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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1 MOBILIDADE URBANA ......................................................................... 4 1.1 Acessibilidade no sistema de transportes ....................................... 10 1.1 Acessibilidade universal .................................................................. 12 2 BAIXA MOBILIDADE ............................................................................ 15 3 SOLUÇÕES DE MOBILIDADE ............................................................. 17 4 MECANISMOS DE OCORRÊNCIA DOS ACIDENTES ........................ 20 5 DESEMPENHO DO MOTORISTA ........................................................ 25 5.1 O comportamento humano ............................................................. 25 5.2 Ambivalências da lei que incidem sobre a percepção de riscos ..... 27 6 A CIRCULAÇÃO DE PEDESTRES EM ÁREAS URBANAS ................ 29 6.1 Comportamento, Percepções e Atitudes de Pedestres ................... 31 6.2 Travessias de Pedestres ................................................................. 33 6.3 Travessias com faixa para pedestres, sem semáforo ..................... 33 7 TRAVESSIAS COM FAIXA PARA PEDESTRES, COM SEMÁFORO . 34 8 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 36 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 MOBILIDADE URBANA Ensina ALMEIDA (2008) em relação ao grande número de pessoas que se locomovem, especialmente na cidade grande, pois as mesmas se locomovem em massa das suas residências para o trabalho, assim vivem suas vidas em constante locomoção: compram, estudam e têm seu lazer. Observa-se que quanto mais distantes, estas localidades estão entre si, torna inviável o deslocamento a pé, fazendo com que as pessoas necessitem do uso de transporte quer seja coletivo ou individual. Desde o mais simples, a bicicleta até o mais complexo, o metrô, existe uma vasta gama de possibilidades, assim tornando a escolha de cada uma delas, seja pela coletividade ou pelo indivíduo, depende sempre de vários fatores, como por exemplo: a distância a seguir, o tempo disponível, consolo desejado e disponibilidade de recursos para se ter o equipamento adequado, além é claro do nível de conforto desejado pelo indivíduo. Conforme já mencionado apesar da ampla parte dos indivíduos e/ou coletividades que gostariam de ter o maior de conforto possível, existem as outras variáveis que são consideradas, o tempo disponível e distância. Com relação as distâncias maiores, as opções especiais não resolvem, pois, a bicicleta não dá o conforto necessário e o carro provoca engarrafamento, além de poluição e perda de tempo. Diante de tal situação, faz-se necessário que haja a equação a fim de determinar a redução do tempo de percurso, por meio da implantação de equipamentos públicos adequados e de qualidade como por exemplo o trem para os subúrbios bem como o metrô e ainda os corredores de ônibus para a malha urbana, recursos esses que nem sempre são viáveis economicamente ou apropriados em termos urbanísticos, como no caso dos corredores. Observa-se ainda outra saída, como forma de opção ou complemento, que seria a redução das distâncias por meio do adensamento e a multifuncionalização das centralidades urbanas. 5 Para que isso ocorra é necessário estimular ao máximo o aproveitamento do solo, além do estabelecimento de coeficientes menores de aproveitamento, uma vez que se entende que não existe o que se temer um eventual e até provável déficit de infraestrutura. Menciona o autor citado anteriormente que é bem mais barato aumentar a capacidade de uma rede elétrica, de esgoto ou água, em determinados quarteirões altamente adensados ou em processo de adensamento, do que ampliar ao longo de novas urbanizações, várias vezes feitas ao arrepio da lei, em campos de matas ou mananciais. Tornando-se então preferível consentir que o problema surja do que, temê-lo, provocar o mau problema insolúvel. Além do fato de que, o custo social de prover distribuição de água, recolher esgoto e lixo, policiar e iluminar campos com residências aliadas em prédios é muito mais econômico do que em ruas com casas espalhadas. Ao que se pode perceber o impacto ambiental também é bem menor, uma vez que terá menos telhados, menos asfalto, muito menos área impermeabilizada. Existe a necessidade ainda de se inserir os parques públicos e ainda outros aparelhamentos de uso coletivo: bibliotecas, centros culturais, praças, museus, passeios públicos de qualidade, e até mesmo clubes, tornando indispensáveis jardinzinhos, piscininhas, lugares gourmets, e outros, que aumentam o custo das unidades habitacionais e as despesas de condomínio. É importante também que se beneficie o desengessamento locacional da população pela flexibilização da lei do inquilinato, promovendo o rearranjo habitacional da população na metrópole. Hoje em dia, em função dessa legislação, quem reside em imóvel próprio, mas bem longe do trabalho, teme alugá-lo, ao mesmo tempo em que, ele, ou qualquer outro, tem grandes dificuldades para alugar, para seu uso, um imóvel em qualquer lugar da cidade (ALMEIDA, 2008). O autor observa ainda que devido a essas e outras conjunturas, o Estado de São Paulo perdeu, entre os 10 anos que permearam os dois últimos censos demográficos, cerca de 20% dos moradores de seus bairros dotados de boa infraestrutura, o Centro até mesmo, para bairros com pouca ou pouquíssima infraestrutura. 6 Além de uma quantidade de unidades habitacionais fechadas, no qual equivale ao déficit habitacional da cidade. Recuperar o Centro Metropolitano de São Paulo, pelo seu caráter pedagógico e indutor, pode ser essencial para isso. Assim, a Mobilidade Urbana é determinada como a capacidade de deslocamento de bens e pessoas no espaço urbano para que as mesmas executem suas atividades diárias como: trabalho, recreação, lazer, abastecimento, educação, saúde e cultura, dentro de um período respeitado ideal, de forma segura e confortável. Para conseguir alcançar tais objetivos, os indivíduos podem empregar diferentes tipos de veículos ou apenas caminhar. Isto posto, pensar sobre a mobilidade urbana é, refletir sobre como se aparelham os fluxos na cidade e ainda a melhor maneira de medir a entrada dos indivíduos ao que a cidade oferece, de maneira mais eficiente em termos ambientais e socioeconômicos. No entanto, ao tentar resolver tais questões relativas a mobilidade faz-se necessário ponderar sobre o assunto, sem se furtar de discutir as questões de ordem tecnológica as quais envolvem os meios de transportes, a infraestrutura viária, o controle do trânsito. E ainda a gestão urbana que atua por meio da definição da localização de atividades, observando aqualidade do espaço edificado, além da fiscalização e controle do funcionamento das atividades urbanas e de seus cidadãos; e com a performance das pessoas ligado de forma direta à liberdade de ir e vir, seus anseios e ainda o conceito de qualidade de vida na sociedade contemporânea. Em um passado não muito longínquo, as velocidades estabelecidas pelos avanços na tecnologia dos transportes davam sinais de que haveria uma redução das distâncias-tempo, naquele tempo era de cerca de 15 km/hora que as carruagens movidas a cavalos e a vapor para 100km/hora do trem a vapor, por volta de 1830. Na atualidade estamos voltando no tempo, quando ônibus e automóveis, capazes de extrapolar estas marcas, adquirem velocidades semelhantes às das carruagens. Além do fato de possibilitar que se pudesse percorrer distâncias em menos tempo essa modernidade também gerou a ampliação física das aglomerações 7 urbanas que, mesmo com transportes de massa competentes, alargam o tempo gasto no movimento pendular do dia-a-dia. Mesmo em países com meios de transportes coletivos de alta tecnologia, em cidades como Tóquio, Londres e Estocolmo, a lentidão dos mesmos exibiu-se cada vez mais crítica. Além do mais as tecnologias das comunicações, por sua vez, como a chegada da