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PROGRAMA LER E ESCREVER E O ENSINO DE ATOS DE LEITURA POR 
PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL. Adriana Naomi Fukushima da Silva; 
Dagoberto Buim Arena. Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. Faculdade 
de Filosofia e Ciências- Campus de Marília. CNPQ. dricanaomi@gmail.com; 
dagobertobuim@gmail.com. 
 
Teoria e Práticas Pedagógicas 
 
Resumo 
Esta pesquisa tem por objetivo analisar as práticas de ensino dos atos de leitura nos três 
primeiros anos do ensino fundamental de uma escola estadual da cidade de Marília/SP, com a 
utilização, pelo professor, do material do programa Ler e Escrever, implantado desde 2008 na 
região metropolitana de São Paulo e em 2009 no interior e litoral, pela Secretaria de Educação 
do Estado de São Paulo. Para isso, através de uma pesquisa de tipo etnográfico, os dados 
serão levantados em dois processos simultâneos e integrados: levantamento bibliográfico, 
coleta e geração de dados. O levantamento bibliográfico orientará as observações da 
pesquisadora e fornecerá elementos teóricos para a análise dos dados. A coleta de dados será 
feita por meio de análise documental, observação e entrevista com três professores do 
primeiro ao terceiro ano com o intuito de compreender como se dá a relação do professor com 
o material Ler e Escrever; a relação entre o modo como o professor compreende o ensino da 
leitura e a concepção que permeia o Ler e Escrever; compreender se o material conduz as 
práticas do professor, as atividades praticadas no ensino do ato de ler e as avaliações de 
leitura. Com o levantamento dos dados, da organização, discussão e de sua análise à luz do 
referencial teórico apoiado nas concepções de linguagem do Círculo de Bakhtin, espera-se 
atingir o objetivo da pesquisa. 
 
Palavras-chave: Programa Ler e Escrever. Leitura. Práticas de leitura. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
No decorrer da graduação em pedagogia na Faculdade de Filosofia e Ciências - 
campus de Marília da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, participei do 
grupo de pesquisa que investiga a temática da leitura e da escrita, por isso me interessei em 
desenvolver pesquisas nessa área. Com a orientação do professor coordenador do grupo 
desenvolvemos um projeto com o objetivo compreender como as práticas de leitura se 
manifestavam no ambiente escolar. O projeto foi aprovado pela Fundação de Amparo à 
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e assim iniciei as observações na rede pública de 
ensino. Ao analisar os dados conclui que entre os atos que podem ser ensinados estavam 
algumas das chamadas estratégias de leitura1. Também foi possível observar que embora 
 
