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CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo feminino, 34 anos, vem a consulta ambulatorial com gastroenterologista queixando-se de dor abdominal leve e diarreia intermitente, com duração aproximada de 6 meses. Já tentou modificações na dieta, uso de alimentos constipantes, medicamentos anti-diarreicos, sem melhora. Relata já ter notado, em raras oportunidades, pequena quantidade de sangue vivo (lesão da mucosa) nas fezes. HDs? Câncer e Parasitoses CONDUTA? Colonoscopia + Biópsia Observam-se lesão ulcerada recoberta por fibrina e granuloma, características que remetem ao quadro de doença inflamatória intestinal DIAGNÓSTICO? Doença de Crohn DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Condição idiopática, de inflamação prolongada, exacerbada e destrutiva direcionada ao TGI; Parece resultar da ativação do sistema imunitário por antígenos da microbiota normal do hospedeiro; Leva à diarréia crônica (disarbsorção de água) recidivante, que pode durar anos ou décadas; É mais comum em mulheres, pessoas brancas, de 20 a 40 anos; FORMAS I: Doença de Crohn II: Retocolite Ulcerativa (RCUI) PATOGÊNESE Patogênese é desconhecida, mas esta pode estar relacionada à: I: Resposta imunitária anormal à microbiota intestinal; II: Composição alterada da microbiota intestinal; III: Disfunção do epitélio intestinal; PATOLOGIA INTESTINAL II GENÉTICA Há risco maior quando há membro da família afetado, e existem mais de 160 genes associados; Gene NOD2: É mutado em 10% dos pacientes e codifica proteína que se liga à peptidoglicanos bacterianos, de forma a ativar vias de sinalização inflamatória MICROBIOTA Estudos experimentais demonstram que animais isentos de bactérias não desenvolvem colite; só desenvolve colite aqueles colonizados. MECANISMOS IMUNITÁRIOS I: Ativação anormal e contínua da respostas imunitária por: Defeito intrínseco do sistema imunitário? Falha nos mecanismos de supressão da resposta inflamatória? II: Mediada por linfócitos T CD4+ Tratamento: Medicamentos imunossupressores. Não há cura DEFEITOS EPITELIAIS Defeitos na função de barreira, que permite o contato RESUMO DIAGNÓSTICO Associação de: I: Clínica II: Laboratório III: Histopatologia OBS: 10% dos casos → Colite indeterminada DOENÇA DE CROHN Doença inflamatória que acomete preferencialmente o íleo terminal, mas que pode comprometer todo o TGI (boca ao ânus) Causa, tipicamente, lesões “salteadas” e inflamação transmural, em que todas as camadas da parede são afetadas (lesão + contínua) MACROSCOPIA Congestão, edema e processo inflamatório → destruição epitelial → erosões → úlceras profundas e estreitas (“pedra de calçamento”) → coalescem → fissuras lineares e tortuosas → se atinge serosa → aderências ou fístulas com outros órgãos. Reparo: Fibrose, que pode levar à estenose MICROSCOPIA I: Inflamação transmural II: Agregados linfoides III: Distorção arquitetural IV: Microabscessos de cripta V: IIPMN VI: Granulomas não caseosos VII: Ulceração e fibrose VIII: Fissura CLÍNICA Variável, com manifestações recorrentes; Início: Ataques intermitentes de diarréia leve, febre e dor abdominal; Períodos Assintomáticos → semanas, meses ou anos; Ainda, pode-se observar hematoquezia COMPLICAÇÕES I: Anemia e Obstrução intestinal II: Perfuração → Fístulas, abscessos e peritonite → Sepse III: Desidratação e desnutrição (diarreia e má absorção); IV: Aumenta risco para Câncer Colorretal RETOCOLITE ULCERATIVA Doença inflamatória que acomete reto e sigmoide; pode comprometer só reto (proctite), retossigmoide ou pancolite; Extensão de forma contínua e no sentido proximal; Inflamação superficial: apenas mucosa e submucosa. MACROSCOPIA Mucosa hiperemiada, granular, friável e que sangra com