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SofrimentoFetal-200323-120501-1587647988


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SUMÁRIO
1. Sofrimento Fetal Agudo .......................................... 3
2. Sofrimento Fetal Crônico ......................................12
Referências Bibliográficas ........................................20
3SOFRIMENTO FETAL
1. SOFRIMENTO FETAL 
AGUDO
Definição
Sofrimento fetal agudo é uma con-
dição que ocorre durante o parto, 
diferentemente do sofrimento fetal 
crônico, que é próprio da gestação 
complicada por insuficiência placen-
tária. Ocorre devido a uma queda 
brusca e intensa das trocas materno-
-fetais, geralmente ocasionada pelas 
contrações uterinas do trabalho de 
parto, e acomete aproximadamente 
2% de todas as gestações. 
Fisiopatologia
As trocas metabólicas existentes en-
tre o sangue materno e o fetal, rea-
lizadas na placenta, são indispen-
sáveis para manter a homeostase 
do concepto. Qualquer fator que su-
bitamente interfira nessas trocas, 
levando o feto a estado transitório ou 
permanente de carência de oxigênio, 
será causa do sofrimento fetal agudo. 
A redução nas trocas materno-fetais 
do tipo aguda é própria do parto em 
que a asfixia decorre da insuficiência 
nas circulações uteroplacentária ou 
feto-placentária.
Durante o parto vaginal, as contrações 
uterinas causam redução temporá-
ria na passagem de sangue materno 
para o feto, reduzindo consequente-
mente a troca de gases. No ápice da 
contração uterina normal, a circulação 
de sangue pelo útero e pela placenta 
está muito reduzida, podendo estar 
totalmente abolida. No entanto, na 
contração fisiológica, essa situação é 
temporária, durando poucos segun-
dos. Quando ocorre o relaxamento 
do útero a pressão miometrial vai de-
crescendo e os vasos sanguíneos vão 
se reabrindo, aumentando de modo 
progressivo o fluxo de sangue. 
SAIBA MAIS! 
O fluxo de sangue materno que chega aos espaços intervilosos, pelos vasos uteroplacentá-
rios, depende da relação entre 2 fatores: Pressão arterial média materna, que é a força que 
impulsiona o sangue, e a resistência encontrada pelo sangue nos vasos uteroplacentá-
rios. Vale salientar que uma contração uterina pode exercer uma pressão intramiometrial en-
tre 80 e 120 mmHg, valores que alcançam ou mesmo ultrapassam a pressão arterial média 
da mãe, o que dificultará a passagem do fluxo sanguíneo.
Após a contração, há recupera-
ção fetal, seguida por perfusão nor-
mal até que ocorra nova contração. 
Se esses mecanismos fisiológicos 
compensatórios forem sobrepuja-
dos, estabelece-se a acidemia hipó-
xica devido a asfixia que, caso ocorra 
com grau e duração suficiente, pode 
4SOFRIMENTO FETAL
ocasionar lesão cerebral com con-
sequentes sequelas neurológicas 
nos bebês sobreviventes, outros da-
nos orgânicos e morte intraparto ou 
neonatal.
Etiologia
A insuficiência uteroplacentária agu-
da, responsável pela hipóxia fetal no 
parto, é consequência da redução ex-
cessiva do afluxo de sangue materno 
para o feto e pode ocorrer devido a 
diversos fatores, entre eles:
• Hipersistolia uterina: nesta situ-
ação a intensidade de cada con-
tração uterina ultrapassa muitas 
vezes o valor da pressão arterial 
média materna, levando a um de-
créscimo circulatório uteroplacen-
tário mais acentuado e de maior 
duração do que se as contrações 
tivessem intensidade normal.
• Taquissistolia uterina: ocorre um 
aumento da frequência das contra-
ções uterinas, com curto intervalo 
de tempo entre elas, reduzindo o 
tempo de circulação sanguínea.
• Hipertonia uterina: há compres-
são persistente sobre os vasos 
sanguíneos, que se mantém entre 
as contrações, levando a uma re-
dução acentuada do consumo de 
sangue pela placenta.
• Hipotensão materna: A hipoten-
são arterial materna diminui a for-
ça que impulsiona o sangue pelos 
vasos uteroplacentários e permite 
maior compressão desses vasos e 
da aorta pelo miométrio, reduzin-
do também o afluxo de sangue à 
placenta. 
