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SÍNDROME DO OLHO VERMELHO SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Etiologias ...................................................................... 5 3. Sinais de Urgência .................................................32 Referências Bibliograficas .........................................34 3SÍNDROME DO OLHO VERMELHO 1. INTRODUÇÃO Olho vermelho é uma queixa comum na prática ambulatorial. Uma peque- na porcentagem de pacientes com olhos vermelhos precisa de enca- minhamento e tratamento oftalmo- lógicos urgentes, embora a grande maioria possa ser tratada pelo clíni- co geral. Existem poucos dados epi- demiológicos sobre o olho vermelho, mas a conjuntivite (alérgica ou vi- ral) é provavelmente a causa mais comum de olho vermelho na comu- nidade, mas também podem ocorrer várias condições mais graves. A história do paciente, a medida da acuidade visual e os achados no exame com lanterna elétrica são ca- racterísticas importantes na determi- nação da causa e do manejo do olho vermelho. A história e o exame ocular fornecem orientações na decisão so- bre encaminhar o paciente para ava- liação oftalmológica. Certas carac- terísticas históricas ou queixas que apresentam sinalizam a necessidade de exame clínico e possivelmente en- caminhamento do paciente. As seguintes perguntas devem ser feitas na anamnese de todos os pacientes com síndrome do olho vermelho: • A visão foi afetada? - Você ainda consegue ler impressões comuns com o olho afetado? Consideran- do que pacientes com deficiência visual requerem um exame clínico mais detalhado e podem, depen- dendo dos achados, exigir enca- minhamento oftalmológico. • Existe sensação de corpo estra- nho? Parece que há algo em seu olho, interferindo em sua capaci- dade de mantê-lo aberto? Uma sensação de corpo estranho é o principal sintoma de um processo ativo da córnea. Evidência na sen- sação de corpo estranho, a incapa- cidade de abrir espontaneamente o olho ou mantê-lo aberto, sugere envolvimento corneano. Com ex- ceção de uma apresentação inicial de lesão da córnea ou corpo estra- nho, esses pacientes são indicados para encaminhamento de emer- gência ao oftalmologista. Contu- do, muitos pacientes relatam uma “sensação de arranhão”, “ardor” ou uma sensação “areia nos olhos” e são diagnosticados com alergia, conjuntivite viral ou olhos secos. Essas são sensações subjetivas de corpo estranho e não sugerem necessariamente um problema da córnea que exija encaminhamento. • Existe fotofobia? Há sensibilida- de a luz? A presença de fotofobia sugere a necessidade de um exa- me físico. Pacientes com processo corneano ativo apresentam sinais objetivos de fotofobia e sinais ob- jetivos de sensação de corpo es- tranho. Eles podem se apresentar usando um chapéu e/ou óculos de 4SÍNDROME DO OLHO VERMELHO sol, cobrindo o olho afetado com a mão para bloquear a luz ou man- tendo a cabeça baixa e afastada das luminárias ou janelas. Pacien- tes com irite apresentam sinais objetivos de fotofobia, mas ne- nhuma sensação objetiva de corpo estranho. • Houve trauma? • Você usa lentes de contato? Um histórico de desgaste das lentes de contato no local da alta e olhos vermelhos deve aumentar a sus- peita de ceratite. • Existe outra secreção além das lágrimas que continua ao lon- go do dia? - As crostas da ma- nhã seguidas de uma secreção aquosa pelo restante do dia são características de muitos proces- sos autolimitados, como alergia, conjuntivite viral, conjuntivite alér- gica e olhos secos. Os pacientes geralmente interpretam as crostas matinais como “pus”. A conjunti- vite bacteriana e a ceratite bacte- riana causam secreção opaca que persiste ao longo do dia e requer terapia específica. A conjuntivite bacteriana, que normalmente não está associada a uma redução da acuidade visual, sensação de cor- po estranho ou fotofobia, pode ser tratada pelo clínico geral. A cerati- te bacteriana, por outro lado, que pode ou não afetar a visão, mas geralmente causa sensação ob- jetiva de corpo estranho e fotofo- bia, requer encaminhamento de emergência. • Como está o paciente na avalia- ção geral? A observação geral do paciente pode fornecer orientações sobre a probabilidade de o proble- ma ser benigno e tratável inicial- mente pelo clínico ou se é neces- sário encaminhamento. Pessoas com conjuntivite viral ou alérgica podem apresentar sinais ou quei- xar-se de rinorreia, linfadenopatia ou outros sintomas do trato respi- ratório superior. Em comparação, o paciente que sofre de ceratite in- fecciosa, irite ou glaucoma de ân- gulo fechado provavelmente apre- senta sinais objetivos indicando a natureza mais séria do problema. Todas essas entidades anteriores requerem consulta oftalmológica. 5SÍNDROME DO OLHO VERMELHO 2. ETIOLOGIAS As etiologias da síndrome do olho vermelho podem ser diversas, a se- guir listamos as mais relevantes: Olho Seco É uma doença multifatorial da lágrima e da superfície ocular que resulta em sintomas de desconforto, distúrbios visuais e instabilidade do filme lacri- mal com potencial lesão da superfície ocular. O quadro é acompanhado por aumento de osmolaridade do filme lacrimal e inflamação da superfície ocular. A síndrome do olho seco pode ser classificada segundo sua etiologia em: evaporativa e por deficiência aquosa. A primeira divide-se em in- trínseca (subdividida em: deficiência da glândula de Meibomius, distúrbios da abertura palpebral, redução da frequência dos piscamentos, e, se- cundariamente, uso de drogas) e ex- trínseca (subdividida em: deficiência de vitamina A decorrente de preser- vativos dos colírios, uso de lentes de contato e doença da superfície ocu- lar, por exemplo, alergia). Já