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SUMÁRIO 1. Sofrimento Fetal Agudo .......................................... 3 2. Sofrimento Fetal Crônico ......................................12 Referências Bibliográficas ........................................20 3SOFRIMENTO FETAL 1. SOFRIMENTO FETAL AGUDO Definição Sofrimento fetal agudo é uma con- dição que ocorre durante o parto, diferentemente do sofrimento fetal crônico, que é próprio da gestação complicada por insuficiência placen- tária. Ocorre devido a uma queda brusca e intensa das trocas materno- -fetais, geralmente ocasionada pelas contrações uterinas do trabalho de parto, e acomete aproximadamente 2% de todas as gestações. Fisiopatologia As trocas metabólicas existentes en- tre o sangue materno e o fetal, rea- lizadas na placenta, são indispen- sáveis para manter a homeostase do concepto. Qualquer fator que su- bitamente interfira nessas trocas, levando o feto a estado transitório ou permanente de carência de oxigênio, será causa do sofrimento fetal agudo. A redução nas trocas materno-fetais do tipo aguda é própria do parto em que a asfixia decorre da insuficiência nas circulações uteroplacentária ou feto-placentária. Durante o parto vaginal, as contrações uterinas causam redução temporá- ria na passagem de sangue materno para o feto, reduzindo consequente- mente a troca de gases. No ápice da contração uterina normal, a circulação de sangue pelo útero e pela placenta está muito reduzida, podendo estar totalmente abolida. No entanto, na contração fisiológica, essa situação é temporária, durando poucos segun- dos. Quando ocorre o relaxamento do útero a pressão miometrial vai de- crescendo e os vasos sanguíneos vão se reabrindo, aumentando de modo progressivo o fluxo de sangue. SAIBA MAIS! O fluxo de sangue materno que chega aos espaços intervilosos, pelos vasos uteroplacentá- rios, depende da relação entre 2 fatores: Pressão arterial média materna, que é a força que impulsiona o sangue, e a resistência encontrada pelo sangue nos vasos uteroplacentá- rios. Vale salientar que uma contração uterina pode exercer uma pressão intramiometrial en- tre 80 e 120 mmHg, valores que alcançam ou mesmo ultrapassam a pressão arterial média da mãe, o que dificultará a passagem do fluxo sanguíneo. Após a contração, há recupera- ção fetal, seguida por perfusão nor- mal até que ocorra nova contração. Se esses mecanismos fisiológicos compensatórios forem sobrepuja- dos, estabelece-se a acidemia hipó- xica devido a asfixia que, caso ocorra com grau e duração suficiente, pode 4SOFRIMENTO FETAL ocasionar lesão cerebral com con- sequentes sequelas neurológicas nos bebês sobreviventes, outros da- nos orgânicos e morte intraparto ou neonatal. Etiologia A insuficiência uteroplacentária agu- da, responsável pela hipóxia fetal no parto, é consequência da redução ex- cessiva do afluxo de sangue materno para o feto e pode ocorrer devido a diversos fatores, entre eles: • Hipersistolia uterina: nesta situ- ação a intensidade de cada con- tração uterina ultrapassa muitas vezes o valor da pressão arterial média materna, levando a um de- créscimo circulatório uteroplacen- tário mais acentuado e de maior duração do que se as contrações tivessem intensidade normal. • Taquissistolia uterina: ocorre um aumento da frequência das contra- ções uterinas, com curto intervalo de tempo entre elas, reduzindo o tempo de circulação sanguínea. • Hipertonia uterina: há compres- são persistente sobre os vasos sanguíneos, que se mantém entre as contrações, levando a uma re- dução acentuada do consumo de sangue pela placenta. • Hipotensão materna: A hipoten- são arterial materna diminui a for- ça que impulsiona o sangue pelos vasos uteroplacentários e permite maior compressão desses vasos e da aorta pelo miométrio, reduzin- do também o afluxo de sangue à placenta. SAIBA MAIS! A hipotensão materna pode ser provocada pela anestesia de condução (raquidiana, peridu- ral...), por hemorragias ou pelo decúbito dorsal devido a compressão da veia cava inferior e da aorta. • Patologia funicular (circulares, nós, procidências e prolapsos): o cordão umbilical pode ser com- primido durante o parto (especial- mente após a ruptura das mem- branas), levando ao sofrimento fetal agudo. • Parto prolongado: ocasiona, eventualmente, acidose metabó- lica materna que acaba por com- prometer o concepto. 