informática e internet, anunciaram a diminuição da precisão de deslocamentos, pela possibilidade de exercer o trabalho à distância, ou ainda pela probabilidade de compra de bens e serviços virtualmente. Não obstante a internet, ao aumentar as possibilidades de contato e acelerar a rapidez das respostas, ocasionou uma diversidade, de formas ainda de maneira significativa, como o fluxo de documentos, mercadorias e até mesmo de indivíduos, além de aumentar o número de clientes potenciais das instituições e empresas, clientes estes provenientes das múltiplas paragens. Tanto a mobilidade gerada no emprego via terceirização por vários patrões, várias localizações bem como a flexibilidade de horário e de trabalho ininterrupto devido à conexão internacional 24 horas têm, por resultado, elevação a dificuldade de aparelhar e controlar os mais diferentes fluxos urbanos que se constituem. Tal situação também induz a uma reflexão sobre uma nova e verdadeira flexibilidade dos horários de trabalho como também da legislação trabalhista de referência, seguindo a tendência já admitida pelos setores de comércio e serviços das mais distintas naturezas com relação aos seus horários de funcionamento. Assim, esta mobilidade do emprego vai nos conduzir a uma outra dificuldade, agitando a crença de que o tão proclamado uso urbano misto, básica no conceito de urbanidade, seja capaz de intervir na diminuição da necessidade de deslocamentos diários ao criar áreas de uso misto, aquelas em que emprego e moradia compartilham o mesmo local. A procura por emprego não se limita mais ao nosso local de residência, uma vez que as alternativas de emprego não se referem apenas ao chefe do casal, como era anteriormente e o fato de haver oportunidades melhores, fora do domicílio do casal, além do fato de que esta proximidade do local de trabalho seria um privilégio de poucos. 8 No ramo imobiliário os empreendimentos propõem-se, de maneira constante, a conectar o local de trabalho com o consumo por exemplo hotelaria/flat como local de moradia temporária. As incorporações imobiliárias tendem também a unir a moradia com facilidade de consumo e abastecimento. Premissas que, não determinam, absolutamente, o problema dos consumidores nem da cidade, pois, como já mencionado, emprego e moradia não conseguem ter uma relação direta, e precisamente a busca de emprego, ou seja, pelo sustento diário é que responde pela máxima necessidade maior relativas aos deslocamentos no dia-a-dia. Observa-se que as pessoas acabam se tornando reféns da (i) mobilidade urbana pois passam a ser usada como já o foi a questão da segurança, uma situação de monopólio, de oferta única para alimentar-se, adquirir serviços de educação, consumir, tudo num mesmo lugar. Esta situação de monopólio ocasiona, ainda, um custo financeiro adicional pelas pseudo conveniências que dizem oferecer, o que nos remete ao tempo das Vilas Operárias, onde emprego e moradia criavam uma subordinação inquestionável na relação empregado-empregador. A (i) mobilidade interfere, desta forma, na liberdade de escolha. Além destas questões sobre os usos urbanos, é importante mencionar que existe um descompasso entre a inércia das estruturas físicas na cidade e a dinâmica demográfica (ALMEIDA, 2008). Pode-se observar que tais serviços como: públicos de lazer, educação e saúde, são ou foram criados tendo em vista uma demanda residencial local, o que ocorreu em um determinado momento, que, em um preciso período de anos, pode se transformar significativamente, pela modificação da faixa etária. É simples avaliar as implicações desta circunstância em bairros mais antigos, ou nos mais recentes e não equipados, seja pela ociosidade ou sobrecarga analisada nas escolas e postos de saúde da rede pública e mesmo das praças com usos inadequados, fazendo por exemplo com que se desenvolva a necessidade do transporte escolar. De acordo como o autor supracitado é ainda importante considerar que mesmo as escolhas de médicos e até mesmo dos planos de saúde são feitas pelo 9 bairro de moradia ou do emprego do que pela qualidade do médico por meio de indicação. Vale exame parecido para o ensino privado, especialmente de escolas maternais que se alojam junto à demanda, e que acabam gerando tráfego e congestionamentos adicionais pela ausência de previsibilidade e controle dos impactos do seu funcionamento. A imobilidade urbana, mais uma vez, limita as nossas possibilidades de escolha (ALMEIDA, 2008). Fato importante a ser observado e que faz referência à qualidade desta mobilidade urbana, ocorre pela discussão do sistema de ônibus que trafega lotado nas horas de pico e que abranda a sua frota fora destes horários, aumentando o intervalo entre os ônibus. Para quem está fora do horário de pico, não resta outra alternativa a não ser esperar. O caminho de bicicleta ou a pé, que tem se exposto como alternativa ao elevado custo além da lentidão do trânsito, que também é feito em situações precárias devido à falta de travessias adequadas, ausência de vias exclusivas ou falta de qualidade das calçadas, além do número elevado de indivíduos que andam a pé pelo leito carroçável. As calçadas com vegetação mal implantada e mal escolhida, pisos mal assentados e mal selecionados, drenagem mal projetada e mal executada, sem contar, a falta de iluminação pública que acrescenta a insegurança, todos são fatores que compõem o retrato das nossas grandes cidades hoje em dia. Além da questão da segurança que nos remete ainda ao problema da segurança no trânsito, à qual é acirrada pelos conflitos entre todos os atores entrelaçados. É alarmante a circunstância dos motoboys, os quais, em nome da velocidade da entrega de documentos e pequenas encomendas, abrem mão de sua própria segurança. Ainda existe a questão da mobilidade da carga que se torna outro agravante, seja ela de destino ou de passagem, pois, além de interferir na mobilidade dos indivíduos e na sua segurança, tem também um preço significativo sobre o produto final, impactando mais uma vez de maneira direta na vida cotidiana do cidadão. O que observamos, por fim, é uma situação complexa e caótica, agravada pelo fato de que grandes cidades, além dos seus fluxos cotidianos, expõem um fluxo 10 adicional constante, proveniente da sua condição de cidade de turismo de negócios, lazer e cultura. Cidades cuja intensidade de episódios adiciona um fluxo extra que, embora de caráter não cotidiano, interfere na mobilidade do nosso dia-a-dia. E a (i) mobilidade urbana, em contrapartida, pode,a médio prazo, interferir de forma negativa no sustento desta condição de cidade de negócios e eventos e também na sua própria condição urbanística. 1.1 Acessibilidade no sistema de transportes Na análise das condições atuais de transporte e trânsito apresentada a conclusão mais importante é que é distribuída espacialmente de forma desigual no território e consumida de forma a acessibilidade diferenciada. Deve-se partir da premissa de que a acessibilidade abrange um atributo locacional, definido como a característica ou vantagem inerente de um lugar para a superação de alguma forma de atrito. LEMOS (2011) traz uma sistematização de trabalhos empíricos que evidenciam a distribuição espacial desigual proveniente do sistema de transporte em diversos municípios, como Anápolis, Fortaleza, Petrópolis, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A distribuição espacial desigual da infraestrutura e do serviço de transporte ocorre de forma associada com o modelo de segregação espacial pautado no padrão de ocupação centro versus periferia. Esse modelo é conceituado por LAGO (2000) e VILLAÇA (2001) como a divergência no seio das populações de alta renda. A periferia é caracterizada pela habitação social e é um espaço necessário, isolado e carente de serviços públicos e privados. Segundo VASCONCELLOS (2000), a capacidade de consumir espaço é altamente desbalanceada a favor daqueles que utilizam o transporte particular como carro ou táxi, já que o carro se apropria de mais espaço nas vias de circulação e de estacionamento do que o ônibus e a bicicleta, por exemplo. 