o olho seco por deficiência aquosa é sub- dividido em olho seco associado à PACIENTE COM OLHO(S) VERMELHO(S) Apresenta vermelhidão em ambos os olhos ou apenas um? Existe sensação de corpo estranho? Há dificuldade em manter o olho aberto? Houve trauma? Existe fotofobia? A visão foi afetada? Existe secreção? Usa lentes de contato? Como o paciente está em geral? FLUXOGRAMA: PERGUNTAS NA AVALIAÇÃO INICIAL DE UM PACIENTE COM SÍNDROME DO OLHO VERMELHO 6SÍNDROME DO OLHO VERMELHO síndrome de Sjögren (primário ou secundário) e olho seco sem síndro- me de Sjögren (deficiência lacrimal, obstrução do ducto da glândula la- crimal, bloqueio reflexo e drogas de ação sistêmica). Ao exame ocular, nota-se redução do menisco do filme lacrimal, presença de debris no filme lacrimal pré-cor- neano, hiperemia conjuntival inter- mitente e ceratopatia ponteada. Em alguns casos pode haver evolução para ceratite filamentar. Blefarite é um achado associado frequente. A propedêutica subsidiária inclui teste de rosa bengala, análise do tempo de rompimento do filme lacrimal (BUT – break-up time) e teste de Schirmer. O tratamento baseia-se na utilização de lágrimas artificiais. Casos mais gra- ves podem necessitar de oclusão do ponto lacrimal e tarsorrafia. CONCEITO! Tarsorrafia é um procedi- mento cirúrgico que consiste na fusão da pálpebra superior com a inferior. Tra- ta-se de uma técnica simples que pode ser realizada isoladamente ou associa- da a outras cirurgias oculoplásticas para tratamento de uma série de doenças, como lagoftalmo, paralisia facial, ectró- pio, entrópio, proptose, doença tireoidia- na entre outras. 7SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Pterígio É um crescimento fibrovascular subepitelial em formato triangular que avança sobre a córnea. Tem como fator causal principal a exposi- ção solar crônica (irradiação UV). O pterígio muitas vezes está associado a quadro de irritação crônica, a distri- buição irregular do filme lacrimal na superfície corneana e a quadro inter- mitente de inflamação e de hiperemia. O uso de lágrimas artificiais e, em alguns casos, esteroides fracos, por curto tempo podem interromper esse ETIOLOGIA DA SÍNDROME DO OLHO SECO IntrínsecaExtrínseca Associado à síndrome de Sjögren Sem síndrome de Sjögren Evaporativa Deficiência aquosa Deficiência da glândula de Meibomius Distúrbios da abertura palpebral Redução da frequência dos piscamentos Uso de drogas Deficiência de vitamina A Uso de lentes de contato Doença da superfície ocular (ex: alergia) Primário Secundário Deficiência lacrimal Obstrução do ducto da glândula lacrimal Bloqueio reflexo Drogas de ação sistêmica FLUXOGRAMA: ETIOLOGIA DA SÍNDROME DO OLHO SECO 8SÍNDROME DO OLHO VERMELHO crescimento. Conforme avança so- bre a córnea, o pterígio pode induzir astigmatismo e, nos casos em que o eixo visual é comprometido, ou quan- do se deseja corrigir a parte estética, a abordagem cirúrgica é indicada. SAIBA MAIS! O termo pterígio vem do grego e significa “pequena asa” Figura 1. Pterígio. Fonte: https://bit.ly/2UIcLT3 Blefarite É a inflamação da margem palpe- bral de origem infecciosa ou não. Seu quadro clínico inclui hiperemia da margem palpebral e conjuntival, crostas na base dos cílios, prurido, sensação de corpo estranho, lacrime- jamento, filme lacrimal de aspecto es- pumoso, fotofobia leve, ardência, nor- malmente bilateral. A blefarite crônica é uma afecção pal- pebral que pode cursar com altera- ções corneanas e conjuntivais devido à íntima relação da pálpebra com a superfície ocular. A blefarite pode ser de vários tipos: blefarite estafilocóci- ca, seborreica e mista, seborreia mei- bomiana e meibomite. A blefarite estafilocócica tem sua etiologia na infecção estafilocócica na qual os produtos tóxicos são irritantes e levam a quadro caracterizado pela hiperemia e por telangiectasias da margem palpebral anterior. É comum a formação de concreções em torno da base dos cílios conhecidos por “colaretes”. Pode haver cicatrização com hipertrofia da margem palpebral 9SÍNDROME DO OLHO VERMELHO e perda dos cílios (madarose), além de triquíase e poliose. A blefarite seborreica caracteriza- -se por hiperemia e oleosidade da margem palpebral junto aos cílios, formando crostas moles. O Coryne- bacterium acnes contribui na etio- logia dessa afecção ao degradar quantidades excessivas de lipídeos neutros em ácidos graxos irritantes. Há correlação dessa afecção ocular com quadro de dermatite seborréica, que pode acometer áreas extraocu- lares como couro cabeludo e região retroauricular, por exemplo. O trata- mento envolve a higiene palpebral com uso de xampu neutro ou infantil diluído, por longo período, adequan- do-se a frequência de acordo com a intensidade dos sintomas. Podem ser associados antibioticoterapia tópica na margem palpebral, nos casos de foliculite aguda, e lágrimas artificiais, nos casos em que há instabilidade do filme lacrimal. A seborreia meibomiana é a afec- ção palpebral em que há secreção excessiva pelas glândulas de Mei- bomius. Pode ser visualizada nos ós- tios das glândulas de Meibomius a formação de gotículas de óleo. Geral- mente está associado ao quadro um filme lacrimal de aspecto espumoso. Meibomite é a afecção palpebral em que há obstrução dos orifícios das glândulas de Meibomius. Carac- teriza-se pela hiperemia da margem palpebral, a qual apresenta inflama- ção difusa adjacente às glândulas meibomianas. Figura 2. Blefarite. Fonte: www.bestpractice.bmj.com 10SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Esclerite É a inflamação da esclera poten- cialmente grave que leva a dor in- tensa ocular, edema, fotofobia e uma esclera de cor vermelho-escura ou purpúrea. Pode ser anterior ou