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Contusão, entorse, luxação e fratura. Contusão A contusão se refere ao impacto de algum objeto contra nosso corpo ou quando nosso corpo se choca contra um anteparo sem lesões estruturais aos ossos, articulações e pele. Apesar de não causar lesões estruturais definitivas, a contusão gera edema (inchaço), vermelhidão ou rouxidão (caso haja algum hematoma na região), limitação de movimentos e dor em graus variáveis a depender da força do trauma. O tratamento, de maneira geral, consiste em crioterapia (gelo), repouso, elevação do membro para evitar o inchaço e medicações analgésicas e anti-inflamatórias. Entorse É uma lesão que ocorre quando se ultrapassa o limite normal de movimento de uma articulação. Normalmente, ocasiona distensão dos ligamentos e da cápsula articular e, consequentemente, dor intensa ao redor da articulação, dificuldade de movimentação em graus variáveis e, às vezes, sangramentos internos. Como é uma lesão de ligamentos articulares, o paciente apresenta dificuldade de mobilizar a articulação acometida. Outros sintomas são edema (inchaço), vermelhidão e rouxidão (caso haja hematoma). Além disso, o paciente também pode sentir um “estalido” no momento do trauma que pode corresponder à lesão do ligamento. A gravidade da entorse depende dos sintomas do paciente e principalmente da lesão ligamentar envolvida. Entorses leves podem ser tratadas com repouso, imobilização, gelo e medicações analgésicas e anti-inflamatórias. Lesões mais graves podem demandar imobilização, fisioterapia e em alguns casos, até mesmo cirurgia. Luxação A luxação se refere à perda da congruência articular entre dois ossos. Em outras palavras, a articulação perde sua anatomia habitual porque um dos ossos se desarticula do outro movendo-se em outra direção. Os principais sintomas são dor, limitação de mobilização, edema (inchaço) e deformidade em razão do desvio ósseo. Por apresentar um desvio importante, muitas vezes é confundida com fratura. Dessa forma, o tratamento da luxação deve ser realizado o quanto antes com auxílio médico. As luxações mais comuns são do ombro, patela e dos dedos das mãos. Fratura A fratura acontece quando o osso se quebra. As causas são variadas assim como a gravidade de cada fratura. Podem ocorrer após simples quedas, acidentes automobilísticos e durante a prática de atividades físicas. A qualidade óssea também influencia bastante nestes casos, sendo a osteoporose um fator de risco. Na suspeita de fratura, o ideal é buscar auxílio médico e imobilizar a área acometida. CONTUSÕES/ ENTORSE E LUXAÇÕES A torção é uma lesão na junção muscular ou musculotendinosa, enquanto uma entorse é uma lesão no ligamento. A contusão muscular ocorre quando um músculo é submetido a uma força compressora intensa e repentina, como uma pancada direta no músculo. Nas distensões, uma força de tensão excessiva aplicada ao músculo leva ao estiramento excessivo das miofibrilas e, consequentemente, a uma ruptura próxima da junção musculotendinosa. As distensões musculares tipicamente afetam músculos superficiais entre 2 articulações, como o reto femoral, o semitendinoso e os músculos gastrocnêmios. A distensão muscular geralmente ocorre em exercícios excêntricos. Nos exercícios excêntricos, o músculo em contração é forçosamente alongado; já nos exercícios concêntricos, o músculo é encurtado. Se por um lado as contrações concêntricas iniciam os movimentos, as excêntricas diminuem a velocidade dos mesmos e os interrompem (por exemplo, ao abaixar um peso). Uma contusão muscular ocorre quando um músculo é submetido a uma força compressora intensa e súbita, como uma pancada direta no músculo. Esse tipo de trauma muscular ocorre tipicamente em esportes de contato, enquanto distensões musculares se correlacionam mais comumente a atividades como corridas de velocidade e saltos. Nas distensões, uma força de tensão excessiva aplicada ao músculo leva ao estiramento excessivo das miofibrilas e, consequentemente, a uma ruptura próxima da junção musculotendinosa. As distensões musculares tipicamente afetam músculos superficiais https://www.veronicachang.com.br/luxacao-do-ombro/ https://pedrogiglio.com/instabilidade-patelar-ou-luxacao-da-patela/ entre 2 articulações, como o reto femoral, o semitendinoso e os músculos gastrocnêmios. Fisiopatologia A fisiopatologia das entorses e distensões musculoesqueléticas difere, dependendo da estrutura anatômica envolvida. Lesões musculares Uma unidade músculo-tendão pode ser lesionada quando é passivamente alongada ou estirada enquanto está ativa. Nos exercícios excêntricos, o músculo em contração é forçosamente alongado; já nos exercícios concêntricos, o músculo é encurtado. Se por um lado as contrações concêntricas iniciam os movimentos, as excêntricas diminuem a velocidade dos mesmos e os interrompem. Uma lesão de distensão frequentemente ocorre devido à contração excêntrica. As forças geradas no músculo ativado excentricamente são maiores que as do músculo ativado concentricamente, aumentando, desta forma, a suscetibilidade à lesão. Classificação de acordo com o mecanismo das lesões Lesão indireta: distensão muscular • Sem contato direto • As lesões ocorrem na junção musculotendinosa • Frequentemente ocorre devido à contração excêntrica. As contrações excêntricas diminuem a velocidade ou interrompem os movimentos (por exemplo, ao abaixar um peso). Indireta: dor muscular de início tardio • Ocorre 24 a 48 horas após exercícios físicos não rotineiros • Resolve-se em até 5 a 7 dias • Exercício excêntrico. Esse tipo de exercício se correlaciona com alongamento forçado do músculo em contração. Lesão direta • Força direta • Pode ocorrer miosite ossificante. Classificação das lesões pelo grau Nomenclatura padrão da classificação da American Medical Association (AMA) para lesões atléticas Lesões musculares • Grau 1: distensão intersticial leve • Grau 2: ruptura muscular parcial moderada • Grau 3: ruptura completa grave. Graus de entorse (entorse de tornozelo como