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5 - Historiando a Pedagogia da Alternncia e a EFASE_ Gilmar ANDRADE

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Entrelaçando 
Revista Eletrônica de Culturas e Educação 
N. 6 • V.2 • p. 61-72 • Ano III (2012) • Set.-Dez. • ISSN 2179.8443 
 
Caderno Temático V 
Educação, Escolas e Movimentos Sociais do/no Campo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTORIANDO A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E A 
ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA DO SERTÃO DA BAHIA 
 
 
Gilmar dos Santos Andrade1 
Edjane de Souza Andrade2 
 
 
RESUMO 
A Pedagogia da Alternância realizada pelas Escolas Famílias Agrícolas – EFA vêm se constituindo 
como uma das experiências mais exitosas em educação do campo. Este artigo busca apresentar 
elementos da história da Pedagogia da Alternância e da Escola Família Agrícola do Sertão – 
EFASE, com o objetivo de contribuir com a sistematização e socialização de experiências de 
educação do campo. Expondo as condições históricas para o surgimento da EFASE e os desafios e 
perspectivas para o próximo período. 
 
Palavras chave: Pedagogia da Alternância. Escola Família Agrícola. Educação do Campo. 
 
ABSTRACT 
The Pedagogy of Alternation conducted by Agricultural Family Schools - EFA come as constituting 
one of the most successful experiences in the field of education. This article seeks to present 
elements of the story and the Pedagogy of Alternation School Family Agricultural Hinterland - 
EFASE, aiming to contribute to the systematization of experiences and socialization of rural 
education. Exposing the historical conditions for the emergence of EFASE and the challenges and 
prospects for the next period. 
 
Keywords: Pedagogy of Alternation. Family Farm School. Field Education. 
 
 
 
1 Militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR), com formação em tecnologia em agroecologia (IFPR) e especialização 
em educação do campo (UFRB). Atualmente é monitor da Escola Família Agrícola do Sertão (EFASE). E-mail: 
gilmarpjr@gmail.com 
2 Militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR). Estudante de pedagogia (UNEB), educadora social. Foi educanda da 
primeira turma da EFASE. E-mail: edjanegil@gmail.com 
Historiando a Pedagogia da Alternância e a EFASE_ ANDRADE e ANDRADE 
 
 
Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.61-72 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 
 
62 
 
INTRODUÇÃO 
 
Existe um conjunto de experiências educacionais desenvolvidas pela classe trabalhadora, 
fomentadas principalmente a partir da segunda década do século passado, que vem se constituindo 
como importantes referencias para o processo de formação dos sujeitos sociais do campo. Dentre 
essas experiências exitosas encontra as Escolas Famílias Agrícolas - EFAs. 
Este trabalho tenciona apresentar elementos da história da Pedagogia da Alternância e da 
Escola Família Agrícola do Sertão – EFASE, com o objetivo de contribuir com a sistematização e 
socialização de experiências de educação do campo. 
Inicialmente é importante afirmar que as EFAs não são homogêneas no que concernem às 
práticas pedagógicas. Existe uma grande diversidade de experiências. A EFAs surgem a partir de 
demandas concretas nas mais variadas realidades, contudo, existem elementos comuns que as 
identificam. De acordo com Calvó (1999, p. 17) as características das EFAs são: 1º) uma 
metodologia pautada no princípio da alternância que integra o meio socioprofissional 
(família/comunidade) e o centro escolar; 2º) uma associação responsável nos diversos aspectos: 
econômicos, jurídicos, de gestão, etc.; 3º) a educação e a formação integral da pessoa e 
finalmente, 4º) o desenvolvimento do meio local através da formação de seus próprios atores. 
Essas características são consideradas condição sine quae non das EFAs. E, é a partir desses 
elementos comuns que buscaremos expor balizas constitutivas da pedagogia da alternância e da 
EFASE. 
Este trabalho está subdividido em duas partes. A primeira parte do trabalho traz um breve 
histórico da Pedagogia da Alternância no Brasil, apresentando as características e as fases de 
consolidação das EFAs. Na segunda parte abordamos as condições histórica do surgimento da 
Escola Famílias Agrícola do Sertão em Monte Santo - BA. Apresentando na sequencia os principais 
desafios e perspectivas da EFASE nesse novo momento. 
 