poste- rior ao equador do bulbo ocular, ne- crotizante ou não. É bem menos fre- quente que a episclerite e acomete mais o sexo feminino e idades mais avançadas. Aproximadamente 50% dos casos de esclerite anterior estão associados com doenças sistêmicas autoimunes ou reumatológicas. Já a esclerite posterior normalmente não apresenta associações com outras patologias. O tratamento consiste em instila- ção de colírios anti-inflamatórios não esteroidais ou esteroidais e, em casos severos, corticoterapia sistêmica. FLUXOGRAMA: ILUSTRAÇÃO DE DIFERENTES PATOLOGIAS DOS CÍLIOS Triquíase Desvio posterior dos cílios em relação ao local normal de origem Blefarite Entrópio Ectrópio Inflamação da borda da pálpebra Rotação interna da borda da pálpebra Rotação externa da borda da pálpebra 11SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Episclerite É a forma mais comum de inflamação escleral. Comumente apresenta-se como uma inflamação circunscrita, geralmente segmentar e nodular da episclera, podendo ser unilateral ou bilateral. As veias episclerais tor- nam-se dilatadas, com disposição radial, associada à hiperemia conjun- tival nesse setor. A etiologia frequen- temente não pode ser identificada e, em alguns raros casos, pode-se rela- cioná-la a doenças sistêmicas (artrite reumatoide, polimiosite, dermatomio- site, sífilis, por exemplo). Durante a investigação, pode ser instilada uma gota de colírio de fe- nilefrina a 10% com o intuito de se obter vasoconstrição dos vasos conjuntivais. No caso da episclerite, os vasos conjuntivais se tornam cons- tritos e os episclerais não, diferencian- do de uma conjuntivite. A episclerite geralmente se resolve espontanea- mente em 1 a 2 semanas, ainda que a forma nodular persista por período maior. No caso de sintomas mais ex- pressivos, o uso de anti-inflamatórios tópicos não esteroidais ou esteroidais leves pode ser considerado. Figura 3. Esclerite. Fonte: www.bestpractice.bmj.com 12SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Ceratites superficiais É a inflamação da córnea com alte- rações que podem ser consequentes de diversas patologias como síndro- me o olho seco, trauma, toxicidade, drogas de uso tópico, queimaduras ou infecciosas. A história clássica de ceratite infec- ciosa é de um paciente com história de trauma ocular, uso de lentes de contato ou corticoide tópico que evo- lui com dor, lacrimejamento, fotofo- bia, redução visual, edema palpebral e hiperemia conjuntival. O exame oftalmológico diagnostica lesões de córnea que podem chegar a perfu- rações e endoftalmia bacteriana. O tratamento inicial consiste no uso de antibióticos tópicos. SE LIGA! Todos os pacientes com ce- ratite infecciosa suspeita ou confirmada, independentemente da gravidade, de- vem ser encaminhados à oftalmologia com urgência. Dentre as etiologias das ceratites in- fecciosas, estão: Ceratites Bacterianas A ceratite bacteriana constitui causa importante de déficit visual, asso- ciando-se frequentemente a situ- ações em que ocorrem alterações nos mecanismos de defesa corneal. Diagnóstico e tratamento imedia- tos podem limitar a perda de teci- do, minimizar a cicatrização e redu- zir a necessidade de cirurgia futura. Figura 3. Episclerite. Fonte: www.bestpractice.bmj.com 13SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Neisseria gonorrhoeae e Haemo- philus influenzae são as duas bac- térias capazes de invadir o epitélio corneano intacto. As demais bacté- rias somente são capazes de produzir ceratite após o comprometimento da integridade epitelial. Pseudomonas sp., Staphylococcus sp. e Strepto- coccus pneumoniae são os agentes etiológicos mais frequentes. Em ce- ratite bacteriana associada a mau uso de lentes de contato, a Pseu- domonas aeroginosa é o agente causador mais comumente isolado. Figura 4. Ceratite bacteriana. Fonte: Trobe JD. The Physician’s Guide to Eye Care, American Academy of Ophthalmology 1993. No quadro clínico inicial, tipicamente há história de traumatismo ocular, de doença corneal pré-existente, de uso de lentes de contato ou de corticosteroide tópico. Sinais e sin- tomas incluem dor, lacrimejamento, fotofobia, diminuição de visão, ede- ma palpebral, secreção purulenta e hiperemia conjuntival. Os sintomas podem ser mascarados ou retarda- dos em usuários de lentes de conta- to. Ao exame oftalmológico, os sinais são injeção conjuntival e perilímbica, defeito epitelial associado a infiltra- do ao redor da margem e na base da desepitelizaçãocorneal, aumento do infiltrado associado a edema estromal corneal, uveíte anterior estéril com hi- pópio. A progressiva ulceração pode causar perfuração corneal e endof- talmite bacteriana. Antes de se iniciar o tratamento, é imprescindível coleta de mate- rial para citologia e cultura. O trata- mento consiste basicamente em 14SÍNDROME DO OLHO VERMELHO utilização de antibioticoterapia tó- pica efetiva contra um amplo es- pectro de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Em úlceras corneanas de menor gravidade (periféricas, superficiais e menores que 3 mm), é instituída monoterapia com fluorquinolonas tópica de 1 em 1 hora (ciprofloxacina 0,3%, ofloxacina 0,3%, monofloxaci- na 0,5% ou gatifloxacina 0,3%). Para úlceras graves, o tratamento consiste em utilização de dois antibióticos for- tificados tópicos para a cobertura de patógenos Gram-positivos e Gram- -negativos, de 1 em 1 hora (cefazoli- na fortificada 5% e gentamicina forti- ficada 2%). Uso de antibioticoterapia sistêmica com uso de fluorquinolonas estão indicados em casos com ris- co ou comprometimento escleral ou intraocular. A terapêutica inicial só deve ser modificada na existência de resistência demonstrada em cultura do organismo ao esquema