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10 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Elementos textuais de ficção na literatura inglesa O OBJETIVO Ao concluir este capítulo você possuirá condições de descrever os principais elementos dos textos de ficção na literatura inglesa. E, então? Motivado (a) a desenvolver esta competência? Foco e bom estudo! Literatura Inglesa e Ficção Textos literários são aqueles que apresentam caráter linguístico e caráter estético. Sua função é expressar o processo de interação entre imaginação e concepções dos autores e leitores (BORGES, 1994; FAGUNDES, 2008). Figura 1: Obra “A Leitora”, imagem representativa ao processo de interação entre obra, autor, leitor. Fonte: Wikicommons. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (1 O universo da Literatura Inglesa envolve desde as características geográficas até o modo de vida das pessoas que habitam aquela região (Bretanha), sua atmosfera é envolta num aspecto literário diverso que produz uma variedade de intertextos e provoca no pesquisador/leitor diferentes sensações pertinentes à variação dos tons, do cromático, da espiritualidade, da linguagem, da tipificação dos personagens e do distanciamento original do academicismo (SIQUEIRA, 2007, p. 54). Na literatura inglesa do século VIII uma das primeiras obras representativas foi o épico Beowulf, a qual se ocupa da narrativa de enfrentamento entre um herói e um ser monstruoso. Outro autor representativo da literatura inglesa do século XIV foi o poeta inglês Geoffrey Chaucer com seus Contos de Canterbury em que narra à trajetória de eventos de um grupo de viajantes. William Shakespeare, apontado como um dos maiores expoentes da literatura universal dedicou-se a escrever para o teatro (CEVASCO; SIQUEIRA, 1988; BORGES, 1994; FAGUNDES, 2008). Figura 2: Primeira página da obra Beowulf, autor desconhecido, século VIII Fonte: Wikicommons. 12 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa A literatura inglesa refere-se às obras escritas em inglês, contudo seus autores não necessariamente são apenas ingleses, podendo compreender obras de outras localidades do globo. A difusão desta deu-se a partir de aspectos como: navegação inglesa, construção de obras baseadas em lendas, folclore, história inglesa (CEVASCO; SIQUEIRA, 1988; BORGES, 1994). De forma complementar, cita-se Silva (2005, p. 17) a Literatura Inglesa é a literatura escrita em inglês. Não é apenas a literatura da Inglaterra ou das Ilhas Britânicas, mas um corpo vasto e crescente de escritos constituído pela obra de autores que usam a língua inglesa como um veículo natural de comunicação. Antes de iniciarmos o estudo em elementos textuais de ficção na literatura inglesa, cumpre esclarecer aspectos do gênero ficção. Ficção refere-se à categoria de literatura que contém elementos imaginários. Obras de ficção constituem o produto da imaginação de um autor, contudo este direciona sua construção ao público a que se dirige. Logo, em nossas buscas por material podemos utilizar obras destinadas ao público infantil, jovem e adulto (WEST, 1994; SILVA, 2005). Obras literárias de ficção são aquelas que em sua construção utilizam a linguagem imaginária, baseada em aspectos reais. O interessante desta proposta é levar o leitor a aquisição de novos conhecimentos, uma nova realidade, uma realidade paralela. Exemplo deste processo de interação pode ser observado em Alice's Adventures in Wonderland (Alice no país das maravilhas), de Lewis Carroll. Chapter 11: Who stole the Tarts? [...] Never mind!” said the King, with an air of great relief. “Call the next witness.” And he added in an undertone to the Queen, “Really, my dear, you must cross-examine the next witness. It quite makes my forehead ache!” Alice watched the Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (13 White Rabbit as he fumbled over the list, feeling very curious to see what the next witness would be like, “for they haven'?t got much evidence yet,” she said to herself. Imagine her surprise, when the White Rabbit read out, at the top of his shrill little voice, the name “ Alice!” [...] ronte:https:/bitIy/2X1RTKO. Acesso em: 26/06/2020. Figura 3: Alice by John Tenniel, 1865 Fonte: Wikicommons. Capítulo 11: Quem roubou as tortas”? [...] “Não faz mal!” disse o Rei, com grande alívio. “Chamem a próxima testemunha!” E acrescentou, a meia voz, para a Rainha: “Na verdade, minha querida, é melhor que você interrogue duplamente a próxima testemunha. Isso está me dando uma tremenda dor de cabeça!” Alice ficou observando o Coelho Branco enquanto ele percorria atrapalhadamente a lista de nomes, curiosa por saber quem seria a testemunha seguinte, “pois até agora eles não têm lá muitas provas”, pensou. Qual não foi a surpresa dela quando o Coelho Branco leu, com sua vozinha estridente, o nome “Alice!” [...] ponte: ps:/bit Iv 2xiRTKO. Acesso em: 26/06/2020. 