 
 
 
2. HISTORIANDO A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NO BRASIL 
 
Historiando a Pedagogia da Alternância e a EFASE_ ANDRADE e ANDRADE 
 
 
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Em relação à história da Pedagogia Alternância é importante ressaltar que o seu surgimento e 
suas bases constitutivas estão vinculadas à construção de uma proposta de educação inovadora, 
realizada pelos Centros Familiares de Formação por Alternância - CEFFAs3. 
Os CEFFAs não são homogêneos e tão poucos as correntes pedagógicas que orientam ou 
influência as práticas dessas experiências. Em decorrência, evidenciamos na literatura sobre o 
assunto, várias definições sobre a Pedagogia da Alternância. Todavia, concordamos com a definição 
feita por Gimonet (1999, p. 44-45) que a Pedagogia da Alternância significa: 
 
Alternância de tempo e de local de formação, ou seja, de períodos em situação sócio 
profissional e em situação escolar; 
[...] uma outra maneira de aprender, de se formar, associando teoria e prática, ação e 
reflexão, o empreender e o aprender dentro de um mesmo processo. A Alternância significa 
uma maneira de aprender pela vida, partindo da própria vida cotidiana, dos momentos de 
experiências colocando assim a experiência antes do conceito. A Pedagogia da Alternância, 
nos CEFFAs, dá a prioridade à experiência familiar, social, profissional, ao mesmo tempo 
como fonte de conhecimentos, ponto de partida e de chegada do processo de aprendizagem, 
e como caminho educativo (GIMONET, 1999, p. 44-45). 
 
O trajeto de construção da Pedagogia Alternância vinculado as EFAs tem aproximadamente 
80 anos. A primeira experiência de uma escola que utiliza a Pedagogia da Alternância teve inicio na 
França na década de 1930, com as “Maison Familiale Rurale” (MFR), ou Casa Familiar Rural. As 
MFR foram construídas a partir de um longo processo histórico dos movimentos sociais do campo, 
com forte inspiração democrática e Cristã. 
A Europa, nesse período pós 1ª guerra mundial, vivia uma efervescência de pensamentos 
liberais, socialistas, nacionalista e social cristão4. Os sujeitos sociais, camponeses e as lideranças 
 
3 De acordo com Begnami (2003, p. 104) a utilização da sigla CEFFA (Centro Familiar de Formação por 
Alternância) “é uma convenção acordada entre a União Nacional das Escolas família-Agrícola do Brasil – 
UNEFAB, Associação das Casas Familiares Rurais - ARCAFAR e o PROJOVEM. Este nome tem sido 
utilizado em comunicações, audiências com autoridades e documentos comuns apresentados a órgãos 
públicos pelas diversas instituições que utilizam a Pedagogia da Alternância no Brasil. Na verdade, o 
Brasil comporta uma série de experiências com denominações variadas, quais sejam: Escola Família 
Agrícola (EFA), Casa Familiar Rural (CFR), Escolas Comunitárias Rurais (ECOR), Escola Familiar Rural e 
Projovem”. A partir de agora ao utilizarmos Pedagogia da Alternância em referência as Escolas Famílias 
Agrícolas não usaremos o termo CEFFA. Isso porque não é objeto desse trabalho investigar as 
características especifica dessas experiências. 
4 Em 1891, o papa Leão XIII (1878-1903), sensibilizado pela “condição dos operários” lança a encíclica 
Rerum Novarum. Com esse documento a Igreja Católica ApostólicaRomana – ICAR assume a questão 
social. Nesse momento a questão agrária e a situação dos camponeses não constitui a preocupação 
principal da Igreja. Pouco depois o papa Pio XI (1922-1939), com a encíclica social Quadragesimo anno, 
contribui para o surgimento da Ação Católica Geral e na sequência com a Ação Católica Especializada. 
Esse é um período que a ação da Igreja vai de encontro à situação dos camponeses. A Ação Católica 
Especializada no Brasil vai ser fundamental na formação de lideranças e organização dos camponeses no 
período entre 1950 a 1970, principalmente a Juventude Agrária Católica - JAC (PJR, 2012, p. 5-6). 
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dos movimentos estavam diretamente ligados com o pensamento social e às propostas da 
democracia Cristã (BEGNAMI, 2003, p. 23). 
Nesse período houve uma grande contribuição dos setores progressistas da Igreja Católica 
na construção das MFR. Não apenas porque a primeira MFR teve apoio do padre Abbé Granereau, 
mais principalmente pela influência que o pensamento social da igreja exerceu na formação de 
organizações camponesas e na formação de lideranças5. Essa influência da igreja é também 
determinante no surgimento da EFAs no Brasil, no período entre 1960 e 19706. 
A Pedagogia da Alternância no Brasil surge na segunda metade da década de 60 no estado 
do Espírito Santo. O marco histórico é a constituição do Movimento de Educação Promocional do 
Espírito Santo (MEPES), fundado em 1968 como entidade civil mantenedora das EFAs. Uma 
organização filantrópica e sem fins lucrativos de inspiração Cristã. O MEPES surge liderado pelo 
padre jesuíta Humberto Pietrogrande, sacerdote de Anchieta - ES. Vale ressaltar, como afirma 
Araújo (2005, p. 91) que, 
 