protótipo) Sinal/sintoma Grau 1 • Ruptura de ligamento: ausente • Perda da capacidade funcional: mínima • Dor: mínima • Edema: mínimo • Equimose: frequente • Dificuldade para suportar peso: ausente. Grau 2 • Ruptura de ligamento: parcial • Perda da capacidade funcional: parcial • Dor: moderada • Edema: moderado • Equimose: rara • Dificuldade para suportar peso: frequente. Grau 3 • Ruptura de ligamento: completa • Perda da capacidade funcional: elevada • Dor: severa • Edema: severo • Equimose: sim • Dificuldade para suportar peso: quase sempre. Fatores de risco Tipo de esporte (basquete, patinação no gelo, futebol, esportes de contato) • A incidência de lesão e entorse do tornozelo pode ser maior nos jogos de quadra e esportes coletivos. • A prevalência relatada de lesões no tornozelo é maior no basquete, patinação no gelo e futebol. • Esportes de contato podem aumentar o risco de contusão. Variação anatômica • Variações anatômicas dos pés, como pés chatos ou frouxidão articular generalizada, podem afetar o risco de lesão no tornozelo. • A dorsiflexão limitada do tornozelo em crianças pode aumentar o risco de lesão no tornozelo. Exercício excêntrico • Esse tipo de exercício se correlaciona com alongamento forçado do músculo em contração (por exemplo, ao abaixar um peso). • As forças geradas no músculo ativado excentricamente são maiores que as do músculo ativado concentricamente, aumentando, desta forma, a suscetibilidade à lesão. Arquitetura penada dos músculos e fibras musculares tipo II (contraçãorápida) • Constatou-se que um número maior de músculos penados (músculos com um tendão central para o qual as fibras musculares convergem)apresenta um percentual mais alto de alongamento antes da falha que músculos menos penados. As fibras musculares do tipo II (contração rápida) comumente sofrem mais lesões. Unidades músculo-tendão que abrangem 2 articulações • Músculos como o reto femoral, o semitendinoso e os músculos gastrocnêmios comumente sofrem mais lesões. História pregressa de entorse de tornozelo • Uma história prévia de entorse no tornozelo foi citada como fator de risco comum num estudo prospectivo sobre o basquete recreativo. Diagnóstico O diagnóstico de entorses e distensões musculares é feito com base na história do mecanismo da lesão e no exame clínico. História Ao coletar a história da lesão, o médico deve sondar os seguintes aspectos: • Tempo, circunstância e tipo de trauma experimentado, incluindo sua força e direção. Os exercícios excêntricos apresentam maior probabilidade de causarem lesão na junção musculotendinosa. Esse tipo de exercício se correlaciona com alongamento forçado do músculo em contração (por exemplo, ao se abaixar um peso ou arremessar uma bola). • Início e apresentação de sintomas como dor, inchaço, hematoma, perda de função, calor e sensação de instabilidade. A instabilidade pode indicar entorse significativa. • Sentir um estalo ou estouro no momento da lesão pode indicar ruptura do ligamento ou fratura óssea. • Quaisquer quadros clínicos predisponentes ou agravantes, como epilepsia, anticoagulação ou hemofilia. • Episódios prévios, incluindo manejo e desfecho dos mesmos. Exame físico As características gerais ao exame físico incluem: • Assimetria, deformidade ou atrofia (o médico deve comparar o membro atingido com o não atingido): • Uma distensão com ruptura completa geralmente produz uma fenda pronunciada no contorno normal do músculo, com uma mossa sob a pele no local onde as porções rompidas do músculo se separaram. • Pode haver presença de calor sobre o local da lesão, possivelmente irradiando aos poucos para áreas adjacentes. • Sensibilidade localizada no local do ligamento ou músculo afetado. • Inchaço e hematoma: • A extensão do inchaço e do hematoma depende em parte da gravidade e em parte do tempo decorrido desde a lesão, podendo levar até 24 horas para que a extensão completa do hematoma se manifeste. • A distensão muscular geralmente resulta em hematoma extenso. Nos hematomas intramusculares, o sangramento é contido na bainha do músculo, resultando em dor e inchaço localizado. Nos hematomas extramusculares, o sangramento se infiltra nos espaços intermusculares; a dor é menor que a causada por hematomas intramusculares, sendo o inchaço mais difuso. • Perda da função: • Inicialmente agravada durante os primeiros dias na medida em que o inchaço aumenta. • A amplitude de movimento (ADM), tanto ativa quanto passiva, pode ser afetada. • Pode ocorrer instabilidade nas articulações afetadas. Todas as direções de movimento devem ser verificadas quanto a frouxidão. • A perda completa da função muscular sugere distensão grave com ruptura completa. • Outros diagnósticos como fratura ou neoplasia podem ser descartados na ausência dos seguintes sinais: • Sensibilidade óssea. • Deformidade, inchaço ou assimetria não decorrentes da entorse ou distensão atual. • Deficit neurológico, sensitivo ou motor. Lesão de membro inferior Nas entorses de tornozelo, deve-se avaliar a possibilidade de ruptura do complexo do ligamento lateral se houver: • Dor à palpação no lado anterior do maléolo lateral. • Hematoma visível ou frouxidão ao empurrar o calcanhar à frente. Com relação à ruptura do tendão de Aquiles, comumente encontrada, as seguintes manobras clínicas são indispensáveis: • Palpação para verificação da presença de fenda. • Teste de aperto da panturrilha (teste de Thompson/Simmonds): este é o teste clínico com sensibilidade e especificidade mais altas em relação à ruptura do tendão de Aquiles. O teste é realizado solicitando-se que o paciente se deite em posição prona com os pés fora do colchão de exame. O examinador aperta a panturrilha do paciente distalmente ao ponto mais espesso. Se o tendão de Aquiles estiver intacto, será observada uma flexão plantar do pé. Com o rompimento do tendão de Aquiles, o pé consegue apresentar uma leve flexão plantar (devido ao músculo plantar estar intacto), porém, em grau muito menor que a do pé não lesionado. • Teste de Matles (dorsiflexão passiva do tornozelo aumentada). Para