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A TRAJETÓRIA TEÓRICA E METODOLÓGICA EM 
ADMINISTRAÇÃO/GESTÃO ESCOLAR: A FUNÇÃO DO DIRETOR DE 
ESCOLA. Nathália Delgado Bueno da Silva. Fábio Silva Ortega. UNESP/Marília. 
Capes. nathdelgado89@hotmail.com; fabiosortega@gmail.com. 
Eixo Temático: Gestão Escolar e Currículo 
 
Resumo: O presente estudo tem por objetivo analisar a construção teórica e metodológica 
em administração/gestão escolar e seus desdobramentos acerca da função do diretor de 
escola. Para tal, recorremos através de fontes bibliográficas aos principais autores que 
estiveram presentes na literatura da área, visando inicialmente configurar o campo da 
administração/gestão escolar que se constituiu no passar dos anos, e, posteriormente, 
abordar uma temática em específico neste delineamento: a função do diretor de escola. 
Justifica-se o estudo por observar na literatura, um número reduzido de pesquisas que se 
debruçam em analisar o quadro da produção teórica nesta área e a função do diretor em 
específico. Dentre os resultados de pesquisa, constatamos que até a década de 1980, a 
teoria em administração/gestão escolar estava embasada pela Teoria Geral da 
Administração, e se tratando da função do diretor, havia a defesa há um profissional de 
responsabilidade central nas tomadas de decisões da escola. A partir de tal década, nota-
se que há uma quebra de paradigma na teoria, onde nega-se os pressupostos anteriormente 
defendidos, havendo o princípio da gestão democrática e a preocupação de se pensar nas 
especificidades da escola, remetendo-se à função do diretor de forma articulada aos 
demais membros da escola, e não mais de maneira centralizadora como antes. 
 
Palavras-chave: Administração/Gestão escolar. Diretor de escola. Gestão democrática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
] 
1. Introdução 
 
 O presente artigo é decorrente de trabalhos1 vinculados ao Centro de Estudos e 
Pesquisas em Administração da Educação (CEPAE). Visa analisar a construção teórica e 
metodológica em administração/gestão2 escolar e seus desdobramentos acerca da função 
do diretor de escola. Optou-se pelo recorte temporal a partir da década de 1960, em 
decorrência de ser neste período que se impulsionou os estudos com tais temáticas devido 
a constituição da Associação Nacional de Política e Administração da Educação 
(ANPAE), que traz como foco de discussão a consolidação da Administração escolar 
como uma área de conhecimento específica. 
 Acreditamos que as discussões não se esgotam nas décadas representadas, logo 
que, as reflexões dos autores perpassam os anos, no entanto, buscamos nos apropriar 
seguindo uma linearidade de pensamento daqueles que foram destaque no campo 
acadêmico em cada período estabelecido. 
Assim, em um primeiro momento trazemos a produção teórica em administração 
escolar, sinalizando os principais aspectos abordados pelos autores no decorrer dos anos, 
e, em seguida, buscamos os reflexos desta configuração na figura do diretor e o que era 
esperado acerca de sua função. 
 
 
2 A teoria em administração/gestão escolar: percursos teóricos e metodológicos 
 
O campo da Administração/gestão escolar no Brasil, embora se destaque 
atualmente devido à descentralização da gestão pública escolar, nem sempre teve essa 
notoriedade na produção acadêmica. Seus primeiros escritos teóricos remetem à década 
de 1930, mais precisamente, a partir do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que 
indicou a falta de “espírito filosófico e científico na resolução dos problemas da 
administração escolar” como causa da “desorganização do aparelho escolar. ” 
(MANIFESTO, 1932). 
 
1 Dissertação de Mestrado em andamento intitulada: “Função e formas de provimento do cargo do diretor 
escolar em dois estados brasileiros” (SILVA, 2016) e Dissertação de mestrado em andamento intitulada: 
“O campo da administração escolar no Brasil” (ORTEGA, 2017). 
2 Sobre a nomenclatura “administração” e/ou “gestão” escolar, optamos por utilizar os termos de acordo 
com o expresso pelos autores em suas pesquisas ao tratar desta área que constitui a escola. 
 