(...) o processo de implantação das EFAs, no Brasil, teve início no auge da ditadura militar, 
período em que o campo sofreu um processo de total abandono por parte dos poderes 
públicos, excluindo a agricultura familiar. As políticas públicas para o campo, naquela 
época, estavam centradas na grande produção agropecuária, no modelo de agricultura 
patronal, voltado para monoculturas e o mercado externo, associado à sofisticação 
tecnológica, conhecida como modernização conservadora (ARAÚJO 2005, p. 91). 
 
Um diferencial da Pedagogia da Alternância praticada pelas EFAs no Brasil é a influência da 
Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, a partir do tripé ação-reflexão-ação, da práxis (ARAÚJO, 
2005, p.112). Os educandos e educandas nesse movimento de ir e vir, de combinar o período de 
quinze dias na escola e quinze dias na família/comunidade possibilita pensar a prática e retornar a 
ela para transformá-la. O que Freire (1987, p. 122), chama de ‘quefazer’ é teoria e prática, é 
reflexão e ação. [...] isso porque “ação e reflexão se dão simultaneamente” (FREIRE, 1987, p.125). 
Esse movimento dos educandos e educandas implica em transformar a realidade em que estão 
inseridos. 
 
5 Apenas a título de exemplo citamos Florent Nové-Josserand, agricultor e formado pela Juventude Agrária 
Católica e que foi o presidente da União Nacional das Maisons Familiales Rurales de 1945 a 1968 e que 
foi um dos fundadores da Associação Internacional do Movimentos Familiares de Formação Rural – 
AIMFR (BEGNAMI, 2003, p. 23). 
6 Para aprofundamento da influência da Igreja na constituição das EFAs, ver o trabalho. RIBEIRO, Marlene. 
Movimento camponês, trabalho e educação : liberdade, autonomia, emancipação: princípios/fins da 
formação humana. São Paulo: Expressão Popular, 2010. 
 