realizar esse teste, solicita-se que o paciente se deite em posição prona com os joelhos flexionados a 90 graus. Na presença de ruptura do tendão de Aquiles, o pé lesionado deve assumir uma posição que apresenta uma flexão dorsal mais acentuada que a do pé não lesionado. Lesão de membro superior Na ruptura do tendão do bíceps (uma apresentação encontrada com frequência): • A integridade é avaliada mediante teste de aperto do bíceps, manobra semelhante ao teste de Thompson, usado para avaliação da ruptura do tendão de Aquiles. • O teste do “gancho” para avaliação de avulsão completa do tendão do bíceps também é altamente sugestivo. Esse teste consiste em supinação ativa do braço pelo paciente com o cotovelo flexionado a 90 graus. O examinador então tenta enganchar seu dedo indicador sob o tendão do bíceps no lado lateral. Isso é possível caso o tendão do bíceps esteja intacto. Entretanto, na presença de avulsão distal do tendão do bíceps, o examinador não deve conseguir sentir a estrutura semelhante a uma corda e, portanto, não será capaz de enganchar o dedo embaixo dela. Raio-X Deve-se requisitar radiografia apenas se houver necessidade de descartar fraturas ou suspeita de fratura exigindo tratamento específico. Regras de Ottawa para o tornozelo Uma série de radiografias do tornozelo é indicada em pacientes com lesão no tornozelo e que também apresente: • Sensibilidade óssea na borda ou extremidade posterior do maléolo lateral ou medial; ou • Incapacidade de dar 4 passos sem apoio imediatamente após a lesão e também ao ser examinado. Regras de Ottawa para o joelho Uma série de radiografias do joelho é indicada em pacientes com uma lesão do joelho substancial e qualquer uma das seguintes características: • Idade ≥55 anos • Sensibilidade isolada na patela (ausência de sensibilidade óssea em outra parte do joelho além da patela) • Sensibilidade na cabeça da fíbula • Incapacidade de flexionar até 90° • Incapacidade de dar 4 passos sem apoio imediatamente após a lesão e no pronto-socorro. RNM A RNM pode ser útil para confirmar o diagnóstico; determinar a extensão da lesão, especialmente visando diferenciar ruptura parcial de ruptura completa; e observar outras lesões relacionadas. Não é usada rotineiramente como um estudo de imagem inicial para trauma agudo no tornozelo. A RNM deve ser requisitada se: • Houver dor contínua • A dor for desproporcional apesar do tratamento • Os sintomas não melhorarem após um tempo razoável • A função piorar apesar do tratamento • Houver suspeita de comprometimento de qualquer outra estrutura relacionada. A ultrassonografia ou a RNM geralmente é necessária para confirmar o diagnóstico de ruptura de tendão. A RNM é o método de escolha, exibindo o músculo intacto com retração do tendão. A RNM é considerada padrão ouro na identificação de lesões agudas dos ligamentos do tornozelo. Ultrassonografia A ultrassonografia pode ser usada para definir a natureza da distensão muscular. Ela não é útil nas entorses ligamentares. A ultrassonografia ou a RNM geralmente é necessária para confirmar o diagnóstico de ruptura de tendão. A confiabilidade do diagnóstico por ultrassonografia depende do observador e exige um profissional experiente. Artroscopia diagnóstica A artroscopiaé útil na avaliação quando há alguma lesão associada que precisa ser avaliada simultaneamente: por exemplo, para descartar lesão osteocondral na entorse do tornozelo. Tratamento Os principais objetivos do tratamento são aliviar a dor, manter a amplitude de movimento (ADM), manter a força, retornar às atividades ou ao nível anterior da lesão e impedir a recorrência da lesão. As etapas gerais do manejo incluem: • Início do tratamento no curto prazo com repouso, gelo, compressão e elevação (RICE). • Tratamento com analgésicos, se a dor necessitar de medidas adicionais. • Um anti-inflamatório não esteroidal (AINE) oral pode ser considerado se o retorno rápido ao trabalho ou esportes competitivos for importante. • Mobilização precoce, geralmente começando após 2 a 3 dias de repouso. • Conselhos sobre o prognóstico. A recuperação da função normal no trabalho e nos esportes depende do local e da gravidade da lesão, bem como dos níveis de atividade (por exemplo, com uma torção grave no tornozelo: o retorno ao trabalho pode levar algumas semanas; a participação ativa e plena nos esportes pode levar vários meses). Os pacientes com entorse ou distensão grave devem ser reavaliados quando o inchaço ceder em sua maior parte (após cerca de 7-10 dias) para verificar se houve ruptura completa e determinar se há necessidade de encaminhamento a outras investigações e tratamento. Técnicas de campo aberto, de campo parcialmente aberto e percutâneas são opções para o tratamento de pacientes com ruptura aguda do tendão de Aq uiles. Não há evidências conclusivas quanto ao uso de enxertos ou adjuvantes biológicos. Abordagem geral a distensões e entorses Pacientes que buscam atendimento durante as primeiras 24 a 48 horas após a lesão apresentando características clínicas sugestivas de ruptura incompleta (grau 1: perda mínima de função, dor e inchaço, sem dificuldades de suportar peso, alguma presença de hematoma; grau 2: alguma perda de função, dor e inchaço moderados, geralmente alguma dificuldade de suportar peso) devem ser tratados com RICE, seguido de mobilização cuidadosa. Analgesia na forma de paracetamol ou AINEs pode ser utilizada como terapia adjunvante conforme necessário. A fisioterapia pode ser iniciada depois de 48 horas. Os pacientes devem ser reavaliados quanto à melhora após 1 semana. Pacientes com piora da dor e sem melhora funcional à reavaliação após 1 semana possivelmente apresentam ruptura de grau 3. Nesse estágio, é indicada avaliação adicional com ultrassonografia e/ou RNM (ressonância nuclear magnética). As rupturas de grau 3 exigem reparo cirúrgico seguido de reabilitação com fisioterapia. As distensões atendidas nas primeiras 24 a 48 horas com ruptura completa confirmada (grau 3) devem ser submetidas a reparo cirúrgico seguido de reabilitação com fisioterapia. As características sugestivas de ruptura de grau 3 incluem hematoma grave; falta de concordância entre o nível de dor e a história da lesão; limitação funcional intensa, como incapacidade de deambular; sensibilidade local intensa e radiografia sem presença de fratura; inchaço e dor significativos. Noventa por cento dos pacientes com ruptura de grau 3 procuram atendimento apresentando essas características. Repouso, gelo, compressão, elevação (RICE) Repouso: • Evita a dor decorrente do movimento. • A área afetada deve ser estabilizada, protegida e mantida em repouso durante 48 horas após a lesão, dependendo da dor. • A imobilização completa (por exemplo, com gesso) não é indicada nas entorses e distensões tratadas nas unidades básicas de saúde. • Recomenda-se o uso de tornozeleira tipo Air- stirrup combinada com faixa elástica para os graus 1 e 2.