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FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA Contexto histórico: ▪ Revolução Francesa; ▪ Propagação das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade; ▪ Expansão e consolidação do sistema capitalista na Europa Ocidental; ▪ Avanço técnico e científico – que reforçava a confiança no poder da razão; ▪ Apologia da ciência como a principal condutora no caminho para um mundo melhor; ▪ No campo social, muita exploração do trabalho humano; ▪ Operariado vivendo de forma miserável sem garantias e direitos, sem liberdades; ▪ Aumento da tensão entre dois grupos sociais: a burguesa e os trabalhadores; ▪ Surgimento de correntes filosóficas socialistas; ▪ Surgimento de duas propostas para os dilemas humanos: o romantismo e o positivismo. Romantismo Surgiu no final do século XVIII, o romantismo foi um movimento cultural que envolveu as artes e a filosofia, predominante até a primeira metade do século XIX. De modo geral, o romantismo foi uma reação ao espírito racionalista, que pretendia abraçar o mundo e orientar a sociedade. Para o romantismo esse espírito racionalista era uma ameaça para expressão plena das pessoas, onde os sentimentos estariam em segundo plano. O idealismo alemão teve forte influência do romantismo, principalmente no aspecto do nacionalismo, do amor à pátria, da valorização do povo e do Estado como um organismo. Principais nomes na literatura: ▪ Novalis; ▪ Schiller; ▪ Goethe. Principal nome na filosofia romântica: ▪ Jean-Jacques Rousseau, tinha reservas no progresso científico, além de ter concebido o ser humano em estado de natureza como bom selvagem, considerado um pré-romântico; Características do romantismo: ▪ Exaltação do indivíduo, sua subjetividade e emoções; ▪ Exaltação da natureza e da pátria; ▪ Importância das paixões e dos sentimentos valorosos; ▪ Emoção contra a supremacia da razão; ▪ Retomou a ideia de natureza como força vital que resiste à racionalização tecnológica; ▪ Natureza idealizada; ▪ Concepção mística e emocional de Deus – que fala a linguagem do coração e não a da razão; ▪ Desenvolvimento do nacionalismo, do amor fervoroso pela pátria, da valorização da língua nativa e das tradições nacionais; ▪ Liberdade individual. Positivismo Oposto ao romantismo, o positivismo desenvolveu assentado na confiança no progresso científico. O termo positivismo exprime a diretriz principal de sua filosofia que é o culto da ciência e pela sua sacralização do método científico. A grande tarefa a ser desempenhada pela filosofia positiva seria restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial, com um tipo de doutrinação positivista. Principal nome do positivismo: ▪ Augusto Comte; Características do positivismo: ▪ Valorização do método das ciências positivas (baseadas nos fatos e na experiência, ou seja, empíricas); ▪ Recusa das discussões metafísicas; ▪ Reconhecimento de que não há conhecimento real senão baseado em fatos observáveis; ▪ Comprometida com a realidade, a utilidade, a certeza, a precisão, a organização e relatividade do conhecimento científico que deve seguir se aperfeiçoando; ▪ Confiança nos benefícios da industrialização; ▪ Otimismo em relação ao progresso capitalista, guiado pela técnica e pela ciência. Formulação das leis gerais: ▪ Com base nessas leis, o ser humano seria capaz de prever os fenômenos naturais, ver para prever é o lema da ciência positiva. [...] O conhecimento científico se torna, então, um instrumento para a transformação da realidade. ▪ As transformações impulsionadas pelas ciências, visariam o progresso, que deveria estar subordinado à ordem. Lei dos três estados: 1. Estado teológico: ponto de partida da inteligência humana, no qual os fenômenos do mundo são vistos como produzidos por seres sobrenaturais; 2. Estado metafísico: estágio em que a influência dos seres sobrenaturais do estágio teológico foi substituída pela ação de forças abstratas consideradas representantes dos seres do mundo; 3. Estado científico ou positivo: estágio definitivo da evolução