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História do Direito 08/08/2019 Civil Law Também é conhecido por direito romano-germânico Países que pertencem ao direito romano-germânico: Brasil, Alemanha, Portugal, Itália, França, Argentina, Uruguai, México, Chile, Espanha O que esses países tem em comum? A colonização, os países que adotam esse modelo foram colonizados por países que também adotam esse modelo. Logo para entender o direito brasileiro é necessário entender o direito português. De onde veio o termo romano-germânico? Fusão do que sobrou do direito romano com o direito dos povos germânicos que habitaram a Europa após a queda do império romano. Quando o império romano conquistou metade da Europa os germânicos se viram sem saída, visto que estavam no meio de dois titãs, os romanos e os hunos que estavam vindo do leste. Assim os germânicos conseguiram penetrar no império, através do rio Reno (fronteira natural entre romanos e germânicos) e começaram a conviver/casar/formar famílias com os romanos. Motivos do enfraquecimento do império romano - Crise de sucessão dos imperadores. Vários imperadores romanos dependiam do exercito pra fazer valer sua legitimidade. Muitas vezes havia disputadas na chegada de um novo imperador para que esse imperador pudesse realmente assumir. Isso causou um cenário em que o próprio exército começou a perceber que eles tinham grande papel na decisão do imperador, então eles começaram a apontar os imperadores seguintes que fizessem promessas que interessavam ao exército. Entretanto, esses imperadores tiveram que gastar muito dinheiro público para cumprir essa promessa. Mas o exército era dividido em legiões que muitas vezes não concordavam com a decisão de quem ia ser o imperador e isso gerava uma série de crimes, inclusive morte ao imperador. Todo esse processo causou uma má distribuição do império. - Alta inflação que afetou a economia romana. Essa crise foi causada por um enfraquecimento da moeda, mesmo sendo moedas de ouro, prata e cobre que são metais riquíssimos, mas muitas pessoas tentavam fraudar as moedas. Assim, como as moedas falsas valiam a metade do ouro verdadeiro, os comerciantes começaram a cobrar o dobro do preço em seus produtos e isso gerou a inflação. O que acontece após a formação dos reinos germânicos? Depois desse enfraquecimento romano, os germânicos começaram a viver com eles, mas houve guerras para a conquista do território romano e com isso acontece um êxodo urbano das cidades romanas, com medo do risco de guerra, e as pessoas se instalaram nos campos, gerando o inicio do feudalismo. Esses povos faziam uso da pessoalidade do direito, em que o direito era aplicado a cada pessoa de acordo com sua etnia, mas e quando as relações jurídicas forem entre pessoas de etnias diferentes? A pessoalidade logo começou a causar conflitos, então iniciou a implantação do direito territorial. O direito territorial consiste no direito designado a determinados territórios. E por que os germânicos simplesmente não acabaram com a cultura dos romanos e forçaram a implantação da sua cultura? Os germânicos souberam compreender que os romanos eram mais avançados e que podiam usufruir dessa cultura e aprendizado, eles souberam abraçar a cultura. Então os dois povos tentaram criar um direito híbrido que, inicialmente, foi chamado de direito romano vulgarizado. Quando um império cai, parte de sua cultura é perdida, faculdades fecham, bibliotecas são queimadas. Logo uma parte do direito romano foi destruído e essa sombra que restou foi usada para a fusão com os germânicos. Na medida em que romanos e germânicos passam a conviver juntos nesse espaço, começa a acontecer uma homogeneização dos povos, compartilhando o mesmo direito, a mesma língua, mesma jurisdição e também a mesma religião. Transformações religiosas que ocorreram em Roma Roma era uma nação curiosamente tolerante a religião alheia. Antes de serem católicas eles eram politeístas, e ao invadir uma terra eles abraçavam os deuses de seus inimigos, ao invés de forçar seus deuses ao povo inimigo. Com o surgimento das religiões monoteístas Roma começou a ter um problema com sua religião politeísta e quando Constantino se converteu a católico e a religião católica passou a ser permitida no império romano, com a chegada do imperador seguinte o catolicismo passou a ser obrigatório. Na junção com os germânicos, que eram pagãos, houve uma conversão dos germânicos para católicos. 