1A expressão Estratégias de leitura disseminou-se inicialmente por Isabel Solé ao considerar que estas 
estratégias são responsáveis pela construção da compreensão. Como estratégias, a autora cita as que podem ser 
realizadas antes, durante e após a leitura, a exemplo, a previsão e a formulação de perguntas. (SOLÉ,1998). 
Recentemente a expressão passou a também ser disseminada por Souza e Girotto (2010). De acordo com as 
autoras, as estratégias que objetivam a compreensão do texto são as de conexões, inferência, visualização, 
sumarização e síntese. (GIROTTO; SOUZA, 2010). 
mailto:dricanaomi@gmail.com
mailto:dagobertobuim@gmail.com
algumas estratégias sejam utilizadas pelos professores, ainda estão presentes nas escolas as 
técnicas tradicionais pelas quais o professor ensina as crianças a decodificar o escrito. Embora 
no local em que foi realizada a pesquisa o professor não utilizasse os livros didáticos 
distribuídos para as escolas, surgiu-me a indagação de como seriam as práticas dos 
professores quando usassem material desse tipo. 
O atual sistema educacional vem apresentando aos professores documentos legais e 
programas que evidenciam a necessidade de alfabetizar as crianças até os oitos anos de idade, 
estabelecendo metas. A meta número cinco do projeto que aprova o Plano Nacional da 
Educação (PNE) para os anos de 2011 a 2020 (lei 8.035/2010) e da lei nº 13.005 que aprova o 
Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências propõe “Alfabetizar todas as 
crianças até, no máximo, os oito anos de idade.” (BRASIL, 2014). Além disso, o Pacto 
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) realiza investimentos na área da 
alfabetização com o objetivo de apoiar professores e escolas com material didático, 
avaliações, entre outros meios. De modo geral, todas essas ações visam a atingir as metas e 
programas estabelecidos pelo sistema educacional, conforme referido anteriormente, sendo 
intensos os investimentos na área da alfabetização. 
Nas escolas estaduais de 1º ao 5º ano do ensino fundamental, são distribuídos 
materiais pedagógicos do Programa Ler e Escrever. Esse Programa passou a ser 
implementado no ano de 2008 por algumas escolas estaduais da região metropolitana da 
grande São Paulo (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO, 2007) e no ano de 2009, por algumas 
do interior (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO, 2008) tendo o objetivo de apoiar e de formar 
os professores a fim de garantir a aprendizagem da leitura e da escrita. 
O material pedagógico do Programa é composto por um livro de atividades para os 
alunos com propostas e sequências didáticas de leitura e escrita para serem trabalhados 
durante o ano letivo. Há também o guia de orientações didáticas do professor onde constam 
informações a respeito da faixa etária das crianças, as expectativas, organização e situações de 
aprendizagens rotineiras para contribuir no planejamento do professor. 
Em razão da envergadura do programa, surgiram algumas indagações a respeito da 
leitura como temática especifica, que orientam a pesquisa e colaboram para a elaboração de 
seus objetivos: como se dá o encontro do professor com o material Ler e Escrever? O que o 
professor compreende por leitura está relacionado com a concepção deste material? Como o 
professor ensina os atos de leitura? De que modo esse Programa interfere e conduz as práticas 
do professor? Essas questões derivam de uma das reflexões feitas por Chartier (1996, p. 77), 
ao afirmar que 
A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. [...] Toda 
história da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e 
subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. Mas esta liberdade leitora não é 
jamais absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções 
e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. 
 
A respeito dessa afirmação é possível compreender que a leitura permite que seus 
leitores possam se apropriar de uma obra de forma distinta sob o princípio da liberdade, 
porém essa liberdade pode ser questionada diante de limitações presentes nas práticas de 
leitura realizadas pelos sujeitos. Isso remete à possibilidade de o Programa Ler e Escrever 
controlar e determinar as relações de professores e alunos com os atos de leitura, e, de certo, 
modo, limitar as suas ações. Ao tratar dessas limitações, Chartier (1990, p. 25-26), afirma que 
[...] Considerar a leitura como um acto concreto requer que qualquer processo de 
construção de sentido, logo de interpretação, seja encarado como estando situado no 
cruzamento entre, por um lado, leitores dotados de competências específicas, 
identificados pelas suas posições e disposições, caracterizados pela sua prática do 
ler, e, por outro lado, textos cujo significado se encontra sempre dependente dos 
dispositivos discursivos e formais – chamemos-lhes “tipográficos” no caso dos 
textos impressos [...]. 
 
 
Quando o autor faz referência a esse cruzamento, busca apresentar as formas como o 
mundo é percebido e representado pelos indivíduos. Nas representações, os fatos não se 
esgotam naquela situação, mas existem intenções, atos e valores que devem ser considerados 
por estarem relacionados aos atosde leitura. 
Ao se considerar com Chartier que a “[...] leitura é sempre uma prática encarnada em 
gestos, em espaços, em hábitos [...]”(CHARTIER, 1994, p.13) é possível afirmar que nessas 
práticas há as representações dos interesses, apropriações e conhecimentos presentes no 
contexto social: 
As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à 
universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre 
determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o 
necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem 
os utiliza. As percepções do social não são de forma alguma discursos 
neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que 
tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a 
legitimar um projecto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, 
as suas escolhas e condutas. Por isso esta investigação sobre as 
representações supõe-nas como estando sempre colocadas num campo de 
concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de 
poder e de dominação. As lutas de representações têm tanta importância 
como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um 
grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores 
que são os seus, e o seu domínio. Ocupar-se dos conflitos de classificações 
ou de delimitações não é, portanto, afastar-se do social - como julgou 
durante muito tempo uma história de vistas demasiado curtas -, muito pelo 
contrário, consiste em localizar os pontos de afrontamento tanto mais 
decisivos quanto menos imediatamente materiais.2 (CHARTIER, 1990, p.17) 
 