racional da humanidade, no qual, pelo uso combinado do raciocínio e da observação, o ser humano passou a entender os fenômenos do mundo. Reforma da sociedade: Um dos temas centrais da reflexão filosófica positiva é a necessidade de uma reorganização da sociedade [...] essa reconstrução consistia na regeneração das opiniões, ideias e dos costumes humanos. [...] Tratava-se de uma reestruturação intelectual dos indivíduos e não de uma revolução das instituições sociais. A reforma deveria seguir os seguintes passos: 1. Reorganização intelectual; 2. Reorganização moral; 3. Reorganização política. Diferença entre positivismo e empirismo: o positivismo se diferencia do empirismo porque não reduz o conhecimento científico apenas aos fatos observados. Idealismo alemão Immanuel Kant, precursor do idealismo alemão: Uma doutrina é idealista quando concebe a noção de que o sujeito tem um papel mais determinante que o objeto no processo de conhecimento. Foi Kant que assentou as bases do idealismo alemão, com a ideia de que só podemos conhecer o pensamento ou a consciência que temos das coisas. Em outras palavras, é a existência do sujeito como centro que torna possível o conhecimento e lhe dá forma, pois é sujeito que organiza o conhecimento do objeto, ao passo que este apenas se encaixa nos “moldes” da percepção humana. Friedrich Hegel e suas ideias: O ponto de partida de Hegel foi a partir da ideia de uma inteligência, ou espírito, que se manifesta e se concretiza no mundo. [...] Ele dizia que o real é racional e o racional é real. Hegel rompeu com a distinção tradicional entre consciência e mundo, sujeito e objeto. Para ele, a realidade se identificaria totalmente com o espírito (ideia, razão), enquanto a racionalidade seria o fundamento de tudo o que existe, inclusive da natureza. ▪ Realidade = espírito = movimento/processo constante ▪ Racionalidade = natureza Movimento dialético: Ao conceber a realidade como espírito, Hegel queria destacar que ela não é apenas uma substância, mas um sujeito com vida própria. Portanto, entender a realidade como espírito é entendê-la nesse seu atuar constante, ou seja, como movimento ou processo, que possui três momentos: 1. Do ser em si, por exemplo, a semente da planta (tese); 2. Ser outro ou fora de si, por exemplo, o momento que a semente sai fora de si (antítese); 3. Ser para si, quando surge a planta (síntese dos momentos anteriores) Saber absoluto: • Para compreender a dialética da realidade é necessário que a razão se afaste do entendimento comum e se coloque no ponto de vista do absoluto; • O trabalho da filosofia seria o de superar o entendimento finito e limitado das coisas finitas e limitadas para alcançar o saber absoluto, que é o saber da coisa em si. • No que concerne à natureza, rompeu com a visão romântica, que a divinizava, proclamando a absoluta superioridade do espírito, que se realiza na história dos seres humanos por meio de sua liberdade. Em relação ao espírito, o filósofo distinguiu três instâncias: 1. Espírito subjetivo: indivíduo e consciência individual; 2. Espírito objetivo: instituições e costumes historicamente produzidos, realização da liberdade humana na sociedade. Manifesta-se na moralidade, englobando família, sociedade e Estado. 3. Espírito absoluto: arte, religião e filosofia. Filosofia e história: • Para Hegel, a história é desdobramento do espírito objetivo; • A história é uma contínua evolução da ideia de liberdade, que se desenvolve segundo um plano racional; • Conflitos, guerras e dominações de um povo sobre outro é visto por Hegel como contradições ou momentos negativos que funcionam como mola dialética que move a história. • No plano da dialética hegeliana esses momentos corresponderiam à antítese, que se contrapõe à tese, fazendo surgir uma etapa superior, a síntese. • Portanto, todas as coisas existentes, mesmosas piores fazem parte um plano racional, e tem sentido dentro do processo histórico. Essa visão hegeliana rendeu inúmeras críticas por levar o indivíduo a um certo conformismo diante das injustiças sociais e de