terapêu- tico. Durante o tratamento, é impor- tante não confundir dificuldade de reepitelização corneal por toxicidade medicamentosa com persistência da infecção. Ceratites Fúngicas As ceratites fúngicas são raras, po- rém podem evoluir com efeitos de- vastadores. Podem ser causadas por uma grande variedade de agentes. Os patógenos mais comuns são fungos filamentosos, Aspergillus spp. e Fusarium spp., e Candida albi- cans. A ceratite causada por fungos filamentosos é mais prevalente em áreas de agricultura e é tipicamente precedida por trauma ocular envol- vendo matéria orgânica como madei- ra e plantas. A ceratite por Candida ocorre tipicamente em associação a doenças corneanas pré-existentes ou em pacientes com comprometimento imunológico. A incidência de ceratite fúngica e o tipo de agente etiológico mais frequente variam conforme a re- gião geográfica devido a diferentes condições de temperatura e umidade. Há associação entre a ceratite fún- gica por Fusarium sp. e o uso inade- quado de lentes de contato. Os sintomas mais comuns das cera- tites fúngicas são sensação de cor- po estranho, fotofobia, diminuição de acuidade visual e secreção. Ao exame oftalmológico, há diversos achados inespecíficos como hiperemia con- juntival, defeitos epiteliais, reação de câmara anterior e edema corneal. Os achados específicos de infecção fún- gica são infiltrados estromais com bordas mal definidas e margens hifadas, bordas elevadas, lesões satélites digitiformes, infiltrados imunes em anel, placa endotelial subjacente à úlcera e pigmentação acastanhada ou acinzentada. 15SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Antes de se iniciar a terapêutica, deve ser realizado raspado corneal, para reduzir a quantidade de fungos e au- mentar a penetração dos agentes an- tifúngicos, além do envio de amostra a laboratório para pesquisa e cultura de fungos. O tratamento é realizado através de antifúngicos tópicos em geral por tem- po prolongado. Em fungos filamento- sos, a terapia inicial é com natamicina a 5% tópica de 1 em 1 hora, podendo ser associados cetoconazol sistêmico 400-800 mg/dia ou miconazol sub- conjuntival 5-10 mg/ dia. Em fungos leveduriformes, a terapia inicial é com anfotericina B tópica a 0,15% de 1 em 1 hora, podendo ser associados cetoconazol 400-800 mg/dia, fluco- nazol 200mg/dia sistêmico ou mico- nazol subconjuntival 5-10 mg/dia. Em casos de progressão da doença apesar da terapia clínica, devem ser indicadas a ceratoplastia penetran- te ou recobrimento conjuntival. Ceratites Virais As ceratites virais representam um grupo de doenças causadas na sua grande maioria por vírus do grupo herpes. Dentre os vírus desse grupo, a doença ocular é geralmente causa- da pelo herpes simples (VHS) e pelo herpes varicela-zoster (HVZ). A infecção ocular primária pelo VHS geralmente acomete crianças e pode estar associada a sintomas de virose sistêmica. Há o apareci- mento de vesículas ao redor do olho com cicatrização em até duas sema- nas. Quando ocorre acometimento Figura 5. Ceratite fúngica com lesões de satélite e hipópio (camadas de glóbulos brancos na câmara anterior). F onte: 2020 UpToDate, Inc. 16SÍNDROME DO OLHO VERMELHO ocular na infecção primária (relativa- mente incomum), a infecção mani- festa-se como conjuntivite folicular aguda unilateral associada a linfade- nopatia pré-auricular. A ceratite her- pética pelo VHS pode manifestar-se como ceratite epitelial, ceratite es- tromal necrotisante e endotelite disciforme. A ceratite epitelial pelo VHS pode ocorrer em qualquer faixa etária. A apresentação inclui desconforto ocular leve, lacrimejamento e turva- ção visual. Ao exame oftalmológico, manifesta-se por ceratite ponteada com posterior evolução para úlce- ra dendrítica, com diminuição de sensibilidade corneana. As úlceras dendríticas coram-se com aplicação tópica de fluoresceína e rosa bengala. A ceratite estromal necrotisan- te é uma entidade rara, porém de alta morbidade. Apresenta-se como uma intensa e progressiva redução de acuidade visual associada a dor e desconforto. Ao exame, há presença de infiltrado inflamatório esbranqui- çado, edema, uveíte anterior com pre- cipitados ceráticos sob a área de in- filtração estromal ativa, com presença ou não de neovasos. Pode evoluir com leucoma cicatricial vasculariza- do, ceratopatia lipídica ou perfuração corneal. A endotelite herpética discifor- me apresenta-se com turvação vi- sual gradual indolor, que pode estar associada a halos e glare ao redor de pontos luminosos. Ao exame, a região central corneal é acometida por ede- ma epitelial, espessamento estromal, precipitados ceráticos (secundários a uveíte anterior associada), dobras da membrana de Descemet e redução de sensibilidade corneal. O tratamento inclui uso de agentes antivirais, com preferência pelo uso do aciclovir. Nos casos de infecção ocular primária, aplicação de aciclo- vir pomada a 3% sobre as lesões da pele (cinco vezes/dia por 2 a 3 sema- nas). No tratamento da ceratite deve ser ministrada pomada de aciclovir a 3% em fórnice conjuntival inferior (cinco vezes/dia por 2 a 3 semanas). Na presença de irite, acrescentar o uso de cicloplégicos e, em casos gra- ves e disseminados, considerar uso de terapia antiviral sistêmica (aciclo- vir via oral 200 a 400 mg 5 vezes/dia durante 2 semanas). As ceratites es- tromais, as vasculites, a endotelite e a ceratouveíte devem ser tratadas com associação de corticosteróide tópico. O uso de corticosteroide está con- traindicado em casos com presença de ulceração corneal. O herpes zoster pode acometer o ramo oftálmico do nervo trigêmeo em até 15% dos casos. Essa condi- ção recebe o nome de “herpes zos- ter oftálmico”, independentemente da