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Uso da Internet na Educação Matemática

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A INTERNET NA ESCOLA COMO SUPORTE PARA TRABALHO 
COM PROJETOS EM MATEMÁTICA 
Miriam Godoy PENTEADO1 
Maria Dirlene da SILVA CATTAI2 
Adriana Ribeiro LANNES2 
Denival BIOTTO FILHO3 
Rodrigo Montenegro REIS SILVA3 
Jader Franco GÓES3 
Ronaldo Rouvher GUEDES SILVA3 
Marcelo GASPAROTO3 
Resumo: Este artigo traz uma reflexão sobre um trabalho realizado em parceria com 
professores de matemática de escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. É 
uma tentativa de contribuir com a discussão sobre o uso de tecnologia informática 
nas escolas. Há uma seção sobre a Internet e seu uso nas escolas e então um relato 
das atividades desenvolvidas nas cinco escolas, através do Projeto intitulado 
“Projetando o seu futuro”. Utilizou-se o ambiente Teleduc como suporte para as 
interações virtuais. A análise do trabalho realizado permitiu afirmar que em relação ao 
uso da Internet não se conseguiu fazer com que a comunicação eletrônica tivesse o 
alcance planejado. São muitos os problemas técnicos e falta de manutenção dos 
laboratórios. Os alunos demonstraram interesse em utilizar a Internet, em especial o 
fato de poder habitá-la com registro de sua própria produção. A experiência também 
foi uma contribuição para o desenvolvimento profissional dos professores envolvidos. 
Palavras-chave: Internet; trabalho com projetos; Educação Matemática. 
INTRODUÇÃO 
Neste artigo trazemos uma reflexão sobre um trabalho realizado em parceria com 
professores de matemática de escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. A nossa 
temática de trabalho nos últimos anos tem sido o uso de tecnologia da informação e comunicação 
(TIC) nas escolas. Além do uso de software em situações de ensino e aprendizagem de um 
determinado conteúdo matemático nos voltamos também para o estudo da Internet. Fala–se muito 
da potencialidade dessa tecnologia para transformar a educação escolar. A possibilidade de 
acesso a informações diversas e, principalmente, de aproximar pessoas que estão em territórios 
distantes é algo pouco explorado no âmbito da escola pública. A reflexão que apresentamos aqui é 
uma tentativa de ampliar e contribuir para a discussão sobre esta temática. Iniciamos com uma 
seção sobre a Internet e seu uso nas escolas e então seguimos para um relato das atividades 
desenvolvidas nas escolas, através do Projeto intitulado “Projetando o seu futuro”. 
 
1Professora do Departamento de Matemática, IGCE, Unesp, Rio Claro. Coordenadora do Projeto vinculado ao Núcleo de Ensino. 
2Professora de Matemática de uma das escolas participantes do projeto. 
3Alunos de graduação em Matemática do IGCE envolvidos no projeto. 
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A INTERNET NA ESCOLA 
A Internet é considerada uma mídia aberta e descentralizada. Cada um pode 
acessar o que melhor lhe convir e fazer contato com quem quiser. É possível criar seu próprio 
ritmo de navegação2. Não importa a distância nem o local, uma vez conectados, podemos nos 
comunicar com pessoas em qualquer parte do mundo. É crescente o uso da Internet nas 
atividades diárias e esforços têm sido feitos no sentido de ampliar a possibilidade de seu uso. Hoje 
em dia não ter acesso a Internet é um sinal de exclusão social.3 
No que diz respeito às escolas seu uso também tem aumentado. No ensino superior 
encontramos um destacado avanço. Hoje podemos encontrar várias faculdades que trabalham 
com educadores e educandos em lugares diferentes, e horários mais flexíveis, vídeo aulas, vídeo 
conferência. Algumas também oferecem plantões de dúvidas na Internet em que um professor 
permanece on line durante um período de tempo para que o aluno faça contato. Neste nível de 
ensino a Internet tem servido tanto para cursos totalmente a distância como para suporte aos 
tradicionais cursos presenciais. 
Já no nível fundamental ou médio o uso da Internet está em ritmo lento mas há um 
crescimento do interesse governamental em impulsionar a chegada de computadores nas escolas. 
Isso é notado em escolas da Rede Pública do Estado de São Paulo em que é possível encontrar 
laboratórios amplos com um número razoável de computadores, aparelho de DVD, computador 
interligado a TV de 29 polegadas e conexão com Internet banda larga. Importante ressaltar aqui 
que a quantidade de escolas neste nível está longe de ser satisfatória. 
Em geral são muitos alunos para poucas máquinas. Além disso, mesmo as que 
possuem um laboratório de informática adequado à realização de tarefas envolvendo a Internet, 
nem sempre o fazem porque a simples disponibilidade de tecnologia não significa garantia de 
sucesso desse tipo de atividade. A gestão escolar é fundamental aqui. Muitas vezes a falta de 
planejamento da própria escola e as atitudes de coordenadores e diretores podem obstruir as 
iniciativas dos docentes. Pode ocorrer intimidações, como por exemplo se a direção atribuir ao 
professor a responsabilidade sobre qualquer dano causado nos equipamentos. Que professor de 
escola pública quer se arriscar a assumir tal responsabilidade sozinho? Isso acarreta uma 
sobrecarga de trabalho que poucos professores estão dispostos a enfrentar. Além da sobrecarga 
de trabalho tem também o aspecto da formação. Muitas vezes, talvez na maioria dos casos, a falta 
de envolvimento dos professores não é simplesmente para esquivar-se de mais trabalho, e sim por 
não ter formação para isso. Por toda essa problemática, o sucesso do uso de TIC nas escolas 
 
