Prévia do material em texto
1 Disciplina: Gestão de sistemas e unidades educacionais Autora: D.ra Vanessa Roberta Massambani Ruthes Revisão de Conteúdos: D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2020 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Vanessa Roberta Massambani Ruthes Gestão de sistemas e unidades educacionais 1ª Edição 2020 Curitiba, PR Faculdade UNINA 3 Faculdade UNINA Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Yara Rodrigues de La Iglesia Designer Instrucional Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA RUTHES, Vanessa Roberta Massambani. Gestão de sistemas e unidades educacionais / Vanessa Roberta Massambani Ruthes. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020. 88 p. ISBN: 978-65-87972-53-4 1. Administração clássica. 2. Missão, visão e valores. 3. Práxis, sistemas e unidades. Material didático da disciplina de Gestão de sistemas e unidades educacionais – Faculdade UNINA, 2020. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio...................................................................................................... 07 Aula 1 – As teorias de gestão e o contexto escolar .................................... 08 Apresentação da aula 1 ............................................................................. 08 1.1 - A História da Administração ........................................................ 08 1.2 - As teorias da administração ........................................................ 11 1.2.1 - Frederick Taylor e o princípio da supervisão do trabalho ......... 12 1.2.2 - Henri Fayol e a coordenação de ações de gerenciamento ....... 14 1.2.3 - Peter Drucker e a gestão por objetivos .................................... 15 1.3 - A gestão e o aprendizado organizacional ................................... 16 Conclusão da aula 1 .................................................................................. 18 Aula 2 – Os princípios da gestão escolar ................................................... 19 Apresentação da aula 2 ............................................................................. 19 2.1 - A diferença entre administrar e gerir ........................................... 20 2.2 - Entre a empresa e a escola ........................................................ 23 2.3 - A gestão escolar e o processo de ensino-aprendizagem ............ 26 Conclusão da aula 2 .................................................................................. 28 Aula 3 – Gestão escolar, uma prática desenvolvida .................................. 29 Apresentação da aula 3 ............................................................................. 29 3.1 - A gestão escolar e os pressupostos legais ................................. 29 3.2 - As leis que regem as práticas administrativas e pedagógicas da educação .................................................................................................. 31 3.3 - As normativas que regem as práticas administrativas da instituição de ensino .................................................................................. 37 Conclusão da aula 3 .................................................................................. 40 Aula 4 – Concepções de Gestão Escolar I ................................................. 41 Apresentação da aula 4 ............................................................................. 41 4.1 - Os três paradigmas de gestão escolar ........................................ 41 4.2 - O paradigma técnico-científico de gestão escolar ...................... 44 Conclusão da aula 4 .................................................................................. 49 Aula 5 – Concepções de Gestão Escolar II ................................................ 50 Apresentação da aula 5 ............................................................................. 50 5.1 - O paradigma autogestionário ..................................................... 51 5.2 - A gestão compartilhada na educação: possibilidades e desafios 54 Conclusão da aula 5 .................................................................................. 58 6 Aula 6 – Concepções de Gestão Escolar III ............................................... 58 Apresentação da aula 6 ............................................................................. 58 6.1 - O paradigma democrático-participativo ...................................... 59 6.2 - Os pressupostos teóricos do paradigma democrático- participativo ............................................................................................... 63 Conclusão da aula 6 .................................................................................. 67 Aula 7 – Concepções de Gestão Escolar IV .............................................. 67 Apresentação da aula 7 ............................................................................ 67 7.1 - A gestão democrático-participativa da escola e a noção de participação ............................................................................................... 68 7.2 - A gestão democrático-participativa da escola e a noção de autonomia ................................................................................................. 70 Conclusão da aula 7 .................................................................................. 74 Aula 8 – Liderança e Gestão Escolar ......................................................... 75 Apresentação da aula 8 ............................................................................. 75 8.1 - A definição de liderança .............................................................. 768.2 - A liderança na gestão escolar ..................................................... 79 8.3 - O diretor como líder educacional ................................................ 81 Conclusão da aula 8 .................................................................................. 83 Índice Remissivo ....................................................................................... 84 Referências ............................................................................................... 86 7 Prefácio A disciplina de Gestão de Sistemas e Unidades Educacionais tem como objetivo refletir sobre os princípios teóricos que pressupõem para tal ação. Nesse sentido, foi estruturado um itinerário de estudos que contempla aspectos teórico- práticos da administração, os princípios da gestão escolar e os aspectos legais que normatizam a gestão. Em um segundo momento, são apresentadas as principais concepções pedagógicas que baseiam a gestão escolar, a saber: técnico-científica, autogestionária e democrático-participativa. Por fim serão abordados os princípios de liderança que fundamentam a práxis do gestor escolar, principalmente na figura do professor. Bons estudos! 8 Aula 1 – As teorias de gestão e o contexto escolar Apresentação da aula 1 Prezado (a) estudante! Iniciamos nossa primeira aula da disciplina de Gestão de Sistemas e Unidades Educacionais. Vamos conhecer os fundamentos das teorias de administração e seus principais teóricos, como também compreender de que forma as concepções emanadas da gestão podem atuar no contexto educacional. Na história da educação, encontramos diversas formas de fazer gestão escolar. Desde o surgimento das primeiras instituições formais, no fim da Idade Média, encontramos formas diversas de fazer a administração dos bens e serviços. Entretanto, essas práticas estavam mais relacionadas a um processo intuitivo do que a algumas práxis racionalizadas. Vocabulário O termo práxis indica uma relação entre o ser humano e a realidade, na qual, ao operar sobre a realidade, reflete suas ações e as modifica de forma a alcançar os objetivos propostos. No contexto educacional, podemos relacionar a práxis ao processo de ação-reflexão-ação (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p. 224). No contexto da administração geral, a organização de práxis racionalizada foi um processo paulatino, diretamente relacionado à forma ao desenvolvimento da humanidade e à forma como esse agregava e desenvolvia o conhecimento. 