete mil, setecentos e trinta e um) presos (SEGARRA, 2019). Quanto ao cenário específico da pandemia do COVID-19, o Conselho Nacional de Justiça disponibilizou no último dia 03 de fevereiro, um boletim atualizado com informação quanto ao número de detentos infectados, e indicou que a marca perfaz 45.032 casos confirmados e 135 óbitos. Porém, não é só a população encarcerada que sofre com a superlotação carcerária e a defasagem do sistema quanto aos aspectos sanitários básicos de contenção do coronavírus. Os números apontados pelo Conselho Nacional de Justiça também mostram que 14.191 servidores públicos testaram positivo para o aludido vírus, bem como foram registrados 101 óbitos. Desta forma, bem se vê que o problema da precariedade do sistema carcerário não atinge apenas os detentos, mas também os servidores e demais prestadores de serviço e, consequentemente, seus familiares e terceiros que sequer possuem vivência com o cárcere. Nesta vertente, é cediço que os direitos humanos visam à proteção do ser humano como um todo, ou seja, de qualquer cidadão independentemente de seu status libertatis. Sendo assim, a problemática a ser discutida no trabalho de conclusão de curso a ser desenvolvido, objetiva focar nas violações dos direitos humanos (direito a vida, a integridade física, a dignidade da pessoa humana, dentre outros) propiciadas à população carcerária e à sociedade civil pela precariedade e superlotação dos presídios, agravada em face da pandemia do COVID-19. 2 – Justificativa da relevância do problema A situação caótica do sistema carcerário brasileiro sempre foi objeto de discussões acaloradas, seja pela sociedade civil ou mesmo pelos próprios operadores do direito. Fato é que, durante o quadro extraordinário de pandemia vivenciado pela sociedade civil, onde as condições de sobrevivência humana foram afetadas até no tocante a população extramuros, surgiu-se também a necessidade de se voltar os olhos aos indivíduos reclusos, os quais, como já dito, antes mesmo de qualquer quadro de pandemia, já comungam de tratamento precário e por vezes desumano. Desta forma, o ponto de crucial relevância do trabalho de conclusão de curso a ser desenvolvido, está no fato de que a problemática carcerária e a deficiência nas condições de vida desta massa populacional, sobretudo no atual e extraordinário cenário social, causam impactos sociais demasiadamente negativos aos próprios reclusos, mas também refletem direta e indiretamente na sociedade civil. 3 – Possíveis soluções, sugestões ou formas de enfrentamento do problema. Muito embora tenham sido redigidas algumas recomendações pelo Conselho Nacional de Justiça como forma de contenção do coronavírus dentro das unidades prisionais do país, v.g, a Recomendação nº 62, é certo que na vida prática o Poder Judiciário não está rigorosamente observando tais orientações, fazendo com que a massa carcerária continue aumentando cada dia mais e mais. Com efeito, se a própria sociedade em geral não está totalmente preparada para enfrentar uma problemática de tal magnitude, tampouco o Poder Judiciário. O maior problema da superlotação carcerária brasileira é a “má qualidade” no encarceramento, ou seja, utiliza-se da prisão, que deveria ser a ultima ratio, como a primeira das formas de repressão e, consequentemente, muitas infrações penais que poderiam ser suficientemente punidas com penas alternativas (como medidas restritivas de direito), acabam por receber a medida de constrição. Sobre o tema, SEGARRA (2019, p. 134) diz que: “Embora descobertos todos os malefícios da prisão, na história do sistema carcerário ela nunca foi encaminhada para uma ideia abolicionista. Pelo contrário, a partir do século XIX, a pena de prisão se converteu em principal resposta penalógica, pois acreditava-se que esse seria o meio para a ressocialização do delinquente. (...) As negativas e o desânimo com as prisões colocam-nos em uma posição afirmativa de que a prisão estaria em crise, bem como sua impossibilidade de algum efeito positivo sobre o apenado, seja ele absoluto ou relativo.”. Ora, a consequência direta do encarceramento desmedido, é obviamente a superlotação carcerária e o despreparo estatal para o fornecimento de tratamento digno e humano a estas pessoas, bem como a ineficácia da pena e consequentes violações à direitos essenciais à todo e qualquer ser humano. Desta forma, uma das possíveis soluções para esta problemática em longo prazo, seria o abrandamento da legislação penal em alguns aspectos relacionados à pena e a proporcionalidade das medidas constritivas, as quais devem ser decorrentes de prévios estudos de impacto social e de eficácia na redução da criminalidade. A curto e médio prazo, a solução mais plausível é o cumprimento fiel pelo Poder Judiciário das recomendações do Conselho Nacional de Justiça, utilizando-se prioritariamente do princípio da proporcionalidade para todos os pronunciamentos judiciais que envolvam o desencarceramento gradativo de um grupo específico de pessoas restritas de liberdade. 4- Referências utilizadas para a construção do projeto. BRAGA, Ana Gabriela. Plantão Unesp COVID-19: O impacto da pandemia no sistema prisional brasileiro. Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=m_ahO-D32oM <Acesso em 13/01/2021 às 21h33min.> CNJ. Evolução do número de casos e óbitos – Sistema Prisional. Gráfico disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Monitoramento- Casos-e-%C3%93bitos-Covid-19-1.2.21-Info.pdf <Acesso em 12/02/2021 às 17h38min.> IBCCRIM. A pandemia da COVID-19 nos sistemas prisional e socioeducativo brasileiros: entre narrativas, recomendações e realidades. Artigo disponível em: https://www.ibccrim.org.br/noticias/exibir/1016 <Acesso em 10/02/2021 às 14h13min.> http://www.youtube.com/watch?v=m_ahO-D32oM https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Monitoramento-Casos-e-%C3%93bitos-Covid-19-1.2.21-Info.pdf https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Monitoramento-Casos-e-%C3%93bitos-Covid-19-1.2.21-Info.pdf https://www.ibccrim.org.br/noticias/exibir/1016 SEGARRA, Gabriela. A utopia da ressocialização ante as mazelas do sistema carcerário: um olhar da criminologia. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro, 2019. Pág. 02.
Compartilhar