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Miomatose uterina Acd. Paulo Roberto T30 1 Miomatose uterina Acd. Paulo Roberto T30 Aspectos gerais ➢ Os leiomiomas são neoplasias benignas de músculo liso que, com frequência, originam-se do miométrio; ➢ É a neoplasia benigna mais comum da mulher e responde, aproximadamente, por 95% dos tumores benignos do trato genital feminino; ➢ São sensíveis ao estrogênio e à progesterona, de modo que aumentam na menacme (mais comuns na 4ª e na 5ª década de vida, e raramente ocorrem antes dos 20 anos) e na gestação, enquanto reduzem na menopausa; ▪ Fatores de risco → história familiar, idade, raça negra, nuliparidade, hipertensão arterial, alcoolismo, menarca precoce – antes dos 10 anos; ▪ Fatores de proteção → pós-menopausa, primiparidade precoce, ACO, tabagismo; Etiopatogenia ➢ Ainda não é completamente elucidada, mas, possivelmente, envolve: ▪ Altos níveis circulantes de estrogênio → atua na proliferação celular, aumenta os R de progesterona; ▪ Ação sinérgica do GH ou do hPL (hormônio lactogênio placentário) – na gestação; ▪ Altos níveis circulantes de progesterona → aumenta a expressão da proteína Bcl2 (inibidora da apoptose), diminui o TNF-alfa (promotor de apoptose) e aumenta o fator de crescimento epidérmico (estimula o crescimento tecidual); ▪ Alteração da 17-OH-desidrogenase → aumenta tipo I (estrona → estradiol) e diminui tipo II (estradiol → estrona); ▪ Altas concentrações da aromatase e influência genética; OBS – O mioma cria o ambiente hiperestrogênico, levando à proliferação de leiomiócitos. Além disso, vale ressaltar que tem origem monoclonal; Patologia ➢ São circunscritos, bem delimitados, pseudoencapsulados. Podem ser encontrados no colo, no istmo ou no corpo uterino (mais comum), sendo pediculados ou sésseis; ➢ Anatomia distinta do miométrio ao seu redor, com uma camada tecidual fina, conectiva e externa; ➢ Histologicamente, possui células alongadas de músculo liso agregadas que se enrola, e se cruzam em ângulos retos; ➢ Raras mitoses – mais acentuadas na gravidez, uso de progestágenos ou com a degeneração tumoral; • Aspecto macroscópico – depende da composição: ▪ Mais tecido conjuntivo → brancacento e endurecido; ▪ Mais fibras musculares → rósea, amolecido; • Degenerações – ocorrem à medida em que o tumor cresce: ▪ Hialina → mais comum; tumor amolecido (diminuição do fluxo); ▪ Cística → liquefação das áreas, com formação de coleções líquidas; ▪ Mucoide → cistos com material gelatinoso; ▪ Rubra, vermelha, carnosa ou necrobiose asséptica → podem ocorrer na gestação, sendo mais comum no intramurais. Podem causar dor, hipertermia e até ruptura com quadro de abdome agudo (obstruções venosas); ▪ Gordurosa → mais rara; ▪ Calcificação → deposição de cálcio onde o suprimento sanguíneo é deficitário, como nos que sofreram necrose, degeneração gordurosa ou após menopausa; ▪ Necrose → mais comum nos pediculados com pedículo longo ou se ocorrer torção do pedículo; ▪ Sarcomatosa → maligna (extremamente rara, < 0,5%); tumores muito agressivos e quase exclusivos na pós- menopausa (após 50 anos), usualmente em intramurais – suspeita se crescimento acelerado nesse período; Miomatose uterina Acd. Paulo Roberto T30 2 OBS – Cervicais – 1 a 2%; os mais volumosos podem causar dispareunia e exteriorização do introito vaginal; OBS – Parasitas – primariamente subseroso pediculado, se adere a outras estruturas, se desprende do útero e passa a ter circulação própria; OBS – Paridos – crescimento exagerado do pedículo dos submucosos, que culmina com a exteriorização pelo colo uterino; Diagnóstico • Anamnese: ▪ Idade, raça (3x mais em negras), paridade (mais comum em nulíparas e inférteis); ▪ A maioria assintomática (achado ocasional); ▪ Sangramento anormal: ✓ Hipermenorreia (aumento do fluxo), menorragia (aumento do fluxo e da duração), polimenorreia (intervalos menores), metrorragia – submucoso** e intramural; ✓ Por que sangra? → aumento da superfície do endométrio sangrante, da compressão e congestão venosa no miométrio e endométrio, dificuldade do miométrio em se contrair, maior produção de prostaglandinas pelo endométrio (dor e dificultando de formar trombos e vasoconstrição endometrial – prostaciclinas); ▪ Dor pélvica e dismenorreia: ✓ Compressão de estruturas – sintomas urinários e intestinais, dor hipogástrica com irradiação para a região lombar e membros inferiores e dispareunia (congestão pélvica); ✓ Pode ser, ainda, pela isquemia tumoral ou torção do pedículo; ▪ Infertilidade: ✓ Isoladamente é controverso. Existem vários mecanismos – oclusão dos óstios tubários, alterações endometriais vasculares impedindo nidação, miomas submucosos mimetizando DIU, incapacidade de distensão uterina (miomas múltiplos ou volumosos); ✓ Pode haver abortamentos ou complicações obstétricas, como trabalho de parto prematuro, apresentações anômalas; ▪ Compressão geniturinária: ✓ Polaciúria, incontinência urinária, hidronefrose (3 a 4x mais comum à direita, nos que ultrapassam a sínfise púbica) e infecções urinárias; Miomatose uterina Acd. Paulo Roberto T30 3 Urgências relacionadas ao mioma – torção, parturição (cólica intensa > ulceração e infecção, podendo haver inversão uterina aguda) e necrose; Sintomas de acordo com localização – subserosos (sintomas compressivos e distorção da anatomia subjacente), intramurais (sangramento e dismenorreia) e submucosos (sangramentos irregulares e infertilidade); • Exame físico: ▪ Toque vaginal bimanual → geralmente, aumento do volume uterino, superfície irregular (nódulos), bocelada, endurecida, diminuindo sua mobilidade e modificando sua forma; ▪ Aumento do volume abdominal, crescimento rápido ou após a menopausa (pode estar relacionado à degeneração Sarcomatosa), corrimento vaginal e distúrbios intestinais – constipação, fezes em fita, hemorroidas; ▪ Outros → ascite, estese venosa dos MMII (tromboflebite secundária), Policitemia, etc; • Exames complementares: A) Ultrassonografia pélvica ou transvaginal: ▪ Nódulos hipoecoicos na parede uterina; ▪ USGTV → arquitetura interna, anatomia da massa tumoral, alterações da cavidade endometrial; B) Histeroscopia: ▪ Padrão-ouro para avaliar a cavidade uterina. Permite identificar nódulos submucosos ou intramurais; ▪ Útil no diagnóstico diferencial e também é útil na terapêutica; C) Ressonância magnética: ▪ Melhor exame para visualizar e mensurar leiomiomas; ▪ Ideal para diferenciá-los de adenomiose ou constatá-la, bem como quando se cogita tratamento conservador (embolização) – mostrar localização e número; D) Videolaparoscopia – também útil no tratamento; Tratamento • Particularidades: ▪ Miomas assintomáticos não necessitam de tratamento → conduta expectante; ▪ Tipo e momento ideal (individualizados) → tamanho, localização, intensidade dos sintomas, idade da mulher, desejo procriativo e história obstétrica; • Conduta expectante – controle de 6/6 meses (clínica + USGTV); ▪ Casos assintomáticos; ▪ Pacientes sintomáticas, sem comprometimento geral; ▪ Pacientes na perimenopausa ou na menopausa; • Tratamento clínico – evita complicações associadas à cirurgia e permite conservação uterina: a) Indicações: ▪ Redução tumoral; ▪ Controle da perda sanguínea (anemia pré-operatória); ▪ Pacientes na perimenopausa; ▪ Pacientes com risco cirúrgico elevado; b) Análogos do GnRH: ▪ 15 a 200x mais potente, pode ser usado via IM, SC e intranasal (VO não funciona); ▪ Efeito flare-up (positivo, 15 dias iniciais) → fase de downregulation nos receptores (perdura por 1 a 3 semanas, induzindo um profundo estado hipoestrogênico; ▪ Diminuição de 30 a 70% dos miomas. 