1.1 A história da administração As explicações de como o desenvolvimento da administração ocorreu são inúmeras e partem de diversos pressupostos teóricos. Nós em especial vamos utilizar o realismo materialista. Essa é uma concepção de Xavier Zubiri, um pensador espanhol, que afirma que toda a realidade existente é puramente material e objetiva. Em outras palavras, para esse autor, uma pedra é simplesmente uma pedra, quem dá a ela os diferentes significados é o ser 9 humano. Ao dar a uma pedra um significado, abre-se a possibilidade de transformá-la segundo a aspiração humana. Acredito que vocês já tenham ouvido a anedota (pois não há registro de que ela seja um fato real) da explicação de Michelangelo frente a um elogio que recebera por sua obra Pietà. Para o artista, a escultura já estava presente no bloco de mármore, o que ele fez foi mostrá-la ao mundo. Pergunto a vocês: o que essa afirmação de Michelangelo expressa? O artista, ao olhar para a realidade concreta, doou a ela um significado e após isso a transformou. Pietà – Michelangelo Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/60/Michelangelo%27s_Pieta _5450_cropncleaned_edit-2.jpg Mas, de que forma toda essa dinâmica acontece? Segundo Zubiri (2006, p. 25), essas mudanças ocorrem a partir de determinados padrões sociais que contemplam em si questões como: organização da sociedade, concepções políticas, valores morais e o conhecimento acumulado. Esse último é o grande propulsor do desenvolvimento da humanidade, pois só há inovação na transformação de recursos em possibilidades se há ampliação no conjunto de saberes. Segundo Ruthes (2019, p. 483), “a realidade tem um caráter histórico e é considerada um processo que envolve a transformação dos recursos naturais 10 em possibilidades, que são modos de ser e estar na realidade”. Sob essa ótica de compreensão, podemos sintetizar essa compreensão sobre o desenvolvimento das formas de produção humana, com o seguinte esquema: Desenvolvimento das formas de produção Fonte: acervo do autor (2020). A realidade concreta é a fonte de todo o conhecimento acumulado pela humanidade, a partir desse conhecimento é que podemos produzir novos saberes que impactam na forma como nós atribuímos sentido à realidade. Esse novo significado impacta a forma como trabalhamos com o que é real, transformando-a e a partir disso é que temos inovações, que nos possibilitam mudar o paradigma no qual se vivem em determinado tempo histórico. Vocabulário O termo paradigma indica as formas ou padrões pelos quais podemos entender a realidade. São modelos explicativos compostos por conceitos e conhecimentos que se autocompletam (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p. 211). No contexto da administração, temos várias fases que possuíam formas de transformação da realidade, cada qual obedecendo o tempo histórico específico e o conjunto de conhecimentos acumulados. Segundo Chiavenato (2000), a humanidade perpassou seis paradigmas da administração, tendo em vista os modos de produção que lhe eram próprios: 11 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Compreendendo o desenvolvimento da administração a partir da “evolução da organização social, reforça a necessidade de se explicitar a sua função enquanto meio de organização do trabalho na sociedade capitalista” (FÉLIX, 1985, p. 34). Nesse sentido, é fundamental para o melhor desenvolvimento de nossa reflexão compreender as principais teorias da administração. 1.2 As teorias da administração Como vimos no item anterior, na história da administração tivemos diversas fases, em cada uma delas uma forma de organização dos processos de trabalho foi sendo desenvolvida. Em fins do século XIX, com a Revolução •Sociedades com alto índice de urbanização; •Modo de produção industrial com foco na competitidade os bens produzidos. O Gigantismo (1914- 1945) •Sociedades em Rede; •Modo de produção tecnológico com foco em novas formas de produção. Fase moderna (1945- 1980) •Sociedades em Rede; •Foco na inovação, que ocorre na troca de conhecimento e tecnologia. A Globalização (Após 1980) •Sociedades com nível de urbanização baixo; • Estrutura econômica familiar; •Modo de produção era a manufatura. Fase artesanal (até 1780) •Sociedades urbanizadas; •Modo de produção era industrial, com foco na mecanização. Fase pré-industrial (1780-1860) •Sociedades com alto índice de urbanização; •Modo de produção industrial com foco na transformação em massa de bens. Fase industrial (1860- 1914) 12 Industrial, de acordo com os primeiros teóricos da administração, a principal finalidade era compreender os processos de produção, buscando estratégias que viabilizassem mais rentabilidade e com a necessidade de melhoria na qualidade dos bens produzidos foi se tornando necessária uma organização sistemática e racional das práticas gerenciais. Saiba mais A Revolução Industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas. Disponível no link: https://www.sohistoria.com.br/resumos/revolucaoindustrial.p hp Considerando esses fatos históricos e os modos de produção doperíodo, cada vez mais se tornou necessária uma reflexão, análise e efetivação de processos que gerassem: maior controle, maior rentabilidade e mais qualidade nos bens produzidos. Inúmeros pensadores refletiram essas formas, entretanto, cada um a partir do tempo histórico em que estava inserido. Em especial, nós vamos trabalhar com três autores: Frederick Taylor, Henri Fayol e Peter Drucker. Segundo Chiavenato (2000), cada um desses pertence a uma fase da história da administração: o Gigantismo, a Moderna e a Globalização. 1.2.1 Frederick Taylor e o princípio da supervisão do trabalho Frederick Taylor (1856-1915) é considerado um dos primeiros pensadores da administração moderna, pois buscou, de forma racionalizada analisar e desenvolver métodos científicos para a racionalização do processo de trabalho dos operários industriais. Sua ótica de análise parte do cotidiano da linha de produção, da organização da rotina de trabalho que, segundo esse autor, devem ser balizadas por quatro princípios: 13 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Ao elencarmos esses princípios em forma de pirâmide, estamos destacando que eles fazem parte de um processo de construção que visa balizar todo um modo de produção. Ao fazer a seleção do funcionário por meio de suas competências, há de se garantir a qualidade e o aumento da produtividade da empresa. Se é organizada a padronização e racionalização do tempo de produção, há como se garantir que o bem produzido seja entregue, a partir de padrões de qualidade, em um intervalo de tempo mínimo. Aos trabalhadores que conseguem desenvolver seu trabalho a partir dessa ótica, é oferecido um incentivo salarial por produtividade, o que os torna mais interessados em desenvolver suas atividades, ou seja, é possível e necessário estabelecer protocolos de trabalho que viabilizassem a racionalização do tempo e premiasse os funcionários com maior produtividade. E, por fim, para que todo esse trabalho possa ser desenvolvido é essencial que haja supervisão de todas as atividades, para que se analise o cumprimento de cada uma delas. Para Chiavenato (2000), nessa lógica de administração do trabalho encontramos quatro princípios básicos do pensamento de Taylor: Seleção por aptidião Padronização e racionalização do tempo Incentivo salarial Supervisão 14 Fonte: acervo do autor (2020). 1.2.2 Henri Fayol e a coordenação de ações de gerenciamento Henri Fayol (1841-1925), é considerado como o pai da administração clássica, pois não estava voltado apenas para a reflexão dos processos de produção, mas também, e preferencialmente, ao processo de gerenciamento administrativo. Henri Fayol (1841-1925) Fonte: https://peoplepill.com/people/henri-fayol/ Para Fayol, não é a forma de produção que molda a maneira como uma empresa é administrada, mas sim é a forma de gerenciamento que garante uma produção de bens com mais lucratividade. Segundo Chiavenato (2000), as conclusões do estudo de Fayol nos permitem vislumbrar um processo de administração pautado em cinco princípios: 15 prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Esses princípios podem ser considerados como modelos que, com as devidas customizações, podem ser implantados em diversos seguimentos de negócio. Fonte: acervo do autor (2020). 1.2.3 Peter Drucker e a gestão por objetivos Peter Drucker (1909-2005) é considerado como um dos mais conceituados teóricos da administração moderna. Ele desenvolve sua teoria de administração por meio de uma lógica diversa de Taylor e Fayol ao apresentar que o que deve balizar o gerenciamento de uma empresa não é apenas a lucratividade, mas sim os objetivos que ela tem frente ao planejamento estruturado. É importante destacar que esse planejamento é de longo prazo, assim, por mais que determinadas ações possam garantir lucratividade imediata, elas não serão realizadas se não estiverem conforme as metas da organização. Importante O funcionário é entendido como colaborador, pois ele não exerce apenas uma função, mas contribui de forma direta no alcance dos objetivos e na realização da missão institucional. Sob esse aspecto, é que nos últimos 50 anos muitas empresas desenvolvem o processo de gestão a partir de três premissas básicas: a missão, a visão e os valores da empresa: 16 Missão É o motivo da empresa existir. Esse relaciona-se às pretensões da firma frente à sociedade e a seus clientes. Visão São os objetivos que a empresa pretende alcançar. Eles devem estar alinhados à missão e precisam expressar o planejamento estratégico da organização. Valores São os princípios que regem todas as ações da empresa. Eles fundamentam a missão e orientam a visão. Fonte: elaborado pelo autor (2020), adaptado pelo DI (2020). Curiosidade Na administração clássica há os pensadores: Taylor e Fayol, ambos desenvolveram suas análises no mesmo período histórico e ambos buscaram compreender de que forma os processos de trabalho podiam ser otimizados. Taylor analisou as relações de trabalho a partir da linha de produção, buscando compreender de que forma essas podiam ser padronizadas para a melhoria da produtividade. Fayol analisou a forma como os