2Esta é uma expressão bastante utilizada na literatura: “navegar pela Internet” que significa acessar os vários sites disponíveis. 
3Uma discussão detalhada sobre esse aspecto é feita por Castells (1996) 
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pressupõe uma alteração na cultura do trabalho docente no sentido de um maior compartilhamento 
das ações.4 
Não queremos aqui fazer uma apologia ao uso da Internet como algo que vai 
melhorar o sistema educacional. Na verdade pouco se sabe sobre as vantagens dessa adoção em 
larga escala. É preciso pesquisar e conhecer melhor suas contribuições. Não podemos ter a 
ingenuidade de crer que a Internet resolverá todos os problemas da Educação. 
Certamente o uso de uma tal tecnologia implica um novo papel tanto para alunos, 
quanto para professores. Abre possibilidades para novas abordagens metodológicas tais como os 
trabalhos em grupos em torno de um tema. O professor deixa de ser o centro das informações 
para o aluno. Muitas coisas o aluno descobre através de sua navegação e traz como contribuição 
para a sala de aula. (BORBA & PENTEADO, 2001) 
A nossa perspectiva para o uso de Internet na escola é para estimular que os alunos 
trabalhem em grupos na investigação de determinados temas e que esse trabalho possa ser 
realizado também com a colaboração de pessoas que estão distantes geograficamente da escola.5 
A idéia é ampliar a rede de interlocutores dos alunos e professores. 
Em uma rede as relações entretecem-se, articulam-se em teias, em redes, construídas 
social e individualmente, e em permanente estado de atualização. A rede é constituída 
por nós e ligações.(...) As ligações são as relações entre os nós. Os nós e as ligações 
(...) criam relações de reciprocidade, de dualidade, de não-linearidade, de múltiplas 
articulações, de abertura a mudanças. (MACHADO, 1995 p. 138 apud ALMEIDA, 2000 
p.73) 
Vejamos algumas ferramentas computacionais que podem ser utilizadas nessa 
perspectiva de trabalho colaborativo: 
Correio eletrônico 
- pode servir como meio de comunicação entre professores e alunos; 
- uma maior facilidade de comunicação; 
- criação de grupos de discussão. 
FTP – Transferência de pastas de dados 
- permite compartilhar informações (ex: material de estudo) numa escola ou rede de 
escolas; 
- recolher dados de bibliotecas informatizadas. 
 
4Penteado (2001) traz uma discussão detalhada sobre os riscos do uso de TIC para os professores. 
5Atividadesdenominadas de projetos telecolaborativos. Ver mais detalhes sobre isso em Penteado, Biotto Filho & Silva (2006). 
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Bate papo on line 
- fazer conferência sobre temas específicos de uma disciplina ou material de estudo; 
- debates entre alunos de diferentes escolas; 
Existem vários ambientes computacionais que integram essas ferramentas e são 
especialmente desenhados para dar suporte ao trabalho colaborativo pela Internet. Em nossa 
pesquisa as escolas utilizaram o ambiente Teleduc6. A seguir descreveremos algumas das 
possibilidades deste ambiente para a interação entre alunos e professores: 
Em “Material de Apoio” podemos disponibilizar artigos, dissertações, etc; 
Geralmente é disponibilizado pelo coordenador da atividade. As discussões podem ser feitas na 
sala de bate-papo (link bate-papo). Neste ambiente a comunicação se dá através da escrita e 
impera a informalidade. A preocupação não é escrever corretamente o idioma e sim transmitir uma 
idéia. A colaboração ocorre de forma síncrona e em tempo real, onde acontece o que Borba & 
Penteado (2001) descrevem como multiálogo, o acontecimento de diversos diálogos 
entrecruzados. 
Há também a possibilidade de se enviar mensagens de correio eletrônico para todos 
ou para apenas um dos participantes com cópia para e-mail externo. Esse tipo de comunicação 
acontece de forma assíncrona. Ainda de forma assíncrona pode-se utilizar o ‘fórum’ que permite a 
criação de temas de discussão e as pessoas contribuem cada qual conforme seu tempo. As 
mensagens ficam disponíveis para todos os participantes. O fórum é organizado por temas. 
Há o mural para divulgação de notícias. Existem ainda outras ferramentas tais como 
portifólio para que cada participante disponibilize seu material. Segue abaixo uma tela do Teleduc. 
 
