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Sistema Recursal no Código de Processo Civil

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Sistema Recursal no 
 
Código de Processo Civil 
 
 
1. Noções introdutórias 
 
É possível afirmar que a sistemática recursal 
sofreu uma reestruturação significativa com 
o CPC – Lei n. 13.105, de 16 de março de 
2015 -, guiada pela necessidade de melhor 
adequá-la à perspectiva constitucional de 
um processo com razoável duração (art. 5º, 
inc. LXXVIII, da CF/1988), já que aos 
recursos sempre fora imputada a 
responsabilidade por grande parte da 
morosidade da Justiça e, além disso, de um 
processo com maior potencial de atingir o 
acesso efetivo à ordem jurídica justa. 
 
 
2. Conceito de recurso 
 
Na lição de Barbosa Moreira, o recurso deve 
ser entendido “no direito processual civil 
brasileiro, como o remédio voluntário 
idôneo a ensejar, dentro do mesmo 
processo, a reforma, a invalidação, o 
esclarecimento ou a integração da decisão 
judicial que se impugna”. 
 
Somente o recurso - e a remessa necessária, 
quando prevista em lei – pode prolongar a 
atividade estatal de solução de conflitos, 
evitando a preclusão ou o trânsito em 
julgado. 
 
 
1 Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não 
produzindo efeito senão depois de confirmada pelo 
tribunal, a sentença: I – proferida contra a União, os 
Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas 
respectivas autarquias e fundações de direito público; 
II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os 
embargos à execução fiscal. §1º Nos casos previstos 
neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, 
o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se 
não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-
los-á. §2º Em qualquer dos casos referidos no §1º, o 
tribunal julgará a remessa necessária. §3º Não se 
aplica o disposto neste artigo quando a condenação 
ou o proveito econômico obtido na causa for de valor 
certo e líquido inferior a: I – 1.000 (mil) salários-
mínimos para a União e as respectivas autarquias e 
fundações de direito público; II – 500 (quinhentos) 
Nesse sentido, o recurso tem natureza de 
prolongamento do exercício do direito de 
ação (e do direito de exceção) no mesmo 
processo em que já foi exercida a atividade 
jurisdicional. Não instaura um novo 
processo, mas permite o acesso aos órgãos 
competentes para reexame das decisões. 
 
Como ônus processual, a decisão de não 
recorrer acarreta apenas a perda da chance 
quanto à possível melhora da situação 
anterior, que atinge exclusivamente a parte 
prejudicada pela decisão. Assim, o recurso 
tem natureza jurídica de continuidade do 
exercício do direito de ação ou de exceção, 
bem como de ônus processual. 
 
O recurso é um ato voluntário porque, 
como exercício continuado do direito de 
ação, não pode ser imposto à parte, que o 
pratica se quiser. 
 
A remessa automática ao tribunal para a 
confirmação da sentença, a qual se 
convencionou chamar de duplo grau de 
jurisdição obrigatório ou remessa 
necessária (art. 496 do CPC)1, não constitui 
recurso, pois prescinde de ato de 
interposição particular do recurso, 
consoante dispõe vários artigos do código 
(v.g. arts. 996 e 997). Desse modo, o recurso 
é ato processual que depende da vontade e 
da atividade da parte, escancarando a sua 
insatisfação com a decisão cuja reforma é 
perseguida. 
 
salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, 
as respectivas autarquias e fundações de direitos 
públicos e os Municípios que constituam capitais dos 
Estados; III – 100 (cem) salários-mínimos para todos 
os demais Municípios e respectivas autarquias e 
fundações de direito público. §4º Também não se 
aplica o disposto neste artigo quando a sentença 
estiver fundada em: I – súmula de tribunal superior; II 
– acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal 
ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento 
de casos repetitivos; III – entendimento firmado em 
incidente de resolução de demandas repetitivas ou de 
assunção de competência; IV – entendimento 
coincidente com orientação vinculante firmada no 
âmbito administrativo do próprio ente público, 
consolidada em manifestação, parecer ou súmula 
administrativa. 
Ademais, somente se considera recurso o 
meio de impugnação empregado na mesma 
relação jurídica processual. Aliás, um de 
seus propósitos é exatamente impedir o 
encerramento do processo pelo trânsito em 
julgado. 
 
O sistema brasileiro de impugnação de 
decisões judiciais comporta não apenas os 
recursos, mas também as ações autônomas 
e os sucedâneos recursais. 
 
Os recursos e as ações autônomas estão 
expressamente previstos em lei com o 
propósito de obter o reexame da decisão. 
Ambos têm o mesmo destino, mas utilizam-
se de formatos distintos. Dos recursos as 
partes só podem se servir dentro da mesma 
relação jurídica processual, prolongando 
um processo já instaurado, sem qualquer 
alteração no objeto litigioso. Além disso, os 
recursos são remédios que se esgotam em 
poucos dias, devido ao curto prazo 
peremptório para sua interposição. 
 
Por outro lado, as ações impugnativas 
fazem nascer uma nova relação jurídica 
processual, porquanto cabíveis fora do 
processo no qual foi proferida a decisão que 
se pretende atacar. Igualmente, as ações 
autônomas de impugnação podem ter por 
objeto não só decisões ainda não 
transitadas em julgado (v.g. reclamação), 
bem como aquelas que já se encontram 
acobertadas pelo manto da coisa julgada 
(v.g. ação rescisória, ação anulatória, 
embargos de terceiro, mandado de 
segurança contra ato judicial, etc.). Por fim, 
tais ações podem ser ajuizadas em prazos 
mais largos – decadenciais ou prescricionais 
– que perduram às vezes por anos. 
 
Em último, os sucedâneos recursais são 
opostos numa relação processual já 
existente, porém contra decisões sem 
trânsito em julgado, mas que por falta de 
previsão legal, não são passíveis 
taxativamente do manejo da via recursal 
(v.g. pedido de reconsideração, suspensão 
de segurança, correição parcial e remessa 
necessária). 
 
Na visão de Flávio Cheim Jorge, os 
“sucedâneos recursais são institutos, que a 
despeito de não serem considerados 
recursos, acabam, ainda que indiretamente, 
fazendo as vezes dos mesmos, propiciando, 
assim, a anulação, a reforma ou ainda a 
ineficácia de uma decisão judicial”. 
 
Segundo o entendimento de Fredie Didier 
Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, “a ação 
autônoma de impugnação da decisão 
judicial, pelo qual se dá origem a um 
processo novo, cujo objetivo é o de atacar 
ou interferir em decisão judicial. Distingue-
se do recurso exatamente porque não 
veiculada no mesmo processo em que a 
decisão recorrida fora proferida. São 
exemplos: a ação rescisória, a querela 
nulitatis, os embargos de terceiro, o 
mandado de segurança e o habeas corpus 
contra ato judicial e a reclamação. 
Sucedâneo recursal é todo meio de 
impugnação de decisão judicial que nem é 
recurso nem é ação autônoma de 
impugnação. É uma categoria residual: o 
que não for recurso, nem ação autônoma, 
será um sucedâneo recursal. A categoria dos 
sucedâneos recursais engloba, enfim, todas 
as outras formas de impugnação da 
decisão. São exemplos: pedido de 
reconsideração, pedido de suspensão de 
segurança (Lei n. 8.437/1992, art. 4º; Lei n. 
12.016/2009, art. 15) e a correição parcial”. 
 
Retornando ao tema dos recursos, é 
possível afirmar que ele é o ato processual 
que almeja a alteração da realidade imposta 
pela decisão recorrida, seja pela sua 
reforma e consequente melhoria da 
situação do recorrente, seja pela sua 
invalidação, geradora do retorno ao estado 
anterior ao ato decisório impugnado. 
 