processos de gerenciamento da empresa podem ser mais eficazes. Outro aspecto importante da gestão por objetivos é a forma como compreende o funcionário da empresa. Ele recebe o nome de colaborador, pois não é apenas um prestador de serviços, mas alguém que contribui de forma direta para concretização da missão, no alcance da visão, por meio dos valores. Assim, há a necessidade de que as pessoas que integram o efetivo da instituição identifiquem-se com a missão da instituição e também com os valores. Por esse motivo, os princípios do gerenciamento são diversos dos já apresentados. Eles não se relacionam diretamente à supervisão e ao controle, mas sim à descentralização administrativa que por meio da criação de oportunidades e do desenvolvimento pessoal gera resultados compatíveis com a visão da instituição 1.3 A gestão e o aprendizado organizacional Como vimos, no contexto da administração moderna, e principalmente na teoria de Peter Drucker, o alinhamento pessoal com a missão e com os valores é fundamental para o desenvolvimento da visão da empresa. Isso pressupõe que esse indivíduo não vai apenas contribuir com a instituição, mas que essa vai contribuir com ele, em seu desenvolvimento. Essa compreensão baseia-se na 17 noção de capital humano, na qual as empresas compreendem que o seu desenvolvimento está diretamente relacionado ao desenvolvimento de seus colaboradores. Curiosidade Dentre os pensadores do período de 1960, Peter Drucker é considerado como um dos mais revolucionários, pois afirmava que o lucro não era a única finalidade de uma empresa, mas sim o que ela desejava entregar para seu mercado consumidor. Para ele, a missão, visão e valores são premissas interconectadas, pois a primeira expressa as pretensões que ela tem junto aos clientes, a segunda, os objetivos para alcançá-los e a terceira, os princípios por meio dos quais serão realizadas as ações. Nessas instituições, o conhecimento não é uma realidade verticalizada, mas horizontalizada, ou seja, não há uma imposição dos saberes, mas há sim um aprendizado conjunto construído continuamente. Essa construção ocorre na prática, a partir do know-how dos colaboradores e das situações que precisam ser enfrentadas. Um teórico que versou sobre esse assunto foi Peter Senge, que apresenta cinco disciplinas a partir das quais a empresa pode ser considerada como uma instituição que aprende. Para Senge (2005), uma disciplina é uma técnica de desenvolvimento que precisa ser desenvolvida de forma pessoal ou coletiva, gerando e oportunizando aprendizado. Importante O aprendizadoorganizacional se fundamenta na construção conjunta do saber, a partir do desenvolvimento de uma visão compartilhada que permite uma visão sistêmica da organização. As cinco disciplinas são: 18 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Essas cinco disciplinas devem ser compreendidas como um desenvolvimento da equipe de trabalho, que impacta diretamente nos processos de produção de uma empresa. Elas são uma construção, com vistas a alcançar o pensamento sistêmico, buscando compreender as necessidades da instituição de forma ampla e profunda. Nesse modelo de gestão, o profissional como membro de uma equipe em desenvolvimento tem um papel transformador no contexto da empresa. Curiosidade Peter Senge afirma que, para uma empresa obter sucesso na produção de bens e de serviços, é importante que ela priorize o aprendizado organizacional, para isso é necessário que todos os sujeitos estejam abertos à aprendizagem em equipe, buscando modificar seu modelo mental a fim de construir uma visão compartilhada. Conclusão da aula 1 Como vimos nesta primeira aula, a administração surge como área do conhecimento visando estabelecer parâmetros de organização e gerenciamento dos modos de produção. As teorias da administração nos mostram que nos Domínio Pessoal: “Desenvolvimento contínuo e aprofundamento das capacidades individuais, com paciência, alocação de energias nas situações corretas e ver a realidade de maneira objetiva ” (SENGE, 2005, p. 45). Modelos mentais: “São ideias profundamente arraigadas, generalizações ou mesmo imagens que influenciam nosso modo de encarar o mundo e nossas atitudes” (SENGE, 2005, p. 51). Visão Compartilhada: “É um conjunto de instrumentos e técnicas para alinhar todas as aspirações desencontradas em torno de coisas que as pessoas têm em comum” (SENGE, 2005, p. 54). Aprendizagem Coletiva: “Nenhuma instituição se torna grande se não tiver objetivos, missões que se tornem compartilhados através de toda a organização” (SENGE, 2005, p. 61). Pensamento Sistêmico: É a capacidade que uma pessoa tem de analisar um fenômeno, levando em conta seu contexto e suas possíveis implicações. 19 diferentes tempos e espaços vamos encontrar concepções que tentam estabelecer parâmetros de gerenciamento diversos. Isso permite compreender que as teorias de gestão se pautam no autorregulação dos sujeitos e processos, compreendendo que essa deve proporcionar um aprendizado organizacional. Atividade de Aprendizagem As teorias da administração nos permitem compreender que nos diferentes tempos históricos são necessárias diferentes estratégias gerenciais. Essa necessidade relaciona-se diretamente com a forma como a sociedade se organiza e busca consumir os bens produzidos. Nesse sentido, busque conhecer os contextos históricos de Henri Fayol e Peter Drucker, depois preencha o quadro a seguir, correlacionando esses aspectos aos princípios de suas teorias. Autor Tempo histórico Princípios Henri Fayol Peter Drucker Autor Tempo histórico Princípios Henri Fayol Peter Drucker Aula 2 – Os princípios da gestão escolar Apresentação da aula 2 Prezados estudantes! Nesta segunda aula vamos compreender quais são os princípios da gestão escolar, como também a sua finalidade. A partir dos conceitos estudados anteriormente, vamos buscar identificar a diferença de administrar e gerir uma organização, entender as diferenças existentes entre gerir uma empresa e uma instituição escolar, e por fim compreender a relação 20 entre o processo de gestão escolar e o compromisso com o ensino- aprendizagem. A gestão escolar, mais que uma prática, é um conjunto de técnicas que possibilitam a administração da escola para que cumpra sua função social de ser espaço promotor do ensino-aprendizagem. Uma empresa produz um bem ou um serviço para que seja destinado ao seu público consumidor. A escola não produz bem ou serviços, ela desenvolve um processo de formação que não apenas favorece o conhecimento para os sujeitos, mas busca significar esses saberes a fim de contribuir no desenvolvimento da autonomia da pessoa para o exercício da cidadania. Assim, a escola não é apenas uma empresa, não podendo ser gerida a partir de técnicas de administração clássicas, utilizadas no mercado. Dessa forma, ao refletir sobre a gestão escolar, precisamos compreender não apenas seus princípios, mas também suas finalidades e formas de atuação. 2.1 A diferença entre administrar e gerir Nos últimos 50 anos, o termo “gestão” vem sendo aplicado de forma ampla, designando as práticas e ações da administração de uma instituição. Entretanto, o ato de gerir não corresponde ao de administrar, e vice-versa. Assim, por que essa mudança ocorreu? Quais são os motivos que explicam a alterção conceitual e consequentemente prática? Para respondermos tais questões é necessário retomarmos a noção de dinâmica histórica de Xavier Zubiri (2006) trabalhada em nossa primeira aula. A mudança histórica está relacionada à alteração dos padrões sociais, que por sua vez alteram a forma como as pessoas compreendem a realidade e as possibilidades de transformação dela. No que tange à produção de bens e serviços, muitas mudanças ocorreram ao longo do século XX, possibilitando a mudança de concepção sobre a forma de conduzir os processos de trabalho de uma organização. Se formos analisar as propostas de gestão dos quatro autores estudados em nossa primeira aula, vamos compreender suas concepções diferenciadas sobre a maneira de comandar uma organização. As teorias de Taylor e Fayol 21 fundamentam a administração, já as teorias de Drucker e Senge fundamentam as práticas de gestão. Fonte: desenvolvido pelo autor (2020). Segundo Chiavenato (2000), Taylor e Fayol compreendem que a condução dos processos de trabalho deve estar diretamente relacionada à supervisão e controle dos modos de produção, que eram exercidos por um indivíduo ou organização externo à prática operacional da empresa. Esses dois princípios garantiam a objetividade e racionalidade das estratégias escolhidas, garantido bons resultados. Já Drucker e Senge compreendem que os processos de trabalho devem ser organizados por meio da autorregulação. Essa garante a participação dos vários sujeitos na tomada de decisão, possibilitando um olhar mais amplo e mais eficaz frente às demandas do mercado consumidor. Assim, o que garante bons resultados é a sinergia de toda a equipe em busca de um mesmo objetivo. Sob essa ótica, e compreendendo que esses dois grupos de autores viveram em tempos históricos diferentes, com padrões sociais diversos, é que Dias (2002) afirma que a gestão e a administração têm objetos