11 Esse consumo diferenciado tem implicações quanto ao direito diferenciado do proprietário de carro, já que o mesmo direito implicaria em pagamento adicional para essa modalidade. Desse modo os problemas da mobilidade urbana também estão relacionados aos seguintes aspectos: Grande variação nos tempos de deslocamento por modo. Transporte privado sempre mais rápido do que o transporte público. Tempos longos de acesso a pé ao transporte público. Integração deficiente do transporte público. Ausência ou precariedade de calçadas e ciclovias. Baixa oferta espacial do transporte público. Vias de baixa qualidade. Os tempos de deslocamento por modo se refere ao tempo necessário para chegar ao destino por meio do transporte público. Para obter o tempo de deslocamento, você deve considerar o tempo bidirecional de caminhada até o ponto de parada, o tempo de espera no ponto de embarque, o tempo de circulação do veículo e o tempo de transferência, quando existir. Os longos tempos de caminhada até o ponto de parada estão relacionados à limitada cobertura espacial das linhas e de pontos de transporte público, somada à ausência ou precariedade de calçadas e de ciclovias com destino aos pontos de embarque e desembarque. Em sistemas não congestionados, especificamente, em relação ao tempo de circulação do veículo, enquanto os carros trafegam a 60 km/h, os ônibus transitam a 20 km/h. Entretanto, apesar das limitações de velocidade dos ônibus, ocorrem muitos atrasos se devem ao prejuízo causado pelos automóveis ou a deficiências na operação dos ônibus. Na realidade diária de operação dos ônibus das cidades brasileiras, pode-se adicionar os problemas da lotação dos ônibus e da ausência de padrão previsível do tempo de espera no ponto de embarque. 12 Já a integração física que condiciona o tempo de transferência está relacionada à forma de operação do transporte público integração tarifária e à oferta de estações e de infraestrutura de diferentes modalidades. Assim, os problemas relacionados às difíceis condições de circulação dos ônibus conferem a esse modo de transporte baixa confiabilidade, o que afeta muito a sua atratividade como alternativa de deslocamento ao carro. 1.1 Acessibilidade universal Alguns autores vêm estudando os problemas de acessibilidade universal em pontos de embarque e desembarque de Recife, capital do estado de Pernambuco. DANTAS et al. (2018), ao analisarem as condições de acessibilidade universal nas estações de metrô da região metropolitana de Recife, evidenciam os seguintes aspectos: Baixa qualidade na percepção do usuário em relação à sinalização externa ao carro do símbolo internacional de acesso. Ausência do símbolo internacional de acesso e de sinalização de assentos preferenciais. Problemas nas calçadas de acesso, nos pisos, nos equipamentos de circulação (elevadores e escadas rolantes) e de controle, na disponibilidade de assentos preferenciais, no vão entre os trens e as plataformas e nos dispositivos de auxílio ao embarque de pessoa com cadeira de rodas. No trabalho de AMORIM e GOMES (2017), foi inferida a precariedade da acessibilidade em vias públicas. Na Rua de Santa Cruz, também em Recife, foram relatados problemas na inclinação da calçada, no alcance manual de telefone, caixa de correio e acionamento de semáforo e nas larguras e inclinações das rampas. O trabalho de OLIVEIRA e BARROS (2017) evidencia, ainda, irregularidades nos acessos de instituições de ensino público e privado de Brasília, especialmente na sinalização e na manutenção de calçadas. Para esse estudo, foi adotado um checklist com base nos critérios da ABNT NBR 9050/2004 para a área de circulação, 13 as condições do piso, o rebaixamento e a inclinação das calçadas e quanto à presença de obstáculos. Os problemas de mobilidade vêm sendo evidenciados e reparados por meio de soluções de acessibilidade universal estabelecidas pelas normas da ABNT. Algumas dessas normas tratam dos seguintes aspectos: Acessibilidade à pessoa portadora de deficiência, de forma segura, em trens de longo percurso (ABNT NBR 14020/1997). Padrões que visam a proporcionar à pessoa portadora de deficiência acessibilidade ao transporte em ônibus e trólebus (ABNT NBR 14022/1997). Acessibilidade nos automotores para condutores com mobilidade reduzida (ABNT NBR 14970/2003). Acessibilidade à pessoa portadora de deficiência, de forma segura, em trens de longo percurso (ABNT NBR 14021/2005). Padrões que visam a proporcionar à pessoa com deficiência a acessibilidade ao transporte rodoviário (ABNT NBR 15320/2005). acessibilidade de passageiros no sistema de transporte aquaviário (ABNT NBR 15450/2006). Critérios técnicos de acessibilidade a serem observados em todos os elementos do sistema de transporte coletivo de passageiros de características urbanas (ABNT NBR 14022/2011). Parâmetros de área de circulação, de comunicação e sinalização, de equipamentos de acessos, para dimensionamento de faixas livres, de sanitários, de vagas de estacionamento, de equipamentos urbanos e de mobiliário (ABNT NBR 9050/2004). Os problemas nas áreas de circulação consistem nos obstáculos e na indisponibilidade de largura para o deslocamento de pessoas em cadeira de rodas, seja em linha reta, em área de manobra, na área de aproximação e no alcance manual para comando de diferentes tipos de controles. Os obstáculos para portadores de mobilidade reduzida representam qualquer elemento natural instalado que impeça a aproximação, a transferência ou a 14 circulação no espaço, como desníveis, grelhas e juntas de dilatação, tampas de caixas de inspeção e visita e capachos, forrações, carpetes e tapetes. Esse problema abrange ainda a ausência de área reservada para cadeira de rodas em veículos e de áreas nas extremidades de rampas ou junto aos equipamentos de circulação e de controle de acesso, sem interferir nas áreas de circulação. As questões relacionadas com veículos individuais ou coletivos são de especial interesse para a Associação. Estes são os requisitos de condução, incluindo questões como: obstáculos dentro e fora do veículo, pisos altos, portas irregulares, sem assentos prioritários e áreas reservadas e sistemas de segurançapara cadeira de rodas. Já os problemas nas plataformas dizem respeito à interferência do posicionamento do mobiliário e a equipamentos indevidamente instalados nas plataformas na rota de acesso de transportes públicos, além da não demarcação das plataformas. Os problemas de comunicação e de sinalização abrangem a indisponibilidade de elementos como piso tátil, símbolo internacional de acesso, demarcação de ponto de parada e comunicação interna e externa no veículo, como sinalização de assento preferencial, dispositivo de segurança e simbologia de paradas. Por fim, nos equipamentos de controle e de acesso, evidenciam-se aspectos como rotas inacessíveis entre o acesso e as plataformas, considerando que pelo menos um equipamento de controle e de acesso deve permitir sua utilização por pessoas com mobilidade reduzida. Como vimos, alguns dos problemas de acessibilidade universal identificados pelas normas da ABNT também foram verificados nos trabalhos de DANTAS et al. (2018), OLIVEIRA e BARROS (2017) e AMORIM e GOMES (2017) nas cidades brasileiras, dentre eles: Problemas de comunicação e sinalização. Problemas relacionados à plataforma de embarque. Problemas nos equipamentos de controle e nos equipamentos de acesso. Problemas nas áreas de circulação. 