SAIBA MAIS!
A hipotensão materna pode ser provocada pela anestesia de condução (raquidiana, peridu-
ral...), por hemorragias ou pelo decúbito dorsal devido a compressão da veia cava inferior e 
da aorta.
• Patologia funicular (circulares, 
nós, procidências e prolapsos): 
o cordão umbilical pode ser com-
primido durante o parto (especial-
mente após a ruptura das mem-
branas), levando ao sofrimento 
fetal agudo.
• Parto prolongado: ocasiona, 
eventualmente, acidose metabó-
lica materna que acaba por com-
prometer o concepto.
5SOFRIMENTO FETAL
Diagnóstico
O diagnóstico do sofrimento fetal in-
traparto é feito por meio da cardio-
tocografia (CTG), da microanálise do 
sangue fetal e da avaliação clínica.
Cardiotocografia
É o registro contínuo da frequência 
cardíaca fetal (FCF) instantânea e da 
contratilidade uterina. No monito-
ramento externo, tanto o transdutor 
para registro das contrações uteri-
nas e dos movimentos fetais, quanto 
o que capta a FCF são colocados no 
ventre materno. 
MAPA MENTAL – ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DO SOFRIMENTO FETAL AGUDO
Taquissistolia 
uterina
Insuficiência 
uteroplacentária aguda
Hipotensão 
materna
Hipertonia 
uterina
Hipersistolia 
uterina
Patologia 
funicular
Parto 
prolongado
Fluxo sanguíneo Fluxo sanguíneo 
materno-fetalmaterno-fetal Asfixia 
Hipóxia fetal
Sofrimento fetal agudo
6SOFRIMENTO FETAL
Figura 1. Transdutores da cardiotocografia. Fonte: Google Imagens
Existem normas para a definição dos 
traçados de frequência cardíaca fetal 
que foram adotadas pelo American 
College of Obstetricians and Gyneco-
logists (ACOG), em 2010. O principal 
objetivo dessas normas é estabelecer 
os padrões da FCF intraparto, pois 
eles informam sobre o estado acido-
básico fetal.
A descrição completa do traçado car-
diotocográfico envolve os seguintes 
parâmetros: contrações uterinas, 
FCF basal, variabilidade da FCF ba-
sal, acelerações e desacelerações. 
• Contrações: o número de con-
trações uterinas é avaliado em 
“janelas” de 10 min e obtida a 
média para 30 min. Considera-
-se como normal a presença de 
até 5 contrações a cada 10 min. 
A taquissistolia é caracterizada 
quando há presença de mais de 5 
contrações em 10 min.
• FCF basal: em suma, os padrões 
da FCF são definidos pelas carac-
terísticas da linha de base, variabi-
lidade, acelerações e desacelera-
ções. A linha de base na qual estão 
inscritas as variações tacométricas 
é denominada FCF basal. Seus li-
mites normais situam-se entre 
110 e 160 bpm. 
• Variabilidade ou oscilação: A 
variabilidade da FCF basal é de-
terminada em janelas de 10 min, 
visualmente levando em conta as 
flutuações da FCF basal em bpm 
e classificadas em: ausente, quan-
do a amplitude não é detectada; 
7SOFRIMENTO FETAL
mínima: amplitude ≤ 5 bpm; mo-
derada: amplitude entre 6 e 25 
bpm; acentuada: amplitude > 25 
bpm. A variabilidade moderada in-
dica ausência de acidemia meta-
bólica fetal. A variabilidade mínima 
ou ausente isoladamente não é in-
dicativo confiável de hipoxemia ou 
acidemia metabólica. O significado 
da variabilidade acentuada (salta-
tória) não está bem esclarecido.
• Acelerações: as acelerações são 
elevações transitórias da FCF 
ocasionadas pelo movimento fe-
tal (MF) ou por sua estimulação e 
pela contratilidade uterina. Repre-
sentam uma resposta do concep-
to sadio ao estímulo e ao estresse. 
A aceleração é o aumento súbito 
da FCF de amplitude ≤ 15 bpm e 
duração ≥ 15 segundos. Antes de 
32 semanas de gestação, a acele-
ração é definida como aumento ≥ 
10 bpm e duração ≥ 10 segundos. 