comuns, mas se constituem práticas diferentes. Taylor e Fayol Controle externo Compreende que a crise pode ser evitada A objetividade e racionalidade garantem bons resultados O poder de decisão é centralizado Drucker e Senge Autorregulação A crise é fonte de aprendizagem A sinergia coletiva garante bons resultados O poder é compartilhado e possibilita crescimento 22 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Enquanto a administração está relacionada à aplicação de teorias pautadas na racionalização dos processos, a gestão parte dessas teorias e busca, a partir das especificidades do contexto organizacional soluções para alcançar os objetivos propostos. Tal compreensão remete à raiz latina da palavra gestão que encontra no substantivo gestio o ato de querer, ou ainda a ação que possui em si uma intencionalidade; ou ainda no verbo gestation a conotação do ato de gestar, de formar uma determinada realidade desde sua origem até o momento em que está completa. Nessa reflexão sobre a diferença entre administrar e gerir, ainda nos cabe uma pergunta: qual ação é mais efetivano processo de condução dos processos organizacionais, a administração ou a gestão? Para responder essa questão, precisamos resgatar a compreensão de Zubiri (2006), na qual a transformação dos padrões sociais é determinante, pois no contexto atual, tendo em vista a multiplicidade social e a globalização, não há apenas uma resposta para a questão posta. Cada instituição deve atentar-se à sua realidade para refletir sobre seu contexto social, o público-alvo, os objetivos organizacionais e a estratégias de mercado, para que possa discernir qual das duas formas de atuação deve escolher. Administração implica "planejar, organizar, dirigir e controlar pessoas para atingir de forma eficiente e eficaz dos objetivos de uma organização" (DIAS, 2002, p. 10). Gestão "é lançar mão de todas as funções e conhecimentos necessários para através de pessoas atingir os objetivos de uma organização de forma eficiente e eficaz" (DIAS, 2002, p. 10). 23 2.2 Entre a empresa e a escola Como pontuamos na introdução desta aula, há uma grande diferença entre realizar a gestão de uma empresa e de uma escola. Segundo Ferreira (2003), isso se deve diretamente a três pontos básicos: Fonte: elaborado pelo autor (2020). Curiosidade A diferença entre a gestão empresarial e a escolar é que uma tem um trabalho objetivo de produção de bens e prestação de serviços que visam à aceitação dos consumidores e o retorno financeiro, e a outra tem um trabalho voltado para a formação de sujeitos. Segundo Bartinik (2012, p. 47), a gestão empresarial está diretamente relacionada aos objetivos e finalidades de um determinado grupo de pessoas, que possuem interesses financeiros explícitos. Os princípios da gestão empresarial, independentemente dos processos por ela estabelecidos, estão calcados em aspectos de ordem técnica, que em si compreendem uma limitação metodológica nos processos de produção. De outro, esses mesmos aspectos administrativos e burocráticos têm como finalidade a obtenção de objetivos específicos e delimitados. Os métodos de trabalho utilizados na gestão empresarial estão diretamente relacionados com os padrões de qualidade estabelecidos pela instituição. Esses são eminentemente objetivos, pois têm critérios claros e Gestão Empresarial Visa ao crescimento econômico Produção de bens e serviços Consumidores interessados na aquisição do produto ou serviço Gestão escolar Visa à educação e à ampliação do conhecimento Desenvolvimento de processos pedagógicos Sujeitos aos quais é oferecido acesso ao processo de ensino- aprendizagem 24 podem ser mensurados. Outro aspecto importante é a forma como a divisão do trabalho é realizada: as funções e os papéis são estrategicamente estruturados de forma que as metas estabelecidas sejam alcançadas com qualidade e assertividade. Na gestão escolar, por sua vez, temos como foco a organização da instituição escolar para que ela ofereça as condições necessárias para que se cumpram a finalidade da educação: formação do sujeito para a atuação na sociedade de forma autônoma e consciente. Nesta gestão, a escola não realiza a produção de bens ou ainda prestação de serviços, nem resultados predefinidos, mas desenvolve processos pedagógicos focados no ensino- aprendizagem, envolvendo sujeitos detentores de saberes e com uma biografia que é construída nessa interação. Como afirma Paro (2008): O estudante é, não apenas o beneficiário dos serviços que ela presta, mas também participante de sua elaboração. É evidente que essa matéria-prima peculiar, que é o estudante, deve receber um tratamento todo especial, bastante diverso do que recebem elementos materiais que participam do processo de produção, no interior de uma empresa industrial qualquer (PARO, 2008, p. 126). Outro ponto que precisa ser ressaltado é que o trabalhador da educação não desenvolve produtos ou oferece serviços, mas é protagonista de um processo de formação de sujeitos. Segundo Paro (2008, p. 131), a não distinção dos tipos de trabalho e dos papéis de um profissional da educação é responsável pela desqualificação do professor e a desvalorização de sua função social. Curiosidade Na indústria, a desqualificação do operário deu-se por força da divisão pormenorizada do trabalho que visa à maior produtividade. Na escola, embora não se possa menosprezar a divisão do trabalho como fator de desqualificação profissional, não se deve desprezar também outros aspectos específicos da realidade escolar. Nesse contexto, é justo afirmar que o ponto de partida dessa desqualificação não foi a preocupação com a eficiência da escola, mais precisamente a desatenção para com a degradação de seus produtos como acontece em qualquer processo de produção. Na medida em que o bem ou serviço a ser produzido poder ser de qualidade bastante inferior, passa-se a utilizar, em sua elaboração, meios de produção e mão de obra de qualidade 25 também inferior, os quais estão disponíveis geralmente, em maior quantidade e a preços mais baixos. No processo de degradação das atividades do educador escolar, com a consequente desqualificação de seu trabalho, e o aviltamento de seus salários, deu-se algo semelhante: na medida em que não interessava à classe detentora do poder político e econômico, pelo menos no que diz respeito à generalização para as massas trabalhadoras, mais que um ensino de baixíssima qualidade, o Estado, como porta-voz dos interesses dessa classe, passou a dar cada vez menor importância à educação pública, endereçando para aí recursos progressivamente mais insuficientes e descurando cada vez mais das condições em que aí se realizava o ensino de massa. Sob essa ótica apresentada por Paro (2008), surge uma problemática: a aplicação não refletida de uma gestão empresarial no contexto educacional. Sabemos que atualmente os padrões de qualidade educacional são um dos objetivos das redes de ensino. Entretanto, essa qualidade não pode desconsiderar a função emancipadora e cidadã que se pressupõe em uma formação íntegra, que promova a inclusão social. Bartnik (2012, p. 50) nos apresenta de forma sistemática a diferença entre uma gestão com foco empresarial e uma gestão com foco educacional: Dimensão Foco empresarial Foco educacional Escola Atenta-se para a organização burocrática. Prioriza a racionalidade técnica, observando os valores de mercado. Possui uma visão emancipadora e cidadã. Busca a formação integral e assume a inclusão como princípio e compromisso social. Desafio Busca garantir a qualidade formal, a fim de assegurar o desempenho da escola por meio da implementação do planejamento estratégico. Busca garantir a qualidade técnica, humana e política por meio da construção e da implementação coletiva do projeto político-pedagógico. Pressupostos Mantém o pensamento separado da ação. Usa a avaliação como forma de controle. Tende a centralizar o poder em determinados postos hierárquicos. Usa teoria e prática (práxis). Promove a participação da comunidade no processo de decisão. Usa a avaliação diagnóstica e o poder compartilhado. Gestão Estabelece o processo verticalizado na tomada de decisões: diretores, gerentes, supervisores e colaboradores. Estabelece o processo democrático na tomada de decisões coletivas, decorrente de consensos construídos com a participação de representantes dos diversos segmentos da escola. Fonte: elaborado pelo autor (2020), adaptado pelo DI (2020). 26 Essa compreensão é destacada por Veiga (2001), quando afirma que as diferenças entre o foco empresarial e o foco pedagógico da gestão escolar são profundas, como também estão relacionadas não somente à forma de condução dos processos administrativos, mas aos princípios educacionais que os fundamentam. Assim, a gestão escolar não pode ser circunstancial, mas intencional. 