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APG 03 – MYRELLA TURBANO HIPERTROFIA CARDÍACA É um mecanismo adaptativo do coração, em resposta a um aumento de sua atividade ou de sobrecarga funcional. O resultado desse aumento de trabalho do coração traduz-se num aumento de massa cardíaca devido ao crescimento dos miócitos e/ou do estroma conjuntivo. Essa resposta se dar em resposta a: a) Aumento de necessidade metabólica que impõe um aumento do débito cardíaco. É observada em exercício físico, indução hormonal ou de debito alto como observadas na anemia e fistulas arteriovenosas; b) Aumento de carga pressórica ou de volume, condição observada como resposta adaptativa a condições patológicas como a hipertensão arterial, estenose ou coartação de aorta, etc. (sobrecarga pressórica), ou lesões orovalvulares ou congênitas como a insuficiência aórtica, comunicação interatrial, etc. (sobrecarga de volume); c) Resultante de mecanismos intrínsecos de natureza genética, tais como as hipertrofias idiopáticas que podem ocorrer mesmo na ausência de sobrecargas. TIPOS DE HIPERTROFIAS HIPERTROFIA CONCÊNTRICA: ocorre aumento de massa ventricular decorrente de aumento da espessura da parede e redução dos diâmetros cavitários. Tal condição surge em decorrência de um aumento de resistência à ejeção ou à sobrecarga de pressão. A adição de sarcômeros, em paralelo, permite o aumento da secção transversa das células. HIPERTROFIA EXCÊNTRICA: ocorre um aumento de massa ventricular e da espessura da parede ventricular, mas com aumento dos diâmetros cavitários. Esta condição surge em decorrência de sobrecarga de volume. Na hipertrofia concêntrica a redução dos diâmetros cavitários permite ao ventrículo desenvolver maior pressão. A adição de sarcômeros, em serie, permite que a célula aumenta de comprimento. LEI DE LAPLACE: descreve a relação entre a tensão transmural, a pressão, o raio e a espessura da parede do vaso. Quanto maior for a pressão de dentro do vaso, maior a tensão da parede. De outro modo, o espessamento do vaso diminui sua tensão transmural. Quanto maior o raio, maior a tensão. P=T/R. HIPERTROFIA PATOLÓGICA COMPLICAÇÕES A NÍVEL TECIDUAL SUPRIMENTO INADEQUADO: O mais importante é que a hipertrofia de miócitos não é acompanhada por um aumento proporcional do número de capilares. Como resultado, o suprimento de oxigênio e nutrientes para o coração hipertrofiado, particularmente aquele que está com sobrecarga de pressão, é mais tênue do que para o coração normal. AUMENTO DA DEMANDA POR OXIGÊNIO: No mesmo momento, o consumo de oxigênio pelo coração hipertrofiado está elevado devido ao aumento da carga de trabalho que controla o processo. MYRELLA TURUBANO – T12 PROCESSO FIBROSO: A hipertrofia também é frequentemente acompanhada pela deposição de tecido fibroso (fibrose intersticial). REPROGRAMAÇÃO CELULAR: Hipertrofia corresponde a uma alteração no metabolismo celular. Para que tal mudança ocorra, ainda que fatores neuro-hormonais interfiram, o papel principal é do estímulo mecânico, que é de algum modo convertido em sinais bioquímicos. Diante dessa sobrecarga hemodinâmica prolongada, nas células ocorre reprogramação, levando a expressão coordenada de genes envolvidos na síntese dos demais componentes do sistema contrátil, de modo semelhante ao que ocorre na vida fetal (contração mais lenta e prolongada e aumento do metabolismo anaeróbico). COMPLICAÇÕES A NÍVEL FUNCIONAL AUMENTO DO TRABALHO CARDÍACO: A hipertrofia cardíaca está associada à maior demanda metabólica devido ao aumento da massa, frequência cardíaca e contratilidade (estado inotrópico ou força de contração), todos os quais aumentam o consumo de oxigênio pelo coração. Como resultado dessas alterações, o coração hipertrofiado é vulnerável à descompensação relacionada à isquemia, que pode evoluir para insuficiência cardíaca e, por fim, levar à morte. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA As alterações moleculares e celulares nos corações hipertrofiados que inicialmente medeiam a função aumentada podem contribuir para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca devido à: metabolismo anormal do miocárdio (aumento do demanda e pouco fornecimento de nutrientes), alterações na utilização dos íons cálcio (aumento das contrações), apoptose de miócitos (infarto) e reprogramação da expressão gênica, que pode ocorrer, em parte, através de alterações na expressão de pequenos RNAs não codificantes que inibem a expressão gênica. A falência do coração geralmente é denominada insuficiência cardíaca congestiva (ICC). A maioria dos casos de insuficiência cardíaca resulta de disfunção sistólica — função contrátil inadequada do miocárdio, caracteristicamente consequência da cardiopatia isquêmica ou da hipertensão. Por outro lado, a ICC também pode resultar de disfunção diastólica — incapacidade do coração de relaxar e se encher de modo adequado, como ocorre na hipertrofia maciça do ventrículo esquerdo, na fibrose do miocárdio, na deposição de amiloide e na pericardite constritiva. De fato, a insuficiência cardíaca observada em idosos, diabéticos e mulheres resulta com frequência de disfunção diastólica. Por fim, a insuficiência cardíaca também pode resultar de disfunção valvar ou ocorrer em coração normal subitamente exposto a uma sobrecarga. MYRELLA TURUBANO – T12 A ICC surge quando o coração não consegue produzir débito suficiente para satisfazer as demandas metabólicas dos tecidos ou apenas consegue satisfazê-las sob pressões de enchimento superiores às normais; em pequeno número de casos, a insuficiência cardíaca pode ser consequência de aumento significativo das demandas dos tecidos, como ocorre no hipertireoidismo, ou de capacidade insuficiente de transportar oxigênio, como na anemia. Na ICC, o coração em falência não consegue mais bombear de modo eficiente o sangue levado até ele pela circulação venosa. MUDANÇAS ESTILO DE VIDA Estudos demonstraram que a modificação do estilo de vida reduz a pressão arterial, acentua os efeitos do tratamento com fármacos anti- hipertensivos e evita risco cardiovascular. As principais modificações significativas do estilo de vida que reduzem a pressão arterial incluem: ➔ Redução do peso nos indivíduos com sobrepeso ou obesidade; ➔ Prática regular de atividades físicas (30 min na maior parte dos dias da semana) ; ➔ Adoção do plano dietético DASH (do inglês “Dietary Approach to Stop Hypertension”) significa abordagens para parar a hipertensão. ➔ Redução da ingestão dietética de sal; ➔ Limitação da ingestão de álcool a no máximo dois drinques por dia para a maioria dos homens e um drinque para as mulheres e os indivíduos com pesos mais baixos ➔ Combater o tabagismo. Embora a nicotina não tenha sido associada às elevações persistentes da pressão arterial, como ocorre com a hipertensão essencial, estudos demonstraram que ela aumenta o risco de doença cardíaca. O fato de que o tabagismo e a hipertensão são fatores de risco cardiovascular significativos deve ser razão suficiente para estimular os pacientes hipertensos a parar de fumar. ➔ Reduzir a ingestão de gorduras. Existem evidências conflitantes quanto aos efeitos diretos das gorduras dietéticas na pressão arterial. Como também acontece com o tabagismo, os efeitos interativos das gorduras saturadas e da pressão arterial elevada como fatores de risco cardiovascular justificariam a modificação da dieta no sentido de reduzir a ingestão de alimentos ricos em colesterol e gorduras saturadas. COMPLICAÇÕES HAS VASOS Disfunção endotelial Aceleração da aterosclerose Arteriosclerose hialina Arteriosclerose hiperblástica Arterionecrose Dissecção da aorta (mucóide da média) Redução de capilares nos tecidos CORAÇÃO Hipertrofia cardíaca Isquemia relativa (perde cardiomiócitos) Predisposição a infarto do miocárdio Insuficiência cardíaca esquerda RINS Nefroesclerose benigna Nefroesclerosemaligna Insuficiência renal CÉREBRO Edema cerebral (crise hipertensiva) Microaneurismas (hemorragia) Acidente Vascular Periférico OLHOS Retinopatia hipertensiva OSSOS MYRELLA TURUBANO – T12 Retinopatia hipertensiva INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ESQUERDA A insuficiência cardíaca pode afetar predominantemente o lado esquerdo ou o direito, ou pode envolver ambos os lados do coração. As causas mais comuns da insuficiência cardíaca esquerda são a cardiopatia isquêmica (CI), a hipertensão sistêmica, a doença da valva da aorta ou da valva atrioventricular esquerda (mitral) e as doenças primárias do miocárdio (p. ex., amiloidose). Os efeitos morfológicos e clínicos da ICC esquerda provêm da diminuição da perfusão sistêmica e da elevação das pressões de retorno dentro da circulação pulmonar. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIREITA A insuficiência cardíaca direita geralmente é a consequência da insuficiência cardíaca esquerda, visto que qualquer aumento de pressão na circulação pulmonar produz inevitavelmente aumento da carga do lado direito do coração. A insuficiência cardíaca direita isolada também pode ocorrer em algumas doenças. A mais comum é a hipertensão pulmonar grave, que provoca uma patologia do lado direito do coração denominada cor pulmonale. No cor pulmonale, a hipertrofia e a dilatação do miocárdio geralmente estão confinadas ao átrio e ventrículo direitos, embora a projeção do septo ventricular para a esquerda possa causar uma disfunção do ventrículo esquerdo. A insuficiência direita isolada também pode ocorrer em pacientes com doença primária da valva atrioventricular direita ou da valva do tronco pulmonar, ou naqueles com cardiopatia congênita, como nos shunts da esquerda para a direita que provocam sobrecarga crônica de volume e pressão. A hipertensão está associada a um aumento significativo no risco de desfechos adversos cardiovasculares e renais. Cada uma das seguintes complicações está intimamente associada à presença de hipertensão: • Hipertrofia ventricular esquerda (HVE); • Insuficiência cardíaca, tanto fração de ejeção reduzida (sistólica) quanto fração de ejeção preservada (diastólica); • AVC isquêmico; • Hemorragia; • Doença cardíaca isquêmica, incluindo infarto do miocárdio e intervenções coronárias. • Doença renal crônica e doença renal terminal. RESUMO DE ICC - A ICC ocorre quando o coração é incapaz de proporcionar uma perfusão que satisfaça as necessidades metabólicas dos tecidos periféricos; o débito cardíaco inadequado geralmente é acompanhado do aumento da congestão da circulação venosa. - A insuficiência cardíaca esquerda geralmente resulta de cardiopatia isquêmica, hipertensão sistêmica, doença da valva da aorta, doença da valva atrioventricular esquerda ou de doenças primárias do miocárdio; os sintomas são principalmente consequência do edema e da congestão pulmonar, embora a hipoperfusão sistêmica possa causar disfunção renal e encefálica. - A insuficiência cardíaca direita geralmente resulta da insuficiência cardíaca esquerda e, com menor frequência, de distúrbios pulmonares primários; os sinais e sintomas estão relacionados principalmente ao edema periférico e à congestão visceral. REFERÊNCIAS Sociedade Brasileira de Cardiologia, Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Volume 107, nº 3, Supl. 3, Setembro 2016. MYRELLA TURUBANO – T12 ROBBINS, S. L.; KUMAR, V. (ed.); ABBAS, A.K. (ed.); FAUSTO, N. (ed.). Patologia: Bases Patológicas das doenças. 9ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Robbins patologia básica. 9ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 5) ROBBINS, S. L.; COTRAN R.S.; KUMAR, V. SOUZA, Seila de Oliveira. Hipertensão arterial na mulher. 2017. OHISHI, Mitsuru. Hypertension with diabetes mellitus: physiology and pathology. Hypertension research, v. 41, n. 6, p. 389-393, 2018. PORTH, C.M.; MATFIN, G. Fisiopatologia. 8ª ed. Guanabara Koogan, 2010. BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. 8ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.