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PEDAGOGIA SISTÊMICA PEDAGOGIA SISTÊMICA 2 SUMÁRIO 1- COMO ESTIMULAR O INTERESSE DOS ALUNOS PELA AULA EAD 3 2- PANDEMIA É OPORTUNIDADE PARA REPENSAR A FORMAÇÃO DOCENTE 9 3- O ALUNO E O PROFESSOR, ENCONTRO DE PERSONALIDADES 16 4- CONSTELAÇÕES FAMILIARES INDIVIDUAIS 23 5- A PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA A CLÍNICA DA FAMÍLIA 35 REFERÊNCIAS PEDAGOGIA SISTÊMICA 3 1- COMO ESTIMULAR O INTERESSE DOS ALUNOS PELA AULA EAD É bem verdade que o ensino a distância (EAD) desde muito tempo enfrenta algum tipo de desconfiança com o formato e metodologia de ensino apresentado. Grande parte dessa rejeição foi construída pela falta de qualidade ou profundidade no conteúdo apresentado. Mas esse não é o único ou maior dos problemas das instituições de ensino com modalidades online. A falta de interesse dos alunos pelo EAD tem preocupado gestores da educação, que observam mesmo dentro da sua base de alunos a falta de entusiasmo para acompanhar as aulas ou concluir o curso. Mas como estimular o interesse dos alunos pelo EAD? De acordo com Ariane Cereda, designer de conteúdo e experiências da Slash Education, o planejamento é essencial no design de qualquer experiência de aprendizagem, mas quando falamos de experiências virtuais ou remotas esse planejamento se torna ainda mais importante. “É importante que o professor ou designer de conteúdo, antes de mais nada, tenha total clareza sobre os objetivos esperados com aquela experiência, para então pensar sobre a melhor maneira de encadear forma e conteúdo para cumprir esse objetivo. A grande vantagem aqui é que o mundo digital oferece milhares de possibilidades”, afirma Cereda. Considerando isso, confira algumas dicas que vão ajudar professores e gestores na forma de apresentar o conteúdo no EAD. https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/categoria/ead-ensino-hibrido/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/categoria/ead-ensino-hibrido/ https://slasheducation.com.br/ https://slasheducation.com.br/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 4 Planejamento é uma das principais ferramentas para gerar interesse dos alunos pelo EAD. Créditos: Pexels. Capriche no clima Essa dica vale tanto para aulas ao vivo como para conteúdos gravados. O ambiente é fundamental para despertar a atenção do aluno, por isso, vale a pena investir no plano de fundo e ambientação do local onde o professor fará suas orientações e apresentações. Não é regra, mas o ambiente pode ser enriquecido com elementos simples, como livros ou pôsteres. Durante o período de isolamento social causado pelo coronavírus, houve um grande crescimento no número de aulas a distância e não demorou até que memes e brincadeiras surgissem, justamente considerando o aspecto do cenário dos professores ou então das reuniões de negócios. No Twitter, o usuário e ilustrador Eduardo Berazaluce divulgou uma imagem que rapidamente se espalhou entre os usuários. Tratava-se de um novo produto, destinado a servir como decoração para vídeo chamadas. https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/tag/coronavirus/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/ead-alternativa-coronavirus/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 5 As redes sociais aderiram a ideia que quase virou um produto de verdade, mas até o momento não passou de uma brincadeira. Por isso vale a dica do ambiente, que pode ainda conter elementos relacionados com a aula e o tema que serão apresentados. Tudo isso ajuda a construir uma atmosfera mais interessante ao aluno. Menos slides, mais interação Ainda segundo Cereda quando projetamos experiências de aprendizagem síncronas é sempre bom levar em conta que o tempo das pessoas é precioso – tanto do educador quanto do aluno. “Em meio à sobrecarga de informações e compromissos virtuais que um estudante de EAD possui, vale a pena refletir sobre a real necessidade dos encontros síncronos”, destaca. Para ela, se não for para promover conexão, troca de ideias e experiências de co- criação, talvez esse momento não precise ser síncrono. “Afinal de contas, hoje em dia já existem robôs capazes de fazer leitura de slides – e na velocidade que o estudante desejar”, explica Cereda. Isso significa ir além do velho método de encontrar os alunos virtualmente para apresentar slides pré-definidos. Claro que o conteúdo das apresentações possui o seu real valor na aprendizagem, entretanto, talvez esse formato de conteúdo possa ficar disponível em alguma plataforma para que os alunos possam consultar antes do encontro com o professor. Dessa forma, durante a aula ao vivo é possível dedicar tempo e atenção nas dúvidas e outras atividades que visam contribuir para o verdadeiro aprendizado do aluno, além de é claro, permitir que novas ferramentas sejam utilizadas para deixar a aula ainda mais dinâmica. Tenha uma boa postura A postura também é uma ótima forma de transmitir energia, motivação e engajamento para quem estará do outro lado das câmeras. Por isso, a postura apropriada não só https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/tempo-ensino-remoto-quarentena/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 6 permite que o professor se sinta mais confortável como também dá aos alunos maior segurança na figura de autoridade que estão observando. Coluna reta; Cadeira confortável; Câmera na altura dos seus olhos; Punhos e antebraços apoiados. Além disso, pode ser uma boa ideia apostar na caracterização especial para diferentes tipos de aulas. Um chapéu, peruca ou acessórios pode ser o suficiente para atrair a atenção dos alunos e fazê-los “entrar no clima”, contribuindo também para um ambiente mais descontraído. Além do figurino, as expressões faciais e corporais funcionam como uma vitrine e podem ajudar a dar um tom amigável, simpático e próximo dos alunos para as aulas. Faça o teste: quando estiver falando com os estudantes, experimente olhar para a câmera ao invés de olhar para a tela do computador. Pode parecer estranho na primeira vez, mas para quem está do outro lado da tela, vai ficar bem parecido com um “olho no olho”. PEDAGOGIA SISTÊMICA 7 Menos passividade e mais interação: uma das principais dicas para estimular o interesse dos alunos pelo EAD. Use a tecnologia ao seu favor Cereda conta que a Slash Education precisou de uma rápida adaptação de experiências de aprendizagem para o formato remoto. “Um importante aprendizado dos últimos 5 meses tem sido colocar os slides em quarentena”, diz. “No lugar deles, preferimos fazer uso de plataformas e ferramentas que promovam a troca de ideias e a cocriação”, conta a design de conteúdo. Uma apresentação de slides bem estruturada pode se tornar um ebook para estudo assíncrono, permitindo que o estudante chegue aos encontros da turma em tempo real preparado para questionar, debater e trazer novas reflexões sobre o conteúdo previamente estudado. Utilizar a tecnologia a favor do conteúdo apresentado pode gerar maior engajamento dos alunos, o que poderá inclusive refletir na opinião deles com relação ao curso e conteúdo apresentado, tornando esse aluno um verdadeiro defensor da instituição. https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/tecnologia-educacao/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 8 Ferramentas para utilizar no EAD Miro: Plataforma de quadro colaborativo online para reunir equipes a qualquer hora e em qualquer lugar, o Miro fornece uma experiência de colaboração pessoal intuitiva e envolvente com várias opções para trabalho em equipe assíncrono ou em tempo real em um quadro branco online. LucidChart: o Lucidchart é uma ferramenta de trabalho visual que mescla diagramas, visualização de dados e colaboração para acelerar a compreensão e promover a inovação. Ideias, informações e processos podem ser inseridos em incríveis diagramas, facilitando acriação de elementos visuais para trabalhar com os estudantes. Google Jamboard: O Jamboard é uma ferramenta simples, ideal para incentivar os alunos a aprender, colaborar e participar ativamente. Com um quadro branco, é possível escrever, desenhar, inserir notas e imagens, tudo de forma colaborativa. Padlet: O Padlet permite que sejam compartilhados (quase) todo tipo de arquivos. Planilhas, selfies, playlists do Spotify, vídeos do YouTube, fotos do Instagram ou publicações no Twitter são alguns dos mais de 400 aplicativos suportado. Mentimeter: Com essa ferramenta você poderá criar pesquisas de opinião, chuvas de ideias, votações e sessões com perguntas & respostas, tudo em tempo real. https://miro.com/ https://www.lucidchart.com/ https://edu.google.com/intl/pt-BR/products/jamboard/?modal_active=none https://pt-br.padlet.com/ https://www.mentimeter.com/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 9 2- PANDEMIA É OPORTUNIDADE PARA REPENSAR A FORMAÇÃO DOCENTE Passamos por tempos inimagináveis, nos quais os modelos que dominávamos sobre o ensinar e o aprender exigiram mudanças radicais. Para a maioria dos professores, os efeitos da pandemia significou trabalhar como nunca haviam experimentado. Foi um grande desafio criar um modelo de aulas remotas – utilizando recursos digitais, a partir da casa dos estudantes, enquanto os prédios escolares eram fechados. Agora, perto de completar três meses de suspensão das atividades presenciais, o que se tem é uma rotina extenuante das aulas remotas. De um lado, estão alunos cansados, com saudade dos amigos e ansiosos para voltar à escola. Do outro, professores esgotados pelo excesso de tarefas – ou ainda preocupados com os estudantes que não foram contatados, que estão “abandonados pela escola”, impossibilitados de acessar o conteúdo