No primeiro caso (reforma), a decisão não 
se apresenta justa, contendo error in 
judicando e possibilitando a sua 
modificação pelo juízo ad quem. No 
segundo caso (invalidação), a decisão ou o 
próprio processo em que ela se insere 
contém error in procedendo, impondo a 
invalidação a fim de que outra decisão seja 
tomada pelo mesmo órgão prolator da 
primeira, depois de corrigido o vício que 
deu azoà anulação. 
 
Em outras palavras, na reforma, o órgão ad 
quem substitui por uma decisão sua aquela 
que havia sido proferida pelo órgão a quo; 
na invalidação, o tribunal cassa a decisão 
proferida pelo juízo hierarquicamente 
inferior, sem indicar sua solução para a 
questão ou para o conflito. 
 
Finalmente, os recursos não têm como 
escopo apenas a modificação ou a cassação 
das decisões. Os embargos de declaração, 
recurso dirigido ao mesmo juiz prolator da 
decisão, servem à integração, se presente 
omissão, ou ao esclarecimento, se obscuro 
ou contraditório o ato decisório (art. 1.022 
do CPC)2. 
 
 
3. Natureza jurídica 
 
Pode-se definir a natureza jurídica dos 
recursos como uma extensão do direito de 
ação, da ampla defesa e do contraditório. 
Para Nelson Luiz Pinto, o recurso “é uma 
extensão do direito de ação ou de defesa, e, 
portanto, apenas prolonga a vida do 
processo e a litispendência existente, dentro 
da mesma relação processual”. 
 
Com o recurso, a parte dá início a uma nova 
pretensão: a reapreciação da matéria que 
foi julgada de maneira desfavorável para o 
recorrente, também nos casos em que a 
decisão necessita de esclarecimentos, ou 
ainda quando parte do pedido não foi 
apreciado. Ao mesmo tempo, tem uma 
nova oportunidade de se defender, embora 
não possa ampliar os limites de sua defesa 
(ampla defesa e contraditório). Por 
exemplo, se a parte não alegou culpa 
exclusiva da vítima em lide que verse sobre 
a prática de ato ilícito, não poderá fazê-lo 
em sede recursal, posto que o ordenamento 
jurídico não lhe concede alterar os limites 
 
2 Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra 
qualquer decisão judicial para: I – esclarecer 
obscuridade ou eliminar contradição; II – suprir 
omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se 
objetivos – o pedido e a causa petendi – que 
fixara ao interpor a inicial. 
 
É também tido como ônus processual (e 
não um dever), uma vez que a parte não é 
obrigada a recorrer, mas caso permaneça 
inerte se submeterá às consequências do 
trânsito em julgado, com a obrigação de se 
resignar peremptoriamente ao que 
determinado pelo julgador. 
 
Neste contexto, entende-se o ônus 
processual como todo aquele ato que a lei 
“recomenda” que a parte pratique para que 
ela possa tutelá-lo. Aplicando esse conceito, 
se a parte recorre, o Judiciário reapreciará o 
seu pedido. Por outro lado, se não recorrer, 
consolidam-se os efeitos da decisão com o 
trânsito em julgado (se sentença), ou com a 
preclusão (se decisão interlocutória), e o 
vencido fica privado da tutela que o 
ordenamento processual lhe permitia 
obter. 
 
 
4. Pronunciamentos judiciais passíveis ou 
não de recurso 
 
O art. 203 do CPC3 conceitua o que 
denomina de pronunciamentos do juiz, 
contendo atos decisórios, como a sentença 
e a decisão interlocutória, e atos sem 
conteúdo decisório, chamados de 
despachos. 
 
Nos termos do art. 203, §1º, do CPC, a 
sentença é conceituada como “o 
pronunciamento por meio do qual o juiz, 
com fundamento nos arts. 485 e 487, põe 
fim à fase cognitiva do procedimento 
comum, bem como extingue a execução”. 
 
O legislador brasileiro optou pela definição 
da sentença pelo momento processual em 
que é proferida (põe fim à fase cognitiva do 
procedimento comum, bem como extingue 
a execução) e também pelo seu conteúdo 
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III – 
corrigir erro material. 
3 Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em 
sentenças, decisões interlocutórias e despachos. 
(julgamento sem análise de mérito – art. 
485, e julgamento com análise de mérito – 
art. 487). 
 
Já o §2º do art. 203 do CPC define a decisão 
interlocutória como “todo pronunciamento 
judicial de natureza decisória que não se 
enquadre no §1º”. 
 
Neste caso, o legislador optou por um 
conceito legal extensivo, residual ou por 
exclusão, ou seja, considera-se decisão 
interlocutória toda decisão que não se 
enquadre no conceito legal de sentença, de 
tal modo que ela não pode ter posto fim, 
com fundamento nos arts. 485 e 487, à fase 
cognitiva do processo, bem como à 
execução. 
 
Cabe ressaltar que, de acordo com o CPC, 
como a sentença é delineada como ato que 
encerra uma fase processual, se houver 
decisão parcial de mérito, essa será 
qualificada como interlocutória de mérito e 
não sentença, pois com ela haveria o 
prosseguimento do processo em mesma 
fase. Tanto que os arts. 356, §5º4 e 1.015, 
inc. II5, indicam que, contra decisão de 
julgamento antecipado parcial de mérito, 
cabe recurso de agravo de instrumento, que 
é o recurso correspondente contra algumas 
decisões interlocutórias. 
 
Prosseguindo, conforme o art. 203, §3º, do 
CPC, os despachos são “todos os demais 
pronunciamentos do juiz praticados no 
processo, de ofício ou a requerimento da 
parte”. 
 
 
4 Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito 
quando um ou mais dos pedidos formulados ou 
parcelas deles: (...) §5º A decisão proferida com base 
neste artigo é impugnável por agravo de instrumento. 
5 Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as 
decisões interlocutórias que versarem sobre: (...) II – 
mérito do processo. 
6 Art. 2º O processo civil começa por iniciativa da 
parte e se desenvolve por impulso oficial. 
7 Art. 1.001. Dos despachos não cabe recurso. 
8 Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado 
proferido pelos tribunais. 
Os despachos são todos os atos do juiz que 
impulsionam o processo, em atenção ao 
princípio do impulso oficial6, sem nenhum 
conteúdo decisório. 
 
Há previsão legal no sentido de não ser 
cabível recurso contra despacho (art. 1.001 
do CPC7), justamente pelo fato de que, em 
regra, não tem conteúdo decisório. 
 
Além dos pronunciamentos judiciais 
previstos no art. 203 do CPC, os juízes 
investidos nos tribunais locais e superiores 
proferem dois outros tipos de decisões: o 
acórdão8 e a decisão monocrática (ou 
decisão unipessoal). 
 
Os acórdãos representam as decisões 
colegiadas proferidas pelos tribunais e 
turmas recursais dos juizados especiais e 
servem para decidir algum recurso ou ações 
de competência originária dos tribunais. 
 
Além dos embargos de declaração, que 
caberá contra qualquer decisão judicial, 
pode o acórdão desafiar os seguintes 
recursos: recurso extraordinário, recurso 
especial, embargos de divergência e recurso 
ordinário constitucional. 
 