Nos casos em que o traçado da 
CTG não registrar acelerações, ao 
menos uma, no período de 20 a 40 
minutos, deverá ser realizada esti-
mulação fetal intraparto. Esse sinal 
reflete alta sensibilidade quanto à 
ausência de acidose fetal, atestan-
do a boa vitalidade do concepto.
• Desacelerações: constituem que-
das temporárias da FCF e podem 
ser classificadas em tardia, preco-
ce e variável (ou umbilical), de acor-
do com características específicas. 
As desacelerações precoces têm 
o seu início, máximo de queda e 
recuperação à linha de base coin-
cidindo, respectivamente, com o 
começo,pico e fim da contração 
(Figura 1). A FCF basal associa-
da situa-se nos limites da norma-
lidade. Decorre do estímulo vagal 
consequente à compressão da ca-
beça fetal. Por definição, existe na 
ausência de complicações do cor-
dão umbilical (circulares, nós, pro-
lapsos etc.). As desacelerações 
tardias, ao contrário, têm princípio, 
máximo de queda e recuperação 
retardados em relação ao início, 
pico e fim da contração uterina, 
respectivamente (Figura 1). Para 
a caracterização da desacelera-
ção tardia, é importante também 
analisar o tempo de recuperação 
(maior de 15 segundos) medido 
entre o fim da contração uterina e 
o ponto em que a desaceleração 
retornou à linha de base. São indi-
cativas de asfixia fetal por insufici-
ência uteroplacentária aguda. Nas 
desacelerações variáveis, a forma 
da desaceleração não reflete a da 
contração uterina e as quedas va-
riam de aspecto no correr do tra-
çado (Figura 1). Estão associadas 
à compressão funicular, daí serem 
chamados também de desacele-
rações umbilicais. São fatores pre-
disponentes ao seu aparecimen-
to: circulares do cordão (em torno 
do pescoço, membros, tronco), 
8SOFRIMENTO FETAL
ruptura das membranas, oligo-
dramnia, prolapso, nó, brevidade 
ou inserção velamentosa do cor-
dão e parto pélvico. O intervalo e 
o tempo de recuperação são variá-
veis, o que origina desacelerações 
precoces ou tardias. Apresentam 
tanto componentes de estímulos 
vagais, quanto componentes hi-
poxiantes. As desacelerações são 
classificadas como recorrentes se 
acontecerem em 50% ou mais das 
contrações em uma janela de 20 
minutos. O padrão de FCF sinusoi-
de é definido como ondulação da 
linha de base, com ondas em for-
ma de sino, lisas, com frequência 
de 3 a 5/minuto presentes por 20 
minutos ou mais.
Figura 2. Os 3 tipos de desacelerações. A. precoce. B. tardia. C. variável. Fonte: Rezende Obstetrícia, 2017.
Após realizada a avaliação do traça-
do de FCF, a partir das características 
citadas acima, devemos classificá-las 
em categorias, as quais irão orientar 
a conduta. O sistema de classificação 
dos traçados de FCF intraparto é di-
vido em 3 categorias hierarquizadas: 
categoria I (normal), categoria II (inde-
terminada) e categoria III (anormal) de 
acordo com os seguintes critérios:
9SOFRIMENTO FETAL
CATEGORIA I CATEGORIA II CATEGORIA III
Todos os critérios:
• FCF basal: 110 a 160 
bpm
• Variabilidade moderada 
(6 a 25 bpm)
• Ausência de desacelera-
ção variável/tardia
• Desaceleração precoce 
ausente/presente
• Aceleração presente/
ausente
• Critérios não enquadra-
dos em I e III
Variabilidade ausente e 
qualquer um dos seguintes:
• Desacelerações tardias 
repetidas (≥50%)
• Desacelerações variáveis 
repetidas (≥50%)
• Padrão sinusoide 
Microanálise do Sangue Fetal
Este exame está em desuso por ser 
muito invasivo. A microgota, obtida 
por meio de incisão realizada na apre-
sentação fetal, geralmente no couro 
cabeludo do feto, permite diagnosti-
car as alterações metabólicas carac-
terizadas por hipóxia, hipercapnia e 
acidose.
É contraindicado em pacientes com 
história familiar de hemofilia, suspei-
ta de anomalia de coagulação fetal 
(ex., trombocitopenia), apresentação 
de face ou infecção materna (HIV, he-
patites virais, herpes ou suspeita de 
corioamnionite).