certa forma legitimando todas as formas de governos e instituições, mesmo as mais nefastas. Legado de Hegel: ▪ Entre os seguidores de Hegel houve uma divisão em dois grupos: os neo- hegelianos de direita e neo-hegelianos de esquerda. Karl Marx Crítica ao idealismo hegeliano e a influência de Feuerbach: ▪ Feuerbach defendia que a filosofia deveria partir do ser concreto, isto é, do ser humano considerado como um ser natural e social; ▪ Feuerbach foi crítico voraz da religião afirmando que não foi Deus que criou os seres humanos, e sim os seres humanos que criou Deus, portanto, trata-se de uma posição materialista. Marx: ▪ Para Marx, a filosofia idealista seria uma grande mistificação ou farsa, pois pretende entender o mundo real, concreto, como manifestação de uma razão absoluta. [...] Baseado nessa ideia Marx procurou compreender a história real dos seres humanos em sociedade a partir das condições materiais nas quais eles vivem, visão cunhada por Engels como materialismo histórico. ▪ O ser humano não pode ser pensado de forma abstrata, como na filosofia hegeliana; Materialismo histórico: ▪ Não existe indivíduo formado fora das relações sociais; ▪ A forma como os indivíduos agem, sentem, se comportam e pensam vincula-se à forma como se dão das relações sociais, isto é, as relações sociais são determinadas pela forma de produção material. Capital e trabalho: ▪ Marx reconhece o trabalho como atividade fundamental do ser humano e analisa os fatores que, no capitalismo, o tornaram uma atividade massacrante e alienada [...] a força de trabalho é transformada em mercadoria. Diferença entre dialética hegeliana e dialética marxista: na visão de Hegel a dialética se torna instrumento de legitimação da realidade existente, na visão de Marx, a dialética leva ao entendimento da possibilidade de negação dessa realidade. Dialética marxista: ▪ Marx entende o desenvolvimento histórico-social como decorrente das transformações ocorridas no modo de produção. ▪ A dialética em Marx permite compreender a história em movimento, como algo transitório que pode ser transformado pela ação humana. ▪ Diferentemente de Hegel, Marx não concebe uma história que anda sozinha, guiada por uma razão ou um espírito, mas sim uma história feita pelos seres humanos, que interferem no processo histórico e podem, dessa forma, transformar a realidade. Modo de produção: É a maneira como se organiza a produção material em determinado estágio do desenvolvimento social, que possui quatro estágios na visão de Marx. 1. Comunismo primitivo; 2. Escravismo; 3. Feudalismo; 4. Capitalismo. Luta de classes: ▪ Para Marx, cabe a classe social que possui, nesse momento, um caráter revolucionário intervir por meio de ações concretas, práticas para que essas transformações ocorram, essa classe revolucionária é o proletariado. ▪ Para Marx, o motor da história é a luta de classes. Friedrich Nietzsche ▪ Pré-existencialista; ▪ Forte crítica a civilização ocidental; ▪ Crítica à massificação, à visão de mundo burguesa e ao conservadorismo cristão (que ele chamava de moral de rebanho); ▪ Questão do valor da existência humana; Escrita aforismática: ▪ Máxima, isto é, uma sentença curta que exprime um conceito, um conselho ou um ensinamento. Influência de Schopenhauer: ▪ Para Schopenhauer, a história não é racionalidade e progresso, mas sim um acaso cego e enganoso; ▪ O mundo é uma representação, e a representação do mundo seria, como uma ilusão; ▪ Alcançar a essência das coisas seria possível apenas por meio de um insight intuitivo, uma espécie de iluminação – no qual a arte teria grande relevância, pois pela atividade estética o sujeito se desprenderia de sua individualidade para fundir-se no objeto, em uma entrega pura e plena; Essência do mundo em Schopenhauer: ▪ Para Schopenhauer, a essência do mundo seria a vontade de viver, a vontade seria uma pulsão ou impulso cego, carente de fundamentos ou motivos; ▪ No ser humano, essa vontade torna-se desejo consciente, o qual não sendo satisfeito, provoca sofrimento. ▪ Quando satisfeito se torna tédio; ▪ Assim, a vida oscilaria entre sofrimento e tédio como um pêndulo. ▪ Essa vontade insaciável, seria a origem das lutas entre os seres humanos, e, portanto, a origem de todas as dores e sofrimentos, aos quais os seres humanos estariam condenados. ▪ A felicidade para Schopenhauer não passaria da cessação momentânea, um momento negativo dessas privações. Vontade de potência: ▪ Nietzsche rompe com o pensamento schopenhaueriano, mas guarda algumas concepções como o conceito de vontade de potência; ▪ Para Nietzsche, vontade de potência não se refere apenas um conjunto de pulsões competitivas, mas também a um impulso de afirmação da vida na direção de uma transcendência criadora, que conduziria a uma plenitude existencial. Apolíneo e dionisíaco: ▪ Crítica a tradição ocidental a partir de Sócrates, que desconsiderou o pensamento pré-socrático; Estabelece uma distinção de dois princípios: 1. Apolíneo/Apolo (Deus da razão, clareza e ordem); 2. Dionisíaco/Dionísio (Deus da aventura, fantasia e desordem). ▪ Esses dois princípios foram separados a partir da filosofia socrática, que optou pelo culto à razão e secou a seiva criadora da filosofia, contida na dimensão dionisíaca; ▪ Para o filósofo, o mundo seria o reino das misturas, das turbulências, das complexidades. Genealogia da moral: ▪ Crítica intensa aos valores morais, propondo uma nova abordagem, a genealogia da moral, isto é, um estudo da formação histórica dos valores morais; ▪ Noção de que os valores, o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o certo e errado, o sadio e o doente são consagrados historicamente em função de interesses relativos ao poder dentro da sociedade; ▪ Valores morais são produtos histórico-culturais, impostas pelas religiões, como se fossem produtos da vontade de Deus; ▪ Esses valores carregaram as pessoas com as noções e os sentimentos de dever, culpa, dívida e pecado, o resultado foi a configuração de indivíduos medíocres, tímidos, insossos, não criativos e submissos; ▪ Nietzsche denunciou a existência de uma moral de rebanho na civilização cristã e burguesa, pois essa moral estaria baseada na submissão irrefletida. ▪ Se cada pessoa compreender que os valores presentes são construções humanas estará no dever de refletir sobre suas concepções morais e questionar o valor dos seus valores. Niilismo: ▪ Para o filósofo, o niilismo aparece a partir da análise de que o cristianismo deixou de ser uma única verdade, para se tornar só mais uma das interpretações possíveis do mundo; ▪ O niilismo, portanto, seria a expressão afetiva e intelectual da decadência; ▪ O niilismo moderno baseia-se em grande parte na ideia da morte de Deus, ▪ A célebre frase “Deus está morto” trata-se de um acontecimento histórico- cultural, em que o próprio homem matou Deus. Combate ao niilismo: ▪ Para combater o niilismo, Nietzsche defende valores afirmativos da vida “Ouse conquistar a si mesmo”, ou seja, buscar viver de forma afirmativa, sem conformismo, resignação ou submissão. Pensamento do século XX Contexto histórico: ▪ Era das incertezas, o incerto começa a ocupar o espírito do mundo contemporâneo, a partir de seu baluarte, a ciência; ▪ Avanços no campo da psicologia, com a fundação da psicanálise por Freud e surgimento das psicologias do inconsciente debilitando a hegemonia da razão; ▪ Einstein formulou a teoria da relatividade; ▪ Heisenberg enunciou o princípio da incerteza lançando as bases de uma progressiva mudança nos paradigmas científicos; ▪ Eventos trágicos como: duas guerras mundiais, barbárienazista e guerra fria; ▪ Em termos positivos, salto vertiginoso no campo da tecnologia como: telescópios, naves espaciais, engenharia genética etc.; ▪ Impressões antagônicas entre os intelectuais. ▪ Surgimento de quatro grandes correntes filosóficas: existencialismo, filosofia analítica, escola de Frankfurt e filosofia pós-moderna. Existencialismo Conjunto de tendências filosóficas, no qual tem em comum a existência humana como ponto de partida e o objeto fundamental de suas reflexões. Influências: ▪ Arthur Schopenhauer; ▪ Sören