Por sua vez, as decisões monocráticas são 
proferidas por um único desembargador 
e/ou ministro. Essas decisões, de acordo 
com o CPC, podem ter a natureza de 
decisão interlocutória, como nas hipóteses 
em que se decide sobre efeito suspensivo, 
tutela provisória no âmbito recursal, 
participação de amicus curiae, produção de 
provas, etc. (arts. 138, caput9 e 932, incs. I e 
II, do CPC10) ou de decisão definitiva que 
9 Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a 
relevância da matéria, a especificidade do tema 
objeto da demanda ou a repercussão social da 
controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de 
ofício ou a requerimento das partes ou de quem 
pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a 
participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou 
entidade especializada, com representatividade 
adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua 
intimação. 
10 Art. 932. Incumbe ao relator: I – dirigir e ordenar o 
processo no tribunal, inclusive com relação à 
produção de prova, bem como, quando for o caso, 
analisa a pretensão recursal (art. 932, incs. 
IV e V, do CPC)11. 
 
Poderá a parte que não concordar com a 
decisão monocrática do relator, valer-se de 
uma modalidade recursal denominada de 
agravo interno (art. 1.021 do CPC)12. 
 
Também o agravo interno poderá ser 
interposto contra decisão monocrática de 
Presidente ou Vice-Presidente do tribunal 
recorrido na hipótese de que trata o art. 
1.030, inc. I e III c/c §3º, do CPC13. 
 
Por fim, caberá agravo de admissão em 
recurso especial ouem recurso 
extraordinário contra a decisão 
monocrática de Presidente ou Vice-
Presidente de tribunal na hipótese de 
inadmissão dos recursos excepcionais (art. 
1.030, inc. V e §1º c/c art. 1.04214, do CPC). 
 
 
5. Classificação dos recursos 
 
O CPC, em seu art. 994, elenca as seguintes 
espécies recursais: (i) apelação; (ii) agravo 
de instrumento; (iii) agravo interno; (iv) 
embargos de declaração; (v) recurso 
 
homologar autocomposição das partes; II – apreciar o 
pedido de tutela provisória nos recursos e nos 
processos de competência originária do tribunal; 
11 Art. 932. Incumbe ao relator: (...) IV – negar 
provimento a recurso que for contrário a: a) súmula 
do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de 
Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido 
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior 
Tribunal de Justiça em julgamento de casos 
repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de 
resolução de demandas repetitivas ou de assunção de 
competência; V – depois de facultada a apresentação 
de contrarrazões, dar provimento a recurso se a 
decisão recorrida for contrária a: a) súmula do 
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de 
Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido 
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior 
Tribunal de Justiça em julgamento de casos 
repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de 
resolução de demandas repetitivas ou de assunção de 
competência. 
12 Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator 
caberá agravo interno para o respectivo órgão 
colegiado, observadas, quanto ao processamento, as 
regras do regimento interno do tribunal. 
13 Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela 
secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para 
ordinário; (vi) recurso especial; (vii) recurso 
extraordinário; (viii) agravo em recurso 
especial ou extraordinário; e (ix) embargos 
de divergência. 
 
Esse rol não é taxativo, uma vez que o 
ordenamento jurídico prevê outros 
recursos que constam de legislação 
extravagante, tais como os embargos 
infringentes da Lei n. 6.830/1980 (Lei de 
Execução Fiscal), o recurso inominado da 
Lei n. 9.099/1995 (Juizados Especiais), 
aplicável a todo microssistema dos juizados 
(Leis ns. 10.259/2001 e 12.153/2009) e o 
recurso de revista previsto na CLT (art. 893, 
inc. III). 
 
Quanto à abrangência (extensão), é 
possível classificar os recursos em total e 
parcial (art. 1.002 do CPC)15. Optando a 
parte pela impugnação integral da decisão 
que lhe é prejudicial, o recurso será total, 
não se operando a preclusão sobre a 
matéria discutida. Caso, no entanto, o 
litigante prefira recorrer apenas de parte 
daquilo que podia impugnar, o seu recurso 
será parcial, o que ocasiona a limitação do 
efeito devolutivo do recurso (somente a 
parte impugnada pode ser objeto de 
apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) 
dias, findo o qual os autos serão conclusos ao 
presidente ou ao vice-presidente do tribunal 
recorrido, que deverá: I – negar seguimento: a) a 
recurso extraordinário que discuta questão 
constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não 
tenha reconhecido a existência de repercussão geral 
ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão 
que esteja em conformidade com entendimento do 
Supremo Tribunal Federal exarado no regime de 
repercussão geral; b) a recurso extraordinário ou a 
recurso especial interposto contra acórdão que esteja 
em conformidade com entendimento do Supremo 
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, 
respectivamente, exarado no regime de julgamento 
de recursos repetitivos; (...) §3º Da decisão proferida 
com fundamento nos incisos I e III caberá agravo 
interno, nos termos do art. 1.021. 
14 Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do 
presidente ou do vice-presidente do tribunal 
recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou 
recurso especial, salvo quando fundada na aplicação 
de entendimento firmado em regime de repercussão 
geral ou em julgamento de recursos repetitivos. 
15 Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo 
ou em parte. 
cognição do juízo ad quem) e a preclusão da 
matéria não impugnada. 
 
É válido assinalar que para a classificação 
quanto à abrangência, importam apenas os 
capítulos da decisão sobre os quais o 
recorrente possui interesse recursal. 
 
De fato, o que diferencia o recurso entre 
total e parcial é a extensão da matéria 
impugnada: total é o recurso que abrange 
todo o conteúdo impugnável da decisão e 
parcial aquele que impugna apenas parte. 
 
Como reflexo do princípio dispositivo (arts. 
141 e 492 do CPC)16, compete ao recorrente 
decidir sobre a limitação do objeto do 
recurso, vinculando o órgão judicial 
responsável pelo julgamento do mérito 
recursal. 
 
Também são classificados os recursos 
quanto à sua fundamentação. Em 
determinadas hipóteses, o legislador 
restringe os argumentos que podem ser 
empregados pelo recorrente, o que pode 
interferir diretamente no cabimento do 
recurso. Se presente a limitação na lei, 
trata-se de recurso de fundamentação 
vinculada; se ausente a restrição legal, 
classifica-se o recurso como sendo de 
fundamentação livre. 
 
Com efeito, nos recursos de fundamentação 
livre, a parte poderá invocar qualquer tipo 
de vício na decisão prolatada (v.g. apelação, 
agravo de instrumento e recurso ordinário). 
Já os recursos de fundamentação vinculada 
são aqueles em que há norma no sistema 
que impede a parte de se valer de qualquer 
fundamento, restringindo seu campo de 
defesa a algumas hipóteses enumeradas 
 
16 Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites 
propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer 
de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige 
iniciativa da parte. 
Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza 
diversa da pedida, bem como condenar a parte em 
quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe 
foi demandado. 
17 Art. 997. Cada parte interporá o recurso 
independentemente, no prazo e com observância das 
exigências legais. 
taxativamente (v.g. embargos de 
declaração, recurso extraordinário, recurso 
especial e embargos de divergência). 
 
Pelo critério da autonomia, os recursos são 
classificados em principais (ou autônomos) 
e subordinados (ou adesivos). A autonomia 
é a regra, pela qual cabe a cada parte 
recorrer para impugnar o conteúdo da 
decisão que lhe desfavorece, 
independentemente da conduta do outro 
litigante (art. 997 do CPC)17. 
 
O ordenamento jurídico autoriza, porém, a 
parte recorrida a aderir ao recurso 
interposto pela parte contrária, interpondo 
seu próprio recurso somente no prazo 
indicado para as contrarrazões da 
impugnação do principal. O adesivo ou 
subordinado tem seu exame condicionado 
ao conhecimento do recurso principal e à 
não desistência da parte contrária (art. 997, 
§2º, inc. III, do CPC)18. 
 