Por ser o material Ler e Escrever usado como guia, é possível afirmar que, com suas 
características e conteúdos, o professor, também com suas competências, condições e 
disponibilidade, lê esse material para dele se apropriar, tendo a intenção de agir 
pragmaticamente em sala de aula. Por essa leitura o professor tenta estabelecer relações com 
sua prática, influenciando o ensino dos atos de leitura uma vez que “[...] o modo de pensar e 
de ensinar do professor é, como sempre, uma das principais chaves para a formação do leitor 
plural.” (ARENA, 2009, p.7). 
As indagações e as ideias apresentadas justificam a necessidade de realização de 
pesquisas como esta aqui proposta no ensino fundamental estadual de Marília, 
especificamente nos três primeiros anos. 
 
2. OBJETIVOS 
2.1. Objetivo Geral 
Analisar os processos de ensino dos atos de leitura por professores dos três anos 
iniciais do Ensino Fundamental, por meio do programa Ler e Escrever implantado pela 
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. 
 
2.2. Objetivos Específicos 
 Compreender as representações, formas e motivos presentes nas práticas de ensino de 
atos de leitura dos professores quando eles usam o material do programa Ler e 
Escrever, especificamente nos três primeiros anos do ensino fundamental de uma 
escola estadual da cidade de Marília; 
 Compreender melhor a leitura e todos os seus aspectos, e como os sujeitos se 
relacionam por meio de sua história e de suas experiências com essa prática cultural, 
 Contribuir para que os professores tenham a possibilidade de repensar suas práticas e 
avaliações, uma vez que estão diretamente ligadas à formação do aluno leitor. 
 
3. METODOLOGIA 
 
3.1. Procedimento de coleta de dados 
 
 
2 A ortografia foi mantida conforme consta na obra original escrita em Portugal. 
Com o intuito de analisar e compreender as práticas de ensino dos atos de leitura 
quando do uso do programa Ler e Escrever, será desenvolvida a pesquisa do tipo etnográfico, 
uma vez que “[...] a pesquisa do tipo etnográfico, que se caracteriza fundamentalmente por 
um contato direto do pesquisador com a situação pesquisada, permite reconstruir os processos 
e as relações que configuram a experiência escolar diária.” (ANDRÉ, 1995, p. 41). Além 
disso, conforme afirma André (1995, p. 30), “[...] esse tipo de pesquisa visa à descoberta de 
novos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento da realidade.” e permite 
vivenciar o ambiente para compreender “[...] os mecanismos de dominação e de resistência, 
de opressão e de contestação ao mesmo tempo em que são veiculados e reelaborados 
conhecimentos, atitudes, valores, crenças, modos de ver e de sentir a realidade e o mundo.” 
(ANDRÉ, 1995, p. 41). 
A pesquisa será desenvolvida por meio de dois processos simultâneos e interligados. 
No primeiro, será realizado o levantamento bibliográfico por meio de livros, periódicos, 
dissertações e teses referentes ao tema investigado. No segundo, será realizada a coleta dos 
dados por meio da analise documental, observação e entrevista com os professores 
participantes da pesquisa. 
 
3.1.1. Levantamento bibliográfico 
O levantamento bibliográfico será feito de acordo com objetivos, problemas, 
hipóteses e metodologia da pesquisa. Para isso, servirão como referência Chartier (1990; 
1994; 1996; 1999), Vigotski (2001), Bakhtin (1998) entre outros, que orientarão as 
observações da pesquisadora e fornecer elementos teóricos para a análise dos dados. 
 
3.1.2. Geração e coleta dos dados 
Entre os autores de referência para o desenvolvimento da pesquisa etnográfica, 
necessário é recorrer a Graue e Walsh (2003, p. 127) porque entendem que “a utilização de 
uma só estratégia de investigação - por exemplo, só a observação ou, pior ainda, um só tipo de 
observação - introduz preconceito no registro de dados.” Desta forma, esse processo de 
geração de dados subdividir-se-á em análise documental, observação das atividades em sala 
com manifestações dos alunos, e entrevista com os três professores, selecionados como 
sujeitos. 
Os critérios de seleção das classes foram uma do primeiro ano, uma do segundo ano e 
uma do terceiro ano. A coordenadora e vice-diretora da escola selecionada propuseram a 
realização da pesquisa na sala da professora SLA do primeiro ano do período da manhã, da 
professora JLA do segundo ano também do período da manhã e da professora RSI do terceiro 
ano do período da tarde. 
 