Nos casos de pH ≥ 7,25, a microanáli-
se deve ser repetida se persistir o tra-
çado cardiotográfico anormal. Entre 
7,21 e 7,24, pode-se repetir a micro-
análise ou ultimar-se o parto no caso 
de queda importante do pH. Caso o 
pH seja ≥ 7,20, a gestação deverá 
ser interrompida e o parto deverá ser 
imediato.
Avaliação Clínica
• Ausculta: representa o principal 
parâmetro clínico a ser emprega-
do visando perceber o sofrimento 
fetal intraparto. Deve ser realiza-
da, no período de dilatação, a cada 
30 minutos em pacientes de bai-
xo risco e a cada 15 minutos na-
quelas de alto risco. No período 
expulsivo esses intervalos serão, 
respectivamente, de 15 e 5 minu-
tos. É importante que a ausculta 
seja feita antes, durante e após o 
fim da contração por prazo de 30 
a 60 segundos. Bradicardia per-
sistente (desaceleração tardia ou 
umbilical) ocorre quando a FCF 
for menor de 110 bpm durante 
ao menos 10 minutos, sinalizando 
sofrimento fetal agudo, bem como 
10SOFRIMENTO FETAL
os casos de taquicardia, estando a 
FCF acima de 160 bpm nas mes-
mas condições. 
SE LIGA! Nos casos de anestesia de 
condução (raquidiana, peridural), reco-
menda-se que a auscultação clínica seja 
realizada com maior frequência - a cada 
5 minutos - devido ao risco iminente de 
hipotensão arterial e diminuição da per-
fusão uteroplacentária.
• Mecônio: pode ou não estar as-
sociado a alterações patológicas 
da FCF em fetos em apresentação 
cefálica, podendo representar um 
sinal de sofrimento fetal.
• Síndrome de aspiração meconial 
(SAM): no passado estava relacio-
nada à asfixia fetal intraparto, hoje 
sabemos que pode decorrer de ou-
tros fatores antenatais, como asfi-
xia crônica e infecções congênitas.
MAPA MENTAL – DIAGNÓSTICO DE SOFRIMENTO FETAL AGUDO
Classificação
Diagnóstico 
Sofrimento 
Fetal Agudo
Microanálise do Sangue Fetal
Contrações uterinas
Avaliação ClínicaCardiotocografia
Acelerações
FCF basal
Desacelerações
Variabilidade
Categoria 
I
Categoria 
II
Categoria 
III
Microanálise do 
Sangue Fetal
pH
Ausculta
Mecônio
11SOFRIMENTO FETAL
Conduta
Pensando em profilaxia do sofrimen-
to fetal agudo, o Centro Latino-ame-
ricano de Perinatologia e Desenvolvi-
mento Humano (CLAP) recomenda:
• Evitar o rompimento artificial de 
membranas; 
• Não acelerar o parto que progride 
normalmente;
• Só utilizar a ocitocina quando a 
evolução do parto se detém ou se 
retarda por motivo de deficiência 
na contratilidade uterina;
• Não induzir o parto eletivamente;
• Se houver indicação médica para a 
indução do parto, convém utilizar a 
menor dose de ocitócico capaz de 
fazê-lo iniciar e progredir;
• Monitorar todos os partos 
induzidos;
• Monitorar todos os partos em ges-
tação de alto-risco.
Após o diagnóstico de sofrimento fe-
tal agudo, algumas medidas de reani-
mação intraútero são recomendadas 
de acordo com sua origem fisiopato-
lógica: oxigenação materna, hidrata-
ção intravenosa, reposicionamento 
materno, descontinuação da ocitoci-
na (especialmente na taquissistolia 
uterina, > 5 contrações/10 min), ad-
ministração de tocolítico, amnioinfu-
são, elevação da apresentação fetal.
Os objetivos da reanimação intraute-
rina são reverter qualquer hipóxia que 
possa levar à deterioração adicional 
ou pelo menos evitar períodos de pa-
drões tacométricos indeterminados 
ou anormais que possam ocasionar 
condutas desnecessárias. 
As condutas de reanimação intrapar-
to necessárias podem ser determina-
das levando-se em conta a classifica-
ção dos traçados da FCF encontrados 
na CTG:
12SOFRIMENTO FETAL
SAIBA MAIS!
