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MATERIAL DIDÁTICO INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 2 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 EXCLUSÃO SOCIAL .................................................................................. 4 2.1 O conceito “exclusão” ........................................................................... 4 2.2 Fatores que favorecem a exclusão e a inclusão social ...................... 10 2.3 Combate à exclusão social ................................................................. 11 2.4 Exclusão Social e Pobreza ................................................................. 14 2.5 Exclusão Social e violência ................................................................ 16 3 INCLUSÃO SOCIAL ................................................................................. 21 3.1 O conceito de inclusão ....................................................................... 21 3.2 Políticas Públicas e Inclusão .............................................................. 22 3.3 Grupos em situação de exclusão social ............................................. 25 4 DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO EDUCACIONAL ....................................... 26 4.1 As pessoas com deficiência ao longo da história ............................... 26 4.2 Da exclusão à inclusão no brasil ........................................................ 30 4.3 Nomenclaturas utilizadas para as pessoas com deficiência............... 33 4.4 A prática inclusiva e educação aberta à diversidade .......................... 35 5 DESAFIOS DA PSICOLOGIA SOCIAL NO BRASIL ................................. 38 5.1 Psicologia Social e Políticas Públicas ................................................ 43 6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 46 3 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 2 EXCLUSÃO SOCIAL Fonte: https://conceitos.com/exclusao-social/ 2.1 O conceito “exclusão” A literatura concorda em que o termo exclusão foi sofrendo alterações nas últimas décadas e que precisa recuperar seus pressupostos teóricos. Para alguns autores o termo acabou sendo utilizado de maneira excessiva, provocando sua indefinição. Oliveira (2004) escreve a seu respeito o seguinte: Na verdade, a partir do último quarto do século XX, o termo exclusão começou, gradualmente, a ocupar espaços na literatura social, especialmente a partir da área das políticas públicas. Hoje, está fortemente presente em todas as áreas. Na maioria das ciências sociais, é empregado como se fosse um conceito científico de uso corrente, que já não mais precisasse ser definido; no campo das políticas públicas e da assistência social, constitui-se, inconfundivelmente, em alvo prioritário das ações; até mesmo certos movimentos religiosos, cujo conceito de “pobre” transcende o significado sociológico, renderam-se ao magnetismo do “excluído” (OLIVEIRA, 2004, p. 160). 5 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL O autor discorre sobre o assunto se perguntando quem seriam de fatos os excluídos. Ele afirma que, por vezes, o termo faz referência às minorias étnicas, ora aos segregados pela cor; por vezes aos desempregados de longa duração, outras vezes aos sem-moradia; em certos casos, aos que fazem opções existenciais contrárias à moral vigente, em outros aos portadores de deficiências, aos aidéticos, aos velhos ou mesmo aos jovens. Excluídos, entre nós, são os desempregados, os subempregados, os trabalhadores do mercado informal, os sem-terra, os moradores de rua, os favelados, os que não têm acesso a saúde, educação, previdência etc., os negros, os índios, as mulheres, os jovens, os velhos, os homossexuais, os alternativos, os portadores de necessidades especiais, enfim, uma relação quase interminável (OLIVEIRA, 2004, p. 160). A problemática levantada em torno da definição e do alcance do termo exclusão despertou o interesse sobre o assunto de vários pesquisadores, entre eles, apresentamos a seguir a pesquisa realizada por Avelino da Rosa Oliveira (2004), de Zione (2006) e de Alvino-Borba & Mata-Lima (2011). Em relação ao aparecimento do termo exclusão, a pesquisa de Oliveira (2004) aponta pelo menos três posições diferentes. Por um lado, identifica um primeiro grupo com os seguintes pesquisadores: Jacques Donzelot e François-Xavier Merrien. Os estudos de Jacques Donzelot localizaram nos anos de 1970, na França, o surgimento do conceito de exclusão, associado a assuntos relacionados com políticas públicas por meio da denúncia realizada no trabalho de René Lenoir sobre as pessoas esquecidas pelo progresso. Da mesma forma, François-Xavier Merrien encontra o termo sendo utilizada na França e nos países anglo-saxônicos, especialmente nos Estados Unidos. Haveria, entretanto, enfoques diferentes do uso. Nos Estados Unidos o interesse seriam grupos caracterizados por comportamentos desviantes, marginais e ilícitos. Já na França, o foco é nos processos. Esse autor também reconhece o começo da tematização da exclusão social com a obra de René Lenoir, de 1974 (Oliveira, 2004). O segundo grupo que trata sobre o assunto foi associado aos seguintes autores: Paugam (1996), Oliveira (1997), Gilberto Dupas (1999) e Ferraro (1999). Eles consideram que o termo é um conceito recente e colocam em dúvida a paternidade do termo a um único autor. Nesse sentido, afirma-se que Paugam recordou que o próprio Lenoir confessou que não foi ele o autor do título de seu livro. Oliveira (2004) explica, ao mesmo tempo, que essa relativização do tema não nega a época do aparecimento do termo. Numa linha semelhante de arguição, Oliveira (1997) sinaliza 6 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL que, a temática é recente, mas que Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, Lúcio Kowarick, Alba Zaluar, Hélio Jaguaribe e Cristovam Buarque já discutiam sobre ela nas suas obras. Um outro autor deste grupo é Gilberto Dupas. Ele associa o surgimento do termo à complexa conjuntura internacional e a vários fatores decorrentes dessa situação e não tanto a um autor específico. Por fim, Ferraro (1999) afirma que fatos novos produzem a frequência do uso e seria isso o que teria acontecido com o termo exclusão. Sendo assim, o autor não parece interessado na criação do termo em si. Ele se mostrou mais interessado em resgatar o significado de exclusão à luz das obras de Marx (Oliveira, 2004). O terceiro grupo, preocupado com a criação do termo, está integrado por Julien Freund, quem sustenta a ideia de que o termo já estava presente em outras sociedades e tempos nas nomenclaturas como exílio, ostracismo ateniense, proscrição ou desterro em Roma, na condição de pária na cultura hindu,ou no gueto (Oliveira, 2004). Os estudos de Oliveira (2004) concluem que o termo foi ganhando espaço e substituindo o termo pobreza bem como a identificação dos excluídos para focalizar na identificação dos processos de exclusão. Em relação à pluralidade conceitual que o termo foi alcançando, o autor afirma que: A esta imprecisão que, por um lado, permite que o termo seja usado para descrever populações que não têm nada em comum e, por outro, torna-o disponível a intencionalidades bem distintas, soma-se ainda o pavor social de uma luta contra o desconhecido [...] Se, por um lado, é evidente a falta de clareza em algumas formulações atuais, não se pode deixar de reconhecer o grande esforço teórico que vem sendo empreendido e os inegáveis avanços já obtidos, no sentido de uma afirmação mais precisa do conceito “exclusão”. O trabalho de Oliveira nos leva a entender que a novidade do conceito exclusão social está em tornar-se de alguma forma um conceito organizador de um novo paradigma social, sem ser capaz de esgotá-lo, porem que retrata o aparecimento contemporâneo da lógica capitalista. Portanto, o alcance conceitual deste termo depende da linha teórica à qual seja integrado. Sobre a mesma temática, Zione (2006) afirma que um dos problemas centrais da sociedade contemporânea são os milhões de seres humanos depostos de suas condições de vida e a falta de acesso aos direitos universais, tornando-se um dos 7 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL temas emergentes no campo de pesquisas sociológicas, políticas, económicas, entre outras. A autora explica que foi na década de 1980 que o termo exclusão alcançou maior visibilidade nos debates de política e teórico internacional. Essa situação pode ser explicada pelo próprio fenômeno de pobreza nos países europeus pós-guerra mundial. Com o tempo essa terminologia começou a ser revista e criticada, pois, o seu uso passou a ser abusivo, o que levou a uma busca pela sua ressignificação nos diversos campos do pensamento. Pautando-se na obra de Fretigné (1999), Zione (2006) apresenta os quatro momentos históricos de constituição do conceito de exclusão. Eles são: a) Explicações Psicológicas, Condições de Moradia e Pobreza, b) Os Irredutíveis: inaptos para o progresso, c) Deficientes ou Marginais, d) Os Novos Pobres e a Consolidação do Termo Exclusão Social. Para o primeiro momento, Zione (2006) descreve as condições de moradia existentes na França, no período posterior à Guerra Mundial. A França adotou medidas estruturantes no quesito habitacional para possibilitar a reconstrução das casas, conforme os cânones urbanísticos. Nesse sentido a autora afirma: Os pobres, depois do conflito mundial, não mais eram percebidos como totalmente responsáveis pela sua situação. Eram trabalhadores vivendo em péssimas condições: em meados da década de 1950, um recenseamento sobre moradias mostrava que existiam na França cerca de 250 mil habitações