presença ou não do envolvimento ocular. É importante notar se há en- volvimento pela doença do nervo 17SÍNDROME DO OLHO VERMELHO nasal externo (sinal de Hutchinson), que inerva a asa do nariz, pois nes- ses casos há maior chance de ocorrer complicações oculares pela doença. A doença ocular mais comum é a ceratite, dividida em epitelial agu- da, numular e disciforme, no entan- to, pode haver casos de conjuntivite, episclerite, esclerite, uveíte anterior, além de complicações neurológi- cas com sintomas oculares, como neurite óptica e paralisia de nervos cranianos (principalmente terceiro par – oculomotor). O tratamento da doença ocular faz parte do tratamento da doença sistê- mica (aciclovir via oral 800 mg 5 ve- zes/dia por 7 dias) associado ao uso de lubrificante tópico. O tratamento tópico com aciclovir pomada a 3% (5 vezes/dia por 2 semanas) é contro- verso e deve ser reservado em casos de maior gravidade. Figura 6. Ceratite estéril não-ulcerativa. Fonte: https://bit.ly/3hj9mnkUveíte É a inflamação do trato uveal cuja principal classificação baseia-se em sua localização anatômica: uveíte anterior (envolvendo íris e/ou corpo ciliar), intermediária (pars plana e extrema periferia da retina), posterior (atrás da borda posterior da base ví- trea) e panuveíte (comprometimento de todo o trato uveal). A uveíte tam- bém é classificada de acordo com a fase de estabelecimento e com o tempo de evolução em aguda ou crônica. Ainda com base nas carac- terísticas fisiopatológicas, a uveíte pode ser dividida em granulomatosa e não-granulomatosa. CONCEITO! A úvea, também denomi- nada “trato uveal”, é constituída pelo conjunto da íris, membrana coroide e pelos processos ciliares. 18SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Os sintomas clássicos da uveíte são fotofobia, dor ocular, hiperemia peri- cerática, redução da acuidade visual e lacrimejamento. Convém lembrar que casos crônicos frequentemente se apresentam com ausência de hi- peremia e mínimos sintomas, mesmo na presença de inflamação ativa. O tratamento da uveíte envolve uso de esteroides tópicos ou sistêmicos, de acordo com a severidade do qua- dro. Além disso, é imprescindível a realização de investigação sistêmi- ca para a definição etiológica. Figura 7. Relação anatômica das uveítes. Fonte: Netter interativo. Atlas De Anatomia Humana. Autor: Netter, Frank H. | Marca: Gen Guanabara Koogan. Uveíte intermediáriaUveíte anterior Uveíte posterior 19SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Glaucoma agudo primário (GAP) É uma das principais emergências oftalmológicas. Do ponto de vista epidemiológico, essa doença é co- mum na raça amarela, menos fre- quente na população caucasiana e na negra. A prevalência do GAP é nitidamente maior nas mulheres (70%), com idade em torno de 65 anos, portadoras de hipermetropia. De modo geral, os olhos acometidos possuem diâmetro ântero-posterior reduzido, a câmara anterior é menor e mais rasa que a população nor- mal e o cristalino tem diâmetro axial aumentado. Essas características anatômicas fazem com que o ângu- lo da câmara anterior seja estreito, propiciando o seu fechamento com consequente aumento da pressão intra-ocular (PIO). Em relação à fisiopatogenia, obser- va-se uma dificuldade da passagem do humor aquoso da câmara poste- rior para a câmara anterior devido ao maior contato da face posterior da íris com a face anterior do cristalino. Esse evento é denominado “bloqueio pu- pilar” e ocorre durante uma eventual semimidríase pupilar. Essa dificul- dade de trânsito do aquoso faz com que ele se acumule na câmara pos- terior, aumentando a pressão nes- se local e empurrando a periferia da íris para frente, fechando o seio ca- merular ou o ângulo da câmara an- terior. O fechamento angular impede a drenagem do aquoso acarretando súbito aumento da PIO. A pressão Figura 8. Uveíte anterior. Fonte: Trobe JD. The Physician’s Guide to Eye Care, American Academy of Ophthalmology 1993. 20SÍNDROME DO OLHO VERMELHO que, por exemplo, situa-se em torno de 15 mmHg, sobe, em questão de minutos, para 60 mmHg. Isso acar- reta uma súbita isquemia do globo ocular e consequente quadro clínico associado. Na grande maioria dos casos, a cri- se aguda é unilateral, e clinicamen- te o paciente apresenta dor intensa no globo ocular, a qual pode irradiar para a cabeça e/ou para a hemiface acometida, e pode ser acompanhada de náuseas e vômitos. O olho acome- tido fica vermelho, de intensidade variável, acompanhado de lacrime- jamento, fotofobia, diminuição da acuidade visual e visualização de halos coloridos ao redor das lâm- padas. O exame ocular mostra que a PIO está bastante elevada. A pres- são bidigital, realizada com os dois dedos indicadores através das pál- pebras superiores com olhar direcio- nado para baixo, mostra nítida assi- metria de tensão entre o olho normal e o olho com GAP. O exame realizado com lanterna apropriada ou o exame externo assinalam ausência de secre- ção mucopurulenta na presença de congestão acentuada dos vasos con- juntivais e episclerais. A córnea está edemaciada, perden- do, portanto, seu brilho e transpa- rência, e a pupila está em semimi- dríase fixa. É importante acentuar que o exame com lanterna deve ser realizado comparando-se o olho aco- metido com o olho normal, e isso evidenciará as diferenças dos acha- dos entre um e outro olho. A crise de glaucoma agudo é uma das mais im- portantes urgências em oftalmologia, e o tratamento deve ser instituído o mais rapidamente possível. A inten- sa isquemia produzida pela elevação aguda da PIO exige medidas de ur- gência as quais devem ser instituídas pelo médico especialista. Assim sen- do, o encaminhamento para o of- talmologista deve ser