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São doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania, que são transmitidos pela picada de flebotomíneos do gênero Phlebotomus ou Lutzomyia. Leishmânias infectam células do sistema fagocitário mononuclear e causam lesões na pele e em mucosas (leishmaniose tegumentar) ou em órgãos internos (leishmaniose visceral) As duas formas de leishmaniose (tegumentar e visceral) estão presentes em todos os continentes, exceto na Oceania. Estima-se que no mundo haja de 12 a 15 milhões de pessoas infectadas e que ocorram 1,5 a 2 milhões de novos casos a cada ano. Cerca de 90% dos casos de leishmaniose tegumentar ocorrem na Bolívia, no Brasil e no Peru. Aproximadamente 90% dos pacientes com leishmaniose visceral vivem em Bangladesh, Brasil, Etiópia, Índia, Sudão e Sudão do Sul. Entre os 25 países com maior prevalência de leishmaniose, o Brasil é o único com alta prevalência das duas formas da doença, a tegumentar e a visceral. Até a década de 1980, no Brasil as leishmanioses tegumentar e visceral eram consideradas enfermidades rurais. Nos últimos anos, a doença adquiriu também caráter urbano, sendo encontrada em cidades de médio e grande portes de quase todos os estados brasileiros. Nas formas graves, a letalidade da leishmaniose visceral no Brasil é em torno de 6%, mesmo com tratamento específico. É uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. Tem amplo espectro de apresentações clínicas, predominando lesões ulceradas ou nodulares na pele e em mucosas. A enfermidade é causada por diferentes espécies de Leishmania transmitidas por flebotomíneos dos gêneros Lutzomiya (Américas) ou Phlebotomus (Velho Mundo) • ETIOLOGIA • America: L. braziliensis, L. mexicana e L. amazonensis, • Europa, Ásia e África: L. tropica, L. major e L. aethiopica. • Brasil: L. braziliensis, com distribuição em todo o país, L. amazonensis, presente em áreas de florestas primárias e secundárias de todas as regiões do país, e L. guyanensis, restrita à região Norte. Na maioria dos casos, parece que a leishmaniose tegumentar é zoonótica. Apenas a L. tropica, uma espécie de habitat urbano, existente em uma região que se estende da Índia à Grécia, tem claro comportamento antroponótico. • EPIDEMIOLOGIA A doença é endêmica no continente americano (do sul dos EUA ao norte da Argentina, com exceção do Chile, Uruguai e a maior parte das ilhas do Caribe) e no Velho Mundo (região mediterrânea e outras partes da Ásia e da África), com surtos epidêmicos esporádicos. No Brasil, na década de 2010, os coeficientes de detecção de leishmaniose tegumentar oscilaram entre 6,16 e 12,14 casos por 100.000 habitantes As regiões Norte e Centro- Oeste são as que têm a maior incidência. Em 2018, foram registrados 16.432 casos autóctones de LTA no Brasil, 91% deles em pessoas com idade superior a 10 anos e 74% em homens. A expansão está relacionada com intervenções do homem no meio ambiente pela necessidade de novos espaços habitacionais em função do crescimento urbano e de migrações forçadas por conflitos - aumenta a exposição de hospedeiros intermediários e de humanos ao vetor e por adaptar ciclos de transmissão a ambientes peridomésticos. As manifestações clínicas da LTA têm caráter espectral e dependem da espécie do parasito e da resposta imunitária do hospedeiro. Em indivíduos capazes de montar resposta efetora mediada por linfócitos T, considerado o polo responsivo (reativo, hiperérgico), a doença manifesta-se como leishmaniose cutânea (LC) ou leishmaniose mucocutânea (LMC). No Brasil, a maioria dos casos com estas formas têm infecção pela L. braziliensis. Na região amazônica, a L. guyanensis e a L. amazonensis são responsáveis pela maioria dos casos. Em pacientes incapazes de montar resposta imunitária celular (anergia) do tipo Th1, que induz a síntese de IFN- γ, infecção por L. amazonensis resulta na leishmaniose cutânea difusa (LCD). Infecção inaparente: O reconhecimento da