Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB Aspectos bioquímicos e fisiológicos: - Os produtos de secreção do córtex adrenal humano são hormônios esteró ides chamados “corticosteróides”, e incluem os seguintes (análogos estruturais): • Cortisol (hidrocortisona). • Androgênios. • Aldosterona. - A adrenal é dividida em: • A medula produz adrenalina (liberada em situações de estresse) e noradrenalina (liberada de forma pequena e constante - manutenção da PA, droga vaso ativa). • C ó r t ex ( p a r t e ex t e r n a ) p ro d u z 3 hormônios: cortisol (hidrocortisona é o análogo), derivados da testosterona (manutenção e desenvolvimento dos caracteres secundários e acoes fisiológicas n a s m u l h e r e s ) e a l d o s t e r o n a (mineralocorticóide que retém sódio e excreta potássio). - Espironolactona: bloqueia receptor de aldosterona, sódio é eliminado, junto com água = ação diurética (fraca). Mecanismos de síntese e regulação: - O cortisol assim como os outros hormônios produzidos pelo córtex da arenal são esteroides (derivados do colesterol trazido pelo LDL). Leva o colesterol para suprarrenal e por ação do ACTH, o cortisol é produzido e tem um efeito glicocorticóide (age sobre metabolismo de CHO, gorduras e proteínas), causando hiperglicemia, catabolismo proteíco (seletivo: músculo esquelético faz catabolismo e fígado anabolismo) e hipertrigliciredemia. - Além disso, tem ação anti inflamatória (pequenos processos inflamatórios naturais de lesões de pequena intensidade), anti alérgica (para que nós não desenvolvamos respostas alérgicas a tudo, dá uma certa tolerância) e imunossupressora (sistema 17 Corticoides Adilson - DATA: 12/04 Efeitos fisiológicos dos corticoesteroides. Tipo de hormônio Tipo de efeito Descrição do efeito Cortisol (hidrocortisona: análogo) Glicocorticóide Aumento nos níveis plasmáticos de glicose, proteínas e ácidos graxos. Aldosterona Mineralocorticoide Retenção de sódio e líquidos e eliminação de potássio (gera e controla PA). Androgênios Virilizante Desenvolvimento manutenção das características sexuais masculinas. Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB imunossupressor endógeno: para evitar doenças autoimunes). - Os androgênios tem função de manutenção e d e s e n v o l v i m e n t o d e c a r a c t e r e s secundários e uma possível ação anti inflamatória (?). - A aldosterona tem efeito mineralocorticoide. - Quem estimula secreção de cortisol e derivados da testosterona é o ACTH e o hormônio que estimula secreção da aldosterona é a angiotensina II (SRAA). - O hipotálamo libera o CRH que estimula a hipófise a produzir ACTH que estimula o córtex da adrenal a produzir cortisol (eixo H-H-A). Quando o cortisol se eleva na corrente sanguínea, ele exerce um feedback negativo sobre a hipófise e sobre o hipotálamo, levando a manutenção dos níveis de cortisol. - Ao tomar um análogo estrutural do glicocorticoide/ mineralocorticoide, ele se liga em receptores e diminuem o estímulo fisiológico = inibe eixo hipotálamo hipófise na secreção de CRH e ACTH. - Na hora que suspende o tratamento, esse eixo deve ser novamente ativado, e aí que está o problema: dependendo do tempo e da dose de corticoides esse bloqueio pode ser tão grande e levar a atrofia da adrenal e demorar mais para estimular a adrenal a produzir novamente. • Quando se usa cortisol > 40 mg/ dia por > 2 semanas = obrigatoriamente fazer esquema de desmame, pois retirando aos poucos, estimulando novamente o eixo HHA. - Se não tiver esse desmame, gera atrofia da glândula e não produção do cortisol e falta da ações metabólicas, anti i nfla m a t ó r i a s , a n t i a l é r g i c a s e imunosssupressoras = hipoglicemia e hipotensão matinal (falta de cortisol), a u m e n t o d e e s t a d o s a l é rg i c o s , infecções oportunistas… • Outro problema é que corticoide em altas doses gera alterações metabólicas (CHO, gordura e proteínas) importantes que levam a repercussões, sinais e sintomas clínicos importantes, pela ação anti inflamatória, anti alérgica ou pelo efeito imunossupressor. Ritmo circadiano de secreção de cortisol ao pongo do dia em indivíduos normais: - Pelas 6 horas da manhã inicia produção de cortisol e as 8 horas há o pico de cortisol para ter um “boom” metabólico para o indivíduo iniciar o dia. • O cortisol deve ser colhido 8 horas da manhã, que é o pico máximo de secreção. • Isso para o ser humano, que é uma mamífero diurno. Indivíduos que 18 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB trabalham muito anos no período noturno, se tornam adaptados, mas continuam com o pico de cortisol às 8h (geneticamente determinado). - MINERALOCORTICOIDES (aldosterona): praticamente não apresentam atividade glicocorticóide. • Aldosterona não interfere na ação do cortisol. - GLICOCORTICÓIDES (cortisol): apresentam g r a u s v a r i a d o s d e a t i v i d a d e mineralocorticóide. Alguns corticoides tem como efeito esse mecanismo de aumentar retenção de sódio e água. • Hidrocortisona (é o que tem mais esse efeito). • Prednisona (80% <). • Betametasona (isenta). Corticoesteroides: - Farmacocinética: • Bem absorvido por via oral. - Tem também por administração parenteral (ex: asma grave usa cortisol EV). • Globulina fixadora do cortisol (CBG) ou transcortina = são os transportadores. - Proteínas plasmáticas próprias para o transporte do cortisol, pois como ele é derivado do colesterol (esferoidal = natureza lipídica, precisa ser ligado a uma proteína para ser transportado na sua forma solúvel). • Menor extensão, se liga à albumina aproximadamente 5%. • 6% do cortisol circulante apresenta-se sob a forma livre = ocorre ação mais rápida e mais efeitos colaterais. • Metabolizados nas células dos tecidos- alvo ou destruídos, principalmente no fígado, dentro de 1 ou 2 horas. - Tempos e meia vida bastante curto (1 a 2 horas). - Para os derivados sintéticos: - Mecanismo de ação molecular: diferente de mecanismo de ação farmacológico. - C) corticosteroide. - R) receptor. • Na célula o cortisol entra nela, e por ele ter característica lipídica, ele passa facilmente pela membrana, se liga a receptores nucleares da célula (no DNA/ RNA) alterando transcrição gênica, aumentando ou diminuindo síntese proteíca = ação é genômica produzindo uma síntese proteíca alterada (aumenta ou diminui). Corticóide e resposta inflamatória: ✓ Estabilização da membrana do lisossomo (organelas citoplasmáticas com enzimas digestivas). • No processo inflamatório, a ,membrana do lisossomo vai estar próxima a romper. • Ao estabilizar essa membrana, acaba por ter uma ação inibitória sobre esse processo de lise/ digestão celular. ✓ Inibição da formação das cininas (citocinas inflmatórias). 19 Variáveis Prednisona Betametasona Pico plasmático 60 a 180 minutos 10 a 30 minutos (EV) 1/ vida eliminação 9 horas 5 horas Ligação proteica 70% 64% Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB ✓ Bloqueio da via do ácido aracdônico (lesão da membrana —> libera fosfolipídes — > fosfolipase A2 —> ácido araquedônico —> COX1/COX2 —> PGL). • Os aines agem em cox1 e cox2. • Os corticóides agem na fosfolipase A2 (aumento ação da lipocortina 1 que inibe essa enzima) e na cox2 (inibe o gene que codifica a síntese da cox2 = corticoide inibe a síntese dela). • O corticoide atinge cox1? Não, porque a inibição da fosfolipase A2 não é 100%, um pouco de fosfolipase A2 que ainda fica livre, faz um pouco de acido araquedônico que caí para via da cox1. - Cox1: fluxo sanguíneo renal e muco protetor gástrico. - Confere ao corticoide um forte efeito anti inflamatório (maior até que do aines). - Corticoide dá irritação gástrica não pela inibição do muco, mas sim pelo aumento da secreção gástrica e lesa o rim indiretamente, pois aumenta o trabalho renal (excreção de sódio,açúcar…) ✓ Inibem a proliferação de fibroblastos = diminui colágeno. • É bom para quando queremos diminuir a produção de colágeno (ex: queloide). • Mas se não for essa a indicação, pode ser ruim = pele flácida, enrugada (pele pergaminácea). ✓ D i m i n u i I n t e r f e ro n Y, C S F ( f a t o r estimulador de colônia sobre a MO para formação de células de defesa = ação i m u n o s s u p r e s s o r a c e l u l a r ) G M , interleucina (IL1, IL2, IL3, IL6) e TNF alfa. • No transplantado ou paciente