6 http://teleduc.unicamp.br/teleduc/ 
 
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A seguir descrevemos as atividades realizadas pelas escolas participantes de nossa 
pesquisa. 
O TRABALHO NAS ESCOLAS 
O trabalho realizado na escola teve como base a perspectiva acima mencionada. O 
seu objetivo era ampliar nossa compreensão sobre o uso da Internet em atividades pedagógicas. 
Para isso, contatamos escolas que possuíam acesso à Internet, quer na sala de informática ou na 
secretaria. Manifestaram interesse e participaram inicialmente do projeto quatro7 escolas da cidade 
de Rio Claro e uma da cidade de Araras. A equipe foi formada por professores das escolas, 
pesquisadores da Unesp e alunos do curso de licenciatura em Matemática da Unesp. Grande 
parte já havia trabalhado em projetos anteriores conosco. 
Uma vez definida a equipe, passamos a fazer reuniões semanais para discussão de 
como organizar as atividades com os alunos. Nossa idéia era trabalhar a Matemática com base em 
problemas não necessariamente matemáticos8. A maioria da equipe já havia estudado aspectos 
teóricos dessa abordagem e desenvolvido atividades dessa natureza em projetos anteriores. A 
discussão girava em torno de como trabalhar colaborativamente com diferentes escolas. 
Passamos um bom tempo discutindo se o tema deveria ser livre de forma que cada aluno 
escolhesse sobre o que gostaria de pesquisar, ou seria um tema diferente por escola ou ainda se 
seria um mesmo tema para todas as escolas. Decidimos que seria um mesmo tema para todas as 
escolas pois achávamos que isso facilitaria a interação entre os alunos já que estariam tratando de 
 
7Iniciamos com quatro escolas em Rio Claro mas em uma delas o trabalho foi interrompido. Os motivos são expostos na seção sobre o 
trabalho nas escolas. 
8Metodologia de trabalho com projetos ou aprendizagem baseada em problemas. Em Inglês a sigla é PBL – problem based learning 
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um mesmo assunto. Uma professora trouxe um material9 com sugestões de temas para trabalhos 
dessa natureza. Dois foram os temas que nos chamaram mais a atenção. Um era sobre escolha 
profissional, que envolvia pesquisar o mercado de trabalho, salário, vocações e influências. O 
outro abordava o assunto consumo, que envolvia a pesquisa sobre Código de Defesa do 
Consumidor, cesta básica, comparação de preços, despesas e prazo de validade. Inicialmente 
pensamos em fazer uma reunião desses projetos e usar a proposta de atividades que os 
acompanhavam. Mas de nossos estudos sobre o trabalho com projetos como prática pedagógica, 
entendíamos que aquelas atividades propostas pelo livro eram muito diretivas. Precisávamos de 
uma orientação mais aberta de forma a possibilitar diferentes caminhos de investigação por parte 
dos alunos. Após muita conversa, decidimos por propor uma situação comum para todos mas a 
forma de investigá-la seria discutida e decidida com cada grupo de alunos. 
A situação apresentada aos alunos foi a seguinte: Título: Projetando o seu futuro. 
"Imagine que você já é adulto, tem uma profissão e precisa investigar sobre as condições para 
morar sozinho e se sustentar de forma a viver bem’”. 
Investigar isso implicava, dentre outras coisas, escolher e pesquisar uma profissão, 
o mercado de trabalho, o que consideravam como viver bem, o que precisavam para morar 
sozinho, que gastos teriam e qual um salário para manter uma vida como aquela. 
É importante observar que para chegarmos a esta decisão foram necessários vários 
encontros, discussões, negociação e simulação do que aconteceria com os alunos. Fizemos isso 
presencialmente e também pela Internet. O próximo passo foi pensar na operacionalização. A 
primeira questão a ser resolvida era: trabalhar com uma classe toda ou com um grupo de alunos 
num horário extra? Tendo em vista o número reduzido de computadores nas escolas e também o 
fato de que queríamos uma participação voluntária dos alunos, resolvemos que faríamos em 
horário extra-aula com um grupo de nove alunos em média por escola, na faixa etária entre 14 e 
17 anos. O trabalho teria a duração aproximada de dez encontros. Durante o desenvolvimento, os 
alunos de uma escola fariam contato com os de outra através da Internet. Para isso utilizaríamos o 
Teleduc como base de integração do trabalho das cinco escolas. Os grupos deveriam armazenar e 
disponibilizar tudo o que produziam durante o projeto, para que se pudesse conhecer o que estava 
sendo feito em cada uma das escolas. Podia-se saber o que outros grupos estavam 
desenvolvendo, dar sugestões, fazer perguntas e comentários. Ao final do trabalho nas escolas, 
haveria um encontro presencial com todos os participantes. Vejamos a seguir o rumo que cada 
escola perseguiu. 
Escola A 
 
