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Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 1 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO “Atualmente, pode-se mesmo dizer que as fronteiras e os limites de um dado Estado existem somente para si, não para as relações humanas, que diuturnamente experimentam a movimentação de milhares de pessoas ao redor da Terra. Contratos são concluídos, todos os dias, em várias partes do mundo, por pessoas de nacionalidades distintas; consumidores de um país, sem ultrapassar qualquer fronteira, adquirem produtos do exterior pelo comércio eletrônico; pessoas viajam constantemente a turismo e a negócio para outros países; casamentos entre estrangeiros são realizados em terceiros Estados; sentenças proferidas num país são homologadas em outros; sucessões de bens de estrangeiros situados no país são diuturnamente abertas etc. Todos esses fatores somados demonstram claramente uma crescente “internacionalização” das relações humanas, especialmente no contexto atual de um mundo cada vez mais “circulante”.” (MAZZUOLI, p. 20) Objeto do Direito Internacional Privado O Conflito das Leis O estudo das relações jurídicas do homem na sua dimensão internacional, na defesa de seus direitos no plano extraterritorial, abrange o exame de sua nacionalidade, o estudo de seus direitos como estrangeiro, as jurisdições a que poderá recorrer e às quais poderá ser chamado, o reconhecimento das sentenças proferidas no exterior, assim como as leis que lhe serão aplicadas. (DOLINGER e TIBÚRCIO, 2017) Parte-se das seguintes premissas: a) Há uma diversidade de ordenamentos jurídicos; b) Extraterritorialidade das leis; c) Intercâmbio entre os Estados. - Cuida de situações jusprivatistas com elemento de estraneidade. - Solução de conflitos de forma indireta: indicação de norma aplicável ao caso. Escola francesa: cinco objetos. 1. conflito de leis; 2. conflito de jurisdição; 3. direitos adquiridos; 4. nacionalidade; 5. condição jurídica do estrangeiro. Escola anglo-americana: apenas conflito de leis. Denominação da disciplina DIREITO INTERNACIONAL: 1ª crítica: principal fonte - direito interno. 2ª crítica: termo internacional nos leva a pensar em relação jurídica entre Estados. DIREITO PRIVADO: 1ª crítica: não se restringe a instituições do direito privado. 2ª crítica: se se trata de um sobredireito, estamos falando de um direito público, não privado. O que não é? Não se restringe a instituições do direito privado, atuando igualmente no campo do direito público. També questões fiscais, financeiras, monetário-cambiais, penais e administrativas. Sugestões de denominações: - Direito Privado Internacional. - Nomantologia (Raul Pederneiras): estudo do confronto das leis. - Direito Intersistemático (Arminjon): cobre todas as situações em que se defrontam dois sistemas jurídicos com referência a uma relação de direito. Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 2 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado Diferenças entre Direito Internacional Privado e Público Visões: 1. Paralelas, mas formando uma só ciência: “dois ramos com galhos comuns” (Bartin). 2.Direito Internacional Privado dependente do Direito Internacional Público (Kelsen). 3.Disciplinas autônomas (Clóvis Bevilaqua e Rodrigo Octávio). Há indiscutível afinidade entre as duas disciplinas jurídicas, ambas voltadas para questões que afetam os múltiplos relacionamentos internacionais: DIP: questões políticas, militares e econômicas dos Estados em suas manifestações soberanas; DIPr: concentrada nos interesses particulares. Transnational law: Funde o DIP e o DIPri e novos campos do Direito. “A riqueza da diversidade do mundo, o Espírito de Tolerância e o Princípio da Proximidade, são estes os valores que aprendemos quando nos aprofundamos no estudo do Direito Internacional Privado”. (DOLINGER e TIBÚRCIO, p. 23) Fontes do Direito Internacional Privado Natureza das normas: - bilaterais: art. 7º, LINDB; - unilaterais: art. 7º, §1º, LINDB; - bilateralizadas; - justapostas. Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. (LINDB, 1942) Normas indiretas: indicam qual dentre as situações conectadas com dois ou mais ordenamentos jurídicos pode ser aplicada a determinada questão jurídica (elementos de conexão e qualificação das normas). Normas instrumentais. Normas diretas: solucionam efetivamente a questão jurídica, sendo substanciais e determinantes para a situação concreta. Normas 1 Constituição Federal de 1988; Decreto-lei nº 2.627/1940 (arts. 59 a 73 sociedades estrangeiras) parcialmente revogado pela Lei nº 6.404/76 (sociedades por ações); Lei nº 6.385/76 (mercado de valores mobiliários); Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos); Lei sobre nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro. Normas qualificadoras: normas que não são conflituais, mas conceituais, necessárias para a aplicação das normas indiretas. Fontes internas: - Lei; - Doutrina; - Jurisprudência. Brasil: Lei de Introdução de 1942, LINDB: classificada como lei reguladora das demais leis – contém normas de Direito Intertemporal e de Direito Internacional Privado. Há outras normas esparsas ou correlatas1. Fontes internacionais: - Tratados/ Convenções (bilaterais e multilaterais); - Jurisprudência internacional; - Princípios gerais de direito (art. 38, ECIJ). * Direito Internacional Privado Uniformizado: convenções internacionais que estabelecem regras de conexão aceitas pelos Estados-Partes, uniformizando as suas regras de DIPr. Ex.: Tratado de Lima (1877-1878); Tratados de Montevidéu (1889); Código Bustamante (1889) = Código de Direito Internacional Privado. *Direito Internacional Uniformizado: Convenções que aprovam Lei Uniforme para atividades de caráter internacional. A evolução histórica do DIPr Três pilares básicos do Direito Internacional Privado: - territorialidade do Direito (Joseph Story, 1779 - 1845); - personalidade do Direito (Pasquale Stanislao Mancini, 1817 - 1888), e; - universalidade das normas de conflitos de leis no espaço (Friedrich Carl von Savigny, 1779 - 1861). nº 13.105/15 (CPC); Lei 9.474/97 (Lei dos Refugiados); Lei nº 9.307/96 (Lei de Arbitragem); CC/2002; Lei 13.445 (Lei de Migração). Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 3 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado As escolas estatutárias italiana, francesa, holandesa e alemã: Estatutos: leis locais contendo normas sobre os mais variados campos do direito, incluindo prescrições administrativas, disposições de Direito Penal, Direito Civil e Direito Comercial, apontando soluções racionais para as diversas espécies de conflitos de leis e costumes. Estudiosos do sec. XIV a XVIII: 1) Escola Italiana (século XII – XV) 2) Escola francesa (século XVI – XVII) 3) Escola holandesa(século XVII). 4) Escola alemã (século XVIII) Escola Italiana * Formularam a importante distinção entre regras processuais (decididas pela lei do foro) e regras de fundo (ordenava a aplicação da lei do local em que o ato jurídico se realizara). * determinou que os delitos devem ser submetidos à lei do lugar de sua perpetração (lex loci delicti), norma hoje adotada no DIPr como regra básica não só no campo do direito penal, como também para a responsabilidade civil. * Bártolo de Sassoferato (1314-1357): grande propulsor do DIPri. Distinção entre os direitos reais e os direitos pessoais. - Estabeleceu que a lei do lugar do contrato é adotada para as obrigações dele emanadas, enquanto a lei do lugar de sua execução rege as consequências da negligência ou da mora na execução; - Criou a teoria dos estatutos estrangeiros de caráter odioso, inaplicáveis no foro, origem da teoria da Ordem Pública no DIPri; - Em matéria testamentária, estabeleceu que as formalidades obedecem à lei do lugar onde elaborado o ato de última vontade. Escola Francesa Expoentes (século XVI): Charles Dumoulin (1500 a 1566) - teoria da autonomia da vontade (obrigações contratuais): presunção de que as partes, ao escolherem um local, desejam submeter-se às leis nele vigentes. D’Argentré (1519-1590) - teoria do territorialismo: aplicar lei local sempre que possível, restringindo- se ao máximo a aplicação da lei estrangeira. Sistematiza a distinção entre o estatuto real (concernente aos bens), de caráter territorial, e o estatuto pessoal (concernente à pessoa). Escola Holandesa Expoentes (século XVII): Paul e Jean Voet, Christian Rodenburg e Ulrich Huber - Evoluíram para um territorialismo ainda mais acentuado: bens móveis submetidos ao estatuto real. Três princípios (Huber): comitas, direito adquirido e reserva da ordem pública. Noção de soberania (Grotius): Ponte entre o DIP e o DIPri. - Enorme