15 2 BAIXA MOBILIDADE Os grupos caracterizados como de baixa mobilidade são os portadores de deficiência física, as mulheres, os idosos e as classes de baixa renda. Os idosos aderem mais ao transporte coletivo e às caminhadas, e os portadores de deficiência física enfrentam barreiras para acessar o sistema de transporte coletivo. Quanto às mulheres, foram identificadas deficiências no sistema de transporte público para atender a suas demandas específicas. Segundo GOMIDE (2003), as mulheres possuem padrões de mobilidade diferentes, ao conciliar o trabalho com outras atividades relacionadas às crianças e aos trabalhos domésticos. Do ponto de vista dos grupos sociais, o impacto das políticas públicas, no decorrer dos anos, privilegiou as classes altas e médias, que utilizaram o automóvel de forma crescente a partir da implantação da indústria automobilística na década de 1960. Os produtores de carros não se responsabilizaram pela segurança integral dos seus produtos. A instalação dos equipamentos de segurança era realizada apenas quando obrigada pelo governo ou para seguir regras das matrizes, conforme aponta VASCONCELLOS (2013). O usuário do transporte público também foi considerado nas políticas públicas ao longo dos anos, tendo sido atendido, inicialmente, em condições mínimas de eficiência em todas as regiões do país, com a constituição de um sistema de transporte público por ônibus urbano e interurbano. Esses usuários só vieram a ser atendidos com melhores condições de conforto e segurança a partir da década de 1990. É destacado, ainda, que os moradores das áreas rurais tiveram sua mobilidade praticamente ignorada, o que prejudicou dezenas de milhões de pessoas. Ainda conforme VASCONCELLOS (2013), ao longo dos anos, os pedestres e ciclistas foram ignorados quanto à sua forma de deslocamento. 16 A negação dos direitos do pedestre começou com a definição legal de que a construção e a manutenção das calçadas são responsabilidade do proprietário do lote, e não como parte do sistema de circulação. Essa posição começou a ser alterada somente a partir de 1997, com o Código Brasileiro de Trânsito (CBT). A inclusão da política da motocicleta, com direito a subsídios no processo de produção e venda, começou a partir de 1990. Porém, essa tecnologia já era consolidada no Brasil, representando elevado perigo, tendo sido forjada em condições altamente perigosas. (Vasconcellos, 2013). Em síntese, os principais problemas de mobilidade apresentados para os grupos sociais são: Elevada participação nos gastos com transporte no orçamento familiar, para as classes baixas. Substituição total da viagem motorizada por modo não motorizado para classes baixas, idosos, mulheres e moradores de áreas rurais. Restrição de acesso às atividades de trabalho, educação, saúde e lazer, para classes baixas, idosos, mulheres e portadores de mobilidade reduzida e de deficiência. Manutenção da situação de baixa mobilidade para todos os grupos identificados. Necessidades de mobilidade de pedestres e de ciclistas desprezadas. Deslocamento para os usuários do transporte coletivo atendido em condições mínimas de eficiência. Mobilidade do motociclista apoiada por meio de subsídios no financiamento e incentivada pela circulação em condições perigosas entre filas de veículos no CBT de 1997. Pode-se perceber que as questões de mobilidade estão relacionadas à acessibilidade dos sistemas de transporte e atividades de uso do solo e barreiras ao acesso universal. Devido ao acesso limitado às suas atividades pelo sistema de transporte público, grupos sociais identificados estão substituindo os modos motorizados de 17 transporte por modos não motorizados, restringindo suas atividades à caminhada ou bicicleta. Uma grave consequência da baixa mobilidade é a falta de acesso a serviços básicos e atividades cotidianas, o que corresponde à negação dos direitos dos cidadãos brasileiros e é fator decisivo para ampliar a discriminação e exclusão desses grupos. Conforme leciona LEMOS (2011) o desprezo pela mobilidade de pedestres e de ciclistas, as condições precárias do transporte público e o apoio à mobilidade por motocicleta em condições perigosas ampliaram consideravelmente os acidentes de trânsito, entre 1960 e 2010, o trânsito no Brasil matou 1,5 milhão de pessoas. 3 SOLUÇÕES DE MOBILIDADE Conforme leciona VICKERMAN (2000), no planejamento de transportes, as tendências apontadas na literatura abrangem a melhor investigação da natureza do problema e das alternativas de projeto, relacionadas à segurança, à acessibilidade e à integração multimodal. Pode-se apontar também como tendências a garantia de acesso ao transporte coletivo e a prioridade aos modos de transporte não motorizados, de acordo com a cartilha Mobilidade urbana é desenvolvimento urbano, elaborada pelo extinto Ministério das Cidades e pelo Instituto Pólis (GOMIDE et al., 2005). Essas tendências buscam contribuir para mitigar os problemas de baixa oferta espacial do transporte público e de ausência de calçadas e de ciclovias, respectivamente. Segundo VASCONCELLOS (2000), o incentivo ao transporte não motorizado deve se dar por meio da pavimentação, da análise da integração espacial das redes de ciclovias e da avaliação das condições das calçadas e das condições de sinalização, sendo esses dois últimos aspectos relacionados com as propostas de acessibilidade universal. Essas propostas visam a diminuir os problemas de baixa qualidade das vias por meio da integração eficiente do transporte público com o não motorizado. 18 Segundo VASCONCELLOS (2013), as medidas de bilhete único e faixas exclusivas para corredores de ônibus implantadas nas cidades brasileiras garantiram melhores condições de uso e circulação para veículos de transporte público. O mesmo vale para as medidas de acessibilidade universal, implementadas desde 2004, para as quais são apresentadas soluções nas normas da ABNT; dentre elas, podemos destacar a rota acessível, a sinalização e o livre acesso. Nas plataformas de transporte, as soluções de acesso universal estão relacionadas à garantia de uma rota acessível entre os diferentes modos integrados de transporte. Por exemplo, onde portas giratórias ou outros dispositivos de segurança de acesso são inacessíveis, entradas alternativas devem ser fornecidas para garantir que a rota seja acessível. Balcões e autoatendimento também devem ser acessíveis. Há preocupações quanto à colocação de móveis e equipamentos instalados nas plataformas,que devem ser posicionados de forma a não obstruir a via de acesso. Salas operacionais devem estar interligadas à rota acessível, como salas de primeiros-socorros, salas de supervisão e sanitários acessíveis. Nas plataformas, assentos preferenciais devem estar disponíveis, próximos aos locais de embarque e desembarque (ABNT, 2004, 2005a). Para questões de comunicação, a sinalização de emergência é usada para indicar saídas e saídas de edifícios, áreas de resgate e áreas de refúgio. O símbolo geral de acessibilidade deve indicar onde estão localizados os elementos de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, utilizados na horizontal ou na vertical, principalmente em entradas, vagas de estacionamento, áreas de embarque/desembarque, banheiros e áreas acessíveis para cadeirantes. Ainda existem símbolos direcionados as pessoas que possuem deficiência visual e surdez, as quais indicam a existência de equipamentos para pessoas com essas deficiências. Tais símbolos complementares devem ser utilizados para indicar as facilidades existentes nas edificações, como sanitários e equipamentos de circulação por exemplo: elevador, escada e rampa. A sinalização tátil no piso pode ser do tipo de alerta ou direcional; ambas devem ter cor contrastante com a do piso adjacente e podem ser sobrepostas ou integradas ao piso existente (ABNT, 2004). 