Tais medidas de reanimação estão sendo questionadas atualmente, e foram criticadas na 
revisão de Bullens et al. (2015). Os procedimentos considerados verdadeiramente efetivos 
foram a tocólise e o reposicionamento materno; a hiperoxigenação e a amnioinfusão neces-
sitam ainda de comprovação.
2. SOFRIMENTO FETAL 
CRÔNICO
Definição
O sofrimento fetal crônico é mani-
festado como um crescimento in-
trauterino restrito (CIUR), que é uma 
MAPA MENTAL – CONDUTAS 
Categoria III 
da CTG
Categoria II 
da CTG
Categoria I 
da CTG
-Aceleração 
presente
-Variabilidade 
moderada (6-25 
bpm)
Continuar 
avaliação
Avaliar 
possibilidade 
de parto
-Aceleração 
ausente
-Variabilidade 
ausente/mínima 
(<5 bpm) 
Reanimação 
intrauterina
Preparar 
para o parto
Preparar 
para o parto
Reanimação 
intrauterinaReanimação 
intrauterina
Reanimação 
intrauterina
Reanimação 
intrauterina
Se não 
melhorar 
 => parto
Se não 
melhorar 
 => parto
Se não 
melhorar 
 => parto
importante entidade mórbida em obs-
tetrícia, apresentando uma taxa de 
mortalidade perinatal 10 vezes maior 
do que em conceptos normais. Os fe-
tosque sobrevivem estão propensos 
a maior morbidade neonatal imediata 
por hipóxia, síndrome de aspiração de 
13SOFRIMENTO FETAL
mecônio, hipoglicemia. Além de com-
plicações tardias, como retardo no 
neurodesenvolvimento, paralisia ce-
rebral, diabetes tipo 2 e hipertensão 
arterial sistêmica na vida adulta.
CIUR é caracterizado por fetos com 
peso estimado inferior ao 10º percen-
til para a idade gestacional. Pode ser 
dividido em dois grupos: simétrico e 
assimétrico, que apresentam diferen-
ças clínicas:
O padrão simétrico é caracterizado 
por pequenas dimensões de cabeça 
e abdome e indica insulto intrínse-
co, precoce, comprometendo o cres-
cimento fetal, sendo determinado por 
anomalias estruturais e cromossômi-
cas, infecções, drogas ilícitas e álco-
ol. O crescimento é simétrico porque 
ocorreu no momento em que o feto se 
desenvolvia por divisão celular.
O CIUR assimétrico, por sua vez, 
é uma consequência de fatores 
extrínsecos, frequentemente relacio-
nados à disponibilidade inadequada 
de substratos para o metabolismo 
fetal. Nesse padrão, a cabeça tem di-
mensões preservadas, mas o abdome 
está reduzido pelo menor tamanho 
do fígado e pela escassez de tecido 
adiposo abdominal. Mais comumen-
te, o distúrbio que limita o aporte de 
substratos para o feto é a insuficiên-
cia placentária por doença vascular 
materna responsável pela perfusão 
uteroplacentária deficiente.
SE LIGA! No CIUR simétrico, a circunfe-
rência cefálica (CC), a circunferência ab-
dominal (CA) e o comprimento do fêmur 
(CF) estão todos reduzidos. No CIUR as-
simétrico, a CC continua a crescer apro-
priadamente para a idade gestacional, 
enquanto a CA e o CF não a acompa-
nham. Essa assimetria torna-se pronun-
ciada após 28 semanas.
14SOFRIMENTO FETAL
Etiologia
As causas do CIUR podem ser di-
vididas em fetais, placentárias e 
maternas:
Fetais
• Anormalidades estruturais e cro-
mossomiais fetais: O CIUR é mais 
comum na trissomia do cromosso-
mo 18 (Síndrome de Edwards) e na 
triploidia, mas também ocorre nas 
trissomias 13 (síndrome de Patau) 
e 21 (síndrome de Down). Pode 
decorrer também de anomalia de 
replicação celular, bem como de 
defeitos metabólicos e vasculares 
da placenta aneuplóidica. Fetos 
com malformações estruturais e 
cariótipo normal também podem 
exibir CIUR. Anomalias comumen-
te associadas são: defeitos cardí-
acos, agenesia renal, gastrosquise, 
displasia esquelética, anencefalia.