2.3A gestão escolar e o processo de ensino-aprendizagem Como vimos no item anterior, não há como desvincular a gestão escolar do processo de ensino-aprendizagem. Seja qual for o princípio que rege o processo de gestão, ele sempre deve estar voltado para essa dimensão. A escola é uma instituição, entretanto essa não pode ser compreendida de forma metafísica, ela é composta por uma série de sujeitos que direta ou indiretamente participam e contribuem com o processo de gestão escolar. Alguns desses sujeitos são: Fonte: elaborado pelo autor (2020). O profissional que possui mais responsabilidades nesse processo, por ser considerado o líder, é o diretor, pois ele gerencia os diversos processos de gestão realizados na escola: gestão administrativa, financeira, de pessoas, de instâncias colegiadas e pedagógica. Os demais profissionais participam de dois ou mais processos. Você deve estar se perguntando: por que necessariamente de dois processos? Porque independentemente de sua função, o profissional sempre estará relacionado à gestão pedagógica. Por exemplo: os estudantes além de serem responsáveis por desenvolver bem seu papel na dinâmica de ensino-aprendizagem, participam indiretamente a gestão financeira, ao fazer bom uso dos bens da escola. Diretor Pedagogos Professores Agentes educacionais Estudantes Responsáveis Comunidade social 27 Mas, o que queremos enfocar é que todos os profissionais estão e devem estar envolvidos no processo de gestão pedagógica, que prima pela qualidade da educação. Como afirma Saviani (1986), em especial os profissionais da educação devem estar comprometidos com essa qualidade. Para isso, antes de tudo devem se entender como educadores, responsáveis pela formação de sujeitos. Como afirma Bartnik (2012 p. 49): “O processo de gestão escolar propõe a melhoria da qualidade do ensino ofertado, com o objetivo de promover o desenvolvimento de sujeitos autônomos e participativos na sociedade”. A gestão escolar tem como finalidade a garantia de uma educação de qualidade para todos. Para que a gestão pedagógica possa ser realizada com sucesso, é fundamental que a organização administrativa e financeira, como também a demanda de qualificação de pessoal, esteja alinhada com suas necessidades. Sob essa ótica, a gestão escolar não é apenas uma proposta, ela “materializa-se em práticas concretas e ações objetivas a fim de cumprir os objetivos definidos na organização do trabalho escolar”. Por esse motivo é que a gestão pedagógica não é apenas mais um processo de gestão, ela está contida em todos os outros: Fonte: elaborado pelo autor (2020). Gestão Administrativa e Financeira Gestão de Instâncias Colegiadas Gestão de Pessoas Gestão Pedagógica 28 Para que isso ocorra, é fundamental que a escola tenha orientações internas e externas, que garantam uma gestão com princípios contínuos. Essas orientações são as Políticas Públicas Educacionais, as Diretrizes Educacionais e o Projeto Político-Pedagógico. As duas primeiras são de caráter externo, estabelecidas pelo Estado, constituindo-se um planejamento de curto, médio e longo prazo, que busca garantir o desenvolvimento pleno da educação. A terceira é uma orientação interna, construída pela escola a partir do cenário social e dos princípios educacionais que a constituem. Por meio desses a instituição estabelece ações e estratégias que auxiliarão na busca dos objetivos traçados. Conclusão da aula 2 Nesta segunda aula, identificamos que a administração e a gestão têm princípios teórico/práticos diferentes que podem ser aplicados de forma circunstancial. De outro lado, vimos que a gestão Empresarial e a Gestão Escolar podem utilizar aportes teóricos semelhantes, mas seu objeto de trabalho é diverso. Assim a gestão escolar não pode ser circunstancial, pois tem como premissa a complexidade que é composta por sujeitos e processos que têm como objetivo único o desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Atividade de Aprendizagem A gestão escolar tem especificidades teóricas que suplantam as teorias de gestão clássicas. Isso ocorre pela especificidade da instituição escolar e de sua missão na sociedade. Entretanto, se aplicarmos a lógica empresarial à escola, essa será compreendida pelos indicadores qualitativos que possui, e seus profissionais não serão entendidos como educadores, mas como prestadores de serviço. Assim, releia a reflexão de Paro (no box Saiba Mais), e desenvolva um argumento sobre ela. 29 Aula 3 – Gestão escolar, uma prática desenvolvida Apresentação da aula 3 Prezado (a) estudante! Nesta nossa terceira aula vamos buscar compreender que a gestão escolar, além de um processo fundamentado em princípios educacionais, é também uma prática desenvolvida com base em um aporte legal. Para isso, vamos identificar os diferentes tipos de legislação que balizam a educação e compreender de que maneira elas orientam o desenvolvimento da gestão administrativa e pedagógica. Como vimos nas duas primeiras aulas, o processo de gestão tem seus princípios teóricos, e no caso da gestão escolar, são agregadas a essas questões de cunho pedagógico, que não apenas pressupõem, mas orientam a forma como uma instituição escolar deve ser organizada. Em especial, como tratamos na aula anterior, as demandas administrativas, financeiras, de pessoal, precisam convergir para o fomento da qualificação do processo de ensino-aprendizagem. Como afirma Lück (2009): A gestão pedagógica é de todas as dimensões da gestão escolar, a mais importante, pois está mais diretamente envolvida com o foco da escola que é o de promover aprendizagem e formação dos alunos [...] Constitui-se como a dimensão para a qual todas as demais convergem, uma vez que essa se refere ao foco principal do ensino que é a atuação sistemática e intencional de promover a formação e a aprendizagem dos alunos, como condição para que desenvolvam as competências sociais e pessoais necessárias para sua inserção proveitosa na sociedade e no mundo do trabalho, em uma relação de benefício recíproco. Também para que se realizem como seres humanos e tenham qualidade de vida (LÜCK, 2009, p. 95). No que tange à organização dessa forma de gestão, não são utilizados apenas os princípios educacionais, mas há uma série de legislações que baseiam as atividades desenvolvidas pelos gestores educacionais e pelas comunidades escolares. 3.1 A gestão escolar e os pressupostos legais Segundo Barbosa (2010), o que rege a visão e a forma de gestão de uma instituição de ensino são as legislações educacionais. São elas que normatizam 30 todas as suas ações, desde a implantação e a manutenção de processos, como também a sua possível extinção. Em outras palavras, são as leis que garantem a legitimidade social das práticas educacionais, e são elas que visam garantir sua efetividade. Sob essa ótica, segundo Alves (2012, p. 7), a legislação educacional se constitui um conjunto de leis e normas que orientam a escola quanto às questões pedagógicas e administrativas. Curiosidade A legislação educacional é dividida em dois tipos, as que orientam todos os sistemas educacionais, e aquelas que organizam a escola internamente. Essas também são divididas em reguladoras e regulamentadoras, ou seja, entre as que apresentam os princípios e aquelas que demostram como esses podem ser colocados em prática. Existem duas formas pelas quais a legislação se apresenta: Fonte: elaborado pelo autor (2020). No que tange à legislação reguladora, temos como exemplo a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Base da Educação 9394/96. Já na legislação regulamentadora temos diversas formas de expressão, tais como: instruções de aplicação de demandas escolares, deliberações sobre temas considerados polêmicos e portariasque explicitam elementos que precisam ser considerados na tomada de decisão frente à gestão pedagógica. •Tem caráter descritivo; •São leis que definem as competências constitucionais da educação; •Estabelece parâmetros de ação nas esferas municipais, estaduais e federais. Reguladora •Tem caráter prescritivo; •É voltada para a práxis educacional; •Estabelece normas de implantação das legislações educacionais; •Define a forma de funcionamento das instituições escolares. Regulamentadora 31 3.2 As leis que regem as práticas administrativas e pedagógicas da educação O aporte legal que relacionado à educação é muito vasto, como já vimos ele tem a responsabilidade de descrever quais são os princípios e as competências frente à educação. O primeiro documento a ser citado é a Constituição Federal de 1988. Esse documento expressa de forma ampla quais são as diretrizes que precisam ser consideradas para o desenvolvimento da organização educacional no país. Também apresenta as funções do gestor público e de todos os profissionais da educação. Entretanto, antes de iniciarmos uma análise dos artigos que se referem diretamente ao desenvolvimento educacional, é fundamental compreendermos que todos eles estão calcados em diretos fundamentais da pessoa. O Artigo 5º da Carta Magna assegura a todos os cidadãos a igualdade perante a lei, como também os direitos fundamentais: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL, 2016). Se a igualdade é a premissa da obediência a lei e o usufruto dos diretos, podemos afirmar que a educação também está inserida nesse contexto. Aqui não estamos falando apenas das questões que envolvem o acesso à educação de qualidade, mas também à função do gestor educacional. Precisa desenvolver suas ações visando ao bem comum, conforme o artigo 37º da