 
5.1 Recurso adesivo 
 
O recurso adesivo não é espécie de recurso, 
mas modo de interposição do recurso. 
 
Ressalte-se, antes de qualquer análise 
criteriosa, que o recurso adesivo somente 
poderá ser interposto nos casos de (i) 
sucumbência recíproca; e (ii) se apenas 
uma das partes vencidas recorrer. 
 
A interposição de recurso na modalidade 
adesiva somente é possível se há 
sucumbência recíproca, isto é, o 
provimento judicial passível de impugnação 
contém capítulo no qual o pleito de uma 
18 Art. 997. (...) §2º O recurso adesivo fica 
subordinado ao recurso independente, sendo-lhe 
aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos 
requisitos de admissibilidade e julgamento no 
tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, 
ainda, o seguinte: (...) III – não será conhecido, se 
houver desistência do recurso principal ou se for ele 
considerado inadmissível. 
parte foi acolhido e capítulo no qual a outra 
parte triunfou (art. 997, §1º, do CPC)19. 
Igualmente, só se abre a possibilidade de 
recurso adesivo se uma daspartes decidiu 
recorrer originalmente, ou seja, no prazo do 
recurso principal. 
 
O momento destinado à interposição do 
recurso adesivo é o que o diferencia do 
recurso autônomo. O recurso adesivo deve 
ser interposto no prazo reservado ao 
oferecimento de contrarrazões do recurso 
autônomo. Trata-se, na verdade, de uma 
segunda oportunidade para recorrer. 
 
A interposição de recurso na modalidade 
adesiva está prevista no art. 997 do CPC, 
que estabelece as seguintes características: 
(i) cabível em caso de sucumbência 
recíproca; (ii) uma das partes prejudicada 
pela decisão deve interpor recurso no prazo 
inicial, permitindo a adesão; (iii) ao recurso 
adesivo aplicam-se as mesmas regras da 
interposição autônoma quanto aos 
requisitos de admissibilidade e de 
julgamento no tribunal20; (iv) deve ser 
interposto no prazo de contrarrazões; (v) 
cabível na apelação, no recurso 
extraordinário e no recurso especial21; (vi) 
fica subordinado ao recurso principal, cuja 
inadmissibilidade impede o conhecimento 
do adesivo. 
 
O exame do recurso adesivo pressupõe a 
admissibilidade do recurso principal. Se, por 
qualquer motivo, este não for conhecido, o 
recurso adesivo também não o será. Basta, 
inclusive, a desistência do recurso principal 
 
19 Art. 997. (...) §1º Sendo vencidos autor e réu, ao 
recurso interposto por qualquer deles poderá aderir 
o outro. 
20 O recurso adesivo pode ser interposto pelo autor da 
demanda indenizatória, julgada procedente, quando 
arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao 
que era almejado, uma vez configurado o interesse 
recursal do demandante em ver majorada a 
condenação, hipótese caracterizadora de 
sucumbência material (Tema n. 459 de Recurso 
Repetitivo). 
21 Enunciado n. 88 do FONAJE: Não cabe recurso 
adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de 
expressa previsão legal. 
22 Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito 
quando um ou mais dos pedidos formulados ou 
pela parte contrária para que o recurso 
adesivo não seja conhecido. 
 
Se a parte recorreu no prazo original e, 
antes do prazo de resposta, desistiu do 
recurso, não pode valer-se do recurso 
adesivo. Da mesma forma, ainda que não 
tenha desistido do principal, não lhe é licito 
utilizar do adesivo para complementar as 
razões recursais ou impugnar parte da 
decisão não impugnada anteriormente pelo 
recurso principal. A interposição inicial do 
recurso, nesse caso, acarreta a preclusão 
consumativa. 
 
Por fim, defende-se o cabimento do recurso 
adesivo em agravo de instrumento 
interposto em face de decisão 
interlocutória que julga antecipada e 
parcialmente o mérito (art. 356 do CPC)22. 
Nessa hipótese, o agravo de instrumento 
faz as vezes de apelação, já que a decisão 
impugnada decidiu de forma definitiva um 
ou mais pedidos. Assim, se o julgamento 
antecipado e parcial resulta em 
sucumbência recíproca a respeito do que foi 
decidido e uma das partes interpôs agravo 
de instrumento, é cabível a interposição 
adesiva de agravo pela parte contrária, 
limitada, por óbvio, aos pedidos já julgados. 
 
 
6. Princípios recursais 
 
6.1 Princípio do duplo grau de jurisdição 
 
parcela deles: I – mostrar-se incontroverso; II – estiver 
em condições de imediato julgamento, nos termos do 
art. 355. §1º A decisão que julgar parcialmente o 
mérito poderá reconhecer a existência de obrigação 
líquida ou ilíquida. §2º A parte poderá liquidar ou 
executar, desde logo, a obrigação reconhecida na 
decisão que julgar parcialmente o mérito, 
independentemente de caução, ainda que haja 
recurso contra essa interposto. §3º Na hipótese do 
§2º, se houver trânsito em julgado da decisão, a 
execução será definitiva. §4º A liquidação e o 
cumprimento da decisão que julgar parcialmente o 
mérito poderão ser processadas em autos 
suplementares, a requerimento da parte ou a critério 
do juiz. §5º A decisão proferida com base neste artigo 
é impugnável por agravo de instrumento. 
O duplo grau deve ser entendido como a 
previsão legal de reexame da decisão por 
órgão judicial distinto, que possua 
suficiente independência para rever o ato 
impugnado e, se convicto de sua incorreção, 
esteja munido de poderes para invalidá-lo 
ou reformá-lo. 
 
A dupla análise da causa objetiva a correção 
de erros e de injustiças das decisões, de um 
lado, e a coibição do arbítrio do julgador, de 
outro. A justificação política à postergação 
da litigiosidade causada pelo recurso advém 
da crença de que se cria maior possibilidade 
de acerto ao se propiciar uma segunda 
leitura do caso, por julgadores mais 
experientes – e, no caso brasileiro, por 
órgãos colegiados -, capazes de enxergar 
ângulos possivelmente não vislumbrados 
em um primeiro julgamento. 
 
Há argumentos favoráveis e desfavoráveis 
ao princípio do duplo grau de jurisdição. 
 
Quanto aos argumentos favoráveis, 
destacam-se: (i) os juízes de segundo grau, 
em tese, possuem mais experiência e, 
assim, maior possibilidade de fazer surgir 
soluções adequadas aos diversos casos 
concretos; e (ii) ao julgar, o juiz de primeiro 
grau sabe que sua decisão poderá ser 
revista e, por conseguinte, agiria com maior 
zelo e proficiência pela influência 
psicológica que o duplo grau nele causaria. 
 
Já em contraposição, os argumentos 
desfavoráveis correspondem: (i) o juiz de 
segundo grau não tem qualquer contato 
com as partes e com a produção da prova. 
Logo, embora geralmente mais antigo no 
seu múnus, não se pode dizer que esteja em 
melhores condições de julgar. Ademais, 
ocorre a inutilização do procedimento oral, 
dado que a decisão que verdadeiramente 
prevalecerá, a rigor, será aquela do segundo 
 
23 Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de 
conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o 
próprio Juizado. §1º O recurso será julgado por uma 
grau, com base em um procedimento 
(reduzido a) escrito, e não a do juiz de 
primeiro grau, que participou do processo e 
teve contato com a produção de provas, o 
que, inegavelmente, atribui-lhe melhores 
condições de extrair a verdade dos fatos; e 
(ii) uma dupla revisão implica maior gasto 
de tempo, causando inevitavelmente o que 
a doutrina chama de dano marginal. 
 