5SOFRIMENTO FETAL Diagnóstico O diagnóstico do sofrimento fetal in- traparto é feito por meio da cardio- tocografia (CTG), da microanálise do sangue fetal e da avaliação clínica. Cardiotocografia É o registro contínuo da frequência cardíaca fetal (FCF) instantânea e da contratilidade uterina. No monito- ramento externo, tanto o transdutor para registro das contrações uteri- nas e dos movimentos fetais, quanto o que capta a FCF são colocados no ventre materno. MAPA MENTAL – ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DO SOFRIMENTO FETAL AGUDO Taquissistolia uterina Insuficiência uteroplacentária aguda Hipotensão materna Hipertonia uterina Hipersistolia uterina Patologia funicular Parto prolongado Fluxo sanguíneo Fluxo sanguíneo materno-fetalmaterno-fetal Asfixia Hipóxia fetal Sofrimento fetal agudo 6SOFRIMENTO FETAL Figura 1. Transdutores da cardiotocografia. Fonte: Google Imagens Existem normas para a definição dos traçados de frequência cardíaca fetal que foram adotadas pelo American College of Obstetricians and Gyneco- logists (ACOG), em 2010. O principal objetivo dessas normas é estabelecer os padrões da FCF intraparto, pois eles informam sobre o estado acido- básico fetal. A descrição completa do traçado car- diotocográfico envolve os seguintes parâmetros: contrações uterinas, FCF basal, variabilidade da FCF ba- sal, acelerações e desacelerações. • Contrações: o número de con- trações uterinas é avaliado em “janelas” de 10 min e obtida a média para 30 min. Considera- -se como normal a presença de até 5 contrações a cada 10 min. A taquissistolia é caracterizada quando há presença de mais de 5 contrações em 10 min. • FCF basal: em suma, os padrões da FCF são definidos pelas carac- terísticas da linha de base, variabi- lidade, acelerações e desacelera- ções. A linha de base na qual estão inscritas as variações tacométricas é denominada FCF basal. Seus li- mites normais situam-se entre 110 e 160 bpm. • Variabilidade ou oscilação: A variabilidade da FCF basal é de- terminada em janelas de 10 min, visualmente levando em conta as flutuações da FCF basal em bpm e classificadas em: ausente, quan- do a amplitude não é detectada; 7SOFRIMENTO FETAL mínima: amplitude ≤ 5 bpm; mo- derada: amplitude entre 6 e 25 bpm; acentuada: amplitude > 25 bpm. A variabilidade moderada in- dica ausência de acidemia meta- bólica fetal. A variabilidade mínima ou ausente isoladamente não é in- dicativo confiável de hipoxemia ou acidemia metabólica. O significado da variabilidade acentuada (salta- tória) não está bem esclarecido. • Acelerações: as acelerações são elevações transitórias da FCF ocasionadas pelo movimento fe- tal (MF) ou por sua estimulação e pela contratilidade uterina. Repre- sentam uma resposta do concep- to sadio ao estímulo e ao estresse. A aceleração é o aumento súbito da FCF de amplitude ≤ 15 bpm e duração ≥ 15 segundos. Antes de 32 semanas de gestação, a acele- ração é definida como aumento ≥ 10 bpm e duração ≥ 10 segundos. Nos casos em que o traçado da CTG não registrar acelerações, ao menos uma, no período de 20 a 40 minutos, deverá ser realizada esti- mulação fetal intraparto. Esse sinal reflete alta sensibilidade quanto à ausência de acidose fetal, atestan- do a boa vitalidade do concepto. • Desacelerações: constituem que- das temporárias da FCF e podem ser classificadas em tardia, preco- ce e variável (ou umbilical), de acor- do com características específicas. As desacelerações precoces têm o seu início, máximo de queda e recuperação à linha de base coin- cidindo, respectivamente, com o começo,pico e fim da contração (Figura 1). A FCF basal associa- da situa-se nos limites da norma- lidade. Decorre do estímulo vagal consequente à compressão da ca- beça fetal. Por definição, existe na ausência de complicações do cor- dão umbilical (circulares, nós, pro- lapsos etc.). As desacelerações tardias, ao contrário, têm princípio, máximo de queda e recuperação retardados em relação ao início, pico e fim da contração uterina, respectivamente (Figura 1). Para a caracterização da desacelera- ção tardia, é importante também analisar o tempo de recuperação (maior de 