Anísio Teixeira (1968, p. 13), um dos seus signatários e também um dos 
fundadores da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), 
discute a Administração escolar, comparando-a com a administração médica e 
estabelecendo entre elas paralelismos e assimetrias. O autor utiliza essa comparação para 
argumentar a favor da formação em excelência do profissional da educação e para 
demonstrar que “é médico o diretor da clínica ou do hospital e todas as técnicas 
administrativas a ele, a seu saber, ao seu espírito, à sua direção estão rigorosamente 
subordinadas” e, por ser assim, ele consegue resultados de excelência, “outra coisa não 
deve ser a administração do ensino ou das escolas”. 
Embora Anísio Teixeira refutasse a adequação dos princípios da Administração 
empresarial à Administração escolar, seus contemporâneos do incipiente campo da 
Administração escolar divergiram de seu ponto de vista (RIBEIRO, 1968). José Querino 
Ribeiro (1968, p. 25) preocupado com a expansão da educação às classes sociais até então 
sem acesso a ela, e com a delimitação do campo teórico dessa disciplina, 
“desvencilhando-a de outras, que lhe são conexas, mas têm sentido e amplitudes 
diferentes”, argumenta que a Escola Moderna, ainda assim, é semelhante a uma grande 
empresa, assim como outras grandes empresas administradas pelo Estado. 
A partir de tais aspectos, o paradigma da Administração empresarial predominou 
nos estudos em Administração escolar. Myrtes Alonso (1976, p. 129-130) atribuiu, 
também, à função administrativa uma natureza genérica, aplicável a todas as 
organizações, e instrumental, meio de “realização dos objetivos educacionais propostos 
para a escola em geral e para determinada escola em particular. ” Essa função 
administrativa envolve então as funções de “integração, coordenação, manutenção e, 
ainda, de atualização e revitalização da empresa” e, devido à sua complexidade, necessita 
de indivíduos devidamente preparados para exercê-las. 
Dessa forma, os estudos em Administração escolar até meados da década de 1980, 
tiveram influência direta da literatura em Administração Geral, que era considerada pelos 
autores apresentados até então, como possuidora de uma natureza genérica e universal, 
aplicável a qualquer organização. Sander (2007), pensando o campo educacional como 
uma arena de lutas, onde os agentes desse espaço visam impor suas opções políticas e 
seus arbitrários culturais como legitimas e verdadeiras percepções do mundo social, 
analisa que na Administração/Gestão Escolar, a partir da transição teórica para o 
paradigma sócio histórico na década de 1980, passam-se, nas publicações dos 
especialistas em Administração escolar, a adotar a perspectiva “democrática de gestão 
escolar, valorizando o pensamento crítico e adotando a participação como estratégia 
político-pedagógica”. Nesse sentido, o autor identifica como grandes colaboradores dessa 
perspectiva os estudos de Felix (1984), Paro (1986) e Kuenzer (1984). 
O livro de Paro (1986) nos ilustra bem esse movimento de ruptura teórica com o 
paradigma empresarial, pois o autor denuncia sua vinculação à ideologia da classe 
dominante e sua inadequação à natureza do processo de produção pedagógico na escola. 
A denúncia e a crítica de Paro (1986) sobre o caráter conservador da Administração Geral 
aplicada à escola são de que, como a origem desta se deu no seio da empresa capitalista, 
sua utilização se efetiva na mediação das relações de exploração do trabalho pelo capital. 
Com efeito, ao transplantar esse tipo de administração à escola, com o argumento 
da neutralidade técnica, os autores acabam “favorecendo ao mesmo tempo a irradiação 
para a escola das mesmas regras que na empresa atendem aos interesses do capital” 
(PARO, 1986, p. 193). O autor identifica,então, na atividade administrativa, um caráter 
instrumental e um papel político exercido na sociedade. Quando essa atividade é posta a 
serviço de grupos dominantes, ela acaba ajudando na conservação do status quo. Porém, 
ela pode estar a serviço de outros objetivos com os quais poderá contribuir para a 
transformação social. A crítica, então, consiste na constatação de que os autores em 
Administração escolar não discutem os fins aos quais a administração serve como meio. 
A incompatibilidade da Administração à moda da empresa capitalista com a 
natureza do processo pedagógico e, consequentemente, com a realização dos fins 
educacionais na escola, revela o caráter político e conservador dessas teorias aplicadas à 
educação e, portanto, desalinhadas com os interesses políticos e ideológicos das classes 
dominadas. Paro (1986, p. 228) conclui, então, que “a especificidade da Administração 
Escolar só pode dar-se não por aproximação, mas por oposição à administração 
empresarial capitalista. ” 
Esse movimento de transição de enfoque que culmina na proposição da gestão 
democrática, alicerçado por esses autores acima citados, passou a constituir, para Sander 