22/08/2019 Império romano do oriente O que acontece após a queda do império romano do ocidente? Justiniano era imperador do império romano do oriente, tinha dois objetivo enquanto governador, são elas: retomar o império romano do ocidente das mãos dos bárbaros, expulsar os germânicos da Europa, e queria fazer uma grande reforma no direito romano por achar que o direito romano padecia de varias problemas, como a inadequação para lidar com problemas atuais daquele momento, também a quantidade significativa de disposições contraditórias. Ex: leis em vigor que se contradizem. Isso tornava o direito romano refém da argumentação, virou algo discricionário, aquilo que pode controlar de acordo com sua vontade. Para atacar esse problema jurídico do direito romano, Justiniano deixou Triboniano responsável por chefiar uma equipe de juristas que buscava, reunia e consultava todas as informações do direito romano, após a analise desse material, a equipe de Triboniano aos poucos conseguiu eliminar algumas contradições e arrumaram tudo em um documento só, que ficou conhecido como corpus juris civilis (corpo do direito civil). Não é o direito civil no sentido atual, mas se refere como o direito romano como um todo, o direito da cidade, do povo. Esse documento estava dividido em quatro livros, são eles: as institutas (uma espécie de manual de introdução ao estudo do direito), o digesto (o livro mais importante do corpus, ele reunia a compilação das opines dos juristas ao longo de todos os séculos, organizado por assunto), o codex/código (é uma compilação das leis romanas, tanto do período republicano, quanto do império), e as novelas (eram as novas leis, as leis que tinham sido instituídas pelo próprio Justiniano). O objetivo militar de Justiniano Ele começou a organizar um exército, muito ouro foi gasto nesse esforço. O exército tinha como primeiro objetivo recuperar a península itálica, onde foi vitorioso no confronto com os povo germânicos. Essa conquista vai ter uma duração muito curta, visto que há uma pressão dos bárbaros para que os romanos saiam. Entretanto, alguns exemplares do corpus foram trazidos para a península, e quando os orientais foram expulsos esses exemplares ficaram por lá e esses livros ficaram esquecidos por vários séculos, até quando um monge recebeu a ordem de copiar um manuscrito da biblioteca e acaba encontrando o corpus, então associam esse manuscrito a obra de Justiniano, e os estudiosos começam a estudar o corpus e perceberam seu grande valor e avanço jurídico. A partir disso um grupo de estudioso decide estruturar uma faculdade de direito. Pelo estudo do corpus, há um renascimento do direito romano clássico, ao mesmo tempo em que houve o renascimento comercial. Com o tempo o interesse comum desse direito cresce, ao ponto de reis patrocinarem a criação de faculdades de direito, com o tempo passa a existir uma comunidade que estuda o direito romano do corpus, passando a ser universalmente conhecido por um direito bom, estimulando o uso do direito romano como uma espécie de resolução informal. Nessa época havia um pluralismo jurídico. Mesmo havendo um pluralismo jurídico o direito romano e canônico formavam uma ordem jurídica comum a todos os povos chamada de ius commune. Como lidar com esse pluralismo? Primeiro o ius proprium (direito local) é aplicado, se falhar é aplicado o ius commune. Obs: costumes locais também são consultados antes do ius commune. Não necessariamente o direito romano será aplicado da mesma forma em todos os países, pois mesmo o direitoromano sendo igual, as leis locais de cada país são distintas. O fato da língua do direito ser o latim proporcionou uma internacionalização do direito romano. Os países da Europa vão substituindo o direito romano vulgarizado pelo direito romano do corpus. 29/08/2019 Direito de Portugal No inicio de sua formação, Portugal não tinha limites físicos e legais bem determinados, as leis eram gritadas. O pelourinho era um torre que possuía um símbolo do rei. Não era um lugar de punir como todos pensam, mas sim um local para demonstrar a supremacia do rei, mas algumas punições eram feitas em frente ao pelourinho por conta do valor simbólico que isso trazia. Algumas leis também eram gritadas em frente ao pelourinho. Algumas pessoas cometiam crimes não porque queriam, mas muitas vezes porque não sabiam que não era permitido ou ate mesmo não sabiam da existência dessas leis. Essas queixas levaram a existência de uma compilação de leis, assim surgiram as ordenações do rei, querendo tornar mais acessível o conteúdo das leis do rei. Sao três fases de ordenações, as primeiras forma do rei Afonso, as afonsinas (1446), sendo substituídas pelas manuelinas (1512) do rei Manoel, que foram substituídas pelas filipinas (1603) do rei Filipe. As ordenações filipinas são as mais importantes, pois vigoraram no Brasil durante 300 anos. Essas ordenações frequentemente demonstravam contradições, pois eram compilações e não codificações. 