com doença autoimune isso é um efeito desejado, mas no paciente sem doença autoimune é um efeito indesejado. Ações sobre os sistemas orgânicos: I. Sistema endócrino metabólico: - Efeito hiperglicemiante, devido à redução da utilização da glicose pelas células, à intolerância à glicose (resistência periférica a insulina = insul ina deixa de agir corretamente e internalização da glicose é 20 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB diminuída nas células) e à estimulação da glicogênese. • Nível de glicose aumentado com insulina alta = significa que a insulina não está funcionando pois sua ligação a receptores está prejudicada. - Redução do conteúdo proteico celular (exceto a nível hepático onde ocorre um aumento da síntese proteica) através da síntese diminuída e catabolismo aumentado. - Mobilização de ácidos graxos, aumentando sua concentração a nível plasmático (hipertrigliceridemia). - Aumento do apetite. - Interferência na secreção e ação do hormônio do crescimento (GH) = importante na pediatria (corticoide em alta dose em crianças, diminui curva de crescimento das crianças). • Faixa etária mais afetada pelos problemas respiratórios e alérgicos são as crianças, e os mais usado são os corticoides. II. Sistema cardiovascular: - Sensibilização dos vasos sanguíneos para a ação vasoconstritora das catecolaminas e da angiotensina. • Sensibiliza receptores alfa e AT1 da angiotensina II. • Mesma quantidade de catecolamina a angiotensina I I va i ter uma ação vasoconstritor muito maior por alteração genômica. - Aumento dos níveis pressóricos de característica predominantemente volume- dependente por uma série de efeitos (retenção sódio e água). III. Sistema muscular esquelético: - Efeito catabólico muscular, devido a redução das reservas de proteínas. • Exceto fígado (anabolismo). • Esses aminoácidos vão servir para gliconeogênese ou pelo efeito catabólicos mesmo. IV. Sistema ósseo: - Promoção de redução da massa óssea, por inibição da atividade osteoblástica, catabolismo da matriz proteica dos ossos e pela redução da reabsorção de cálcio = OSTEOPOROSE. V. Sistema gastrointestinal: - Redução da absorção de cálcio pelo trato gastrointestinal. - Aumento da absorção de sódio pelo intestino (mineralocorticoides). - Estimulo da produção de ácido clorídrico pelas células parietaiS (irritação gástrica). VI. Sistema hematopoiético e linfático: - Efeito trófico sobre os precursores dos eritrócitos na medula óssea. - Aumento no número dos neutrófilos circulantes e uma redução na contagem de eosinófi los, monócitos e basófi los (processo alérgico). - Redução na contagem de linfócitos periféricos. VII. Sistema nervoso: - Aumento da excitabilidade do córtex cerebral. - Ação sobre os mecanismos da dor e do v ô m i t o ( d e f o r m a n ã o t o t a l m e n t e esclarecida). Indicações clínicas principais e mais comuns de uso dos corticosteróides: - Reumatologia: artrite reumatóide (ação anti inflamatória), lúpus eritematoso sistêmico (ação imunossupressora), doença re u m á t i c a , v a s c u l i t e s , p o l i m i o s i t e , esclerodermia. - Neurologia: esclerose múltipla, edema cerebral, miastenia gravis, convulsão, tumor cerebral ou metastático, neurite. - P n e u m o l o g i a : a s m a , b r o n q u i t e , bronquiol i te , aspergi lose pulmonar, hemossiderose, sarcoidose. 21 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB - Alergia/ imunologia: rinite, anafilaxia, urticária, dermatites, edema angioneurótico, reações medicamentosas, picada de insetos. - Endocrinologia: insuficiência adrenal, hiperplasia adrenal congênita, crise t i r e o t ó x i c a , t i r e o i d i t e s u b a g u d a , hipoglicemias, hipercalcemias. - Oncologia: linfomas, leucemias (papel de quimioterapia). - Hematologia: púrpura trombocitopênica idiopática, anemia hemolítica auto-imune, anemia aplástica, trombocitopenia, reações transfusionais. - Gastroenterologia: doença de Crohn, retocolite ulcerativa, hepatite crônica, necrose hepática subaguda, hepatite alcoólica. - Infectologia : meningite bacteriana, tuberculose. - Nefrologia: síndrome nefrótica, nefrite (pelo processo