imediato. Inúmeras são as drogas de uso tópico e sistêmico que são utilizadas no tra- tamento da crise aguda, entretanto, elas não devem ser ministradas pelo médico generalista. Uma exceção é a acetazolamida, que é um inibidor da anidrase carbônica, comercializada com o nome de “Diamox”. A posolo- gia é de 1 comprimido de 250 mg, via oral, de 6 em 6 horas. O uso dessa medicação fica prejudicado no caso da presença de vômitos, e a mesma deve ser utilizada com muito cuidado em portadores de gastrite e de calcu- lose renal. Enquanto aguardam aten- dimento especializado, os pacientes devem permanecer em decúbito ho- rizontal dorsal, em quarto escuro. Vários são os diagnósticos diferen- ciais do glaucoma agudo primário. Entre eles, podemos incluir os glau- comas agudos secundários, a uveíte hipertensiva, os glaucomas neovas- culares e os glaucomas facogênicos. Todos podem ser perfeitamente con- fundidos com a crise de glaucoma 21SÍNDROME DO OLHO VERMELHO agudo primário, e o diagnóstico dife- rencial somente será feito pelo médico especialista. As ceratites ou cerato- conjuntivites também estão associa- das ao olho vermelho dolorido, porém, podem ocorrer em qualquer idade ou sexo, têm um curso insidioso associa- do à presença de secreção e de dor, com sensação de corpo estranho. Figura 9. Glaucoma agudo primário. Fonte: Trobe JD, Hackel RE. Field Guide to the Eyes. Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia 2002. Conjuntivites Conjuntivite é a inflamação da con- juntiva, podendo ocorrer em qual- quer grupo etário, sem predileção por sexo. Pode ser classificada de várias formas, por exemplo: 1. Considerando-se o tempo de início dos sintomas: • Hiperaguda: menos de 12 horas • Aguda: menos de 3 semanas • Crônica: mais de 3 semanas • Neonatal: do nascimento até 28 dias de vida 2. Considerando-se o agente causal: • Infecciosa ◊ Bacteriana ◊ Viral ◊ Clamídea • Alérgica 22SÍNDROME DO OLHO VERMELHO • Irritativa • Relacionada a alterações palpe- brais (floppy eyelid, lagoftalmo) • Associada a doenças sistêmicas (síndrome de Sjögren, doença de Graves, Síndrome de Reiter, penfi- góide, psoríase) 3. Considerando-se o tipo de respos- ta conjuntival: • Papilar • Folicular • Membranosa • Cicatricial • Granulomatosa • Flictenular 4. Considerando-se a lateralidade: • Unilateral • Bilateral 23SÍNDROME DO OLHO VERMELHO CLASSIFICAÇÕES DAS CONJUNTIVITES Hiperaguda Infecciosa Alérgica Irritativa Relacionada a alterações palpebrais Associada a doenças sistêmicas Papilar Unilateral Agente causalTempo de início dos sintomas Aguda Crônica Neonatal Bacteriana Viral Clamídea Tipo de resposta conjuntival Lateralidade Folicular Membranosa Cicatricial Granulomatosa Flictenular Bilateral MAPA MENTAL: DIFERENTES CLASSIFICAÇÕES DAS CONJUTIVITES] 24SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Geralmente, o processo, quando res- trito à conjuntiva, costuma ser auto- limitado, e a resolução não implica em sequelas. Entretanto, em alguns casos de conjuntivite, pode haver comprometimento da córnea com perda permanente da visão, como na conjuntivite gonocócica, ou pode levar a uma morbidade ocular prolon- gada, como nos casos de ceratocon- juntivite adenoviral e nas ceratocon- juntivitesatópica e primaveril. Os principais sinais e sintomas são secreção, podendo ser aquosa (lacri- mejamento), mucóide, mucopurulen- ta ou purulenta; prurido; queimação; sensação de corpo estranho; hipe- remia conjuntival; edema da conjun- tiva (quemose); edema palpebral e pseudoptose. Outros sinais incluem linfadenopatia satélite (Síndrome oculoglandular de Parinaud, con- juntivites adenovirais), hemorragias conjuntivais. Os pacientes com conjuntivite têm mais desconforto e ardor do que propriamente dor. A dor não é um sintoma frequente. Além disso, de- vemos pensar em outras causas de olho vermelho que não a conjuntivite. A anamnese do paciente com con- juntivite inclui: • 1. Tempo de início dos sinais e sintomas • 2. Presença de manifestações sistêmicas ◊ a. Infecção de vias aéreas superiores; ◊ b. Alergia; ◊ c. Uretrite; ◊ d. Artrite (a associação de conjuntivite, uretrite e artrite sugere o diagnóstico de Sín- drome de Reiter); ◊ e. Doenças reumatológicas, Síndrome de Sjögren, doenças dermatológicas • 3. Uso de lente de contato • 4. Uso de medicação tópica ocu- lar (colírios e pomadas) E ao exame oftalmológico, é impor- tante verificar: • 1. Tipo de secreção • 2. Tipo de reação conjuntival • 3. Pálpebras, margens palpe- brais e cílios: ◊ a. Presença de vesículas; ◊ b. Blefarite, canaliculite; ◊ c. Dermatite seborreica; ◊ d. Dermatite atópica • 4. Padrão da hiperemia: na con- juntivite, a hiperemia é difusa ou, às vezes, mais intensa nos fundos 25SÍNDROME DO OLHO VERMELHO de saco e tarso. Quando o padrão for injeção ciliar, ou seja, conges- tão dos vasos na região do limbo, é necessário afastar outras cau- sas de olho vermelho, como uveí- te, glaucoma agudo, fístula caróti- do-cavernosa, e que normalmente são unilaterais. • 5. Envolvimento da córnea: ◊ a. Ceratite superficial (ceratite ponteada); ◊ b. Infiltrados subepiteliais ou estromais; ◊ c. Úlcera dendrítica; ◊ d. Ceratite flictenular. A investigação laboratorial não é necessária na maioria das vezes, exceto se o processo é crônico ou recidivante, ou se é fulminante. A pesquisa laboratorial inclui: 1. Exame citológico: Possibilita a identificação de tipos de células in- flamatórias envolvidas (neutrófilos, linfócitos, eosinófilos) e de certas al- terações celulares (células multinu- cleadas). Colorações específicas au- xiliam o diagnóstico, essas são GRAM (classifica as bactérias), Giemsa (útil na suspeita de conjuntivite por clamí- dea) e imunofluorescência (identifica clamídea