 3.1.2.1. - Análise documental 
Para esta pesquisa será analisado o Guia de Planejamento e Orientações Didáticas 
do programa Ler e Escrever, as informações nele contidas e as orientações para os 
professores. Cunha (1989, p. 18) afirma que a análise de documentos pode ser definida “[...] 
como um conjunto de textos ou documentos com o fim de expressar o conteúdo [...].”. Além 
disso, conforme Caulle (1981 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38), “[...] a análise 
documental busca identificar informações factuais dos documentos a partir de questões ou 
hipóteses de interesse.” 
 
3.1.2.2. - Observação 
Com o intuito de permitir uma maior aproximação com os sujeitos participantes da 
pesquisa, será realizada observação participativa. Os objetivos desta pesquisa serão revelados 
aos participantes e o pesquisador também participará das atividades porque, como afirmam 
Graue e Walsh (2003, p. 133), não se deve permanecer “[...] atrás de um ecrã ou de um vidro, 
mas ao lado das crianças, capaz de ouvir o que esta a ser dito, interagindo com elas e 
partilhando ate certo ponto das suas experiências.” Por meio da observação participante será 
possível conhecer a realidade dos sujeitos da pesquisa, garantir um maior relacionamento 
entre eles, além de permitir que o pesquisador possa compreender melhor o comportamento e 
as atitudes dos professores e dos alunos. 
Desta forma, serão observadas as aulas ministradas por três professores do primeiro ao 
terceiro ano do ensino fundamental, uma vez que isso possibilitaria criar uma visão das 
práticas de leitura, pelo menos, da intenção de ensiná-las. A observação será realizada dentro 
da sala de aula por meio de encontros semanais, consecutivos, alterando a cada semanao dia 
de visita nos meses de maio e agosto de 2015. 
A observação teria a função de gerar registros acerca dos questionamentos, diálogos e 
conversas entre os alunos e professores, uma vez que estes dados garantiriam melhor 
compreensão a respeito da aprendizagem, das atitudes e das ações do professor em suas 
práticas. Todas as informações serão registradas em um diário de campo, a partir de uma 
análise descritiva e reflexiva para que os dados contribuam efetivamente para atingir os 
objetivos da pesquisa. Este diário também comportaria as manifestações dos sujeitos e as 
observações pessoais do pesquisador. 
 
3.1.2.3. – Entrevista 
Será elaborado um roteiro de entrevista pela qual os entrevistados poderão expressar 
suas opiniões de acordo com seus pontos de vista. Isso proporcionará maior interação com os 
entrevistados, e permitirá coletar informações a respeito das atividades destinadas à prática de 
ensino do ato de ler, das intenções e avaliações de leitura. Desta forma, será utilizada a 
entrevista que, assim como apontam Lüdke e André (1986, p.36), é um importante 
instrumento para buscar “[...] uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais, 
hesitações, alterações de ritmo, enfim, toda uma comunicação não verbal cuja captação é 
muito importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito.”. 
A forma de entrevista a ser utilizada e que contribuirá para que os entrevistados 
tenham maior liberdade de expressão será a semiestruturada uma vez esse tipo de entrevista 
“[...]se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo 
que o entrevistador faça as necessárias adaptações.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 34). 
Após a sua elaboração, o roteiro será apresentado aos professores, cientes da 
natureza do projeto, do anonimato e da utilização para fins acadêmicos dos dados, por meio 
do termo de autorização e consentimento. A princípio os professores serão convencidos a 
respeito da importância que as entrevistas terão para a pesquisa. Elas serão gravadas e 
posteriormente transcritas, uma vez que, conforme May (2004, p. 164), “[...] as gravações 
evitam que o entrevistador substitua as palavras da pessoa sendo entrevistada pelas suas”. 
Além disso, serão observados as expressões e sentimentos dos entrevistados para que nenhum 
dado possa ser perdido durante este processo. 
 
