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1 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Clínica Cirúrgica, VII° O REMIT é uma resposta coordenada a determinadas agressões, sejam elas de natureza cirúrgica, traumática ou infecciosa. São um componente fundamental apresentado pelos seres vivos. A resposta é correspondente à gravidade da lesão tecidual. Pequenas agressões têm resposta temporária e rápido reestabelecimento da hemostasia. Todavia, lesões graves (politraumatizados, grandes queimados, etc.) tem resposta exacerbada. Importante saber assim que houver a lesão (trauma, cirurgia, queimadura, etc.) classificar o choque!!! Classificação do Choque Hipovolêmico Resposta Endócrina e Metabólica Diante do trauma, o organismo prontamente busca disponibilizar glicose! Hemácias, leucócitos recrutados para os sítios de lesão tecidual, o sistema nervoso central e a medula adrenal, são tecidos e células que utilizam a glicose como fonte energética primordial. A glicose tem como fonte de armazenamento principal o glicogênio hepático. Sob influência hormonal é rapidamente 2 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! consumido em aproximadamente 12 a 24 horas: processo denominado glicogenólise! OK, se APÓS O CONSUMO DE GLICOGÊNIO NÃO HÁ MAIS GLICOSE, como gerar nova glicose?!? Neste momento inicia-se a gliconeogênese: processo hepático que produz glicose a partir de substratos não glicídicos (aminoácidos musculares, glicerol e lactato). LOGO, resposta hormonal + importante inicialmente ao trauma GLICONEOGÊNESE !!! Resposta Endócrina + Metabólica à Cirurgia Eletiva Cortisol e ACTH Assim que ocorre a ferida operatória estímulos sensoriais deflagram a resposta endócrina ao trauma ao alcançar o hipotálamo provocam a liberação de corticotrofina (CRF). A CRF estimula a síntese de adrenocorticotrófico (ACTH) pela adeno-hipófise. Junto disso tudo, citocinas pró-inflamatórias, colecistoquinina, hormônio antidiurético (ADH), peptídeo intestinal vasoativo, catecolaminas, dor e ansiedade contribuem com o aumento do ACTH. Mas o que o ACTH faz? Ele atua no córtex da suprarrenal estimulando a produção de cortisol. As principais funções do cortisol são: Promover um efeito generalizado sobre o catabolismo tecidual; mobiliza aminoácidos (AA) da musculatura esquelética, estes servirão de substrato para gliconeogênese, cicatrização de feridas e síntese hepática de proteínas da fase aguda; Estimula a lipólise. Haverá destruição do triglicerídeo da gordura, com liberação de glicerol e de ácidos graxos livres. Catecolaminas É um neuro-hormônio, cuja função é preservar a perfusão sanguínea – salvaguarda o organismo de perdas volêmicas. A epinefrina promove a constrição, estimula a glicogenólise, gliconeogênese e a lipólise. Quem causa atonia intestinal pós-operatória são catecolaminas + opioides endógenos. Ademais, as catecolaminas também causam piloereção, broncodilatação, aumento da FC e relaxamento esfincteriano. SEM GLICOCORTICOIDES NÃO HÁ AÇÃO ADEQUADA DAS CATECOLAMINAS!!! Hormônio Antidiurético (ADH) Tem sua secreção aumentada no trauma. O ADH promove reabsorção de água pelo segmento medular dos túbulos coletores, por isso há certa retenção hídrica pós-operatória. Isso justifica a baixa do débito urinário e edema da ferida operatória. Na periferia o ADH realiza vasoconstrição esplâncnica, além de também estimular a glicogenólise e gliconeogênese. Aldosterona É um mineralocorticoide que atua na manutenção do volume intravascular, conserva sódio e elimina potássio ou hidrogênio. NO PÓS-OPERATÓRIO HÁ UMA TENDÊNCIA À ALCALOSE METABÓLICA! A hiperventilação, drenagem nasogástrica e aumento da FR durante o proceder operatório podem piorar a situação e causar uma alcalose mista! Glucagon Tem seus níveis elevados no trauma. É