14 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa A ficção pode abarcar aspectos de aventura, mistério, drama e horror. Sua construção visa levar o leitor a acompanhar as situações propostas, mesmo sabendo que estas possam não ser possíveis, mas sim verossímeis. A literatura de ficção remonta ao início do século XIX, são exemplos as novelas góticas Frankenstein, de Mary Shelley; o terror psicológico de Robert Louis Stevenson (The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1886) — O médico e o monstro); o romance de Júlio Verne (Journey to the Center of the Earth) — Viagem ao Centro da Terra. Figura 4: Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde STRANGE CASE or DR JEKYLL ax» MR HYDE Dr ROBERT LOUIS STEVENSON LONDON LONGMANS, GREEN, AND CO. 1586 AU rights reserert Fonte: Wikicommons. Não há unanimidade entre os historiadores quanto a se confiar nos textos ficcionais como fonte histórica. Alguns os rejeitam, ora porque questionam o texto ficcional como informação verídica, ou verificável, sobre as realidades de fato, ora porque recusam o texto ficcional como impertinência de Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (15 base à própria disciplina histórica, argumentando que os textos ficcionais são “coisa da Literatura” (FAGUNDES, 2008, p. 253). Você sabia que a ficção ganha notória popularidade devido a veículos como rádio, televisão, quadrinhos e cinema. Muitas obras ficcionais foram adaptadas a estes veículos, como a obra 2001: uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, e Blade Runner, de Ridley Scott. Para maiores informações sobre obras literárias em Língua Inglesa acesse a página do Domínio Público: http:/Awww. dominiopublico.gov.br. Elementos textuais da narrativa ficcional O gênero ficcional inclui componentes essenciais ao andamento da trama. Aprender quais são os elementos desta modalidade de narrativa, e como utilizá-los ao longo de uma construção é essencial ao profissional de Letras-Inglês. Logo, é relevante estudar os elementos textuais de ficção, sejam em estrutura e elementos necessários ao desenvolvimento da narrativa (ABDALA Jr, 1995; SILVA, 2005; BARTHES, 2008). Assim, esta seção destina-se a auxiliar na apreensão dos elementos de construção. Isto é, o conhecimento dos recursos empregados pelo escritor, o momento histórico-social em que a obra foi produzida. A narrativa ficcional inicia pela introdução, seguida pelo desenvolvimento, clímax e conclusão (desfecho). É na introdução em que se apresentam as personagens, bem como localiza e orienta o leitor quanto ao tempo e espaço. O desenvolvimento 16 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa compreende o espaço em que as ações das personagens são narradas. Isto é, em que a trama de fatos e eventos é construída visando conduzir o leitor ao clímax. E, na conclusão concentra- se o fechamento da narrativa (SILVA, 2005; BARTHES, 2008). A seguir, conformeAbdala Jr. (1995), Silva (2005), Barthes (2008), seguem outros elementos: EH Narrativa — compreende um texto que trata de fatos e eventos realizados por personagens. EH Texto — conjunto de palavras e sentenças interligadas, que viabiliza a interpretação e transmissão de uma mensagem. E Contexto — conjunto de elementos situacionais que auxiliam o leitor a compreender a mensagem do texto. E Enredo — compreende a forma como os fatos e eventos são desenvolvidos, ou seja, como se dão e acontecem na narrativa. EH Espaço — onde ocorrem os acontecimentos, é o espaço por onde transitam os personagens. Este elemento também possui relevante destaque, uma vez que auxiliam na caracterização dos personagens ao leitor. E Tempo — é o momento e/ou a época em que os fatos acontecem. H Narrador — figura que narra os acontecimentos, relatando os fatos/ eventos a partir de perspectivas diferentes: da personagem, da observação, e da onisciência. Logo, o elemento narrador pode ser um narrador-personagem (participa das ações narradas, na primeira pessoa), e um narrador-observador (observa e narra os fatos, na terceira pessoa). Você sabia que o narrador onisciente é aquele que conhece todos os fatos, mesmo que não participe da narrativa. Este tipo de narrador consegue narrar e comentar até pensamentos e sentimentos, ideias, atitudes das personagens ao longo da narrativa. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (17 EH Personagens — aqueles (fictícios ou reais) que atuam vivem os fatos e eventos. Ao personagem principal denomina- se protagonista. E ao que se opõe ao protagonista, denomina-se antagonista. Junto a estes se encontram os personagens principais e os coadjuvantes. Logo, dentre as obras literárias encontram-se uma enormidade de textos narrativos, cuja função é a de relatar fatos e eventos que se desenvolvem no tempo e espaço, envolvendo personagens de modo a provocar reações. RESUMINDO Neste capítulo, caro estudante, aprendemos que Textos literários são aqueles que apresentam caráter linguístico e caráter estético. Sua função é expressar o processo de interação entre imaginação e concepções dos autores e leitores. Bem como, que a literatura inglesa refere-se às obras escritas em inglês, contudo seus autores não necessariamente são apenas ingleses, podendo compreender obras de outras localidades do globo. A narrativa ficcional inicia pela introdução, seguida pelo desenvolvimento, clímax e conclusão (desfecho). Frente aos elementos ficcionais compreendemos que o narrador é aquele que diz, o espaço é onde ocorre, o enredo remete ao o que houve, tempo ao quando, e personagens a quem. 18 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Narrador, fluxo narrativo, ponto de vista e voz narrativa OBJETIVO Ao concluir este capítulo você possuirá condições de diferenciar o ponto de vista e da voz narrativa. E, então? Motivado (a) a desenvolver esta competência? Foco e bom estudo! Definição de Narrador Caro estudante, neste capítulo, estudaremos o conceito e tipologia de narração, veremos que o ato narrativo é de responsabilidade de um narrador que segue determinado fluxo narrativo, ponto de vista e voz narrativa. Narrador compreende a entidade que executa o discurso, bem como protagoniza a comunicação narrativa. É um dos elementos da tríade autor-narrador-leitor. Assim, a narração consiste no ato de narrar fatos e eventos fictícios (GENETTE, 1972; REIS; LOPES, 1988). Figura 5: Dr. Watson é o narrador das histórias policiais de Sherlock Holmes (direita), da obra de Sir Arthur Conan Doyle. Desenho de Sidney Paget. Fonte: Wikicommons. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (19 EXPLICANDO DIFERENTE Tanto o autor quanto o leitor são reais, ao contrário do narrador que habita a narrativa. É função do autor é criar um ambiente alternativo, com personagens, fatos e eventos que constituam a narrativa. A função do leitor é entender e interpretar a narrativa. Já o narrador é transmitir a mensagem ao leitor (CANDIDO, 1998; BARTHES, 2008). Cumpre destacar, que é necessário não confundir narrador com autor. O narrador é um elemento fictício, enquanto o autor corresponde a um elemento real e empírico. O narrador, como já comentado anteriormente é aquele que enuncia o discurso, e protagoniza a comunicação narrativa (REIS; LOPES, 1988). Figura 6: Lewis Carroll, autor de Alice's Adventures in Wonderland (Alice no país das maravilhas). Obra na qual o narrador é muito atuante. Fonte: Wikicommons. 20 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Fluxo narrativo é definido por Genette (1972) como a forma de organização do material narrativo. A ação de organizar o material narrativo possui importância em uma produção literária, é esta organização que leva o leitor a perceber como os fatos e eventos são narrados. O ato narrativo assume diferentes particularidades conforme o tipo de relação que o narrador estabelece com a narrativa, por exemplo: grau de conhecimento, papel de protagonismo ou não, tempo e o espaço em que se dá à narrativa (SILVA, 2005; BARTHES, 2008). Cabe ao autor definir o tipo de narrador para a obra que está produzindo, mas, uma vez definido o narrador cabe a este a produção do discurso. Isto é, conduzir a organização da narrativa, via uso da voz ativa (REALES, 2008). E) - DEFINIÇÃO E) Voz Ativa é quando o narrador fomece informações sobre o contexto, personagens, espaço e tempo (REALES, 2008). Identificar o narrador constitui o primeiro passo em uma análise de narrativa ficcional, visto que não há narrativa sem narrador, bem como este é o elemento estruturador dos demais elementos de uma ficção (CANDIDO, 1998). Genette (1972) distingue três tipos de narradores: autodiegético, heterodiegético e homodiegético. EH Narrador autodiegético — é o tipo de narrador que narra suas experiências como protagonista principal da narrativa. Devido a isso, frequentemente, utiliza a primeira pessoa gramatical. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (21 EH Narrador heterodiegético — é o tipo de narrador que não participa dos fatos ou eventos que relata, ou seja, não faz nem fez parte da narrativa que comunica. Frequentemente, esse tipo de narrador se expressa na terceira pessoa, mantendo determinado anonimato e grande autoridade em relação àquilo que narra. O narrador heterodiegético normalmente narra fatos Já acontecidos, colocando-se num tempo posterior ao em que os fatos por ele narrados ocorreram. EH Narrador homodiegético — compreende o tipo de narrador que relata fatos que ele mesmo vivenciou como personagem, contudo não como protagonista central. Esse tipo de narrador se diferencia do heterodiegético porque retira de sua própria experiência as informações que lhe auxiliam a contar a narrativa, porém se diferencia do narrador autodiegético, pois não é o protagonista central. Figura 7: Exemplo de narrador homodiegético. Sherlock Holmes in “The Five Orange Pips”, which appeared in The Strand Magazine in November, 1891. Dr. Watson é o narrador das histórias policiais de Sherlock Holmes. Fonte: Wikicommons. 22 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Foco Narrativo e Fluxo Narrativo Caro estudante, dentre as características narrativas de um texto ficcional, consta aspectos como narrador, foco narrativo, e fluxo narrativo. Sendo estes últimos apresentados abaixo. Conforme Barthes (2008). EH Narrador em 1º pessoa gramatical: esse foco narrativo é característico do narrador-personagem (autodiegético). Onde a narrativa é descrita de dentro para fora, conforme a perspectiva da personagem. EH Narradorem3” pessoa: esse foco narrativo é característico do narrador onisciente ou observador. Neste foco o narrador conhece os elementos da narrativa, dominando e controlandoas ações das personagens. EXPLICANDO DIFERENTE Foco narrativo compreende o ponto de vista pelo qual uma história é contada. Esse poderá ser em primeira, segunda ou terceira pessoa gramatical, ou até mesmo apresentar-se de forma combinada. Já o fluxo narrativo (fluxo de consciência) caracteriza-se pelo fluxo contínuo de pensamentos. Nesta técnica procura- se transcrever o processo de pensamento de uma personagem, de forma lógica, alinhando à inferência pessoal, e associação de ideias. Possui como características a não linearidade de pensamento, ruptura de sintaxe e pontuação (CARVALHO, 2012). Você Sabia que o fluxo narrativo é uma técnica literária, usada primeiramente por Edouard Dujardin em 1888. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (23 Compreendem autores que observam tal critério em suas obras James Joyce e Virginia Woolf, a seguir apresenta-se um trecho da obra Mrs. Dalloway (1925), de Virginia Woolf: “Such fools we are, she thought, crossing Victoria Street. For Heaven only knows why one loves it so, how one sees it so, making it up, building it round one, tumbling 1t, creating 1t every moment afresh; but the veriest frumps, the most dejected of miseries sitting on doorsteps (drink their downfall) do the same; can't be dealt with, she felt positive, by Acts of Parliament for that very reason: they love life. In people's eyes, in the swing, tramp, and trudge; in the bellow and the uproar; the carriages, motor cars, omnibuses, vans, sandwich men shuflling and swinging: brass bands; barrel organs; in the triumph and the Jingle and the strange high singing of some airplane overhead was what she loved; life; London; this moment of June”. ronte: https://bit.ly/3ftrrgl. Acesso em 25/06/2020. Figura 8: Capa da primeira edição, por Vanessa Bell DALLOWAY VIRGINIA WOOLF Fonte: Wikicommons. 