19 Existe, ainda, uma preocupação quanto ao livre acesso na entrada e na saída do veículo acessível, assim como nos equipamentos de acesso a outros pavimentos. O livre acesso abrange os seguintes elementos e aspectos: Pisos nivelados (carpetes e grelhas precisam estar embutidos no piso, assim como as soleiras). Largura de portas para passagem de cadeirantes. Área adicional nas vagas de veículos motores. Áreas de manobra para a circulação de cadeira de rodas. Área reservada em veículos acessíveis. Deve-se destacar a necessidade de assentos preferenciais para idosos e portadores de outras deficiências. Os equipamentos de circulação precisam estar disponíveis para a utilização por pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, dentre eles: elevador, rampa, plataforma de elevação vertical ou esteira rolante e escada rolante. Os controles e botões devem ser acionados por meio de pressão ou de alavanca e precisam obedecer às dimensões referenciais para o alcance manual frontal e lateral de uma pessoa em cadeira de roda. Em relação ao problema da restrição de mobilidade para a classe baixa, no trabalho de VASCONCELLOS (2013), são apontadas algumas soluções em favor desse grupo. Dentre essas soluções estão o vale transporte instituído em 1985, que reduziu o impacto da tarifa no orçamento dos grupos mais carentes, e o programa federal de transporte escolar na zona rural, instituído em 2004. O problema da insegurança no trânsito está intrinsicamente associado à velocidade do tráfego motorizado, velocidade essa que deveria garantir a segurança de pedestres, ciclistas, idosos, mulheres com crianças e portadores de necessidades especiais. Existem movimentos alternativos em favor de vias de tráfego moderado ou livres de tráfego, com projetos específicos de travessias e circulação de pedestres, dentre eles a moderação de tráfego. Essa técnica, também denominada de traffic calming, tem como objetivo mudar o comportamento dos motoristas, que passam a conduzir seus veículos de 20 maneira mais lenta. Assim, com a utilização dessa técnica, as ruas passam a ser mais seguras, calmas e atraentes aos moradores e visitantes do local. Os dispositivos mais utilizados na moderação de tráfego são: As lombadas, para redução de velocidade dos carros. Os platôs elevados ou speed table, para travessia de pedestres. As almofadas antivelocidade para o veículo motorizado. Os estreitamentos de pista para os carros, em vias de mão dupla. Os canteiros centrais, para pontos de apoio ao pedestre. Segundo Esteves (2003), a aplicação desses dispositivos deve estar associada a medidas de: Sinalização, alertando que se trata de uma área de velocidade reduzida. Pavimentação, com a adoção de materiais para pavimentação com cores diferenciadas. Paisagismo, com utilização de vegetação para proteção de pedestres e absorção de ruído. Desenho urbano. Em síntese, as soluções de mobilidade urbana estão relacionadas aos princípios de acessibilidade universal, de eficiência na prestação dos serviços de transporte urbano e de segurança nos deslocamentos de pessoas princípios citados na Lei da Mobilidade Urbana (BRASIL, 2012). Trata-se, principalmente, de soluções relacionadas à acessibilidade proveniente do sistema de transporte e à acessibilidade universal. 4 MECANISMOS DE OCORRÊNCIA DOS ACIDENTES A atividade de dirigir é composta por três níveis de complexidade: navegação, orientação e controle. A navegação se alude ao planejamento e à execução de uma viagem entre uma origem e um destino, e as informações precisas podem ser alcançadas por meio de mapas, da sinalização, do conhecimento do motorista, etc. A orientação é a manutenção de uma passagem e velocidade seguros, com informações extraídas do alinhamento viário, perigos na via e em seu entorno, 21 outros veículos e pedestres que usam a via, bem como dispositivos de controle de tráfego. O controle é o nível mais fundamental e envolve a interação do motorista com o veículo, em tarefas como apressar, frear, trocar marchas e etc. Informações são alcançadas do próprio veículo e de seus instrumentos. Este último nível pode ser definido como um ciclo compensatório de feedback de ações de controle, no qual o motorista aplica uma ação de controle no veículo, monitora as implicações desta e aplica uma nova ação de controle. O motorista, assim sendo, deve ser capaz de receber e avaliar estas respostas e decidir qual é a melhor ação a ser tomada, conservando em equilíbrio o sistema de tráfego, que é de modo inerente instável. Apesar de todos os três elementos que compõem o sistema de tráfego (veículo, via e ser humano) sejam relevantes para a segurança, o elemento humano destaca-se pelo fato de ser o único que toma decisões, ou seja, ele pode avaliar as condições dos outros dois meios, bem como as suas próprias, e adaptar-se a elas. O episódio de um acidente se dá quando o equilíbrio do sistema de tráfego é quebrado. Isso acontece quando o desempenho do motorista é superado pelas demandas que o sistema de tráfego atribui sobre ele. Essa sobrecarga do sistema pode ser provocada em qualquer um dos três elementos. Por exemplo: se a via indicar um determinado limite de velocidade, mas tiver uma curva projetada com raio insuficiente para este limite, o motorista, depositando na sinalização, pode sair com o carro pela tangente da curva; se, em uma ultrapassagem em aclive, o motor do carro falhar e perder potência, pode acontecer uma colisão frontal com um veículo que se desloque no sentido oposto; se o motorista estiver sob resultado de medicamentos, seus reflexos podem estar prejudicados, podendo modificar uma situação simples, que normalmente seria contornada com facilidade, em uma circunstância de risco. A contribuição do elemento humano para esta quebra de equilíbrio pode se originar de distintas maneiras, existindo fatores diretos e indiretos. Os fatores indiretos ou de longo prazo dizem respeito às características fisiológicas, psicológicas, cognitivas e comportamentais do motorista. Estes fatores indiretos regem a fatores diretos ou de curto prazo, que se refletem em uma quebra no ciclo percepção-compreensão-decisão-ação. (BOTESSINI, 2010). 22 Na revisão da literatura, foram identificadas três classificações predominantes de erros humanos: a categorização dos erros, de Donald Norman; a classificação em deslizes, lapsos, enganos e violações, de James Reason; e a classificação em erros de habilidades,regras e conhecimentos, de Jens RASMUSSEN. Todas elas exibem alto grau de concordância, e relacionam o erro humano aos mecanismos psicológicos fundamentais. Abaixo, uma breve descrição de cada uma delas: Classificação de Orman: sequências de ações são disparadas por estruturas de conhecimento, aparelhadas como unidades de memória e chamadas de “esquemas”. A mente contém uma hierarquia de esquemas que são acionados se condições particulares ou determinados eventos acontecem. Os erros seriam originados em esquemas defeituosos, ou na ativação imperfeita de esquemas, e classificam-se em erros na formação da intenção (má interpretação da situação), erros resultantes de uma falha na ativação de esquemas (devido a condições similares de ativação) e erros resultantes de ativação defeituosa de esquemas (muito cedo ou muito tarde); (BOTESSINI, 2010). Classificação de Reason: a teoria de Norman contemplava somente deslizes. Reason incorporou lapsos, enganos e violações à sua classificação. Resumidamente, um deslize pode ser definido como uma falha de atenção, um lapso como uma falha de memória, um engano como uma falha de intenção, e uma violação como um desvio de procedimentos. É comum que estes quatro tipos de erro sejam separados em erros e violações, sendo os deslizes, lapsos e enganos classificados como erros. De tal modo, os erros permaneceram marcados como “a falha nas ações planejadas para atingir suas consequências pretendidas”, e as violações como “desvios deliberados das práticas tidas como precisas para conservar a operação segura de um sistema potencialmente perigoso” (BOTESSINI, 2010). Classificação de Rasmussen: a ação humana pode ser altamente automática fundamentada em habilidades, associativa fundamentadas em regras ou exploratória fundamentadas em conhecimento. 