Kierkegaard; ▪ Friedrich Nietzsche. Influência da fenomenologia de Edmund Husserl: ▪ Para Husserl, era preciso purificar essa relação entre o sujeito e o objeto, para recuperar, em um extremo, a realidade das coisas; ▪ Para o filósofo, a consciência não é, para uma realidade essencial ou substancial, mas apenas um movimento que se realiza na direção das coisas, dos objetos, pois toda consciência é sempre uma consciência de algo; ▪ A consciência manifesta sempre uma intencionalidade – as coisas são sempre abordadas em função de alguma intenção do sujeito; A fenomenologia, ciência dos fenômenos, se tornou então, um dos principais métodos de investigação contemporâneos. ▪ Fenômeno significa “coisa que aparece”. Portanto, o método fenomenológico consiste basicamente na observação e descrição rigorosa do fenômeno, isto é, daquilo que aparece ou se oferece aos sentidos ou à consciência. Principais filósofos existencialistas: ▪ Martin Heidegger; ▪ Jean-Paul Sartre; ▪ Simone de Beauvoir; ▪ Karl Jasper. Problema de existir: ▪ Existir implica a relação do ser humano consigo mesmo, com outros seres humanos, com os objetos e a natureza; ▪ Todos os filósofos existencialistas chegam ao seguinte denominador comum: uma visão dramática da condição humana; Características do existencialismo: ▪ Ser humano como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada que vive sob riscos e ameaças; ▪ Liberdade humana não é plena e está condicionada às circunstâncias históricas na existência – querer não é poder; ▪ Vida humana não é um caminho seguro em direção ao progresso, ao êxito e ao crescimento; ▪ A vida humana é marcada por situações de sofrimento, como doenças, dor e injustiças. Martin Heidegger: ▪ Defendia que o problema central da filosofia é sobre ser e a existência de tudo; ▪ Para ele, o ente é a existência, manifestação do modo de ser e o ser é a essência, aquilo que ilumina a existência de outro; ▪ O sentimento profundo que nos faz despertar da existência inautêntica é a angústia, após a destruição do eu; ▪ Somos absorvidos pela banalidade do cotidiano, o quanto anulamos o nosso eu para inseri-lo alienadamente ao mundo do outro. [...] Na tentativa de sair desse estado, fugimos. Alguns, não todos, conseguem enfrentar esse sentimento de angústia e superá-la. Fases da filosofia heideggeriana: 1. Primeira fase: caracteriza-se pela busca do conhecimento do ser por meio da análise do ente humano, da existência humana. 2. Segunda fase: caracteriza-se pelo próprio ser, tornando-se a chave para a compreensão da existência. Sentido do ser: Um dos objetivos básicos de sua obra é investigar o sentido do ser. Para o filósofo há três etapas que caracterizam a vida humana: 1. O fato da existência, quando o ser humano é lançado ao mundo, sem ter pedido pra nascer; 2. O desenvolvimento da existência, quando o ser humano estabelece relações com o mundo, procura agir no campo das possibilidades, ou seja, uma constante busca pelo o que ele não é; 3. A destruição do eu, tentando realizar seu projeto, o ser humano sofre a interferência de uma série de fatores adversos que o desviam de seu caminho existencial, um confronto entre o eu e os outros, no qual o eu sempre sai derrotado. Jean-Paul Sartre: ▪ Crítica a teoria aristotélica da potência; ▪ O ser é o que é, pleno; ▪ O ente em si não é nem passivo, nem afirmação, nem negação, mas simplesmente repousa em si maciço e rígido; ▪ Ente em si = está para fora e representa a plenitude do ser; ▪ Ente para si = não-ser ou nada; ▪ A característica humana seria o nada, um “espaço aberto.” Influências: ▪ Fenomenologia de Husserl; ▪ Filosofia de Heidegger. Condição humana e liberdade: ▪ Se o ser humano fosse somente um ser em si, seria completo, cheio, total, pleno, e, portanto, não poderia ter nem a consciência, nem a liberdade, afinal sua consciência já estaria pronta, fechada; ▪ Liberdade representa a possibilidade de escolha, portanto, para Sartre, o ser humano expressa esse “vazio de ser” (ser para si); ▪ Não existe natureza humana, pois falar em “natureza” implica