2/3 das pacientes desenvolvem amenorreia após 3 meses de uso; ▪ Efeitos colaterais → perda de massa óssea (até osteoporose), fogachos, ressecamento vaginal, distúrbios do perfil lipídico e alteraçõesdo humor; Miomatose uterina Acd. Paulo Roberto T30 4 ▪ Indicação → preparo pré-operatório de paciente com anemia significativa (Hb < 9,5 mg%) – avaliar custo benefício, pois muitas vezes a suplementação oral de ferro resolve; ▪ Uso de pequenas doses de estrogênio e progesterona após fase inicial de downregulation previne efeitos adversos; c) Contraceptivos hormonais: ▪ Resultados controversos; ▪ Diminuem o sangramento, mas não o tamanho do tumor; ▪ Progestágenos → diminuir o risco de desenvolvimento da doença (mulheres negras) e evitar o crescimento de novos miomas? (não totalmente esclarecido); d) Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES): ▪ < 30% sangramento; • Tratamento cirúrgico: a) Indicações: ▪ Sangramento uterino anormal ou dor pélvica; ▪ Avaliação quando há suspeita de malignidade; ▪ Tratamento de infertilidade e de abortamentos recorrentes; Fatores de risco para sarcoma uterino → mulheres na pós-menopausa com massa pélvica nova ou crescente, sangramento anormal e dor pélvica (1 a 2%). Irradiação pélvica anterior, uso de tamoxifeno, presença de leiomiomas cutâneos, bem como ausência de resposta à embolização uterina e ao análogo de GnRH; b) Histerectomia – definitivo: ▪ Indicações → paciente com prole constituída ou sem desejo de engravidar, apresentando sintomas importantes ou falha do tratamento clínico; ▪ Via laparotômica, laparoscópica ou vaginal – maioria dos autores considera como via preferencial, dado o retorno mais rápido. Limita-se pelo volume uterino (< ou = a 300 cm3), bem como anormalidades cervicais ou cirurgias pélvicas anteriores; ▪ Complicações → hemorragia, infecção, infecção urinária, lesão ureteral, vesical e intestinal, além de fístulas; c) Miomectomia: 1. Laparotômica: ▪ Indicações → desejo de procriação, presença de múltiplos miomas, útero muito volumoso – com miomas intramurais > 5 a 8 cm ou altura do fundo uterino superior a 16 semanas de gestação – e miomas profundos intramurais; ▪ Recomenda-se aguardar de 3 a 6 meses após a cirurgia antes de engravidar; 2. Laparoscópica: ▪ Indicações → desejo de procriação, presença de pequeno número (até 3 a 5) de miomas subserosos ou intramurais < ou = a 5 cm, útero não muito volumoso – com miomas < 5 a 8 cm ou altura do fundo uterino < 17 semanas de gestação; 3. Histeroscópica: ▪ Indicações → miomas submucosos + SUA, dor pélvica, infertilidade (sobretudo se indicação de fertilização in vitro), abortamentos recorrentes; d) Ablação endometrial: ▪ Indicações → menorragia, pacientes esterilizadas ou com prole constituída, cavidade uterina < 12 cm na Histerometria, ausência de dismenorreia intensa sugestiva de adenomiose, histologia do endométrio benigna, falência ou intolerância ao tratamento medicamentoso, obesidade ou doença sistêmica que contraindique uma cirurgia maior; ▪ Contraindicações → miomas volumosos ou desejo de prole; ▪ Vantagens → menos invasivo, menor perda sanguínea, menor custo, menor dor PO, etc; e) Miólise: ▪ Indicações → pacientes com prole constituída e < 4 miomas e o maior mioma não deve ultrapassar 10 cm de diâmetro; Miomatose uterina Acd. Paulo Roberto T30 5 f) Embolização da artéria uterina: ▪ Indicações → pacientes sintomática com miomas volumosos e múltiplos, não pediculados, não degenerados e que desejam preservar o útero; ▪ Contraindicações → desejo de prole, miomas pediculados e submucosos (risco de necrose, infecção e expulsão dos mesmos), infecção pélvica ativa, alergia ao contraste ou contraindicação à arteriografia; ▪ Efeitos colaterais → oclusão de outras artérias (ováricas → falência ovariana precoce), dor pélvica, cefaleia, vômitos, endometrite, intensa secreção vaginal, mialgia, leucocitose, etc; Miomas na gestação → as únicas indicações de cirurgia são os casos de degeneração rubra e torção pedicular acompanhada de abdome agudo; Acd. Paulo Roberto T30 Aspectos gerais Etiopatogenia Patologia Diagnóstico Tratamento
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