inflamatório). - Cardiovascular : card i te reumát ica , m i o c a r d i t e , p e r i c a r d i t e , c h o q u e hemodinâmico, choque endotóxico, arterite temporal. - D e r m a t o l o g i a : e c z e m a , d e r m a t i t e , neurodermite, pênfigo. - Oftalmologia: conjuntivite, uveíte, discinesia ocular, endoftalmite, ceratite, úlcera marginal, coroidite, oftalmia, retinite. - Otorrinolaringologia: rinite, otite, sinusite, epiglotite, laringite, estenose traqueal, polipose. - Ortopedia: bursite, sinovite, tendinite, osteoartrite, osteoartrose. - Transplantes: de rim, fígado, coração, pulmão, medula óssea e outros. - Ginecologia/ obstetrícia: prevenção da síndrome de angústia respiratória (corticoide em altas doses para maturação do sistema respiratório do bebê). Equivalência dos glicorticoides: ( * ) e f e i t o g l i c o c o r t i c ó i d e ( + ) e f e i t o mineralocorticoide. - Class ifica os cor t i co ides em curta , intermediária e longa duração, ação anti inflamatória (em relação ao cortisol). - Dose equivalente: quanto maior a potência menor a dose. Retirada do tratamento com corticoides: - Esquema de retirada do tratamento: uma dose > 40 mg/ por > 2 semanas já se faz necessário o esquema de retirada. • Quanto maior a dose e maior o tempo, mais lento tem que ser o desmame. • Usar sempre a dose matinal: para mimetizar o ciclo fisiológico. - Por que se deve fazer o esquema de retirada? Para não ter deficiência na secreção fisiológica. 22 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB Interações medicamentosas: - Fenitoína, carbamazepina, rifampicina: todos anticonvulsivantes são indutores enzimáticos. • Interação : aumenta o metabolismo hepático dos glicocorticoides (reduz efeitos). • C o n s e q u ê n c i a : d i m i n u i e f e i t o farmacológico glicocorticoide. - Antiácidos: • Interação: diminui biodisponibilidade dos glicocorticoides (diminui a absorção ao alcalinizar o meio). • Consequência : efeito farmacológico reduzido. - Insulina, hipoglicemiantes orais, anti h i p e r t e n s i v o s , m e d i c a ç õ e s p a r a glaucoma, hipnóticos, antidepressivos: • Interação : têm suas necessidades aumentadas pelos glicocorticoides. • Consequência: alterações relacionadas com o nível glicêmico, pressão arterial, pressão intraocular, entre outros. - Digitálicos (na hipocalemia): • Interação: glicocorticóides podem facilitar a toxicidade associada à hipocalemia. • Consequência: pode haver acentuação da toxicidade digital devido à alteração eletrolítica. - Estrogênios e contraceptivos: • Interações: aumentam a meia-vida dos corticosteroides. • Consequência : efeito farmacológico realçado. - Anti inflamatórios não esteroides (AINES): • Interação: aumento da incidência de alterações gastrintestinais. • Consequência: aumento da incidência de úlcera gastrintestinal. - Diuréticos depletadores de potássio: • Interação: acentuação da hipocalemia. • Consequência: repercussão clínica devido à hipocalemia. Principais efeitos colaterais da corticoterapia: ‣ Supressão da resposta à infecção ou lesão. ‣ Supressão da capacidadedo paciente de sintetizar corticosteróides. ‣ Efeitos metabólicos: síndrome de Cushing iatrogênica. 23 Síndrome de Cushing: - Fácies pletórica e em “lua-cheia”. - Obesidade predominantemente central ou troncular. - P r e s e n ç a d e g i b a d o r s a l (“corcunda de búfalo”). - Deposição de gordura na fossa supra-clavicular. - Estrias cutâneas purpúreas ou vinhosas acometendo regiões de maior tensão (como porção inferior do abdome, mamas, nádegas, raiz das coxas e dos braços) = falta de colágeno. - Fragilidade vascular resultando em hematomas e equimoses. - P e l e fi n a e f r á g i l ( d i t a “pergaminácea”). - Miopatia principalmente proximal (cinturas pélvica e escapular). - Atrofia muscular com fraqueza e cansaço. - Redução da tolerância à glicose e diabetes mellitus manifesto. - Hipertensão arterial. - Osteoporose e fraturas ósseas. - Interrupção do crescimento em crianças (GH). - Maior suscetibilidade a infecções. - Diminuição da libido e impotência. - Irregularidade menstrual. - Alterações psiquiátricas, etc.
Compartilhar