algo fixo e universal, o que existiria, na concepção de Sartre, é uma condição humana. As situações históricas variam: o homem pode nascer escravo numa sociedade pagã – ou senhor feudal ou proletário. Mas o que não varia é a necessidade para ele de estar no mundo, de lutar, de viver com os outros de ser mortal. (O existencialismo é um humanismo, p. 16) ▪ Portanto, para Sartre, um dos valores fundamentais da condição humana é a liberdade, que é o que confere à sua existência sentido. Filosofia Analítica Surgiu no início do século XX, com uma análise lógica da linguagem, procurando esclarecer o sentido das palavras e expressões (conceitos, enunciados, uso contextual) e seu uso no discurso científico e filosófico, em busca de maior precisão. Geralmente dividido em duas vertentes: 1. Positivismo lógico: centrado nos fatos e na lógica para a construção de uma epistemologia científica; 2. Filosofia da linguagem: mais atenta à linguagem informal e cotidiana. A filosofia analítica surgiu com o reconhecimento de que o sentido e a linguagem desempenham papel fundamental na filosofia, considerando que o mau uso da linguagem desencadeou em pseudoproblemas, equívocos ou mal-entendidos na filosofia. Principais nomes da filosofia analítica: ▪ Johann Gottlob Frege, precursor, propôs uma linguagem informal, que resultou num grande desenvolvimento da lógica, de um lado, o surgimento do pensamento analítico, de outro; ▪ Bertrand Russell; ▪ Ludwig Wittgenstein; ▪ John Langshaw Austin; ▪ Gilbert Ryle. Bertrand Russell: ▪ Principal expoente da filosofia analítica; ▪ Publicou três volumes de Principia Mathematica, considerado como uma das mais importantes contribuições à lógica desde Aristóteles; ▪ A tese central de Principia Mathematica consiste em demonstrar que toda a matemática pura advém dos princípios da lógica pura. Portanto, há uma identidade entre lógica e matemática; ▪ Submeteu a linguagem humana à análise lógica, contribuindo para o surgimento e desenvolvimento da filosofia analítica; Falsos problemas: ▪ Russell convenceu-se de que grande parte dos problemas filosóficos se convertem falsos problemas, devido ao que ele chama de erros de linguagem; ▪ Portanto, a tarefa fundamental da filosofia seria investigar, em termos lógicos, conceitos e proposições linguísticas para saber de que estamos realmente falando quando questionamos ou afirmamos isto ou aquilo e se não há aí um erro de linguagem; ▪ A ferramenta para investigar de forma correta é por meio da análise lógica. Ludwig Wittgenstein: ▪ Discípulo de Russell; Fases da filosofia de Wiittgenstein: 1. Primeira fase, a de análise lógica, influenciada por Russell, onde intensificou a busca de uma estrutura lógica que pudesse dar conta do funcionamento da linguagem; 2. Segunda fase, a dos jogos de linguagens, oposta à primeira fase, onde afirma a impossibilidade de uma redução legítima entre um conceito lógico e um conceito empírico. Em outras palavras, a linguagem não poderia ser a captura conceitual da realidade e representação do objeto. Ela seria antes uma atividade, um jogo de linguagem, que adquire significado no seu uso social, que podem variar. ▪ Portanto, o termo linguístico não pode ser avaliado por meio de umaanálise lógica, mas apenas a partir de seu uso social. ▪ Wittgenstein compara a linguagem a uma caixa de ferramentas, não se trata mais de considerá-la falta ou verdadeira, mas de saber usá-la. ▪ Por isso, a tarefa da filosofia seria apenas de usar adequadamente a linguagem, conhecendo seus limites. Escola de Frankfurt A preocupação comum entre os filósofos da Escola de Frankfurt era estudar aspectos variados da vida social, de modo a compor uma teoria crítica da sociedade. Investigaram, portanto, as relações existentes entre os campos da economia, psicologia, da história e da antropologia. Tendo como ponto de partida reflexões herdadas da teoria marxista e da teoria freudiana. Principais filósofos: ▪ Theodor Adorno; ▪ Max Horkheimer; ▪ Walter Benjamin; ▪ Jürgen Habermas; ▪ Herbert Marcuse; ▪ Erich Fromm. Sociedade de massa e razão