(2007), no campo da Administração da educação brasileira, um tema prioritário, 
dominante nas publicações da revista da ANPAE e numa série de livros de autores 
dominantes desse espaço acadêmico. Contudo, para podermos avançar na compreensão 
desse movimento nesses estudos, caber-nos-á detalhar um pouco mais as bases teóricas 
que fundamentaram a crítica e a ruptura com o marco referencial que constituía esse 
campo até a década de 1980. Apesar das mudanças dentro de um campo social serem 
mais bem compreendidas através da investigação do interesse de seus agentes, naquele 
determinado período e espaço social (BOURDIEU, 2004), analisar qual foi a base teórica 
que sustentou tal mudança nos permitiu, ainda que com algumas dificuldades, reconhecer 
qual foi o arbitrário legitimado pelos agentes desse campo nessa transição paradigmática. 
Essa transição decorreu, segundo Russo (2005), da inserção no debate 
educacional brasileiro das críticas aos sistemas escolares franceses advindas dos autores, 
nomeadamente por Saviani (1992), de críticos- reprodutivistas. Dentre eles destacam-se: 
Althusser (1969), Baudelot e Establet (1971) e Bourdieu e Passeron (1975), e, decorre 
desse debate, a crítica da crítica dos críticos- reprodutivistas, está formulada e 
amplamente divulgada, no campo educacional por Saviani (1992). Essa crítica aos crítico-
reprodutivistas entra no debate educacional como superação teórica dos determinismos 
sociais identificados pelos autores franceses e, com efeito, inúmeros agentes do campo 
educacional passam a valer-se dessa perspectiva em seus estudos, mais especificamente, 
no sub- campo da Administração escolar, Paro (1986) em sua defesa de doutorado, o qual 
comunga desse referencial. 
Essas mudanças na trajetória dos estudos do campo da Administração/gestão 
escolar são identificadas por Drabach e Mousquer (2009) como um esforço, dos 
intelectuais da década de 1980, em superar a visão tecnicista e de neutralidade da prática 
administrativa escolar, e, sobretudo, em apontar a função política que essa prática exerce 
no bojo da sociedade capitalista ao considerarem o contexto socioeconômico. Assim, as 
mudanças que ocorrem na configuração no mundo trabalho e no contexto político passam 
a serem analisadas e consideradas pelos teóricos em gestão escolar, pois, [...] os 
desdobramentos das mudanças nas esferas político-econômicas é condição 
imprescindível para vislumbrar os reais motivos e interesses das inovações no campo da 
educação (DRABACH E MOUSQUER, 2009, p. 277). 
Nesse sentido, Oliveira (1997) considera, tal como Pereira e Andrade (2007), 
que o debate sobre a Administração escolar na década de 1980 refletiu um momento de 
politização da discussão sobre o trabalho docente, no campo da Administração Escolar, 
revelando suas contradições em seus pressupostos teóricos e nas condições objetivas de 
seu trabalho, culminando, assim, numa sobrevalorização da política na Administração 
escolar e num desprezo pela técnica administrativa. 
Quanto aos agentes do campo educacional, Sander (2007, p. 68) destaca que a 
partir das décadas de 1980 e 1990 a expansão dos cursos de pós-graduação, traz consigo 
“um novo tempo na construção do conhecimento no campo da política e da gestão da 
educação no Brasil” A partir dessas mudanças nos referenciais teóricos e metodológicos 
dos nas pesquisas em Administração Escolar, surge um novo objeto de estudo desse 
campo, a organização escolar e as relações do cotidiano desse espaço social. 
Abdian (2010), aponta que os estudos nesse campo passam a uma forte 
influência da produção portuguesa, dentre eles destacam-se NÓVOA (1995) e LIMA 
(1998), que trazem ao campo da gestão escolar um novo recorte no objeto de investigação 
e de produção teórica, privilegiando assim uma abordagem a nível meso, ou seja, os 
pesquisadores passam a adotar uma perspectiva que busca apreender as relações dos 
agentes escolares no seu espaço de produção e reprodução do seu fazer pedagógico. 
Marca-se, portanto, a partir dessas mudanças nesses estudos, um novo olhar para a escola 
e em seu estudo acerca da produção teórica dos artigos publicados na Revista Brasileira 
de Política e Administração da Educação (RBPAE), Maia (2004) identifica que diversos 
autores passam a escrever sobre: 
Necessidade de se pensar a prática da administração a partir do concreto 
e das necessidades dos dirigidos; na construção coletiva do projeto 
político-pedagógico da escola; da importância de se estudar as relações 
interpessoais nas escolas e da necessidade de se estudar a cultura da 
organização escolar através de estudos de caso. Nesse sentido, os 
diferentes autores dos artigos publicados na RBPAE foram 
desenvolvendo um paradigma alternativo para a administração da 
educação que considerou as realidades multipolarizadas e 
multidimensionais que são as instituições escolares [...] (MAIA, 2004, 
p. 141). 
 