facilidade; Há transição abrupta entre cólon doente e sadio. Há formação de úlceras rasas limitadas à mucosa / submucosa; e Pseudopólipos inflamatórios OBS: Pseudopólipo: Regeneração da mucosa ao lado de região ulcerada MICROSCOPIA I: Inflamação mucosa II: Úlceras rasas e pseudopólipos inflamatórios III: Demais achados semelhantes ao Crohn, exceto os granulomas (ausentes). CLÍNICA I: Distúrbio recorrente, caracterizado por episódios de dor abdominal, com diarreia mucosanguinolenta; II: Sintomas podem persistir por longo período de tempo; III: Períodos assintomáticos → semanas, meses ou anos COMPLICAÇÕES I: Anemia II: Desidratação III: Aumenta risco para Câncer Colorretal (mais que D. de Crohn), dada a regeneração intestinal CASO CLÍNICO 2 O.L.V, sexo masculino, 68 anos, vai à consulta com endoscopista para realização de colonoscopia de rotina. O paciente não possui queixas relacionadas ao aparelho digestivo, relatando hábito intestinal normal. O endoscopista encontrou as seguintes alterações em cólon descendente: CONDUTA? Biópsia DIAGNÓSTICO? Adenoma NEOPLASIAS INTESTINAIS: ADENOMA E ADENOCARCINOMA INTRODUÇÃO TUMORES DO INTESTINO DELGADO Raros TUMORES DO INTESTINO GROSSO Pólipos Não Neoplásicos I: Pólipos Hiperplásicos Hiperplasia de células e formação de pólipos II: Pólipos Hamartomatosos Proliferação e aumento de constituintes normais do tecido conjuntivo desorganizado e desestruturado Pólipos Neoplásicos I: Pólipos adenomatosos (benignos) Câncer Colorretal PÓLIPOS COLÔNICOS Lesões elevadas formadas por criptas e glândulas da camada mucosa que se projetam para cima da linha da mucosa, formando protrusão para a luz colônica. PÓLIPOS HIPERPLÁSICOS Resultam de hiperplasia, ou seja, aumento do número de criptas e glândulas da camada mucosa (“franjeadas”); São os mais frequentes, pequenos (0,1 a 1,0 cm) e sésseis (implantam-se diretamente na mucosa, o que se difere do pediculado); únicos ou múltiplos Mais comuns no retossigmoide, principalmente a partir de 50 anos; PÓLIPOS ADENOMATOSOS (ADENOMAS) Proliferação de células epiteliais com diferentes graus de atipia celular (displasia); São únicos ou múltiplos; sésseis ou pediculados; até 10cm; após 40 anos; principalmente após 50 anos; Mais comuns no cólon esquerdo (retossigmoide); Maioria assintomática; Potencial de evoluir para adenocarcinoma. Classificação: I: Tubular II: Viloso III: Tubuloviloso ADENOMA TUBULAR Maioria dos adenomas (75%); Há formação de glândulas tubulares com atipias epiteliais (displasia); Único ou múltiplos; geralmente pequenos; sésseis ou pediculados; São esporádicos ou relacionados a síndromes genéticas ADENOMA VILOSO Minoria (10%) dos adenomas Composto por projeções/ ramificações papilíferas (dedos de luva) com atipias epiteliais (displasia); Geralmente sésseis e únicos; Tamanho variável: até 10 cm Risco 10x maior do que o do Adenoma Tubular de transformação para Adenocarcinoma; Evolui para Adenocarcinoma em 30- 50% dos casos. FORMA DE OCORRÊNCIA DOS ADENOMAS FORMA ESPORÁDICA OU ALEATÓRIA Não relacionada à transmissão genética ou familial; há pólipo único ou múltiplos (polipose colônica). FORMA GENÉTICA OU FAMILIAL Forma genética ou familial: com centenas ou milhares de pólipos; POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR (FAP) Doença genética, de herança autossômica dominante, causada por mutações do gene APC (adenomatous polyposis coli), na 2ª e 3ª décadas de vida, principalmente Há numerosos pólipos adenomatosos (dezenas a milhares) Forma Clássica I: >100 pólipos (500 a 2500) II: Cólon esquerdo III: Risco para desenvolvimento de câncer 100% Forma Atenuada I: < 100 pólipos (+/- 50) II: Cólon direito III: Risco para desenvolvimento de câncer: 50% Síndrome de Gardner I: + Lesões Extraintestinais