precárias, insalubres e mal-conservadas, em um universo de 12 milhões de edifícios (ZIONE, 2006, p. 15-16). No segundo momento de retrospectiva histórica do conceito de exclusão, a professora Fabiola nos conta que mesmo com a inserção das camadas empobrecidas no projeto de moradia e a diminuição do déficit habitacional, ainda estão aqueles considerados como: “inaptos para o progresso”, pessoas e grupos sobre os quais os poderes públicos não sabem como agir, são apresentados como “pobres de longa data, pessoas mentalmente desequilibradas, infelizes desprovidos de toda esperança, homens e mulheres enfraquecidos ou corrompidos pela vida, cuja readaptação à sociedade constitui-se como tarefa imprescindível” (Fretigné, 1999, p. 53) (ZIONE, 2006, p. 15-16, aspas da autora). Para resolver essa situação, formam construídos diversos edifícios para acolher os assim chamados de “inadaptados”. Esses lugares receberam o nome de 8 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL “cidades de urgência ‘e/ou’ de passagem”, deveriam se constituir também como espaços para desenvolvimento de ações pedagógicas e de acompanhamento social” (ZIONE, 2006, p. 16). Uma observação feita pela autora é que foram essas construções as que levaram ao preconceito e a estigmatizacão desses indivíduos, pois, formam considerados lugares de readaptação ou corretivos. Ela explica que para a maioria das pessoas, essas casas remontam a práticas medievais de confinamento dos devedores, dos doentes, dos pobres. Nesse sentido, aqueles que foram colocados de lado o foram porque eram loucos, pobres, ladrões ou tarados. Para os que vivem no habitat dos pobres, a desconfiança dos comerciantes e empregadores não tem fim jamais (Paugam, 1996) (ZIONE, 2006, p. 16). Para além dessa memória social e histórica, neste momento de reconstrução e início do crescimento econômico, a pobreza - simbolicamente – correspondia “a uma situação de inadaptação social” (ZIONE, 2006, p. 16). O terceiro momento contemplado por Zione (2006) é chamado de “Deficientes ou Marginais”, pois, Do imediato pós-guerra até os anos 1970, de acordo com Paugam (1996), situações atípicas de moradia, emprego e de estilo de vida eram vistas como enfermidade, anormalidade ou amoralidade; a inserção das populações “com problemas” apelava a uma terapêutica social que tomava a forma de um acompanhamento psicológico e clínico. A partir dos anos 1970, porém, inverteu-se a causalidade, e a sociedade foi colocada sob suspeita; a nova pobreza e depois a exclusão serão interpretadas como “uma consequência direta da incapacidade por parte da sociedade em inserir seus membros e não mais como o fruto de uma incapacidade individual em se solidarizar com o todo social (ZIONE, 2006, p. 16). Nesta retrospectiva histórica, a autora nos lembra, ainda que nesse momento, o conceito de marginalidade ficou mais reforçado pelas correntes de contracultura de 1968 e que incentivaram “uma noção de marginalidade por opção pessoal pelo desvio, em oposição à noção anterior pela qual a situação de marginalidade era entendida como resultante de uma inaptidão individual” (ZIONE, 2006, p. 16). Zione (2006) considera que o termo de exclusão se consolida com a obra de René Lenoir (1974), intitulada Les exclus, un français sur dix. 9 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL O último momento dessa retrospectiva, Zione (2006) foi chamado de “Os Novos Pobres e a Consolidação do Termo Exclusão Social”. As mudanças produzidas pelas inovações tecnológicas depois dos anos’80 e com a crise de petróleo, trouxeram consequências graves no campo do trabalho. Gerou-se um cenário de desemprego bastante complexo, atrelado à condição de precariedade trabalhista, de salários alterados negativamente e de marginalidade (ZIONE, 2006). Um terceiro trabalho escolhido para tratar sobre o conceito de exclusão corresponde a Alvino; Mata (2011). Os autores interpretam que o distanciamento feito pelas sociedades contemporâneas às políticas de bem-estar social contribuíram para o surgimento das diversas situações de vulnerabilidade social. Foram essas situações as que provocaram a exclusão social. Nesse sentido, caberia ao Estado combate-las com programas de inclusão. Portanto, eles entendem que a abordagem desse assunto exige um aprofundamento de tais conceitos, ou seja, o de exclusão e de inclusão. Em relação ao conceito de exclusão, Alvino; Mata (2011, p. 221) apresentam um quadro com as principais concepções de diversos autores mais recentes, algumas delas definem que: Exclusão social não é um conceito, é uma nova questão social. Esta situação está sendo produzida pela conjunção das transformações no processo produtivo, com as políticas neoliberais e com a globalização (LESBAUPIN, 2000, p. 36). Exclusão social pode ser definida como múltiplas privações resultantes da falta de oportunidades pessoais, sociais, políticas ou financeiras. A noção de exclusão socialvisa a participação social inadequada, a falta de integração social e a falta de energia (HUNTER, 2000, p. 2-3). É um processo através do qual certos indivíduos são empurrados para a margem da sociedade e impedidos de nela participarem plenamente em virtude da sua pobreza ou da falta de competências básicas e de oportunidades de aprendiza- gem ao longo da vida, ou ainda em resultado de discriminação (COM, 2003, p. 9). A exclusão social de um grupo, ou dos indivíduos que pertencem a esse grupo é, antes de tudo, uma negação de respeito, reconhecimento e direitos (SILVER, 2005, p. 138). Exclusão social significa grupos socialmente excluídos. Portanto, são aqueles que estão em situação de pobreza, desemprego e carências múltiplas associadas e que são privados de seus direitos como cidadãos, ou cujos laços sociais estão danificados ou quebrados (SHEPPARD, 2006, p. 10). 10 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Em relação ao conceito de inclusão social, Alvino; Mata (2011, p. 222) identificaram algumas das seguintes definições: Processo que visa promover a inclusão dos segmentos em vulnerabilidade social, destacando a cidade, a escola, o emprego e a proteção social. (KOWARICK, 2003, p. 75) Processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social acedam às oportunidades e aos recursos necessários para participarem plena- mente nas esferas económica, social e cultural e beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade em que vivem. (COM, 2003, p. 9) A inclusão social de grupos não é meramente simbólica, já que também contém implicações económicas (SILVER, 2005, p. 138). Processo pelo qual a exclusão social é amenizada. Caracteriza-se pela busca da redução da desigualdade através de objetivos estabelecidos que contribuam para o aumento da renda e do emprego (WIXEY et al., 2005, p. 16) É uma questão de abertura e de gestão: abertura, entendida como sensibilidade para identificar e recolher as manifestações de insatisfação e dissensos sociais, para reconhecer a “diversidade” social e cultural; gestão, entendida como crença no caráter quantificável, operacionalizável, de tais demandas e questionamentos, administráveis por meio de técnicas gerenciais e da alocação de recursos em projetos e programas (as políticas públicas) (LACLAU, 2006, p. 28). São as políticas sociais contemporâneas que priorizam, equivocadamente, atingir os excluídos que estão no limite das privações através de programas focalizados que sustentam rótulos de “inclusão social” (LOPES, 2006, p. 22). 2.2 Fatores que favorecem a exclusão e a inclusão social Ao se debruçar sobre os fatores que favorecem os processos de exclusão social, os supracitados autores sinalizam que alguns deles são, entre outras: o desemprego estrutural, a precarização do trabalho, a desqualificação social, a desagregação identitária, a desumanização do outro, a anulação da alteridade, a população de rua, a fome, a violência, a falta de acesso a bens e serviços, à segurança, à justiça e à cidadania [...] Pobreza, fome, desigualdade educacional, violação da justiça social e solidariedade social [...] Inacessibilidade ao mercado de trabalho — a incapacidade de gerar uma renda familiar de subsistência, a desvalorização ou falta de reconhecimento do trabalho diário do indivíduo, a discriminação e a ausência de proteções legais básicas do trabalho. Esses efeitos incluem a segregação física em comunidades marginais, o estigma social associado à baixa qualidade dos empregos, condições de trabalho inseguras e o abandono prematuro da escola [...] (ALVINO; MATA, 2011, p. 223). 11 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Já, em relação aos fatores que contribuem com os processos de inclusão social são, entre outros: Justiça social e solidariedade social [...] Segurança, proteção, segurança social, direitos democráticos e oportunidades comuns de participação política [...] A melhoria de capital humano por meio da educação, do treinamento e de empregos de melhor qualidade pode contribuir significativamente para o aumento da inclusão social [...] Valorização das pessoas e grupos independentes de religião, etnia, género ou diferença de idade; estruturas que possibilite possibilidades de escolhas; envolvimento nas decisões que afetam a si em qualquer escala; disponibilidade de oportunidades e recursos necessários para que todos possam participar plenamente na sociedade (ALVINO; MATA, 2011, p. 223). 