instrumental: ▪ A Escola de Frankfurt manifestou interesse especial pela sociedade de massa [...] o avanço tecnológico foi colocado a serviço da reprodução da lógica capitalista, ao mesmo tempo, em que o consumo e a diversão passaram a ser promovidos como forma de garantir o apaziguamento e a diluição dos problemas sociais. ▪ Crítica da razão iluminista – que segundo, Adorno e Horkheimer visava à emancipação dos indivíduos e ao progresso social – terminou por levar a uma crescente dominação das pessoas em virtude justamente do desenvolvimento tecnológico-industrial. ▪ Para Horkheimer, a razão iluminista era uma razão controladora e instrumental, que sempre esteve em busca da uma dominação, tanto da natureza quanto do próprio ser humano, se iniciou na Idade Moderna e perdura até a Idade Contemporânea; ▪ Adorno e Horkheimer, denunciam a morte da razão crítica, asfixiada pelas relações de produção capitalista, ambos professavam uma desesperança em relação à possibilidade de transformação dessa realidade social; ▪ Essa desesperança se deveria ao diagnóstico da ausência de consciência revolucionária no proletariado, que teria sido assimilado, absorvido pelo sistema capitalista, seja pelas conquistas trabalhistas, seja pela alienação de suas consciências, promovida pela indústria cultural. Indústria cultural em Adorno e Horkheimer: ▪ Termo difundido por Adorno e Horkheimer para designar a indústria da diversão de massa, veiculada por televisão, cinema, rádio, revistas, jornais, músicas, propagandas etc. ▪ Por meio da indústria cultural e da diversão se obteria a homogeneização dos comportamentos e a massificação das pessoas. Indústria cultural em Walter Benjamin: ▪ Walter Benjamin discordava da visão de Adorno e Horkheimer, dizendo que a arte dirigida às massas pode servir como instrumento de politização. ▪ Benjamin se mostrou esperançoso com a possibilidade de que a arte se tornasse acessível a todos com o desenvolvimento das técnicas de reprodução. Jürgen Habermas Discorda de Adorno e Horkheimer em alguns pontos centrais como: razão, verdade e democracia. Ambos diziam que a razão havia sido asfixiada pelo desenvolvimento capitalista, o qual teria narcotizado a consciência do proletariado, perpetuando-se dessa forma o sistema. Razão dialógica e ação comunicativa: ▪ Para Habermas, essa posição é perigosa em filosofia, pois poderia conduzir a uma crítica radical da modernidade e, em consequência, da razão, o que levaria ao irracionalismo. ▪ Para ele, o “projeto de modernidade” ainda não foi cumprido, ou seja, o potencial para a racionalização do mundo ainda não está esgotado; ▪ Por isso Habermas costuma ser descrito como o “último grande racionalista”. ▪ Rompeu com alguns pontos da teoria marxista, como a centralidade do trabalho e a identificação do proletariado como agente de transformação social; ▪ Elaborou uma nova perspectiva de razão, uma razão dialógica, isto é, aquela que nasce do diálogo e da argumentação entre os agentes interessados; ▪ Trata-se, portanto, da razão que surge da chamada ação comunicativa, do uso da linguagem e da conversação como meio de conseguir o consenso. Verdade intersubjetiva e democracia: ▪ Elabora também um novo conceito de verdade; ▪ Habermas propõe o entendimento de verdade não mais como uma adequação do pensamento à realidade, mas como fruto da ação comunicativa, uma verdade intersubjetiva que surge do diálogo entre os indivíduos. ▪ Nesse diálogo aplicam-se algumas regras como: ✓ A não contradição; ✓ A clareza de argumentação; ✓ A falta de constrangimento de ordem social. ▪ Razão e verdade deixam de constituir conteúdos ou valores absolutos e passar a ser definidas consensualmente. ▪ A ênfase da por ele à razão comunicativa pode ser entendida como uma maneira de tentar “salvar” a razão “moderna/iluminista/instrumental. Filosofia pós-moderna ▪ O termo pós-moderno aplica-se aos pensadores das últimas décadas que produziram uma reflexão marcada pela crítica e pela descrença em relação ao projeto de modernidade – de que a razão tecnocientífica favorecia a