[38] [39] Mesmo na lesão de grau 3, a colocação de tala funcional é fortemente recomendada em vez de imobilização com gesso. Gelo (ou seja, crioterapia) • Reduz a dor. • A área afetada deve ser imersa em água com gelo durante até 10 minutos ou aplicada bolsa de gelo maleável (por exemplo, um saco de ervilhas congeladas) durante 10 a 30 minutos. A lesão por frio deve ser evitada, devendo-se permitir que a área afetada se aqueça antes de repetir o procedimento, o que pode ser feito na frequência desejada durante 48 horas: por exemplo, repetir o procedimento a cada 2 horas enquanto o paciente está acordado. Compressão • Proporciona alívio ao limitar o movimento, podendo restringir o aparecimento de inchaço. • Deve ser aplicada com cuidado para evitar a restrição do fluxo sanguíneo. Caso os tecidos distais à compressão se tornem azulados ou doloridos, a compressão deve ser afrouxada e reaplicada com uma tensão menor. • Deve ser usada com cautela se houver presença ou suspeita de doença arterial periférica (por exemplo, nos pacientes idosos ou diabéticos). Elevação • Ajuda a controlar o inchaço. • A área lesionada deve ser elevada acima do nível do coração, caso viável. Medicamentos: paracetamol e/ou AINEs O paracetamol tomado regularmente é efetivo no alívio da dor, sendo a primeira opção nas pequenas lesões. Os AINEs também fornecem alívio eficaz da dor, mas o risco de efeitos adversos gastrointestinais associados aos AINEs orais pode ser maior do que com o paracetamol. Os AINEs tópicos têm uma relação benefício-dano mais favorável. Uma revisão Cochrane avaliando o tratamento de lesões agudas de tecidos moles em adultos <65 anos revelou que, em comparação com o paracetamol, os AINEs orais não fazem diferença para a dor em 1-2 horas e 2-3 dias, e podem não fazer diferença no dia 7 ou além. Ao pensar em prescrever um AINE para entorses e distensões musculoesqueléticas, observe que: • Os AINEs podem reduzir o tempo de recuperação das entorses e distensões • Deve-se avaliar a possibilidade de prescrever algum AINE a pacientes que precisam retornar o mais rápido possível à função completa no trabalho ou em competições desportivas. • O ibuprofeno é recomendado como primeira opção de AINE oral; ele apresenta o menor risco de efeitos adversos. • Pode-se prescrever gastroproteção (com inibidor da bomba de prótons ou misoprostol) a pacientes com alto risco de sofrer efeitos adversos no trato gastrointestinal decorrentes do AINE, tais como desconforto no estômago ou hemorragia digestiva alta em pacientes com uma história de úlcera ou sangramento estomacal. Pode-se usar uma combinação de paracetamol com AINEs, sendo, porém, contraindicada a combinação de 2 AINEs. Mobilização precoce A mobilização precoce, conforme a dor permitir, ajuda a prevenir a rigidez e a manter a ADM. O uso de suporte externo com mobilização precoce pode ser benéfico no caso de entorse de tornozelo. Diatermia de ondas curtas Comumente utilizada, apesar de haver poucas evidências respaldando seu uso visando a melhora do inchaço, da dor e da ADM. Cirurgia Pode ser necessária a abordagem cirúrgica nos pacientes que tenham sofrido ruptura completa ou apresentem deficit funcional persistente com ruptura incompleta. No entanto, estudos que compararam a cirurgia de reparo com o tratamento não cirúrgico não relataram nenhuma diferença no desfecho funcional; portanto, o tratamento não cirúrgico tem sido cada vez mais preferido. Em um ensaio clínico randomizado e controlado (ECRC) de pacientes tratados de forma não cirúrgica para ruptura do tendão de Aquiles, o gesso não foi considerado superior à aplicação de carga precoce com uma órtese funcional. Em atletas de alta demanda, ou em casos que não respondem a um tratamento completo e abrangente baseado em exercícios, o reparo cirúrgico pode ser considerado caso a caso após discussão com o paciente. Se necessária, a cirurgia de reparo geralmente é feita em até 1 semana. Os autores não recomendam operar nas primeiras 24 horas apósa lesão devido aos efeitos negativos do edema sobre a recuperação. FRATURAS ABERTAS E FECHADAS Uma fratura é definida como a perda de continuidade do osso. Na maioria das vezes, é causada por um trauma de alta energia sobre um osso previamente hígido, mas também pode ocorrer com traumas de baixa energia em ossos doentes, poróticos, ou mesmo por pequenos traumas repetitivos, como veremos adiante nas chamadas “fraturas por estresse”. A substância óssea, embora possua certo grau de plasticidade, pode não resistir a forças tensionais de angulação, torção, tração ou compressão. São estes os mecanismos físicos das fraturas e podem determinar o tipo de fratura quanto à sua configuração geométrica. Forças de angulação produzem fraturas transversas ou fraturas oblíquas; forças de torção causam as fraturas espirais; forças de tração, por intermédio de um tendão inserido no osso, podem ocasionar as fraturas por avulsão (principais exemplos: patela, maléolos, epicôndilo medial do úmero); e forças compressivas provocam fraturas de compressão (fraturas impactadas). Este último tipo é característico do osso esponjoso, como por exemplo as fraturas