e vírus) 2. Culturas: ◊ a. Meios de ágar sangue ou chocolate: meios enriquecidos que favorecem o crescimento de bactérias; ◊ b. Neisseria: meio de Thayer Martin; ◊ c. Vírus: pouco disponível 26SÍNDROME DO OLHO VERMELHO INVESTIGAÇÃO DAS CONJUNTIVES Tempo de início dos sinais e sintomas Presença de manifestações sistêmicas Uso de lente de contato Uso de medicação tópica ocular IVAS Alergia Uretrite Artrite ANAMNESE Síndrome de Reiter Tipo de secreção Tipo de reação conjuntival Envolvimento da córnea Padrão da hiperemia Condição e alterações em pálpebras, margens palpebrais e cílios INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL EXAME OFTALMOLÓGICO Ceratite superficial (ceratite ponteada) Infiltrados subepiteliais ou estromais Úlcera dendrítica Ceratite flictenular Difusa Intensa em área específica Presença de vesículas Blefarite, canaliculite Dermatite seborreica Dermatite atópica Se processo crônico, recidivante ou fulminante Exame citológico Culturas MAPA MENTAL: INVESTIGAÇÃO DAS CONJUNTIVITES 27SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Conjuntivite aguda Viral Dentre as conjuntivites agudas, as mais frequentes são as de etio- logia viral, sobretudo as causadas pelos adenovírus, em seguida, com frequência bastante menor, vêm as conjuntivites alérgicas agudas e as bacterianas. A febre faringo-conjuntival é cau- sada por adenovírus dos tipos 3, 4 e 7, e caracteriza-se pela presença de faringite e de febre. Presença de linfa- denopatia pré-auricular é comum, e é mais frequente em crianças. Na con- juntiva, a reação é do tipo folicular. A ceratoconjuntivite epidêmica também é causada por uma varieda- de de cepas de adenovírus, incluindo os tipos 8 e 19, inicialmente há hi- peremia conjuntival, quemose, lacri- mejamento, e é geralmente bilateral. Pode evoluir com comprometimento da córnea a partir de uma semana, o qual é representado por infiltrados su- bepitelias. Os pacientes acometidos dessa patologia queixam-se de foto- fobia, e, dependendo da intensidade dos infiltrados, há redução na acuida- de visual. A reação conjuntival é foli- cular, podendo cursar com formação de membrana ou de pseudomembra- na. Pode haver linfadenopatia pré- -auricular. Nas crianças, além do qua- dro ocular, pode haver febre e dor de garganta. Nas infecções por adenovírus não há tratamento específico. Estão in- dicadas medidas de apoio e uso de lubrificantes oculares. Nos casos de formação de membrana e de ceratite com comprometimento visual impor- tante, corticoide tópico é indicado, porém com muita parcimônia. SE LIGA! As conjuntivites adenovirais, sobretudo a ceratoconjuntivite epidêmi- ca, são altamente transmissíveis, deven- do tomar-se todo o cuidado para evitar a disseminação. Os pacientes devem ser orientados a respeito das medidas pre- ventivas de disseminação, como lavar as mãos antes e após a manipulação dos olhos e separar objetos de uso pessoal. 28SÍNDROME DO OLHO VERMELHO A conjuntivite pelo herpes simples é a forma mais rara de conjuntivite viral, acompanha a infecção primária pelo herpes simples. Ao exame, podemos encontrar vesículas herpéticas na pálpebra e nas margens, edema pal- pebral e eventualmente, ceratite com formação de dendritos. Linfadenopa- tia pré-auricular dolorosa está quase sempre presente. O tratamento inclui o uso de medicação antiviral tópica (pomada de Aciclovir). O uso de corti- coide é contraindicado. Bacterianas As bactérias mais frequentes são Staphylococcus aureus (em todas as faixas etárias), Streptococcus pneu- moniae e Hemophilus influenza (mais comuns em crianças). Os sinais e sin- tomas são ardor, hiperemia, secreção mucopurulenta leve a moderada, rea- ção papilar. Exames laboratoriais não são necessários de forma rotineira e o tratamento inclui uso de colírio de antibiótico (atualmente o grupo mais usado é o das quinolonas, de amplo espectro), além das medidas de apoio, como limpeza e compressas frias com solução salina 0,9% (soro fisiológico) ou com água filtrada ou mineral. Não é recomendado o uso de água bori- cada (pode ser irritante e alergênica). Figura 10. Conjuntivite adenoviral. Fonte: https://telessaude.hc.ufmg.br/] 29SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Conjuntivite hiperaguda É uma conjuntivite de evolução rá- pida e, geralmente, muito agressi- va, podendo, se não tratada a tem- po, levar à destruição da córnea. O principal agente desse grupo é a Neisseria, tanto a gonorrheae como a meningitidis podem causar conjun- tivite, mas a gonocócica costuma ser mais grave. A conjuntivite gonocóci- ca caracteriza-se pela presença de secreção purulenta abundante e exi- ge tratamento imediato. É recomen- dável a obtenção de material para exame laboratorial. O não tratamento pode permitir a rá- pida evolução para perfuração corne- ana ou invasão da corrente sanguínea pelos vasos da conjuntiva (conjunti- vite por N. meningitidis pode evoluir com meningite). O tratamento é sis- têmico com Ceftriaxone 1g IM, dose única, ou cefotaxime 1g EV, a cada 8 horas. Além disso, indicam-se as me- didas locais, como remoção periódica da secreção conjuntival com solução salina 0,9%. Conjuntivite neonatal As conjuntivites neonatais estão as- sociadas à infecção ocular do recém- -nascido quando de sua passagem pelo canal vaginal contaminado no momento de parto. Historicamente, a conjuntivite por Neisseria gonorrheae foi uma im- portante causa de cegueira. É uma conjuntivite hiperagudaque se de- senvolve 2 a 4 dias após o nascimen- to. O uso da solução de nitrato de pra- ta 1% (manobra de Credé) diminuiu a ocorrência da infecção, mas não a erradicou. A infecção ocasiona ede- ma palpebral intenso, secreção pu- rulenta, ulceração, podendo ocorrer