2.3 Combate à exclusão social Alvino; Mata (2011) consideram que a exclusão social pela sua abrangência e amplitude impulsiona, de alguma forma, novas dinâmicas de problemas sociais. Por isso, é preciso combater novos problema com novas soluções. Eles afirmam: “A transformação social requer uma dinâmica mais criativa de intervenção social na medida em que não existe um padrão de resposta “ (ALVINO; MATA, 2011, p. 226). Os combates à exclusão social se realizam através de programas de assistência social que visam atender as demandas das pessoas em situação de vulnerabilidade. Porém, existem limitações nas políticas que as sustentam. As autoras analisam, nesse sentido, algumas medidas que diminuem os fatores que ajudam no aumento das vulnerabilidades sociais, tais como: o desemprego, a pobreza, a educação, a saúde e a população idosa. A pobreza implica a falta de recursos financeiros. Entretanto, para alguns autores, ela também pode ser abordada sob outros aspectos, ou seja, como privação social, económica, cultural e política. Nesse sentido, podem se estabelecer duas categorias: a pobreza relativa e a absoluta. A pobreza absoluta pode ser entendida como a privação extrema das necessidades humanas básicas, incluindo a alimentação, segurança, água potável, saneamento básico, saúde, moradia, educação e informação. Já a pobreza relativa é compreendida como a incompatibilidade entre os recursos que uma pessoa ou comunidade possuem e o padrão de vida considerado aceitável pela sociedade onde estão inseridos. Em consequência, podem surgir a falta de emprego, os baixos salários, precariedade de 12 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL moradia, falta de cuidados com a própria saúde, impedimentos de acesso à educação e cultura, atividade física e lazer. Alvino; Mata (2011) sugerem que: A erradicação da pobreza requer um planeamento da atual inserção social através de programas que permitam debelar as fragilidades sociais e, dessa forma, desenvolver a sociedade. No entanto, a dimensão desses programas de inserção exige uma resolução a longo prazo através de reformas profundas [...]. É inviável combater a pobreza e a exclusão social sem fazer uma análise das desigualdades económicas e sociais. De assinalar que, nos programas políticos observa-se uma tendência em tentar resolver esse problema, tornando-o uma das prioridades em campanhas políticas [...]. (ALVINO; MATA, 2011, p. 228). Sobre a questão do desemprego, os autores afirmam que para combatê-lo: é primordial assegurar as condições para a plenitude do trabalho através de políticas fiscais e legislação laboral que estimulem os empregadores a promoverem investimentos que criem empregos. A inclusão social através do trabalho gera maior envolvimento participativo do indivíduo na sociedade, visto que o emprego possibilita a capacidade de decisão, de escolhas relativamente à utilização dos recursos sociais e de pleno exercício da cidadania. Por outro lado, o desemprego, sobretudo de lon- ga duração, causa danos psicossociais, tais como a perda de competência e autoestima (COM, 2003, p. 24; Silva, 2008, p. 5) (ALVINO; MATA, 2011, p. 230). Os Estados precisam garantir o trabalho principalmente para aqueles que se encontram na condição de imigrantes, dependência química, ex-detentos, deficientes, jovens desempregados, etc. Por isso, torna-se fundamental a adoção de políticas que propiciem a criação de novas empresas,bem como, favorecer a igualdade de oportunidade laboral e de gênero através dos programas de formação profissional para jovens e adultos. No âmbito da educação, entende-se que exista uma relação entre o baixo rendimento escolar e o desemprego, embora não determinantes, mas condicionantes e que levam a situações de exclusão. Nesse sentido, de acordo com a COM (2003) , “a implementação de projetos [...] é uma opção para contribuir para a qualidade do ensino e estímulo à aprendizagem, proporcionando oportunidades de aprendizagem contínua ao longo da vida” ( ALVINO; MATA, 2011, p. 232). Em relação à saúde, pode ser afirmar que ela é consequência de uma boa qualidade de vida e de acesso aos meios para seu cuidado. Situações de exclusão social podem levar à falta de saúde. Para resolver os problemas com os serviços de saúde, se faz necessário um trabalho de identificação tanto das necessidades como dos riscos e dos custos envolvidos. Nesse sentido, os programas de saúde da família 13 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL e as campanhas preventivas são relevantes para que a possam ser garantidos não só a qualidade no atendimento, mas o próprio direito universal e gratuito à saúde. O aumento da população idosa e a diminuição da natalidade, bem como da população juvenil com menos de 15 anos, exige planejamentos específicos que favoreçam a qualidade de vida dos idosos. Esse planejamento deve contemplar atividades de ordem física, de lazer, de cultura, etc. Dentre as situações que precisam ser prevenidas encontram-se a de solidão e abandono do idos, pois, notícias sobre idosos encontrados sem vida em suas casas tem se tornada eventos comuns. Nesse sentido, afirma-se que: O problema não é só a velhice, agrega-se também a dependência. Destaca-se, ainda, a rotura dos laços de vizinhança nas sociedades contemporâneas, contribuindo para a solidão [...] O atual planeamento urbano exclui os idosos. Cabe um planeamento que possibilite organizar funções para os idosos viverem de forma menos cruel. É essencial o apoio direto, a humanização não de forma vazia, mas na tentativa de encontrar dispositivo de apoio ao voluntariado. As medidas de minimização ao combate à exclusão não são inovadoras, mas continuam sendo urgentes. A efetivação e o acompanhamento de todos os planos inclusivos não devem permanecer apenas em relatório (ALVINO; MATA, 2011, p. 236). . Os três trabalhos apresentados nos colocaram diante de alguns aspectos associados ao conceito de exclusão, nos mostrando as possíveis abordagens sobre a temática. O presente material não pretende esgotar o assunto, mas se debruçar sobre os desdobramentos considerados mais relevantes para este estudo. A seguir, ainda, neste capítulo, discutiremos a pobreza e a violência na perspectiva da exclusão social. Fonte: ttps://www.noticiasaominuto.com/ 14 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 2.4 Exclusão Social e Pobreza Fonte: https://valorinveste.globo.com/ Os conceitos de pobreza e exclusão social são distintos, remetendo-nos para formas de analisar a sociedade diferentes, se bem que aparentadas entre si. Para quem se preocupa com o problema social da pobreza, esta é uma questão importante, dado que diferentes noções do que é ser pobre (ou excluído) podem implicar o recorte de diferentes conjuntos de indivíduos na realidade, como vários autores referem (no que à pobreza diz respeito) (Glewwe e Gaag, 1989; Townsend, 1993). A designação dos indivíduos como pobres ou excluídos não é inocente dado que tem importantes efeitos ao nível da identidade social e da reprodução das desigualdades. As formas de definição destes dois conceitos são inúmeras, refletindo coisas tão distintas como a mudança social, as diferentes tradições de investigação, os objetivos políticos e as simples opiniões pessoais, dado que são construções sociais (Paugam, 1995). É necessário frisar que pobreza e exclusão social, é uma problemática que é alvo de consideráveis preocupações políticas e institucionais (para complicar, é preciso não esquecer que a ideia de pobreza é anterior e exterior à própria ciência), 15 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL sendo de uso comum. Por outro lado, a própria evolução histórica das sociedades leva a mudanças sociais na sua estruturação e funcionamento, designadamente nos processos e fenómenos que habitualmente se designam por pobreza. A própria génese do conceito de exclusão social é exemplo da criação de um novo conceito para, entre outras coisas, responder à emergência de fenómenos e processos inéditos na modernidade. A mesma coisa poderá ser dita relativamente à variação da pobreza entre espaços sociais e culturais distintos. Isto significa que a mesma palavra pode significar coisas diversas em função de tempos e espaços diferentes. No caso da pobreza, o núcleo central é a ideia de escassez de recursos, escassez, em primeiro lugar, de recursos monetários (é, aliás, a partir desta ideia que se desenvolvem os primeiros trabalhos que se reivindicam “científicos” sobre a pobreza), mas é necessário não esquecer que é também escassez de vários tipos de recursos. Neste sentido, a analogia de Bourdieu em relação ao capital económico, encontrando quatro tipos de recursos, parece-nos ser particularmente fecunda quando aplicada à questão das desigualdades e, em particular, à questão da pobreza. A noção de exclusão social surgiu, por vezes em complemento e por vezes em confronto com a noção de pobreza, para explicar a emergência de processos e fenómenos inéditos na modernidade, designadamente em relação com as novas formas de pobreza que colocavam em causa a coesão social (Paugam, 1996 e Silva, 1998), em particular a relação dos indivíduos com o trabalho e com os laços sociais. O que a distingue e singulariza é o enfoque na exclusão dos indivíduos dos modos de vida dominantes de uma dada sociedade. Essa exclusão é multidimensional, mas o seu cerne é a exclusão do mercado de trabalho (Paugam, 1996), (desemprego e desemprego de longa duração) ou a relegação para o mercado de trabalho secundário, designadamente para formas de precariedade ou para estatutos difusos entre emprego e desemprego. Enfocar a questão da exclusão social como exclusão de direitos de cidadania ou que se enfatize a dimensão de individualização social. No entanto, a questão essencial se joga ao nível do trabalho e do emprego na sua dupla dimensão de proporcionador de recursos financeiros para a sobrevivência física e social dos indivíduos. Além disso, os recursos em causa são também recursos indenitários, fundamentais para definir a posição na sociedade e a identidade social. 