Após essa breve descrição feita pelos autores até aqui citados, constatamos que há 
a partir da década de 1980 até então, não só uma ruptura teórica e metodológica nos 
estudos, mas também, a construção de um novo paradigma para esse campo teórico. A 
partir desse novo recorte, as pesquisas em Administração escolar passam a ser orientadas 
pelas abordagens do tipo etnográfico e estudo de caso, culminando nos estudos sobre 
gestão democrática (RUSSO, 2005; SILVA JR. 2002; ABDIAN, 2010). Russo (2005) 
denomina esse processo de mudança paradigmática na Administração escolar, de uma 
administração referenciada pela Teoria Geral da Administração a uma orientada por um 
enfoque sociológico que traz à tona a especificidade da Administração escolar. 
Desse modo, a fim de discutirmos sobre a produção teórica após a esse período 
de efervescência e de ruptura no campo educacional, encontramos dois estudos em gestão 
escolar (WITTMANN; GRACINDO, 2001 E MARTINS, 2011) os quais apresentam o 
estado da arte em Gestão escolar no Brasil nas décadas de 1990 e 2000 e analisam a 
produção cientifica desse período. O primeiro intitula-se O Estado da Arte em Política e 
Gestão da Educação no Brasil (1991 a 1997), organizado por Lauro Carlos Wittmann e 
Regina Vinhaes Gracindo, e o segundo, Estado da Arte Gestão, autonomia escolar e 
órgãos colegiados (2000-2008), este organizado por Ângela Maria Martins. 
O estudo sob a coordenação de Wittimann e Gracindo (2001) nos ajudou a ter 
um panorama da preocupação dos pesquisadores, presente nas pesquisas de políticas e 
gestão da educação no Brasil no período de 1991 a 1997. Foram analisados 922 
documentos, correspondentes a dissertações de mestrado; teses de doutorado e pesquisas 
de docentes de universidades brasileiras, dentre o total de pesquisas analisadas, 64% delas 
são de dissertações, o quereforça a afirmação de Sander (2007) acerca da expansão dos 
cursos de pós-graduação no país, a partir da década de 1980 e 1990. Os documentos foram 
divididos em onze categorias, uma para cada capítulo do livro, com a autoria de autores 
associados à ANPAE (Associação Nacional de Política de Administração da Educação). 
Quadro 1: os estudos em Gestão Escolar publicados na ANPAE (1991-1997) 
CATEGORIA Nº de pesquisas % 
1. Direito à Educação e Legislação 74 8,0 
2. Escola, Instituições Educativas e Sociedade 114 12,6 
3. Financiamento da Educação 25 2,7 
4. Gestão da Escola 134 14,4 
5. Gestão da Universidade 98 10,5 
6. Gestão de Sistemas Educacionais 62 6,7 
7. Municipalização e Gestão Municipal 60 6,5 
8. Planejamento e Avaliação Educacionais 43 4,7 
9. Políticas de Educação 139 15,0 
10. Profissionais da Educação 143 15,4 
11. Público e Privado na Educação 33 3,5 
Total 922 100 
Fonte: Wittmann e Gracindo (2001) 
Podemos identificar, a partir do Quadro 1 as preocupações dos pesquisadores 
desse campo, na década de 1990, concentraram-se em cinco categorias: profissionais da 
educação (15,4%); políticas de educação (15,0%); gestão da escola (14,4%); escola, 
instituições educativas e sociedade (12,6%) e gestão da universidade (10,5%). Notamos 
nesse período um crescente volume de pesquisa enfocando as práticas escolares e a 
organização escolar em seu cotidiano, embora tenhamos observado uma grande 
concentração dos estudos que tomam como foco a relação macroeconômica, política e 
social incidindo diretamente na escola. 