9Livros da Coleção Educação Matemática, 5ª a 8ª série, Célia Carolino Pires, Edda Curi e Ruy Pietropaolo. Atual Editora, São Paulo, 
2002. 
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Esta escola se localiza ao lado da universidade, num bairro afastado do centro da 
cidade, e trabalha há muitos anos em parceria conosco. Possui uma boa sala de informática com 
cerca de 10 computadores e conexão com Internet banda larga. Muitos professores costumam 
usar esta sala para dar aulas, e a direção incentiva e apóia bastante esse tipo de atividade. 
Aqui contamos com a participação de dez alunos e foram realizados dez encontros. 
Iniciamos com a apresentação da proposta. Em seguida eles escolheram as profissões e 
começaram a planejar as atividades que desenvolveriam para projetar o futuro. Nesta escola o 
principal instrumento de pesquisa foi a Internet. A maioria dos alunos não tinha acesso a ela em 
casa, assim poder usá-la na escola foi essencial para a pesquisa. Ao final de cada encontro, eles 
acessavam o Teleduc para arquivar e compartilhar o que descobriam. Vale lembrar que houve um 
momento de familiarização com o Teleduc o que não ocupou muito tempo pois ele é muito fácil de 
ser usado. 
O primeiro passo dos alunos foi pesquisar sobre profissões. Entre as escolhidas 
estavam: professor de matemática, engenheiromecânico, jornalista, dona de loja de roupas, 
bióloga, veterinária e ator. Depois eles pesquisaram que estudos eram necessários para 
exercerem aquelas profissões, e escolheram as instituições em que estudariam. Também 
pesquisaram o mercado de trabalho e o salário. Interessante que durante essas pesquisas muitos 
mudaram de profissão e outros optaram por ter duas profissões: uma para se manter, outra para 
‘fazer o que gostavam’. 
Após a pesquisa das profissões, cada um dos alunos construiu uma tabela (tabela 
1) com a previsão de seus gastos mensais. Eles incluíram gastos com produtos de limpeza, de 
higiene pessoal, comida, energia elétrica, água, gás, roupas, transporte, produtos pessoais, 
aluguel e telefone. Alguns incluíram gastos com Internet (banda larga), plano de saúde e lazer. 
Tabela 1 - Tabela de gastos mensais de uma aluna (em R$) 
 
Produtos de limpeza 25,00 
Mercado 250,00 
Energia elétrica 50,00 
Água e esgoto 25,00 
Gás 14,00 
Roupa 150,00 
Transporte 350,00 
Produtos pessoais 50,00 
Financiamento da casa 350,00 
Telefone 50,00 
 
 395 
Este encontro em que foram planejadas as 
despesas gerou muitas discussões que se estenderam 
por mais dois encontros. 
Uma delas foi sobre os valores a serem gastos: 
“Quanto seria gasto por mês em comida? Em telefone? 
Em aluguel?...” Eles davam opiniões nos gastos uns dos 
outros e chegavam a um consenso sobre o que é ‘gastar 
demais’ (ou insuficientemente) em cada item. 
Também foi bastante discutido sobre o que eles 
iriam possuir e como comprariam: “Vou ter automóvel? 
Vou ter quais eletrodomésticos? Eles são econômicos? 
Como vou comprá-los: à vista ou a prazo?...” 
Interessante que muitos mudaram suas escolhas depois 
destas conversas. 
Outro problema foi sobre a compra da casa: “O 
que é melhor: comprar ou alugar uma casa? Financiá-
la?...” Para os alunos, o aluguel de uma casa 
aumentava muito o valor das despesas. E era muito 
caro comprar uma. 
Uma aluna até 
chegou a dizer: “O 
melhor é eu ficar morando com meus pais!” 
 
No nono encontro, eles compararam seus salários e 
suas despesas e analisaram quais os ajustes que poderiam 
fazer, caso fossem necessários. 
No décimo encontro foi solicitado que eles fizessem 
uma redação. Deveriam tratar sobre os planos para o futuro e 
incluir o que tinham pesquisado nos encontros passados sobre 
os salários e as despesas10. 
 