16 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 2.5 Exclusão Social e violência Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/ Como você já sabe, o Brasil apresenta grandes desigualdades sociais. Assim, muitas pessoas são excluídas das possibilidades de concorrer e competir por melhores condições de trabalho e emprego. A exclusão social se manifesta de forma cruel. Muitas vezes, ela faz com que o processo de formação das identidades de crianças e jovens se constitua a partir de exemplos negativos, desonestos e associados ao crime. Isso ocorre porque o crime aparece como alternativa para que se viva em igualdade de condições de consumo e com a garantia da satisfação das necessidades básicas de sobrevivência. Dessa forma, “[...] a exclusão social tem sido uma categoria importante e presente nas análises que buscam relacionar violência e direitos civis. Enfatiza--se o fato de que os excluídos dos direitos tornam-se alvos, ou atores, mais imediatos da violência [...]” (PORTO, 2000, p. 187). Ao mesmo tempo em que ocorre a organização de grupos étnico-culturais minoritários em busca de seus direitos de cidadãos, há, por outro lado, 17 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL uma reação conservadora contra essas identidades culturais,que, por vezes, se manifesta de forma violenta. Para resolver ou amenizar tais problemas, são necessários “[...] espaços de manifestação das diferenças e do conflito, enquanto mecanismos de ‘prevenção’ contra a violência [...]” (PORTO, 2000, p. 199). As iniciativas de educação multicultural e de relações étnico-raciais, que buscam trabalhar a diversidade e a interculturalidade, têm grande importância para essa prevenção. A seguir, você pode ver alguns dos principais tipos de violência que acometem a sociedade brasileira na atualidade: violência de gênero; violência sexual; etnocídio. A violência de gênero é a violência relacionada com os diferentes papéis atribuídos ao homem e à mulher. Historicamente, o homem adquiriu maior poder e prestígio do que a mulher. É justamente contra esse posicionamento superior masculino, que relega a mulher ao segundo plano, que o movimento feminista tem se articulado. No Brasil, embora exista uma rede que procura coibir os casos de violência contra a mulher, os casos de feminicídios têm aumentado. Segundo a Lei Maria da Penha (Lei nº. 11.340/2006), em seu art. 7º, são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher a violência física, a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e a violência moral. Dessa forma, a mulher se encontra sujeita a vários tipos de violências. A violência física atenta contra a integridade de seu corpo. A violência psicológica lhe causa danos emocionais e diminuição da autoestima. É o caso de ameaças, humilhações e constrangimentos cotidianos, insultos e cerceamento de ações. Já a violência sexual se manifesta quando a mulher é forçada a manter relações sexuais não desejadas, envolvendo também o aborto e a prostituição mediante coação. Por sua vez, a violência patrimonial refere-se à retenção ou à subtração de bens, valores e direitos ou recursos econômicos. Por fim, a violência moral envolve condutas que caracterizam injúria e calúnia. 18 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Segundo os dados estatísticos do Ligue 180 — Central de Atendimento à Mulher, iniciativa do Governo Federal, no primeiro semestre de 2018, foram recebidas as denúncias apresentadas no Quadro 2 (BRASIL, 2018). Nem todos os casos de violência são denunciados e ainda existem outras formas de violência contra a mulher além das analisadas. Portanto, você pode perceber o quanto a situação é séria. O número de feminicídios para esse mesmo período foi de 14 casos denunciados, sendo que houve 3.018 tentativas de morte que não se consumaram, o que é alarmante. Os casos de violência sexual não se referem somente às mulheres. Todos aqueles que se desviam do padrão heterossexual, como lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis (LGBTT), sofrem com a violência conhecida como homofóbica. Essa violência se caracteriza por ações que manifestam rejeição irracional ou ódio em relação aos homossexuais. Tais ações ocorrem de forma arbitrária e procuram desqualificar o outro enquadrando-o como inferior ou anormal. Um levantamento realizado pelo órgão não governamental Grupo. Gay da Bahia, a partir de dados de grupos LGBTT dos demais estados brasileiros, registrou 126 mortes somente no primeiro trimestre de 2018 (Figura 2). 19 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Ao referir-se às formas de exclusão social vivenciadas pelos sujeitos da comunidade LGBTT, Peres (2004, p. 25) destaca que: ...] as exclusões e as formas de opressão experimentadas pela população homossexual, e em especial as travestis, desfavorecem qualquer possibilidade de oportunidades à população gay, dentro da configuração social em que vivemos, colocando essa população exposta a uma maior vulnerabilidade e riscos diante do HIV e da AIDS, tanto no plano individual [...] como no plano social, que estigmatiza, discrimina e violenta os direitos humanos, assim como o direito fundamental à singularidade, condição básica para que a pessoa possa sentir um mínimo de dignidade enquanto ser humano. A violência étnica também se faz presente no Brasil. Ela normalmente é praticada contra as etnias que passaram por um processo histórico de assimetria de 20 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL poder desde a época da colonização brasileira, como é o caso da etnia afrodescendente (negra) e da indígena. Ambas sofrem com o preconceito, o racismo e a discriminação. As populações indígenas são as que têm sofrido com os crimes de etnocídio no Brasil contemporâneo. Um dos problemas enfrentados pela população indígena são os conflitos com grandes latifundiários pela posse das terras que seriam de direito originário das etnias indígenas segundo a Constituição. Para as etnias indígenas, a terra não representa propriedade como para a cultura capitalista. Em vez disso, a terra tem conotação espiritual e sagrada para que os homens desenvolvam todo o seu potencial. Segundo os dados do relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil: dados de 2017, elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI, 2017), houve 110 casos de assassinato e mais 27 tentativas de homicídio no período analisado, além de demais ameaças e lesões corporais. Como você pode perceber a partir dessa cartografia de algumas das principais formas de violência que ocorrem no Brasil e que estão relacionadas com a exclusão social, o País ainda tem muito a evoluir como nação. A ideia é buscar melhorias estruturais que forneçam condições similares de cidadania a todos os grupos étnico-culturais que compõem a nação. Para reverter esse quadro, é necessária tanto a participação mais consistente e planejada do Estado e de suas instituições quanto o empenho da sociedade civil organizada, em busca de uma convivência intercultural equitativa e com justiça social. Fonte: https://domtotal.com/ 21 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 3 INCLUSÃO SOCIAL Fonte: https://blog.playkids.com/ 3.1 O conceito de inclusão A inclusão é o processo no qual pessoas com algum tipo de limitação ou deficiência integram a sociedade e todos os seus espaços com igual grau de participação e protagonismo. Essa inclusão social é uma preocupação eminente e deve ser observada em todas as esferas da sociedade, como na educação, no trabalho, no lazer, na saúde, na cultura, etc. O conceito de inclusão social é forjado em resposta à concepção teórica e metodológica da exclusão social, tendo esse conceito surgido na Europa e servido como conceito inaugural de uma outra possibilidade de análise crítica da sociedade. Serge Paugam (2004) discute o conceito de exclusão e aponta que sua primeira aplicação na França foi em 1974. Porém, foi só na década de 1980 que passou a ser tema de pesquisas sociológicas e, depois, categoria estruturante no exame crítico da sociedade contemporânea (SPOSATI, 2006). Conforme Aldaíza Sposati (2006), o conceito de exclusão social foi elaborado para expor o conjunto de mazelas sociais que recaem sobre a vida do indivíduo que 22 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL está à margem da sociedade. Esse conceito coloca como central um modo de vida baseado nos anseios e nas vivências da classe dominante, imprimindo uma visão dicotômica de mundo segundo a qual apenas existem aqueles que estão seguindo o seu modo de viver e consumir e aqueles que ficam fora desse grupo, sujeitos às mais variadas formas de expressão da questão social, pois, para alguns segmentos da classe trabalhadora, viver como excluídos sociais é a sua única forma de inclusão nessa sociedade que produz a riqueza a partir da reprodução da pobreza. Os conceitos de exclusão social e de inclusão social são, portanto, essencialmente atrelados, visto que apenas uma sociedade que produz de maneira ineliminável a exclusão social de grande parte dos indivíduos pertencentes à classe trabalhadora pode gerar, como reflexos de suasinerentes contradição e luta de classes, instrumentos públicos de inclusão social que visam a equalizar as desigualdades manifestas na vida dos indivíduos. Compreendemos, então, que o conceito de inclusão social pode ser entendido como a possibilidade de o indivíduo estar em situação de segurança e justiça social, tendo as suas condições de reprodução social garantidas e protegidas. Ainda segundo Sposati (2006, documento on-line), “Ninguém é plenamente excluído ou permanentemente incluído”; portanto, na sociedade do capital, o binômio exclusão/inclusão social constitui-se de elementos em constante disputa tanto no campo da produção e reprodução da materialidade da vida, quanto no campo da análise da sociedade e, por conseguinte, das políticas públicas. A inclusão na sociedade, a luta contra a discriminação e a busca por igualdade de oportunidades são temas inerentes aos direitos humanos e à sua discussão atual. No Brasil, esses temas são ligados a inúmeros grupos relacionados a questões de gênero, classe, etnias e, também, de pessoas com deficiência. Esses últimos ainda buscam uma inclusão digna e que atenda às suas necessidades; nesse sentido, o governo tem criado políticas públicas para promover a inclusão social desses indivíduos. Mas, afinal, você sabe o que são políticas públicas? 