No Estado da Arte em gestão, autonomia escolar e órgãos colegiados, organizado 
por Ângela Maria Martins (2011), percebemos ainda mais essa tendência dos estudos 
desse campo de passarem a analisar a escola em suas práticas e organização estabelecidas 
em seu cotidiano, o que se pode constatar pela grande concentração dos estudos desse 
período ser estudos de caso. Foi realizado um extenso levantamento das pesquisas no 
campo da gestão escolar, a partir das teses e dissertações, anais de eventos da Associação 
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd) e da ANPAE e nos artigos 
publicados em periódicos educacionais, no período de 2000 a 2008. Esse estudo 
identificou os trabalhos em que os pesquisadores analisaram a gestão de escolas, os 
órgãos colegiados e seu papel na formação da autonomia escolar e da gestão democrática. 
Sobre a produção teórica proveniente de mestrados e doutorados há a 
predominância de dissertações totalizando 86%, enquanto as teses correspondem a apenas 
14% dos documentos analisados, desse total, a porcentagem das produções discentes que 
foram produzidas no âmbito das instituições públicas é de 69%, outro dado revelador das 
características desse campo é o reduzido número de estudos mais teóricos sobre gestão, 
apenas 12% das pesquisas foram categorizadas como teorias e conceitos. No que tange 
aos estudos em gestão, autonomia escolar e órgãos colegiados publicados nos anais dos 
eventos da Anped e da Anpae entre 2000 a 2008, o levantamento desse estudo identificou 
130 documentos, dentre eles 85% foram publicados nos anais dos Simpósios Brasileiros 
da Anpae, dado que demonstra a legitimidade consagradora desse espaço para esse campo 
teórico, e, tal como nas produções discentes, percebemos um baixo número de trabalhos 
caracterizados como de construção teórica e conceitual. 
Esse Estado da Arte coordenado por Martins (2011) reforça a preocupação que 
Sander teve, no Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação da ANPAE 
e do I Simpósio Luso-Brasileiro de Administração da Educação, sobre a fragilidade e a 
parca produção teórica em Administração da educação no início da década de 2000. O 
autor argumenta que 
Há inúmeros estudos empíricos e informações dispersas sobre o 
conhecimento novo e pouca construção de novos caminhos no campo 
da Administração da educação para enfrentar desafios das 
transformações econômicas e sociais da atualidade. (SANDER, 2002, 
p. 55-56). 
Por fim, encontramos nesse estudo, dados acerca da produção teórica de artigos 
em periódicos científicos, foram examinados 117 periódicos e encontrados 217 estudos 
sobre gestão, autonomia escolar e órgãos colegiados no período de 2000 a 2008, do total 
de periódicos examinados, mais da metade das produções foram veiculadas por apenas 
seis delas, que podem ser mencionadas na ordem decrescente pelas: Revista Brasileira de 
Política e Administração da Educação, Cadernos de Pesquisa, Em Aberto, Gestão em 
Ação, Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação e Educação e Sociedade. 
Assim como nas produções discente e nos anais da Anpae e da Anped, há predominância 
de estudos que utilizam procedimentos analíticos de natureza qualitativa, em detrimento 
dos métodos quantitativos ou empíricos e também, o reduzido número de estudos de 
natureza construção teórica e conceitual. 
 