Destarte, se, de um lado, o duplo grau de 
jurisdição como concretizado no sistema 
recursal brasileiro sacrifica a oralidade, 
porquanto distancia os julgadores da prova 
produzida em primeiro grau; afeta a 
credibilidade dos julgamentos de primeira 
instância, em virtude da ampla 
recorribilidade; e posterga a litispendência, 
em prejuízo à celeridade, de outro lado, é 
instrumento eficaz contra o arbítrio dos 
juízes; permite a uniformização da 
jurisprudência, em prol da isonomia e da 
segurança jurídica; e dá lugar à correção de 
erros que ocasionam, ao menos em tese, 
melhores decisões proferidas por juízes 
mais experientes. 
 
É possível que se tenha o duplo exame não 
deflagrado por um recurso, como ocorre 
nas hipóteses em que a lei impõe o reexame 
necessário como condição de formação da 
coisa julgada (art. 496 do CPC). 
 
De igual modo, alguns recursos não são 
dirigidos a órgão hierarquicamente 
superior, como acontece no recurso 
inominado previsto no art. 41, caput e §1º, 
da Lei n. 9.099/199523, que confere 
competência a órgão colegiado formado 
por juízes de primeiro grau. Também o 
agravo interno, que desafia decisões 
unipessoais proferidas no tribunal, é 
julgado por juízes de segundo grau ou 
ministros dos tribunais superiores, de 
mesma hierarquia do prolator da decisão. 
turma composta por três juízes togados, em exercício 
no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do 
Juizados. 
 
Por derradeiro, há os embargos de 
declaração (art. 1.022 do CPC) e os 
embargos infringentes (art. 34 da Lei n. 
6.830/1980) como hipóteses de recursos 
dirigidos ao mesmo órgão prolatorda 
decisão, constituindo, destarte, em exceção 
ao princípio do duplo grau de jurisdição. 
Embora tais recursos permitam uma 
segunda apreciação da questão, que pode, 
de fato, levar à modificação da decisão, ela 
é feita pelo mesmo órgão que decidiu a 
questão. 
 
Cabe destacar que o texto constitucional 
prestigia o duplo grau de jurisdição como 
um princípio e não como uma garantia, de 
tal modo que nada impede que ele seja 
excepcionado em determinados casos. 
 
De fato, ele não se aplica nas causas de 
competência originária do STF (art. 102, inc. 
I, da CF/1988), bem como nas hipóteses 
contempladas no art. 1.013, §3º, do CPC 
(teoria da causa madura)24. 
 
Pela teoria da causa madura, o tribunal, em 
determinadas situações, está autorizado a 
julgar matérias não apreciadas pelo juízo de 
primeiro grau (art. 1.013, §3º). É o caso da 
sentença que extinguiu o processo sem 
resolução do mérito (sentença 
terminativa). O ordenamento jurídico 
permite ao tribunal competente para julgar 
o recurso que, ao considerar incorreta a 
conclusão do juízo a quo, não apenas anule 
a sentença. Se o processo já está apto para 
o julgamento de mérito, isto é, o 
contraditório já foi integralmente garantido 
e não há prova pendente de produção, cabe 
ao tribunal reformar a sentença e enfrentar 
 
24 Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o 
conhecimento da matéria impugnada. (...) §3º Se o 
processo estiver em condições de imediato 
julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o 
mérito quando: I – reformar sentença fundada no art. 
485; II – decretar a nulidade da sentença por não ser 
ela congruente com os limites do pedido ou da causa 
de pedir; III – constatar a omissão no exame de um 
o mérito. Destarte, o tribunal analisará o 
mérito pela primeira vez, já que este não 
fora objeto de apreciação em primeiro grau. 
 
 
6.2 Princípio da taxatividade recursal 
 
A CF/1988, no art. 22, inc. I25, estabelece a 
competência privativa da União para a 
elaboração de leis que versem sobre direito 
processual e, por conseguinte, os recursos 
têm como fonte a lei federal ou o texto 
constitucional, não sendo possível a sua 
criação por lei estadual ou por convenções 
processuais. 
 
O art. 994 do CPC prevê os recursos de 
apelação, agravo de instrumento, agravo 
interno, embargos de declaração, recurso 
ordinário, recurso especial, recurso 
extraordinário, agravo em recurso especial 
ou extraordinário e embargos de 
divergência. 
 
A sistemática recursal cível não se esgota 
apenas naqueles constantes no art. 994 do 
CPC, mas sim todo e qualquer recurso 
criado por legislação extravagante federal. 
São exemplos: (i) o recurso inominado dos 
Juizados Especiais (art. 41 da Lei n. 
9.099/1995); (ii) os embargos infringentes 
da Lei de Execução Fiscal (art. 34 da Lei n. 
6.830/1980); e (iii) os recursos ordinário, de 
revista e agravo de petição previstos na CLT 
(art. 893, incs. II, III e IV, do Decreto-lei n. 
5.452/1943). 
 
Sob o ponto de vista prático, os tribunais 
têm criado os agravos regimentais, mas que 
não ofendem ao que disposto na CF/1988, 
uma vez que tratam de mera repetição em 
dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV – 
decretar a nulidade da sentença por falta de 
fundamentação. 
25 Art. 22. Compete privativamente à União legislar 
sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, 
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e 
do trabalho. 
seus regimentos de recurso já previsto no 
CPC contra decisões monocráticas de 
relator, o agravo interno, disciplinado no 
art. 1.021. 
 
Imperioso sublinhar que o cerne desse 
princípio reside na seguinte máxima: para 
cada decisão, a lei prevê um recurso 
correspondente, correlato. O recurso 
formalmente adequado para o caso será 
aquele que a lei, segundo requisitos já nela 
fixados, considerar como o apto para atacar 
a decisão (adequado). 
 
Por fim, não se pode olvidar que existem 
atos judiciais irrecorríveis, tais como 
despachos26 e atos ordinatórios, o que não 
destoa da matéria aqui trabalhada, pois 
somente são irrecorríveis exatamente em 
razão da falta de previsão expressa em lei. 
 
 
6.3 Princípio da unirrecorribilidade 
 
O princípio da unirrecorribilidade (ou 
singularidade) significa que para cada 
decisão será cabível a interposição de um só 
recurso, ou seja, não poderá a parte se valer 
de dois recursos simultaneamente para 
atacar o mesmo julgado. 
 
De fato, ao inconformismo com a decisão 
judicial, a lei reserva apenas um recurso 
cabível, pelo qual pode externar sua 
discordância e pleitear a reforma, a 
invalidação ou a integração do provimento 
jurisdicional. 
 
No entanto, há uma exceção aparente a 
esse princípio prevista no art. 1.029 do CPC, 
que prevê a simultânea interposição de 
recurso especial e do extraordinário para o 
Superior Tribunal de Justiça (questão 
 
26 Art. 1.001. Dos despachos não cabe recurso. 
27 Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 
5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com 
indicação do erro, obscuridade, contradição ou 
omissão, e não se sujeitam a preparo. 
federal) e para o Supremo Tribunal Federal 
(questão constitucional), tudo em 
referência a um só acórdão. Todavia, as 
questões atacadas em cada um dos 
recursos serão distintas, não ocorrendo, 
destarte, dupla impugnação sobre a mesma 
matéria. 
 
Discute-se também a respeito de outra 
exceção à unirrecorribilidade, que se dá 
quando a decisão proferida for obscura, 
contraditória, omissa ou que contiver erro 
material, o que desafia, além do recurso 
habitual (apelação, agravo de instrumento, 
etc.), também os embargos de declaração, 
que deverão ser interpostos em primeiro 
lugar, no prazo de 5 (cinco) dias (art. 
1.023)27. 
 