24 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa “Como a humanidade é louca, pensou ela ao atravessar Victoria Street. Porque só Deus sabe porque amamos tanto isto, o concebemos assim , elevando-o, construindo-o à nossa volta, derrubando-o, criando-o novamente a cada instante, mas até as próprias megeras, as mendigas mais repelentes sentadas às portas (a beberem a sua ruína) fazem o mesmo; não se podia resolver o seu caso, ela tinha a certeza, com leis parlamentares por esta simples razão: porque amam a vida. Nos olhos das pessoas, no movimento, no bulício e nos passos arrastados; no burburinho e na vozearia; os carros, os automóveis, os ônibus, os caminhões, homens aos encontrões, bamboleantes; bandas de música; realejos, no estrondo e no tinido e na estranha melodia de algum aeroplano por cima das nossas cabeças, era o que ela amava, a vida, Londres; este momento de Junho. Porque era em meados de Junho”. ronte: https:/bity/3ftrrgl. Acesso em 25/06/2020. Alice's Adventures in Wonderland (Alice no país das maravilhas) — Análise de elementos Na obra Alice's Adventures in Wonderland, de Lewis Carroll é possível identificar o narrador onisciente, uma vez que embora sujeito da narrativa apresenta-se sob o ponto de vista de uma personagem. O foco narrativo é em terceira pessoa, sendo o fluxo narrativo parcial, pois este se limita apenas ao viés de uma única personagem (Alice). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (25 Figura 9: Jessie Willcox Smith's illustration of Alice surrounded by the characters of Wonderland (1923) Fonte: Wikicommons. O autor Lewis Carroll ilustra o exposto, pois é possível observar em sua obra a narrativa o uso da personagem Alice como ferramenta para apresentar as demais personagens, e a trama que se desenvolve. O processo narrativo de Alice's Adventures in Wonderland Alice é linear, ou seja, indica uma sequência de eventos com princípio, meio e fim. Sendo o princípio caracterizado por sua queda na toca do Coelho Branco (White Rabbit), o meio as aventuras vividas e as descobertas das demais personagens, e o fim quando Alice desperta de seu sonho (Alice”'s Evidence). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (27 O enredo no texto de ficção na literatura inglesa OBJETIVO Ao concluir este capítulo você possuirá condições de compreender a estruturação e a importância do enredo no texto de ficção. E, então? Motivado (a) a desenvolver esta competência? Foco e bom estudo! A intriga ou o enredo compreende o conjunto de peripécias que ocorrem numa narrativa. A intriga representa todos os encontros e embates possíveis na trama de uma história (REALES, 2008). Enredo, também chamado de trama ou argumento, é o elemento que oportuniza sequenciamento a uma narrativa (MASSAUD, 2004). Figura 11: encontro de Alice, Lebre de Março e o Chapeleiro Maluco — Chapter 7 - A Mad Tea Party (Um chá de malucos). Fonte: Wikicommons. 28 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa O conceito de enredo relaciona-se ao conteúdo sobre o qual a narrativa é construída. O enredo possui como núcleo, o conflito. É, justamente o conflito que determina o nível de tensão (expectativa) frente à narrativa. Além disso, o enredo está relaciona-se diretamente às personagens, isto é, um depende do outro (CANDIDO, 1998). Conforme Reales (2008, p. 34) a intriga, conceito da teoria da narrativa que também é chamado enredo, é o conjunto dos fatos, dos eventos, que formam a trama de um romance, de uma peça de teatro ou de um filme de cinema ou de televisão. O enredo, compreendido enquanto narrativa de fatos e eventos ficcionais, corresponde aos acontecimentos narrados e vivenciados pelas personagens. É o conjunto de acontecimentos narrados em ações, relações, num contexto espaço-temporal (GENETTE, 1972). Enredo compreende o conjunto de fatos e eventos que se desenrolam na narrativa, tais como: acontecimentos, conflitos, encontros. Assim, o enredo constitui a própria narrativa em questão. Em sua estrutura pode-se identificar as seguintes fases (REALES, 2008): a. Equilíbrio inicial — Nesta fase são apresentadas as personagens da trama, bem como as relações existentes, o ambiente e o tempo. b. Desequilíbrio — Esta fase compreende o principal momento da narrativa, o qual pode ser dividido em três partes: a complicação (conflito), o desenvolvimento da complicação e o clímax da história. O fato é que o conflito central pode ser da personagem consigo mesma, com o mundo ou com outras personagens da história. Podendo haver mais conflitos e mais núcleos dentro de uma mesma narrativa (CANDIDO, 1987). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (29 Figura 12: O conflito na narrativa vem em muitas formas. “Homem contra homem”, tal como é representado aqui na batalha entre o Rei Arthur e Mordred, é particularmente comum na literatura tradicional, contos de fadas e mitos. Fonte: Wikicommons. c. Equilíbrio final — Nesta fase é apresentado o fim da história, apresentando novas perspectivas sobre as personagens e suas relações. Ainda, conforme Reales (2008) o enredo pode ser desenvolvido nos termos da sequência, linear ou não, ou das ações das personagens existentes. É a partir deste conceito que é possível processar o desenvolvimento da narrativa frente à maior ou menor complexidade de eventos produzidos pelas ações e interações. O enredo pode ser linear ou não linear. Linear é aquele cujos fatos e eventos seguem uma sequência organizada cronologicamente em: apresentação, complicação, clímax, desfecho. Já o enredo não linear não observa tal sequência. Neste tipo de enredo, por exemplo, a apresentação de fatos e eventos 30 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa pode iniciar por seu desfecho, ou ser revelado paulatinamente, e no decorrer da narrativa (MESQUITA, 2006). Figura 13: The Queen”s Croquet Ground (O Campo de Croqué da Rainha de Copas). Exemplo de evento da obra Alice noPaís das Maravilhas, que pela interação entre Alice, o Rei e a Rainha de Copas, momento anterior ao clímax da narrativa. Fonte: Wikicommons. Na passagem Alice é convidada pela rainha para jogar croqué: “Cortaram-lhes as cabeças? As cabeças rolaram, para o deleite de Vossa Majestade! Muito bem, gritou a Rainha. Sabe Jogar croqué? Os soldados ficaram em silêncio e olharam para Alice, pois evidentemente a pergunta era para ela. Sei! Gritou Alice. Então venha! Urrou a Rainha, e Alice se juntou ao cortejo, muito curiosa do que ia acontecer em seguida” (Carroll, 2009, p.97) Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (31 Figura 14: Alice trying to play croquet with a Flamingo RM W E Z ) Fonte: Wikicommons. O enredo é construído observando-se aos aspectos de causalidade e temporalidade. Ou seja, determinados fatos da narrativa, possuem força e efeito de causa para desencadearem novos fatos (MASSAUD, 1997). Observando o exemplo da narrativa de Alice no País das Maravilhas, nas Figuras 14 e 15 em que Alice encontra-se obrigada, após ações anteriores, a jogar croqué com a Rainha de Copas. De forma complementar, cita-se Mesquita (2006) que apresenta outra proposta de estrutura de enredo. Destaca-se que ambas atendem ao objetivo de sustentar o desenvolver da trama: 1. Situação inicial — personagens, espaço e tempo são apresentados; 2. Quebra da situação inicial — a ocorrência de um fato/ evento modifica a situação inicial apresentada; 32 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa 3. Conflito — Compreende o surgimento de uma situação a ser resolvida. A função do conflito é encerrar a estabilidade/ conforto de personagens, ações e relações. Sem o conflito não há história, não há vida e movimento, não o despertar do interesse do leitor. O conflito possibilita ao leitor a criação da expectativa frente aos fatos do enredo, até o momento apresentado. Estes podem ser reportados na forma de narrativas, em conflitos morais, religiosos, econômicos e psicológicos; este último enquadra-se no conflito interior de uma personagem que vive uma crise emocional (MASSAUD, 1997). 4. Climax — ponto de maior tensão na narrativa; 5. Desfecho — solução do conflito iniciado. De acordo com Candido (1987) o enredo não é composto apenas pelo gênero narrativo, conforme necessidade dos autores, estes podem incluir trechos descritivos e dissertativos. Caro Estudante, vamos retomar a análise de Alice's Adventures in Wonderland quanto ao enredo, na fase Equilíbrio Inicial: No que tange o espaço, elemento do enredo, este se revela imprescindível à compreensão da obra e seus elementos, pois é este que produz e sustenta o ambiente para as aventuras vividas pela personagem Alice. Ele é representado pela toca do coelho branco através da qual Alice é levada ao País das Maravilhas, e depois todo o espaço mágico descrito na obra. Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (33 Figura 15: exemplo de espaço apresentado na obra Alice”s Adventures in Wonderland — Advice from a Caterpillar (Conselhos de uma Lagarta). Fonte: Wikicommons. Na obra Alice no País das Maravilhas o ambiente constitutivo do enredo é muito relevante, mesmo sendo mágica e irreal, pois ao longo dos capítulos sustentam o desequilíbrio da obra. Isto é, suportam o evoluir das ações e relações das personagens. “O enredo existe através dos personagens; as personagens vivem do enredo. Enredo e personagem exprimem, ligados, os intuitos do romance, a visão da vida que decorre dele, os significados e valores que o animam” (CANDIDO, 1987, p. 534). Outro aspecto passível de análise, da fase Equilíbrio Inicial, é o tempo em Alice's Adventures in Wonderland. Que nesta narrativa é cronológico, ou seja, os acontecimentos ocorrem pela ordem do calendário ou do relógio. Na narrativa 34 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa é possível identificar este aspecto pelo registro de nomes e de locais, bem como na organização de seus capítulos. Exemplo deste elemento é o Coelho Branco que constantemente visa evitar seu atraso para o encontro com a duquesa, “Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!” e “Oh, a duquesa, a duquesa! Como vai ficar furiosa se eu a tiver feito esperar!” (Carroll, 2009, p. 13). Figura 16: Chapter One — Down the Rabbit Hole Fonte: Wikicommons. Em síntese, o enredo é a estrutura da narrativa, o elemento que sustenta a narrativa, ou seja, constitui o desenrolar de ações e relações entre as personagens. Logo, compreende o produto das relações de interdependência estabelecidas (MESQUITA, 2006). 36 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa As personagens na construção do texto em literatura inglesa O OBJETIVO Ao concluir este capítulo você possuirá condições de identificar as personagens na construção do texto ficcional. E, então? Motivado (a) a desenvolver esta competência? Foco e bom estudo! Caro estudante, estamos chegando ao fim desta unidade! Estudamos sobre os principais elementos dos textos de ficção. Aprendemos a diferenciar o ponto de vista e da voz narrativa. Bem como, compreendemos a estruturação e a importância do enredo em texto ficcional. Este capítulo será dedicado a identificação das personagens na construção do texto ficcional. Espero que o capítulo tenha despertado sua curiosidade frente à Literatura Inglesa. Então, boa leitura! E) A DEFINIÇÃO E) Personagem é aquele ser que pratica as ações narradas. Entidade literária que vive a ação (CANDIDO, 1987; MASSAUD, 2004). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (37 Figura 17: exemplo de personagem, Monstro de Frankenstein, 1818. Fonte: Wikicommons. O personagem é um relevante elemento da narrativa, pois ele é quem vivencia os fatos/ eventos narrados. E, é em torno do qual, muitas vezes, organiza-se a narrativa. Ao analisar um personagem é importante observar aspectos como: sua caracterização, seu discurso, seu modo de interligação com as demais personagens, principalmente a sua função dentro da narrativa (REALES, 2008). Conforme Candido (1987) sempre há um ou mais personagens que compõem o núcleo da narrativa, e ao redor dos quais o enredo se desenrola. “O personagem de ficção é suscetível às transformações sociais, estéticas e ideológicas de cada momento histórico. Podemos observar, em certa herança literária do século XIX e início do século XX, a valorização de uma caracterização forte 38 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa do personagem que apresentava características individuais sólidas e muito marcadas” (REALES, 2008, p. 19). Assim, personagem é um dos elementos ficcionais, criada pelo autor, e que quando posta em ação e relação adquire função. Caro, estudante apresenta-se como exemplo o Gato de Cheshire, Gato Risonho, Gato Listrado ou Gato Que Ri de Alice's Adventures in Wonderland. Figura 18: The Cheshire Cat Fonte: Wikicommons. A personagem é caracterizada pelo narrador por seu sorriso pronunciado, e pela capacidade distinta em conseguir ocultar partes de seu corpo (desaparecimento). Sendo, contudo, possível manter visível sua cabeça e seu icônico sorriso. Em uma obra literária, o que define a personagem são as informações que possuímos dela, e tais informações (características) são fornecidas pelo narrador. Logo, cumpre comentar que personagem e narrador possuem uma estreita conexão. Pois, é o narrador o responsável pela caracterização desta personagem ao descrever suas características, ao elaborar comentários