• Infecções congênitas: Quando 
atingem o concepto de até 16 a 20 
semanas, as infecções congênitas 
levam a CIUR simétrico. As infec-
ções habitualmente associadas 
são citomegalovírus (CMV), toxo-
plasmose, sífilis e malária.
MAPA MENTAL – DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO
Causa intrínseca, 
precoce
Anomalias 
cromossômicas Infecções
Anomalias 
estruturais
Drogas ilícitas 
e álcool
CIUR simétrico
Causa extrínseca, tardia
Disponibilidade 
inadequada de 
substratos
CIUR simétrico
15SOFRIMENTO FETAL
• Gravidez gemelar: No geral, a 
taxa de crescimento de gêmeos é 
igual à de fetos de gravidez única 
até 32 semanas; após essa data, 
o crescimento fetal em gemela-
res difere de maneira significati-
va, provavelmente em virtude da 
insuficiência relativa da placenta. 
O CIUR pode ocorrer tanto na em 
gestações monocoriônica, quanto 
nas dicoriônicas, mas é mais co-
mum e grave nas monocoriônicas. 
O CIUR seletivo (diferença de peso 
> 20% entre os gêmeos) incide em 
um quarto a um terço das gesta-
ções gemelares, especialmente 
nas múltiplas.
Placentárias
• Insuficiência placentária: O CIUR 
está incluído nas Grandes Síndro-
mes Obstétricas, caracterizadas 
por remodelação placentária de-
feituosa das artérias espiraladas; 
há placentação defeituosa, mas 
a grávida não desenvolve disfun-
ção endotelial como na toxemia. O 
CIUR placentário é hoje, como ve-
remos adiante, dividido em CIUR 
placentário precoce e tardio, o que 
tem aplicações no diagnóstico e na 
avaliação anteparto.
• Anormalidades estruturais: A 
associação da placenta ao CIUR 
é primária, predispondo as anor-
malidades estruturais à implanta-
ção defeituosa, que reduz o fluxo 
umbilical ou diminui a superfície de 
trocas. As alterações estruturais 
placentárias mais importantes são: 
placenta pequena, placenta prévia, 
placenta circunvalada, inserção 
velamentosa do cordão, corioan-
gioma e artéria umbilical única.
Maternas
• Má nutrição: Se for muito grave 
pode levar a CIUR. 
• Doença vascular: Está associa-
da à diminuição da perfusão ute-
roplacentária e representa 20 a 
30% de todos os fetos com CIUR. 
As afecções mais frequentes são 
pré-eclâmpsia grave/precoce (< 
34 semanas), hipertensão crônica 
com pré-eclâmpsia superajunta-
da, doença renal crônica e doença 
vascular do colágeno. 
• Trombofilias: especialmente a sín-
drome antifosfolipídio (SAF), que 
está associada a diversas compli-
cações na gravidez, como trombose 
vascular, perda fetal, abortamento, 
pré-eclâmpsia, parto pré-termo.
• Estilo de vida e uso abusivo de 
substâncias: O tabagismo mater-
no pode diminuir o peso fetal em 
135 a 300g. Consumo de cafeína 
≥ 300 mg/dia no 3º trimestre, dro-
gas como cocaína, heroína e álcool, 
e fármacos como anticonvulsivan-
tes e varfarina também podem de-
terminar CIUR.
16SOFRIMENTO FETAL
Diagnóstico
História
Todas as mulheres na primeira consul-
ta pré-natal devem ser avaliadas para 
fatores de risco de CIUR (Tabela 1). 
MAPA MENTAL - ETIOLOGIA DO SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO
Etiologia CIUR
Causas placentárias
Anomalias cromossômicas
Causas placentáriasCausas fetais
Anomalias estruturais
Gemelaridade
Infecções congênitas
Insuficiência placentária
Anormalidades estruturais
Má nutrição
Uso abusivo de substâncias
Doença vascular
Trombofilias
Aquelas com fatores de risco maiores 
devem ser referidas para a mensura-
ção seriada da CA e a realização do 
Doppler da artéria umbilical, a partir 
de 20 a 24 semanas.
Idade materna >40 anos Exercício vigoroso diário
Baixo ganho de peso materno História prévia de CIUR
Mãe e pai nascidos com CIUR História de natimorto
Tabagismo Hipertensão crônica
Uso de cocaína Diabetes com complicação vascular
Doença renal com hipertensão SAF
Hemorragia Intestino hiperecogênico
Tabela 1. Fatores de risco maiores para crescimento intrauterino restrito. Fonte: Rezende Obstetrícia, 2017.