Constituição: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Dessa forma, o princípio da ética na gestão escolar não é apenas uma demanda da moral, mas também uma questão relacionada à legalidade. Como afirmam Silva e Periotto (2015): Assim quando o gestor escolar age de forma ética cumpre bem e melhor seu papel com aceitação da comunidade, uma vez que a ética está afinada com a lei, devendo o gestor escolar ser atento a todos os seus deveres de administrador bem como submeter-se ao 32 cumprimento do que está estabelecido legalmente (SILVA; PERIOTTO, 2015, p. 36852). Os artigos que rezam de forma direta sobre a legislação escolar são o 205 a 217. Eles tratam de questões relacionadas à educação básica e ao ensino superior. Tendo em vista nosso objetivo, vamos abordar apenas as demandas relacionadas à educação básica. Curiosidade Na administração escolar pública, o gestor deve ter seu comportamento regido pelos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência. O artigo 205 apresenta que a educação é “direito de todos e dever do Estado e da família”. Em outras palavras, o acesso universal à educação deve ser garantido por meio da estruturação de redes e instituições de ensino distribuídos de forma igualitária por todo o país. Importante A Constituição Federal considera que a educação é um direito de todos, que precisa estar pressuposta na liberdade frente ao processo pedagógico, ao pluralismo de ideias que é garantido por meio de uma gestão democrática e que visa à construção de uma educação com qualidade. Tal demanda é um dever do Estado, ou seja, ele precisa empenhar parte de seu orçamento para a garantia de acesso, mas também fornece as diretrizes para o desenvolvimento educacional. E a educação também é dever da família, que tem a obrigação perante a lei de garantir que os sujeitos em idade escolar tenham acesso à educação, sob pena da lei. No artigo 206, são apresentados os princípios básicos que devem reger os processos educacionais. Dentre esses, escolhemos cinco, a saber: igualdade, liberdade, pluralismo, gestão democrática e qualidade. 33 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Dentre as garantias apontadas pela Constituição Federal, o artigo 208 destaca a obrigatoriedade do Ensino Fundamental e o oferecimento do Ensino Médio, como também oferecimento de material didático, transporte e alimentação. Também é garantido, por esse artigo, o acesso à educação infantil, e o atendimento especializado a pessoas com deficiência. Por fim, o artigo 214 versa sobre a necessidade de uma legislação que regulamente um Plano Nacional de Educação que oriente o estabelecimento de metas e estratégias para todas as ações educacionais desenvolvidas por todas as redes de ensino, seja em nível nacional, estadual ou municipal. Para isso estabelece seis objetivos: Igualdade: Refere-se às condições de acesso, como também de permanência na escola. Liberdade: Relaciona-se com a autonomia dos sujeitos frente ao processo de ensino-aprendizagem. Também contempla o direito de divulgação de pensamento pautado em estudos e pesquisas científicas. Pluralismo: Garante a aplicação da multiplicidade de ideias e correntes pedagógicas na prática escolas. Gestão democrática: garantindo a participação dos sujeitos nas decisões sobre demandas escolares. Qualidade: apresnta a necessidade das Redes de Educação primarem pela excelência no processo de ensino-aprendizagem. 34 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Sob a ótica da gestão escolar, todos os princípios que apresentamos se constituem condições sine qua non para a organização da administração das instituições de ensino. Em especial, precisamos destacar que o princípio da gestão democrática na esfera educacional pública é apresentado como princípio na forma da lei. Vocabulário Sine qua non: é uma expressão que se originou do termo legal em latim que pode ser traduzido como “sem a/o qual não pode ser”. Refere-se a uma ação cuja condição ou ingrediente é indispensável e essencial. (Extremamente importante, essencial; que não se pode nem se consegue dispensar; indispensável). Nesse ponto é importante destacar que Constituição Federal de 1998 é um tipo de legislação reguladora, pois apresenta os princípios que regem a vida dos cidadãos e instituições de nosso país, em nosso caso, a educação. Mas, para que esses princípios sejam seguidos são necessárias leis A erradicação do analfabetismo A universalização do atendimento escolar A melhoria da qualidade de ensino Formação para o trabalho Promoção humanística, científica e tecnológica do país Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto 35 regulamentadoras, que apresentam a forma como esses princípios serão colocados em prática. No que tange à educação, a construção participativa de uma lei que regulamentasse os princípios constitucionais durou cerca de oito anos. Segundo Brandão (2003) esse processo teve um longo caminho devido a diferentes interesses e intervenções na constituição daquela que seria a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): Saiba mais Durante o período de elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação ocorreram “discussões, envolvendo grande parte dos setores organizados da educação (instituições científicas, acadêmicas e estudantis, movimentos sociais, sindicato de professores, de trabalhadores em educação, de donos de escolas, entidades de classe, etc.) conduzidas de forma relativamente consensual” (BRANDÃO, 2003, p. 14). Entretanto vários percalços impediram que sua aprovaçãoocorresse em um curto espaço de tempo. Dentre essas, encontramos manobras do legislativo para inserir textos substitutivos que desfiguravam toda a discussão realizada com a sociedade, inícios e términos de mandatos legislativos, interesses de grupos educacionais. Em 1996, após uma sequência de tentativas de alteração substancial do texto desenvolvido por meio da participação popular, é aprovado um conteúdo sincrético, repleto de emendas parlamentares, mas que segundo Brandão (2003) atendiam as reivindicações da sociedade. Segundo Silva e Periotto (2015), sendo uma legislação regulamentadora a LDB 9394/96 possui: Peculiar destaque já que estabelece os princípios da educação e os deveres do Estado em relação à educação escolar pública, garantida a livre iniciativa privada bem como determina as responsabilidades da parceria entre União, Estados, Distrito Federal e os municípios na gestão do processo (SILVA; PERIOTTO, 2015, p. 36854). Em sua estrutura, a LDB 9394/96 fundamenta-se nos princípios constitucionais anteriormente destacados, enfocando a igualdade, universalidade e pluralidade da educação em todas as suas esferas: básica e superior. No que tange ao processo de gestão escolar, no artigo 12 da LDB encontramos as principais incumbências dos estabelecimentos de ensino, 36 constituindo-se os balizadores para o desenvolvimento da gestão. Esses balizadores são: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei; IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas; XI - promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias de prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas. Nesses princípios encontramos elementos relacionados à: gestão pedagógica, de pessoas, administrativa e financeira; articulação com a comunidade e a Rede de Proteção, promoção de um bom clima escolar e um ambiente seguro. É importante ressaltarmos que nem todos esses elementos estavam na primeira versão da LDB 9394/96, os parágrafos de VII a XI foram posteriormente inseridos. Isso se deve a uma reflexão ampla da sociedade sobre a função social da escola. Em continuidade, outra legislação regulamentadora, o Plano Nacional de Educação, cuja última versão é expressa na lei 13.005/2014. Essa possui 20 metas para a educação no Brasil, que imputam aos gestores da educação a necessidade de pensar estrategicamente um plano de ação para alcançá-las. Importante O Plano Nacional de Educação, tem como objetivo garantir a igualdade, a universalidade e a pluralidade da educação em nível nacional, com o estabelecimento de metas. Dentre essas metas, destacamos: 37 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Saiba mais Para que você possa conhecer com mais profundidade o PNE e seu impacto da gestão educacional, leia o artigo: Impactos das Políticas Educacionais no cotidiano das Escolas Públicas, Plano Nacional de Educação, disponível no link: http://pne.mec.gov.br/images/pdf/Noticias/impactos_politicas_educacionais_coti diano_escolas_publica_PNE.pdf 3.3 As normativas que regem as práticas administrativas da instituição de ensino No item anterior vimos quais são as legislações ad extra que versam sobre a organização escolar, elas regem todo o sistema de ensino público e privado, nas três esferas: federal, estadual e municipal. Nesse item vamos conhecer as normativas internas que organizam as práticas de gestão na escola. São elas: Projeto Político-Pedagógico (PPP), Proposta Pedagógica Curricular (PPC) e Regimento Escolar. Segundo Vasconcelos (2010), o PPP é previsto na LDB 9394/96. No artigo 12, ele se constitui a primeira incumbência da gestão. No artigo 13 é prevista a participação dos docentes na elaboração desse