 
10 Veja Quadro 1 e Quadro 2. 
Quadro 1 - redação de um aluno 
“(...) sou ator de teatro e produtor diretor, 
(...) gasto por mês r$2000,00, sei que é 
com coisas banais, mas também com 
coisas importantes, (...) e sempre lutando 
por uma vaga maior em um outro teatro, e 
quem sabe talvez numa novela. (...) a 
minha casa é financiada (...), pago também 
o meu carro em 24 parcelas (...). mas 
aonde eu tento economizar e não consigo é 
no supermercado (...) e todo mês tenho que 
comprar pelo menos uma peça de roupa, 
pois é feio ir sempre ao teatro com a 
mesma roupa. (...) passei por situações 
críticas para estudar cinema e artes 
cênicas. agora quero fazer medicina, afinal, 
foi um dos meus primeiros sonhos. nos fins 
de semana vou visitar a minha mãe. e lá vai 
gasolina. (...) quase não sobra nada para 
mim, mas tenho tudo (quase) que sempre 
sonhei. (...) sempre que posso ajudo a 
minha mãe. (...)” 
Quadro 2 - Redação de uma aluna 
“(...) Tenho 25 anos. Cursei uma 
faculdade. (...) morei com meus 
pais até conseguir um emprego fixo, 
(...) hoje sou formada em 
administração, tomo conta de minha 
própria loja que consegui com a 
ajuda de meus pais. Tenho minha 
casa própria que consegui comprar 
com meu salário. Mobiliei minha 
casa por partes, comprando uma 
coisa por vez, sem pressa. Gasto, 
por mês, em média, R$ 1311,00, 
com (...)” 
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Escola B 
Esta escola se situa na periferia da cidade e a maior parte dos alunos que a 
freqüenta é de classe econômica não muito favorecida. Da mesma forma que na escola anterior, 
aqui participaram dez alunos. A escola possui sala de informática, mas seus computadores não 
são conectados à Internet. Na secretaria havia um computador conectado a Internet mas somente 
em dois encontros eles conseguiram usar esse computador para conhecer o Teleduc. A maioria 
das informações sobre o projeto era disponibilizada pela professora a partir de acesso a Internet 
de sua casa. Durante os encontros, que aconteciam em período contrário ao das aulas dos alunos, 
eles se reuniam e relatavam o que haviam pesquisado sobre suas profissões. O principal meio de 
pesquisa deles foi entrevistar profissionais relacionados à sua escolha; também usaram guias de 
profissões e ajuda de professores que conheciam melhor a profissão. 
Os alunos calcularam e anotaram os gastos mensais e também os gastos que 
teriam com móveis, eletrônicos e utensílios domésticos. Alguns alunos foram bastante detalhistas 
nesta atividade. Por exemplo, um deles pensou em: garfos, xícaras, toalhas, pano de prato, etc. 
Ele tentou pensar em tudo o que se precisa em uma casa. Além disso, ele teria uma casa muito 
bem equipada: com computador, TV 29", DVD, etc. Outra aluna chegou até mesmo a fazer a 
previsão de quantas escovas de dentes teria que comprar. Ainda outro calculou quanto precisava 
para comprar uma casa, pois queria financiar uma, visto que achava o aluguel muito caro; ele fez 
uma previsão para saber por quanto tempo teria que depositar 300 reais por mês na poupança 
para ter o dinheiro para comprá-la. Enquanto que para outro aluno poucas coisas tais como: uma 
cama - esqueceu o colchão - TV, sofá, fogão, eram suficientes para viver bem. Segue alguns 
destaques do trabalho que os alunos desenvolveram nesta escola. 
Profissão escolhida: Psicóloga 
Pessoa entrevistada: Uma tia que é psicóloga. Ela tinha bastante pacientes, mas passou a morar em outra 
cidade e a ter apenas três pacientes. 
Formação: É necessário fazer o curso de Psicologia que dura 5 anos (na faculdade que a tia fez). A tia 
possuía uma bolsa de estudos e tinha apenas as despesas com o transporte (a faculdade era numa cidade 
vizinha). Segundo ela, nos dois primeiros anos são estudadas disciplinas como Matemática, Português e 
Ciências, e depois se estudam as matérias específicas da Psicologia. 
Salário: Depende do número de pacientes que a pessoa tiver. 
Comentário: Este item gerou uma discussão interessante. A aluna conversou com sua tia por telefone. A tia 
deu o exemplo: “se ela tivesse 10 pacientes, com uma sessão por semana, cobrando R$ 50,00 por 
sessão...”. A aluna responde: “então ela irá ganhar R$ 500,00 por semana”. A conversa com a tia continuou, 
e a aluna foi anotando algumas contas em seu caderno. Durante o encontro ela reviu em seu caderno: 4 x 
500 = 2000, mas ela não sabia por que havia anotado: “Eu não sei de onde saiu isso: 4 x 500 = 2000”. O 
grupo raciocinou: “Se ela tivesse 10 pacientes, quanto ganharia por semana? Quantas semanas têm em um 
mês? Quanto ela ganharia por mês?”. 
Local de trabalho: A pessoa precisa ter um consultório ou uma clínica. Mas, no início até ela conseguir 
dinheiro suficiente para montar o consultório, pode trabalhar na Prefeitura, dando assistência aos alunos das 
escolas públicas que precisarem de atendimento. Isso levantou a seguinte questão: “O que é preciso para 
trabalhar na Prefeitura? Há vagas? Não é sempre que a Prefeitura contrata psicólogos”. 
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Profissão escolhida: Administrador de Fazendas 
Pessoa entrevistada: Um funcionário de uma universidade e um fazendeiro. 
Formação: O funcionário da universidade o informou que poderia fazer um curso de Administração, de 
Agrimensura ou de Zootecnia. Já o fazendeiro, disse que ele não precisa fazer nenhum curso: “é só ir ao 
sítio, começar a trabalhar, aprender o serviço e tentar arrumar um emprego de administrador de fazendas”. 
Salário: Segundo o fazendeiro, o salário pode chegar a R$ 3.000,00. E segundo o funcionário,R$ 
10.000,00. O aluno ficou bastante entusiasmado com esses valores! 
Escola C 
Esta é uma das principais escolas de Rio Claro, situada no centro da cidade, que 
recebe em sua maioria alunos de bairros próximos com um nível social um pouco mais elevado do 
que os das outras escolas envolvidas no projeto. A sala de informática possuía oito computadores, 
ligados em rede, mas sem acesso a Internet. 
Houve uma proposta da direção para que o trabalho envolvesse as turmas do 
período da manhã e da noite. Decidiu-se trabalhar com 10 alunos do período da manhã, com 
participação voluntária e envolver uma classe toda do período da noite – 40 alunos. Foi um grande 
desafio envolver esse número de alunos com participação compulsória. 
Nessa turma a idade dos alunos estava entre 18 e 24 anos. A professora de 
matemática era a mesma para o período da manhã e da noite. Para amenizar o problema de falta 
de espaço e de computadores no laboratório de informática, a turma foi dividida em cinco grupos 
com uma média de oito alunos em cada um sendo que três grupos trabalhavam em uma aula 
dupla e dois em outra, dividindo assim a turma entre o laboratório de informática e a sala de aula 
com a professora. No laboratório de Informática, as atividades eram orientadas por dois alunos da 
graduação da Unesp. 
Abaixo o exemplo de uma apresentação de uma aluna do noturno: 
Oiiieeeeeee. 
Meu nome é Maria11, estou no 3°D na escola XXX. 
Nasci em Bambuí –MG mas moro em Rio Claro há 8 anos. 
Tenho como perspectiva do meu futuro fazer faculdade de DANÇA, mas prestar vestibular para 
dança esse ano será quase impossível, porém estou indecisa entre Biologia ou Educação Física, mas eu 
não sei nadar para prestar Educação Física. Contudo tenho preferência por Educação Física e depois me 
especializar em dança e no futuro abrir uma Academia de dança Evangélica. e trabalhar com projetos 
Sociais em Presídios, Febens e Favelas. 
Os alunos do noturno, em geral, já trabalham, porém nenhum deles tomou sua 
profissão atual como a desejada para o futuro. Outro ponto de destaque é que a maioria já tinha 
familiaridade com os computadores e isso facilitou o trabalho. 
 