infecção sem manifestação clínica baseia-se em resultados positivos de testes sorológicos e IDRM (intradermorreação de Montenegro) em indivíduos aparentemente sadios, residentes em áreas de transmissão de LTA, com história prévia negativa para LTA e ausência de cicatriz cutânea sugestiva de LC ou de lesão mucosa. • LEISHMANIOSE CUTÂNEA O período de incubação varia de 2 semanas a 6 meses. No local da picada do inseto, forma-se uma pápula que se transforma em nódulo que depois ulcera. A úlcera tende a aumentar de tamanho nas primeiras semanas e torna-se crônica. Em áreas endêmicas, muitos pacientes têm cura espontânea e outros controlam a infecção mesmo antes de desenvolver lesão. Nesses casos, reação de Montenegro positiva indica resposta imunitária mediada por células. O aumento de linfonodos de drenagem da área de inoculação pode ser manifestação precoce da infecção, antes mesmo do desenvolvimento da lesão cutânea. Punção desses linfonodos, seguida de cultura ou de exame direto, pode demonstrar parasitos. Alguns pacientes com linfonodomegalia não desenvolvem lesão cutânea, enquanto outros, mesmo tratados para a doença, formam úlceras. **Há uma forma de apresentação clínica peculiar, a forma bubônica, descrita em indivíduos infectados com L. braziliensis no estado do Ceará, que se caracteriza por grande linfonodomegalia, que pode, ocasionalmente, supurar e drenar material. A apresentação clínica mais característica da LTA é lesão cutânea ulcerada, crateriforme, úmida, indolor, com bordas elevadas, bem definidas, fundo plano, recoberto por crosta que, quando retirada, mostra tecido de granulação. Úlceras com infecção bacteriana secundária podem ser dolorosas e apresentar secreção fétida. Em indivíduos infectados por L. braziliensis, as úlceras em geral são únicas (forma cutânea localizada), grandes e mais frequentes nos membros inferiores. Em geral, as úlceras têm cura espontânea em 6 a 15 meses e associam-se a imunidade protetora. Em infecções por L. guyanensis, as úlceras tendem a ser múltiplas e localizadas acima da linha da cintura, em regiões variadas do corpo. As úlceras tendem a ser pequenas e a curar-se espontaneamente, mas com alta taxa de recidiva. Disseminação linfática (forma linfangítica) é frequente e apresenta-se como lesões múltiplas ao longo do vaso linfático de drenagem da lesão ulcerada inicial, semelhante ao que ocorre na esporotricose, daí ser também referida como forma esporotricoide da leishmaniose cutânea. • Forma disseminada: por L. braziliensis ou L. amazonensis, que se caracteriza por grande número de lesões (de dezenas a mais de 700). Tal forma deve-se, muito provavelmente, à disseminação sanguínea dos parasitos. As lesões apresentam aspecto acneiforme, com pápulas e pequenas úlceras disseminadas pelo corpo, frequentemente com comprometimento também de mucosas. Os pacientes têm títulos mais altos de anticorpos antileishmânia do que aqueles com a forma cutânea típica; alguns mostram teste de hipersensibilidade tardia negativo. A quantidade de parasitos nas lesões é pequena • Formas atípicas podem ser encontradas em áreas endêmicas, em que as lesões têm aspecto exofítico e bordas mal definidas, sangram com frequência e não respondem bem ao tratamento convencional, a despeito de a resposta imunitária e os aspectos histopatológicos não diferirem daqueles dos casos clássicos. Em gestantes, lesões verrucosas ou vegetantes com abundante tecido de granulação têm sido descritas. Nesses quadros atípicos, parece que variantes do parasito ou do vetor estejam implicados nas manifestações clínicas. • Leishmaniose recidiva cútis: em torno ou no interior de cicatrizes de lesões de leishmaniose aparentemente curadas, podem surgir tubérculos ou pápulas que confluem e formam lesões anulares contendo poucos ou muitos parasitos,.descrita na infecção tanto por L. braziliensis quanto por L. amazonensis, tem curso protraído e baixa resposta ao tratamento. Na LC causada pela