3.2. Procedimento para transcrição e análise de resultados 
 Após cada observação e entrevista o procedimento serão tomadas notas para 
registrar informações como comportamento dos sujeitos da pesquisa, entre outras situações 
observadas, assim como apontam Bogdan e Biklen (1994, p.150): 
[...] depois de voltar de cada observação, entrevista, ou qualquer outra sessão de 
investigação, é típico que o investigador escreva, de preferência num processador 
de texto ou computador, o que aconteceu. Ele ou ela dão uma descrição das 
pessoas, objectos, lugares, acontecimentos, actividades e conversas. Em adição e 
como parte dessas notas, o investigador registrará ideias, estratégias, reflexões e 
palpites, bem como os padrões que emergem. Isto são as notas de campo: o relato 
daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e 
reflectindo sobre os dados de um estudo qualitativo3. 
 
 
3A ortografia foi mantida conforme consta na obra original escrita em Portugal. 
Com o levantamento bibliográfico, a geração de dados e a transcrição, a próxima 
etapa será a de análise de acordo com o objetivo deste trabalho. A organização dos dados 
levantados nesta pesquisa será feita por meio de núcleos temáticos que serão elaborados de 
acordo com os dados gerados. Desta forma, os dados considerados relevantes, de acordo com 
os objetivos da pesquisa, serão divididos por núcleos temáticos. Padilha (2006, p. 111) afirma 
que “[...] a escolha de núcleos temáticos ou categorias nunca é aleatória. Como qualquer 
opção, é ideológica [...]” uma vez que, “reflete e refrata uma outra realidade, que lhe é 
exterior. Tudo que é ideológico possui significado e remete a algo situado fora de si mesmo” 
(BAKHTIN, 1992, apud PADILHA, 2006, p. 111). Assim, por meio destes núcleos, poderá se 
compreender as interferências do material Ler e Escrever nas práticas e representações dos 
professores que sujeitos da pesquisa. Esses núcleos serão organizados a partir de análise 
inicial dos dados gerados por todos os instrumentos aplicados e, em seguida, dados e 
referências teóricas participarão, conjuntamente, do processo interpretativo. 
 
3.3. Atividades já desenvolvidas pelo mestrando 
Até o momento, foram realizadas algumas das etapas da pesquisa, entre as quais: 
disciplinas cursadas, participação em eventos, atividades de observação na escola escolhida e 
atividades de pesquisa com o documento Ler e Escrever. 
 
3.3.1. Disciplinas cursadas 
A mestranda finalizou as disciplinas “Tópicos Especiais: Leitura e literatura infantil 
na Educação da infância: a formação de crianças leitoras” ministrada pelas professoras Cyntia 
Graziella Guizelim Simões Girotto e Renata Junqueira de Souza e “Tópicos especiais: a 
educação na França contemporânea: políticas de formação de leitores e processo de formação 
e profissionalização docente” ministrada pelos professores Alonso Bezerra de Carvalho, 
Sinésio Ferraz Bueno e Max Butlen. Atualmente cursa “Abordagens Metodológicas da 
Educação de Jovens e Adultos” oferecida pelo professor José Carlos Miguel, “A escrita e a 
constituição do autor” ministrada pela professora Stela Miller e a disciplina “Leitura e 
Leitores: conceitos e práticas” ministrada pelo professor Dagoberto Buim Arena. 
 