31/08/2019 Ordenações filipinas Titulo LXIV do terceiro livro: como se julgaram os casos que não forem determinados pelas ordenações. O terceiro livro aborda os processos, e o título fala sobre fontes do direito, embora não seja um tema de processos. Quando algum caso for trazido que seja determinado por leis do reino, estilo da corte ou costume dos povos, seja por ele julgado, não importando o que dizem as leis imperiais sobre esse tema, ou seja as respectivas normas devem reger o caso, e o direito romano não interfere. As leis imperiais são o direito romano, do império romano. A lei, o estilo e o costume são as principais fontes do direito português, logo o direito romano e outros direitos como o canônico são subsidiários ao direito local de Portugal. Qual a diferença de estilo e costume? Costume não é um hábito, mas sim um comportamento reiterado considerado vinculante pelo povo, o estilo se aproxima um pouco da ideia de costume, mas é um pouco mais restrito. É um comportamento reiterado considerado vinculante pelos tribunais. A ideia de costume e estilo são tão próximas que antigamente os estilos eram chamados de costumes dos tribunais. E quando o caso não for determinado por lei, costume ou estilo, mandam que seja julgado pelos sagrados cânones, se for matéria de pecado, e se não for matéria de pecado, que seja julgado pelas normas imperiais do direito romano. E se o caso nao for determinado por nenhuma dessas leis expostas, mandam que se guardem as Glosas de Arcúsio e a opinião de Bartolo, ou sejas consultar as obras desses professores que serviram para suprir essas lacunas. E acontecendo caso ao qual nenhum dos ditos modos fosse provido, mandam que notifiquem a coroa para que o rei decida e essa decisão que criar uma norma nova para esse tipo de caso, esse precedente vai ser um precedente para casos seguintes semelhantes. Na época do direito das filipinas apenas o rei poderia criar um precedente vinculante, mesmo decisões de tribunais superiores não se aplicariam para novos casos semelhantes, apenas quando for uma decisão do rei. Esse precedente do rei pertence aos ius proprium ou ius commune? Ius proprium pois a decisão de um rei de Portugal não se aplicaria ao reino da Espanha. Obs: precedente é diferente de jurisprudência. Precedente é um caso só e jurisprudência seria um conjunto de decisões em que se decide da mesma forma, logo um conjunto de precedentes. Obs: não existe relação de hierarquia entre lei, estilo e costume. Em Portugal o feudalismo se deu de uma forma um pouco diferente, ate por conta da invasão árabe. Há discussões entre pesquisadores se o que houve em Portugal foi mesmo um feudalismo. O fato é que existiam relações de vassalagem se davam por meio de duas estruturas, são elas: normalmente o vassalo deviam proteção, fidelidade, prestações ao suserano e o suserano devia beneficio ao vassalo (uma terra enfeudada ou um cargo/oficio). Mas as relações feudais eram tao fluidas que as funções de vassalo e suserano variam entre senhores feudais e senhores feudais, senhores feudais e rei, e reis e reis. Todas essas trocas tornavam a sociedade muito complexa. Seja quem estiver dos dois lados das partes, a vassalagem é uma submissão por meio de um contrato jurídico e uma submissão aos olhos de deus. A homenagem, onde o vassalo se entrega para o suserano, poderia ate mudar seu estado civil. Esses vinculo de fidelidade, proteção e auxilio eram vínculos divinos e aquilo que deus faz nenhum homem separa, ou seja o vinculo de vassalo e suserano não pode ser feito facilmente, apenas por meio de um disffiatio, que é um ato que permita a desconstituição de um vinculo formal de vassalagem e só o papa podia, na condição de representante de deus na terra, poderia dissolver esse vinculo. Voltando ao que o vassalo e o suserano deviam um para o outro, a terra enfeudada ou o oficio poderiam ficar na família do vassalo, pois quando uma terra era dada essa terra começava a fazer parte da propriedade da pessoa, por isso pode ser passada de forma hereditária. As vezes, naquela época cargos eram dados pela quantidade de vidas, ou seja um cargo era dado a alguém e seus próximos 4 descendentes também possuíam o cargo. Em Portugal os reis que outorgar a senhores feudais terras ou ofícios eles poderiam desconstituir/reverter esse direito, sem a necessidade do diffidatio, a autoridade papal. Esse processo de doação de terra de um rei para um senhor feudal é chamado de doação régia. Obs: Qual a diferença de propriedade e posse? Propriedade é o direito que a pessoa que é dono de algo tem sobre aquela coisa, a posse é o direito de quem meramente tem aquela coisa sobre seu domínio temporariamente. Ex: quem mora de aluguel tem a posse do imóvel, mas a propriedade é do dono. E quando a o serviço de aluguel o proprietário não pode entrar no imóvel pois ele esta na posse de outro. Obs: as capitanias hereditárias podem ser equiparadas a feudos, visto que a coroa não tinha condições de colonizar todas as capitanias por si só, e a coroa fez disso uma doação régia. 