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SÍNDROME NEFRÍTICA → Marcador laboratorial + importante na urina = hematúria glomerular = síndrome nefrítica - Anti-NDA e o FAN são critérios diagnósticos para o LES - anti-DNA critério diagnóstico e fator de atividade para o Lúpus eritematoso sistêmico - Glomerulonefrite → processo inflamatório → ativação do sistema complemento → via clássica (consumo de C3 e C4) / via alternativa (consumo de C3) = ativação do sistema complemento na síndrome nefrítica é frequente Histologia e fisiologia glomerular - imuno complexo = antígeno + anticorpo → Os imunocomplexos (IC) podem se depositar nas quatro estruturas glomerulares vistas: ● mesângio ● endotélio capilar ● podócitos ● membrana basal glomerular → a depender da localização do IC e da intensidade da resposta inflamatória, teremos um tipo de doença glomerular - é esse depósito de IC + agressão inflamatória que gera a desestruturação celular Fisiopatologia → Hematúria glomerular sempre presente – patologias com apresentação histológica proliferativa - início relativamente abrupto - proteinúria subnefrótica < 3,5 g/dia - perda aguda da função renal – infiltrado inflamatório glomerular intenso - oligúria – preenchimento do glomérulo por células inflamatórias - edema, hipertensão – retenção hidrossalina Hematúria glomerular - dismorfismo eritrocitário → hemácias dismórficas > 40 a 60% ou acantócitos > 5% - Cilindros hemáticos Manifestações clínicas 1. Proteinúria – marcador das glomerulopatias, sendo a albumina o principal componente 2. Hematúria – caracteristicamente presente em doenças ditas “proliferativas”, isto é, com intensa atividade inflamatória, classicamente encontrada nas patologias que compõem o grupo da síndrome nefrítica 3. Urina espumosa – indicativo de proteinúria 4. Urina escurecida – indicativo de hematúria Principais patologias → Quadros agudos com processo inflamatório exuberante → oligúria, hematúria, redução da taxa de filtração glomerular, retenção hidrossalina (edema e hipertensão) 1. glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) 2. nefrite lúpica classes proliferativas III e IV 3. glomerulonefrite membranoproliferativa 4. nefropatia por IgA é a exceção por ter uma evolução mais insidiosa Apresentação clínicas Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) → É uma apresentação clínica e histológica das algumas doenças glomerulares - perda súbita da função renal associada a quadro glomerular (hematúria e proteinúria) - presença de crescentes celulares ou fibrosos > 50% dos glomérulos → na biópsia renal ● definição de crescente – presença de 2 ou mais camadas de células no espaço de Bowman - tratamento com imunossupressão agressiva, quando houver formas rapidamente progressivas, independentemente da doença de base: ● pulsoterapia com ciclofosfamida + metilprednisolona + plasmaférese (em casos selecionados) → Patologias que podem evoluir com GNRP: - qualquer doença glomerular, em especial das doenças do espectro da síndrome nefrítica - nefrite lúpica classes 3 e 4 (proliferativas) - GNDA (incomum) - vasculites de pequenos vasos - síndrome Goodpasture Evolução para perda irreversível de função renal em semanas ou meses, se não tratada adequadamente Fisiopatologia e histologia → formação dos crescentes A) - Agressão inflamatória que lesiona a membrana basal → atração de células inflamatórias → inflamação local no espaço de Bowman → proliferação celular - São formados pela migração dos monócitos (macrófags) através de alças capilares intensamente lesadas para o interior da cápsula de Bowman → a lesão capilar glomerular é o evento inicial deflagrador dos crescentes B) - a proliferação celular gera as camadas múltiplas = crescentes celulares Glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) OU Pós-estreptocócica - + comum em crianças de 2 a 15 anos e do sexo masculino - Estreptococo beta-hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes) - Em adultos: associação com imunossupressão, etilismo, outros agentes infecciosos – prognóstico pior → 7 A 14 dia após a infecção por streptococcus pyogenes o corpo inicia o processo de produção de anticorpos contra proteínas bacterianas → reação cruzada com proteínas renal (receptores) - Antígeno estreptocócico nefritogênico (SPBE) - Receptor renal – GAPDH (identificado em biópsia renal) e outros fatores nefritogênicos Manifestações clínicas Intervalo entre a exposição ao estreptococo e o desencadeamento da GNDA - faringite – 7 a 10 dias - impetigo – a partir de 10 a 14 dias - outras infecções – variável → Manifestações clínicas 1. hematúria microscópica – sempre (100%) 2. hematúria macroscópica – 30 - 50% 3. edema – 85% 4. hipertensão arterial – 80% 5. hipervolemia grave – 15% 6. sintomas urêmicos – 5% → anorexia (redução do apetite), náuseas, vômitos, sonolência, confusão mental, e convulsões em alguns casos → Manifestações laboratoriais - hematúria dismórfica, leucocitúria estéril - proteinúria variável, baixa a moderada - redução de taxa de filtração glomerular (TFG) – elevação de escórias nitrogenadas - hipercalemia → Evidência sorológica de estreptococcia - ASLO – antiestreptolisina O (positivo em > 70% faringites) - anti-DNAse B (positivo em > 70% impetigo) - complemento total C3 (90% casos) → via alternativa de ativação do sistema complemento Biópsia renal MICROSCOPIA ÓPTICA A B A) Glomérulo normal com visualização do lúmen dos capilares B) Glomerulonefrite proliferativa difusa, endo e exocapilar → células inflamatórias obstruindo o lúmen dos capilares IMUNOFLUORESCÊNCIA - depósitos de C3, IgG e IgM em alças capilares e mesângio Manejo clínico → Doença autolimitada, logo o manejo se baseia em suporte clínico 1. medidas dietéticas: restrição de sal e líquidos 2. antibioticoterapia – não trata a GNDA, mas evita que a criança seja uma portadora assintomática da bactéria (amoxicilina, penicilina, cefalosporinas) → caso a criança não tenha tomado antes 3. diuréticos de alça, hipotensores, vasodilatadores parenterais → com sintomas/ internamento de no mínimo 24/48 h 4. insuficiência renal grave/congestão refratária ao tratamento clínico – diálise Evolução e prognóstico - Geralmente remissão clínica em 2 a 4 semanas com recuperação espontânea da natriurese em cerca de 48 a 72 horas - Normalização do complemento em cerca de 8 semanas, mesmo após resolução clínica - Hematúria microscópica e proteinúria discreta podem persistir por vários meses ( 6 a 12 meses) → cura: 90 a 95% das crianças e 60 - 70% dos adultos - evolução não favorável – indicação de biópsia renal Nefropatia da IgA → Também chamada de doença de Berger ● associação com púrpura de Henoch-Schönlein em crianças : nefrite + dor abdominal + artralgia - localização frequente: nádegas e membros inferiores - É uma púrpura palpável → manchas elevadas na pele que não desaparecem com a pressão digital - Também conhecida como púrpura anafilactóide ou púrpura reumática, é a vasculite (ou seja uma inflamação dos vasos da pele, podendo também acometer os vasos do intestino, articulações e rins) mais freqüente nas crianças e nos adolescentes - GN proliferativa mesangial → depósito de imunocomplexos de IgA no mesângio (IF) ● fator causas: desequilíbrio entre produção e clearance hepática de IgA - associação com IVAS (potencial gatilho) que evolui com hematúria – não é necessário para o diagnóstico - caracteristicamente recorrente, de evolução crônica - normocomplementêmica → não há consumo de complemento Manifestações clínicas → Pleomorfismo clínico: - Púrpura de Henoch-Schönlein (PED) - Hematúria macroscópica recorrente - Alterações urinárias assintomáticas →microhematúria - Proteinúria nefrética - Perda crônica de função renal → quanto maior a proteinúria ao longo do tempo, pior o prognóstico ● tratamento crônico - associação com infecção de orofaringe dias antes - hematúria macroscópica ou microscópica (hematúria isolada é a forma mais frequente) → caracteristicamente recorrente - proteinúria em geral não é muito importante - IgA circulanteelevada em 30% (sem relação com prognóstico) Biópsia renal MICROSCOPIA ÓPTICA - É possível visualizar os lúmen dos capilares pois não há células inflamatórias obstruindo (padrão proliferativo) - Classicamente cursa com hipercelularidade mesangial difusa ou focal → Visualiza-se o espessamento das áreas arroxeadas que representam o mesângio devido a deposição do IgA IMUNOFLUORESCÊNCIA – Depósito de IgA em mesângio Tratamento → Medidas clínicas gerais para glomerulopatias de caráter + crônico: - atividade física/ perda de peso/ parada de tabagismo - dieta hipossódica - dieta hipoproteica (0,8 g/kg/dia) - IECA ou BRA para todos os pacientes – alvo PTU (proteinúria) < 0,5 a 1,0 g/24 horas (otimizar dose) - Meta de PA < 130 x 80 mmHg (PAs < 120 mmHg ??) - iSGLT2 (glifozinas)– estudo recente comprova redução de proteinúria e eventos renais combinados em NIgA (mesmo em não diabéticos !!) → Após 3 a 6 meses de tratamento não imunossupressor: 1. PTU < 1g: sem imunossupressão 2. PTU > 1g e função renal preservada (TFG > 50 ml/minuto): manter tto não imunossupressor + 6 meses de corticoide oral (prednisona 1mg/kg/dia) - Não associar imunossupressor em paciente com TFG < 30 ml/min (sem benefício) - Não imunossuprimir: ● fibrose/ atrofia tubular > 50% ● PTU < 1g/2h ● TFG < 30 ml/min - Se na biópsia apresentar crescentes celulares e hipercelularidade endocapilar → indicado o corticoide - Tentar corticoide também em pacientes com tendência a piora de função renal e PTU Nefrite Lúpica → Associação com outras manifestações clínicas do LES – importante para diagnóstico: rash malar, dor articular, anemia/citopenias. - mais comum em mulheres jovens - Pode evoluir com síndrome nefrótica e/ou nefrítica frequentes - Pode assumir forma rapidamente progressiva - Formas III e IV → hipocomplementenemia (CONSUMO DE C3 e C4) nas classes proliferativas - Evolução variável depende da forma histológica) Manifestações clínicas e laboratoriais → Perda da função renal e: - Hematúria glomerular isolado OU - Proteinúria + hematúria OU - Proteinúria isolada Critérias diagnósticos do LES → Presença de quatro ou mais itens abaixo, sendo 1 deles tem que ser laboratorial : 1. rash malar 2. lúpus discoide → manifestação cutânea 3. fotossensibilidade 4. úlceras orais 5. artrite não erosiva 6. pleurite/pericardite 7. acometimento renal (proteinúria, hematúria, perda de função renal) 8. acometimento neurológico 9. acometimento hematológico (anemia, leucopenia, plaquetopenia) 10. alto anticorpos (anti-DNA, anti-Sm, anti-Ro, anti-La etc.) 11. fator antinúcleo (FAN) Classes da nefrite lúpica - Classe I – rim normal (hematúria assintomática) - Classe II – GN mesangial (pouca proteinúria e hematúria, sem perda rápida de função renal) - Classe III – GN proliferativa focal (< 50% glomérulos) - Classe IV – GN proliferativa difusa (> 50% glomérulos) - Classe V – GN membranosa (proteinúria elevada, sem hematúria) - Classe VI – glomeruloesclerose (DRC avançada) → glomerulonefrite cronificada Manejo clínico e tratamento (classes III e IV) → Fase de indução 1. Pulso de metilprednisolona 0,25 a 0,5g EV → 3 dias consecutivos + 2. Ciclofosfamida quinzenal por 3 meses OU Micofenolato quinzenal por 3 meses + 3. Prednisona VO 0,5 a 1mg/kg (mpax 80 mg/dia) por 3 a 6 meses → Fase de manutenção por no mínimo 2 anos 1. Prednisona 0,5 mg/kg → com redução gradual da dose (desmame) + 2. Imunossupressor VO → ciclofosfamida, azatioprina, micofenolato ou tacrolimo Caso clínico FSA. 24 anos, previamente hígida, encaminhada para avaliação nefrológica por achado de hematúria em exame de urina recente. Quadro começou concomitantemente com dores articulares, manchas vermelhas em região malar, urina espumosa, além de sensação de cansaço fácil nos últimos 7 dias. ● Exame físico – dados relevantes ੦ rash malar ੦ edema e dor em punhos, bilateralmente ੦ PA = 160x85 mmHg ੦ FC = 100 bpm ੦ edema em tornozelos +/4+, simetricamente ● Exames laboratoriais ੦ Hb 9,8 g/dL/ leuco 2.300; plaq 130 mil ੦ creatinina 1,8 mg/dL (prévia 0,7) ੦ urina com hematúria 85.000/mm³ (identificado dismorfismo eritrocitário); leuco nL; ptu ++; urocultura negativa ੦ FAN (+) 1/640 ੦ anti-DNA reagente ੦ complemento C3 e C4 abaixo do limite inferior do método Glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) → Causa menos comum de acometimento glomerular que as outras glomerulopatias estudadas - etiologia secundária em > 80% dos casos - associação clássica com hepatite C - Brasil – lembrar de esquistossomose como causa secundária de GNMP - padrão clássico nefrítico-nefrótico – hematúria + PTU elevada Classificação TIPO I – associação com hepatite C + presença de crioglobulinas circulantes (imunocomplexos circulantes) → 70 a 90% dos casos - imunocomplexos circulantes que se precipitam a baixas temperaturas - podem depositar em capilares de diversos órgãos, além dos glomérulos, levando a um acometimento vascular clássico – VASCULITE CRIOGLOBULINÊMICA - Consumo de C3 e C4 (clássico) → outras causas: - esquistossomose - colagenoses – LES, síndrome Sjögren - infecções bacterianas - linfoma não-Hodgkin TIPO II – doença de depósito denso (DDD) - a associação com fator nefrítico C3 e/ou deficiência de fator H do complemento (mais raras) Biópsia renal MICROSCOPIA ÓPTICA A B A) hipercelularidade glomerular + pequeno crescente celular B) coloração prata – duplo contorno na membrana basal (“tram track”) IMUNOFLUORESCÊNCIA - depósito de IgG e C3 em alças capilares Tratamento → Resposta inconsistente com o tratamento imunossupressor – Tratamento em geral conservador: - antiproteinúricos - controle pressórico - formas rapidamente progressivas – mesmo tratamento preconizado + plasmaférese em casos selecionados - GNMP relacionadas ao HCV – tratar a doença viral com medicamentos (sofosbuvir, velpatasvir etc.)
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