3.3.2. Participação em eventos 
A partir do projeto de pesquisa, de leituras de documentos, análises dos dados 
gerados e coletados até o momento, foram enviados trabalhos a eventos. Para o 6º Seminário 
Brasileiro / 3º Seminário Internacional de Estudos Culturais e Educação, a ser realizado de 
primeiro a três de junho de 2015 foi enviado o trabalho intitulado Trabalho docente com a 
Utilização do livro didático do programa Ler e Escrever: o ensino dos atos de leitura. O 
trabalho intitulado Guia de planejamento e orientações didáticas - professor alfabetizador do 
programa Ler e Escrever: análises e reflexões foi submetido ao 4º Congresso Internacional 
de Literatura Infantil e Juvenil a ser realizado nos dias dois a quatro de setembro de 2015. 
A mestranda também enviou trabalhos com a temática da leitura em outros eventos. 
Os trabalhos enviados foram: O trabalho docente no ensino dos atos de leitura ao 6º 
Seminário Brasileiro / 3º Seminário Internacional de Estudos Culturais e Educação a ser 
realizado nos dias um a três de junho de 2015; Filhos do Paraíso: a formação do leitor com a 
utilização de filmes legendados ao II Encontro de Pesquisa em Informação e Mediação a ser 
realizado nos dias vinte e oito a trinta de maio de 2015; Práticas pedagógicas de leitura na 
educação infantil e ensino fundamental e a formação de professores e Para além do ato 
tradicional de escrita em caixa alta na educação infantil: o uso da caixa dupla ao I Encontro 
sobre currículo e II Encontro de educação infantil da FFC Unesp/Marília a ser realizado 
entre os dias oito a onze de junho de 2015. 
 
3.3.3. Atividades de observação na escola escolhida 
Foi selecionada uma escola localizada na zona leste da cidade de Marília/SP uma vez 
que professores que trabalham na rede como eventuais informaram que nela o trabalho com o 
material do programa Ler e Escrever deveria ser seguido obrigatoriamente pelos professores 
da unidade escolar. Dessa maneira, as aulas observadas poderiam contribuir de melhor 
maneira para a pesquisa. 
 
3.3.3.1.Professores e salas indicadas pela direção da escola 
Após a seleção da escola, o projeto foi apresentação diretor da unidade escolar. 
Posteriormenteà aprovação para a realização da pesquisa, a coordenadora da escola e vice-
diretora propuseram, conforme mencionado anteriormente, a sala de primeiro ano do período 
da manhã da professora SLA, a sala do segundo ano também do período da manhã da 
professora JLA e a sala do terceiro ano do período da tarde da professora RSI. 
 
3.3.3.2.Quantidade e periodicidade de dias e professores observados 
As observações ocorrem no período da manhã das 7 horas às 11 horas e 30 minutos 
e, no período da tarde, das 12 horas e 30 minutos às 17 horas, uma vez na semana para cada 
turma, em dias alternados, nos meses de maio e agosto. Por se tratar de uma escola estadual, 
as disciplinas de artes, inglês, informática e educação física são ministradas por outro 
professor. Desta maneira, o registro das observações não é feito nesses momentos uma vez 
que a pesquisa tem por objetivo acompanhar as aulas ministradas pelos sujeitos selecionados 
para a pesquisa. Até o momento, foram realizados três dias de observação na sala da 
professora SLA, quatro na sala da professora JLA e quatro na sala da professora RSI. 
 
3.3.3.3.Realização ou não de aulas baseadas no Programa Ler e Escrever 
As observações realizadas até o momento permitiram verificar que o material do 
programa Ler e Escrever não é utilizado todos os dias pelas professoras. No que se refere à 
Língua Portuguesa, a escola conta com três livros didáticos: material do Programa Ler e 
Escrever, Projeto Buriti: português4 e No Capricho: caligrafia integrada com ortografia e 
gramática 5. As atividades desenvolvidas com o material do Projeto Buriti são propostas de 
tarefa aos alunos, enquanto que o material do Programa Ler e Escrever e o No Capricho são 
utilizados em sala de aula e, dependendo da prática do professor, o No Capricho também pode 
ser realizado como tarefa para casa. De acordo com o a professora RSI os livros didáticos do 
Ler e Escrever não podem sair da escola. De modo geral, quando o objetivo das professoras é 
desenvolver propostas de trabalho com a Língua Portuguesa na sala de aula, é possível 
verificar que elas utilizam do material do Programa Ler e Escrever. 
 