17SOFRIMENTO FETAL
Medida do fundo do útero
A medida do fundo do útero (entre 24 
e 38 semanas) se aproxima da idade 
gestacional e é utilizada para rastre-
ar o crescimento fetal menor que o 
percentil 10. A medida do fundo do 
útero deve ser realizada a cada visita 
pré-natal a partir de 20 a 24 sema-
nas. Uma discrepância entre a idade 
gestacional em semanas e a medida 
do fundo do útero maior do que 3 tem 
sido proposta para identificar o feto 
com CIUR.
Biometria fetal
A CA e o peso fetal estimado (PFE) 
são as medidas mais precisas para 
o diagnóstico do CIUR. Fala-se em 
CIUR quando a CA ou o PFE são 
< percentil 10. Quando indicada a 
avaliação seriada do crescimento fe-
tal, essas medidas devem ser feitas 
em intervalos de 3 semanas.
Doppler de artéria uterina
Pacientes com Doppler anormal das 
artérias uterinas entre 20 e 24 sema-
nas (definido como índice de resistên-
cia [RI] > 0,58, índice de pulsatilidade 
[PI] > 1,45 ou incisura bilateral) devem 
ser referidas para avaliação seriada 
ultrassonográfica do crescimento fe-
tal pela CA e do seu bem-estar pelo 
Doppler da artéria umbilical, a partir 
de 20 a 24 semanas.
MAPA MENTAL - DIAGNÓSTICO DO SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO
Medida do fundo 
do útero
Diagnóstico 
CIUR
Fatores de risco Biometria fetal Doppler de artéria uterina
18SOFRIMENTO FETAL
Tratamento
Trabalhos de metanálise mostraram 
que a profilaxia com ácido acetilsalicí-
lico em baixa dose utilizada entre 8 e 
16 semanas foi capaz de reduzir a in-
cidência de CIUR em 50%, a de par-
to pré-termo em 60% e a mortalida-
de perinatal em 60%. Pacientes com 
história prévia de CIUR e com alto 
risco para pré-eclâmpsia também de-vem fazer uso de ácido acetilsalicílico 
com início entre 12 e 16 semanas. Em 
casos de SAF, a associação de ácido 
acetilsalicílico com heparina de baixo 
peso molecular seria eficiente para 
aumentar o peso do feto.
Em casos de CIUR placentário preco-
ce, a administração de nitroglicerina 
transdérmica e de citrato de sildenafil 
esteve associada à redução do PI das 
artérias uterina e umbilical e da pres-
são arterial materna. Um fármaco que 
melhore a hemodinâmica materna e 
fetal no cenário do CIUR precoce po-
deria trazer benefícios a essa condi-
ção ominosa.
O melhor método para interromper 
a gestação com CIUR é a operação 
cesariana. Quando não houver sofri-
mento fetal, é permitido o parto va-
ginal, desde que sempre monitorado. 
Durante o parto, 50% dos fetos com 
CIUR exibem traçados cardiotocográ-
ficos anormais, especialmente desa-
celerações umbilicais. Não se acon-
selha a indução no alto risco.
19SOFRIMENTO FETAL
MAPA MENTAL GERAL
Hipersistolia uterina
Sofrimento Fetal
Taquissistolia uterina
Hipertonia uterina
Hipotensão materna
Patologia funicular
Parto prolongado
Simétrico
Assimétrico
Fetais
Placentárias
Maternas
Medida do fundo 
uterino
Biometria Fetal
Doppler da Artéria 
Uterina
Principais etiologias
Classificação
Etiologia
Diagnóstico
Crônico: Crescimento 
Intrauterino Restrito 
(CIUR) 
Agudo
Acomete cerca de 2% das gestações
Secundário a uma queda brusca e 
intensa das trocas materno-fetais
Condição que ocorre durante o parto
20SOFRIMENTO FETAL
REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS 
Carlos Antonio Barbosa Montenegro, Jorge de Rezende Filho. Rezende obstetrícia. 13. ed. 
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
F. Gary Cunningham et al. Obstetrícia de Williams. Tradução: Ademar Valadares Fonseca 
et al. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
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