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Sem dúvida, a pedagogia de Paulo Freire, assim como as várias experiências da Educação 
Popular vão fortalecer as experiências das EFAs no Brasil. A construção das EFAs no Brasil é 
marcada por fases que caracterizam períodos que apresentam transformações fundamentais. De 
acordo com Begnami (2003, p. 31-37) podemos demarcar quatro fases. A primeira é a fase da 
experiência, da escola informal. Esse período pode ser caracterizado pelo Curso Livre e de duração 
de dois anos. É importante destacar que as primeiras turmas eram constituídas exclusivamente por 
jovens do sexo masculino. A segunda fase inicia-se partir de 1972. É o período da formalização das 
EFAs e a oferta dos Cursos Supletivos Regulares7, no inicio “com dois anos (5ª e 6ª séries) e depois, 
o segundo ciclo fundamental completo em 3 anos, com diploma de conclusão do Ensino 
Fundamental e pré-qualificação profissional em agropecuária” (BEGNAMI, 2003, p. 33). A terceira 
fase é de expansão das EFAs para outros estados. Inicialmente Bahia e Amazonas. E a quarta fase 
(anos 90 até nossos dias) é caracterizada pelo fortalecimento institucional e a adequação da 
formação à nova realidade do campo num período de globalização excludente. 
A primeira EFA fora do Espírito Santo foi em Brotas de Macaúbas no sertão da Bahia, no ano 
de 1975. No ano seguinte surge no estado do Amazonas e esse processo se torna mais intenso na 
década de 80 em outros estados. Essas iniciativas foram sendo implantadas com o apoio da Igreja 
Católica, principalmente das Comunidades Eclesiais de Bases – CEBs (BEGNAMI, 2002, p. 110). 
A década de 80 é marcada pela ampliação no número de EFAs, como a sua articulação em 
associações regionais e a nível nacional. Destaca-se a criação em 1982, da União Nacional das 
Escolas Famílias Agrícolas do Brasil – UNEFAB. 
Na Bahia, um dos grandes incentivadores das EFAs, foi o Pe. Aldo Lucchetta. A primeira 
EFA criada no estado foi em Brotas de Macaúbas, e logo em seguida Riacho de Santana. Essas 
experiências se espalham rapidamente e em outros municípios surgem Escolas Famílias Agrícolas. 
Com a expansão das EFAs no estado há a necessidade de criar uma associação regional que 
congregasse as associações locais mantenedora das EFAs (ARAÚJO, 2005, p. 7). Assim surge a 
Associação Comunidades Famílias Agrícolas da Bahia – AECOFABA em 1979. A segunda 
associação regional foi criado em 1997, denominada de Rede de Escolas Famílias Integradas do 
Semi-Árido – REFAISA. A abrangência da REFAISA inclui uma EFA em Sergipe. 
 
3. ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA DO SERTÃO: ROMPENDO AS C ERCAS DO 
LATIFÚNDIO 
 
 
7 Hoje seria o equivalente a Educação de Jovens e Adultos – EJA. 
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A construção da Escola Família Agrícola do Sertão em Monte Santo – BA se dá em um 
contexto histórico de conflitos agrários na região. Consequência da concentração de terras, da 
grilagem e da conivência dos poderes públicos com os desmando dos latifundiários. Situação 
comum a tantas outras regiões do país, e principalmente do Nordeste brasileiro (ANDRADE, 2012, 
p.6). Essa situação torna a região com altos índices de desigualdades sociais. 
No campo educacional, a região é caracterizada por elevadas taxas de analfabetismoe pela 
exclusão dos jovens do sistema de ensino tradicional8, a partir da carência de vagas, da evasão e 
repetência escolar. Somando um ensino descontextualizado e longe das reais necessidades das 
comunidades camponesas, leva os camponeses e camponesas a criar uma Escola que se constituísse 
num instrumento da classe trabalhadora. O desafio inicial seria formar filhos de agricultores como 
técnicos e agrícolas com capacidade de contribuir com as comunidades no campo da produção e da 
organização política (ANDRADE, 2012, p.7). 
Havia no município uma organização das comunidades camponesas, principalmente fruto do 
trabalho da Igreja Católica, a partir das Comunidades Eclesiais de Bases – CEBs. Isso contribuiu 
para que entre os anos de 1995 a 1997, fosse formada a Associação Regional da Escola Família 
Agrícola do Sertão – AREFASE, que mais tarde se tornaria a entidade mantenedora e representação 
jurídica da EFASE. Durante esses dois anos a AREFASE9 elabora os princípios básicos, 
considerando a experiência de outras entidades com o MEPES e orientada para um projeto 
pedagógico que apresentava a perspectiva da agroecologia e da convivência com o semiárido. É um 
período de mobilização das comunidades e de preparação do quadro de monitores. 
A associação decide fundar a EFASE e iniciar as atividades pedagógicas numa sede 
improvisada, cedida pela comunidade de Lagoa do Saco, no ano de 1998. Os educandos tinham 
aulas durante a semana e nos domingos, junto com monitores e as comunidades, realizam mutirões 
para a construção da sede. O local escolhido foi cedido pelas comunidades de Fundo de Pasto de 
Capivara e Lagoa do Pimentel. Território que foi conquistado arduamente em luta contra grileiros. 
Vale ressaltar a permanente agressão que essas comunidades ainda hoje enfrentam para manter as 
conquistas obtidas na luta pela terra (ANDRADE, 2012, p.8). 
 
