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Estudo de caso - Estudos do Crime I

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1 - Considerando a utilização de meio fraudulento para a efetiva subtração do
dinheiro contido na conta bancária de terceiro, pode-se compreender que tal
conduta é compatível com o crime de furto qualificado mediante fraude por meio
eletrônico ou informático (art. 155, parágrafo 4°, “B”, do CP). Vale ressaltar que não
há como se falar em estelionato para tipificação dessa conduta, visto que a
“enganação” ocorre contra um meio eletrônico e não uma pessoa certa e
determinada (requisito necessário para que configure-se como estelionato).
2 - A conduta daquele que adentra sorrateiramente numa residência, subtrai para si
o celular de terceiro e depois o destrói para evitar o flagrante é compatível apenas
com o crime de furto (art. 155 do CP) em razão do princípio da consunção. A
aplicação desse princípio se deve ao fato de que a invasão de domicílio cometida
pelo agente se configura apenas como um meio para execução de fato mais
gravoso (no caso, o furto em si) e a destruição do celular seria um post factum não
punível, uma vez que o objeto já havia sido retirado da posse do dono no ato de
subtração do agente, já estando consumado o dano ao patrimônio do sujeito
passivo do crime, sendo absorvido, portanto, pelo crime mais grave.
3 - Em razão da posição de Pedro como comerciante, ou seja, realizador de
atividade comercial e não simples ato de comércio, sua conduta se encontra
tipificada no art. 175, inciso II, do Código Penal (crime de fraude no comércio). Em
razão da aplicação do Princípio da Especialidade, o tipo penal correspondente ao
art. 175 deve prevalecer sobre o tipo do art. 171 (estelionato), já que descreve a
conduta do agente de forma mais específica.
4 - Sim. Dado o fato de que a vantagem econômica exigida pelo agente era devida
(já que se tratam de salários atrasados que deveriam ter sido recebidos pelo
agente), a conduta é compatível com o crime de exercício arbitrário das próprias
razões (art. 345 do Código Penal). Apesar de se aproximar da conduta típica da
extorsão, é necessário que a vantagem seja indevida para que se configure como
tal, afastando sua aplicação.
5 - Não. Apesar do não pagamento, o fato de Vítor ter dinheiro suficiente para pagar
aquela refeição afasta a tipicidade, uma vez que é necessário que o agente não
disponha de recursos para pagamento para enquadramento no tipo penal. Sendo
assim, constitui apenas um ilícito na esfera civil e não na esfera penal.
6 - Não. Como Pedro é genitor de Antônio deve ser aplicado o disposto no artigo
181, inciso II, do Código Penal, o qual prevê isenção de pena a quem incorre em
crime contra o patrimônio em relação a ascendente ou descendente. Deve-se
perceber, também, que não estão presentes no caso nenhuma das condições
capazes de afastar a aplicação do art. 181 que se encontram dispostas no 183, uma
vez que o agente tem menos de 60 anos e a conduta do agente não se adequa nem
ao crime de roubo (por não haver grave ameaça ou violência) ou a extorsão, sendo
compatível apenas com o furto (art. 155 do Código Penal).
7 - Sim. A conduta do agente pode ser enquadrada no art. 157, parágrafo 3°, II, do
Código Penal, embora exista certa discussão doutrinária acerca disso. Seguindo a
súmula 610 do STF, a qual fixou subtração tentada em conjunto com o homicídio
consumado como latrocínio consumado, chega-se à conclusão de que a conduta do
agente é um latrocínio consumado. Vale mencionar que existem correntes
doutrinárias que entenderiam de forma diversa a conduta, classificando-a como
latrocínio tentado, tentativa de furto em concurso formal com homicídio culposo,
somente homicídio culposo ou tentativa de roubo em concurso material com
homicídio. Contudo, como tal conteúdo foi sumulado pelo STF, deve-se seguir o
entendimento da súmula.
8 - Sim. Tício e Caio incorrem no crime de furto qualificado por concurso de
agentes, previsto no artigo 155, parágrafo 4°, inciso IV, do Código Penal. Isso se
deve ao fato da subtração ter sido realizada efetivamente por Caio e não pela
vendedora da loja induzida pelo erro provocado por Tício. Caso Caio e Tício
tivessem criado ou mantido a vendedora em erro e ela tivesse entregue (em razão
meio artificioso utilizado pelos dois) as joias, configuraria-se como estelionato (tipo
previsto no artigo 171 do Código Penal), contudo, como Caio foi responsável pela
subtração das joias, verifica-se o crime de furto.