digital. Na iminência de uma reabertura das escolas no Brasil, seria importante aproveitar o ensejo e repensar a formação docente. Em tempos de amplo distanciamento físico – resultado da pandemia -, o foco da formação docente, em regime de emergência, centrou-se basicamente em treinamentos para o uso de tecnologias digitais. Compreensível, já que a escola saiu do modo presencial para um formato a distância. Mas aprendemos com a singularidade da situação que possivelmente estamos caminhando para um novo modelo de funcionamento da escola. Devido à necessidade de novos protocolos de distanciamento, ensinar e aprender vão exigir novas configurações tanto do ponto de vista físico quanto metodológico. https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/dicas-professores-ead-cororavirus/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/coronavirus-brasil-estudo-remoto/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/ead-alternativa-coronavirus/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/criancas-preferem-estar-na-escola/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/criancas-preferem-estar-na-escola/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/estudantes-baixa-renda-quarentena/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/reabertura-das-escolas-pandemia/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/formacao-de-professores-no-brasil/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/cobertura-coronavirus-educacao/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/cobertura-coronavirus-educacao/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/reabertura-das-escolas-pandemia/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 10 A nova rotina dos professores Como estão os professores enquanto as escolas seguem fechadas? Numa rápida pesquisa pelo YouTube é possível verificar inúmeras aulas em que os professores gravam para seus alunos – e que estão disponíveis para serem acessadas para quem tiver interesse. Nas minhas noites insones, tenho feito algumas viagens pelo mundo digital e constatado o imenso esforço dos professores que tentam, com muito pouco recursos, ensinar algo para os alunos. Alguns tentando quebrar o desconforto de ter que ensinar de modo remoto, se empenham em prender a atenção dos estudantes da melhor maneira possível. Uns têm sucesso, outros nem tanto. Mas todos estão comprometidos em exercer seu ofício da melhor forma que conseguem. É consenso que os professores estão trabalhando muito mais em casa do que quando iam à escola para ensinar. Principalmente agora que muitas escolas exigem avaliações por parte dos professores a respeito da aprendizagem dos seus alunos, em tempos tão difíceis. O problema é que, apesar do ineditismo destes tempos, seguimos conduzindo a educação da mesma forma. Professores são cobrados para desenvolverem um ativismo excessivo, com pouco tempo para reflexão e descanso, focados basicamente no fazer, fazer e fazer ainda dentro da concepção de que para aprender é preciso muito, sempre muito. Passar muito mais horas preparando aulas remotas. Ocupar um tempo exagerado dos alunos frente ao computador. Passar muitas tarefas. Acompanhar 24 horas seus alunos. Cobrar muitos exercícios. Antes da pandemia, sabíamos que para aprender é preciso tempo, reflexão, indagações e cuidado. Mesmo assim, seguimos no modelo acelerado de aprendizagem, agora de modo remoto, com muitas escolas exigindo que os professores cumpram seus planejamentos pré-pandemia, como se nada estivesse acontecendo. Faz sentido isso? https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/tag/ensino-remoto/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/isolamento-analise-escola/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 11 Por outro lado, as famílias, entendendo que a escola é apenas uma prestação de serviço, exigem que ela faça jus ao valor pago nas mensalidades, no caso das redes privadas. E todos correm para cumprir o prometido, tendo em vista o medo que os pais têm de que seus filhos parem de aprender e fiquem atrasados frente aos filhos dos seus amigos, que estudam em escolas diferentes dos seus. Temem que a concorrência para acesso às melhores universidades do país fique ainda mais acirrada, mesmo que seus filhos ainda estejam nos anos iniciais da educação básica. Parece que o jogo virou: comportamento de professor na quarenta vira piada na internet. Crédito: reprodução. Isso sem falar na imensa frustração daqueles professores que trabalham em alguma rede pública e que até o momento não conseguiram contatar todos seus alunos. E não são poucas redes municipais e até mesmo estaduais em que milhares de estudantes encontram-se completamente abandonados. Resta saber se a escola, https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/continuacao-ensino-remoto/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/categoria/ensino-basico/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/estudantes-baixa-renda-quarentena/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/estudantes-baixa-renda-quarentena/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 12 quando abrir, conseguirá trazê-los de volta. Se é que esta é uma preocupação dos dirigentes educacionais. Enfim, voltando para minhas noites de insônia viajando pelo YouTube, examinando em especial a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental, constato de forma estarrecedora que são muitos os vídeos que ensinam conteúdos que considerava que não eram mais ensinados, depois de tudo que aprendemos com o construtivismo. São muitos os vídeos que ensinam o desnecessário, que falam com os pequenos estudantes de maneira infantilizada, com muitos diminutivos nas frases como tentativa de falar com as crianças, com conteúdo de trinta anos atrás, impondo um clima de artificialidade absoluta, em cenários inacreditáveis. Não quero aqui desmerecer o imenso esforço das professoras, porque tenho certeza de que tentam fazer o melhor. Se empenham muito para acertar. O que observo, no entanto, é que mesmo com muitos conteúdos disponíveis para formação docente os professores seguem reproduzindo aquilo que pertence a um passado. Por quê? Por outro lado, o modelo que possuem para apresentação de atividades para as crianças pequenasé o que assistem na tv, por meio de programas infantis, imitando atrizes e atores que tentam ser, sem saber. Não possuem outro repertório: ou é sala de aula como ensinava ou simulacro de cenário de programa de TV. Esta constatação que me preocupa, me remete a questão da formação docente. Sem querer acusar ninguém ou qualquer instituição, é hora de indagamos que tipo de formação docente o Brasil vem desenvolvendo com seus professores que, em um tempo tão confuso, emerge o mais tradicional? O que podemos aprender com esta experiência que nos possibilita refletir sobre como aprendem os professores? https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/magda-soares-alfabetizacao-saeb/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/aulas-pela-tv-ensino-basico/ https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/formacao-professores-quatro-anos/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 13 Já faz muito tempo que insistentemente venho discutindo que precisamos mudar nosso entendimento de como estamos desenvolvendo as ações de formação voltadas para os docentes, que na sua maioria, ainda predomina o modelo prescritivo em que toda ação é planejada para os professores e não com os professores. É sempre a perspectiva do que precisam saber e nunca do que já sabem. Ainda se acredita que basta acessar modelos de bons planos de aula para que os professores consigam ser profissionais mais competentes. No entanto, sabemos que não passam de receitas que servem apenas para serem copiadas, sem desenvolver autonomia crítica por aquele que precisa saber ensinar. Ou ainda a extensa bibliografia que tenta “facilitar” seu ofício, dando o passo a passo para conseguir ter sucesso na profissão. Sem o envolvimento dos professores, eles são colocados no lugar de meros executores daquilo que foi pensado por “especialistas” e que precisam trabalhar. A consequência é o que podemos constatar nos vídeos. “É urgente repensar a formação docente verdadeiramente necessária para este tempo de pandemia, com destino a um futuro que nada sabemos”, afirma Lourdes Atié. Crédito: Shutterstock. https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/author/lourdes-atie/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 14 Sabemos que vamos precisar repensar todo o funcionamento da escola, respeitando os protocolos de distanciamento, quando ainda não temos uma vacina de combate ao vírus da covid-19. Essa escola que será construída, e que já vem sendo pensada por muitos educadores, representa também uma oportunidade para que os professores exerçam um protagonismo necessário para que se sintam desafiados e confiantes de que tem condições de fazer uma escola necessária para novos desafios. Para isso, a pandemia serviu para repensar a formação docente, entendendo que não se pode partir de zero, como se fossem depósitos vazios, como tão bem Paulo Freire nos ensinou quando escreveu a respeito da educação bancária. A formação docente necessária é a reflexiva, aquela que parte das experiências concretas dos professores, questionando a própria prática, por meio de ambiente colaborativos. É formação com os docentes. O que precisam aprender os que ensinam não se faz com receituários prescritivos. É um processo complexo, em permanente mudança, em que mediações tradicionais não dão conta mais da sua complexidade. Precisamos aprender com o que estamos passando no isolamento