15 segundos) medido entre o fim da contração uterina e o ponto em que a desaceleração retornou à linha de base. São indi- cativas de asfixia fetal por insufici- ência uteroplacentária aguda. Nas desacelerações variáveis, a forma da desaceleração não reflete a da contração uterina e as quedas va- riam de aspecto no correr do tra- çado (Figura 1). Estão associadas à compressão funicular, daí serem chamados também de desacele- rações umbilicais. São fatores pre- disponentes ao seu aparecimen- to: circulares do cordão (em torno do pescoço, membros, tronco), 8SOFRIMENTO FETAL ruptura das membranas, oligo- dramnia, prolapso, nó, brevidade ou inserção velamentosa do cor- dão e parto pélvico. O intervalo e o tempo de recuperação são variá- veis, o que origina desacelerações precoces ou tardias. Apresentam tanto componentes de estímulos vagais, quanto componentes hi- poxiantes. As desacelerações são classificadas como recorrentes se acontecerem em 50% ou mais das contrações em uma janela de 20 minutos. O padrão de FCF sinusoi- de é definido como ondulação da linha de base, com ondas em for- ma de sino, lisas, com frequência de 3 a 5/minuto presentes por 20 minutos ou mais. Figura 2. Os 3 tipos de desacelerações. A. precoce. B. tardia. C. variável. Fonte: Rezende Obstetrícia, 2017. Após realizada a avaliação do traça- do de FCF, a partir das características citadas acima, devemos classificá-las em categorias, as quais irão orientar a conduta. O sistema de classificação dos traçados de FCF intraparto é di- vido em 3 categorias hierarquizadas: categoria I (normal), categoria II (inde- terminada) e categoria III (anormal) de acordo com os seguintes critérios: 9SOFRIMENTO FETAL CATEGORIA I CATEGORIA II CATEGORIA III Todos os critérios: • FCF basal: 110 a 160 bpm • Variabilidade moderada (6 a 25 bpm) • Ausência de desacelera- ção variável/tardia • Desaceleração precoce ausente/presente • Aceleração presente/ ausente • Critérios não enquadra- dos em I e III Variabilidade ausente e qualquer um dos seguintes: • Desacelerações tardias repetidas (≥50%) • Desacelerações variáveis repetidas (≥50%) • Padrão sinusoide Microanálise do Sangue Fetal Este exame está em desuso por ser muito invasivo. A microgota, obtida por meio de incisão realizada na apre- sentação fetal, geralmente no couro cabeludo do feto, permite diagnosti- car as alterações metabólicas carac- terizadas por hipóxia, hipercapnia e acidose. É contraindicado em pacientes com história familiar de hemofilia, suspei- ta de anomalia de coagulação fetal (ex., trombocitopenia), apresentação de face ou infecção materna (HIV, he- patites virais, herpes ou suspeita de corioamnionite). Nos casos de pH ≥ 7,25, a microanáli- se deve ser repetida se persistir o tra- çado cardiotográfico anormal. Entre 7,21 e 7,24, pode-se repetir a micro- análise ou ultimar-se o parto no caso de queda importante do pH. Caso o pH seja ≥ 7,20, a gestação deverá ser interrompida e o parto deverá ser imediato. Avaliação Clínica • Ausculta: representa o principal parâmetro clínico a ser emprega- do visando perceber o sofrimento fetal intraparto. Deve ser realiza- da, no período de dilatação, a cada 30 minutos em pacientes de bai- xo risco e a cada 15 minutos na- quelas de alto risco. No período expulsivo esses intervalos serão, respectivamente, de 15 e 5 minu- tos. É importante que a ausculta seja feita antes, durante e após o fim da contração por prazo de 30 a 60 segundos. Bradicardia per- sistente (desaceleração tardia ou umbilical) ocorre quando a FCF for menor de 110 bpm durante ao menos 10 minutos, sinalizando sofrimento fetal agudo, bem como 10SOFRIMENTO FETAL os casos de taquicardia, estando a FCF acima de 160 bpm nas mes- mas condições. SE LIGA! Nos casos de anestesia de condução (raquidiana, peridural), reco- menda-se que a auscultação clínica seja realizada com maior frequência - a cada 5 minutos - devido ao risco iminente de hipotensão arterial e diminuição da per- fusão uteroplacentária. • Mecônio: pode ou não estar as- sociado a alterações patológicas da FCF em fetos em apresentação cefálica, podendo representar um sinal de sofrimento fetal. • Síndrome de aspiração meconial (SAM): no passado estava relacio- nada à asfixia fetal intraparto, hoje sabemos que