23 Aspectos da tarefa executada que são rotineiros pressionar pedais, trocar marchas, verificar os retrovisores serão conduzidos de maneira automática. Em um nível um pouco menos rotineiro estão aspectos que requerem identificação e resgate de respostas apropriadas armazenadas na memória conservar- se abaixo do limite de velocidade, parar no sinal vermelho do semáforo, não executar um retorno proibido. Afinal, aspectos pouco familiares e raramente localizados promovem esforço e atenção consciente descobrir um caminho alternativo quando o costumeiro estiver bloqueado. Os erros podem ocorrer em cada um desses níveis. No caso dos motoristas iniciantes, a tarefa é executada e os erros têm mais chance de ocorrer no nível do conhecimento, quando ainda não se está familiarizado com o veículo e é preciso pensar em que ações devem ser executadas. Passa-se pelo nível das regras até chegar ao nível da habilidade, quando o motorista já domina o veículo com naturalidade (BOTESSINI, 2010). Com fundamento nestas três classificações de erros humanos, além de outras menos difundidas, STANTON e SALMON (2009) sugeriram uma classificação genérica para erros de motoristas. Esta classificação é fundamentada nos mecanismos psicológicos que os autores acreditam estar envolvidos nos distintos tipos de erros. Esses mecanismos psicológicos são: percepção, atenção, avaliação da circunstância, planejamento e intenção, memória e recuperação de informações, e cumprimento da ação. Classificação de erros de motoristas Mecanismo psicológico fundamental Tipo de erro Erros de ação Execução da ação Falha em agir Ação errada Ação no tempo errado Ação exagerada Ação insuficiente Ação incompleta Ação certa em objeto errado Intenção, planejamento e execução da ação Ação inapropriada 24 Erros cognitivos e de tomada de decisão Percepção Falha de percepção Suposição errada OLHOU MAS NÃO VIU Atenção Desatenção Distração Avaliação da situação Erro de julgamento Erros de observação Memória e recordação Falha em observar Observação no tempo errado Memória Observação incompleta Avaliação da situação Observação certa em objeto errado Erros de recuperação da informação Avaliação da situação Informação lida erroneamente Informação mal compreendida Recuperação incompleta da informação Informação errada recuperada Violações Intenção, planejamento e execução da ação Violação intencional Execução da ação Violação não intencional Fonte: adaptado de STA'TO' e SALMO' (2009) Esta classificação subdivide as violações em intencionais e não intencionais, mencionando exceder a velocidade sem perceber como exemplo de violação não intencional. No entanto, isto não é coeso com a definição de REASON (1990), já que se versa de uma falha de atenção, que caracteriza um deslize, e violações são atos deliberados, ou seja, intencionais. 25 Dessa forma, não existe muito sentido no termo violação não intencional. O próprio REASON (1990) fornece uma classificação mais apropriada para as violações: violações rotineiras, violações excepcionais e sabotagens, sendo que esta última acontece quando existe a intenção de ocasionar dano ao sistema. No trânsito, um exemplo de sabotagem é a colocação de obstáculos na via para forçar os veículos a sofrerem algum dano e a pararem, de forma a facilitar a ação de assaltantes (BOTTESINI e NODARI, 2008). Posteriormente, LAWTON et al. (1997) identificaram, nas transgressões unidas ao ato de conduzir, violações ordinárias desrespeito deliberado às leis de trânsito e violações agressivas atos de hostilidade. 5 DESEMPENHO DO MOTORISTA 5.1 O comportamento humano PICCHIONI (2007) elucida em relação a legislação como sendo um produto social que visa regular não apenas os comportamentos individuais como também as relações sociais. Diante disso o que se espera no trânsito é que os motoristas não apenas conheçam, mas também respeitem as leis de trânsito, espera-se ainda que os pedestres se comportem dentro dos padrões esperados, e que as sinalizações funcionem de modo a ajudar as relações entre pedestres e motoristas. Estando a lei de trânsito localizada então no nível social e também no nível individual, cujas condutas das pessoas se manifestem de maneira a se aproximar ou se afastar das normas sociais, buscando facilitar ou atrapalhar as interações entre pedestres, motoristas e agentes fiscalizadores. Assim, embora o comportamento individual faça parte das práticas sociais, dos grupos que as pessoas se encontram inseridas, é possível se deparar com comportamentos distintos além de expectativas dentro de grupos aparentemente homogêneos. Do ponto de vista social, existe a expectativa de que as pessoas cumpram a lei e cooperam para um trânsito mais harmônico, espera-se ainda que tais indivíduos 26 respeitem todos os pressupostos que guiaram as análises técnicas tornando-se uma padronização de condutas. A relevância desempenhada pela legislação surge como um mediador importante das condutas sociais pois constroem normas que permitem uma convivência mais harmônica, cujo objetivo é de que os indivíduos, respeitem os limites de velocidade, contidos na legislação. Ao mesmo tempo, a norma, não se transforma prontamente em ação homogênea por parte dos integrantes da sociedade que estão sujeitos a ela, pois cada indivíduo, assim como cada grupo de pessoas, sujeitas à determinada norma possuem uma participação na forma como essa norma é veiculada, ou operacionalizada, percebida, respeitada, seguida, aprimorada, e essa interação é mediada pela percepção que as pessoas e grupos têm da norma. Pessoas e grupos diferentes percebem as normas de formas distintas, em função do contexto no qual estão implantados. Tal percepção da norma vai guiar as decisões acerca do comportamento dos integrantes do trânsito de maneira a aproximar-se ou afastar-se daquilo que seria desejável para a segurança de todos os integrantes. O Código de Trânsito Brasileiro, de 1997,instituiu um novo código, ou seja, um novo modelo de conduta e ainda mudou as relações entre as pessoas e entre estes e o Estado, por meio das novas regras de comportamento preconizadas em seu texto. Como em qualquer processo de revisão, fez-se necessário um período de ajuste, o que segundo CAMMI (1999), faz com que se observe que a evidência de que uma lei é boa, se dá quando ela é colocada em prática. Ao entender a conduta do motorista como resultante da interação de inúmeros fatores, é possível destacar um deles e procurar sua relação com o ato de dirigir. Para fins deste teste, foram selecionados os fatores de leis de trânsito e regulamentos específicos de velocidade, pois a velocidade está relacionada a acidentes. 27 5.2 Ambivalências da lei que incidem sobre a percepção de riscos Conforme PICCHIONI (2007) o espírito da lei tinha constituído uma diferença entre os exageros de velocidade ao classificar a infração em grave ou gravíssima, diferenciando as porcentagens do excesso (20% - para velocidades mais altas ou 50% - para velocidades mais baixas). Se antes da escola, o limite de velocidade é determinado em 30 km/h, então o motorista sabe, graças à lei 11.334, se dirigir a 3 km/h, a violação é média; se ele estiver dirigindo entre e 52 km/h, a infração será grave, e a infração será muito grave somente se ele estiver viajando fora da escola a mais de 52 km/h. Aos motoristas, pedestres e demais usuários, cabe questionar: por que o limite de velocidade é de 30 km/h? Existem mesmo riscos nessa velocidade ou acima dela? Que diferença de risco produze essa gradação das infrações? Qual o significado da diferença entre 20% ou 50% para o motorista? (PICCHIONI, 2007). Com todos esses questionamentos e sem respostas consistentes, os motoristas se julgam aptos a determinar o que é abuso de velocidade, e esses entendimentos são individualizadas e individualistas, o que atesta que para eles o trânsito é um fenômeno privado. Para o motorista, essas informações significam que o excesso de velocidade é consentido com maior margem, o que significa que “não é tão perigoso”, nem gravíssimo. Segundo SILCOCK et al (1999), 85% dos motoristas entrevistados reconheceram que excedem os limites de velocidade, e muito embora reconheçam que é ilegal, ou seja, uma infração, esses pesquisadores identificaram um limite de velocidade interno que está frequentemente, mas não sempre, acima do limite divulgado. Qual o significado de limite? Um limite frouxo já era anteriormente flexível, e agora inclui mais a categoria do acréscimo de porcentagem e gravidade direciona o comportamento seguro? Oferece segurança para os integrantes do trânsito? (PICCHIONI, 2007). Limite significa justamente exatamente, algo que não se pode exceder. 