social, pois não podemos mais restringir as formações a espaços formais. Estamos vivendo um tempo em que constatamos que vivemos em um mundo digital, altamente conectado e que aprender extrapola espaços e tempos. É preciso que entendamos que os professores aprendem em relações entre saberes, não apenas conteúdos conceituais, mas também por meio de afetos e corporeidades. Aprender a ensinar significa também aprender a se cuidar, conhecer seus limites e possibilidades, significa estar “encarnados” para poderem promover diversos encontros – consigo mesmos e com outros educadores, por meio de redes colaborativas que ajudam a construir aprendizagens. É urgente repensar a formação docente verdadeiramente necessária para este tempo de pandemia, com destino a um futuro que nada sabemos. Só assim https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/reabertura-das-escolas-pandemia/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 15 poderemos construir um protagonismo docente, a partir da reflexão sobre a experiência vivida. Sem isso, a escola brasileira seguirá em busca de respostas para resolver apenas o “como” se faz isso ou resolve aquilo, sem verdadeiramente avançar e assim demonstrar a relevância da sua existência. Escola com sentido é aquela em que todos os alunos conseguem aprender porque tem um professor ou uma professora que exerce seu protagonismo com autonomia, resultado de sua formação reflexiva permanente. Por onde começar a pensar nesta formação docente necessária? Partindo das seguintes indagações: como aprendemos a ensinar neste tempo de pandemia? E o que aprendemos com esta experiência? É fundamental registrar e disponibilizar estas experiências biográficas, transformando-as em ferramentas de investigação, para expandir a formação docente para além das instituições formais, criando novos arranjos colaborativos. Está na hora de mudarmos esta história. PEDAGOGIA SISTÊMICA 16 3- O ALUNO E O PROFESSOR, ENCONTRO DE PERSONALIDADES A relação professor-aluno tem sido uma das principais preocupações do contexto escolar. Nas práticas educativas, o que se observa é que, por não se dar a devida atenção à temática em questão, muitas ações desenvolvidas no ambiente escolar acabam por fracassar. Daí a importância de estabelecer uma reflexão aprofundada sobre esse assunto, considerando a relevância de todos os aspectos que caracterizam a escola. Ao levar em consideração a escola como a única instituição demarcada, com a possibilidade da construção sistematizada do conhecimento pelo aluno, foi de fundamental importância a criação de algumas possibilidades e condições favoráveis, nas quais alunos e professores puderam refletir sobre sua prática e passaram a atuar num clima mais condizente com a realidade de uma escola. Isso se deu porque, quanto mais instrumentalizados se sentiam melhor acontecia o desenvolvimento das ações realizadas por esses sujeitos. Assim, pôde-se perceber que é sempre imprescindível rever alguns aspectos da realidade atual da escola, no sentido de propiciar condições favoráveis, que possibilitem o interesse de professores e alunos, para que constantemente pensem sobre essa realidade. Só dessa forma poderão conquistar o reconhecimento e a valorização de suas ações, por parte de toda a comunidade escolar. Sabe-se que existe uma preocupação por parte de muitos estudiosos e pesquisadores em contribuir para um trabalho mais rico e significativo nas escolas. Mas, ao se fazer uma análise do atual contexto escolar, nota-se que ainda são muito perceptíveis no cotidiano da escola, as reclamações e insatisfações por parte dos professores em relação aos alunos e vice-versa. Ou seja, a relação professor-aluno parece ser permeada por animosidades ou conflitos. Diante de tantos desconfortos pedagógicos, houve alguns impasses: Entender ou repreender? Orientar ou ignorar? A partir daí, tomou-se a decisão de olhar de frente o problema e o aproveitar para um tema de pesquisa a ser investigado: Como a relação professor- aluno pode contribuir no processo ensino-aprendizagem? O professor e sua prática Muitos professores que atuam nas escolas não se dão conta da importante dimensão que tem o seu papel na vida dos alunos. Nesse sentido, um dos aspectos que se quer ressaltar neste artigo é a importância da formação do PEDAGOGIA SISTÊMICA 17 professor e da compreensão que ele deve ter em relação a esse assunto. Pois, não há como acontecer na escola uma educação adequada às necessidadesdos alunos sem contar com o comprometimento ativo do professor no processo educativo. Entretanto, ao aproximar-se da figura de alguns professores, percebe-se que muitos, baseados no senso comum, acreditam que ser professor é apropriar-se de um conteúdo e apresentá-lo aos alunos em sala de aula. Mudar essa realidade é necessário para que uma nova relação entre professores e alunos comece a existir dentro das escolas. Para tanto, é preciso compreender que a tarefa docente tem um papel social e político insubstituível, e que no momento atual, embora muitos fatores não contribuam para essa compreensão, o professor necessita assumir uma postura crítica em relação a sua atuação recuperando a essência do ser “educador”. E para o professor entender o real significado de seu trabalho, é necessário que saiba um pouco mais sobre sua identidade e a história de sua profissão. Teríamos que conseguir que os outros acreditem no que somos. Um processo social complicado, lento, de desencontros entre o que somos para nós e o que somos para fora [...] Somos a imagem social que foi construída sobre o ofício de mestre, sobre as formas diversas de exercer este ofício. Sabemos pouco sobre a nossa história (ARROIO, 2000, p.29) Fazendo uma correlação com esse ponto de vista, não se pode deixar de destacar e valorizar os fenômenos histórico-sociais presentes na atividade profissional do professor. Nessa perspectiva, jamais poderá ser compreendido o trabalho individual do professor desvinculado do seu papel social, dessa forma estarse-ia descaracterizando o sentido e o significado do trabalho docente. Considerando a emergência de se trabalhar a identidade do professor, percebe-se uma vasta bibliografia sobre a profissão docente, a qual tem apresentado muitas ideias e questionamentos, principalmente sobre a formação dos professores, e, mais especificamente, sobre a formação reflexiva dos professores. No entanto, percebe-se que ainda não existe um consenso quanto ao significado. exato do que seja o professor reflexivo, embora haja muitos estudos e pesquisas nessa linha teórica. Segundo Pimenta (2002), faz-se necessário compreender com mais profundidade o conceito de professor reflexivo, pois o que parece estar PEDAGOGIA SISTÊMICA 18 ocorrendo é que o termo tornou-se mais uma expressão da moda, do que uma meta de transformação propriamente dita. Para Libâneo, é fundamental perguntar: que tipo de reflexão o professor precisa para alterar sua prática, pois para ele A reflexão sobre a prática não resolve tudo, a experiência refletida não resolve tudo. São necessárias estratégias, procedimentos, modos de fazer, além de uma sólida cultura geral, que ajudam a melhor realizar o trabalho e melhorar a capacidade reflexiva sobre o que e como mudar (LIBÂNEO, 2005, p. 76). Assim, se percebe que pensar sobre a formação de professores é conceber que o professor nunca está acabado e que os estudos teóricos e as pesquisas são fundamentais, no sentido de que é por intermédio desses instrumentos que os professores terão condições de analisar criticamente os contextos históricos, sociais, culturais e organizacionais, nos quais ocorrem as atividades docentes, podendo assim intervir nessa realidade e transformá-la. O processo de interação e de mediação na relação professor-aluno Em todo processo de aprendizagem humana, a interação social e a mediação do outro tem fundamental importância. Na escola, pode-se dizer que a interação professor- aluno é imprescindível para que ocorra o sucesso no processo ensino aprendizagem. Por essa razão, justifica-se a existência de tantos trabalhos e pesquisas na área da educação dentro dessa temática, os quais procuram destacar a interação social e o papel do professor mediador, como requisitos básicos para qualquer prática educativa eficiente. De acordo com as abordagens de Paulo Freire, percebe-se uma vasta demonstração sobre esse tema e uma forte valorização do diálogo como importante instrumento na constituição dos sujeitos. No entanto, esse mesmo autor defende a ideia de que só é possível uma prática educativa dialógica por parte dos educadores, se estes acreditarem no diálogo como um fenômeno humano capaz de mobilizar o refletir e o agir dos homens e mulheres. E para compreender melhor essa prática dialógica, Freire acrescenta que [...], o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um PEDAGOGIA SISTÊMICA 19 sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 2005, p. 91). Assim, quanto mais o professor compreender a dimensão do diálogo como postura necessária em suas aulas, maiores avanços estará conquistando em relação aos alunos, pois desse modo, sentir-se-ão mais curiosos e mobilizados para transformarem a realidade. Quando o professor atua nessa perspectiva, ele não é visto como um mero transmissor de conhecimentos, mas como um mediador, alguém capaz de articular as experiências dos alunos com o mundo, levando-os a refletir sobre seu entorno, assumindo um papel mais humanizador em sua prática docente. Já para Vygotsky, a ideia de interação social e de mediação é ponto central do processo educativo. Pois para o autor, esses dois elementos estão intimamente relacionados ao processo de constituição e desenvolvimento dos sujeitos. A