11Nome fictício 
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Devido ao grande número de alunos, as atividades foram mais dirigidas se 
comparadas com as das outras escolas. Embora tenha havido uma boa participação, é importante 
ressaltar que nem todos estavam interessados. Isso ficou explicito pela excessiva ausência dos 
alunos nas aulas, em particular na véspera de feriados. É importante lembrar que na turma da 
noite os alunos não tinham a opção de não participar do projeto. 
Com a turma da manhã o trabalho foi desenvolvido durante doze encontros e 
envolveu dez alunos da terceira série do ensino médio com idade entre 17 e 19 anos. Houve um 
grande número de interessados e foi preciso fazer uma seleção. O projeto foi desenvolvido durante 
as aulas de matemática: das cinco aulas semanais, duas foram dedicadas ao projeto. A idéia era 
estudar o conteúdo de matemática financeira no contexto da situação problema proposta. 
Enquanto esse grupo trabalhava no projeto, o restante da classe ficava trabalhando com a 
professora na sala de aula. 
O primeiro encontro foi dedicado à discussão da situação proposta e da 
necessidade de pesquisa. Foi surpresa perceber que muitos alunos já tinham em mente suas 
profissões e até alguns planos para alcançá-las. Uma vez definida a profissão, iniciou-se a fase de 
pesquisa. Como a escola estava sem Internet, essa fase foi feita em casa pelos alunos. Os que 
não possuíam acesso a Internet, eram auxiliado pelo material levado pelos orientadores. Este 
material era composto de revistas, jornais e panfletos. 
Nos encontros seguintes, foram discutidos os resultados das pesquisas sobre os 
salários, mercado de trabalho e a formação necessária. Isto foi feito no laboratório de informática, 
os dados foram preparados para serem posteriormente adicionados ao Teleduc. 
Abaixo segue a apresentação de um aluno. 
 
 399 
Posteriormente, a discussão girou em torno do que se entendia por “viver bem” e a 
conclusão foi a de que era preciso ter uma harmonia entre boa situação financeira e boa saúde. A 
partir dessa discussão cada um elaborou uma lista sobre o que necessitaria para viver bem. Essa 
lista também foi objeto de discussão na sala. Por que precisamos disso ou daquilo? A seguir, 
fizeram um levantamento do custo de vida que haviam planejado. Neste momento o acesso à 
Internet na escola fez muita falta. Para auxiliar, foram fornecidos diversos jornais e panfletos de 
lojas com artigos que continham nas listas. 
Os alunos perceberam que várias listas eram impossíveis de serem mantidas com o 
salário que receberiam. Alguns incluíram aplicação na poupança, e calcularam os juros para a 
compra de um imóvel e o parcelamento em lojas. Fizeram até um ‘projeto de casamento’. Nesse 
momento o conteúdo de matemática financeira foi importante. Utilizamos os computadores em 
quase todo o projeto com planilhas de cálculos e produção de textos. 
Chegou-se a um ponto em que os próprios alunos teriam que decidir sobre o ‘rumo’ 
de suas vidas, principalmente aqueles que concluíram que o salário não supria as despesas. A 
solução tomada por alguns foi diminuir a lista de consumo. Outros, optaram por mudar a profissão. 
Em geral o trabalho nessa escola transcorreu bem apesar da deficiência do 
laboratório de informática. O laboratório possuía oito máquinas e ao final do projeto elas foram se 
danificando e apenas três estavam operando. 
ESCOLA D 
Esta escola também está situada em um bairro de periferia de Rio Claro e tem aulas 
nos períodos da manhã, da tarde e noite. Iniciamos nosso trabalho com alunos do período da 
manhã. Neste período funcionam salas do 2º. Ciclo do Ensino Fundamental. Optamos por alunos 
com mais de 13 anos, ou seja, os que cursavam as 7ªs e 8ªs séries. Eles deveriam voltar à escola 
no período da tarde para desenvolver as atividades. 
A seleção dos alunos foi feita pela professora de Matemática a partir de conversas 
com eles na sala de aula. Nem todos os alunos podiam voltar para a escola para atividades extras, 
porque trabalhavam ou porque não tinham quem os trouxessem até a escola. Com tudo isso 
considerado, oito alunos manifestaram interesse em participar. A administração da escola 
colaborou bastante com o projeto. Apesar de se interessar por este tipo de parceria, ela raramente 
o faz, pois está localizada em um bairro muito distante da universidade. 
O primeiro encontro foi utilizado para uma atividade de familiarização com o 
computador já que poucos sabiam utilizá-lo. Contou com a participação de seis alunos. Iniciar com 
o computador e explorar a Internet fascinou os alunos presentes. Aproveitou-se essa oportunidade 
para providenciar um endereço de e-mail para quem ainda não o possuía. 
 400 
O segundo encontro contou com apenas quatro alunos, e foi dada a continuidade na 
exploração de sites de busca na Internet e como utilizar o Teleduc. Houve uma conversa com os 
alunos sobre a necessidade de presença nos encontros. A professora de Matemática se 
comprometeu a auxiliá-los nas pesquisas em horário de aula. 
Abaixo segue a profissão escolhida e a apresentação no Teleduc de um aluno desta 
escola: 
 