L. tropica, forma-se em geral uma lesão “úmida” em áreas expostas, com pápulas e úlceras pequenas que se curam em 6 a 15 meses, conferindo imunidade duradoura. Em infecções com L. major, as lesões são “úmidas” e representadas por úlceras maiores (botão do oriente), que mais raramente formam lesões nodulares, verrucosas ou vegetantes e se curam em 2 a 6 meses, deixando cicatrizes fibrosas. Há relatos de formas esporotricoides (linfangíticas) e disseminadas. O caráter benigno das lesões e o fato de a cura conferir imunidade duradoura levam pessoas dessas regiões a produzirem, intencionalmente, infecção em áreas não expostas do corpo para adquirir imunidade contra lesões em partes visíveis. O processo é conhecido com leishmanização. • LEISHMANIOSE MUCOCUTÂNEA Esta forma grave e desfigurante de leishmaniose tegumentar, também conhecida como “espúndia”, “nariz de tapir” ou “nariz de anta”, ocorre em até 4% dos indivíduos com lesão cutânea infectados com L. braziliensis em áreas endêmicas (alguns pacientes são infectados por L. amazonensis). No Oriente (Velho Mundo), a forma mucocutânea resulta de infecção por L. major. Em até 30% dos casos, a lesão mucosa aparece algumas semanas ou meses após a lesão cutânea, enquanto esta ainda se encontra ativa, embora possa surgir muitos anos após cicatrização da úlcera na pele. A possibilidade de inoculação direta de parasitos em mucosas pode ser considerada, mas o mais provável é que o agente se dissemine a partir de infecção cutânea assintomática. A manifestação mais comum é obstrução nasal. O componente mais atingido é a mucosa do nariz, que pode apresentar desde eritema, pequenas lesões vegetantes, placas granulomatosas ou pontos esbranquiçados até erosão, ulceração e perfuração. Destruição do septo nasal causa desabamento do nariz para a frente e para baixo. O processo pode atingir a pele e causar lesões infiltrativas, hiperêmicas e edemaciadas, ou úlceras extensamente destrutivas. A evolução da lesão é imprevisível: alguns pacientes apresentam cura espontânea, enquanto outros desenvolvem lesões progressivas. Além do nariz, as lesões podem atingir os palatos mole e duro, a úvula, a faringe, as bochechas, o lábio superior, a laringe, os brônquios e o esôfago. Comprometimento da laringe pode causar disfonia, disfagia e mesmo morte por obstrução respiratória alta. • LEISHMANIOSE CUTÂNEA DIFUSA É rara e ocorre em pacientes com resposta imunitária celular efetora deficiente contra antígenos de leishmânia. Nas Américas, é causada por L. amazonensis e L. mexicana e ocorre sobretudo no norte do Brasil, na República Dominicana e na Venezuela. A doença tem características clínicas e laboratoriais peculiares como: • nódulos e placas disseminados pelo corpo, não ulcerados, semelhantes aos da hanseníase virchowiana; • ausência de comprometimento visceral; • reação cutânea de hipersensibilidade tardia a antígenos de leishmânia (reação de Montenegro) negativa; • falha na resposta à quimioterapia; • quadro histológico com muitos macrófagos vacuolados, abarrotados de parasitos, escassez de linfócitos e ausência de granulomas. As lesões iniciais são semelhantes às da forma cutânea localizada, mas não ulceram e, em geral, começam na infância. As lesões plenamente desenvolvidas são eritematosas e mostram pápulas, nódulos, tubérculos, placas infiltradas ou infiltrações difusas no corpo; surgem na face, predominando em orelhas, regiões malares e nariz, mas podem aparecer também nos membros inferiores e no tronco, com tendência a distribuição simétrica. As lesões ulceram por causa de traumatismos, mas não espontaneamente. Algumas lesões regridem espontaneamente, deixando cicatrizes. Tentativas de tratamento com IFN-γ resultaram em resposta favorável transitória, reforçando o papel de imunodeficiência específica dos pacientes. A infecção por leishmânias está intimamente associada ao ciclo evolutivo do parasito. • CICLO BIOLÓGICO O flebótomo adquire o parasito ao sugar a pele