atuação do professor é de suma importância já que ele exerce o papel de mediador da aprendizagem do aluno. Certamente é muito importante para o aluno a qualidade de mediação exercida pelo professor, pois desse processo dependerão os avanços e as conquistas do aluno em relação à aprendizagem na escola. Organizar uma prática escolar, considerando esses pressupostos, é sem dúvida, conceber o aluno um sujeito em constante construção e transformação que, a partir das interações, tornar-se-á capaz de agir e intervir no mundo, conferindo novos significados para a história dos homens. Quando se imagina uma escola baseada no processo de interação, não se está pensando em um lugar onde cada um faz o que quer, mas num espaço de construção, de valorização e respeito, no qual todos se sintam mobilizados a pensarem em conjunto. Na teoria de Vygotsky, é importante perceber que como o aluno se constitui na relação com o outro, a escola é um local privilegiado em reunir grupos bem diferenciados a serem trabalhados. Essa realidade acaba contribuindo para que, no conjunto de tantas vozes, as singularidades de cada aluno sejam respeitadas. Portanto, para Vygotsky, a sala de aula é, sem dúvida, um dos espaços mais oportunos para a construção de ações partilhadas entre os sujeitos. A mediação é, portanto, um elo que se realiza numa interação constante no processo ensinoaprendizagem. Pode-se dizer também que o ato de educar é nutrido pelas relações estabelecidas entre professor-aluno. PEDAGOGIA SISTÊMICA 20 A Afetividade A escola pode ser considerada como um dos espaços essencialmente propícios, e talvez único, capaz de desenvolver e elevar o indivíduo intelectual e culturalmente dentro de uma sociedade. Entretanto, as relações estabelecidas no contexto escolar entre alunos e professores têm exigido bastante atenção e preocupação por parte daqueles que encaram a escola como espaço de construção e reconstrução mútua de saberes. Nesse sentido, acredita-se que uma das tarefas das equipes pedagógicas de qualquer escola, é a criação de estratégias eficazes, no sentido de promover uma formação continuada, a qual possibilite uma relação pedagógica significativa e responsável entre professores e alunos, garantindo a todos a melhoria no processo ensino aprendizagem. Entende-se que cada ser humano, ao longode sua existência, constrói um modo de relacionar-se com o outro, baseado em suas vivências e experiências. Dessa forma, o comportamento diante do outro depende da natureza biológica, bem como da cultura que o constituiu enquanto sujeito. Nessa perspectiva, é de fundamental importância entender que a sala de aula é um espaço de convivências e relações heterogêneas em ideias, crenças e valores. Na teoria de Henri Wallon, encontramos subsídios importantes no que diz respeito à dimensão afetiva do ser humano e como ela é significativa na construção da pessoa e do conhecimento. Para esse teórico, a afetividade e a inteligência são inseparáveis, uma vez que uma complementa a outra. Os estudos de Wallon propõem algumas reflexões a respeito da constituição do adolescente. Tais reflexões fornecem pistas fundamentais aos professores que atuam com essa faixa etária. Segundo o autor, a juventude inicia-se com uma crise marcada por mudanças na estruturação da personalidade. É um momento no qual o adolescente volta-se para questões que estão mais diretamente ligadas ao seu lado pessoal, moral e existencial. Nesse sentido, a afetividade torna-se um dos fatores preponderantes no processo de relacionamento do adolescente consigo mesmo e com os outros, contudo, isso ocorre a partir de um caráter cognitivo já estabelecido, ou seja, ele consegue gerir uma exigência racional nas relações afetivas. Normalmente é uma fase marcada por muitos questionamentos, fortes exigências, novas experiências e constantes preocupações. Diante de tantas alterações físicas e emocionais, muitas vezes não conseguindo conter ou canalizar tanta energia, iniciam-se os confrontos com pais, PEDAGOGIA SISTÊMICA 21 professores e até com colegas. Considera-se esse período o mais marcado pelas transformações, talvez seja essa uma das razões pelas quais exista um enorme desejo de se romper com os modelos pré-estabelecidos. Para Galvão (1995), o desenvolvimento do adolescente é marcado por muitos conflitos, que são próprios do ser humano, alguns são importantes para o crescimento, outros provocam muito desgaste e transtornos emocionais. Sendo assim, a escola precisa criar um ambiente mais estimulante e afetivo que possibilite a esse adolescente enxergar-se nesse processo. Por esse motivo, a mediação do professor é uma contribuição que irá ajudar o aluno do segundo segmento do Ensino Fundamental a dar sentido ao seu existir e ao seu pensar. É importante que se ressalte que, quando se fala em proporcionar uma relação professor-aluno baseada no afeto, de forma alguma, confunde-se aqui afeto com permissividade. Pelo contrário, a ação do professor deve impor limites e possibilidades aos alunos, fazendo com que estes percebam o professor como alguém que, além de lhe transmitir conhecimentos e preocupar-se com a apropriação dos mesmos, compromete-se com a ação que realiza, percebendo o aluno como um ser importante, dotado de ideias, sentimentos, emoções e expressões. Assim, todo educador que deseja adequar sua prática pedagógica à teoria Walloniana deve buscar desenvolver atividades que envolvam os alunos de forma integrada, ou seja, deve orientar sua prática para que desenvolva a expressividade, a emoção, a personalidade e o pensamento criativo. Para finalizar e contribuir com as reflexões acerca da afetividade na escola, Freire salienta Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual (FREIRE, 1996, p. 146). Isso vem reforçar a ideia de que os professores, quando buscam aprofundar seus conhecimentos sobre a importância da afetividade na escola, estão, na verdade, procurando entender tanto de seres humanos, quanto de conteúdos e técnicas educativas. Enfim, a teoria de Wallon considera as questões afetivas como molas propulsoras que promovem o avanço e o desenvolvimento dos indivíduos. Assim, é PEDAGOGIA SISTÊMICA 22 necessário conceber a sala de aula como um rico espaço de relações entre alunos e professores. Levando em conta esse cenário de oposição e interação em que, muitas vezes, o convívio harmônico é quase impossível, faz-se necessário salientar mais uma vez o diálogo como um instrumento importante nessas relações. PEDAGOGIA SISTÊMICA 23 4- CONSTELAÇÕES FAMILIARES INDIVIDUAIS Constelação familiar é uma filosofia estudada e pesquisada por Bert Hellinger. A partir desses estudos, ele desenvolveu uma ferramenta que consiste em resolver as dinâmicas familiares que devem ser regidas pelas leis do amor. Nesse contexto, conceitos não tão conhecidos como a constelação familiar individual precisam ser explicados. Dessa forma, a Constelação tem ajudado muitas pessoas a resolverem problemas em suas vidas que nem imaginavam ter relação com o seu sistema familiar. Uma das formas de se fazer essa terapia é através da constelação familiar individual. Isso embora seja bastante comum encontrar a Constelação Familiar no formato de terapia em grupo, onde as pessoas performam membros de sua família. Contudo, em muitos casos, conduzir a constelação familiar de modo individual é preferível. Assim sendo, saiba mais sobre esse método e se ele pode ser o melhor para você. Constelação Familiar: como funciona? Nós nascemos já fazendo parte de um grupo familiar. Não importa se estamos falando de um órfão ou de alguém adotado. De acordo com a Constelação Familiar, a família biológica é parte da nossa vida, não importa a distância e o contato. Segundo Hellinger, o sistema familiar conecta todos os membros através de um campo energético. Assim, entre todas as partes existe trocas de energia, mesmo entre os falecidos e aqueles que foram afastados da família. Nesse contexto, imagine viver uma vida inteira se sentindo deslocado, que falta algo na sua vida e que você não é capaz de evoluir? Não parece uma vida feliz. No entanto, é um quadro mais comum do que se imagina. Por essa razão, a https://constelacaofamiliar.net.br/bert-hellinger/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 24 constelação tem como objetivo mudar esses sentimentos atuando sobre a melhoria do sistema familiar. Quer saber mais como funciona a Constelação Familiar? Preparamos este vídeo para que você possa entender mais sobre o assunto! Família é um sistema Pense no sistema que faz um carro funcionar: quando uma peça começa a desgastar, o efeito ocorre em cadeia. Por exemplo, um amortecedor defeituoso pode tirar a estabilidade do carro ou desgastar o pneu mais facilmente. De maneira similar, um farol quebrado afeta sua comunicação com outros motoristas e aumenta a chance de acidentes. Ainda nesse contexto, o computador também é um sistema. Assim, tudo precisa estar funcionando para que o desempenho seja aquele que você adquiriu no momento da compra. As teclas, os programas, a tela… Tudo deve funcionar em perfeita harmonia e sinergia. Dessa forma, é assim que uma família é vista na constelação familiar: como um sistema. Nesse contexto, o constelador vai analisar se todas as partes estão funcionando do jeito que deveriam. Assim, o sistema familiar poderá chegar ao “estado de natureza”, isto é, o que Bert Hellinger diz que é importante para a família resgatar a felicidade. Conexão do indivíduo com o mundo exterior Absolutamente nenhum organismo vivo é isolado. Ele, de alguma forma, interage com o mundo exterior e faz parte de um sistema. Assim, a concepção da vida já nos coloca dentro desse sistema, onde seres estão interligados e conectados