3.2 Políticas Públicas e Inclusão O conceito de Políticas Públicas surge nos Estados Unidos e, de acordo com Souza (2006), não existe uma única nem melhor definição sobre o que seja Política 23 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Pública, mas a maioria das concepções a seu respeito está bastante relacionada ao papel do Estado e às ações governamentais. Segundo Santos (2012, p. 5), “Políticas públicas são ações geradas na esfera do Estado e que têm como objetivo atingir a sociedade como um todo ou partes dela [...]”. Já Adams (2006) apresenta uma definição mais completa, entendendo Política Pública como um conjunto de ações permanentes que asseguram e ampliam direitos civis, econômicos, sociais e coletivos de todos, que devem ser amparados em lei, sendo de responsabilidade do Estado (financiamento e gestão) e com controle e participação da sociedade civil. Por essas definições, as Políticas Públicas são responsabilidade do Estado, mas também dos cidadãos, ou seja, as Políticas Públicas só atingirão seus objetivos a partir da compreensão e da ajuda dos cidadãos em seu desenvolvimento. Para que as elas sejam mais efetivas, são necessários os seguintes estágios: As políticas públicas possuem um processo de formação de longo e médio prazo consistente nas fases de reconhecimento do problema público; formação de uma agenda pública; formulação da Política Pública em si; processo político de tomada de decisão e de implementação da Política Pública; execução da Política Pública; acompanhamento, monitoramento e avaliação da Política Pública e, por fim, a decisão sobre a continuidade, reestruturação ou extinção da Política Pública (BENEDITO; MENEZES, 2013, p. 58). Assim, o governo forma uma agenda, na qual identifica e organiza os problemas existentes. A partir disso, começa a formulação da Política Pública em si, a tomada de decisão, a sua execução e, por fim, ocorre a avaliação. De acordo com os estudos de Silva (2010), as Políticas Públicas “são a materialização do Estado por meio de diretrizes, programas, projetos e atividades que tenham por fim atender às demandas da sociedade” (SILVA, 2010, p.170-171). Elas podem ser classificadas em: a) Políticas distributivas: consistem na distribuição de recursos da sociedade a regiões ou determinados segmentos sociais e, em geral, requerem o controle social por meio de conselhos ou outro tipo de participação popular. Ex.: política de desenvolvimento regional; b) Políticas redistributivas: consistem na redistribuição de renda mediante o deslocamento de recursos das camadas mais abastadas da sociedade para as camadas mais pobres, incluindo-se aqui a política da seguridade social. Em regra, as camadas mais abastadas tendem a oferecer resistência, mas há outras formas, mais suaves, de realizá-las que evitam essa resistência que 24 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL é quando feito por meio de realocação do próprio orçamento público. Ex.: Bolsa-família; c) Políticas regulatórias: criam normas para o funcionamento de serviços e instalação de equipamentos públicos por meio de ordens, proibições, decretos, portarias, etc. Pode ocorrer por meio da distribuição de custos e benefícios entre grupos e setores sociais, de forma equilibrada ou por meio do atendimento de interesses particulares. Ex.: plano diretor urbano, políticas de circulação, política de uso do solo etc. d) Políticas constitutivas ou estruturadoras: definem procedimentos gerais da política; determinam as estruturas e os processos da política, por isso têm a característica de afetar as condições como são negociadas as demais políticas; em regra não propiciam um envolvimento da população. Ex.: reforma política, definição do sistema de governo, etc. (SILVA, 2010, p. 171- 172). Compreende-se que para além dessa classificação, o comum denominador de qualquer Política Pública é a sociedade. Por isso, é prioritário levar em consideração todas as suas necessidades, identificar e definir os seus problemas mais relevantes e formular políticas que tragam soluções eficientes (SILVA, 2010). A autora conclui que a consolidação de uma verdadeira inclusão social a partir das políticas públicas exige a implementação dos seguintes mecanismos: a) A formação de capital social: “quando se identifica uma sociedade cujos componentes são efetivos cidadãos, no sentido da participação, da reivindicação de direitos, do compartilhamento de resultados e da interação constante entre seus membros [...]” (p. 172). b) Uma efetiva avaliação das políticas públicas e aplicação dos resultados: “a avaliação é uma operação na qual se julga o valor de uma iniciativa organizacional, [...] visa constatar [...] um valor desejado nos resultados de uma ação empreendida para obtê-lo, partindo-se de um quadro referencial [...]” (p.179). c) A implementação de controle sobre os grupos de interesse (lobby): “a influência dos grupos de pressão inclui desde o contato pessoal direto com os agentes do governo, até as ações coletivas e formas mais sutis de propaganda para formação de uma opinião pública favorável às reivindicações dos grupos “ (p. 186). d) O controle das interferências decorrentes da globalização: “a globalização [...] tem trazido, e trará muito mais transformações [...], gerando uma multiplicidade de conexões e relações entre Estados e sociedade, alterando e quebrando os esquemas da ordem sociopolítica [...] (p. 198-199). Silva (2010) entende que a convergência desses mecanismos pode contribuir para a efetividade, eficácia e eficiência na execução das políticas públicas, em direção a uma efetiva inclusão social. 25 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 3.3 Grupos em situação de exclusão social Desde o ponto de vista histórico, o surgimento dos grupos considerados em situação de exclusão social ou à margem da sociedade datam da época colonial e de escravidão. Dentro desses grupos encontramos os afrodescendentes, os indígenas, os deficientes, as pessoas em situação de pobreza, pessoas LGBTQI+. Em decorrência desses processos históricos de exclusão, as iniciativas voltadas para sua inclusão social visam garantir os seus direitos. As pessoas deficientes sofreram desde sempre processos de exclusão e foram privados de todo tipo de acesso: a educação, a trabalho, a lazer, a esporte, à cultura, à mobilidade. Era uma prática socialmente aceitável que as famílias mantivessem essas pessoas em casa numa situação análoga a cárcere privado, impedidas de contato social porque chegava a ser constrangedor ou vergonhoso ter um filho, ou filha com deficiência. Aspessoas LGBTQI+ carregam o estigma da degeneração moral, principalmente, desde o ponto de vista da moral religiosa. Durante muito tempo suas orientações sexuais foram consideradas doenças. Ainda, hoje, ouve-se falar da cura gay. Essas situações de exclusão se consolidaram em atos de violência, de marginalização e até de morte como já explicitado no capítulo anterior sobre exclusão social e violência. Desprovidas do acesso digno a moradia e educação, sem escolaridade e sem emprego, essas pessoas foram forçadas a entrar, na maioria das vezes, no caminho da prostituição e tráfico para poderem sobreviver. As pessoas em situação de pobreza ou de baixa renda ficaram e ficam à margem de todo acesso, tais como, atenção da saúde, alimentação saudável, casa, educação de qualidade e emprego. Considera-se que as pessoas que vivem na zona rural ficam ainda mais vulneráveis, pois, a maioria dos centros de saúde, de escolas e de outros serviços ficam concentrados nas zonas urbanas, o que torna a situação delas mais problemáticas. Fonte: http://exclus-o-social.blogspot.com/ 26 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 4 DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO EDUCACIONAL Fonte: https://novaescola.org.br/ A construção de uma trajetória da exclusão para a inclusão é processual e se dá principalmente por meio da educação — de uma educação para a inclusão. Desse modo, é importante conhecer a deficiência ao longo do tempo e da história, especialmente no que concerne ao desenvolvimento de práticas inclusivas. 