compressivas do corpo. Podem ser classificadas ainda: - quanto ao traço: simples, em cunha e complexa; - quanto ao acometimento articular: intra ou extra- articular; - quanto à lesão de partes moles associada: aberta ou fechada. As fraturas simples apresentam traço único com apenas dois fragmentos ósseos; fraturas em cunha apresentam, pelo menos, um terceiro fragmento, porém com contato entre os dois principais; fraturas complexas são aquelas em que não há contato entre os dois fragmentos principais. É importante diferenciar esta última da denominada fratura cominutiva, que, por definição, é uma fratura multifragmentada. Ou seja, se, em uma fratura cominutiva, não houver contato entre os dois principais fragmentos, ela será dita também complexa, porém, caso haja contato, estaremos diante de uma fratura cominutiva em cunha. Fraturas em galho verde são fraturas incompletas (afetam apenas uma cortical) que só acometem o esqueleto imaturo – periósteo é mais espesso. As fraturas também podem ser simples (dois fragmentos fraturários), cominutivas (três ou mais fragmentos) ou segmentares (duas linhas de fratura, separando o fragmento intermediário do fragmento proximal e distal). Podem ser completas (separação total dos fragmentos) ou incompletas (separação parcial). As fraturas completas podem ser não desviadas, quando os fragmentos mantêm o alinhamento, ou desviadas, quando há um desalinhamento desses fragmentos, necessitando redução da fratura. As fraturas desviadas podem ser: anguladas, cavalgadas, rodadas, com desvio lateral, com diástase (aumento da distância entre os fragmentos). As fraturas ainda podem ser fechadas (sem comunicação com o meio externo) ou expostas, também chamadas de abertas (comunicando-se com o meio externo). As fraturas expostas são as fraturas com maior índice de complicação, especialmente a infecção óssea (osteomielite). Quanto à porção do osso acometida, as fraturas podem ser diafisárias, metafisárias, epifisárias e ainda intra-articulares. As fraturas intra-articulares comprometem a cartilagem articular epifisária e merecem maior atenção, exigindo redução perfeita (anatômica), pois consolidam mal (dependem do reparo da cartilagem articular, um tecido não vascularizado) e têm como consequência futura a osteoartrose ou a perda da função articular. A fratura patológica é aquela que ocorre em um osso enfraquecido por uma patologia prévia (ex.: osteoporose, mieloma múltiplo). Estas fraturas podem ocorrer após pequenos traumas, muitas vezes nem lembrados pelo paciente. A fratura por estresse, ou fratura por fadiga, é aquela que ocorre, não por um trauma agudo, mas por pequenos traumas repetidos. Um osso descondicionado, quando submetido a tensões não costumeiras, pode “ceder”, determinando geralmente fraturas incompletas (fissuras), embora dolorosas. São mais comuns em pacientes jovens que, despreparados, participam de intensas atividades esportivas, como longas marchas, corridas etc. Consolidação das Fraturas O osso é um tecido com um enorme potencial de reparo. Após um período de 4-8 meses o osso fraturado se reconstitui sem deixar cicatriz, contanto que fatores essenciais estejam presentes, tais como uma boa vascularização dos fragmentos e a manutenção da estabilidade da fratura (evitar o movimento acentuado entre os fragmentos). A consolidação das fraturas pode ser primária ou secundária. O segundo tipo é o mais comumente observado e será descrito em primeiro lugar. São três as etapas do processo: 1- Fase Precoce (Hematoma Fraturário): No momento em que ocorre a lesão, pequeninos vasos do osso fraturado e de seu envoltório (periósteo) rompem e sangram, provocando a formação de um hematoma entre e ao redor das bordas dos fragmentos fraturários. Este hematoma coagula e serve de estímulo para iniciar o processo de consolidação, sendo invadido por pequenos vasos (angiogênese), trazendo consigo células mesenquimais pluripotentes do tecido conjuntivo, originárias do periósteo ou dos tecidos moles circunjacentes. 2- Fase do Calo Fraturário Mole: Dentro das primeiras duas semanas, começa a se formar um tecido que se interpõe aos fragmentos e circunda suas bordas, dando a forma de um abaulamento no ponto de fratura do osso (calo). Este calo é viscoso e funciona como uma verdadeira “cola” para o osso. Nesta fase, o calo é composto por tecido fibrocartilaginoso, trazendo alguma resistência e estabilidade à fratura, mas ainda não aparecendo na radiografia, pois não é tecido ósseo. 3- Fase do Calo Fraturário Duro (Calo Ósseo): Após as duas primeiras semanas, as células mesenquimais começam a gerar osteoblastos que então começam a produzir tecido ósseo com uma velocidade absurda. Este tecido começa a ser formado num local um pouco distante do traço de fratura, aparecendo na radiografia como uma reação periosteal. Em seguida, começa a preencher todo o foco de fratura, neste momento aparecendo no RX como um verdadeiro calo ósseo, bem visualizado ao se completar seis semanas, mas ainda podemos perceber um tênue traço de fratura. Neste momento, a fratura já está clinicamente estável (consolidação clínica), quando o ortopedista cuidadosamente provoca forças tensionais sem resultar em movimento entre os fragmentos fraturários e nem dor por parte do paciente. Ao longo das próximas semanas ou meses, o calo ósseo vai se tornando cada vez mais consistente, à medida que o tecido ósseo primitivo (osso imaturo) inicialmente depositado é convertido em tecido ósseo maduro (osso lamelar). Este processo se completa após 4-8 meses, sendo mais rápido nas crianças; no RX não se observa mais traço de fratura (consolidação radiológica). Ao longo dos próximos meses, o calo ósseo vai se remodelando, com reabsorção do excesso, até que o osso volte ao seu formato original. A consolidação do tipo primária ocorre quando existe perfeita aposição entre os fragmentos fraturários e estabilidade absoluta por osteossíntese por placa e parafuso (cirurgia estabilizadora de fratura). Neste tipo, o tecido ósseo “novo” é formado diretamente a partir do próprio