por um campo energético.Nesse contexto, a família é um sistema e os indivíduos estão ligados entre si e com o mundo exterior. Por essa razão, existe total relação entre estar bem dentro do sistema familiar e estar em conexão com o mundo exterior. PEDAGOGIA SISTÊMICA 25 Somos tão conectados com a família que nossas células aprendem o que aconteceu em gerações passadas. Eventos felizes ou tristes que acontecem no passado da família ficam registrados a ponto de os novos membros, de alguma forma, possuírem essa “memória genética”. Assim, nossos antepassados podem estar influenciando a nossa vida de uma maneira que nem imaginamos ser possível. A solução para problemas que nem imaginamos Padrões, crenças, ideologias, dificuldades e doenças: tudo isso pode ter explicação no seu histórico familiar. No entanto, o melhor é que a solução para problemas pode estar no mesmo lugar. Quando esses problemas são solucionados, o amor flui livremente na família do jeito que deve ser. Nesse contexto, a família atinge o “estado de natureza”, onde os membros são completos e felizes. Assim, quando o amor flui entre os membros, o sujeito está preparado para conectar- se com o mundo exterior. Ele terá mais autonomia e saberá se relacionar com outros, assim como é dentro de sua família. Dessa forma, resolver dinâmicas familiares conturbadas geram benefícios em cadeia. Essa decisão reflete no trabalho, na saúde, nas finanças e na sensação de realização pessoal também. Diferenças entre atendimento individual e em grupo A constelação familiar individual busca trazer alguns aspectos relevantes da que é feita em grupo. Assim, a representação dos familiares da constelação é essencial para que o paciente tenha uma visão clara sobre as dinâmicas e os problemas a serem resolvidos. Em grupo, geralmente composto por 20 pessoas, o cliente faz a terapia colocando outras pessoas como representantes de seus familiares. No entanto, não https://constelacaoclinica.com/constelacao-familiar-na-vida-de-um-engenheiro-civil/ https://constelacaoclinica.com/constelacao-familiar-na-vida-de-um-engenheiro-civil/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 26 necessariamente os participantes do grupo possuem relação entre si. O constelador orienta as representações e auxilia o cliente a ter uma visão sistêmica de sua família. Na constelação individual, o terapeuta e o cliente estão sozinhos. Contudo, as representações ainda são necessárias. Elas podem ser feitas com bonecos, desenhos, pedras coloridas… Assim, o que importa é o cliente entender as representações e as dinâmicas entre elas. Quando escolher a individual Não existe uma modalidade de constelação mais ou menos recomendada. Tudo vai depender de como o cliente vai se sentir. Caso ele não se sinta aberto e falar tudo que precisa, a terapia individual é a mais indicada. Assim, o constelador poderá obter todas as informações que precisa sem que o cliente se sinta constrangido. Ademais, quando existe uma questão familiar específica e delicada para o cliente, o mais recomendado é fazer a individual. Alguns problemas não são compartilhados com facilidade pelos pacientes, então fazer terapia em grupo para questões complexas pode inibir, mesmo que inconscientemente. Contudo, realizando um trabalho em grupo alguns clientes conseguem fazer representações da família com pessoas de verdade. Isso pode ajudar a resolver melhor algumas questões. Portanto, tudo depende do sentimento de cada um, do conforto e da disposição em se abrir. Como funciona a constelação familiar individual Com ajuda do terapeuta, o cliente coloca em um campo os objetos que vão representar a família. Esses objetos são dispostos de acordo com a imagem inconsciente que ele tem do seu sistema familiar. PEDAGOGIA SISTÊMICA 27 É importante sentir a emoção, uma energia diferente. O sistema quando não funciona bem não deixa que a energia flua livremente. Quando a constelação vai resolvendo essas questões, o sujeito precisa estar aberto e disposto para receber todo amor de sua família. O constelador, então, vai ajudar na observação dessas dinâmicas, na análise das emoções despertadas e no reflexo delas no sistema como um todo. Dê uma chance à constelação familiar individual Os resultados da constelação familiar individual não se resumem somente em melhorar a qualidade da relação entre seus familiares. Quando esse sistema está funcionando próximo ao “estado de natureza”, todos os indivíduos do grupo conseguem progredir melhor. A constelação familiar estimula mudança. Assim, ficamos mais abertos à receber tudo de bom que a vida tem para nos dá. Nossas decisões são mais assertivas, a vida financeira pode dar uma guinada, e conflitos nos relacionamentos são solucionados. Quando existe um sistema familiar funcional, todos os seus componentes funcionam plenamente de forma individual. São pessoas decididas, seguras, com boa autoestima, saudáveis de mente e corpo e sabem se relacionar. O que é Constelação Sistêmica? A Constelação Sistêmica ou Constelação Familiar é uma filosofia aplicada cujos efeitos muitas vezes são profundamente terapêuticos. O método foi baseado nas descobertas do alemão Bert Hellinger, que percebeu que, num trabalho em grupo, ao colocar pessoas para representar membros da família ou grupo social de um cliente, elas que nada sabiam deste cliente, se movimentavam e apresentam reações reveladoras sobre o que estava de fato acontecendo naquela família ou grupo social. Assim, a Constelação Familiar Sistêmica, através da sabedoria do campo morfogenético, se apresenta como um método capaz de trazer à tona os reais PEDAGOGIA SISTÊMICA 28 bloqueios e os movimentos essenciais para retomada do fluxo de amor no sistema familiar/grupo social e, consequentemente, na vida do cliente. As Leis do Amor Hellinger descobriu três leis naturais, também conhecidas como ordens do amor, que atuam nos relacionamentos humanos, e assim como a lei da gravidade, elas existem quer a gente acredite nelas ou não. Lei da Ordem ou Hierarquia: Estabelecida pela ordem de chegada. Uma forma muito simples de explicá-la é essa: “quem veio antes, veio antes; quem veio depois, veio depois; e ponto”. E como diz o Décio Oliveira, médico e professor dessa filosofia há mais de 16 anos “e o mais importante é o ponto”. Um exemplo de violação comum dessa lei acontece quando um filho sai de seu lugar e passa a assumir o lugar de um irmão mais velho, ou até mesmo dos próprios pais. Isso traz sofrimento a este filho e, essa postura de arrogância acaba por trazer fracassos e doenças. Outro exemplo de violação acontece quando um filho exige dos pais algo além do que eles lhe dão, causando amargura e, geralmente, destinos difíceis a este filho. Lei do Pertencimento: Estabelecida pelo vínculo. Segundo essa lei sistêmica, todos de um sistema familiar pertencem e devem ter um lugar. Quando alguém é excluído do sistema, seja por questões de ordem moral, por segredos familiares ou qualquer outro motivo, outros membros da família – geralmente de gerações subsequentes – se unem por amor a este excluído, repetindo comportamentos ou revivendo seu destino como forma de incluí-lo. Tudo isso acontece na alma familiar, quer os envolvidos tenham consciência das histórias de exclusão ou não. Lei do Equilíbrio: Estabelecida pelo dar e receber. Um exemplo de violação comum dessa lei acontece quando, num relacionamento de casal, um dos parceiros se sente superior ao outro e prefere dar todo o seu amor e, sem perceber, se recusa a receber. Com o tempo o parceiro que recebe muito se sente humilhado e diminuído, vai perdendo o PEDAGOGIA SISTÊMICA 29 interesse e acaba por buscar outras formas para resgatar a dignidade. Já entre pais e filhos, existe uma ordem natural do dar e receber que vem do mais antigo parao mais jovem, ou seja, os pais dão e os filhos recebem. Os pais dão a vida, que é algo simplesmente irretribuível, e os filhos a tomam; os pais dão amor e os filhos o tomam em seu coração. Quando essa ordem é invertida muitos problemas aparecem. Assim, numa relação entre pais e filhos, regida primeiramente pela lei da hierarquia, só há equilíbrio entre dar e receber quando os filhos passam adiante o amor e a vida que receberam de seus pais. Como funciona o atendimento individual de Constelação na Spontaneum? Facilitado por Claudia Pampolini, o atendimento individual segue as bases fundamentais das constelações clássicas de Bert Hellinger e das Novas Constelações, movimento liderado por Brigitte Champetier e Sophie Hellinger. Utiliza-se também da compreensão da força arquetípica do tarot terapêutico e sua sabedoria milenar, para propor ao cliente uma percepção apurada e profunda de si mesmo, sempre dentro da proposta do tema a ser trabalhado e do que emerge do campo de energia que o rege. A sessão é conduzida de forma online, e pode-se utilizar recursos distintos que facilitam a conexão com o campo sistêmico: com “bonecos” servindo de representantes dos familiares do cliente, com visualização ativa, sendo o cliente conduzido a acessar posições perceptuais e sensações que emergem a partir dos movimentos em seu campo sistêmico, com os arcanos arquetípicos do tarot terapêutico, que por meio das suas imagens acionam informações do nosso inconsciente pessoal e familiar. Por ser este um trabalho predominantemente fenomenológico, o terapeuta assume uma postura básica baseada na ausência de qualquer intenção, e sem necessidade de conhecimento prévio da história do cliente. Portanto, o terapeuta trabalha exclusivamente com o fenômeno que o campo apresenta durante a constelação, podendo ser utilizado qualquer um dos recursos mencionados acima. https://www.spontaneum.com.br/profissional-claudia-pampolini/ PEDAGOGIA