4.1 As pessoas com deficiência ao longo da história Ao longo da história da humanidade, as pessoas com deficiência foram vistas das mais variadas formas, acompanhando a evolução do pensamento humano característico de cada época. Elas foram sujeitas a situações que iam desde uma visão divina sobre as suas condições até métodos de correção e cura por meio de torturas e sacrifícios. Dessa maneira, as pessoas com deficiência ficaram à mercê das 27 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL resoluções alheias, discriminadas e pouco ou nada compreendidas ao longo da história. Já nos tempos mais remotos, em civilizações arcaicas, é possível encontrar registros sobre os métodos adotados para o manejo com as pessoas com deficiência, levando muitas vezes à sua aniquilação. Como exemplo, podemos citar Esparta, onde, conforme a legislação instaurada, as crianças nascidas com alguma deformidade ou diferença anatômica não eram consideradas pessoas e, portanto, eram levadas ao alto de montes e atiradas de lá. Imaginava-se que essas crianças deveriam ser imediatamente eliminadas por representarem impedimentos para a procriação de sujeitos que se encaixavam em um padrão de “normalidade” (LORENTZ, 2006). Métodos semelhantes são encontrados em estudos antropológicos sobre tribos indígenas de diversas regiões do planeta, demonstrando visivelmente um estigma criado em relação àqueles que possuíam alguma diferença. Mesmo pessoas nascidas com um padrão anatômico aceitável ou não muito discrepante dos demais, ao desenvolverem e demonstrarem qualquer dificuldade, eram afastadas do grupo e deixadas à própria sorte em locais afastados, em meio às florestas. Demonstra-se assim que as pessoas com deficiência carregam consigo, ao longo de toda a história da civilização, marcas e estigmas engendrados para excluí- las e segregá-las, sendo essas condutas justificadas por ideias hegemônicas e preconceituosas (GOFFMAN, 1978). Tais métodos eram justificados por códigos e escritos que relatavam os modos de viver da época, conforme os registros de Aristóteles e Platão, sobre legislações ideais na Antiguidade Clássica. Nesses registros, fica claro que os direitos individuais não eram reconhecidos e, portanto, eram colocados em segundo plano em relação ao direito público coletivo. Dessa forma, o Estado tinha o direito de não tolerar as deformidades ou monstruosidades de seus cidadãos (COULANGES, 2003). As religiões contribuíram para o entendimento de que as pessoas com deficiência deveriam ser vistas como pessoas em uma situação passível de cuidado e atenção, ainda que essa perspectiva tenha seus aspectos excludentes, por meio da criação de instituições como asilos e hospitais, onde as pessoas acabavam ficando confinadas sob a alegação de que deveriam receber assistência. Tal perspectiva contribuiu para um olhar mais orgânico sobre as deficiências, inserindo a ideia de que 28 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL a pessoa com deficiência poderia ser curada, tratada ou desenvolvida de alguma maneira que a aproximasse de um padrão de normalidade, atribuindo funcionalidade e independência aos sujeitos (PIOVESAN, 2012). No decorrer de todos os momentos históricos, da civilização mais arcaica até bem recentemente, há registros de condutas excludentes e exterminadoras de pessoas com deficiência. Esses indivíduos foram eliminados por meio de assassinatos, abandonados sem qualquer cuidado, encarcerados e expostos a experimentos e pesquisas desumanas — como visto em relatos da Segunda Guerra Mundial (LORENTZ, 2006). O período entre guerras da primeira metade do século XX e a escassez da mão de obra qualificada oportunizaram a necessidade de educar e desenvolver, de maneira a construir a autonomia e as competências das pessoas com deficiência. Além disso, também possibilitaram o surgimento de classes especiais de educação dentro de escolas regulares, bem como o desenvolvimento de centros de reabilitação para as mais variadas deficiências. De acordo com Canziani (1995), foi somente a partir da segunda metade do século XX que as pessoas com deficiência puderam escapar da concepção de invalidez e ser vistas como pessoas aptas ou inaptas — ideia que coincidiu com a expansão do modelo econômico capitalista. Conforme indica Lorentz (2006), a educação especial começou a ser delineada por meio do assistencialismo de clínicas e locais para o desenvolvimento das pessoas com deficiência. Nesses espaços, era priorizada a necessidade de ajustar, moldar, condicionar e, ainda, almejar a cura das pessoas com deficiência, para somente depois promover a sua inserção na sociedade. Nesse sentido, mesmo quando começaram a surgir classes especiais dentro das escolas regulares, estas ainda tinham o intuito de segregar, pois, se compreendia, nessa época, que era preciso preparar a pessoa com deficiência para o convívio social, para, numa fase posterior, permitir o seu convívio com a sociedade. A década de 1980 foi um marco importante para as pessoas com deficiência, em especial para a construção de considerações relacionadas à sua educação. O ano de 1981 foi declarado como o Ano Internacional da Pessoa Deficiente (como era denominada a pessoa com deficiência nessa época) e deu o primeiro pontapé para as tessituras da efetivação dos direitos humanos das pessoas com deficiência. Esse 29 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL fato produziu nas pessoas com deficiência consciência de si e de suas condições e potencialidades, possibilitando, a partir disso, uma organização política (FIGUEIRA, 2008). Somente em 1986, a expressão “alunos excepcionais” foi substituída por “alunos portadores de necessidades especiais”, conforme Bueno (1993). Nesse sentido, a partir dessa apropriação das pessoas com deficiência, a sociedade passou a desenvolver a sua aceitação e respeito, buscando superar a ideia de que esses indivíduos deveriam ter superado as suas diferenças, para somente depois se inserirem no convívio social. Gradualmente, em meio ao crescente interesse de diversos estudiosos para a construção de teorias da educação e a consciência de uma impossibilidade de cura para muitas deficiências, foi se potencializando a necessidade de abertura de oportunidades para as pessoas com deficiência, para a construção de seus direitos basilares a partir de seus próprios discursos. Dessa maneira, a tolerânciaà pessoa com deficiência também foi consubstanciada na proteção e no paternalismo da sociedade em relação esse grupo de pessoas, por meio de declarações como a de Salamanca, em 1994, sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, e as convenções internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1996 e 1997. As lutas pelos direitos das pessoas com deficiência implicaram fortemente na construção e no delineamento da educação especial. Contudo, apesar de todo o embasamento legislativo e da conquista dos direitos das pessoas com deficiência, ainda se contemplava a ideia de que era a pessoa com deficiência que precisava se adaptar à sociedade, e não a sociedade que lhe propiciaria meios de acessibilidade (PIOVESAN, 2012). Assim, as pessoas com deficiência foram percebidas como pessoas somente na história bem recente, ao fim do século XX e início do século XXI. Todavia, ainda são pouco escutadas e contempladas de acordo com as suas singularidades, sendo muitas vezes encaixadas em códigos que só visualizam a doença, beirando a negação da existência de uma pessoa única e pluralizada em sua subjetividade (SAVIANI, 1992). O Quadro 1 apresenta as diferenças entre os conceitos de inclusão, exclusão e segregação. 30 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 4.2 Da exclusão à inclusão no brasil No Brasil, conforme Saviani (1992) a situação da educação ainda apresenta como agravante o reflexo da carência das políticas públicas. Em outras palavras, a educação das classes mais baixas era inexistente ou precária, pois as minorias eram usadas como mão de obra em zonas rurais ou fábricas. Dessa forma, as pessoas com deficiência que não tinham grande dificuldade de locomoção eram condicionadas ao trabalho desde muito cedo, deixando passar despercebidas muitas das suas necessidades educacionais especiais. A pessoa com deficiência passou (e ainda passa) por estigmas relacionados à sua aparência ou apresentação, à sua maneira de se comportar e de pensar ou reproduzir o seu pensamento por meio da comunicação. Pensando no sujeito em integração com o meio, a pessoa com deficiência sofre de maneira mais significativa as carências do contexto no qual está inserida. Ela é atingida de forma que impede ou limita o seu desenvolvimento, conforme as vulnerabilidades às quais está exposta, sejam elas econômicas (com situações de pobreza e miséria), culturais (acesso restrito à educação), sociais (pelas violências), entre outras. As condutas excludentes infelizmente são reflexo de uma formação carente de humanidade da nossa sociedade e das políticas públicas. Ainda pouco tolerantes com as diferenças e diversidades, as instituições de ensino equilibram-se entre o manejo 31 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL com o público de pessoas com deficiência e das sem deficiências. Embora essa realidade esteja aos poucos se transformando, ainda há muitas pessoas com deficiência que se veem excluídas da sociedade. A educação especial de desenvolveu de maneira a considerar as peculiaridades educacionais de cada sujeito e teve seu início por meio de turmas de classe especial. Nessas classes, as pessoas com deficiência conviviam entre si, de acordo com a sua idade e as fases do desenvolvimento, em uma instituição de ensino regular com outras turmas de classes regulares. Essa modalidade educacional ofertava espaço para que as turmas ocupassem um mesmo território, mas sem que houvesse uma integração entre os alunos, impossibilitando o convívio mais efetivo entre as pessoas com e as sem deficiência, salvo em momentos de chegada ou partida — ainda que algumas instituições realizassem até mesmo esses momentos em horários separados (BUENO, 1993). A educação especial pretendia, dessa maneira, proteger a pessoa com deficiência e ainda oportunizar o seu desenvolvimento. Todavia, essa proteção ficava à sombra de uma segregação ou exclusão e, por esses motivos, essa modalidade de educação especial não é mais mantida na atualidade. Outra