pode decorrer de ou- tros fatores antenatais, como asfi- xia crônica e infecções congênitas. MAPA MENTAL – DIAGNÓSTICO DE SOFRIMENTO FETAL AGUDO Classificação Diagnóstico Sofrimento Fetal Agudo Microanálise do Sangue Fetal Contrações uterinas Avaliação ClínicaCardiotocografia Acelerações FCF basal Desacelerações Variabilidade Categoria I Categoria II Categoria III Microanálise do Sangue Fetal pH Ausculta Mecônio 11SOFRIMENTO FETAL Conduta Pensando em profilaxia do sofrimen- to fetal agudo, o Centro Latino-ame- ricano de Perinatologia e Desenvolvi- mento Humano (CLAP) recomenda: • Evitar o rompimento artificial de membranas; • Não acelerar o parto que progride normalmente; • Só utilizar a ocitocina quando a evolução do parto se detém ou se retarda por motivo de deficiência na contratilidade uterina; • Não induzir o parto eletivamente; • Se houver indicação médica para a indução do parto, convém utilizar a menor dose de ocitócico capaz de fazê-lo iniciar e progredir; • Monitorar todos os partos induzidos; • Monitorar todos os partos em ges- tação de alto-risco. Após o diagnóstico de sofrimento fe- tal agudo, algumas medidas de reani- mação intraútero são recomendadas de acordo com sua origem fisiopato- lógica: oxigenação materna, hidrata- ção intravenosa, reposicionamento materno, descontinuação da ocitoci- na (especialmente na taquissistolia uterina, > 5 contrações/10 min), ad- ministração de tocolítico, amnioinfu- são, elevação da apresentação fetal. Os objetivos da reanimação intraute- rina são reverter qualquer hipóxia que possa levar à deterioração adicional ou pelo menos evitar períodos de pa- drões tacométricos indeterminados ou anormais que possam ocasionar condutas desnecessárias. As condutas de reanimação intrapar- to necessárias podem ser determina- das levando-se em conta a classifica- ção dos traçados da FCF encontrados na CTG: 12SOFRIMENTO FETAL SAIBA MAIS! Tais medidas de reanimação estão sendo questionadas atualmente, e foram criticadas na revisão de Bullens et al. (2015). Os procedimentos considerados verdadeiramente efetivos foram a tocólise e o reposicionamento materno; a hiperoxigenação e a amnioinfusão neces- sitam ainda de comprovação. 2. SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO Definição O sofrimento fetal crônico é mani- festado como um crescimento in- trauterino restrito (CIUR), que é uma MAPA MENTAL – CONDUTAS Categoria III da CTG Categoria II da CTG Categoria I da CTG -Aceleração presente -Variabilidade moderada (6-25 bpm) Continuar avaliação Avaliar possibilidade de parto -Aceleração ausente -Variabilidade ausente/mínima (<5 bpm) Reanimação intrauterina Preparar para o parto Preparar para o parto Reanimação intrauterinaReanimação intrauterina Reanimação intrauterina Reanimação intrauterina Se não melhorar => parto Se não melhorar => parto Se não melhorar => parto importante entidade mórbida em obs- tetrícia, apresentando uma taxa de mortalidade perinatal 10 vezes maior do que em conceptos normais. Os fe- tosque sobrevivem estão propensos a maior morbidade neonatal imediata por hipóxia, síndrome de aspiração de 13SOFRIMENTO FETAL mecônio, hipoglicemia. Além de com- plicações tardias, como retardo no neurodesenvolvimento, paralisia ce- rebral, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial sistêmica na vida adulta. CIUR é caracterizado por fetos com peso estimado inferior ao 10º percen- til para a idade gestacional. Pode ser dividido em dois grupos: simétrico e assimétrico, que apresentam diferen- ças clínicas: O padrão simétrico é caracterizado por pequenas dimensões de cabeça e abdome e indica insulto intrínse- co, precoce, comprometendo o cres- cimento fetal, sendo determinado por anomalias estruturais e cromossômi- cas, infecções, drogas ilícitas e álco- ol. O crescimento é simétrico porque ocorreu no momento em que o feto se desenvolvia por divisão celular. O CIUR assimétrico, por sua vez, é uma consequência de fatores extrínsecos, frequentemente relacio- nados à disponibilidade inadequada de substratos para o metabolismo fetal. Nesse padrão, a cabeça tem di- mensões preservadas, mas o abdome está reduzido pelo menor tamanho do fígado e pela escassez de tecido adiposo abdominal. Mais comumen- te, o distúrbio que limita o aporte de substratos para o feto é a insuficiên- cia placentária por doença vascular materna responsável pela perfusão uteroplacentária deficiente. SE LIGA! No CIUR simétrico, a circunfe- rência cefálica (CC), a circunferência ab- dominal (CA) e o comprimento do fêmur (CF) estão todos reduzidos. No CIUR as- simétrico, a CC continua a crescer apro- priadamente para a idade gestacional, enquanto a CA e o CF não a acompa- nham. Essa assimetria torna-se pronun- ciada após 28 semanas. 