SISTÊMICA 30 Todo este processo gera naturalmente movimentos profundos na alma do cliente, trazendo à tona emoções reprimidas e dissolução de bloqueios. Frases de solução são apresentadas e praticadas durante uma Constelação, levando o cliente à compreensão dos movimentos para retomada do fluxo de vida. Ao final do atendimento, temos uma nova imagem do campo que, muitas vezes, não precisa ser explicada ou explicitada, mas que pode tocar profundamente o cliente, atuando diretamente em seu campo sistêmico de forma profunda e quântica. Pedagogia Sistêmica: as Constelações Familiares nas escolas A Pedagogia Sistêmica nas escolas é um novo paradigma que vem ampliando a visão do que pode existir acerca das dificuldades de Aprendizagem, que é o movimento do ser humano para a vida, para conquistar seus espaços. A Pedagogia Sistêmica leva em conta o que há oculto nos sistemas familiares e escolares que impedem essa pessoa de crescer, através do olhar da CONSTELAÇÃO FAMILIAR SISTÊMICA (Bert Hellinger), que está presente em vários países do mundo, e vem crescendo muito no Brasil como uma das alternativas sistêmicas terapêuticas. É um novo enfoque terapêutico que olha os transtornos de aprendizagem de um outro lugar. Muitas vezes percebemos alunos sendo excluídos, outras vezes observamos que fracassam na escola repetindo apenas padrões ocorridos em seu sistema de origem: repetem o destino de seus pais, irmãos, tios, avós. A pedagogia sistêmica pode ser aplicada em situações de desintegração, de dificuldades de aprendizagem, de problemas comportamentais, em conflitos e quaisquer problemáticas que surjam no sistema escolar direta ou indiretamente. PEDAGOGIA SISTÊMICA 31 A seguir, o relato de uma professora que experienciou a técnica das Constelações “Sou professora das séries finais do ensino fundamental em uma escola pública municipal em Uberlândia/MG e a direção da escola me permitiu colocar em prática as constelações familiares de acordo com Bert Hellinger. Comecei em 2007. Desde o primeiro dia de aula convidei-os a conhecer o trabalho, explicando a importância de se respeitar os pais e o próprio destino. Iniciei formando um circulo onde todos nos abraçamos e desejamos boas vindas ao novo ano letivo. Em seguida, sugeri que se imaginassem em contato com os pais: se encostassem, ficassem no colo, como bebês e sentissem o conforto de estarem protegidos por eles, mesmo não tendo conhecido um deles ou ambos e agradecessem a vida. À medida que fazia isso periodicamente, fui observando que muitos alunos não conseguiam encostar-se nos próprios pais, então durante o exercício ia até a carteira e fazia constelação de imaginação, às vezes fazia grupos. Chegou um momento que os alunos se sentiram tão bem que começaram a pedir para serem constelados e então marcávamos para um dia de módulo e fazia atendimentos individuais com bonecos na presença de um dos pais ou um familiar responsável pelo aluno. Obtivemos muitos resultados satisfatórios e descrevo alguns: M uma menina de 11 anos que gaguejava tanto que não conseguia ler em voz alta, fiz uma constelação de PEDAGOGIA SISTÊMICA 32 imaginação e estava ligada a uma irmã de 9 meses que morrera engasgada com excesso de comida. Quando nasceu recebeu o nome da irmã morta. Dois meses depois de constelada a menina não gaguejava e já conseguia ler. C I um menino de 11 anos não fazia tarefas, não tomava banho todos os dias, tinha os cabelos desgrenhados e sujos, arrastava enormes chinelos e estava sempre distante. Julgava o pai porque é alcoólatra. Conseguiu fazer um grande movimento em direção ao pai. Cortou os cabelos duas semanas depois e começou a fazer tarefas escolares, em seguida começou a ir limpo para a escola, mas mesmo assim foi reprovado. No final de 2008 foi aprovado para 6ª série, seu material é organizado e está alerta nas aulas. C um menino de 14 anos fazendo a 5ª série pela 3ª vez era rebelde, brigava, xingava, não anotava as aulas, não fazia tarefas escolares, tinha problemas todos os dias, estava sendo encaminhado para o conselho tutelar quando conversei com a mãe. Ela foi até a escola e fizemos uma constelação individual com bonecos, ele estava identificado com o padrasto, pois não conheceu o pai que foi embora quando ainda eramuito pequeno, colocou o padrasto no lugar do pai. Os problemas foram amenizando, ele começou a fazer tarefas de Inglês e Ciências, diminuíram as brigas e as ocorrências. Foi reprovado, mas conseguiu ser promovido em 2008 e está muito feliz. MP um menino de 12 anos da 6ª série era rebelde, não fazia tarefas, tinha péssimas notas, era sujo, rabiscava os cadernos e perdia todo o material. Fizemos uma constelação em grupo e trabalhamos com um segredo em relação à mãe. Em 2008 foi um dos melhores alunos da sala, com todo material organizado, entregava tarefas antes do prazo e obteve boas notas. Esta mais concentrado e foi promovido para a 7ª série. MJ um garoto de14 anos da 7ª série me foi encaminhado por uma pedagoga, porque ele não era meu aluno. Era rebelde, respondia, brigava, xingava, não fazia tarefas, faltava muito e tinha momentos de muita ternura e educação. Estava preso ao pai que fora assassinado pela mãe, que após o assassinato fora embora e nunca mais ele PEDAGOGIA SISTÊMICA 33 soube dela. Foi um excelente aluno na 8ª série em 2008, além de carinhoso, sorridente,cooperativo e freqüente. W um garoto de 10 anos da 4ª série tentou suicídio dentro da própria escola. Trabalhei apenas com a mãe em uma constelação individual com bonecos.Ele estava identificado com o assassino do pai. Seu comportamento mudou totalmente e não falou mais em suicídio. Wll um garoto de 15 anos, faltava muito às aulas, respondia, brigava, conversava durante as aulas, não fazia tarefas, não respeitava os professores. Fizemos pequenosmovimentos em relação ao pai durante todo ano de 2007 e ele melhorou bastante. Ao final de 2008 me pediu para constelar porque queria muitomudar, queria transformar sua vida em algo muito bom. Coloquei-o de frente para o quadro e pedi para olhar para sua mãe. (Ela morreu em conseqüência de um câncer quando ele tinha 10 anos e desde então o pai se tornara alcoólatra, ele cuidava do pai e da casa). Ele desmaiou. Chamei-o para a vida, ele abriu os olhos e disse: professora, falei com a minha mãe. Está tudo bem agora. Ele não voltou em 2009, foi morar com uma tia porque o pai se casou novamente. Em 2008 uma pedagoga pediu sugestão de um trabalho coletivo para uma 6ª série com muitos alunos repetentes e que estava novamente com baixo índice de aproveitamento, muita brincadeira e falta de compromisso. A direção autorizou e utilizamos duas aulas para o trabalho. Fizemos um círculo com os alunos e a pedagoga representava a turma, cada aluno levantava-se, chegava diante dela, olhava em seus olhos fazendo contato e dizia sim. Quando metade da turma já tinha feito esse movimento, ela não resistiu o peso e sentou-se no chão. Eles ficaram muito preocupados com ela, expliquei que era assim a sala e que por isso os professores não estavam conseguindo ajudá-los e eles disseram a ela: pode se levantar, isso é comigo. Ela se levantou e entregou a cada um o seu destino e seu emaranhamento. No dia seguinte constelamos dois alunos que não conseguiram dizer sim. Foi um trabalho muito bonito e estamos aguardando resultados.” Fonte do depoimento da professora: Instituto Bert Hellinger Brasil Central PEDAGOGIA SISTÊMICA 34 Os relatos da professora nos mostram o quanto podemos apoiar o crescimento e desenvolvimentos dos alunos com dificuldades quando olharmos para além da dificuldade, para o que pode os estar guiando nestes movimento de insucesso. Conhecer os fundamentos do campo sistêmico familiar tem exercido influências precisas e eficazes em muitos casos e atendimentos clínicos realizados em todo o mundo, abrindo caminho para soluções destes conflitos escolares e familiares. PEDAGOGIA SISTÊMICA 35 5- A PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA A CLÍNICA DA FAMÍLIA Um Pouco de História No Brasil, duas autoras, Julia Bucher-Maluschke e Terezinha Féres-Carneiro, têm contribuído sobremaneira para o resgate da história da Terapia Familiar (TF) e das contribuições da Psicanálise e sua articulação com a abordagem sistêmica (Bucher- Maluschke, 2008; Féres-Carneiro, 1996; Féres-Carneiro & Diniz-Neto, 2008). Ambas as autoras indicam que o estudo e o interesse pela participação da família na construção dos conflitos e do sofrimento decorrente destes últimos vêm desde os primórdios das ciências psicológicas. Tanto Féres-Carneiro quanto Bucher-Maluschke concordam que a preocupação de Freud, desde o início de seus escritos, voltou-se para as relações familiares de seus pacientes, colocando a família e o indivíduo como interdependentes. Muitos outros autores contemporâneos, como Adler, Sullivan e Fromm-Reichman, também contribuíram no sentido de apontar as origens dos conflitos individuais nas relações familiares. Teóricos da Cibernética (como Norbert Wiener), ou movimentos terapêuticos grupais (como Pichon Riviére e as comunidades terapêuticas) participaram do movimento lento, mas definitivo, de trazer a família para a cena clínica, o que veio ocorrer sistematicamente após 1960. A família passa, então, a ser a protagonista da cena com o reconhecimento de que seu estudo auxilia a compreensão da dimensão individual do conflito. A partir daí é que se desenvolvem os modelos sistêmicos da TF. A TF surgiu nos Estados Unidos a partir do trabalho de um grupo de pensadores e terapeutas, conforme indica Minuchin (2006/2007): Gregory Bateson e Nathan Ackerman foram os pioneiros. Entre 1960 e 1970 surgiram diferentes abordagens, métodos, clientelas e contextos do que hoje