3 Os delineamentos sobre a função do diretor escolar 
 
 Nas décadas de 1960 e 1970, onde a teoria da administração/gestão escolar estava 
embasada pela Teoria Geral da Administração, a função do diretor de escola era 
concebida de modo mais enfático em relação aos outros membros que fazem parte da 
comunidade escolar3. Desta forma, as reflexões sobre este dirigente foram esboçadas de 
modo mais acentuado no que diz respeito aos elementos sobre sua função e papel nas 
 
3 Entendemos como comunidade escolar, os professores, alunos, pais e funcionários de forma geral do 
estabelecimento de ensino, bem como, a comunidade social que envolve a escola, como os moradores de 
seu bairro, e demais pessoas que estão relacionadas de forma direta ou indireta nesta instituição. 
instituições de ensino, que era concebido como responsável central e único de comando 
da escola em suas atividades. 
 Ribeiro (1968), ao considerar a administração escolar como uma prática similar ao 
que se refere a este âmbito em qualquer empresa no meio social, aponta que há na escola, 
assim como nas demais empresas, divisões de trabalhos que levam os indivíduos a 
possuírem objetivos específicos em suas funções, que são articuladas através de um 
objetivo geral a todos. Desta forma, estabelece ao diretor de escola a função de conduzir 
e organizar estes grupos no exercício de suas práticas diárias, prevendo um 
esclarecimento aos demais acerca de suas devidas responsabilidades, tanto em relação a 
sua função específica, quanto ao objetivo geral no qual se destinam. 
 Trazendo alguns elementos diferentes do autor, porém, se assemelhando em outros, 
Alonso (1988) também se reporta ao diretor e sua função, através de práticas que 
responsabilizam este profissional enquanto responsável máximo à execução e 
planejamento das atividades escolares. Assim sendo, atribui a uma das características 
principais deste profissional, a liderança como co-participação no processo de tomada de 
decisões, no sentido de persuadir as demais funções a executar o que foi proposto, sendo 
o melhor diretor não o que executa grande número de tarefas, mas sim, o que desencadeia 
um processo de trabalho em que todos conhecem a sua participação e a aceitam 
(ALONSO, 1988). 
 As reflexões de ambos os autores acerca da função do diretor escolar ilustram o 
pensamento recorrente na época: a função do diretor como centralizadora e responsável 
pelo desenvolvimento das práticas escolares, que irá atingir seus objetivos ou não, 
unicamente pelos delineamentos deste profissional. 
 Assim como mencionado no item anterior, a partir da década de 1980 a teoria em 
administração/gestão escolar sofre uma ruptura com seus pressupostos, havendo a 
intenção pelos autores de uma dissociação entre a administração escolar e a de outros 
âmbitos. Este fato, repercute nas reflexões acerca do diretor e sua função, que, 
gradativamente vai perdendo a defesa de uma liderança centralizadora,em detrimento de 
uma prática no coletivo com seus pares. 
[...] A década de 1990 marca um momento importante no cenário 
educacional, porque nela emerge um novo padrão de gestão, que 
destaca a figura do diretor de escola com um novo papel, ou a busca de 
uma nova atuação, como o articulador das relações e interações com a 
comunidade e como o facilitador da participação desta nas tomadas de 
decisão na escola (FIORINI FILHO, 1996 apud BOCCIA, 2011, p. 30). 
 
 Um dos autores que teve destaque na década de 1980, foi Paro (1986), que se 
baseando na ideia anteriormente colocada, atribui à função do diretor propiciar uma 
gestão cooperativa que acontecerá de forma recíproca entre os envolvidos, apontando, 
que havendo entre todos uma concordância sobre os fins, não há a necessidade de uma 
autoridade que se aplique através do controle. Nas falas do autor: 
Se a responsabilidade última pelo funcionamento da escola acha-se 
concentrada, hoje, nas mãos do diretor escolar, em lugar de ignorar esse 
fato, cumpre envolver esse diretor cada vez mais com os compromissos 
de transformação[...] também o diretor deve estar vivamente 
interessado na transformação da gestão escolar, interesse esse que, 
ademais, deve envolver o maior número de pessoas, na busca de 
alternativas colegiadas de administração da escola, nas quais estejam 
representados tanto os que fazem a educação escolar quanto os que dela 
se beneficiam (PARO, 1986 p. 166). 
 