19/09/2019 1 Jurisdição colonial A justiça no Brasil colônia era muito semelhante a que era aplicada em Portugal, que toda jurisdição emana da autoridade do rei juiz (rex judex). Entretanto o soberano não pode lidar com todos os casos da justiça, por isso ele delega a justiça aos tribunais da coroa e também a outras instituições. 1.1 Jurisdição municipal A jurisdição municipal é dada aos municípios. O que eram os municípios? Os reconhecidos como tais pela coroa, precisando demonstrar uma relevância econômica, politica, mercantil, populacional que justifique o seu reconhecimento como município. Eles recebem cartas de foral para formalizar o seu status de município. O que elas estabelecem? Od direitos e as obrigações que esses municípios tem perante a coroa (recolhimento de tributos, atender pedidos da coroa, vantagem de ter uma justiça municipal). Há o direito do município de ter uma câmara municipal, ao te-la o município passa a ter voz ativa, uma esfera de comunicação. A câmara, formada por vereadores, também vai disciplinar a vida naquele localidade, visando trazer evoluções municipais. Como são eleitos os vereadores? O governador da capitania publicará uma lista dos homens bons (pertencentes a uma classe especial, rica), que são convidados a participar de uma eleição que vai escolher os vereadores da câmara, apenas eles podem votar e ser votados, através da eleição de pelouros. Entre os vereadores será escolhido quem aplicaraa jurisdição municipal, os chamados juizes ordinários. Esses juizes ordinários só podiam permanecer no cargo por 1 ano, e eles não precisavam ser bachareis em direito, poderiam ser leigos, justamente por não precisar ter conhecimento do direito, esses juizes só atuavam em casos de baixa complexidade, decidindo conforme em um sentimento pessoal de justiça ou com base nos costumes locais. 1.2 Jurisdição senhorial Cabe aos capitães donatários, os senhores. Ela é outorgada a esses senhores quando a coroa transfere as capitanias a eles, por meio da carta de doação. Essas cartas formalizam a doação régia que transfere a esses senhores aquelas terras que anteriormente pertenciam o rei, descrevendo não somente os limites territoriais como também formaliza a jurisdição sobre aquelas terras. Teoricamente poderia ser dada a terra sem a jurisdição, mas no caso do Brasil todas as capitanias forma doadas com jurisdição. Embora os senhores foram abençoados com essa jurisdição, eles não a exerciam, pois havia muitas outras funções necessárias dentro da capitania. Alem do que esses capitães não tinham conhecimento do direito e julgar seria mais um fardo. A partir dai eles passaram a contratar um magistrado especial para a julgar os casos da capitania ao invés deles próprios julgarem, chamados de ouvidores, e os senhores exigiam que esses ouvidores sejam conhecedores do direito, podendo ficar até 3 anos no cargo. Em Portugal os mesmo eram chamados de corregedores. Esses ouvidores atuavam em três cenários, são eles: atuavam quando um determinado caso acontecesse fora dos limites geográficos de um dos municípios dessa capitania correspondente ao ouvidor; atuavam quando um caso tivesse acontecido dentro do município, mas que não possa ser julgado pela jurisdição municipal, um caso de alta complexidade; atuavam em determinada situação que aconteceu em determinado município, dentro da competência do juiz ordinário, mas uma das partes apresenta um recurso contra a decisão do juiz ordinário, esse recurso será analisado pela justiça senhorial. 