Em verdade, porém, os dois recursos não 
são simultâneos, e sim, sucessivos, tendo 
cada um deles objetivos diversos: o 
primeiro para esclarecer e completar a 
decisão; o segundo para reformá-la ou 
invalidá-la. E mais que isso, a interposição 
dos declaratórios interrompe o prazo para a 
apresentação do recurso regular (art. 
1.026)28 e somente após a intimação do 
resultado de seu julgamento é que a parte 
disporá do prazo para o recurso próprio 
contra a decisão guerreada. 
 
Por fim, em prestígio ao princípio da 
unirrecorribilidade, o art. 1.009, §3º, do 
CPC, dispõe que deve ser impugnada por 
apenas um recurso – a apelação -, a 
sentença que contiver, em seus capítulos, 
decisão sobre qualquer das matérias da 
esfera de cabimento do agravo de 
instrumento. Isto é, as matérias 
enumeradas no art. 1.015 do CPC que, a 
rigor, desafiam a interposição de agravo de 
instrumento, se proferidas no bojo de uma 
28 Art. 1.026. Os embargos de declaração não 
possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo 
para a interposição de recurso. 
sentença, deverão ser objeto de apelação 
unicamente29. 
 
6.4 Princípio da fungibilidade recursal 
 
A fungibilidade é uma manifestação do 
princípio da instrumentalidade das formas 
na seara recursal, por meio da qual haverá 
na prática, se preenchidos alguns requisitos, 
a substituição ou o recebimento de um 
recurso por outro, a admissão do recurso 
nominalmente errado como se fosse o 
correto no caso concreto, em respeito ao 
aproveitamento máximo dos atos 
processuais e à flexibilização de 
procedimentos. 
 
No CPC, a situação da fungibilidade fica 
entre as duas normas codificadas 
anteriormente, uma vez que não reedita o 
CPC/193930 com uma regra ampla e 
expressa, mas diferentemente do CPC/1973 
especifica algumas situações concretas de 
fungibilidade. 
 
Nesse sentido, o Enunciado n. 104 do Fórum 
Permanente de Processualistas Civis 
enuncia que “o princípio da fungibilidade 
recursal é compatível com o CPCe alcança 
todos os recursos, sendo aplicável de ofício”. 
 
29 O próprio art. 1.013, §5º, do CPC/2015, reforça tal 
entendimento quando prevê que o “capítulo da 
sentença que confirma, concede ou revoga a tutela 
provisória é impugnável na apelação”. 
30 Art. 810. Salvo a hipótese de má-fé ou erro 
grosseiro, a parte não será prejudicada pela 
interposição de um recurso por outro, devendo os 
autos ser enviados à Câmara, ou Turma, a que 
competir o julgamento.” 
31 Enunciado n. 104 do FPPC: O princípio da 
fungibilidade recursal é compatível com o CPC e 
alcança todos os recursos, sendo aplicável de ofício. 
32 Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) 
dias. (...) §3º O órgão julgador conhecerá dos 
embargos de declaração como agravo interno se 
entender ser este o recurso cabível, desde que 
determine previamente a intimação do recorrente 
para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as 
razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências 
do art. 1.021, §1º. 
33 Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de 
Justiça, entender que o recurso especial versa sobre 
 
Sobre a positivação da fungibilidade 
recursal no atual ordenamento jurídico31, 
existe a previsão do art. 1.024, §3º, do 
CPC32, onde se admite que o relator, ao 
receber os embargos de declaração contra 
decisão monocrática, poderá aceitá-los 
como agravo interno, ainda que haja a 
necessidade pela parte de complementação 
das razões recursais. 
 
Outra possibilidade está delineada nos arts. 
1.03233 e 1.03334, do CPC, que tratam da 
possibilidade específica no caso de dúvidas 
entre o recurso especial e o recurso 
extraordinário, dispondo que se houver 
erro na interposição de um dos recursos 
excepcionais para os tribunais superiores, 
será automaticamente remetido para o 
tribunal que lhe couber, seja o STJ 
remetendo para o STF ou ao inverso. 
 
À exceção das hipóteses legais, 
compreende-se que a aplicação do princípio 
da fungibilidade recursal exige a presença 
dos seguintes requisitos35: (i) a existência de 
dúvida objetiva, consubstanciada pela falta 
de clareza da norma, pela divergência 
jurisprudencial ou doutrinária e a eventual 
imprecisão da própria norma jurídica; (ii) a 
questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 
(quinze) dias para que o recorrente demonstre a 
existência de repercussão geral e se manifeste sobre 
a questão constitucional. 
34 Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal 
considerar como reflexa a ofensa à Constituição 
afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a 
revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, 
remetê-lo ao Superior Tribunal de Justiça para 
julgamento como recurso especial. 
35 Conforme a jurisprudência pacífica no STJ, o 
princípio da fungibilidade recursal somente se aplica 
quando preenchidos os seguintes requisitos: a) 
dúvida objetiva quanto ao recurso a ser interposto; b) 
inexistência de erro grosseiro; e c) observância do 
prazo do recurso cabível. Neste sentido, ausente 
qualquer desses pressupostos, é inviável a sua 
aplicação (STJ, AgInt no AREsp 1.811.095/DF, Quarta 
Turma, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 
25/10/2021). 
inexistência de erro grosseiro; (iii) a 
ausência de má-fé da parte recorrente; e, 
por fim, (iv) que a interposição do recurso 
tenha sido realizada no prazo em que 
deveria ter sido interposto o recurso 
correto. 
 
 
6.5 Princípio da voluntariedade 
 
O recurso é um ato voluntário, que depende 
da manifestação da parte. Essa máxima 
decorre do princípio dispositivo (art. 2º do 
CPC)36, que também se aplica na esfera 
recursal, como se vê na leitura do art. 996 
(“O recurso pode ser interposto...”), art. 
1.002 (“A decisão pode ser impugnada no 
todo ou em parte”) e art. 1.008 (“O 
julgamento proferido pelo tribunal 
substituirá a decisão impugnada no que 
tiver sido objeto de recurso”). 
O recurso é um ato de manifestação livre de 
vontade da parte, porque o Estado se 
satisfaz com a prestação jurisdicional 
contida na sentença e a ausência de recurso 
é indicativa da concordância das partes com 
a decisão ou da sua tolerância. 
 
A remessa necessária (art. 496 do CPC), 
também denominada de duplo grau de 
jurisdição obrigatório, não se trata de um 
recurso, mas sim de condição de eficácia da 
decisão. Nela, a remessa ao tribunal 
superior se dá de forma automática, sem 
qualquer manifestação de vontade da parte 
e, como tal, não pode ser considerada como 
recurso. 
 
 
6.6. Princípio da vedação à reformatio in 
pejus 
 
 
36 Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e 
se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções 
previstas em lei. 
37 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...) 
IV – verificar a ausência de pressupostos de 
constituição e de desenvolvimento válido e regular do 
A reformatio in pejus consiste na obtenção 
de resultado menos favorável pelo 
recorrente em julgamento de recurso por 
ele interposto se comparado com a situação 
estabelecida na decisão recorrida. Isto é, é 
vedada a reforma da decisão para piorar a 
situação do recorrente: ou a sua situação se 
mantém como está ou melhora, de modo 
que ninguém poderá ter sua condenação 
agravada em razão do seu próprio recurso. 
 