o principal mediador da gliconeogênese hepática. Insulina Tem seus níveis reduzidos no pós-operatório. TODA RESPOSTA AO TRAUMA É CATABÓLICA. TSH e Hormônios Tireoidianos 3 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Na resposta ao trauma o TSH se encontra normal ou reduzido. As frações livres do T4 permanecem preservadas – o paciente permanece eutireoideo. A conversão periférica de T4 em T3 está reduzida. É a síndrome do eutireoideo doente. Resumindo. . . Quadro das alterações clínicas e quais hormônios as causam: Atonia Intestinal Catecolaminas e opioides endógenos Oligúria funcional / edema de ferida operatória Hormônio antidiurético (ADH) Alcalose mista Aldosterona, drenagem nasogástrica, hiperventilação anestésica e hiperventilação associada à dor no pós- operatório. Hiperglicemia Elevação do glucagon, cortisol, catecolaminas e GH Elevação discreta na temperatura (37,8ºc) IL-1 Anorexia TNF-α Por que ocorre o balanço nitrogenado negativo? Trauma, jejum prolongado ou sepse criam um ambiente direcionado à produção de glicose. A proteólise disponibiliza aminoácidos para gliconeogênese. No fígado estes aminoácidos são desaminados e o nitrogênio não é aproveitado no processo de gliconeogênese hepática (eliminado na urina). Logo, mais proteínas estão sendo consumidas do que sintetizadas balanço nitrogenado negativo!!! Como reduzir a REMIT pós- operatório?!? Até mesmo o jejum desencadeia a REMIT, mas como a resposta é proporcional à lesão, podemos diminuir a intensidade deste mecanismo. Cirurgia laparoscópica produzem resposta endócrina de menor intensidade. A resposta imunológica também será bem menos marcante. O bloqueio sob anestesia peridural atenua a resposta endócrina: nesses pacientes, os valores de cortisol, ácidos graxos livres e aldosterona se encontram praticamente normais quando comparados aos valores observados em indivíduos submetidos à anestesia geral. Fases Após o Trauma/Cirurgia Fase Adrenérgica-Corticoide - CATABÓLICA Fase inicial pós procedimento. É o momento em que as alterações promovidas por catecolaminas e cortisol são mais intensas. Mediadores pró-inflamatórios estão no maior nível detectável! A taxa de gliconeogênese, a síntese de proteínas de fase aguda, a atividade imune das células de defesa e o balanço negativo de nitrogênio também atingem níveis insuperáveis. A lipólise estará exacerbada – liberação de ácidos graxos e sua posterior oxidação pelos tecidos. ESTA FASE DURA DE 6 a 8 DIAS Isto em cirurgias eletivas não complicadas. Fase Anabólica Precoce Tem como característica um declínio na excreção de nitrogênio – balanço de nitrogênio tendendo ao equilíbrio. Há equilíbrio no balanço de potássio (de início aumentado – destruição tecidual – e depois negativo pelo efeito da aldosterona). A ação anabólica do IGF-1 se faz presente, há diminuição de ADH (há maior diurese) e o paciente manifesta desejo de se alimentar (redução de TNF-α). 4 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Por fim, o balanço nitrogenado se torna positivo: há síntese proteica e ganho de massa corporal magra. Fase Anabólica Tardia Nesta fase, o paciente tem ganho ponderal (ainda que lento), não só de massa magra, mas de tecido adiposo – balanço positivo de carbono. ESTA FASE PODE DURAR DE MESES A ANOS! Quais as diferenças do trauma cirúrgico para o acidental?!? Nestes casos o desgaste da proteína muscular é mais acelerado (estado catabólico + intenso!) e “não tem hora para acabar”! A proteóliseé descontrolada e leva a um comprometimento da musculatura diafragmática e perda de proteínas viscerais.; o processo de cicatrização também fica prejudicado. A lipólise é persistente e pode levar à formação de êmbolos gordurosos (piorado pela imobilidade pós-operatória). OBS.: pode haver acidose metabólica, após um