e posicionamentos (CANDIDO, 1987). Você Sabia que nem sempre o personagem principal é uma pessoa. Na obra do autor Aluísio de Azevedo “O Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) (39 cortiço”, o local figura como personagem principal. Já na literatura mais recente, comona trilogia de “O Senhor dos Anéis”, de J. R.R. Tolkien, o personagem é o anel. Figura 19: The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, 2001 Fonte: Wikicommons. De acordo com a importância que os personagens têm dentro da narrativa, podemos dividi-los em: herói ou personagem protagonista, anti-herói (vilão) ou antagonista, e personagem secundário ou personagem figurante. E, de acordo com sua composição e caracterização, podem ser classificados em personagens redondos e personagens planos (REALES, 2008). Denomina-se como personagem secundário aquele que não faz parte da trama principal. Para Candido (1998), e Rosales (2008) o herói é aquela personagem que protagoniza uma obra. O herói se destaca dos outros homens por apresentar qualidades que o homem comum não possui, mas que são admiradas e desejadas por este. 40 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa Figura 20: Beowulf enfrenta o dragão. Ilustração de um livro infantil de 1908. Fonte: Wikicommons. O herói literário do Renascimento protagonizou, em linhas gerais, o homem que se destacava pelas suas qualidades, sua valentia, sua capacidade de liderar, em luta contra as adversidades, contra os deuses ou os elementos. As qualidades desse herói não deixavam espaço a qualquer tipo de dúvidas quanto a suas características superiores em relação às de seu grupo (REALES, 2008, p. 23-24). O anti-herói pode cumpre o papel de protagonista, ou seja, de personagem mais importante da história. Sua singularidade consiste em protagonizar anarrativa a partir de suas características “negativas” em relação ao herói. Sua conduta ética ou moral é, de certo modo, “desqualificada”, suas ações podem movimentar a história a partir de uma posição de desvio em relação a padrões de conduta estabelecidos e aceitos na sociedade (REALES, 2008). Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa ) G Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Romance de Robert Louis Stevenson. Estudo da possibilidade de separação do lado “bom” e do lado “mau” do ser humano. O personagem anti-herói pode significar ou representar historicamente, a partir de seu papel como entidade na narrativa literária, e em função de seus traços psicológicos, morais e sociais, uma certa desagregação e transformação culturais gerais da sociedade (REALES, 2008, p. 29). Logo, um texto ficcional apresenta personagens principais e personagens secundárias. Sendo a personagem principal a protagonista da história. Caso existir uma personagem que se oponha à personagem principal, um vilão, por exemplo, este recebe o nome de antagonista (CANDIDO, 1998, REALES, 2008). Figura 21: Estereótipo clássico para vilões utilizado em muitos desenhos animados, onde, notavelmente, a expressão facial evidencia malignidade. Fonte: Wikicommons. 42 ) (Textos Fundamentais de Ficção em Língua Inglesa A criação de personagens em textos ficcionais compreende um processo que pressupõe o exagero de determinados traços. Assim, para destacar tais traços é comum que outros sejam menos potencializados. É deste raciocínio, que encontra amparo à definição de personagens planos ou redondos (FIELD, 2009). O termo personagem redondo foi introduzido por E. M. Forster e se refere a personagens que apresentam uma personalidade forte e um destaque muito marcado dentro da narrativa. Tais personagens se caracterizam por serem, muitas vezes, imprevisíveis, de contornos ambíguos ou pouco definidos. São personagens complexos e apresentam uma variedade de características que vão se revelando aos poucos (REALES, 2008, p. 30). Para maior detalhamento sobre o personagem redondo e plano. Acesse o seguinte vídeo: “Quem é você: Personagem Redondo ou Personagem Plano?”, de Ana Cláudia Faccin, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=15 VgT2]Jm-xI. (Acesso em 24/06/2020). Ao contrário do personagem redondo, o plano apresenta menos complexidade e menor número de atributos, não revelando mudanças significativas ao longo da narrativa, nem tampouco fortes conturbações psicológicas (REALES, 2008, p. 33).
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