É óbvio que se ambas as partes recorrem e 
o órgão ad quem acolhe o recurso da parte 
contrária, piorando a situação do outro 
recorrente, não há que se falar em 
reformatio in pejus. 
 
O princípio da non reformatio in pejus 
decorre do princípio dispositivo, que 
consiste em nada mais que limitar o órgão 
julgador a só agir quando provocado (art. 
2º) e, ainda, que restrinja a sua atuação ao 
pedido da parte, isto é, se houve recurso 
apenas de uma parte e neste ela pede a 
melhoria de sua situação, a melhoria pode 
até ser negada, mas fica obstado o 
agravamento de sua situação. 
 
Excepcionalmente, porém, reconhece-se a 
possibilidade de o recorrente alcançar uma 
decisão em segundo grau menos 
proveitosa, na prática, do que aquela 
exarada pelo órgão a quo. 
 
Consoante dispõe o art. 485, §3º, do CPC, as 
matérias previstas nos incs. IV, V, VI e IX37, 
podem ser conhecidas de ofício em 
qualquer grau de jurisdição, desde que 
antes do trânsito em julgado. 
 
A apreciação de ofício não significa que o 
órgão julgador pode decidir sem antes 
processo; V – reconhecer a existência de perempção, 
de litispendência ou de coisa julgada; VI – verificar 
ausência de legitimidade ou de interesse recursal; (...) 
IX – em caso de morte da parte, a ação for 
considerada intransmissível por disposição legal. 
conferir às partes oportunidade para o 
exercício do contraditório sobre a questão. 
A diretriz traçada pelo art. 1038 e, mais 
especificamente no sistema recursal, pelo 
art. 93339, ambos do CPC, obriga o julgador 
à prévia intimação das partes a respeito do 
objeto da decisão, ainda que se trate de 
questão de ordem pública. 
 
Outra situação notável é a que se encontra 
prevista no art. 1.013, §3º, do CPC (teoria 
da causa madura). Nela, se o tribunal 
entender por reformar a sentença de 
extinção do processo sem análise do mérito 
(art. 485), poderá avançar ao mérito desde 
que o processo esteja em condições de 
julgamento. Ainda que o autor tenha 
recorrido da sentença com vistas à sua 
modificação para atender seu pedido de 
procedência, pode ocorrer que o tribunal 
julgue no mérito pela improcedência dos 
pedidos lançados na petição inicial. Neste 
caso, o autor que tinha contra si uma 
decisão de extinção do seu processo 
(desfavorável), terá agora, por provocação 
de seu próprio recurso, uma decisão de 
mérito também desfavorável, mas não em 
desobediência ao princípio da non 
reformatio in pejus, mas pelos 
desdobramentos previstos na lei que 
permitem que todas as questões debatidas 
nos autos devemser apreciadas pelo 
tribunal, o que pode resultar em resolução 
do mérito em favor ou em prejuízo do autor. 
 
A mesma solução jurídica poderá ser dada 
ao recurso que afasta a decadência ou a 
prescrição reconhecida na sentença (art. 
1.013, §4º)40. 
 
38 Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de 
jurisdição, com base em fundamento a respeito do 
qual não se tenha dado às partes oportunidade de se 
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual 
deva decidir de ofício. 
39 Art. 933. Se o relator constatar a ocorrência de fato 
superveniente à decisão recorrida ou a existência de 
questão apreciável de ofício ainda não examinada 
que devam ser considerados no julgamento do 
recurso, intimará as partes para que se manifestem 
no prazo de 5 (cinco) dias. 
 
Cabe assinalar, ainda, que há mais uma 
exceção à regra da vedação da reformatio in 
pejus. Com efeito, o art. 85, §11, do CPC, 
dispõe que em caso de derrota do 
recorrente, o tribunal “majorará os 
honorários fixados anteriormente, levando 
em conta o trabalho adicional realizado em 
grau recursal”. Assim, haverá piora na 
situação do recorrente, o qual terá que 
pagar os honorários advocatícios de 
sucumbência acrescidos na fase recursal. 
 
Por último, o STJ tem o entendimento 
sumulado de que “No reexame necessário é 
defeso, ao Tribunal, agravar a condenação 
imposta à Fazenda Pública” (Súmula 45). 
6.7 Princípio da dialeticidade 
 
São sinônimos de dialética: discussão, 
debate, diálogo, exposição, etc. É uma 
forma de buscar a verdade por meio da 
argumentação lógica e que permite, a partir 
do debate, da troca de ideias, que se chegue 
a uma conclusão. 
 
Sob o prisma recursal, é a exigência de que 
a parte não apenas expresse sua 
irresignação com a situação processual que 
lhe é desfavorável, mas a realize de forma 
motivada, permitindo a resposta da parte 
contrária. Se não houver a devida 
fundamentação, há o impedimento de que 
a parte contrária possa responder os 
argumentos, resultando na afronta ao 
contraditório41. 
 
É clara a correspondência do princípio em 
análise com o art. 319, inc. III, do CPC, que 
enuncia como um dos requisitos da petição 
40 Art. 1.013. (...) §4º Quando reformar sentença que 
reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se 
possível, julgará o mérito, examinando as demais 
questões, sem determinar o retorno do processo ao 
juízo de primeiro grau. 
41 São insuficientes ao cumprimento do dever de 
dialeticidade recursal as alegações genéricas de 
inconformismo, devendo a parte autora, de forma 
clara, objetiva e concreta, demonstrar o desacerto da 
decisão impugnada (STJ, AgInt no AREsp 
1.969.273/SP). 
inicial que a parte exponha “o fato e os 
fundamentos jurídicos do pedido”. Se o 
recorrente não expõe os motivos de seu 
inconformismo, assim como ocorre com a 
petição inicial, inepta será a peça recursal. 
 
Ainda, se o recorrente limitar-se a reiterar 
os fundamentos da inicial, sem atacar 
diretamente o obstáculo criado pela 
decisão frente à sua pretensão, inepto será 
o recurso. 
 
A Súmula 182 do STJ é exemplo da presença 
do princípio no ordenamento brasileiro, ao 
esclarecer que “é inviável o agravo do art. 
545 do CPC que deixa de atacar 
especificamente os fundamentos da decisão 
agravada”. Anote-se apenas uma 
retificação. O verbete sumular, editado sob 
a égide do CPC/1973, se refere agora ao art. 
1.021 do CPC, que prevê o cabimento do 
agravo interno contra decisão proferida 
pelo relator. 
 
Na prática, tal princípio se revela em vários 
artigos sobre os recursos em espécie, 
quando indicam que entre os requisitos da 
petição recursal há necessidade de 
motivação, por exemplo: (i) apelação (art. 
1.010, inc. III) – “as razões do pedido de 
reforma ou de decretação de nulidade”; (ii) 
agravo de instrumento (art. 1.016, inc. III) – 
“as razões do pedido de reforma ou de 
invalidação da decisão e o próprio pedido”; 
(iii) embargos de declaração (art. 1.023) – 
“os embargos serão opostos, no prazo de 5 
[cinco] dias, em petição dirigida ao juiz, com 
indicação do erro, obscuridade, contradição 
ou omissão, e não se sujeitam a preparo”; 
(iv) recurso especial e extraordinário (art. 
1.029, inc. III) – “as razões do pedido de 
reforma ou invalidação da decisão 
recorrida”; entre outras disposições 
atinentes aos demais recursos. 
 
O recurso sem a devida motivação não 
preenche os requisitos de admissibilidade 
recursal. Tal vício viola especificamente o 
requisito da regularidade formal, que deve 
ser atendido por todo e qualquer recurso. 
 