osso fraturado e do endósteo. Na consolidação secundária (mais comum), antes de formar osso, há formação de tecido fibrocartilaginoso intermediário (como descrito acima) – isso ocorre quando a estabilidade é relativa (fornecida pela maior parte dos tratamentos: gesso, haste intramedular, fios, fixador externo). Apresentação Clínica O paciente geralmente chega com história de trauma, dor e impotência funcional (não consegue utilizar o membro ou a articulação fraturada). As circunstânciasdo trauma devem ser detalhadamente avaliadas na anamnese, pois certos mecanismos de trauma relacionam-se a determinadas fraturas. Ao exame clínico, a dor é exacerbada pela palpação no foco de fratura e pela angulação dos fragmentos fraturários. Nota-se também tumefação local e, por vezes, equimoses e crepitação (sentimento tátil do atrito entre as extremidades ósseas fraturadas). Nas fraturas desviadas, a deformidade pode ser nítida e, no caso da fratura rotacional, o exame físico é melhor que o exame radiográfico para se perceber o desvio. Certas deformidades orientam quanto ao tipo de fratura. Por outro lado, algumas fraturas não desviadas possuem exame clínico inocente, sendo diagnosticadas apenas pelo exame de imagem. O médico nunca deve esquecer de avaliar o pulso periférico e a presença ou ausência de sinais de isquemia distal (dor, palidez, redução da temperatura), pois algumas fraturas desviadas podem lesar gravemente uma artéria circunvizinha, o que traz um caráter emergencial ao caso. Abordagem Inicial A abordagem às fraturas e luxações começa na letra “E” (exposition). De qualquer forma, os cuidados com a fratura já devem começar no transporte ao hospital, quando a equipe de resgate deve providenciar talas de imobilização provisória. Se estivermos diante de uma fratura exposta ou de uma fratura com lesão vascular grave, o paciente deve seguir sem demora para o centro cirúrgico, após um pronto exame radiográfico. No restante dos casos, um exame clínico minucioso está indicado, seguido pelo exame radiológico (com radiografia em, no mínimo, duas incidências perpendiculares entre si, como AP e perfil), para que se possa programar com calma a melhor estratégia terapêutica. Durante o exame de RX, a tala provisória não deve ser retirada e todo cuidado é pouco durante a mobilização do paciente. Tratamento Definitivo Os objetivos principais do tratamento definitivo das fraturas são quatro: (1) alívio da dor; (2) obter e manter uma posição satisfatória dos fragmentos fraturários, ou seja, reduzir a fratura; (3) manter a redução, com imobilização gessada, com órtese ou fixação cirúrgica; e (4) restaurar a função máxima do osso ou articulação envolvidos. Redução da Fratura As fraturas desviadas (ou deslocadas) devem ser a princípio reduzidas! Redução de fraturas é o ato de realinhar os fragmentos fraturários, pois, sem um alinhamento mínimo, isto trará problemas para a consolidação (instabilidade), para a função musculoesquelética e até mesmo estéticos. Algumas fraturas, como as diafisárias, aceitam discreto grau de desvio após a redução; contudo, as fraturas articulares precisam de uma redução perfeita ou quase perfeita, sem a qual graves problemas funcionais e ou estéticos podem sobrevir, como no caso das fraturas do cotovelo. Como reduzir uma fratura? Dependendo das características da fratura, o ortopedista pode indicar uma redução fechada (incruenta) ou uma redução aberta (cruenta ou cirúrgica). A redução fechada, por sua vez, pode ser executada por manipulação (manobras de redução) ou feita por tração contínua. A tração serve para “vencer” de forma progressiva a tensão muscular que dificulta ou impossibilita o realinhamento. Redução Fechada por Manipulação: Este é um método comum do tratamento das fraturas desviadas. A redução fechada é realizada sob anestesia (local, regional ou geral), por um profissional experiente. O profissional faz inicialmente uma tração longitudinal, corrigindo a angulação, seguida de uma manipulação que primeiro acentua a deformidade da fratura para depois “engrenar” os fragmentos fraturários. Durante a redução (especialmente na hora da tração), um auxiliar deve estar presente para segurar a outra extremidade. Após a redução, uma radiografia com duas incidências deve ser obtida, para avaliar o resultado. Caso seja insatisfatório, uma nova redução fechada deve ser tentada ou, dependendo do caso, parte-se para a redução aberta. Exemplos clássicos de fraturas que podem ser tratadas por redução fechada por manipulação: fraturas diafisárias, fratura desviada supracondiliana do úmero em crianças, fratura de Colles (da extremidade distal do rádio) no adulto, fratura das falanges. Redução Fechada por Tração Contínua: Para vencer a contratura muscular, aplica-se uma tração contínua no fragmento fraturário distal, no mesmo eixo do fragmento proximal para que a tensão da musculatura seja aliviada paulatinamente, permitindo o alinhamento da fratura. Em crianças, pode-se utilizar a tração cutânea, por meio de esparadrapo. Em adultos, para vencer a tensão muscular, é preciso utilizar a tração esquelética: um pino de Steinman ou um fio de Kirschner é introduzido através do osso e ligado a um estribo tensor que, por sua vez, é puxado por um mecanismo de peso e roldana. Os pacientes em tração contínua devem ser monitorados radiograficamente para avaliar a posição dos fragmentos fraturários. Em geral, a tração deve permanecer por pelo menos duas semanas. Exemplos clássicos de fraturas que são reduzidas por tração contínua: fraturas diafisárias desviadas do fêmur em crianças (ou em adultos que estão esperando a cirurgia por problemas clínicos a serem compensados), fratura-luxação da coluna cervical. É importante frisar os inconvenientes da tração contínua. O primeiro deles é a necessidade de internação prolongada em posição de decúbito, aumentando o risco de infecções, trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar e úlceras de decúbito, especialmente em idosos. Uma tração excessiva pode causar diástase (afastamento) dos