temos como o escopo da TF. O pensamento original era que a orientação teórica sistêmica era aplicável a toda estrutura humana, sem preocupação com diferenças culturais ou étnicas. Gradativamente, no entanto, foram surgindo, a partir de críticas, importantes complementos que se incorporaram a esse pensamento original: a crítica feminista à ausência da perspectiva de gênero e poder no enfoque sistêmico; a dimensão PEDAGOGIA SISTÊMICA 36 intrapsíquica que buscou recuperar o indivíduo no grupo familiar; as emoções e as heranças transgeracionais; os significados nas conversações e o lugar da família no contexto sociocultural. É importante, ainda, apontar as mudanças ocorridas na formação, na postura e na ação do terapeuta familiar, desde seu início. As mudanças vão de um terapeuta eminentemente intervencionista, a um terapeuta conhecedor ativo de si mesmo e dos membros da família, não neutro, mas determinado a participar. Essa trajetória de qualificação pessoal teve seu percurso entre pertinência e pertencimento (Andolfi, 1981) à significação e interpretação das narrativas da família (Anderson & Goolishian, 1998). Para Nichols e Schwartz (2006/2007), a abordagem individual e a familiar oferecem condições de compreensão e ajuda para a resolução de conflitos e alívio do sofrimento humano. A mudança individual favorece a mudança familiar e vice-versa. No entanto, a TF presta-se melhor ao enfrentamento terapêutico de determinados problemas interacionais (queixas entre membros da família ou entre o casal) ou problemas ligados a momentos de transição da vida familiar (como adolescência e uso de drogas). A TF traz para análise o campo de interseção dos indivíduos em família, e desta com o ambiente sociocomunitário que a circunda, enfocando sistemas, subsistemas e sistemas mais amplos em conexão. Não é minha intenção fazer uma retrospectiva histórica da TF, mas apenas apontar breves momentos da construção teórico-metodológica que caracterizaram seu início e marcaram seu desenvolvimento posterior. Portanto, peço desculpas, desde já, pela ausência de algumas referências importantes desse percurso. É de comum reconhecimento que o Grupo de Palo Alto (Gregory Bateson, John Weakland, Don Jackson, Paul Watzlawick, entre outros) interessou-se pelo estudo da comunicação, trazendo suas observações para o campo da análise das relações humanas no cotidiano. É dessa época, entre 1960 e 1970, a descrição da comunicação do duplo vínculo. As construções teóricas iniciais da TF contaram com grande contribuição de psicanalistas que se interessaram pela observação da comunicação em famílias com membros psicóticos, como Lyman Wynne. Desse período surgem as discussões sobre o papel da emoção na interação, que cria qualidades particulares, como é o caso da pseudomutualidade ou do cerco de borracha, que foram conceitos formulados PEDAGOGIA SISTÊMICA 37 com base nas interações de famílias com membro psicótico e na análise da comunicação característica desse grupo. O Grupo de Palo Alto trouxe ainda outras contribuições dos terapeutas Jay Haley e Virginia Satir, que apresentaram indicações práticas e técnicas como recursos para alcance de mudanças no padrão da interação familiar. Em especial, Satir trouxe o valor dos sentimentos para complementar uma racionalidade mais prevalente nesse momento (Nichols & Schwartz, 2006/2007). Outros teóricos, como Murray Bowen e Ivan Boszormenyi-Nagy, estudaram as heranças, mitos e lealdades familiares que colaboram para a repetição de conflitos nas diferentes gerações. Já Nathan Ackerman e Carl Withaker trouxeram intensidade e valor ao manejo técnico do terapeuta. Na década de 1970 chegamos a Salvador Minuchin que foi, indiscutivelmente, uma referência de terapeuta criativo, teórico e propositor de um modelo que influencia, até hoje, desdobramentosocorridos na TF. Temos, portanto, a seguinte caracterização ao longo das últimas cinco décadas: década de 1960 – surge a TF, privilegiando o estudo da comunicação; décadas de 1970 e 1980 – aparecimento de escolas de TF, com ênfase na Escola Estratégica e na Escola de Milão; década de 1990 – novos enfoques interpretativos e discursivos; década de 2000 – TF voltada para a família na relação com sistemas mais amplos. Sem dúvida, podemos afirmar que permanece, em todos esses períodos, a primazia do pensamento circular para compreensão e intervenção do jogo relacional. Bases Epistemológicas e Teóricas A Cibernética, estudo dos mecanismos de feedback em sistemas que se autorregulam, foi o mais influente modelo teórico sobre o estudo de famílias (Nichols & Schwartz, 2006/2007). O circuito de feedback representa o processo por meio do qual um sistema obtém uma informação necessária para seguir adiante de forma estável. Essas definições pontuam a perspectiva circular, ou circularidade, como a lente para compreensão das influências mútuas entre os membros da família. Inicialmente, os conceitos cibernéticos foram aplicados sobre a observação direta das PEDAGOGIA SISTÊMICA 38 interações ocorridas em família. O desafio foi enxergar a família além das individualidades e buscar o padrão de influência mútua que se observa nas condutas de seus membros. Ademais, Ludwig von Bertalanffy desenvolveu um modelo teórico – a Teoria Geral dos Sistemas – que combinava conceitos de pensamento sistêmico e da biologia, e buscava sua aplicação aos seres vivos e aos sistemas sociais. Nessa proposta teórica, os organismos eram um sistema aberto interagindo todo o tempo com seu ambiente, buscando como um todo atingir um objetivo a partir de suas condições (equifinalidade), com uma reatividade que visa o equilíbrio (homeostase) e, acima de tudo, dirigindo-se a mudanças. Esses conceitos se mantiveram como referência em todas as discussões e avanços teóricos posteriores na TF (Bloch & Rambo, 1995/1998; Nichols & Schwartz, 2006/2007). Nesse ponto, vale ressaltar uma formulação teórica inicial que sempre teve grande influência sobre a interpretação da dinâmica familiar, que é a função do sintoma. O surgimento de um sintoma em um membro da família pode ter uma função estabilizadora de um movimento de mudança iminente, restabelecendo, assim, uma homeostase anterior. O sintoma teria uma função homeostática. Essa compreensão fez com que se buscasse olhar o sintoma muito além da queixa individual. Poderíamos dizer que o sintoma beneficiaria a interação familiar (Nichols & Schwartz, 2006/2007). Neuburger (1984) resumiu essa posição numa sentença: um membro familiar tem um sintoma e é um sintoma da família. Essa perspectiva conceitual, atualmente, está bastante desgastada em virtude de que o estabelecimento de uma relação causal e competitiva entre o aparecimento do sintoma e sua função reguladora pode levar a uma posição antagônica do terapeuta e da família. O terapeuta, hoje, está mais preocupado em alcançar uma relação mais colaborativa com o sistema. Em 1995, Esteves de Vasconcellos publicou contribuições para a releitura e aprofundamento da compreensão da interação do sistema, criticando a influência da Cibernética sobre a TF, sendo aquela vista como uma perspectiva mais mecanicista, na qual a preocupação maior é com a organização do sistema. A partir de discussões epistemológicas, referenciadaz em autores como Edgar Morin, Humberto Maturana, Bradford Keeney, Marcelo Pakman, Lynn Hoffman, entre outros, Esteves de PEDAGOGIA SISTÊMICA 39 Vasconcellos articulou novos conceitos como complexidade, instabilidade, desordem e imprevisibilidade para reconhecer a manifestação de um "novo paradigma". Essa autora propõe que o novo paradigma, denominado de Pensamento Sistêmico, seja mais abrangente e aplicado às ciências de modo geral. Interessa-nos como essa proposição pode ser útil na ampliação do estudo dos sistemas familiares em conexão com outros sistemas sociais. Em sua obra de 2002, Esteves de Vasconcellos apresentou formalmente sua proposta epistemológica para o estudo das interações intra e entre sistemas, observadas em famílias ou além, sendo a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade consideradas em contexto. Esses conceitos não são invocados como novos, mas com uma nova percepção da condição de fundantes na observação dos sistemas. A família pode ser compreendida, então, como um sistema em relação, que deve ser visto em seu contexto (um sistema em relação com outros sistemas); em sua complexidade (com interações múltiplas e diversas); em sua instabilidade (articulações e mudanças em constante andamento) e em sua intersubjetividade (realidades múltiplas decorrentes de interações). Buscamos aqui resgatar a contribuição de uma autora brasileira que tem reconhecimento nacional e internacional, apresenta uma proposição teórica e constrói uma referência que considera e integra elementos conceituais formulados em discussões epistemológicas de outras ciências, durante esse período de avanço da TF. Para finalizar esse tópico, aponto que unidades de análise da TF sempre se concentraram em pensar a família em seu contexto; considerar a reciprocidade como influência mútua nos relacionamentos; analisar as interações e os problemas vivenciados como produto de uma causalidade circular; valorizar o processo de comunicação; conhecer a função do sintoma para a organização familiar; perceber a emergência de problemas e conflitos considerando a passagem da vida familiar por ciclos. Como veremos a seguir, novos temas e enfoques foram sendo agregados aos conceitos fundamentais, a partir de 1980: maior preocupação com o conteúdo das conversações entre os membros da família, daí o surgimento de um interesse particular na construção das narrativas familiares; conscientização das influências do gênero e da disputa de poder (aspectos preponderantes da vida social) presentes na PEDAGOGIA SISTÊMICA 40 família; reconhecimento da relação interpenetrante das características culturais, étnicas e de raça na família (McGoldrick, 1998/2003; McNamee & Gergen, 1995/1998; Perelberg & Miller, 1990/1994). As Escolas de Terapia Familiar e seus Conceitos Escolas com maior influência da Cibernética e da Teoria Geral dos Sistemas As Escolas que receberam maior influência imediata dos conceitos da Cibernética e da Teoria Geral dos Sistemas foram as pioneiras na construção do contexto clínico do atendimento a famílias com a observação direta das interações familiares. Também preservaram o conceito básico de que a família é um sistema vivo e aberto, em constante mudança. Em termos conceituais, além dessa premissa, esses teóricos enfocam a família como um grupo delimitado por fronteiras, organizado em subsistemas menores e inserido em sistemas maiores, com função autorreguladora que busca manter a homeostase que, por sua vez, tem uma função interpessoal no surgimento de um sintoma, o qual é visto como um regulador homeostático (Bloch & Rambo, 1995/1998). A terapia é voltada para observação e ação, visando conhecer e atuar na homeostase. O método é o da observação direta da interação familiar, buscando a modificação do padrão de comunicação, porque os conflitos são vistos como o resultado da forma de comunicação de uns membros com outros. Em termos formais, além da presença de todos os membros da família à consulta, temos o atendimento realizado por uma equipe, a qual se divide naqueles que estão em contato direto com a família (dupla terapêutica), e os que se dedicam mais à observação, mas têm uma responsabilidade compartilhada na leitura e interpretação da dinâmica familiar, bem como na condução da ação. Desde esse período, há uma inovação que diz respeito à filmagem dos atendimentos, a qualtem utilidade tanto para os terapeutas como para os membros da família, como um recurso estratégico de provocação para mudança. Os principais grupos representantes dessa orientação metodológica específica são: a Escola de Palo Alto (Paul Watzlawick, Gregory Bateson, Carlos Sluzki, entre outros); PEDAGOGIA SISTÊMICA 41 a Escola Estrutural (Salvador Minuchin, Jorge Colapinto, entre outros); e a Escola Estratégica (Jay Haley, Cloé Madanés, entre outros). Em termos metodológicos, os teóricos baseavam suas intervenções em redefinições (definir de modo novo um comportamento antigo, dando-lhe um novo sentido) e na orientação de tarefas, que seriam realizadas pelas famílias, com o objetivo de alterar o padrão de comunicação repetitivo. Há um livro (Watzlawick, Weakland & Fisch, 1973/1977), bem ilustrativo, da avaliação dos conflitos familiares a partir da análise dos comportamentos que estariam sustentando a repetição dos conflitos e da proposição de tarefas que teriam o poder de interferir na homeostase e criar novas respostas. A Escola de Palo Alto propõe uma terapia breve e objetiva, procurando evidenciar os paradoxos da comunicação na família, e centrada na solução de problemas. A Escola Estratégica também conserva esses objetivos a partir da observação das regras familiares que mantêm o problema. As regras governam todo o sistema e a busca é por mudanças de segunda ordem que mostram, de fato, mudança nas regras do sistema. Uma mudança de primeira ordem traz somente uma mudança na regra do comportamento de um elemento do sistema, não sendo, portanto, o desejável. Apesar dessas proposições colocarem o terapeuta numa posição de muito poder, e esse "interventor poderoso" ser alvo de críticas, esse modelo trouxe muitas contribuições quanto ao manejo terapêutico e uso de técnicas com a família, que permanecem até hoje (Nichols & Schwartz, 2006/2007; Wittzaele & Garcia, 1995/1998). A Escola Estrutural (Minuchin, 1980/1982) valoriza a estrutura familiar e segue mapeando fronteiras, regras, direção da funcionalidade familiar, padrão de organização das interações, repetições de comportamentos, coalizões, dinâmica de interação. A abordagem dá grande valor à análise e intervenção nos subsistemas, que são grupos demarcados por fronteiras internas, como o subsistema fraternal, o conjugal, o feminino, o masculino etc. As fronteiras têm ainda uma outra função que é demarcar a estrutura hierárquica. O terapeuta busca alterar essa estrutura com a intervenção em seus elementos, por meio de uma participação ativa que tem por objetivo alterar a hierarquia familiar e o problema relacionado a ela. O aspecto metodológico inclui criatividade no trato com os membros da família, posição de liderança e autoridade, mapeamento da estrutura progressivamente ao PEDAGOGIA SISTÊMICA 42 andamento das sessões, e intervenções que seguem um plano objetivo e claro. O foco é permanente nas interações entre os membros da família. Duas orientações técnicas são bastante usadas: prescrição de tarefas, o que leva o ambiente terapêutico para dentro de casa, e o enfoque no sintoma por meio de sua redefinição. A afetividade também merece especial atenção. A Escola Estratégica (Haley, 1985; Madanes, 1984) é um modelo pragmático voltado essencialmente para a clínica. Sua preocupação é com a solução do problema e com a identificação dos comportamentos que mantêm o problema. Para cada resolução de problema, são traçadas estratégias específicas. Há um plano geral, que inclui a primeira entrevista, a qual tem lugar muito importante, pois além de explorar o problema, estabelece as metas e as atribuições que cabem a todos. Progressivamente vão sendo planejadas intervenções que requerem cooperação de todos, até o estágio de resolução do problema, e uma fase posterior de manutenção dos ganhos obtidos. Conceitos complementares da Psicanálise na Terapia Familiar Muitos teóricos iniciais da TF eram psicanalistas e trabalharam no sentido de estabelecer complementaridade com os conceitos cibernéticos, produzindo contribuições que resgatam as histórias familiares e seus desdobramentos ao longo do tempo, isto é, resgatam a importância do processo da relação familiar e não somente o momento atual observado. Alguns terapeutas tiveram destaque nessa abordagem: Alberto Eiguer, Andre Ruffiot, Dider Anzieu, entre outros, e mais recentemente, Robert Neuburger e Pierre Segond. Esses autores resgatam a palavra nas sessões, entendem que o sintoma reflete aspectos da história passada da família e que é por meio da interpretação e releitura do significado do sintoma na história familiar que haverá mudanças. O objetivo da sessão de TF é clarear as repetições de comportamentos passados e que ainda se reproduzem no presente (Féres-Carneiro, 1996). Há um grande interesse na trama inconsciente dos sentimentos, desejos e expectativas entre os membros da família. O método é o da interpretação das relações e repetições, para que esse padrão se faça consciente a todos. O grupo familiar compartilha um aparelho psíquico inconsciente. PEDAGOGIA SISTÊMICA 43 Tomo a liberdade de incluir, nesse tópico, os estudiosos dos aspectos inconscientes (e.g., segredos, mitos e transmissões geracionais) que envolvem todos os membros da família. Esses aspectos são perpetuados por meio das lealdades invisíveis (Boszormenyi-Nagy & Spark, 1983), isto é, compromissos assumidos de forma não consciente entre os membros da família. Dentre esses autores, destaco Boszormenyi- Nagy, Helm Stierlin e Murray Bowen. O que está em jogo, nessa abordagem, é tanto a individuação como a dependência emocional que une inexoravelmente todo os membros da família em suas histórias particulares e familiares. Como cada pessoa se posiciona individualmente nessa trama, entre a história individual e a história familiar surge a condição de realizar e manter a separação com relação à dependência emocional que une a todos os membros da família. O conceito de transmissão geracional, discutido por Murray Bowen, trata dos processos de projeção familiar repetidos de geração a geração, permitindo, ou não, níveis de diferenciação. Outros conceitos, como lealdade e parentalização, desenvolvidos por Boszormenyi-Nagy, tratam dos processos inconscientes que formulam compromissos entre os membros da família, ao longo de gerações e que, em última análise, visam garantir a união do sistema. A família, durante todo o tempo, administra a tensão entre união e distanciamento emocional, proporcionando separação e crescimento funcional no devido momento. A escuta é o principal fator nessa abordagem, além da valorização da história familiar que identifica as relações afetivas precoces de todos os membros nas diferentes gerações. Para finalizar esse tópico, aponto a posição de Féres-Carneiro (1996) e Bucher- Maluschke (2008), que enfatizam o valor complementar da influência psicanalítica na clínica da família. Além disso, o estudo das influências transgeracionais sobre o surgimento de determinados sintomas na família, como abuso de substâncias químicas ou violência intrafamiliar sexual, beneficia-se extremamente das contribuições advindas da abordagem transgeracional (Penso & Costa, 2008). A Escola de Milão Novamente, tomo a liberdade de organizar a construção do contexto clínico da família, ressaltando, em especial, as contribuições da Escola de Milão. Seus vários teóricos – PEDAGOGIA SISTÊMICA 44 Mara Selvini Palazzoli, Gianfranco Cecchin, Luigi Boscolo e Giulana Prata – tiveram grande influência dos conceitos das escolas iniciais, anteriormente expostos. Porém, esses autores foram além e propuseram conceitos que inovaram e formaram diretrizes teórico-metodológicas de grande abrangência sobre os terapeutas familiares de todos as épocas e orientações teóricas, tais
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