1.3 Jurisdição real Essa jurisdição só pode ser acessível através de um recurso, ou seja, nenhum caso começa na justiça da coroa, é através de um recurso contra a uma decisão da justiça senhorial. Para entrar com um recurso era necessário copiar o processo e mandar a copia para Portugal, isso quando o governo geral residia em Portugal, mas quando a coroa veio residir no Brasil veio para cá o primeiro magistrado da coroa que era composto pelo ouvidor geral que não tinha um tempo de mandato e era apontado pelo próprio rei. Esse ouvidor tinha que julgar os recursos de todos os ouvidores de todas as capitanias, ele também deveria rodar pelo Brasil fiscalizando o funcionamento das demais justiças. A coroa portuguesa, depois de um tempo, decidiu criar um tribunal colonial no lugar do ouvidor. Esse tribunal se chamava relação do Brasil, sendo composto por desembargadores com um cargo vitalício e assim como os ouvidores eles eram conhecedores do direito. Relação era o nome dado aos tribunais superiores portugueses. A coroa decidiu criar outra relação no Rio de Janeiro, alem da que ja existia em Salvador. Logo a relação do Brasil passou a ser chamada de Relação da Bahia, mas essa nova relação do Rio de Janeiro só passou a existir mais de 100 anos depois. Ainda dentro da jurisdição da coroa havia mais um tribunal, que era alcançado através dos recursos contra a relação, a casa de Suplicação, em que os casos eram julgados por juizes que gozavam de uma posição social muito elevada, sendo dotados do titulo de conselheiros da coroa, mas não deixavam de ser conhecedores do direito. Nos primórdios de Portugal a casa da Suplicação era um tribunal que substituia o julgamento do rei, e esse tribunal seguia o rei aonde ele fosse, mas no tempo da colonização esse tribunal já havia se estabelecido em Lisboa. Esse era o tribunal mais alto em que podia se recorrer ordinariamente, ordinariamente, pois os súditos podiam suplica diretamente ao rei, mas essas súplicas não necessariamente eram pedidos jurídicos, mas tinham um teor muito mais emocional. O Desembargo do Paço era o órgão (não era um tribunal) responsável por ajudar o rei a apreciar esses apelos, chamados de pedidos de graça. 1.4 Juiz de fora O juiz de fora é um magistrado da coroa, conhecedor do direito, que era enviado pela coroa a um município que ele entendesse necessário, era um espécie de intervenção. Por que alguém de longe do município que o receberia? Por mais imparcialidade no julgamento e também a ausência de laços familiares e de amizades com a elite local, pois quando o juiz de fora chega no município ocorrem duas situações, são elas: o juiz de fora se tornava presidente da câmara municipal e isso permitia que o mesmo controlasse politicamente a câmara evitando que ela se comporte de forma contrária aos interesses da coroa; o juiz de fora também substituia os juizes ordinários e isso era mais interessante para a comunidade, pois os juizes de fora eram conhecedores do direito. 10/10/2019 Segunda avaliação Consequências do iluminismo para o direito português (Era Pombalina) Especificamente em Portugal o fenômeno do Iluminismo teve dois marcos bem distintos, sobretudo no tempo em que Marquês de Pombal foi uma especie de primeiro ministro para o rei Dom José. No projeto politico de reformar o reino português após o terremoto, Marquês de Pombal terá destaque, produzindo diversas reformas, inclusive jurídicas. No âmbito do direito podemos chamar a atenção para duas reformas, são elas: a reforma do currículo e a reforma das fontes do direito. Essas duas reformas foram inspiradas em ideais iluministas. Pombal entendia que a regulação sobre as fontes do direito que existia não favorecia a coroa como a ordenadora da sociedade, visto que a coroa só era responsável por duas fontes do direito. Uma das ideias de Pombal era de centralizar a produção de normas jurídicas na coroa, ou seja, ele não quer dividir o poder de criar normas jurídicas com outras fontes. 1 Reformas jurídicas Como se deu essa reforma? Pombal decidiu que ele iria ou eliminar ou ao menos dificultar que certas fontes do direito fossem utilizadas na prática. 1.1 Reforma das fontes do direito Por meio da lei da boa razão, Pombal começou a extinguir as fontes do direito português não feitos pela coroa, começando pelo estilo dos tribunais, mas como havia vários tribunais, cada tribunal tinha seu estilo e isso fazia com que geograficamente o direito variasse e ele não gostava dessa variância, pois ele queria que o direito português fosse uma coisa só durante todo o império. Assim, Pombal irá proibir que os estilos sejam considerados fontes do direito. Quanto aos costumes ele começou a perceber que seria um pouco difícil extinguir os costumes como fonte, pois ele sempre teve desde a sua origem a ideia do localizo, alem disso não fica bom pata a sua imagem eliminar o costume como fonte porque é algo formulado pelo povo. Logo, ele decidiu que iria dificultar o uso de costumes como fonte exigindo dois requisitos para serem usados, são eles: o primeiro requisito era que os costumes deveriam ter a partir daquele momento 100 anos de idade. Era muito comum que os advogados afastassem a lei da coroa e alegassem a existência de um costume aplicável, mas muitas vezes o costume não existia de verdade. Não bastava