fragmentos fraturários, impedindo a consolidação. Finalmente, existe o risco de infecção no trajeto do pino ou fio transfixante. A infecção pode ser apenas no subcutâneo ou no próprio osso (osteomielite). Pelos inconvenientes da tração contínua, algumas fraturas que antigamente eram tratadas apenas com este método, agora merecem tratamento cirúrgico. Redução Aberta (Cruenta): Fraturas extremamente cominutivas e instáveis, especialmente quando em posição intra-articular, frequentemente exigem redução cirúrgica, pois os resultados da redução fechada costumam ser insuficientes para a recuperação funcional desejada. Estabilização da Fratura Embora algumas fraturas estáveis de ótimo prognóstico possam ser tratadas apenas com observação, ou com uma tipoia ou muletas, a imensa maioria das fraturas necessita de um procedimento de estabilização, para manter os fragmentos alinhados, mesmo aquelas com ausência de desvio. Estas últimas podem sofrer desvio posteriormente. Se os fragmentos vierem a se deslocar, isto prejudicará bastante a consolidação e o resultado funcional do tratamento. Existem três estratégias de estabilizar uma fratura: (1) apenas imobilização por contenção externa (em geral, aparelho gessado); (2) fixação externa cirúrgica; (3) fixação interna (osteossíntese da fratura). Imobilização apenas por Contenção Externa: Neste caso, a imobilização geralmente é providenciada com aparelho gessado (cast), devidamente modelado para estabilizar corretamente a fratura. Exemplos: fraturas diafisárias estáveis umerais, do antebraço (rádio e ulna) de crianças e da perna (tíbia e fíbula). É fundamental o acompanhamento radiográfico, pois um desvio ulterior da fratura pode vir a ocorrer. O tempo mínimo de contenção externa numa fratura não fixada internamente é geralmente de seis semanas, com algumas exceções, como a fratura diafisária de tíbia, que necessita de mais tempo. Fraturas de falanges consolidam em três semanas. O médico deve estar atento para as complicações da imobilização gessada, sendo as principais: isquemia de extremidades pela contenção do edema pelo gesso, úlcera de pressão, pela compressão da pele e subcutâneopelo gesso sobre uma proeminência óssea. Em algumas fraturas, permite- se a contenção externa por órteses plásticas. Neste caso, o paciente deve ser cooperativo, pois a retirada indevida da órtese pode prejudicar a estabilização. Fixação Externa: É um método utilizado para tratar fraturas diafisárias expostas de grau avançado ou intensamente cominutivas da tíbia, e fraturas da extremidade distal do rádio (Colles cominutiva), dentre outras fraturas. Neste método, realizado em centro cirúrgico, três ou mais pinos ou parafusos são fixados no osso, abaixo e acima do foco de fratura e mantidos juntos por barras externas para permitir a fixação firme da fratura. O termo “fixação externa” vem do fato de a maior parte do aparelho fixador localizar-se externamente ao paciente. Fixação Interna: Diversas fraturas somente são bem estabilizadas por fixação interna, ou seja, o aparato fixador encontra-se dentro do paciente. Existem diversos dispositivos disponíveis aos ortopedistas para fixar internamente uma fratura. O ortopedista atual está bem familiarizado com uma grande variedade de dispositivos de osteossíntese: parafusos, canulados ou deslizantes, placas de fixação (que seguram parafusos transfixantes), pinos, fios de Kirschner, cerclagem, bandas de tensão, hastes intramedulares (cilindros metálicos colocados no interior do canal medular de um osso longo para estabilizar fraturas diafisárias), que podem ser simples ou bloqueadas (seguras parafusos em cada extremidade) etc. Os fios de Kirschner são peças muito utilizadas em cirurgia ortopédica; são arames finos e rígidos capazes de transfixar facilmente um osso, mesmo que pequeno, sem provocar lesões. Embora em muitos casos a fixação interna seja realizada em conjunto com a redução aberta, alguns dispositivos podem ser inseridos sem abertura do foco fraturário, executando-se a redução fechada no centro cirúrgico (sob anestesia) e introduzindo-se as peças cirúrgicas usando a radioscopia como guia. Veja os exemplos: haste intramedular: (pode ser simples ou “bloqueada” com parafusos, um em cada ponta, atravessando a haste para fixá-la), parafusos canulados ou para fixar fraturas do colo femoral em adultos jovens, fios de Kirschner transfixando a linha de fratura para tratar fratura do rádio distal (Colles) cominutiva. A osteossíntese pode ser realizada sem abertura do foco, por exemplo, na haste IM: as incisões são realizadas longe do foco de fratura ou redução fechada seguida de fixação com fios percutâneos – cirurgias minimamente invasivas. Substituição por Endoprótese Alguns ossos têm suprimento arterial precário e, portanto, a fratura em si ou a manipulação cirúrgica da fratura podem causar necrose avascular do osso, trazendo graves problemas futuros. O exemplo mais clássico é a cabeça do fêmur. Em pacientes idosos, a estratégia de escolha para tratar a fratura de colo de fêmur é a substituição da epífise femoral por uma endoprótese de quadril, de natureza metálica ou de polietileno . Essas próteses devem durar cerca de 15-20 anos, sem acarretar problemas. Por isso, num adulto jovem, vale mais a pena tratar a fratura do colo femoral sem endoprótese (mesmo correndo o risco da necrose avascular), pois a cirurgia para troca de prótese acabará sendo necessária no futuro, e este segundo procedimento é mais complicado. Outro exemplo do uso da endoprótese é a fratura cominutiva da cabeça do rádio. Existem duas opções: a simples ressecção da cabeça do rádio ou a substituição pela prótese, nos casos de cotovelo instável. FRATURA EXPOSTA Podemos definir fratura exposta como sendo uma solução de continuidade da pele e tecidos moles subjacentes, permitindo a comunicação óssea direta ou de seu hematoma fraturário com o meio ambiente. A comunicação pode vir de fora para dentro (lesão por PAF, arma branca, acidente com máquinas cortantes) ou de dentro para fora (um fragmento de uma