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1 - SISTEMAS E PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS

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1. SISTEMAS PROCESSUAIS
1.1 SISTEMA INQUISITÓRIO
· Presume-se a culpa do acusado.
· Concentração dos poderes na mão do juiz.
· Não há garantia de contraditório e ampla defesa.
· Não há isonomia processual.
· O juiz tem iniciativa probatória.
· Investigado é mero objeto de prova (busca da verdade real)
· Não há necessidade de publicidade.
1.2 SISTEMA ACUSATÓRIO
· Presume-se a inocência do acusado.
· Divisão dos poderes. 
· Contraditório e ampla defesa.
· Isonomia processual (paridade de armas).
· Juiz inerte (gestão das provas por iniciativa das partes). [footnoteRef:1] [1: Nos termos do art. 156, II, do CPP, não ofende o sistema acusatório a produção de prova supletiva pelo julgador, ao fim da instrução processual, quando necessária aos esclarecimentos de fatos e à busca da verdade real, e desde que observado o contraditório a outra parte.] 
· O investigado é sujeito de direitos (verdade processual).
· Publicidade dos atos (O segredo de justiça é exceção, admitido por decisão fundamentada, nos casos previstos em lei).
1.3 SISTEMA MISTO OU FRANCÊS
· Há uma mistura entre as características dos dois primeiros modelos numa proporção que varia de acordo com o ordenamento.
· PRIMEIRA: segue as características do sistema inquisitório.
· SEGUNDA: segue as características do sistema acusatório.
2. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS
2.1 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (NÃO CULPABILIDADE)
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória – CF/88 art. 5º, LVII.
2.1.1 DIMENSÕES DE ATUAÇÃO
DIMENSÃO INTERNA AO PROCESSO – Ônus da prova para quem acusa, in dubio pro reo e resposta em liberdade
DIMENSÃO EXTERNA AO PROCESSO – proteção da imagem
2.1.2 LIMITE TEMPORAL DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
NÃO é possível a execução provisória da pena. O réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena.
2.1.3 EXECUÇÃO PROVISÓRIA E CONDENAÇÃO NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DO JÚRI
Execução provisória VS reconhecimento de falta grave.
2.2 PRINCÍPIO DO “NEMO TENETUR SE DETEGERE”
Vedação da auto-incriminação.
CF/88, art. 5º, LXIII: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”
2.2.1 TITULAR DO DIREITO
Não é apenas o preso, mas de todo SUSPEITO, INVESTIGADO, OU ACUSADO, ainda que em liberdade.
2.2.2 ADVERTÊNCIA QUANTO AO DIREITO
Obrigatoriedade de informação do direito ao silêncio por parte do ESTADO. (Aviso de Miranda)
2.3 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
Trata-se do direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso do processo, podendo manifestar-se e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão jurisdicional.
· É mais amplo que o princípio da ampla defesa, pois abrange também a acusação. A defesa e a acusação devem ter ciência e oportunidade de contrariar os atos praticados por cada uma. 
· Os elementos do contraditório compreendem o direito à informação e o direito de participação. 
· É necessário um contraditório efetivo e equilibrado, ou seja, não basta a possibilidade de reação, ela precisa ser equilibrada e concreta.
2.3.1 CONTRADITÓRIO DIFERIDO OU POSTERGADO
O contraditório será exercido após a formação da prova. (inaudita altera parte)
Exemplos de contraditório diferido: 
· Decretação da prisão preventiva nos casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida; 
· No procedimento do sequestro de bens; 
· Na interceptação das comunicações telefônicas.
2.4 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA
CF, art. 5º, LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”
2.4.1 DEFESA TÉCNICA E AUTODEFESA
CF, art. 5º, LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”
2.4.1.1.1 DEFESA TÉCNICA (PROCESSUAL OU ESPECÍFICA) - CPP, art. 261: “Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
· É obrigatória e irrenunciável.
· A ausência de defesa técnica enseja a nulidade absoluta do processo.
· É direito do acusado escolher seu advogado.
2.4.1.1.2 AUTODEFESA (MATERIAL OU GENÉRICA)
É a defesa exercida pelo próprio acusado.
O acusado pode optar pelo não exercício dessa defesa.
Desdobra-se em:
· DIREITO DE AUDIÊNCIA: direito de ser ouvido pela autoridade judiciária.
· DIREITO DE PRESENÇA: direito de acompanhar os atos da instrução probatória acompanhado do seu advogado. (pode ser exercido remotamente) Exceção: CPP, art. 217: “Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor.”