apenas um requisito, para alem do costume ter 100 anos de idade era que o costume deveria ser conforme a boa razão O direito romano também sofreu restrições por parte de Pombal, ele achava que causava mais inconveniências do que benefícios, gerando insegurança jurídica ao direito português. Por que insegurança? Pois o Corpus Juris Civilis era muito antigo, logo pouco efetivo para abranger as situações daquele tempo, de modo que ele só era útil quando interpretado junto as opiniões do romanos, mas muitas vezes os próprios romanos discordavam sobre como interpretar cadaparte do Corpus. Assim, Pombal decidiu que a partir dali a interpretação do direito romano deveria obedecer ao princípio universal da boa razão, além disso ele eliminou a preferência que as doutrinas de Bártolo e Acúrcio.. tinham sobre as opiniões dos demais juristas. 1.2 Reforma do currículo Pombal sabia que apenas a reforma nas fontes do direito não era o suficiente, pois a prática jurídica não foi alterada. Ele percebeu que era necessário uma mudança na formação desses bachareis educados de outra forma com uma outra racionalidade. Formados por um novo modelo de faculdade para que eles pudessem enfrentar a nova realidade. Por isso, ele conduziu a reforma curricular. Ao estar em um conflito politico com os jesuítas, sendo eles os responsáveis pela educação em Portugal, Pombal mudou a administração das faculdades, alterando os currículos. Como era o modo de ensino de Pombal? Um das limitações para estudar na Universidade de Coimbra eram as propinas, ou seja, as despesas da Universidade. Além das propinas é preciso custear pensão para o estudante, alimento e residência, e os custos dos livros. Ademais tudo isso, existiam exames para ingressar na Universidade, os chamados vestibulares. Uma vez iniciados os estudos, os estudantes estavam submetidos a um regime muito intenso de exames diários, semanais, mensais e anuais, além de uma prova no final do curso. O modelo pombalino de aula é o atual, mas no anterior chamado de modelo escolástico, as aulas giravam em torno de discussões e problemas, a partir dessas discussões o conteúdo jurídico ia sendo examinado. Também era muito comum o uso de tablados, em que dois alunos eram chamados para as disputationes, onde dois alunos defendiam dois lados de um caso. Pombal mudou também as matérias estudadas, visto que essencialmente era ensinado ou o direito romano ou o direito canônico, conduzindo uma grande reforma no ensino de Coimbra, retirando o estudo do direito romano e inserindo o estudo do direito nacional. Entretanto, era necessário manter o direito romano por ser uma fonte do direito português, passando a ser uma matéria e não o estudado durante todo o curso. Ele também criou a matéria do direito natural, visto que a boa razão era o filtro para a aplicação de determinadas fontes. Pombal achava que ao criar esse filtro ele iria diminuir a insegurança jurídica, mas ele não reduziu essa insegurança, ele apenas mudou o tipo, dessa vez sem saber qual era o conteúdo do direito natural a ser utilizado. Ele também foi o responsável por criar a disciplina de história do direito. Marquês decidiu criar novos livros para o estudo do direito com um perfil diferente do estudo escolástico com um conteúdo sistemático. Com todas essas transformações, Pombal visava a criação de uma nova geração de juristas sendo formados por uma matriz racionalista de ensino 1.3 Boa razão Essa boa razão é justamente o direito natural que Pombal, assim como maior parte da Europa, entendia como existente. Sendo esse direito natural um direito católico, patriarcal, que assume valores tipicamente eurocêntricos, assim como valores jurídicos também eurocêntricos. Logo, as normas só poderiam ser difundidas se passarem por esse filtro da boa razão. Assim, essa lei da boa razão é um primeiro passo para uma época da legalidade, pois apenas as leis do rei que eram projetadas. Essa transição para um modelo de legalidade se da no século seguinte, XIX. 1.4 Convencionalismo X Jusnaturalismo Convencionalismo defende que o direito é fruto de convenções humanas, fruto de decisões politicas, morais, econômicas. Já quem defende o jusnaturalismo entende que o direito deve refletir, as decisões com base em convenções humanas devem refletir, na maior medida possível um conjunto de direitos universais, imutáveis, comuns a todos os povos, os direitos ditos naturais. Hoje, entende-se que não existe o jusnaturalismo. 