28 Desse modo entende-se que a melhor forma de incentivar alguém a obedecer aos limites existentes o limite monetário. O autor citado anteriormente questiona, o fato de não se impor aos pedestres a mesma forma de orientação, pois não inclui os riscos para os pedestres especialmente, se já ultrapassaram o limite definido de velocidades. Ressalte-se que a variação do valor inicial pelo qual se mede e anota a infração é de 68km/h nos locais onde a velocidade máxima permitida é de 60km/h, isso se deve a margem de diferença de precisão de equipamentos: velocímetros, radares, entre outros, não se trata de uma tolerância de 10% de, como supõem alguns motoristas. Mas, como um dos insumos é a informação incorreta de 10% de tolerância, o motorista não se baliza pelo limite definido em lei. Além do mais, as placas de sinalização nas vias rápidas em Curitiba traziam explícita a informação de que a multa seria grave a partir de 68km/h, aconselhando ao motorista que o limite é 67km/h, e não 60km/h (PICCHIONI, 2007). Desse modo o motorista compreende que existe uma tolerância sobre o quanto ele pode desrespeitar a lei, quando na verdade o que existe é uma disparidade de equipamentos de medição. De acordo com o que o art. 61 determina o órgão ou entidade de trânsito ou rodoviário com circunscrição sobre a via poderá regulamentar, por meio de sinalização, velocidades superiores ou inferiores àquelas estabelecidas no parágrafo anterior Independentemente do tipo de via envolvida na sobrecarga, para todas as vias: até 20%; mais de 20 a 50% mais de 50%. Tais gradações nas velocidades bem como as penalidades distintas confirmam para o motorista que existem mais riscos e menos riscos, os quais ainda que não relativos a fatores humanos ou materiais específicos, pelo menos em relação a multas distintas, por meio de multas maiores ou menores, ainda que não se tenha modificado o valor inicial a partir do qual se registra a infração. 29 6 A CIRCULAÇÃO DE PEDESTRES EM ÁREAS URBANAS A categoria de usuários do sistema viários chamada pedestres engloba crianças, adultos e idosos com suas diferentes agilidades e limitações (CTB, 1997). Os limites estabelecidos à locomoção, no entanto, podem prover de deficiências de mobilidades ou causas momentâneas, externos à aptidão física, como a condução de carrinhos de bebês, cadeiras de rodas, crianças de colo, carrinhos de compras, entre outros (ZACHARIAS, 2001 apud ARIOTTI, 2006). Devido à maior exposição dos pedestres aos conflitos com os veículos motorizados, procura-se medidas que reduzem a possibilidade de episódio de acidentes garantindo uma melhor operação do sistema. Além dos acidentes, outras circunstâncias diárias têm impacto na qualidade dos deslocamentos de pedestres. MIRANDA e CABRAL (2002) repartem essas situações em dois grupos: Fatores influentes na segurança dos pedestres – são as situações que exibem os pedestres ao contato com o tráfego de veículos. Podem abranger: Inadequabilidade das calçadas. ƒ Ciclos semafóricos inadequados. Abrigos de pontos de parada de ônibus de tamanho desproporcional em relação à calçada. Pisos inadequados e em mau estado de conservação. Travessias para pedestres em locais inadequados. Desníveis abruptos entre a calçada e as rampas de garagem. Entrada e saída de estabelecimentos comerciais mal sinalizadas. Ausência de estruturas adequadas para pessoas com necessidades especiais. Veículos estacionados indevidamente sobre as calçadas. Obras ocupando o espaço das calçadas. Outros. Fatores importantes na qualidade dos deslocamentos de pedestres – são as condições que cooperam para a redução da qualidade da circulação de 30 pedestres. Podem abranger: Calçadas com largura insuficiente. Inadequabilidade de utilização das calçadas, abrangendo a presença de vendedores ambulantes em excesso ou equipamentos comerciais, além dos limites dos estabelecimentos. Má acomodação de equipamentos urbanos. Travessias de pedestres mal projetadas ou mal sinalizadas. Escoamento das águas pluviais provenientes de marquises e calhas ou depósito de lixo nas imediações das calçadas. Outros. Fonte: ARIOTTI, 2006 Analisa-se que, embora a divisão em dois grupos, os fatores mencionados têm uma forte interface. Ou seja, um fator que afeta a segurança do pedestre também origina uma queda na qualidade do deslocamento e um fator que ocasiona a perda da qualidade, pode prejudicar sua segurança por repeli-lo do passeio, empurrando-o para a via. Contudo, ambos cooperam para inibir a circulação dos pedestres nos centros urbanos (MIRANDA; CABRAL, 2002 apud ARIOTTI, 2006). Um ambiente viário seguro e agradável envolve, basicamente, cinco elementos: A separação física de pedestres e do tráfego motorizado. O controle do fluxo de veículos e pedestre. As condições de visibilidade. A comunicação apropriada por meio da sinalização. A assistência aos pedestres com necessidades especiais. Fonte: SARKAR, 2003 Um projeto adequado das estruturas para pedestres, fundamentado nos elementos citados, podeestimular os deslocamentos a pé sem comprometer a segurança e a conveniência dos usuários (HANDY, 1996; SHRIVER, 1997). 31 Além do mais, o conforto e a segurança dos pedestres podem ser afetados por modificações operacionais, como alterações nos tempos semafóricos (GARDER, 1989; LIU et al., 2000 apud ARIOTTI, 2006). Em vista de suas características, os pedestres exibem, no ambiente viário, maior maleabilidade para circular do que qualquer outra modalidade de transporte, sobrepondo-se a todos os inconvenientes localizados em seu trajeto (CARSTEN et al., 1998; YAGIL, 2000). Para GONDIM (2001), provavelmente este seja um motivo para a desatenção do poder público em relação a estruturas destinadas aos pedestres. Apesar disso, as formas urbanas e a composição do ambiente viário exercem um efeito crucial na conduta de viagem de pedestres (CHU et al., 2003 apud ARIOTTI, 2006). 6.1 Comportamento, Percepções e Atitudes de Pedestres Na literatura, ainda é restrito o número de pesquisas em relação às percepções e atitudes de pedestres, uma vez que a segurança é a causa de maior preocupação devido ao alto número de vítimas. ROUPHAIL (1984) publicou uma das primeiras pesquisas sobre percepções de pedestres em relação à infraestrutura. Este estudo investigou a preferência e a percepção dos usuários em travessias zebradas situadas em meio de quadra. O autor constatou que os pedestres compreenderam esse tipo de travessia não semaforizada como insegura. Contudo, as mesmas travessias exibiram alto grau de conveniência para os usuários pelo fato de oferecerem menores atrasos em seus percursos (ARIOTTI, 2006). TANABORIBOON e JING (1994) reportam as atitudes de pedestres na China, com relação à adequação das travessias e a espontaneidade dos usuários em usá- las. A pesquisa comparou travessias semaforizadas e travessias altas e subterrâneas. Os autores concluíram que usuários têm maior preferência para travessias semaforizadas em nível frente às altas ou subterrâneas, apesar de as 32 condições de exibição de risco nesse tipo de travessia sejam maiores (ARIOTTI, 2006). Em meio aos trabalhos mais recentes sobre o tema, HAKKERT et al. (2002) pesquisaram os efeitos no comportamento de pedestres e motoristas da presença de um sistema luminoso para a detecção de pedestres. Este sistema foi acomodado no pavimento da via, próximo às travessias não semaforizadas. As análises foram fundamentadas em análises do tipo antes e depois. Os resultados mostraram que o número de motoristas que oferece prioridade ao pedestre que está tentando atravessar a via cresceu em aproximadamente 40%. Os autores averiguaram ainda que, com a implementação dos dispositivos de detecção, o número de pedestres atravessando fora da área da travessia suavizou em 10% (ARIOTTI, 2006). Em MICHIGAN, SISIOPIKU e AKIN (2003) analisaram as percepções