influência no direito anglo-americano. Ao longo do sec. XVIII aperfeiçoaram-se as ideias dos estatutários das três escolas, sem que nada de especialmente novo surgisse no panorama do DIPri. Escola Alemã Não traz qualquer novidade de relevo ao cenário jurídico internacional. Expoente (século XVIII): Johanes Hert: três regras fundamentais: a) O domicílio é o Estatuto Pessoal; b) O lugar onde a coisa se encontra é o Estatuto Real; c) O lugar da celebração do ato é o Estatuto Regulador da sua forma. As doutrinas do DIPr dos séculos XIX e XX: Expoentes: Joseph Story: grande sistematizador Estabelece regras sobre a lei a ser utilizada para cada setor do direito. Para o estado e a capacidade das pessoas: regra geral do domicílio, excetuada a capacidade de contratar, para a qual adotava a lei do local do contrato; Para o casamento: sujeitava a capacidade, a forma e a validade à lei do lugar da celebração; Para o casamento em matéria de regime de bens: havendo contrato, respeitar-se-ia o que Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 4 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado tivesse sido pactuado, e inexistindo pacto, os móveis se regeriam pela lei do domicílio conjugal, os imóveis pela lei do lugar da situação. Para os contratos: lei do lugar de sua feitura, com ressalvas para a lei do lugar de sua execução; Bens móveis: pela lei do domicílio do proprietário; Bens imóveis: lei do local; Sucessões: a mesma distinção entre imóveis e móveis. - Ressalva da ordem pública contra a aplicação de leis estrangeiras repugnantes ao espírito do foro. Friedrich Carl Von Savigny: discorda das teorias territorialistas: comunidade de direito entre os diferentes povos. - Igualdade no tratamento das questões jurídicas, de forma que em caso de colisão de leis a solução venha a ser sempre a mesma. - O direito mais conforme para cada relação jurídica é encontrado por meio da localização da sede da relação em causa: Estado e capacidade: representada pelo domicílio das pessoas; Localização da coisa para qualificá-la e regê-la; Lugar da solução das obrigações para as questões jurídicas delas decorrentes; - Há exceções ao princípio da comunidade de direito entre os povos: determinadas leis que existem em cada nação têm natureza rigorosamente obrigatória, não admitindo a escolha de leis de outra fonte. Pasquale Mancini: criador do moderno DIPri italiano, fundador e presidente do Instituto de Direito Internacional. - Também defensor da comunidade de direito; - Estabeleceu a nacionalidade como critério determinador da lei a ser aplicada à pessoa em todas as matérias atinentes a seu estado e à sua capacidade. - A igualdade dos estrangeiros foi consagrada no Código Civil italiano de 1865 e o princípio da nacionalidade como critério determinador da lei pessoal. 1. Princípio da nacionalidade: questões regidas pela lei da nacionalidade da pessoa: o estado e a capacidade, as relações de família e as sucessões. 2. Princípio da liberdade: questões atinentes a bens, contratos e demais obrigações podem ser regidas pela lei que a pessoa escolher. 3. Princípio da soberania: leis de direito público e certas leis privadas com forte conotação de ordem pública aplicadas indiferentemente para todos que se encontram sobre seu território. Código de Bustamante – art. 3º. A extraterritorialidade da lei Normas territoriais: têm aplicação geral, para todos (espaço). Proteção da ordem social/ soberania; Normas extraterritoriais: têm aplicação permanente, para alguns (tempo). Proteção do indivíduo. Limites à aplicação do Direito estrangeiro no Brasil. Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. (LINDB, 1942) - Ordem pública: “válvula de segurança”. Características: relatividade ou instabilidade; contemporaneidade; fator exógeno. - Bons costumes: - Soberania Todos os princípios do DIPr (reenvio, qualificação, ordem pública, fraude à lei, questão prévia, instituição desconhecida e direitos adquiridos) disciplinam, coordenam, controlam, moderam, limitam a utilização das regras de conexão na sua tarefa de escolher a lei aplicável às questões jurídicas multinacionais. Dentre eles, a ordem pública é o que tem a maior abrangência e o maior poder de restringir a livre aplicação de referidas normas internacionais. (DOLINGER e TIBÚRCIO, 2017)
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