17/10/2019 Transformações pelas quais o Brasil, o povo e o direito brasileiro passaram durante o período joanino (período em que a corte portuguesa foge para o Brasil, devido as pressões napoleônicas) Ao chegar no Brasil, a coroa portuguesa, percebeu que o direito aplicado na colônia e na metrópole eram distintos, mesmo tendo a mesma essência, com a exceção de algumas poucas leis. Assim, Portugal entende que as leis da colônia, deixando-as mas criando novas que seriam aplicadas apenas para a colônia. 24/10/2019 Constituição imperial de 1824 - Essa constituição foi outorgada por Dom Pedro I Art. 1 Dom Pedro insere esse artigo primeiro na constituição pra tentar eliminar os rumores e medos do povo em relação a independência do Brasil, pois Dom Pedro ainda era príncipe herdeiro de Portugal, logo havia essa insegurança sobre o que iria acontecer com o Brasil caso o príncipe fosse chamado para governar Portugal Art 3 Consta que o estado brasileiro era uma monarquia hereditária constitucional e representativo. Não é redundância falar que a monarquia era hereditária, pois existiram governos em que assembleias eram desenvolvidas para determinar quem seria o próximo rei. Uma monarquia constitucional é aquela na qual o monarca não tem poderes absolutos, ou seja, limitados pela constituição. É uma monarquia representativa, na qual a nação é representada pelo imperador como principal pessoa do reino, mas também é representada pelo povo que se faz representar pelos políticos, elegendo seus representantes políticos. Nesse modelo, o imperador não tem mais poder de fazer leis, concorrendo com o poder da assembleia. É falso dizer que o poder moderador é um resquício do absolutismo. Art 4 Esse artigo menciona qual é a família cujo os homens mais velhos serão herdeiros do trono, indicando a família de Dom Pedro I. Outras passagens da constituição tratam de situações anormais quando, por exemplo, o herdeiro fosse muito novo quando chegasse o momento dele de governar Liberdade dos colonos antes do período joanino Liberdade dos colonos depois do período joanino Limitações geográficas, ou seja, quem estivesse no Brasil estaria sujeito a essas limitações. Essas limitações existem em três tipo, são elas: comerciais, industriais e intelectuais. - Comerciais: diziam respeito a um conjunto de regras que criava um sistema comercial de monopólio entre o trafego comercial que chegava e saia da colônia em relação a metrópole, não havia um livre comércio. - Industriais: diziam respeito a qualquer tipo de atividade econômica manufatureira e de fabrica, fazendo com que a única atividade econômica permitida seria o plantação e a pecuária. - Intelectuais: se refere a uma preocupação eterna de Portugal com a possibilidade de que o Brasil viesse a ser independente. A metrópole sabia que se houvesse disseminação de pensamentos liberais poderia surgir uma revolta, assim impedindo a livre circulação dessas ideias consideradas perigosas. Essas limitações geográficas vão começar a ser descartadas, de que forma? Iniciando com a abertura dos portos para nações amigas. Assim, aos poucos, a coroa ia dissolvendo essas limitações, decretando o fim da proibição de impressão no Brasil, surgindo as primeiras imprensas privadas, mas esse fato não exclui a censura prévia, visto que, para haver a impressão era necessário três aprovações prévias referentes a censura. Também foram extintas as limitações industriais, inclusive dando inicio a um estimulo para instalação de fábricas. Art 5 Simboliza bem o fato da constituição conter elementos de continuidade e elementos de transformação. Trata da liberdade religiosa e da religião oficial do império, a católica. Art 6 Foi o artigo que fundou a cidadania brasileira e estabeleceu critérios para quem seria cidadão brasileiro, o critério territorial e de sangue, ou seja, nascer no território brasileiro ou ser filho de brasileiros. Art 10 Trata dos poderes políticos, ou seja, o constitucionalmente inseridos para governar o Brasil e pela primeira fezhouve uma separação de poderes. As câmaras municipais administravam os municípios, criavam leis e também julgavam por meio dos juizes ordinários, assim essas câmaras detinham os três poderes. Ainda existindo um quarto poder, o poder moderador, que servia supostamente para equilibrar os demais evitando a desarmonia e a disputa entre si. Art 11 e 12 Mencionam a representatividade politica nas assembleias. Os 4 poderes são delegações da nação, ou seja, do povo. Art 15 A assembléia geral se divide em câmara dos deputados e câmara do senado. Os integrantes da câmara dos deputados são eleitos para um mandato de 4 anos, ja os senadores são eleitos para um cargo vitalício. Também sendo responsável por fazer leis, interpreta-las, suspende-las e revoga-las. Logo, os juiz tinham a simples função de apenas exercer o que estava nas leis, o juiz boca da lei, visto que quem interpretava era a assembléia. Por que a assembléia? Porque quem melhor pra interpretar as leis do que quem fez as leis? Esse era o raciocínio. 