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Descaminho e Contrabando Brendha Ariadne Cruz – 6º Termo – Toledo Prudente 21-09-2022 NOÇÕES PRELIMINARES Alteração substancial no artigo 334 do CP pela lei nº 13.008/14. Esses crimes até o ano de 2014 era tratado da mesma maneira, com a mesma quantidade de pena, de modo que era muito questionado pela doutrina e na jurisprudência pois na essência o Contrabando é mais grave do que o Descaminho e eles estavam previstos no mesmo artigo violando o princípio da proporcionalidade das penas. O CRIME DE DESCAMINHO ESTÁ PREVISTO NO: ARTIGO 334, CP: Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. O CRIME DE CONTRABANDO ESTÁ PREVISTO NO: ARTIGO 334-A, CP- Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. A lei proíbe de maneira absoluta ou relativa a importação ou exportação de certas mercadorias. Assim o artigo 334, CP e o artigo 334-A, CP, apresentam regras de natureza penal que protegem mercadorias, saúde pública das pessoas, e também o fisco. Nestes crimes há uma violação das regras de tributação e mercadorias. São chamados de Crime de Fronteira. Pode ocorrer concurso de crimes entre eles. EVOLUÇÃO HISTÓRICA A palavra Contrabando vem do latim “contra banumm” que significa ação contrária, que viola leis financeiras de taxas. A palavra Descaminho significa andar fora do caminho. A doutrina chama esse crime de Contrabando Impróprio, mesmo sendo diferente do crime de Contrabando. Os crimes de Contrabando e Descaminho foi criado em Roma. No Brasil no Código Penal do Império tinha o Crime Contra o Tesouro Público e no Código Penal da República surgiu a palavra contrabando e descaminho. O Código Penal atual de 1940, não estabelecia nenhuma diferença entre contrabando e descaminho em um 1º momento, de modo que somente foi alterado esta situação em 2014. CONTRABANDO É a importação ou exportação de mercadorias cuja a entrada ou saída do Brasil é absolutamente ou relativamente proibida. Ou seja, a mercadoria/produto/objeto material que está sendo importado ou exportado, bem como a sua circulação fabricação e comercialização é proibida de forma absoluta ou relativa. EX. Remédios que são comercializados em outros países que são proibidos aqui no Brasil. Como o remédio chamado “Cytotec”, que no Brasil era utilizado para causar aborto e por isso é vedado pelo Ministério da Saúde, assim se alguém traz do Paraguai para o Brasil comete o crime de Contrabando. EX. Anabolizante, a bebida de Absinto que tem álcool com mais de 53% e cigarros eletrônicos. EX. Lei 13993/20 proibiu a exportação de camas hospitalares e ventiladores hospitalares em decorrência do COVID. Existem situações em que a mercadoria é autorizada para o consumo no Brasil, mas a lei equipara a Contrabando por causa da sua importância e nocividade, por exemplo Descaminho e Contrabando Brendha Ariadne Cruz – 6º Termo – Toledo Prudente entrada ilegal de cigarro comum e combustível que são crimes de Contrabando, no entanto na essa situação na essência seria de Descaminho pois é autorizado a sua fabricação. DESCAMINHO Quando existe no processo de importação ou exportação uma fraude utilizada para iludir as autoridades quanto ao pagamento de impostos de importação ou exportação de mercadorias licitas, cujo o consumo e fabricação são autorizados. EX. telefone celular, notebooks, pneus, carro importando, perfume, óculos e relógios. CONCEITO DOS CRIMES Consistem nos ilícitos penais em que o agente importa ou exporta mercadoria proibida (Contrabando) ou frauda o pagamento de tributo devido a Fazenda Pública pela exportação ou importação de mercadoria cuja a circulação ou comercio não são vedados em lei (Descaminho). BEM JURÍDICO PROTEGIDO CONTRABANDO: moralidade pública, saúde pública, segurança pública. DESCAMINHO: interesse econômico ligado ao comercio das mercadorias internas, bem como a proteção dos tributos. SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO ATIVO: crime comum, assim qualquer pessoa pode pratica o crime de Contrabando ou Descaminho. É comum associações criminosas internacionais incidindo a Lei 12.850/13 na qual responde juntamente com o crime de Contrabando ou Descaminho. É comum a participação de funcionário públicos de fronteiras, que facilitam os crimes, de modo que eles respondem por crime próprio no artigo 318, CP, sendo a exceção da teoria unitária, pois o funcionário responde por um crime e a pessoa por Contrabando ou Descaminho. PASSIVO: Estado no que tange na arrecadação de tributos, proteção das mercadorias e saúde de pessoas. Tem a vítima secundária que a pessoa/comerciante que consome o produto, mesmo consciente do fato, dentre outras, como o fisco. CARACTERÍSTICAS GERAIS 1. Norma penal em branco O artigo 334, CP e 334-A, CP utilizam a expressão “mercadorias”, mas não sabemos quais são, assim é necessária uma lei que venha a vedar a mercadoria. Então no Brasil existem um conjunto administrativo de Leis Federais e Estaduais, bem como portarias do Ministério da Saúde para esta