3.3.3.4.Primeiras impressões 
As observações permitiram constatar até o momento que as professoras seguem com 
as propostas disponibilizadas no Guia de Planejamento e Orientações Didáticas -professor 
alfabetizador do programa ler e escrever. Neste Guia, há orientações para que os professores 
realizem constantes leituras vocalizadas aos alunos para que tenham acesso ao texto. Nas 
observações da sala do primeiro ano da professora do primeiro ano SLA nota-se que ela 
realiza a oralização de textos aos alunos, conforme o documento propõe. Nesses momentos 
utiliza da entonação para motivar a atenção dos alunos aos fatos descritos na história, de 
modo a contribuir para que participem e busquem estar atentos à história transmitida 
vocalmente. 
Nas situações observadas na sala do segundo ano da professora JLA foi possível 
verificar que nas leituras realizadas para os alunos ela costuma fazer alguns questionamentos 
 
4 O material didático Projeto Buriti: português se refere a uma coleção que busca ampliar a linguagem 
com diferentes atividades de interpretação e produção de textos. 
5 Trata-se de um livro que objetiva desenvolver o traçado da escrita de letras, palavras e frases. 
para retomar determinados fatos da história, mas pouco explora as respostas e conhecimentos 
prévios dos alunos. 
No terceiro ano, a professora RSI oralizou o livro As crônicas de Narnia - O 
cachorro e seu menino. Na oralização, os questionamentos da professora estão relacionados 
ao reconhecimento de palavras desconhecidas e a previsão dos fatos. Os alunos dificilmente 
acompanham a oralização da professora e costumam conversar com outros colegas. A 
professora solicitou por esse motivo que os alunos fizessem um registro da história para que, 
desta maneira, conseguissem focalizar a atenção. Dois alunos, diante da necessidade de fazer 
o registro e por não compreenderem a história oralizada, choraram. 
De modo geral, é possível verificar que propostas de oralização estão constantemente 
presentes em todas as salas observadas. Ao realizá-las como uma das únicas maneiras para 
que o aluno tenha acesso ao texto, o professor ensina que, para ler, é necessário oralizar. 
Nas situações observadas utilizando-se do material do Programa, foi possível 
verificar até o momento que as práticas estão voltadas à reescrita de contos, para os alunos do 
terceiro ano, de parlendas no segundo ano e poesias de memória ao primeiro ano. 
 
3.3.4.Atividades de pesquisa com o documento Ler e Escrever 
Foi realizada a leitura e análise do documento Guia de Planejamento e Orientações 
Didáticas. Trata-se de um documento onde constam orientações detalhadas para a 
implementação de cadernos do Programa. As análises preliminares sinalizam que o 
documento orienta os professores para que realizem trabalhos com diferentes gêneros textuais 
e com livros escritos em linguagem de bom nível e recomenda que desenvolvam entre os 
alunos a prática de estratégias de leitura. Contraditoriamente, são predominantes as situações 
de oralidade e localização de palavras que orientam os alunos a dirigirem seus olhares cada 
palavra do texto, individualmente. Isso permite compreender que o modelo do bom leitor é 
aquele que sabe oralizar fluentemente o texto, e a boa leitura é a caracterizada por tom de voz, 
postura e ritmo adequados. 
 
4. CRONOGRAMA 
 
Atividades 2015 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 
Pesquisa Bibliográfica X X X X X X X X X X 
Estudo teórico X X X X X X X X X X 
Comitê de Ética X 
Termo de consentimento 
aos pais. 
 X 
Coleta e Geração de 
dados 
 X X 
Desenvolvimento da 
Dissertação 
 X X X X X X X X X X 
Organização da Coleta de 
Dados 
 X X 
Descrição e Análise dos 
Dados 
 X X X X X 
 
Atividades 2016 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 
Estudo teórico X X 
Desenvolvimento da 
Dissertação 
X X X X X X X X 
Descrição e Análise dos 
Dados 
X X X X 
Versão Preliminar da 
Dissertação 
 X 
Revisão Ortográfica e 
Científica. 
 X 
Entrega da Dissertação X 
Qualificação X 
Revisão e correções 
metodológicas e 
gramaticais 
 X X 
Versão Final da 
Dissertação 
 X 
Defesa da Dissertação X 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. 3. ed. Campinas: Papirus, 1995. 
 
ARENA, D. B. Situações de leitura em classe de 3ª. Série. In: CONGRESSO DE LEITURA 
DO BRASIL, 17.,2009. Campinas. Anais eletrônicos... Campinas: ALB. Disponível em: 
<alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/.../COLE_203.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2011. 
 
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