8 A expressão “exclusão do sistema de ensino tradicional” é aqui empregada tem o sentido que Bourdieu 
(1998) adotou ao analisar o sistema educacional. O autor aponta que este sistema, ao empregar em sua 
ação pedagógica as necessidades e a cultura da ordem social vigente, exclui por si só os mais 
desfavorecidos economicamente. 
9 Formada por representantes e lideranças das comunidades. 
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As primeiras turmas da EFASE, de 5ª a 8ª série10, foram fundamentais para a escola obter, a 
partir dos Planos de Estudos (PE) 11 e das visitas de monitores as informações mais precisas das 
comunidades e assim redimensionar o projeto pedagógico, a fim de atender as reais necessidades 
das famílias camponesas e melhorar a relação escola e comunidade. 
A EFASE, em 2004, acrescentar em seu projeto pedagógico o ensino médio 
profissionalizante. O curso de Educação Profissional Técnica em Agropecuária Integrada com o 
Ensino Médio A primeira turma de ensino médio teve inicio em 2005. Os educandos e educandas 
do ensino médio passam a realizar atividades de acompanhamento12 às famílias camponesas. 
O acompanhamento técnico as famílias é um grande avanço, já que sempre houve uma 
ausência por parte da que se refere a ATER às comunidades de abrangência da EFASE. Contudo, 
isso coloca a escola com uma tarefa ainda maior. A necessidade de formar técnicos que rompa com 
atual lógica do ATER, que se baseia na difusão de inovações e transferência de tecnologias. Nesse 
processo, os camponeses são vistos como meros depositários de conhecimentos e de pacotes 
gerados pela pesquisa, na maioria das vezes inadequados para as condições específicas de seus 
agroecossistemas13 (CAPORAL e RAMOS, 2006, p. 6). 
As Atividades de Retorno (AR) desenvolvidas pelos educandos e educandas da EFASE não 
buscam ocupar e tão pouco substituir o ATER. A AR tem fundamentalmente uma finalidade 
pedagógica. Porém, as ações juntos as famílias constituem momentos de formação técnica, política 
e organizativa para as famílias e comunidades. 
 
3.1 DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA EFASE 
 
 
10 Correspondente, hoje, ao 6º e 9º ano do ensino fundamental. 
11 O Plano de Estudo (PE) é um dos instrumentos da Pedagogia da Alternância. O PE é uma pesquisa 
realizada pelos educandos na comunidade, a partir de um tema definido na escola. Os educandos realizam 
essa investigação e retornar na sessão seguinte para a escola e realizam a socialização. Os monitores 
contribuem com a síntese coletiva da pesquisa. A seguir, os monitores planejam as atividades tendo 
presente as demandas trazidas da comunidade, mediante a pesquisa dos educandos. 
12 O acompanhamento é através da Atividade de Retorno (AR). A AR consiste “em fazem um levantamento 
prévio na comunidade de temas a serem abordados durante o ano. Esses temas são discutidos com os 
monitores e a turma, a fim de organizar e fazer alterações que julguem necessário. Os temas escolhidos 
retornam como uma ação dos estudantes na comunidade” (ANDRADE, 2012, p.11). 
13 Agroecossistema é um ecossistema artificializado pelas práticas humanas ligadas a agricultura, sendo 
esta vista como um conjunto de valores, relações sociais, políticas, culturais, econômicas, tecnológicas e 
ambientais (MST/AS-PTA/INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO, 2005. p. 14). 
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 A EFASE está completando 15 anos de existência. Certamente podemos elencar várias 
conquista ao longo desse período, principalmente no desenvolvimento das comunidades 
camponesas, seja no que se refere aos educandos formados nesse período, seja nas ações de 
convivência com o semiárido. Até o momento não há uma sistematização dessas conquistas. Esse 
artigo também não se propôs a tal tarefa. O que pretendemos, brevemente, é expor dois desafios e 
uma perspectiva da EFASE para os próximos anos. 
Os desafios são pedagógicos. O primeiro é melhorar o processo formativo dos educandos. 
Não pode haver uma acomodação. Nesse momento histórico o desafio é maior em função do 
número de educandos e da área de abrangência da escola (figura 1). 
 