14SOFRIMENTO FETAL Etiologia As causas do CIUR podem ser di- vididas em fetais, placentárias e maternas: Fetais • Anormalidades estruturais e cro- mossomiais fetais: O CIUR é mais comum na trissomia do cromosso- mo 18 (Síndrome de Edwards) e na triploidia, mas também ocorre nas trissomias 13 (síndrome de Patau) e 21 (síndrome de Down). Pode decorrer também de anomalia de replicação celular, bem como de defeitos metabólicos e vasculares da placenta aneuplóidica. Fetos com malformações estruturais e cariótipo normal também podem exibir CIUR. Anomalias comumen- te associadas são: defeitos cardí- acos, agenesia renal, gastrosquise, displasia esquelética, anencefalia. • Infecções congênitas: Quando atingem o concepto de até 16 a 20 semanas, as infecções congênitas levam a CIUR simétrico. As infec- ções habitualmente associadas são citomegalovírus (CMV), toxo- plasmose, sífilis e malária. MAPA MENTAL – DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO Causa intrínseca, precoce Anomalias cromossômicas Infecções Anomalias estruturais Drogas ilícitas e álcool CIUR simétrico Causa extrínseca, tardia Disponibilidade inadequada de substratos CIUR simétrico 15SOFRIMENTO FETAL • Gravidez gemelar: No geral, a taxa de crescimento de gêmeos é igual à de fetos de gravidez única até 32 semanas; após essa data, o crescimento fetal em gemela- res difere de maneira significati- va, provavelmente em virtude da insuficiência relativa da placenta. O CIUR pode ocorrer tanto na em gestações monocoriônica, quanto nas dicoriônicas, mas é mais co- mum e grave nas monocoriônicas. O CIUR seletivo (diferença de peso > 20% entre os gêmeos) incide em um quarto a um terço das gesta- ções gemelares, especialmente nas múltiplas. Placentárias • Insuficiência placentária: O CIUR está incluído nas Grandes Síndro- mes Obstétricas, caracterizadas por remodelação placentária de- feituosa das artérias espiraladas; há placentação defeituosa, mas a grávida não desenvolve disfun- ção endotelial como na toxemia. O CIUR placentário é hoje, como ve- remos adiante, dividido em CIUR placentário precoce e tardio, o que tem aplicações no diagnóstico e na avaliação anteparto. • Anormalidades estruturais: A associação da placenta ao CIUR é primária, predispondo as anor- malidades estruturais à implanta- ção defeituosa, que reduz o fluxo umbilical ou diminui a superfície de trocas. As alterações estruturais placentárias mais importantes são: placenta pequena, placenta prévia, placenta circunvalada, inserção velamentosa do cordão, corioan- gioma e artéria umbilical única. Maternas • Má nutrição: Se for muito grave pode levar a CIUR. • Doença vascular: Está associa- da à diminuição da perfusão ute- roplacentária e representa 20 a 30% de todos os fetos com CIUR. As afecções mais frequentes são pré-eclâmpsia grave/precoce (< 34 semanas), hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superajunta- da, doença renal crônica e doença vascular do colágeno. • Trombofilias: especialmente a sín- drome antifosfolipídio (SAF), que está associada a diversas compli- cações na gravidez, como trombose vascular, perda fetal, abortamento, pré-eclâmpsia, parto pré-termo. • Estilo de vida e uso abusivo de substâncias: O tabagismo mater- no pode diminuir o peso fetal em 135 a 300g. Consumo de cafeína ≥ 300 mg/dia no 3º trimestre, dro- gas como cocaína, heroína e álcool, e fármacos como anticonvulsivan- tes e varfarina também podem de- terminar CIUR. 16SOFRIMENTO FETAL Diagnóstico História Todas as mulheres na primeira consul- ta pré-natal devem ser avaliadas para fatores de risco de CIUR (Tabela 1). MAPA MENTAL - ETIOLOGIA DO SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO Etiologia CIUR Causas placentárias Anomalias cromossômicas Causas placentáriasCausas