fratura cavalgada perfura a pele). Em diversas situações esta comunicação pode estar mascarada. Isto se refere principalmente a fraturas com comunicação com o tubo digestivo, vagina e ânus. Importante lembrarmos que, quando uma fratura ocorre no mesmo segmento do membro de uma ferida, a mesma deverá ser considerada como fratura exposta, até que se prove o contrário (no caso de dúvida se houve contato do osso com o meio externo através de uma ferida deve ser pesquisada a presença de saída de sangue com gotículas de gordura – sangue proveniente da medula óssea gordurosa). Devemos lembrar que o prognóstico da fratura exposta será proporcional ao nível de energia que causou o trauma. Sendo assim, a evolução do caso será determinada pela extensão/quantidade de tecidos desvitalizados e não apenas pela caracterização da fratura isoladamente. Classificação de Gustillo e Anderson Classificação de Gustillo-Anderson Tipo I – Ferida até 1 cm com lesão de partes moles mínima. Contaminação mínima. Fratura transversa/ oblíqua curta. Tipo II – Ferida de 1-10 cm com lesão de partes moles moderadas. Esmagamento mínimo/moderado. Contaminação moderada. Fratura transversa ou oblíqua curta/mínima cominução. Tipo III – Ferida com mais de 10 cm com extensa lesão de partes moles e/ou esmagamento. Grande contaminação. Trauma de alta energia. IIIA – Adequada cobertura óssea com partes moles, apesar de lacerações e retalhos presentes. IIIB – Lesão extensa, não permitindo cobertura óssea, necessitando de reconstituição cirúrgica. IIIC – Lesão arterial que necessita reparo cirúrgico. Tratamento Inicial O atendimento deve ser realizado segundo as recomendações (ABCDE) do ATLS (Advanced Trauma Life Suport), sendo a primeira atenção dada à ressuscitação, quando necessária, seguida de estabilização clínica do paciente. Concomitante a esta fase inicial procede-se à cobertura da ferida com curativo estéril e imobilização provisória (tala). Após o atendimento inicial, partimos para o exame ortopédico, visando o membro afetado com avaliação de pulsos periféricos/perfusão, assim como exame neurológico e avaliação de partes moles. Somente partimos para a avaliação radiológica após examinar e estabilizar o paciente e o membro afetado. Pacientes instáveis ou com risco de morte devem ter o exame de imagem realizado no centro cirúrgico. Durante a avaliação primária, iniciamos a profilaxia contra o tétano, a antibioticoprofilaxia e analgesia. Diversas bactérias podem causar infecção, porém o germe mais comum é o S. aureus. Temos percebido também o aumento da infecção por Gram-negativos e infecções mistas. O esquema antibiótico baseado na classificação de Gustillo. Devemos lembrar que a antibioticoterapia é profilática, permanecendo por 48-72 horas, na maioria das referências; porém determinados autores mantêm por até sete dias. Tratamento Cirúrgico Após avaliação inicial do paciente, devemos encaminhá-lo para o centro cirúrgico em até seis horas classicamente, apesar de alguns autores defenderem intervenção mais precoce – 4 horas decorridas do acidente. Apenas no Centro Cirúrgico, após anestesia, assepsia e anti-sepsia podemos explorar a ferida. Inicialmente, realizamos o desbridamento dos tecidos desvitalizados e a lavagem mecânicocirúrgica com pelo menos 10 litros de solução salina. “A solução para a poluição é a diluição”. O desbridamento é o ato cirúrgico mais eficaz e tem por finalidade remover corpos estranhos, tecidos desvitalizados, reduzir contaminação e criar ferida vascularizada. Durante a avaliação da ferida devemos verificar o critério dos 4 “C” (cor, contratilidade, circulação e consistência). Caso não apresente viabilidade o tecido deve ser retirado; o mesmo serve para fragmentos ósseos sem suas inserções musculares. Após desbridamento e LMC faremos a fixação dafratura, que pode ser feita de diversas formas, dependendo das características da fratura, não existindo implante ideal. Podemos usar fixadores externos, placas e hastes intramedulares, cada qual tem a sua melhor indicação. Devemos fixar a fratura exposta sempre que possível, pois facilita o manuseio do paciente durante a internação, ajuda a diminuir a proliferação bacteriana e evita a perpetuação da lesão de partes moles. Os fatores que influenciam esta tomada de decisão são: padrão/tipo de fratura, localização da fratura, lesão de partes moles, contaminação, tempo de evolução, estado geral do paciente. Em princípio, as feridas devem ser deixadas abertas para posterior fechamento. Esta, porém, poderá ser alterada pelo julgamento do cirurgião. Nas feridas limpas, provocadas por baixa energia minimamente contaminadas, podemos optar por fechamento primário. Normalmente, as fraturas tipo I preenchem este requisito. As do tipo II devem ser julgadas e as do tipo III nunca devem ser fechadas primariamente. Sempre que houver dúvida, deixe aberta. Então após 48 horas podemos fechar a ferida second look. Fraturas por PAF (Projétil de Arma de Fogo) As fraturas expostas por PAF vêm aumentando assustadoramente. Projéteis de baixa velocidade produzem lesões menores, mas nem por isso devem ser negligenciadas, devendo ser consideradas como qualquer outra fratura. E atenção para a classificação das fraturas expostas, pois Gustillo afirma que “as fraturas por PAF de alta energia são classificadas automaticamente como de grau III A”. Amputação versus Salvação do Membro Os recentes avanços do tratamento dos membros permitem salvarmos muitos, ditos anteriormente, inviáveis. Porém, alguns trabalhos têm nos mostrado que em alguns casos, a tentativa de salvação proporcionou nos pacientes piores resultados que a amputação primária. Com o objetivo de responder a essas dúvidas, Joanes, em 1987, propôs um sistema de classificação por pontos para definir a viabilidade do membro; denominado MESS (Mangled Extremity Severity Score) onde, índices maiores ou iguais a 7 eram relacionados com 100% amputação. Contusão, entorse, luxação e fratura. Contusão Entorse Luxação Fratura
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