situação. Do lado tributária, ou seja, mercadorias que não são proibidas, mas não pagam tributos, temos Leis que regulamentam os Impostos diante estes crimes, sendo o imposto de importação e exportação, disposto até mesmo na CF. 28-09-2022 2. Caráter residual São crimes gêneros, lato sensu. Apenas se aplicam quando não existe dispositivo específico tratando de uma maneira distinta da temática. A depender da natureza do objeto, muda-se a configuração do crime. Assim, aplica-se o princípio da especialidade – lei especial prevalece. Por exemplo, mandar do Brasil para fora substâncias entorpecentes, por se tratar de drogas, teremos o crime de tráfico de drogas. Descaminho e Contrabando Brendha Ariadne Cruz – 6º Termo – Toledo Prudente Se for armas de fogo, temos crime próprio do estatuto do desarmamento, previsto no art. 18. Outros exemplos: tráfico de órgãos, tráfico de pessoas. TIPICIDADE OBJETIVA a) Ações nucleares: Contrabando: Importar (trazer mercadoria de fora para o Brasil) e exportar (levar mercadoria para fora do Brasil). Descaminho: Iludir (enganar, fraudar). b) Ilícito penal e ilícito tributário no descaminho Dentro do estudo específico do crime de descaminho, observa-se que este crime tem um viés de crime tributário, já que não paga- se tributo. Assim, lesa-se a tributação que existe em torno da mercadoria. Toda aquela pessoa que não paga tributos, comete ilícito tributário. Assim, por si só temos um ilícito tributário por não pagar o tributo de exportação ou importação. O descaminho é um ilícito tributário com algo a mais. O ingrediente a mais no descaminho trata-se do iludir. O sujeito aplica uma fraude para importar ou exportar a mercadoria, tentando enganar as autoridades. Assim, teremos também o ilícito penal. Por exemplo, indivíduo realizou fundo falso no veículo para esconder os aparelhos. Se nenhuma fraude for aplicada, não haverá o crime de descaminho, responde-se apenas pelo ilícito tributário. c) A questão da aplicação da súmula vinculante 24 do STF no descaminho No Brasil existe a lei dos crimes contra a ordem tributária (n. 8137 de 1990). Mas, o descaminho não esta no texto dessa lei. Nos crimes contra a ordem tributária, aplica- se a súmula 24. Essa súmula diz que para punir criminalmente alguém por crime contra ordem tributária precisa ser esgotado o procedimento administrativo tributário. Já no que tangeao descaminho, conforme dito não está no rol dos crimes contra a ordem tributária. Mas, temos que: 1) O fato de não estar no rol não tira a essência de crime tributário. Assim, aplica-se a súmula 24 no descaminho. Esse entendimento vigorou durante determinado tempo na jurisprudência. 2) O STF e STJ entende que não há necessidade de esgotamento da esfera administrativa. Portanto, não se aplica a súmula, porque as instâncias são independentes e autônomas. O descaminho é um crime formal, não sendo necessário a lesão do fisco. O descaminho se consuma com a aplicação da fraude. Prevalece d) Descaminho e o princípio da insignificância: posições da doutrina e da jurisprudência: Também chamado de descaminho de bagatela. Pode-se aplicar o princípio da insignificância, mas questiona-se quanto ao valor a ser considerado insignificante. Existem algumas leis que disciplinam a questão: 1º) Lei 9469/97: R$ 1.000,00; 2º) Art. 20 Lei 10.522/02 : R$ 10.000,00; 3º) Lei 11.941/09: Critério de conveniência dos procuradores da AGU; 4º) Portarias 75/12, 130/12 – Ministério da Fazenda: R$ 20.000,00. A Procuradora não executa judicialmente. Isso favorece a impunidade. Descaminho e Contrabando Brendha Ariadne Cruz – 6º Termo – Toledo Prudente TIPO SUBJETIVO O elemento subjetivo do tipo é o dolo genérico (vontade livre e consciente), em ambos os crimes. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Trata-se de crime formal. A consumação no contrabando ocorre com o ingresso da mercadoria no território nacional ou a remessa para fora. No descaminho, consuma-se quando aplicada a fraude. Pode ser clandestina ou pelas vias legais (encara fiscalização na alfandega). Admite tentativa. DESCAMINHO: REPARAÇÃO DO DANO E PARCELAMENTO DO DÉBITO Houve uma série de normas que entraram em vigor após o advento da lei contra a ordem tributária. Foi criada a possibilidade de parcelamento de débito. Pago o debito, extingue-se a punibilidade. Essas leis falam disso: Lei 12.382/11; art. 9º da Lei 10.684/03; art. 67 a 69 da Lei 11.941/09. Entendia-se pela aplicação da regra de parcelamento e extinção de punibilidade no descaminho. Todavia, hoje entende-se que não extingue a punibilidade, pois há fraude no descaminho, não bastando o pagamento (não é apenas um ilícito tributário). COMPETÊNCIA JURISDICIONAL Esses crimes são a distância(envolvem mais de um país), sendo de competência da justiça federal. Aplica-se também a súmula 151 do STJ (competente local da apreensão dos bens). AÇÃO PENAL A ação penal é pública incondicionada. ASPECTOS FINAIS Existem figuras equiparadas.
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