período inicial de alcalose mista. A vasoconstrição microcirculatória é mantida, isso pode ocasionar hipóxia plégica e má perfusão celular. Podem haver fenômenos trombóticos, distúrbios da coagulação, IR e SDRA. Fase de Baixo Fluxo seguida de Refluxo (Ebb and Flow Phases) A fase de baixo fluxo (Ebb phase) é a fase inicial do trauma: o débito cardíaco diminui, a resistência vascular aumenta e o volume circulatório se encontra depletado (perda de volume do compartimento intravascular). Ocorre queda na temperatura central e hipometabolismo. A partir da restauração da volemia (infusão de cristaloides e/ou hemoderivados) há um novo período na resposta ao trauma: refluxo (Flow phase). Esta fase é caracterizada por um intenso hipermetabolismo. Neste momento ocorre a febre pós-traumática (intensa produção de citocinas). Há proteólise acelerada. A gliconeogênese acelerada tende a relacionar-se com a extensão da lesão. No local do trauma a glicose é consumida através de um metabolismo anaeróbico, dando origem ao lactato. Este retorna ao fígado sendo utilizado como substrato para gliconeogênese – o ciclo de Cori. Na lesão acidental a principal fonte de energia também são os lipídios. Caso o paciente permaneça em jejum ou com suprimentos calóricos abaixo de suas necessidades diárias, sobrevém a cetose. Resposta Imune Mesmo após a atenuação da resposta endócrina, a resposta inflamatória (imunológica) persiste. Inicialmente “benéfica”, com a exacerbação ou prolongamento de sua ação, a resposta imune ao trauma pode trazer prejuízos importantes ao organismo. Podemos dividir a resposta imunológica em duas fases: 1. Reposta inata: é pouco específica, mas muito rápida. É a primeira linha de defesa do organismo contra estímulos nocivos. Nesta fase o objetivo inclui: limitar o dano tecidual, combater micro-organismos e células tumorais e iniciar a resposta adaptativa; 2. Resposta adaptativa: é a mais demorada e resulta em resposta humoral (anticorpos) e celular (células T citotóxicas) específicas a um agente nocivo. A depender do padrão de liberação de citocinas característico a célula T helper se diferencia em um dos 4 subtipos específicos. Efeitos observados da citocinas na resposta ao trauma 5 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Resumindo. . . Fase inicial após o trauma: CHOQUE!!! Há diminuição da FR, FC e DC, início da glicogenólise – hiperglicemia. Nesta fase inicial é importante iniciar já a reposição volêmica – ringer lactato - Há aumento do ADH fazendo o paciente reter água e elevar a PA. Quais as principais fases da REMIT?!? Catabólica e anabólica! Catabolismo: gliconeogênese (6 a 8 dias). Toda reserva energética vai embora, MUITA hiperglicemia fornecer soro glicosado!!! Aqui predomina a ação do ACTH e cortisol; há balanço de nitrogênio negativo Anabolismo: reestabelecimento da energia e peso, diurese retorna, balanço de nitrogênio + (esta fase dura de semanas a meses) Que tipo de nutrição ofereço ao paciente agora? Enteral! Ficar de olho na gasometria arterial: sódio e potássio como estão? CUIDADO COM O JEJUM! Ele intensifica a lipólise, acidose, todos os mecanismos que acentuam a REMIT! DIMINUIR O TEMPO DE JEJUM PÓS-OPERATÓRIO o máximo possível! No pós-operatório ofertar soro glicosado a 5% - 500ml de 6/6hrs e reavaliar Ofertar 400 kcal/dia – 100g de glicose é o ganho que se espera que o paciente em remissão adequada da REMIT apresente ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ MEDCURSO. CIRURGIA; vol. 3. Reposta Endócrina, Metabólica e Imune ao Trauma, Queimaduras, Cicatrização de Feridas, Choque, Suporte Nutricional, Cirurgia Plástica. 6 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Resposta metabólica ao trauma. Medeiros AC, Dantas-Filho AMD
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