e atitudes dos usuários por meio de entrevistas com pedestres e estudo de observação de imagens de vídeo. A análise observou tipos diferentes de estruturas e dispositivos para pedestres como travessias em interseções semaforizadas e não semaforizadas, travessias em meio de quadra semaforizadas, zebradas e protegidas com coberturas, barreiras físicas vegetação, blocos de concreto, pavimentação colorida e, dispositivos com a mensagem atravesse somente quando o tráfego estiver livre. Os autores concluíram que travessias não semaforizadas localizadas em meio de quadra foram à preferência de 83% dos entrevistados. Ainda, a localização relativa dos pontos de origem e destino dos usuários é o fator que mais influencia a decisão de atravessar em local adequado, obtendo 90% das respostas (ARIOTTI, 2006). KEEGAN e O’MAHONY (2003) analisaram a mudança de comportamento de pedestres após a implementar os contadores de tempo em semáforos, na Irlanda. Os resultados alcançados mostraram que o número de pedestres que começavam a travessia após a indicação de luz verde aumentou de 65% para 76%. No Brasil, não foram localizadas pesquisas com a abordagem do comportamento de pedestres em relação à infraestrutura. Em vista disto, pondera-se oportuno o desenvolvimento de técnicas que consintam avaliar como são usadas as 33 estruturas projetadas para pedestres nas áreas urbanas. A seguir são exibidos os aspectos da implantação de travessias (ARIOTTI, 2006). 6.2 Travessias de Pedestres As travessias de pedestres são elementos vitais do sistema de transporte. Travessias localizadas e projetadas adequadamente exercem duas relevantes funções (SISIOPIKU, 2000. apud. ARIOTTI, 2006): Criar a expectativa dos motoristas de onde os pedestres poderiam atravessar a via e, Incentivar os pedestres para o uso apropriado das estruturas. De acordo com o manual de segurança de pedestres preparado pelo DENATRAN (1979), a implantação de travessias deve restringir-se aos locais onde se possa garantir sua utilização correta, procurando alcançar o objetivo de aumentar a segurança dos pedestres. Portanto, se um dispositivo de travessia em nível é raramente utilizado, até mesmo nas horas de pico, os motoristas habituados a trafegar por esse ponto podem tornar-se predispostos a dirigir seu veículo sem a devida atenção, ou até mesmo sentir-se impulsionado a não obedecer à sinalização. Diante deste tipo de circunstância, um dispositivo de travessia pode transformar-se em uma armadilha, tornando o local mais perigoso do que antes de sua implantação (DENATRAN, 1979). Desta forma, a escolha do tipo de travessia e sua localização devem, basicamente, garantir a redução dos riscos de acidentes. De maneira geral, existem dois tipos de travessias em nível (DENATRAN, 1979 apud ARIOTTI, 2006): Travessias com faixa para pedestres, sem semáforo e, Travessias com semáforo, com faixa para pedestres. 6.3 Travessias com faixa para pedestres, sem semáforo As travessias com faixa para pedestres sem a presença de semáforo são aconselhadas para os locais onde a demanda de pedestres é variável no decorrer 34 do dia e a frequência de chegada de pedestres ao local é menor, intensificando-se apenas em determinados períodos. Além disso, o fluxo de veículos no local deve admitir que sucedam brechas entre veículos, de forma que os pedestres possam atravessar a via com segurança. A implantação de um semáforo em um local com essas características geraria um retardamento desnecessário para os veículos (DENATRAN, 1979. apud. ARIOTTI, 2006). No entanto, a simples implantação da faixa de segurança para pedestres representa um progresso para os usuários, uma vez que sua finalidade principal é canalizar as trajetórias de travessia, que acontecem de maneira desordena em vários pontos, para um ponto específico (DENATRAN, 1979). Legalmente, segundo o Código de Trânsito Brasileiro - CTB, 1997, o pedestre que se encontra sobre a faixa de segurança cumpre a preferência, devendo o veículo que se aproxima atenuar sua velocidade ou parar para consentir ao pedestre concluir a travessia. Este dever do condutor do veículo representa uma proteção ao pedestre. No entanto, nem sempre está obrigação ou recomendação é cumprida. Na prática, analisa-se a necessidade de uma explicação por meio de campanhas que alertem os motoristas quanto aos seus deveres e que noticiem as recomendações para o uso correto da faixa de segurança, tanto para motoristas como para os pedestres, estimulando-os a usá-la (ARIOTTI, 2006): 7 TRAVESSIAS COM FAIXA PARA PEDESTRES, COM SEMÁFORO A instalação de um semáforo em uma travessia se faz precisa em locais onde é indispensável interromper o fluxo de veículos para consentir que os pedestres atravessem a via. Também é recomendável em trechos com ampla demanda de travessia de pedestres e com a presença de faixas exclusivas para ônibus, onde pode ter dificuldades de visibilidade por parte dos pedestres.35 Embora, um semáforo é adequado quando o fluxo de pedestres que atravessa a via causa perturbações na fluidez do tráfego veicular, adicionando o retardamento dos veículos (DENATRAN, 1979. apud. ARIOTTI, 2006). Em travessias dessa natureza, o controle dos semáforos pode ser de dois tipos: Com tempo de ciclo fixo Neste caso, os momentos de verde, amarelo e vermelho para veículos e de verde e vermelho para pedestres são pré-determinados e todos eles têm sempre a mesma duração durante a operação do plano semafórico. Contudo, do decorrer do dia, por causa da variação nas condições do tráfego, podem operar distintos planos semafóricos para o mesmo semáforo. Acionado pelo pedestre Neste tipo de semáforo, o tempo de amarelo e vermelho para veículos e de verde para pedestres são fixos e pré-determinados. Os momentos de verde para veículos e, consequentemente, de vermelho para pedestres alteram, pois estes apenas são interrompidos no caso de haver demanda de pedestres para atravessar. Nesse tipo de programação semafórica, é determinado um tempo mínimo de verde para veículos de acordo com as características do fluxo de tráfego. Se o semáforo de pedestres for ativado durante o período mínimo de verde, ao final deste, será liberado o verde para pedestres. Caso contrário, o verde para veículos é contínuo. O tempo mínimo de verde determinado para este tipo de semáforo garante a fluidez do tráfego veicular mesmo se o botão do semáforo for cativado várias vezes seguidas. As travessias para pedestres com semáforo ativado proporcionam a vantagem da eliminação dos retardamentos desnecessários para os veículos nos momentos com reduzido movimento de pedestres, como os períodos noturnos. No entanto, a implantação de um semáforo acionado deve ser antecedida de análise, impedindo assim, locais com elevado volume de pedestres, onde este tipo de dispositivo funcionaria como um semáforo de tempo de ciclo fixo, tornando o equipamento obsoleto. 36 O uso dos semáforos ativados pelos pedestres foi estudada por DAVIES (1992), na Inglaterra. Os resultados dessa pesquisa mostraram que, em uma cidade de pequeno porte, mais da metade dos pedestres ingleses não usa esse tipo de dispositivo em semáforos (51%), já em Londres, o percentual de pedestres que não aciona o botão para atravessar a via foi 73%. LEVELT (1992) concretizou um estudo parecido onde verificou que, em Toulouse, na França, somente 18% dos pedestres faz uso dessa estrutura. No Brasil, não foram achados pesquisas sobre a utilização desse tipo de semáforo. 8 REFERÊNCIAS ABNT. NBR 14020: transporte – acessibilidade à pessoa portadora de deficiência – trem de longo percurso. Rio de Janeiro, 1997a. ABNT. NBR 14021: transporte – acessibilidade no sistema de trem urbano ou metropolitano. Rio de Janeiro, 2005a. ABNT. NBR 14022: transporte – acessibilidade à pessoa portadora de deficiência em ônibus e trólebus, para atendimento urbano e intermunicipal. Rio de Janeiro, 1997b. ABNT. NBR 14970-1: acessibilidade em veículos automotores. Rio de Janeiro, 2003. ABNT. 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