de mamíferos, como cão e raposa, ou de roedores silvestres que se comportam como reservatórios. Ao se alimentarem de sangue, as flebotomíneas injetam promastigotas metacíclicos (estágio infeccioso) de sua probóscide. Durante a sucção da pele, os flebótomos regurgitam também saliva, a qual contém substâncias com potente ação vasodilatadora e potencialmente imunossupressora. Uma variedade de substâncias identificadas na saliva de Phlebotomus papatasi e de outros flebotomíneos tem sido responsabilizada por essas ações. Dilatação vascular causada pela saliva do flebótomo aumenta a circulação sanguínea na derme papilar, região da pele na qual os vasos atingem sua posição mais superficial. Isso aumenta o afluxo de hemácias que alimentam os flebótomos e trazem, também, células inflamatórias, como neutrófilos e macrófagos, para o sítio de inoculação dos parasitos Os promastigotas são fagocitados pelos macrófagos e outras células mononucleares fagocíticas. Nessas células, os promastigotas se transformam em amastigotas (estágio tecidual). Os amastigotas se multiplicam por divisão simples e infectam outras células fagocíticas mononucleares. Ao se alimentarem do sangue de um hospedeiro infectado, as flebotomíneas são infectadas pela ingestão de macrófagos infectados por amastigotas. No intestino dos insetos vetores, as formas promastigotas passam por um processo denominado metaciclogênese, que é o processo pelo qual estas formas deixam de se reproduzir e tornam-se infectantes (promastigotas metacíclicas). As formas reprodutivas, não infectantes (procíclicas), prendem-se à parede do tubo digestivo do inseto vetor. Durante a metaciclogênese, as promastigotas sofrem modificações bioquímicas em sua superfície, perdendo assim sua capacidade de adesão ao epitélio do intestino médio do flebótomo. Como resultado, as promastigotas metacíclicas destacam-se, migrando para a faringe e cavidade bucal, de onde elas são transmitidas ao hospedeiro vertebrado, durante o próximo repasto sanguíneo. A sobrevivência do parasito e o curso da infecção dependem da capacidade do parasito de evadir-se das defesas do hospedeiro e de características da resposta inata e adaptativa do hospedeiro. • DEFESAS DO ORGAISMO Após a inoculação, as promastigotas precisam sobreviver aos mecanismos inatos de defesa do hospedeiro. As mudanças bioquímicas ocorridas durante a metaciclogênese conferem às promastigotas uma resistência aumentada à lise pelo complemento. Substâncias presentes na saliva dos flebotomíneos também favorecem a infecção. • Sistema complemento: Moléculas da superfície do parasito, como lipofosfatidilglicano (LPG), ativam o sistema complemento do hospedeiro, representando este o primeiro mecanismo de defesa contra a infecção, por causar lise parasitária. No entanto, parte das formas promastigotas inoculadas pelo flebótomo é resistente à lise pelo complemento. Essa resistência deve-se, em parte, a moléculas alongadas de LPG nas formas metacíclicas do parasito, que são menos eficazes na ativação do complemento. Este é ativado por tais moléculas longe da membrana citoplasmática da leishmânia, evitando a lise dos parasitos; fragmentos do complemento, como o C3b, contudo, ligam-se à leishmânia e funcionam como opsoninas, facilitando o englobamento do parasito por células fagocitárias. Assim, as promastigotas de leishmânia são fagocitadas por macrófagos recém-chegados à área de inoculação e por células de Langerhans da pele, por meio de um processo que envolve a interação de moléculas MAC-1 (CD11b/CD18) na superfície de macrófagos com C3b na superfície da leishmânia. A sobrevivência do Leishmania nos macrófagos estárelacionada à inibição de proteínas quinases C, mediada por LPPG, inibição de citocina IL-12 e utilização da bomba de prótons para mudança no pH do vacúolo parasitóforo, entre outros mecanismos. • Neutrófilos: Atuam de várias formas: fagocitam parasitos, sofrem apoptose e são internalizados por macrófagos. Por