Projeto, garantindo assim o princípio da gestão democrática. Importante O Projeto Político-Pedagógico é constituído por três marcos, que possibilitam o mapeamento do contesto social e o posicionamento pedagógico que vão fundamentar o plano de ação da escola. A universalização de todos os níveis e modalidades de ensino A elevação da escolaridade média de pessoas entre 18 e 29 anos A elevação da alfabetização para 93,4%, e erradicar o anafalbetismo absoluto. A valorização dos profissionais da educação Assegurar condições para a efetivação da gestão democrática no âmbito da educação pública 38 No contexto da instituição de ensino, o PPP é o documento norteador da prática pedagógica escolar. Ele é a expressão da reflexão e planejamento da escola, considerando três marcos: situacional, conceitual e o operacional. Fonte: elaborado pelo autor (2020). Saiba mais Para ampliar seus conhecimentos sobre a importância do PPP como uma ferramenta de gestão pedagógica e escolar, leia o artigo: A Construção do Projeto Político-Pedagógico em uma Perspectiva Democrática: Limites e Possibilidades, disponível no link: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br /arquivos/File/producoes_pde/artigo_iraci_rambo_vicentini.pdf A PPC apresenta as orientações curriculares (sempre pautadas em documentos oficiais) e disciplinares, como também os encaminhamentos que garantem a transposição didática a partir da concepção pedagógica da escola. É considerada uma normativa que acompanha o PPP, complementando-o no processo de desenvolvimento do ensino-aprendizagem. O Regimento Escolar, por sua vez, é um documento regulamentador que normatiza toda a organização e o funcionamento da instituição de ensino. Ele define as funções e atribuições de cada um dos sujeitos da escola. Além desse caráter normatizador, o Regimento busca viabilizar a operacionalização do PPP, a partir de regras que norteiam ações como: a organização do processo educacional e de gestão, os princípios de convivência para a garantia de um bom Situacional Expressa o contexto social no qual a instituição de ensino se encontra, apresentando os desafios e as estratégias que serão utilizadas para o desenvolvimento do ensino- aprendizagem. Conceitual Expressa a concepção pedagógica a partir da qual a escola desenvolve os processos pedagógicos. Operacional Expressa o Plano de Ação da instituição de ensino frente os desafios apresentados no Marco Situacional e refletidos a partir do Marco conceitual. 39 clima escolar, e o processo avaliativo (que devem ser entendido em suas três formas: diagnóstico, formativo e somativo). Importante O Regimento Escolar é um documento regulamentador que define tanto as funções dos profissionais quanto os processos de organização da escola. Ele viabiliza o desenvolvimento do Projeto Político-Pedagógico e estabelece parâmetros para a gestão. Pode-se afirmar que a escola é um sistema e, segundo Lück (2000), a escola constitui-se em uma “organização sistêmica aberta”, e isso significa que a escola é feita de elementos pessoais com diferentes papéis e estruturas de relacionamentos, integrando-se mutuamentena busca do sucesso e da qualidade do público a ser atendido. Para que esse sistema funcione de forma integrada, deve-se propor uma colaboração mútua entre todos os envolvidos, desprendida de interesses individuais e vaidades para que venha realmente ter uma gestão escolar democrática. Nesse contexto, deve-se considerar a gestão da sociedade globalizada em uma correlação com a gestão educacional, pois o cenário econômico e social tem forte impacto na condução das práticas gestoras da escola. Dessa forma, considero importante lançar uma reflexão inicial acerca dos valores e ideais que estão implícitos nas práticas dos gestores. Ferreira (2003), afirma que: A educação e sua gestão, portanto, enquanto responsáveis por esta “condução”, necessitam firmar-se em ideais comprometidos com a formação humana de profissionais da educação e de profissionais em geral, de todos os cidadãos e cidadãs. Nesse sentido, cabe pensar e questionar: Quais são os ideais que orientam as “tomadas de decisões” na sociedade globalizada e nas instituições? São ideais de equidade, de justiça social, de solidariedade, de democracia ou são ideais individualistas, de dominação e exclusão social? (FERREIRA, 2003, p.03). Ao pensar sobre esses aspectos considerados fundamentais no processo de gestão democrática e nas atitudes dos gestores (sejam eles professores ou não), precisa-se compreender que são ideais que favorecem o alcance dos 40 objetivos propostos para a gestão da escola, do grupo de professores, do grupo de alunos, do grupo de funcionários que compõem o sistema escolar. No entanto, não é difícil encontrar inúmeras escolas que vivem em um campo minado, com pessoas se lutam apenas por seus próprios interesses. Isso ocorre porque, infelizmente, a competitividade e o individualismo sugeridos pela produção e pelo consumo (que se tornaram uma ideologia dominante) são a fonte de novos comportamentos totalitários que se instala no mundo contaminado pela violência, pela falta de tolerância e por toda a ordem de questões que desmantelam a integridade humana. Conclusão da aula 3 A gestão escolar possui um aparato legal que normatiza e orienta sua prática. Esse embasamento legal, em âmbito nacional, garante à educação os princípios de universalidade de acesso e permanência. Já, no contexto da instituição de ensino, as normativas internas da escola que, fundamentadas na legislação, orientam a gestão da instituição escolar. Atividade de aprendizagem A gestão escolar não é apenas um processo que se pauta em teorias da administração, mas também em legislações que apresentam os princípios que balizam as ações do gestor escolar. Dentre essas, encontramos as que são de caráter regulador e as que são de caráter regulamentador. Assim, retome os conteúdos estudados e apresente quais legislações são reguladoras e quais são regulamentadoras. Reguladoras Regulamentadoras Reguladoras Regulamentadoras 41 Aula 4 – Concepções de Gestão Escolar I Apresentação da aula 4 Prezado (a) estudante, nesta quarta aula vamos começar a abordar as diversas concepções pedagógicas de gestão. Após compreender os princípios administrativos da gestão escolar e de conhecer os parâmetros legais para o seu desenvolvimento, vamos abordar as diversas concepções e seus impactos no contexto educacional. Para isso nós vamos conhecer os três paradigmas da gestão e já compreender como se estrutura o técnico-científico. Em nossas 03 aulas anteriores, nos dedicamos a compreender os princípios da gestão escolar por uma perspectiva da administração e da legislação. A partir desta aula, vamos conhecer os principais paradigmas da gestão escolar, seus pressupostos, objetivos e finalidades. 4.1 Os três paradigmas de gestão escolar Como vimos em nossa terceira aula, o aporte legal relacionado à educação não está diretamente relacionado à concepção pedagógica, mas também vimos que as normativas internas, principalmente o PPP, fundamentam o processo de gestão pedagógica a partir do marco situacional e do marco conceitual. Nesse contexto, é que Libâneo, Oliveira e Toschi, (2003) classificam as concepções de gestão em três grandes grupos: a técnico-científica, a autogestionária e a democrático-participativa. É importante destacarmos que essa classificação é de cunho metodológico, ou seja, as características delas podem, e geralmente estão, presentes de maneira entrecruzada e muitas vezes permitem a reconstrução de um desses grupos de concepções, a partir do marco situacional. Segundo Bartnik (2012, p. 74), essas concepções podem ser descritas da seguinte forma: 42 Fonte: elaborado pelo autor (2020). Essas concepções têm delimitações muito claras: a concepção técnica científica visa à eficiência dos serviços, o autogestionário fundamenta-se na horizontalidade da gestão, e a concepção democrático-participativa nos objetivos assumidos por todos. Libâneo, Oliveira e Toschi, (2003, p. 327) nos ajudam a compreender a diferença entre essas concepções: Técnico-científica Autogestionária Democrático- participativa Prescrição detalhada de funções e tarefas, acentuando a divisão técnica do trabalho escolar. Tende a negar a autoridade e as formas centralizadas de poder, valorizando a construção de normas e de regulamentos pelo próprio grupo. Definição explícita, por parte da equipe escolar, de objetivos sociopolíticos e pedagógicos da escola. Poder centralizado no diretor, destacando-se as relações de subordinação, em que uns têm mais autoridade do que outros; Vincula as formas de gestão interna com as formas de autogestão social (poder coletivo na escola para preparar formas de autogestão no plano político. Articulação da atividade de direção com a iniciativa e a participação das pessoas da escola e das que se relacionam com ela. Ênfase na administração regulada (rígido sistema de normas, regras, procedimentos burocráticos de controle Há decisões coletivas (assembleias, reuniões) e eliminação de todas as formas de exercício de autoridade e de poder. Qualificação e competência profissional. •“Baseia-se na hierarquia de cargos e funções, em regras e procedimentos administrativos, visando a eficiência dos servios escolares”. Concepção técnico- científica •“Baseia-se na responsabilidade coletiva, na ausência de direção centralizada e na acentuação da participação direta e por igual de todos os membros da instituição escolar”. Concepção autogestionária • "Baseia-se na relação entre a direção e a participação dos membros da equipe, prioriza os objetivos assumidos por todos a tomada de decisões coletivas". Concepção democrático- participativa 43 das atividades), descuidando-se, às vezes, dos objetivos específicos da instituição escolar. Enfatiza a auto- organização do grupo de pessoas da instituição por meio das eleições e de alternância no exercício de funções. Busca objetividade no trato das questões da organização e da gestão mediante coleta de informações reais. Recusa as normas e os sistemas de controles, acentuando a responsabilidade coletiva. Acompanhamento a e avaliação sistemáticos com finalidade pedagógica: diagnóstico, acompanhamento dos trabalhos, reorientação de rumos e ações, tomada de decisão. Comunicação assimétrica, baseada em normas e regras. Acredita no poder instituinte da instituição e recusa todo poder instituído. O caráter instituinte dá-se pela prática da participação e da autogestão, modos pelos quais se contesta o poder instituído. Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são avaliados. Mais ênfase nas tarefas do que nas pessoas. Enfatiza as interrelações mais do que as tarefas. Ênfase tanto nas tarefas quanto nas relações. Fonte: elaborado pelo autor (2020), adaptadopelo DI (2020). Importante A autogestão é um processo horizontalizado de poder, no qual há uma atuação coletiva dos sujeitos, a gestão participativa, por sua vez, na colaboração e no desenvolvimento das ações, baseia-se na adesão individual a uma proposta. A concepção histórico-crítica concebe o ser humano como fruto de um processo histórico e social, assim a prática pedagógica deve conduzir esse estudante a compreender a realidade para que possa transformá-la. Como afirmamos, essas concepções não são estanques entre si, como afirma Bartnik (2012, p. 76): “os princípios e os métodos das concepções de gestão estão presentes, de uma forma ou de outra, na prática educativa das escolas e, na maioria das vezes, não são aplicados na íntegra”. Assim, apesar de uma dessas ser predominante, não é excludente. 44 4.2 O paradigma técnico-científico de gestão escolar Para Libâneo, Oliveira e Toschi, (2003), o paradigma técnico-científico fundamenta-se nas teorias clássicas de administração que conhecemos em nossa primeira aula. Para os autores, esse modelo se fundamenta nos princípios de supervisão e controle, que objetivam estabelecer regras, parâmetros e protocolos para que o processo educacional se desenvolva. Em outras palavras, busca a eficiência e a eficácia do processo de ensino-aprendizagem por meio da utilização de dados quantitativos, com vista a desenvolver a plicar planejamentos que possibilitem a qualificação do processo. Curiosidade A gestão de qualidade total aplica a educação os princípios empresariais que buscam garantir uma prestação de serviço de qualidade. Assim, os estudantes são os clientes diretos da escola, que oferece um processo de ensino- aprendizagem de excelência. O modelo técnico-científico desconsidera a autonomia e o protagonismo dos profissionais da educação, como também não considera a construção do conhecimento como um elemento de formação do sujeito. É importante esclarecer que essa forma de gestão é voltada à geração de resultados a curto prazo, própria do modelo gerencial denominado de Gestão de Qualidade Total (GQT). Saiba mais O modelo de Gestão de Qualidade Total (GQT) é originário da administração japonesa e tem o foco na participação dos colaboradores, resultando em altos índices de produtividade e de eficiência das tarefas propostas. [...] a GQT é responsável por desenvolver um processo em busca do melhoramento contínuo baseado em análises das atividades empresariais (BARTNIK, 2012, p. 77). A GQT tem como princípio fundamental que a qualidade é uma responsabilidade de todas as pessoas imbricado em um processo. Tal compreensão está diretamente relacionada à teoria de Frederick Taylor, que 45 analisou a forma como os processos poderiam gerar melhores resultados. Para isso a utilização de métodos que possibilitem alcançar melhores resultados é a grande responsabilidade do gestor. Depois que os protocolos de trabalho são estabelecidos, eles se tornam responsabilidade de todos os sujeitos, tendo em vista que os resultados estão diretamente relacionados à sincronia de ações. Sob essa lógica, a GQT possui alguns termos próprios que nos ajudam a identificar a compreensão que esse modo de gestão tem das formas de produção e prestação de serviços. Esses termos são: processo, produto e cliente: Fonte: elaborado pelo autor (2020). Em outras palavras, a GQT desenvolve processos que buscam resultados quantitativos e qualitativos que viabilizem a melhoria dos produtos ou serviços oferecidos. No contexto da educação, a GQT estabelece parâmetros de aprendizagem e desenvolvimento do estudante. O melhoramento contínuo desse processo é que balizará os protocolos de aprendizagem. É importante destacamos que o centro de todo esse processo de gestão é a formação do estudante. Sob essa ótica, Bartnik (2012, p. 79-80) afirma que a tríade que embasa o desenvolvimento da GQT na educação é assim compreendida: Processo •Delimita o conjunto de ações e como elas devem ser realizadas. Produto Resultados dos processos desenvolvidos a fim de possibilitar melhorias aos indivíduos. Cliente Indivíduos (internos ou externos) que compõem o público atendido pela instituição. 46 Fonte: elaborado pelo autor (2020). O estabelecimento dos padrões de qualidade está diretamente relacionado à avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Para isso esses padrões devem possuir critérios de avaliação, principalmente qualitativa, pois esses permitirão a verificação do nível de aprendizagem do estudante e sua capacidade de evolução no processo de escolarização. Como afirma Bartnik (2012): Os objetivos da gestão pela qualidade passam pela necessidade de se atingir um padrão de operações que garanta a eficiência e a eficácia dos procedimentos, aumentando a competitividade da escola, na medida em que, após passar pelo processo de implantação, as inovações e as melhorias possam ser reconhecidas (BARTNIK, 2012, p. 83). No Brasil, no ano de 2007, foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), um indicador que possibilita a avaliação da qualidade da Educação, que estabelece uma relação direta entre a habilidade dos estudantes em avaliações externas e o seu desempenho escolar. Curiosidade IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), formulado para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino. O Ideb funciona como um indicador nacional que possibilita o monitoramento da qualidade da Educação pela população por meio de dados concretos, com o qual a sociedade pode se mobilizar em busca de Processo •"A instituição de ensino como um todo é o processo, cuja consequência principal é a prestação dos serviços educacionais". Produto •"Na escola é o resultado do trabalho da equipe docente, pedagógica e administrativa, tendo como eixo a aprendizagem do estudante". Cliente •"São todas as pessoas envolvidas no processo de ensino aprendizagem, como professores, equipe pedagógica, funcionários, alunos, pais de alunos e comunidade em geral". 47 melhorias. Para tanto, ele é calculado a partir de dois componentes: a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep. Os índices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado anualmente. As médias de desempenho utilizadas são as da Prova Brasil, para escolas e municípios, e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), para os estados e o País, realizados a cada dois anos. As metas estabelecidas pelo Ideb são diferenciadas para cada escola e rede de ensino, com o objetivo único de alcançar 6 pontos até 2022, média correspondente ao sistema educacional dos países desenvolvidos. Quando falamos em média de desempenho, nos referimos ao índice de proficiência do estudante frente aos saberes do período da escolarização no qual ele se encontra. Segundo o Centro de Políticas Públicas e Avaliação na Educação (CAED, 2020), a proficiência é: Uma medida que representa um determinado traço latente (aptidão) de um aluno, assim sendo, podemos dizer que o conhecimento de um aluno em determinada disciplina é um traço latente que pode ser medido através de instrumentos compostos por itens elaborados a partir de uma matriz de habilidades (CAED, 2020). Para conseguirmos mensurar a proficiência, é necessário desenvolver avaliações pautadas na Teoria de Resposta ao Item (TRI) na qual os “itens que a prova apresenta possuem características fundamentais que devem ser consideradas na resolução: a dificuldade, a probabilidade e a discriminação” (RUTHES. 2019, p. 39). Dessas três características, a que é fundamental nesse tipo de avaliação é a probabilidade, pois na TRI a probabilidade de acerto de uma