EX: Osteomas; Cistos Cutâneose Tumores da Tireoide Síndrome de Turcot + Tumores do SNC TRATAMENTO Retirada dos pólipos CASO CLÍNICO 3 Paciente do sexo masculino, 72 anos, tabagista há 35 anos, queixando-se de dor abdominal, alteração do hábito intestinal (ora diarreia, ora constipação) e eliminação de sangue vivo nas fezes, além de perda ponderal de aproximadamente 5 kg no último mês. Relata nunca ter feito colonoscopia. CONDUTA? Colonoscopia DIAGNÓSTICO? Lesão neoplásica vegetante/ ulcerada ADENOCARCINOMA COLÔNICO 95% dos tumores malignos do intestino grosso, sendo uma neoplasia maligna de alta prevalência mundial e, no Brasil, a neoplasia mais frequente do TGI (ambos os sexos); Localizada, em 70% dos casos, no cólon esquerdo (retossigmoide), por maior contato com as fezes, o que predispõe à lesão Tumores esporádicos (60 a 80 anos) Tumores hereditários: < 50 anos, em síndromes genéticas Familiares (FAP e HNPCC) PATOGÊNESE I: Fatores ambientais: Dieta / Hábitos alimentares + Estilo de vida II: Alterações da genética molecular, em que se há a aquisição do fenótipo maligno: Perda da função de genes supressores de tumor e/ou Ativação de proto-oncogenes → oncogenes FATORES AMBIENTAIS I: Dieta (hábitos alimentares): menos vitaminas (anti-oxidante que previne lesão celular) e fibras (aumenta a motilidade do TGI), e mais carboidratos refinados, carne vermelha e lipídeos II: Estilo de vida: Sedentarismo, Obesidade e Tabagismo e alcoolismo III: Doenças inflamatórias: D. de Crohn e Colite ulcerativa ALTERAÇÕES GENÉTICAS A proteína APC, normalmente, bloqueia a B-catenina, que estimula a transcrição Microssatélites são sequências de nucleotídeos dentro dos genes de reparo do DNA PATOGÊNESE: SEQUÊNCIA ADENOMA-CARCINOMA Fatores de maior risco para evolução para adenocarcinoma colônico: Adenomas colônicos que apresentem: Componente viloso; Tamanho > 2,0 cm; Multiplicidade; e Displasia de alto grau (DAG). Síndrome hereditária: Polipose colônica (adenomatosa) familial SÍNDROME DE LYNCH: CÂNCER DE CÓLON HEREDITÁRIO NÃO ASSOCIADO À POLIPOSE (HNPCC) Forma sindrômica mais comum de câncer de cólon; 2 a 4% dos casos de câncer colorretal; geralmente em pacientes mais jovens (< 50 anos) Principalmente em cólon direito e relacionada à mutação de genes de reparo do DNA → IMS. Genes mais envolvidos: MSH2 e MLH1, em que há acúmulos de mutações Pode associar-se à câncer de: Endométrio, ovário, estômago, pâncreas, vias biliares… MORFOLOGIA MACROSCOPIA Cólon direito I: Lesões úlcero-infiltrativas; II: Lesões polipoides / vegetantes / exofíticas; III: Luz ampla, crescimento lento e fezes líquidas → obstrução rara Cólon esquerdo I: Lesões úlcero-infiltrativas; II: Lesões anulares e constritivas → obstrução mais frequente MICROSCOPIA Proliferação de células colunares atípicas, formando glândulas, que invadem / infiltram as camadas da parede colônica. ESTADIAMENTO (TNM) CLÍNICA Fase precoce: Assintomático Cólon direito: Silencioso; Sinais e sintomas inespecíficos: Fadiga e Fraqueza por anemia crônica Cólon esquerdo: Obstrução intestinal progressiva por crescimento de tumor; Alterações do hábito intestinal e das fezes: Diarreia (O tumor, ao necrosar, aumenta a luz), Constipação → dor abdominal e Perda de sangue nas fezes (oculto ou evidente – hematoquezia) COMPLICAÇÕES I: Emagrecimento acentuado (caquexia) II: Sangramento → crônico (anemia) ou agudo (HDB - hematoquezia) → choque hipovolêmico. III: Obstrução IV: Perfuração → peritonite → sepse → choque séptico V: Fístulas VI: Disseminação (ascite carcinomatosa, carcinomatose peritoneal, infiltração de órgãos adjacentes ou metástases) PROGNÓSTICO Dependente da profundidade de invasão da parede intestinal e de possíveis metástases Sobrevida global em 5 anos: 30 a 65%