isso mesmo, foram considerados “cavalos de Troia”, pois, além de levarem parasitos para o interior de macrófagos, tornam estes mais permissivos à infecção, por induzirem aumento de citocinas anti-inflamatórias, como IL-10 e TGF-β. • Fagocitose: Ao englobarem os parasitos, os fagócitos produzem radicais livres de oxigênio e óxido nítrico, que são normalmente utilizados por células de mamíferos na eliminação de patógenos. No entanto, leishmânias conseguem sobreviver e proliferar no interior do vacúolo fagocitário de macrófagos por meio da produção de tipanotiois, que inibem a síntese de óxido nítrico e a defesa por mecanismos oxidativos. Dependendo do tipo de arginase expressa pelo hospedeiro, o fagócito sintetiza óxido nítrico, que é tóxico para leishmânia, ou L-ornitina, que favorece a sobrevida e a proliferação dos parasitos. Infecções com alta carga parasitária inibem vários sistemas de sinalização de macrófagos, o que resulta em resposta inadequada de citocinas protetoras e inativação de macrófagos frente ao patógeno. Dessa forma, além de escapar dos mecanismos celulares de defesa do hospedeiro, os parasitos no interior de macrófagos encontram-se protegidos da resposta imunitária humoral (anticorpos e complemento). Nessa infecção, a fagocitose, que é importante mecanismo de defesa, é transformada em um mecanismo de proteção para o parasito. • Citocinas: IL-12, IL-17 e IL-23 atuam nas fases iniciais da resposta do hospedeiro. IL-17 e IL-23 são importantes no recrutamento de neutrófilos e na sua ativação, enquanto IL-12 atua favorecendo resposta linfocitária com produção de IFN-γ, resposta imunoinflamatória antiparasitária. Quando esses mecanismos atuam de modo desregulado, surgem lesões teciduais, às vezes desproporcionais à intensidade da infecção. Na maioria dos casos, a produção de IFN-γ por linfócitos ativa macrófagos. Macrófagos ativados produzem TNF, que, em sinergia com IFN-γ, induz a produção de radicais livres de oxigênio e óxido nítrico, que destroem os parasitos. Há evidências de que IL-10, TGF-β (este produzido por macrófagos) e outras citocinas associadas à resposta do tipo Th2 participam na imunidade contra leishmânias e na cura de lesões por modularem a resposta imunoinflamatória. Tem sido enfatizada a participação de linfócitos T reguladores (Treg, CD4+CD25+), que induzem a síntese de IL-10, importante na modulação da resposta imunitária e no controle de lesões na doença.. A partir do local de inoculação, o parasito é levado aos linfonodos regionais, onde seus antígenos são apresentados ao sistema imunitário; a partir deles, pode haver disseminação das leishmânias no organismo. Lesões pelo parasito ocorrem na pele e em mucosas (formas tegumentares da doença: cutânea localizada, mucocutânea e cutânea difusa) ou em órgãos internos, como fígado, baço e medula óssea (forma visceral) A evolução da infecção depende sobretudo da resposta imunitária. O perfil de citocinas produzidas condiciona a sobrevivência, ou não, dos parasitos e o padrão de resposta que resulta no controle da infecção ou no aparecimento de lesões limitadas, recidivantes ou crônicas. • Resposta imunitária: Indivíduos que desenvolvem a forma sintomática da doença (calazar) têm linfócitos com baixa capacidade de produção de IL-2 e IFN-γ quando estimulados com antígenos específicos, mas recuperam essa capacidade quando tratados com sucesso. Nas pessoas que adoecem, a resposta imunitária pende para um nítido padrão Th2, com produção exacerbada de IL-4, IL-3, IL- 5, IL-10 e TGF-β, associada a estimulação de linfócitos B e hiperprodução de anticorpos antileishmânia. Os indivíduos que, apesar de infectados, não desenvolvem doença ou dela se recuperam apresentam resposta celular do tipo Th1, com predomínio da produção de IL- 2 e IFN-α. Nas formas cutânea localizada e mucocutânea, a resposta imunitária é do tipo celular e associa-se à produção exacerbada de IFN-γ e TNF e à reação de hipersensibilidade a antígenos