9 - Sim. O comportamento de Mario enquadra-se em latrocínio, nos termos do art.
157, parágrafo 3°, inciso II, do Código Penal. Apesar da pluralidade de vítimas no
comportamento do agente, o patrimônio alvo da subtração foi apenas um, portanto
deve-se considerar que houve um único latrocínio. Segue nessa linha o
entendimento do STF, o qual considera que o dano a um único patrimônio
(independentemente do número de vítimas da ação) é suficiente para que se
configure um latrocínio.
10 - Sim. O comportamento de Mário é compatível com o crime de estelionato (art.
171 do Código Penal), uma vez que desde o início havia em sua conduta a intenção
de lesar o patrimônio de Oswaldo, induzindo-o ao erro para que lhe entregasse a
moto (injusta vantagem descrita no tipo penal). Como a entrega da chave da moto
para Mário foi feita de forma voluntária por Oswaldo, que acreditava de forma
errônea que Mário efetuaria o pagamento após “dar uma volta”, dispensa-se a ideia
de furto (art. 155 do Código Penal), já que o agente não incorreu no tipo objetivo do
crime de furto, no caso, o ato de subtrair. Além disso, caso houvesse a legítima
intenção de compra por parte de Mário no início da transação, poderia-se considerar
a possibilidade da conduta se enquadrar como uma apropriação indébita (art. 168
do Código Penal), contudo, como desde o início a intenção de Mário era induzir
Oswaldo ao erro, não é compatível com o comportamento do agente.
11 - A conduta de Maria é punível penalmente, mas a de Joana não. Quanto à
conduta de Maria, pode-se compreender que é compatível com o tipo penal de furto
(art. 155 do Código Penal). Deve-se considerar que Maria efetivamente subtraiu
sem o consentimento da dona o cordão, contudo pretendia retorná-lo ao local de
onde o pegou (configurando o chamado furto de uso até esse momento). No
entanto, como o objeto foi perdido por ela (devido ao roubo de Mévio) e foi
substituído por um com um valor muito inferior ao original, houve furto. Sobre a
conduta de Joana, não se pode dizer que houve o crime de receptação, uma vez
que o tipo penal da receptação tutela o patrimônio do dono do objeto obtido por
meio ilícito. Como Joana era a dona daquele colar, ela não poderia cometer crime
contra seu próprio patrimônio, ou seja, não há a possibilidade dela agir como sujeito
ativo desse crime.
12 - Sim. A conduta de Pedro corresponde ao tipo penal do estelionato, previsto no
art. 171 do Código Penal. Isso ocorre devido ao fato de Pedro ter se utilizado de
meio fraudulento (vestir-se de médico) para induzir os funcionários do hospital ao
erro, obtendo assim vantagem indevida, no caso, a posse sobre os instrumentos
hospitalares. A conduta se diferencia do crime de furto qualificado mediante fraude
(art. 155, parágrafo 4°, inciso II, do Código Penal) em razão do fato de Pedro não ter
realizado o ato de subtração, e sim a indução ao erro dos demais funcionários para
que lhe entregassem os instrumentos hospitalares.
13 - Sim. Caracteriza-se como apropriação indébita (art. 168 do Código Penal), uma
vez que não havia inicialmente a intenção de inversão da posse em propriedade,
não podendo ser classificado como estelionato (art. 171 do Código Penal). Como a
vontade de ter para si coisa alheia móvel só se instaurou após a posse, só resta o
tipo penal da apropriação indébita para descrever a conduta do agente.
14 - Sim. Corresponde ao tipo penal da apropriação indébita (art. 168 do Código
Penal), já que o animus de tomar para si a propriedade alheia só surgiu após a
posse do objeto, portanto, diferencia-se da conduta típicado estelionato, no qual o
animus do agente, desde de antes da posse, já era a inversão da posse em
propriedade.
15 - Sim. O comportamento de Juca se caracteriza como roubo (art. 157 do Código
Penal) em concurso material com extorsão (art. 158 do Código Penal). Isso se deve
ao fato dele ter subtraído, mediante grave ameaça, a carteira de Maria (conduta
típica do crime de roubo), mas também ter constrangido (comportamento descrito no
tipo de extorsão), ainda mediante grave ameaça, Maria a lhe entregar o cartão
bancário e lhe informar a senha (o que caracterizaria injusta vantagem econômica.

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