O art. 932, par. ún., do CPC, dispõe que 
“antes de considerar inadmissível o recurso, 
o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias 
ao recorrente para que seja sanado o vício 
ou complementada a documentação 
exigível”. 
 
Inadmissível, por óbvio, é o recurso que não 
preenche os requisitos de admissibilidade. 
Não estando presentes tais requisitos, a 
norma impõe ao relator a intimação do 
recorrente para preenchimento da 
exigência originalmente não observada. 
Como a regularidade formal faz parte dos 
requisitos de admissibilidade, a regra 
também se aplica à fundamentação do 
recurso. 
 
Em conclusão, oportuna a transcrição das 
súmulas do STJ e do STF que, a despeito de 
terem sido emitidas na vigência do 
CPC/1973, permanecem em pleno vigor 
quanto à dialeticidade: (i) Súmula n. 287 do 
STF – “Nega-se provimento ao agravo, 
quando a deficiência em sua 
fundamentação, ou no recurso 
extraordinário, não permitir a exata 
compreensão da controvérsia”; (ii) Súmula 
n. 284 do STF – “É inadmissível o recurso 
extraordinário, quando a deficiência na sua 
fundamentação não permitir a exata 
compreensão da controvérsia”; (iii) Súmula 
n. 126 do STJ – “É inadmissível o recurso 
especial, quando o acórdão recorrido, 
assenta em fundamentos constitucional e 
infraconstitucional, qualquer deles 
suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte 
vencida não manifesta recurso 
extraordinário”. 
 
 
6.8 Princípio da primazia do julgamento de 
mérito 
 
O CPC foi concebido de modo a viabilizar 
que o processo civil produza sentença que 
resolva o litígio de forma definitiva. 
 
A propósito, dispõe o art. 4º do CPC que “as 
partes têm o direito de obter em prazo 
razoável a solução integral do mérito, 
incluída a atividade satisfativa” e, no 
mesmo sentido, o art. 6º prevê que “todos 
os sujeitos do processo devem cooperar 
entre si para que se obtenha, em tempo 
razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. 
 
No sistema recursal, com o inequívoco 
intuito de dificultar a criação de óbices pela 
jurisprudência (defensiva), o legislador 
vedou decisões de inadmissibilidade 
recursal sem que antes se propicie ao 
recorrente a correção de erros sanáveis. 
 
Nota-se na exposição de motivos do CPC, 
que há um esforço em entregar à sociedade 
a efetiva realização dos direitos ameaçados 
de lesão ou violados, em prol das garantias 
constitucionais de um Estado Democrático 
de Direito, que não pode privilegiar a forma 
em detrimento do conteúdo, sob pena de 
se afastar do devido processo legal, da 
coesão e, em última análise, do acesso à 
justiça. 
 
Na prática, o CPC evidencia sua pretensão 
de favorecer a aplicação do direito material 
em detrimento do vício formal através de 
vários artigos, a partir das matrizes 
principiológicas estatuídas pelos arts. 4º, 6º 
e outros dispositivos especificamente 
destacados: 
 
(i) art. 76, §2º42 - em caso de incapacidade 
processual ou irregularidade de 
representação da parte, como falta de 
procuração outorgada ao advogado, deverá 
possibilitar a correção do vício em prazo 
razoável, antes que não conheça do recurso 
 
42 Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a 
irregularidade da representação da parte, o juiz 
suspenderá o processo e designará prazo razoável 
para que seja sanado o vício. §1º Descumprida a 
determinação,caso o processo esteja na instância 
originária: I – o processo será extinto, se a providencia 
couber ao autor; II – o réu será considerado revel, se 
a providência lhe couber; III – o terceiro será 
considerado revel ou excluído do processo, 
dependendo do polo em que se encontre. §2º 
Descumprida a determinação em fase recursal 
perante tribunal de justiça, tribunal regional federal 
ou tribunal superior, o relator: I – não conhecerá do 
recurso, se a providência couber ao recorrente; II – 
determinará o desentranhamento das contrarrazões, 
se a providência couber ao recorrido. 
ou determine o desentranhamento das 
contrarrazões. 
 
(ii) art. 218, §4º43 - estabelece a 
tempestividade do ato praticado 
(interposição do recurso, por exemplo) 
antes do termo inicial do prazo, afastando a 
jurisprudência defensiva aplicada durante 
muito tempo pelos tribunais superiores e 
confirmada pelo entendimento estampado 
na Súmula n. 418 do STJ (“é inadmissível o 
recurso especial interposto antes da 
publicação do acórdão dos embargos de 
declaração, sem posterior ratificação”). 
 
(iii) art. 139, inc. IX44 – estabelece que o juiz, 
ao dirigir o processo, deve procurar 
determinar a correção dos defeitos e 
irregularidades ocorrentes, inclusive no que 
diz respeito aos pressupostos processuais, 
com vistas a maior possibilidade de alcance 
de uma decisão de mérito. 
 
(iv) art. 31745 – ao impor ao magistrado o 
dever de conceder à parte oportunidade 
para correção de vício que possa importar 
em resolução do processo sem julgamento 
do mérito, o legislador assegura a 
efetividade e a duração razoável do 
processo. Já que a resolução do processo 
sem análise do mérito não impede, em 
regra, a repropositura da ação (art. 486 do 
CPC)46; é muito mais profícuo que esse 
acertamento do defeito tenha cabimento 
na mesma ação. 
 
43 Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos 
prazos prescritos em lei. (...) §4º Será considerado 
tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do 
prazo. 
44 Art. 139. O Juiz dirigirá o processo conforme as 
disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) IX – 
determinar o suprimento de pressupostos 
processuais e o saneamento de outros vícios 
processuais. 
45 Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução 
de mérito, o juiz deverá conceder à parte 
oportunidade para, se possível, corrigir o vício. 
46 Art. 486. O pronunciamento judicial que não 
resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de 
novo a ação. 
(v) art. 48847 – no mesmo silogismo do art. 
282, §2º, desde que possível, o juiz 
resolverá o mérito sempre que a decisão for 
favorável à parte a quem aproveitaria 
eventual pronunciamento nos termos do 
art. 485, isto é, se o processo poderia ser 
resolvido a favor de uma das partes pela 
extinção sem análise do mérito, o juiz 
buscará o julgamento com a abordagem 
meritória, se for beneficiar a mesma parte. 
 
(vi) art. 932, par. ún.48 – este dispositivo se 
constitui num dos mais importantes meios 
de combate à jurisprudência defensiva, pois 
obriga o julgador a facultar ao recorrente o 
prazo de 5 dias para sanar algum defeito do 
recurso antes de inadmiti-lo. 
 
(vii) art. 938, §1º49 - o legislador deixa claro 
que a política processual é de acertamento 
dos vícios sanáveis para o regular 
prosseguimento do julgamento dos 
recursos. 
 
(viii) art. 1.029, §3º50 - o STF e o STJ poderão 
desconsiderar o vício formal de recurso 
tempestivo ou determinar a sua correção, 
desde que não o repute grave. 
 
 
47 Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o 
mérito sempre que a decisão for favorável à parte a 
quem aproveitaria eventual pronunciamento nos 
termos do art. 485. 
48 Art. 932. Incumbe ao relator: (...) Parágrafo único. 
Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator 
concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para 
que seja sanado vício ou complementada a 
documentação exigível. 
49 Art. 938. (...) §1º Constatada a ocorrência de vício 
sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de 
ofício, o relator determinará a realização ou a 
renovação do ato processual, no próprio tribunal ou 
em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes. 
50 Art. 1.029. (...) §3º O Supremo Tribunal Federal ou 
o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar 
vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua 
correção, desde que não o repute grave.

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