31/10/2019 Não havia uma separação de poderes propriamente dita no século XVIII. Poder judiciario do império - Se trata de um poder judicial independente, e isso significa, que de um modo geral esse poder vai ter uma autonomia e uma proteção contra interferências externas. A única interferência possível era na pena de morte que o imperador poderia perdoar aquele individuo. - No modelo da justiça colonial, o rei tinha poder para interferir na decisão dos juizes da coroa, juizes senhoriais e juizes municipais - O júri não pertence a tradição jurídica do sistema português. Quando ele surge? Surge na Inglaterra, como uma das formas de limitar o poder a coroa, visto que os juizes eram determinados pela coroa. Os nobres reclamavam que não tinham um julgamento justo, pois eram julgados por juizes escolhidos pelo seu inimigo político, o rei. Assim, surge o júri para resgatar essa imparcialidade nos julgamentos de nobres. O júri, assim como ainda é hoje, decide o que é fato no julgamento, e os juizes aplicam a lei. - O sistema de júri deveria existir tanto nos caso civis quanto nos casos criminais, mas na pratica o júri só foi implantado nos caso criminais. Hoje o júri é implantando em casos criminais contra a vida. - Por que esse sistema foi importado para o brasil? Porque supostamente o júri vai trazer uma democratização para o sistema judiciário, o povo julgando o povo, sendo composto por sorteio entre as pessoas que podiam votar. Logo, os invés de garantir a democracia o que a lei brasileira fazia era o oposto. A lei fazia com que o réu fosse julgado por alguém que antagonizava sua condição. Art 158 De acordo com esse artigo, nas províncias, só haveria relações que forem necessárias para a comodidade dos povos, mas nem todas as províncias possuíam relações, apenas as com maior representatividade econômica e populacional. Nesse artigo, entende-se que não existe um tribunal superior as relações. Porém no artigo 164, afirma que na capital do império existe um supremo tribunal de justiça. Há uma antinomia entre os artigos 158 e 164? Não, o supremo tribunal de justiça não é um tribunal de vertice ou de copula (um tribunal que decide em ultima instância, mantendo ou reformando determinadas decisões, como o stf), o supremo tribunal de justiça é um tribunal de cassação (um tribunal que se limita a no máximo invalidar uma decisão anterior remetendo o caso para o outro tribunal julgar). Quais as hipóteses em que o supremo tribunal de justiça pode caçar uma decisão? - A primeira hipótese se chama injustiça notória, que consiste em um erro evidente de aplicação do direito ao caso. - A segunda hipótese que permite a cassação de uma sentença se chama nulidade manifesta que consiste na decorrência de um erro processual, procedimental no processo. Ex: um réu condenado sem que ele tenha podido contraditar as testemunhas de acusação. Tribunal = relação Art 179 Traz uma especie de Bill of rights brasileiro, traz um hall extenso de direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros, tendo por base a liberdade, a segurança e a propriedade. A questão da censura ja era trata nessa constituição, também o fato de que a casa de alguém é inviolável, a policia, até hoje só adentra casas através de um mandado judicial. É notável a ‘tolerância’ religiosa, mas com ressalvas, desde que respeite a religião de estado e não ofenda a moral pública. Também nesse artigo existe uma série de garantias penais, como a abolição da tortura e das demais penas cruéis. Entretanto, há ressalvas em relação a abolição de penas cruéis, esses direitos diziam respeito apenas a cidadãos, ou seja, os escravos poderiam continuar sendo cruelmente açoitados e marcados. Outra ressalva é que a pena de morte ainda era aceitado e não era considerado uma pena cruel, determinada por enforcamento. É garantido o direito de propriedade em toda a sua plenitude, mas se o estado precisar da propriedade desse cidadão para alcançar um fim público, ou seja, uma desapropriação desde que pague uma justa indenização para o cidadão. Esse foi o inciso utilizado durante muito tempo pelos defensores da escravidão para inibir a abolição da escravidão, pois os escravos eram propriedade dos senhores de engenho, logo para o estado abolir essa escravidão era necessário indenizar todos os senhores de engenho pela ‘desapropriação’ desses escravos. Entretanto, não havia orçamento nos cofres estatais para indenizar todos os senhores.
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