modalidade da educação especial foi a criação de escolas específicas e exclusivas para as pessoas com deficiência. Hoje essas instituições ainda existem, mas são raras, e visam o pleno desenvolvimento educacional das pessoas com deficiência, possibilitando o convívio com os seus pares e estimulando a socialização. Por contarem com um espaço mais amplo do que somente uma sala, como ocorria nas instituições com classes especiais, as pessoas com deficiência podem ter acesso a uma estrutura com adaptações arquitetônicas e acessibilidade plena, podendo exercer livre circulação, exploração e apropriação dos espaços. Desde os anos 1990, como explica Sassaki (1997), existe um esforço da sociedade para que se possibilite a efetiva inclusão das pessoas com deficiência. A partir desse ideal, construiu-se a ideia da educação inclusiva, na qual pessoas com deficiência convivem na mesma turma de educação regular, mas com ensino adaptado às suas singularidades, mediante a consecução de projetos de desenvolvimento específicos para cada sujeito. Essa acepção favoreceu transformações na mentalidade social, não só com relação às famílias das pessoas com deficiência, como também com todas as pessoas 32 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL com deficiência (SASSAKI, 1997). No entanto, a trajetória inclusiva da prática educativa encontrou alguns percalços. As pessoas com deficiência precisam ser compreendidas em sua individualidade, e algumas necessitam de atenção integral e exclusiva de um agente educador. O agente educador como mediador do processo educacional pode atuar de múltiplas maneiras, podendo facilitar o processo e estimular o desenvolvimento. No entanto, também pode causar prejuízos, como pressupor condutas vitimizadoras e limitantes das pessoas com deficiência ou ainda inibir o convívio entre os pares. Fonte: https://redacaonline.com.br/ A educação inclusiva em instituições regulares de ensino precisa ser acompanhada caso a caso, com todas as considerações singulares e subjetivas implicadas no processo educativo de cada sujeito (PIOVESAN, 2012). A educação inclusiva estimula o olhar sobre a diversidade social, que passa a ser objeto de aceitação e desejo em um novo modelo de inclusão social. Assim, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, deve haver a aceitação da diversidade social como um aspecto do direito à igualdade, sobretudo nas atuais sociedades multiculturais, nas quais a diversidade é a tônica social medular (ASSIS; POZZOLI, 2005). Uma consideração bem importante para a educação da pessoa com deficiência é que ela deve, necessariamente, ser agente condutor de sua autonomia, e não mero recebedor passivo de prestações alheias (FIGUEIRA, 2008). 33 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Em resumo, a pessoa com deficiência deve ser protagonista e condutor de seu processo de inclusão. Assis e Pozzoli (2005) inserem que a educação deve preferencialmente ser vista como um todo, entre as pessoas com deficiência e as pessoas sem deficiência. Ela necessita de uma integração verdadeira desde a sua base, na educação infantil, estimulando as virtudes, a tolerância, a empatia e o apoio mútuo, assim como promovendo e desenvolvendo a coletividade e a equidade. Conforme Lorentz (2006), a mera tolerância da pessoa com deficiência não proporciona a dignidade humana. A verdadeira inclusão é proveniente do tratamento de respeito pleno, da admiração e do sentimento de amor entre as pessoas, com base na igualdade e na aceitação plena. 4.3 Nomenclaturas utilizadas para as pessoas com deficiência A inclusão social se refere a um processo no qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais as diferenças e diversidades apresentadas pelos sujeitos, entre os quais estão as pessoas com deficiência, ao mesmo tempo em que estes se preparampara assumir os seus papéis sociais. Para Sassaki (1997), a inclusão social se configura a partir de uma cooperação entre pessoa com deficiência e sociedade, com o objetivo de buscar soluções viáveis para problemas mútuos e estabelecer equidade de oportunidades e relações. Assim, para se estabelecer meios em que sejam oportunizadas trocas íntegras e equânimes entre os membros da sociedade, faz-se necessária a problematização de estigmas e do engessamento de ideias que limitem a compreensão do outro em sua singularidade. Nesse sentido, o modo como as pessoas são vistas e nomeadas reflete a sua integridade, o respeito, a atuação e apropriação de uma efetiva inclusão social. As terminologias designadas para nomear as pessoas com deficiência acompanharam o desenvolvimento de sua compreensão e respeito ao longo da trajetória histórica da sociedade. Assim, esses indivíduos já foram apontados como aleijados, retardados, mongoloides excepcionais, entre outros. Excepcional, por exemplo, foi o termo utilizado nas décadas de 1950, 1960 e 1970 para se referir às pessoas com deficiência — especificamente a deficiência intelectual. No entanto, com o desenvolvimento de estudos e práticas educacionais referentes às altas habilidades, 34 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL nas décadas de 1980 e 1990, esse termo passou a se referir a pessoas com inteligência lógico-matemática abaixo da média, ou excepcionais negativos, assim como a pessoas com inteligências múltiplas acima da média, ou excepcionais positivos (SASSAKI, 2003). Por fazer inferências pejorativas e discriminatórias, tais termos são raramente usados e não são recomendados. “Deficiente” é outro termo pejorativo reconhecidamente associado à incapacidade e ineficiência, que não deve ser utilizado. Já o termo “pessoa com necessidades especiais” engloba um conceito muito amplo, pois compreende idosos, gestantes, obesos e outras pessoas que possam ter dificuldade para realizar alguma atividade. Por contemplar um grupo muito vasto, considerando que todas as pessoas possuem alguma necessidade especial em algum nível, não é recomendado para se referir especificamente às pessoas com deficiência (SASSAKI, 2003). Outra terminologia bastante utilizada entre 1986 e 1996, como refere Sassaki (2003), foi a expressão “portador de deficiência”. Todavia, não é adequado o uso desse termo, já que a deficiência não é algo que possa ser portado, pois portar algo implica a possibilidade de não portar, se assim se desejar, como uma bolsa ou outro objeto. O termo mais adequado é, portanto, “pessoa com deficiência”. Sassaki (2003) orienta que, ao proferir o termo “pessoa com deficiência”, a pessoa se posiciona antes da deficiência. Essa simples inferência destaca que o sujeito, com as suas características singulares, é mais importante do que a deficiência. Assim, é correto afirmar que existem pessoas com deficiência auditiva, pessoas com deficiência visual, pessoas com deficiência física, pessoas com deficiência intelectual. É importante destacar que, para haver inclusão, as pessoas e a sociedade como um todo — e o reflexo de seu espírito coletivo — devem preferencialmente se propor à mudança, a ponto de compreender que, para aceitar as diferenças e oportunizar a expansão da diversidade, faz-se imprescindível estar atento às formas de comunicação. Dessa forma, elas se colocam a favor de construções e trocas permanentemente mútuas. Por meio dessa relação plena entre as pessoas — as suas diferenças e diversidades, os seus modos de ser e existir singulares — e a sociedade, a criação de oportunidades torna-se a base para se estabelecer o equilíbrio social. É por meio dela que se asseguram os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa enquanto sujeito individual e coletivo, como está previsto na Constituição. 35 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 4.4 A prática inclusiva e educação aberta à diversidade Diversidade e inclusão são termos frequentemente utilizados no discurso daqueles que se empenham em desenvolver uma proposta de ensino que acolha todos os estudantes. Educar para a diversidade representa inserir alunos, professores e familiares no mundo das diferenças. Para isso, é necessário: compreender a diversidade como uma característica da existência humana; refletir sobre modelos e agrupamentos ideias de alunos; abandonar antigos padrões que julgavam os alunos como aptos ou não a frequentar a escola regular; desfazer ideias padronizadas; identificar representações do outro para então desconstruir os “pré- conceitos”; conceber a prática pedagógica como um processo de trocas e interações recíprocas; compreender que o aluno da educação inclusiva não representa uma identidade única e determinada por modelos e padrões preestabelecidos; oportunizar diferentes espaços de aprendizagem e temáticas adequadas aos diferentes estilos de aprender (um desafio para a gestão da escola inclusiva). Todos esses aspectos reafirmam a educação como um direito natural e indispensável. Esse fundamento critica a “normalização” e impulsiona o desencadeamento de ideias e atitudes em prol do direito às diferenças. Essas transformações podem ser representadas pelas políticas educacionais inclusivas, e consequentemente, pela proposta de educação inclusiva. Seguindo esse pensamento, Mantoan e Pietro (2006, p. 40) comentam sobre um dos objetivos da educação inclusiva: [...] é tornar reconhecida e valorizada a diversidade como condição humana favorecedora de aprendizagem. Nesse caso, as limitações dos sujeitos devem ser consideradas apenas como uma informação sobre eles, que, assim, não pode ser desprezada na elaboração dos planejamentos de ensino. 