 Este elemento apontado acerca da gestão cooperativa, se remete à participação e 
inserção do coletivo escolar nas tomadas de decisões, descentralizando a função do diretor 
defendida em décadas anterior. Este ponto é uma das bases do pensamento dos autores, 
como por exemplo, Freire (2006), Russo (2005) e Dourado (2001), ao tratar da 
administração/gestão escolar nas discussões mais atuais. 
 Nota-se que, independente de pressupostos e referencial teórico, que em 
determinados momentos distinguem os autores em suas especificidades, estes se mostram 
alinhados no quesito de defender as decisões coletivas e integrar os pares da escola em 
suas diversas atividades, eximindo em suas falas cada vez mais a função estritamente do 
diretor e buscando se alinhar ao princípio de gestão democrática instituído em legislação 
nacional (BRASIL, 1988; BRASIL, 1996). 
Outro elemento que passa a ser integrado ao diretor e sua função e também está 
alinhado a este pensamento recorrente acerca de processos coletivos, diz respeito à forma 
de ingresso em seu cargo nas instituições públicas de ensino. Os autores (PARO, 2003; 
DOURADO, 2001) apontam que há relações entre a forma de provimento ao cargo do 
diretor, com sua função, prevendo que esta forma de ingresso pode não definir o tipo de 
gestão, mas certamente interfere no curso desta (DOURADO, 2001, p. 85). 
Desta forma, a partir do momento em que a função do diretor passa a ser vinculada 
aos demais membros da escola, e há a preocupação acerca da necessidade destes membros 
estarem ativos neste ambiente para além de práticas rotineiras (como buscar e levar os 
filhos, pegar boletim, participar de festas), a defesa da eleição para diretores através do 
voto direto pela comunidade escolar, também é um elemento que se torna evidente nas 
discussões atuais. 
 
4 Considerações Finais 
 
 A teoria em administração/gestão escolar mostrou que a cada época esteve 
marcada por uma concepção de gestão que acabou influenciando substancialmente os 
elementos que fazem parte desta área no âmbito escolar, assim como a função do diretor. 
Nas décadas de 1960 e 1970, onde a literatura estava marcada pela teoria geral da 
administração, a função do diretor se mostrou enquanto prática centralizadora e unilateral, 
refletindo a postura de um profissional encarado de forma vertical frente aos demais 
membros que constituem a escola. 
 A partir da década de 1980, nota-se que gradativamente, os autores buscam se 
desvincular da teoria geral da administração, esboçando a partir de então, um pensamento 
acerca desta temática que esteja voltado substancialmente para a escola e suas 
especificidades. Assim, a função do diretor está atrelada à outros elementos, como a 
participação dos pares nas instituições de ensino e sua forma de provimento ao cargo. 
Vale ressaltar que os estudos críticos da década de 1980 que desconstroem as 
bases teóricas dos autores que se embasavam na Administração empresarial, apontam 
para a necessidade política de democratizar o espaço escolar. Consideramos que esses 
estudos, apesar de criticarem a produção teórica precedente na área, não são propositores 
de uma nova teoria para administração escolar. No entanto, a partir da década de 1990 
inúmeros autores defensores da Gestão Democrática, utilizam das contribuições teóricas 
dos críticos para fundamentarem suas discussões. 
 Neste período, além de ampliar as temáticas da administração/gestão, que agora 
discutem também a participação, órgãos colegiados, e contextos próprios, também infere 
na metodologia utilizada pelos autores, que de forma mais usual recorrem à estudos de 
casos e apresentam suas pesquisas através de coletâneas, não mais visando esboçar uma 
teoria acerca da administração escolar, como ocorreu principalmente com os autores da 
década de 1960, por exemplo. 
 Ainda que cada época tenha apresentado um pensamento mais recorrente acerca 
da administração/gestão escolar e consequentemente da função do diretor, nota-se que, 
ainda hoje há a preocupação dos autores em desvencilhar práticas de outros âmbitos à 
atividades que norteiam esta área na escola. 
 Constata-se com o dois Estados da Arte aqui referenciado (WITTMANN; 
GRACINDO, 2001 E MARTINS, 2011) que não há predominância de estudos que 
analisem especificamente a figura do diretor, as análises sobre esse profissional se 
pulverizam e se diluem em diversas temáticas das quais ele se envolve, tais como órgãos 
colegiados, conselho diretivo, gestão democrática, entre outras. Essa constatação nos 
evidencia a dificuldade de encontrar estudos que tratem sobre a função do diretor no 
espaço escolar, no entanto, isso é contrário ao que se veicula pelas políticas de gestão 
escolar, pois, a figura do diretor está sempre em destaque e é central em suas proposições. 
 
 
Referencias 
 
ABDIAN, G. Z. Escola e avaliação em larga escala: (contra) proposições In: WERLE, 
F. O. C. (org.). Avaliação em larga escala: foco na escola. 1 ed. Brasília: Líber Livro, 
2010, v.1, p. 50-68. 
ALONSO, M. O papel do diretor na administração escolar. Bertrand Brasil. 6 
edição. Rio de Janeiro, 1988. 
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