do parasito, fato particularmente marcante na leishmaniose cutaneomucosa. Nessa forma da doença, a destruição tecidual resulta de inflamação associada a reação de hipersensibilidade do tipo IV; esta não garante a eliminação dos parasitos, que, embora pouco numerosos, podem ser demonstrados por cultura ou inoculação de macerado da lesão em animais suscetíveis. Resposta à terapêutica com medicamentos antiparasitários confirma a participação de leishmânias na manutenção das lesões. Apesar de não serem completamente conhecidos os mecanismos responsáveis pela incapacidade de controlar a infecção nesses casos, regulação anômala por IL-10 e TGF-β possivelmente favorece a permanência de parasitos nas lesões. Na leishmaniose cutânea difusa e na leishmaniose visceral, falha na ativação celular por deficiência de IFN-γ resulta em grande suscetibilidade à infecção, ficando os macrófagos abarrotados de amastigotas. Nessas formas da doença, IL-10 e TGF-β contribuem para a perpetuação da infecção por inativarem macrófagos. • Imunidade protetora: Indivíduos que se afastam de área endêmica podem, muitos anos depois e caso tenham alguma forma de imunodeficiência, apresentar outra vez manifestações de leishmaniose, mostrando que parasito e hospedeiro estabelecem uma relação de equilíbrio que pode ser rompido. Distúrbios na produção de citocinas, que podem resultar de fatores do parasito (moléculas relacionadas com a invasão tecidual, evasão do sistema imunitário e indutores de lesão tecidual), do hospedeiro (desnutrição, imunodeficiência, constituição gênica) e do flebótomo (substâncias vasoativas, imunossupressoras e imunogênicas), resultam no desenvolvimento de doença. Pacientes que ainda não têm úlcera podem desenvolvê- la mesmo quando tratados, alguns deles inclusive com teste de hipersensibilidade tardia negativo. Baseia-se em dados clínicos, epidemiológicos e histopatológicos e no encontro do parasito em tecidos por meio de exame citológico de material obtido por punção na borda da úlcera ou de exame microscópico e imuno-histoquímico de amostras colhidas por biópsias. Por causa da baixa sensibilidade dos exames microscópicos convencionais (citológico e histopatológico), o emprego de exames parasitológicos (isolamento em cultura) e testes moleculares baseados na amplificação do DNA nuclear ou do cinetoplasto por PCR assume grande importância. Os testes sorológicos são reação de imunofluorescência e ELISA. Reação de hipersensibilidade tardia induzida por injeção de antígeno bruto ou de frações de antígenos do parasito (teste cutâneo de leishmanina ou reação de Montenegro) constitui importante indicador de infecção, embora possa manter-se positivo mesmo após cura da doença. O diagnóstico definitivo pode ser feito mediante coleta de material por punção aspirativa, raspado ou biópsia incisional da lesão e identificação do parasito ao microscópio (imuno-histoquímica aumenta a sensibilidade desse método) ou por meio de cultura ou de inoculação em animais suscetíveis. A lesões da leishmaniose tegumentar são destrutivas, às vezes progressivas, e manifestam-se com úlceras ou nódulos na pele e nas mucosas nasal e oral, ocasionando danos estéticos e funcionas na face, sobretudo no nariz e na boca. A leishmaniose visceral compromete órgãos internos e manifesta-se por emagrecimento, hepatomegalia, esplenomegalia e disfunção da medula óssea, com anemia, neutropenia e hemorragias. Reservatório L. tegumentar: gama de animais, como marsupiais, roedores e primatasReservatório L. visceral: cães domésticos e de outros canídeos, além de gatos e de alguns marsupiais Tanto na leishmaniose tegumentar quanto na leishmaniose visceral, indivíduos que se recuperam da infecção ganham certa proteção contra reinfecção. BOLOGIA, Jean. Dermatologia . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2015. BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 10ªed. 2021.
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