36 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL A ênfase deve recair sobre a identificação de suas possibilidades, culminando com a construção de alternativas para garantir condições favoráveis a sua autonomia escolar e social, enfim, para que se tornem cidadãos de iguais direito. Uma educação aberta à diversidade identifica as necessidades dos alunos e as considera na hora de planejar a ação pedagógica. Essa ação deverá contemplar alternativas que possibilitem que o aluno com deficiência acesse o currículo, respeitando as suas condições de aprendizagem. Para isso, a realização de uma avaliação pedagógica é fundamental. Nessa avaliação, será possível identificar as barreiras que impedem ou dificultam o processo de aprendizagem, bem como as potencialidades a serem investidas. Além disso, é importante que se reflita sobre as condições e a estrutura do ambiente escolar para atender esses alunos e desenvolver as atividades pedagógicas. As informações relativas às necessidades especiais do aluno são tão importantes quanto a formação do professor para desenvolver e utilizar as tecnologias assistivas no espaço escolar. Vale lembrar que é o professor que observa as barreiras que o aluno com deficiência enfrenta no acesso e na participação nas atividades escolares. Também é ele que vai ensinar o aluno a utilizar os recursos de tecnologia assistida, como tecnologias da informação e da comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade (BRASIL, 2009b). A Tecnologia Assistiva (TA) pode ser utilizada para auxiliar a escrita (engrossadores de lápis, fixadores de mão, pulseira com peso, computadores), a leitura (livro em relevo, material ampliado, vocalizadores, mouse e acionadores, teclado com colmeias, linha Braille, plano inclinado), a comunicação (prancha de comunicação, sintetizadores de voz), a locomoção (cadeira de rodas, andadores), promoção de maior independência e autonomia nas atividades da vida diária (adaptação para talheres, utensílios pessoais). Além disso,essas tecnologias podem ser utilizadas em brincadeiras de carrinho, de boneca, de faz de conta, entre tantas outras atividades. De acordo com Bersch e Machado (2012), a TA é toda a gama de recursos e serviços que visam a proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência, promovendo independência e inclusão. Selecionar a tecnologia assistiva 37 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL que atende à demanda do aluno pressupõe que o professor do ensino comum ou do atendimento educacional especializado (AEE) conheça o potencial motor desse aluno, de forma a definir a competência operacional que a TA poderá promover. A promoção do uso de TA no ambiente escolar envolve tanto a organização da escola para investir nessas tecnologias como o interesse do professor em buscar essas soluções para as necessidades que ele observa no seu aluno. Alguns recursos de TA têm baixo custo e outros podem ser produzidos pelo professor com material de sucata. A escola que considera a perspectiva inclusiva reconstrói as suas práticas nos desafios diários, na flexibilização do currículo, na implementação de recursos tecnológicos, na organização do ambiente e mobiliário, na adequação da iluminação e nos pequenos ajustes realizados pelo professor no planejamento pedagógico. Todas essas mudanças ampliam a participação dos alunos no processo de aprender e tornam o ambiente escolar acolhedor e acessível a todos. Ropoli et al. (2010, p. 9) complementam essa ideia afirmando que “[...] a escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas [...]”. Quando o aluno tem liberdade para participar ativamente do seu processo de aprendizagem, com as suas habilidades e características, as diferenças não representam exclusão, e sim desafio. Essa perspectiva significa a adoção de práticas da escola inclusiva. Redimensionar o ensino requer dos profissionais o desejo de fazer parte desse novo projeto de escola. Nesse sentido, é necessário que haja estudo, formação e atualização do professor, para que este construa conceitos de ensinar e aprender compatíveis com a inclusão. O desafio de fazer esse projeto acontecer é de todos os que compõem o sistema escolar Fonte: https://www.olimpia24horas.com.br/ https://www.olimpia24horas.com.br/ 38 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 5 DESAFIOS DA PSICOLOGIA SOCIAL NO BRASIL Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/ A psicologia social, como vimos, ganhou espaço de discussão no Brasil principalmente após a década de 1980, propondo um modelo de atuação muito diferente do modelo da psicologia tradicional. Essa diferença se nota tanto no espaço de atuação, que tradicionalmente se reconhece como a clínica, as escolas e as organizações, quanto na perspectiva de atuação, saindo do individual para as relações sociais e propondo, em vez de atendimento apenas às elites, uma intervenção em contextos e realidades sociais distintas (GONÇALVES; PORTUGAL, 2016). Culturalmente, a representação social do psicólogo está vinculada a um profissional liberal e autônomo que atua com a psicoterapia individual (DIMENSTEIN, 2000). Além disso, a psicologia foi se legitimando ao longo do tempo associada à patologização da sociedade, sistematizando técnicas para definir padrões de comportamento, com a ideia de adequar as pessoas a um estilo de vida, num processo de normatização social (DIMENSTEIN, 2000; SILVA; CARVALHAES, 2016). 39 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Com isso, outras disciplinas passaram a utilizar o conhecimento científico da psicologia relacionando-a a esse padrão de normalidade. Na educação, por exemplo, a psicologia subsidia a patologização, culpabilizando o aluno no processo de aprendizagem. Com relação ao trabalho, a psicologia avalia e identifica os mais aptos para a função. No poder judiciário, identifica transtornos e delinquências que auxiliem numa definição judicial. Assim, a psicologia acaba auxiliando na categorização dos indivíduos como normais — aqueles que estão dentro de um padrão de comportamento — e anormais — os desviantes, inaptos, perversos —, justificando tratamentos e internações (AMENDOLA, 2014; SILVA; CARVALHAES, 2016). Esse reconhecimento da psicologia está em prol de uma ideologia dominante em atender a demandas sociais por meio de atividades avaliativas e com práticas de adaptação, controle e disciplina (DIMENSTEIN, 2000; SILVA; CARVALHAES, 2016). A formação do psicólogo brasileiro pretende ser apolítica, neutra e acrítica, propondo o ensino de práticas padronizadas desvinculadas da realidade social. A base do ensino valoriza um modelo tradicional, clínico e de psicoterapia individual, auxiliando na determinação de uma representação social do psicólogo limitada a esse perfil. Isso, porém, é um “entrave para o exercício de atividades em novas áreas que envolvem atividades para as quais o psicólogo não foi preparado” (DIMENSTEIN, 2000, p. 104). A valorização demasiada da atuação clínica implica a invisibilidade de outros campos de atuação, não preparando os profissionais para outros contextos, além de propor uma simples transposição do modelo clínico para as demais áreas mais abrangentes do que a relação dual e privativa do atendimento clínico (AMENDOLA, 2014; DIMENSTEIN, 2000; GONÇALVES; PORTUGAL, 2016). Identifica-se, por vezes, um desconforto do profissional de psicologia na atuação junto a comunidades, pois muitos deles não se apropriam das problemáticas sociais e das nuances desse campo de atuação durante a formação (GONÇALVES; PORTUGAL, 2016). Discute-se a necessidade de mudanças paradigmáticas na formação em psicologia, que permitam que o estudante compreenda seu papel na realidade social e na superação das problemáticas sociais. Essa perspectiva muito se diferencia do viés de neutralidade com ênfase na atuação clínica individual. A psicologia social visa a estabelecer relações horizontais com a população atendida e a compreender as dinâmicas sociais considerando os aspectos históricos, sociais, políticos e ideológicos que determinam a prática da psicologia (FREITAS, 40 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 2015). Desde os primeiros registros de atuação da psicologia social no Brasil, por volta de 1970, sua proposta era se aproximar de contextos menos elitizados e ofertar atendimento psicológico à população menos favorecida financeiramente. A abordagem, porém, estava pautada em replicar a forma tradicional da psicologia, com atendimentos individualizados na perspectiva clínica terapêutica e na adequação da população aos padrões considerados normais. Não havia um comprometimento profissional em buscar formas mais adequadas à realidade social (FREITAS, 2016). Hoje, o que se pergunta é se esse modelo hegemônico de atendimento psicológico às camadas populares é a melhor maneira de atender às demandas dessa população. A prática psicológica ofertada não parece estar alinhada com essas demandas. Também a visão de mundo, a cultura e a forma de lidar com a subjetivação não está alinhada entre os psicólogos e a comunidade atendida (YAMAMOTO, 2007). Não se trata, porém, de uma crítica à psicoterapia e ao atendimento individual, mas de questionar sua eficácia quando transpostos à realidade da sociedade. O trabalho no campo social deve ser reinventado e questionado, refletindo-se sobre os conceitos teóricos e a prática psicológica para construir uma psicologia crítica e comprometida com as demandas da população. Além disso, a postura do psicólogo social precisa ser observada, de modo que ele compreenda que não detém o conhecimento sobre a vida das pessoas, mas que considere a participação ativa dos indivíduos como agentes transformadores de suas vidas. Isso significa que não deve apenas identificar inadequações na forma
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