A partir desse encontro a situação tomou um rumo desfavorável para a continuidade 
das atividades. Houve uma interrupção por coincidir com feriados. Além disso, vários encontros 
tiveram que ser cancelados porque a prioridade do uso da sala de informática tinha sido dada para 
projetos de recuperação de alunos com rendimento insuficiente em outras disciplinas. Não 
conseguimos retomar as atividades com os alunos e o trabalho foi suspenso a partir do segundo 
encontro. 
ESCOLA E 
A escola E é situada no centro da cidade de Araras e recebe estudantes de vários 
bairros da periferia e também do centro da cidadeÉ uma escola que, assim como a maioria das 
escolas, segundo os professores, apresenta muitos problemas de disciplina. Participaram do 
projeto doze alunos, com faixa etária entre 14 e 16 anos de idade. Vale ressaltar que não houve 
qualquer problema relacionado à indisciplina entre os participantes durante o projeto. 
Os encontros semanais eram realizados no período contrário ao horário de aula. O 
local dos encontros alternava entre a sala de informática e a sala de aula. Nas reuniões realizadas 
na sala de aula eles sentavam em círculos e discutiam o tema e os assuntos específicos do 
projeto. Na sala de informática, eles utilizavam os computadores conforme a necessidade. 
Primeiramente, o tema foi exposto aos estudantes e iniciou-se a pesquisa sobre as 
profissões. Foram levantados aspectos tais como o salário, mercado de trabalho, a qualificação 
necessária entre outros. Depois os alunos expuseram e discutiram o que pesquisaram. Mas os 
dados das pesquisas e das discussões não estavam sendo registrados. Por isso, distribuímos 
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fichas para serem preenchidas a fim de facilitar a fase de registro das informações. As fichas 
constavam do seguinte: 
Você agora é um profissional, descreva: 
 
 Sua profissão; 
 Seu salário; 
 Seu nível de escolaridade; 
 Mais detalhes que julgar importante sobre sua profissão. 
 
Você vive sozinho e é o profissional que escolheu, diga o que é necessário para viver bem e descreva seus 
gastos mensais. 
 
No decorrer das pesquisas, alguns alunos resolveram mudar de profissão e outros 
demoraram mais tempo que os demais para definir a escolha. Quando começaram a analisar o 
custo de vida, todos eles se lembravam de gastos com celular, roupas, passeios, mas, por outro 
lado, eles não tinham muita noção do que precisava para se alimentar durante um mês, isso 
produziu grande discussão entre os alunos para que pudessem fazer esta análise. Ao compararem 
os gastos e o salário perceberam que apenas uma aluna tinha os gastos dentro de seu orçamento. 
Neste momento, passaram a repensar as escolhas feitas, tanto de profissão, como, e 
principalmente, dos gastos, até poderem chegar num equilíbrio entre despesas e salário. 
Inicialmente, tentou-se utilizar a Internet para pesquisa na escola. Porém, isso não 
foi possível porque dos dez computadores disponíveis apenas dois permitiam o acesso à Internet, 
e mesmo esses, tinham a conexão muito lenta. No restante dos computadores a conexão era 
interrompida antes mesmo de se conseguir acessar o Teleduc. Por isso, os alunos passaram a 
usar a Internet em casa, e aqueles que não tinham esse acesso, o faziam em lan houses12. Além 
da Internet, os alunos entrevistaram profissionais da área e parentes. Também pesquisaram em 
jornais, revistas e publicações das universidades. 
Devido ao problema de lentidão dos computadores no acesso à Internet os alunos 
tiveram dificuldade no processo de alteração da senha do Teleduc. Com isso só começaram a 
interagir com os alunos das demais escolas a partir da terceira semana. 
 