fetais Anomalias estruturais Gemelaridade Infecções congênitas Insuficiência placentária Anormalidades estruturais Má nutrição Uso abusivo de substâncias Doença vascular Trombofilias Aquelas com fatores de risco maiores devem ser referidas para a mensura- ção seriada da CA e a realização do Doppler da artéria umbilical, a partir de 20 a 24 semanas. Idade materna >40 anos Exercício vigoroso diário Baixo ganho de peso materno História prévia de CIUR Mãe e pai nascidos com CIUR História de natimorto Tabagismo Hipertensão crônica Uso de cocaína Diabetes com complicação vascular Doença renal com hipertensão SAF Hemorragia Intestino hiperecogênico Tabela 1. Fatores de risco maiores para crescimento intrauterino restrito. Fonte: Rezende Obstetrícia, 2017. 17SOFRIMENTO FETAL Medida do fundo do útero A medida do fundo do útero (entre 24 e 38 semanas) se aproxima da idade gestacional e é utilizada para rastre- ar o crescimento fetal menor que o percentil 10. A medida do fundo do útero deve ser realizada a cada visita pré-natal a partir de 20 a 24 sema- nas. Uma discrepância entre a idade gestacional em semanas e a medida do fundo do útero maior do que 3 tem sido proposta para identificar o feto com CIUR. Biometria fetal A CA e o peso fetal estimado (PFE) são as medidas mais precisas para o diagnóstico do CIUR. Fala-se em CIUR quando a CA ou o PFE são < percentil 10. Quando indicada a avaliação seriada do crescimento fe- tal, essas medidas devem ser feitas em intervalos de 3 semanas. Doppler de artéria uterina Pacientes com Doppler anormal das artérias uterinas entre 20 e 24 sema- nas (definido como índice de resistên- cia [RI] > 0,58, índice de pulsatilidade [PI] > 1,45 ou incisura bilateral) devem ser referidas para avaliação seriada ultrassonográfica do crescimento fe- tal pela CA e do seu bem-estar pelo Doppler da artéria umbilical, a partir de 20 a 24 semanas. MAPA MENTAL - DIAGNÓSTICO DO SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO Medida do fundo do útero Diagnóstico CIUR Fatores de risco Biometria fetal Doppler de artéria uterina 18SOFRIMENTO FETAL Tratamento Trabalhos de metanálise mostraram que a profilaxia com ácido acetilsalicí- lico em baixa dose utilizada entre 8 e 16 semanas foi capaz de reduzir a in- cidência de CIUR em 50%, a de par- to pré-termo em 60% e a mortalida- de perinatal em 60%. Pacientes com história prévia de CIUR e com alto risco para pré-eclâmpsia também de-vem fazer uso de ácido acetilsalicílico com início entre 12 e 16 semanas. Em casos de SAF, a associação de ácido acetilsalicílico com heparina de baixo peso molecular seria eficiente para aumentar o peso do feto. Em casos de CIUR placentário preco- ce, a administração de nitroglicerina transdérmica e de citrato de sildenafil esteve associada à redução do PI das artérias uterina e umbilical e da pres- são arterial materna. Um fármaco que melhore a hemodinâmica materna e fetal no cenário do CIUR precoce po- deria trazer benefícios a essa condi- ção ominosa. O melhor método para interromper a gestação com CIUR é a operação cesariana. Quando não houver sofri- mento fetal, é permitido o parto va- ginal, desde que sempre monitorado. Durante o parto, 50% dos fetos com CIUR exibem traçados cardiotocográ- ficos anormais, especialmente desa- celerações umbilicais. Não se acon- selha a indução no alto risco. 19SOFRIMENTO FETAL MAPA MENTAL GERAL Hipersistolia uterina Sofrimento Fetal Taquissistolia uterina Hipertonia uterina Hipotensão materna Patologia funicular Parto prolongado Simétrico Assimétrico Fetais Placentárias Maternas Medida do fundo uterino Biometria Fetal Doppler da Artéria Uterina Principais etiologias Classificação Etiologia Diagnóstico Crônico: Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR) Agudo Acomete cerca de 2% das gestações Secundário a uma queda brusca e intensa das trocas materno-fetais Condição que ocorre durante o parto 20SOFRIMENTO FETAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Carlos Antonio Barbosa Montenegro, Jorge de Rezende Filho. Rezende obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. F. Gary Cunningham et al. Obstetrícia de Williams. Tradução: Ademar Valadares Fonseca et al. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. 21SOFRIMENTO FETAL