perfuração corneana. Diagnóstico clí- nico e laboratorial (diplococo Gintra- celular). O tratamento visa a preve- nir as lesões oculares e sistêmicas Figura 11. Conjuntivite bacteriana. Fonte: https://bit.ly/2YwVMnR 30SÍNDROME DO OLHO VERMELHO (artrite, pneumonia, meningite e sepse). Requer tratamento sistêmico com ceftriaxone 125 mg IM, em dose única, ou cefotaxime 25 mg/kg EV ou IM, a cada 8 ou 12 horas/7 dias. Outras conjuntivites bacterianas Incluem infecções por Strepto pneu- moniae, Staphylo aureus, Haemo- philus, E. coli, Pseudomonas (pre- maturos). Tratamento com antibiótico tópico. Se houver suspeita de compli- cação como celulite orbitária, o trata- mento deve ser por via endovenosa. Conjuntivite química Devida à instilação do colírio de ni- trato de prata, ocorre em geral ao nascimento ou 3 dias após. A secre- ção é discreta, aquosa, autolimitada. Em alguns serviços, o uso de colírio de eritromicina 1% ou de tetraciclina 1% é usado como alternativa na pro- filaxia para a conjuntivite gonocócica e diminui a chance de conjuntivite química. Conjuntivite por Chlamydea Conjuntivite mucopurulenta, mo- derada a grave, que ocorre de 5 a 10 dias após o nascimento. Se não tratada pode resultar em pannus e em formação de cicatriz corneana. Pode haver quadro sistêmico com pneumonia, otite média, traqueíte, nasofaringite. Diagnóstico é clínico e laboratorial (presença de inclusões basofílicas intracitoplasmáticas à coloração por Giemsa, ou identificados por imuno- fluorescência). Tratamento é tópico com pomada de eritromicina ou tetra- ciclina 4x ao dia, por 10 dias, e tra- tamento sistêmico deve ser feito nos pais e na criança. Suspensão de eri- tromicina 50mg/kg/dia, dividida em 4 doses por 14 dias. 31SÍNDROME DO OLHO VERMELHO ACHADOS CLÍNI- COS E CITOLOGIA BACTERIANA VIRAL CLAMÍDEA ALERGIA PRURIDO mínimo mínimo a moderado mínimo intenso HIPEREMIA moderada intensa moderada moderada SECREÇÃO mucopurulenta ou purulenta aquosa mucopurulenta mucoide ou mucopurulenta REAÇÃO CONJUNTIVAL papilar folicular folicular e papilar papilar DOR DE GARGAN- TA E FEBRE ocasional ocasional ausente ausente CITOLOGIA bactérias PMN linfócitos, efeitos citopáticos corpúsculos de inclu- são citoplasmáticos eosinófilos Tabela 1. Achados clínicos e citologia das conjuntivites] HEMOR- RAGIA SUBCON- JUNTIVAL CONJUNTI- VITE AGU- DA VIRAL CONJUNTI- VITE AGU- DA BACTE- RIANA ÚLCERA DE CÓRNEA GLAUCOMA AGUDO PRIMÁRIO UVEÍTE ANTERIOR AGUDA EPISCLE- RITE ESCLERITE Secreção Ausente Hialina Purulenta Aquosa ou purulenta Ausente Ausente Ausente Ausente Visão Conservada Conser- vada ou levemente diminuída Conser- vada ou levemente diminuída Diminuída Baixa im- portante de acuida- de visual Baixa visual moderada Conservada Conservada Dor Ausente Sensação de corpo estranho Sensação de corpo estranho Moderada Intensa Moderada a severa Moderada Moderada a severa Hiperemia Setorial, vermelho- -vivo Difusa Difusa Pericerá- tica Pericerá- tica Pericerá- tica Localizada Localizada Córnea Normal Normal ou infiltrados Normal ou infiltrados Áreas opacifica- das Turva (edema de córnea) Transpa- rente Normal Normal Pupila Normal Normal Normal Normal Médio-mi- dríase Miose Normal Normal Reflexo foto-motor Normal Normal Normal Normal Ausente Normal ou diminuída Normal Normal Tabela 2. Diagnóstico diferencial das causas mais comuns de olho vermelho] 32SÍNDROME DO OLHO VERMELHO 3. SINAIS DE URGÊNCIA A seguir são listados 10 sinais de alerta na síndrome do olho verme- lho a serem obrigatoriamente pesqui- sados à primeira avaliação do pacien- te. Esses são sinais de urgência, pois na maioria dos casos representam doenças que levam a complicações severas e, assim, devem ser excluídas no primeiro momento da consulta. • Dor ocular severa • Perda visual súbita • Exposição química: necessidade de lavagem abundante com soro fisiológico, preferencialmente, ou água antes do encaminhamento ao oftalmologista. • Trauma ocular: urgência oftalmo- lógica com necessidade de atendi- mento rápido. • Presença de corpo estranho • Anormalidades corneanas • Anormalidades da pupila • Cirurgia recente • Olho cronicamente vermelho Pacientes no período pós-operatório recente merecem maior atenção para que um processo inflamatório normal dessa fase seja diferenciado de uma endoftalmite, infecção intra-ocular com elevada taxa de evolução para perda de visão. Quanto ao olho ver- melho crônico, a avaliação oftalmo- lógica especializada é essencial para identificação e tratamento da patolo- gia ocular de base. 33SÍNDROME DO OLHO VERMELHO SINAIS DE URGENCIA Olho seco SÍNDROME DO OLHO VERMELHO Pterígio Blefarite Esclerite Episclerite Ceratites superficiais Uveíte Glaucoma agudo primário Conjuntivites Dor ocular severa ETIOLOGIAS Infecciosa Alérgica Irritativa Relacionada a alterações palpebrais Associada a doenças sistêmicas Ceratites infecciosas Ceratite bacteriana Ceratite fúngica Ceratite viral Perda visual súbita Exposição química Trauma ocular Presença de corpo estranho Anormalidades corneanas Anormalidades da pupila Cirurgia recente Olho cronicamente vermelho A síndrome do olho vermelho trata-se de um conjunto de doenças que podem se manifestar pela hiperemia do olho MAPA MENTAL: RESUMO 34SÍNDROME DO OLHO VERMELHO REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BMJ - Olho vermelho. Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/496/aetiology ALVES RM. Nakashima Y. Tanaka T. Clínica Oftalmológica. Hospital Clínicas - FMUSP. 2013. BOWLING B. Kanski’s Clinical Ophthalmology: A Sistematic Approach. Editora Elsevier. 8a edição. 2016. DS, Jacobs. Overview of the red eye. UptoDate, 2020. 35SÍNDROME DO OLHO VERMELHO
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