emancipação humana. ▪ Um traço em comum entre os filósofos pós-modernos é a debilitação das esperanças; ▪ Essas desesperanças fortaleceu-se a partir da segunda metade do século XX, após os sinais degeneração das experiências socialistas, as quais, resultaram no chamado socialismo autoritário; ▪ Diante das frustações históricas e da falta de alternativa ao sistema capitalista, o mundo teria se curvado à onipotência do status quo, sem qualquer perspectiva de transformação. Principais filósofos pós-modernos: ▪ Michel Foucault; ▪ Jacques Derrida; ▪ Jean Baudrillard; ▪ Jean-François Lyotard. Visão fragmentária: ▪ Sem perspectiva de transformação social, a filosofia pós-moderna passa a analisar aspectos da vida social, da vida cotidiana, como funcionam o controle dos indivíduos e as formas de opressão; ▪ Essa denúncia é feita de forma fragmentária, isto é, aborda aspectos variados e singulares do cotidiano e não se estrutura em visão de conjunto, uma vez que a filosofia pós-moderna abandonou a pretensão de totalidade que orientava o pensamento moderno; ▪ Preocupação em captar singularidades, particularidades e diversidades do real; ▪ Seu mérito seria a valorização das pluralidades culturais pelo respeito à diferença do outro. Michel Foucault ▪ Centrou sua investigação em temas como instituições sociais (educativas, psiquiátricas e carcerárias), sexualidade e poder; ▪ De acordo com Foucault, as sociedades modernas apresentam uma nova organização do poder que se desenvolveu a partir do século XVIII; ▪ Nessa sociedade o poder não se concentra no setor político e em suas formas de repressão, mas está disseminado pelos vários âmbitos da vida social; ▪ Para ele, o poder se fragmentou em micropoderes; ▪ O poder está em toda parte, não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares, perspectiva chamada de microfísica do poder; ▪ Objetivo de Foucault foi o de colocar a mostra estruturas veladas de poder. Genealogia do poder: ▪ Inspirado em Nietzsche, Foucault desenvolveu seu método de pesquisa à maneira de uma genealogia; ▪ O ponto de partida de Foucault foi a noção de que o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o certo e o errado são consagradas historicamente em função de interesses relativos ao poder dentro da sociedade; ▪ Para Foucault, o poder, seria um poder criativo que produz a realidade e seus conceitos; ▪ O poder, segundo Foucault, atinge os indivíduos em seu corpo, comportamento e sentimentos; ▪ Assim, o poder se encontra em vários espaços, a resistência, para o filósofo, não caberia a um partido ou classe revolucionária, mas uma ação de múltiplos pontos de resistência; ▪ Em Vigiar e Punir, o filósofo acompanha a evolução dos mecanismos de controle social e de punição que se tornaram cada vez menos visíveis e racionalizados. Apesar da sociedade contemporânea caracterizar-se como uma sociedade disciplinar; ▪ Uma das formas mais eficientes dessa vigilância e disciplinase dá, por meio de discursos e práticas científicas aparentemente neutras que procuram normatizar o comportamento dos indivíduos. Jacques Derrida ▪ Criticou o desenvolvimento da racionalidade ocidental a partir do próprio conceito de razão; ▪ Para ele, a filosofia ocidental partilha a ideia de um centro, de algo que unifica e estrutura sua construção teórica - Deus, homem e verdade - o que Derrida caracteriza como logocentrismo; ▪ Cada um desses centros corresponde uma antítese – Deus-diabo, homem- mulher, verdade-mentira, (razão-mito), foi preservada pela filosofia ocidental e atribuído valores absolutos a um dos elementos que compõem essa dualidade, criando assim “verdades” indiscutíveis, que são construções culturais; ▪ O filósofo propõe desconstruir o conceito de logos e desses centros da filosofia ocidental, especialmente a noção de razão e de sujeito, isso se faria por meio da análise da linguagem; ▪ A desconstrução teria três momentos: 1. Como se dá a construção de certas noções; 2. Como essas noções passam a ter função na cultura ocidental; 3. Como elas podem ser usadas como forma de dominação.