12são lojas que cobram um valor por hora para se utilizar o computador com acesso a Internet. 
 402 
ENCONTRO PRESENCIAL 
O encontro presencial, para encerramento das atividades, aconteceu no dia 1 de 
dezembro, nas dependências do Departamento de Matemática. Todas as escolas participantes 
enviaram representantes. Muitos alunos não conheciam a universidade e estavam bastante 
ansiosos com esta visita. Até mesmo um aluno que não participou do projeto pediu para ir ao 
encontro. 
Cada grupo liderado pela professora fez uma apresentação em power point. Depois 
cada um dos alunos falava um pouco da profissão escolhida, do futuro planejado, e também da 
sua própria atuação no projeto (como pesquisou, etc). Os que estavam assistindo podiam fazer 
questionamentos. 
Veja abaixo a foto de um slide de uma das apresentações. 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Neste artigo relatamos um trabalho que buscou inserir o uso da Internet para dar 
suporte ao processo de interação entre alunos de diferentes escolas. Descrevemos como as 
atividades ocorreram em cada escola e as dificuldades encontradas. 
A abordagem baseada numa situação problema e a forma como foi conduzida 
possibilitou aos alunos uma reflexão matemática diferente das que acontecem normalmente nas 
salas de aulas. No momento em que os alunos tiveram que tomar decisões sobre comprar ou 
alugar uma casa, e dizer de onde sairia o dinheiro para isso, houve uma reflexão Matemática muito 
importante, que envolveu juros, rendimento de poupança e a perda do dinheiro do aluguel. Os 
alunos criaram estratégias sobre aquisição de casa própria e como equipá-la. Houve quem, por 
exemplo, planejou até que usaria os móveis da mãe dele (de uma loja de móveis usados que ela 
tem) e que conforme fosse comprando os seus, devolveria os da mãe. Uma menina queria ser 
professora de 1ª a 4ª série. Mas como sobreviver com R$ 750,00? No começo, quando ela viu o 
salário, achou que fosse muito. Quando fez a relação de suas despesas mensais, viu que os 750 
reais não eram suficientes para a vida que havia planejado. Daí começou a cortar despesas: “Ah, 
não! Não preciso ficar tanto tempo no banho! Vou tirar um pouco em energia elétrica” e assim os 
demais fizeram o mesmo. 
Ainda sobre a estratégia adotada pareceu-nos que a participação voluntária traz 
resultados muito melhores do que a compulsória. Isso ficou evidente na escola em que tivemos a 
participação de uma classe toda. Houve muita falta e interrupções. Assim, fica o desafio de como 
implementar uma abordagem de trabalho com projetos na escola de maneira que envolva um 
número maior de alunos. Há que se pensar em ambientes diferenciados do que usualmente temos 
com aulas de 50 minutos. Também se pensar o papel do professor como orientador em atividades 
dessa natureza. 
Outro ponto a ressaltar é o encontro presencial em que os grupos tiveram que fazer 
uma apresentação pública como resultado do que discutiram nas escolas. Isso gerou ansiedade 
mas de uma forma muito positiva. Eles expuseram algo que produziram. O trabalho de escola não 
ficou guardado na gaveta do professor. Consideramos isso muito importante quando se trabalha 
com projetos em escolas. 
Com relação ao uso da Internet, percebemos que apesar de um planejamento 
cuidadoso, não conseguimos fazer com que a comunicação eletrônica tivesse o alcance que 
imaginávamos. São muitos os problemas técnicos e falta de manutenção dos laboratórios. Porém, 
a experiência vivida traz indícios de que é importante continuar nesta direção. Os alunos 
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demonstraram interesse em utilizar a Internet, em especial o fato de poder habitá-la13 com registro 
de sua própria produção. O fato de ser autor nos pareceu mais importante para os alunos do que o 
de ser consumidor de informações disponíveis. A Internet nos possibilita essas duas opções. 
Principalmente os alunos com poder aquisitivo menor, aqueles que não têm acesso 
à Internet em casa, se sentiram valorizados por poderem participar desse trabalho. Não podemos 
fechar os olhos ao que acontece fora dos muros escolares, o mundo todo se encontra interligado e 
através da Internet é possível saber o que acontece do outro lado do planeta numa fração de 
segundos. Nossos alunos sabem disso. A Internet pode ser utilizada de forma a promover novos 
ambientes de aprendizagem na escola e também promover a inclusão digital de alunos com 
situação econômica menos favorecida. 
Cabe aqui também falar da relevância que esse trabalho teve para o 
desenvolvimento profissional de todos os envolvidos: professores, alunos e pesquisadores. O 
trabalho com projetos, embora bastante disseminado nas escolas brasileiras, implica em muitos 
desafios e maneiras novas de organizar a aprendizagem. A inserção do uso de tecnologia 
informática traz um elemento a mais que requer o enfrentamento de várias situaçõesimprevisíveis 
como pudemos ver na seção anterior. Para tudo isso é preciso ter profissionais disponíveis a 
correr risco dessa natureza. 
Finalizamos com a sugestão de que outros trabalhos continuem nessa direção de 
forma a compreender melhor a complexidade do ambiente escolar com a inserção de tecnologia 
informática e criar demandas para que a escola pública possa ter condições de oferecer esse tipo 
de acesso aos seus alunos. 
 
13 Aqui nos baseamos no trabalho de Garcia, 2005 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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& J. R. C. Saglietti. (Org.) Unesp-Escola – Núcleos de Ensino, São Paulo: Editora da Unesp, 
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