Figura 1. Abrangência territorial da EFASE 
. 
Fonte: Andrade (2012, p.11). 
 
Já abordamos que o processo formativo não acontece exclusivamente no espaço físico da 
escola, ele se estende as comunidades e entidades/movimentos de origem dos educandos. São 
tempos e espaços formativos que precisam de acompanhamento pedagógico por parte da equipe de 
educadores/monitores. Nesse sentido, a ampliação da atuação da EFASE para 20 municípios da 
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Bahia, precisa ser respondida com maior capacidade de atender esses sujeitos em seus locais e 
demandas específicas. Com isso destacamos a necessidade de melhorar a formação dos 
educadores/monitores; ampliar a equipe e oferecer condições de dedicação exclusiva a escola. 
De acordo com Andrade (2012, p. 8-9), 
 
(...) na EFASEnão há uma separação entre família, comunidade e escola. A EFA só se 
constitui de fato como uma escola família na união indissociável entre estes 
sujeitos/espaços formativos. O que ocorre é que em determinadas realidades, períodos e 
EFAs pode haver uma ênfase maior em determinado espaço constitutivo, que quase sempre 
é o espaço escolar. De fato o espaço escolar é o local privilegiado da construção do 
conhecimento. Porém, é na forma que se articula a proposta pedagógica da escola, com as 
necessidades reais das famílias e das comunidades que a escola cumpre a sua função de 
educar para a vida real, concreta (ANDRADE, 2012, p. 8-9). 
 
 
O segundo desafio, conectado ao primeiro é o crescente numero de educandos (gráfico 1). Ao 
longo desse 15 anos a EFASE foi ampliando o número de turmas e simultaneamente a abrangência 
territorial. No ano de 2012 foram matriculados 304 educandos e educandas. Esses estudantes são 
originários de 20 municípios do semiárido baiano14 
 
Gráfico 1. Relação de estudantes por municípios 
 
14 Andorinha, Antônio Gonçalves, Araci, Campo Formoso, Cansanção, Canudos, Conceição do Coité, Itiúba, 
Jeremoabo, Monte Santo, Nordestina, Pindobaçú, Ponto Novo, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santa 
Luz, Serrinha, Uauá e Valente. 
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Fonte: Andrade (2012, p. 7). 
Sendo que dos 304 estudantes, 237 (78%) estão matriculados no ensino médio e 67 (22%) no 
ensino fundamental II. Esses dados revelam a grande procura de vagas em curso médio e 
profissionalizante na região, principalmente porque a EFASE é a única escola nesse formato a 
oferecer a modalidade de ensino médio (ANDRADE, 2012, p. 7). Nesse quesito abordado, os 
desafios são os mesmo do anterior. É importante destacar ainda a tendência no aumento do número 
de educandos para os anos seguintes no ensino médio. A projeção é que neste ano de 2013 sejam 
matriculados mais de 300 educandos apenas no ensino médio. 
Diante desse quadro, e das necessidades dos movimentos sociais do campo, há uma 
perspectiva da EFASE buscar parcerias para ofertar um curso superior. O primeiro passo é o 
convênio com o Programa Nacional de Educação em Áreas de Reforma Agrária - PRONERA, em 
parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, para a realização do Curso 
Superior de Tecnologia em Agroecologia, previsto para ter inicio no primeiro semestre de 2013. 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A Escola Família Agrícola do Sertão é mais uma instituição educacional, vinculado as 
organizações e movimentos sociais comprometida com a formação de sujeitos do campo, que 
possam, a partir se sua intervenção transformar as condições em que estão inseridos. 
Nesses 15 anos de atuação a EFASE vem desenvolvendo ações pautadas nos princípios da 
agroecologia a partir da compreensão de convivência com o semiárido. Atualmente a escola tem os 
desafios de melhorar a sua prática pedagógica na medida em que amplia o número dos educandos e 
simultaneamente amplia a abrangência territorial. 
A perspectiva que se apresenta nesse novo cenário é ofertar curso superior. Há uma demanda 
crescente entre a juventude camponesa de ter no campo ensino superior e de qualidade. Esse é um 
desafio na construção da Educação do Campo. 
 
 
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Historiando a Pedagogia da Alternância e a EFASE_ ANDRADE e ANDRADE 
 
 
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