· CAPACIDADE POSTULATÓRIA AUTÔNOMA: existem alguns atos postulatórios que podem ser praticados pelo acusado, especialmente para tutelar a liberdade de locomoção: 
✓ incidentes da execução penal; 
✓ impetrar habeas corpus;
✓ revisão criminal; 
✓ interposição de recursos contra decisão de 1ª instância.
2.4.2 GARANTIAS DA AMPLA DEFESA
· DIREITO À INFORMAÇÃO (NEMO INAUDITUS DAMNARI POTEST)
· BILATERALIDADE DA AUDIÊNCIA (CONTRARIEDADE)
· DIREITO À PROVA LEGALMENTE OBTIDA OU PRODUZIDA (COMPROVAÇÃO DA INCULPABILIDADE)
2.4.3 AMPLA DEFESA NO PROCESSO ADMINISTRATIVO
A ampla defesa deve ser respeitada no processo administrativo. 
No entanto, no que tange a obrigatoriedade de presença de advogado, existem entendimentos conflitantes entre o STJ e o STF, conforme indica a redação das súmulas abaixo:
Súmula 343-STJ: “É obrigatória a assistência de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar, de forma a assegurar a garantia constitucional do contraditório”. 
Súmula vinculante 5-STF: “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a constituição”.
2.4.4 AMPLA DEFESA NA EXECUÇÃO PENAL
A ampla defesa deve ser respeitada na execução penal e, nessa hipótese, não há dúvidas de que a presença de defensor é obrigatória.
2.5 PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL
Direito de saber e responder ao juízo previamente determinado, dividido em duas regras:
Proibição de juízo ou tribunal de exceção (tribunal ad hoc, ex post facto).
Garantia do juiz competente (CF, art. 5º, LIII).
Do princípio derivam as seguintes regras:
· Somente podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição Federal;
· Há vedação aos tribunais de exceção, ou seja, ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
· Entre os Juízos pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja.
2.5.1 JULGADOS RELEVANTES
Segundo o STJ: “somente se admite que este último princípio – Juiz natural – seja invocado em favor do réu, nunca em seu prejuízo. Sob essa ótica, portanto, ainda que a nulidade seja de ordem absoluta (a incompetência), eventual reapreciação da matéria não poderá de modo algum ser prejudicial ao paciente, isto é, à sua liberdade” (HC 105.384/SP, DJ 03.11.2009).
Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
Não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento de apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados, autorizado no âmbito da Justiça Federal pela Lei 9.788/1999.
Não ofende o princípio do juiz natural a convocação de juízes de primeiro grau para, nos casos de afastamento eventual do desembargador titular, compor o órgão julgador do respectivo Tribunal, desde que observadas as diretrizes legais federais ou estaduais,conforme o caso.
Não ofende o princípio do juiz natural a Lei Complementar 646/1990, do Estado de São Paulo, que disciplinou a convocação de juízes de primeiro grau para substituição de desembargadores do TJ/SP. Da mesma forma, não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento de apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados na forma de edital publicado na imprensa oficial.
A especialização de varas para julgamento de crimes é possível, sendo que é considerada matéria relacionada à auto-organização dos tribunais, de modo que pode ser feita por portarias e resoluções
Não ofende o princípio do juiz natural a designação de magistrados em regime de mutirão (penal, cível ou carcerário), no interesse objetivo da jurisdição, para atuar em feitos genericamente atribuídos e no objetivo da mais célere prestação jurisdicional.
2.6 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (DUE PROCESSO OF LAW)
Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem que haja um processo prévio, no qual assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
2.7 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Representa o dever que assiste ao Estado de atribuir transparência a seus atos, reforçando, com isso, as garantias da independência, imparcialidade e responsabilidade do juiz. Além disso, consagra-se como uma garantia para o acusado, que, em público, estará menos suscetível a eventuais pressões, violências ou arbitrariedades.
2.7.1 DIVISÃO DA PUBLICIDADE
· PUBLICIDADE AMPLA (plena, absoluta, popular ou geral)
É a regra. 
O acesso aos autos é assegurado às partes, aos representantes e à sociedade.
· PUBLICIDADE RESTRITA (segredo de justiça)
É exceção. 
A publicidade pode sofrer restrições em situações em que o interesse público à informação deva ceder em virtude de outro interesse de caráter preponderante no caso concreto.
2.8 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE UTILIZAÇÃO DE PROVAS ILÍCITAS
Provas obtidas por meios ilícitos, como tal consideradas aquelas que afrontam direta ou indiretamente garantias tuteladas pela Constituição Federal, não poderão, em regra, ser utilizadas no processo criminal como fator de convicção do juiz. Constituem uma limitação de natureza constitucional (art. 5.º, LVI) ao sistema do livre convencimento estabelecido no art. 155 do CPP, segundo o qual o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial.

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