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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio Mesquita Filho” Campus Experimental de Ourinhos AVENIDA VITALINA MARCUSSO, 1500 – FONE/FAX (14) 3302-5700 - 33025702 CEP: 19910-206 – OURINHOS – SÃO PAULO ESTUDO DA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES DO RIO PARANAPANEMA NO MUNICÍPIO DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE PIRAJU E A IMPORTÂNCIA DO TOMBAMENTO DO ÚLTIMO TRECHO DE CALHA NATURAL DO RIO Maria Adriana de Barros Garrote Paschoarelli Orientador: Prof.ª Dr.ª Luciene Cristina Risso OURINHOS – SP NOVEMBRO DE 2012 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio Mesquita Filho” Campus Experimental de Ourinhos AVENIDA VITALINA MARCUSSO, 1500 – FONE/FAX (14) 3302-5700 - 33025702 CEP: 19910-206 – OURINHOS – SÃO PAULO ESTUDO DA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES DO RIO PARANAPANEMA NO MUNICÍPIO DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE PIRAJU E A IMPORTÂNCIA DO TOMBAMENTO DO ÚLTIMO TRECHO DE CALHA NATURAL DO RIO Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização para obtenção do título de Especialista em “Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas” ministrado pela UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Ourinhos. OURINHOS – SP NOVEMBRO DE 2012 Paschoarelli, Maria Adriana de Barros Garrote, 1967– P279e Estudo da percepção dos pescadores do Rio Paranapanema no município da Estância Turística de Piraju e a importância do tombamento do último trecho de calha natural do rio / Maria Adriana de Barros Garrote Paschoarelli. – Ourinhos, 2012. 93 f. : il., mapas, gráfs., tabs., fots. Orientação: Luciene Cristina Risso Monografia (Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas) – Universidade Estadual Paulista. Campus Experimental de Ourinhos, Ourinhos, 2012. 1. Educação ambiental 2. Pescadores – Piraju (SP). 3. Paranapanema, Rio, Bacia (SP e PR). 4. Paisagem – Proteção – Brasil. I. Título. II. Universidade Estadual Paulista. III. Campus Experimental de Ourinhos. CDD 305.96392 Dedico este trabalho ao meu amado, querido e saudoso irmão Geraldo, que tão receoso estava em atrapalhar minha vida e meus trabalhos, e que fez o possível para participar de minhas preocupações e do que é importante para mim. “ Meu querido Gê, você teve tanto cuidado conosco! Foi nos preparando para continuarmos sem você. Tive tantas lições e ensinamentos que peço a Deus para que, de fato, tenha apreendido algo verdadeiro. Vou sentir muita saudade... Você faz tanta falta! Obrigada por tudo, meu irmão. Eu te amo, agora, descanse!” “Houve um tempo em que havia um grande guerreiro: um querido, um irmão, um amigo”. A minha orientadora, a professora Luciene, que tão brilhantemente me inspirou, acreditou no meu propósito, me deu forças, me amparou e incentivou nesta caminhada. Agradeço aos meus professores: Cezar Leal, Edson Piroli, Paulo Romera, Renata Ribeiro, Paulo Rocha, Maria Cristina Perusi, Andréa Zacharias, Salvador Carpi, Jonas Nery, Rodrigo Manzione e Marcilene dos Santos, que, de uma forma ou outra, estão presentes neste trabalho. Agradeço a minha querida amiga, leal companheira, Ana Maria Padlas Strazzi, que desde nossos tempos de faculdade me incentiva, acredita em meus propósitos, cedeu-me o lugar para essa especialização e que, sei, tanto torce por mim. Agradeço aos novos amigos que fiz durante o curso, que tornaram este caminho agradável, divertido, humano e solidário. Sinto saudades! Agradeço ao meu amigo de ONG, Luís Francisco de Souza, pela prontidão no auxílio com os pescadores. Agradeço ao grande apoio de minha família: meu marido Edio, que me auxiliou durante esta caminhada, nossas conversas, trocas e a revisão da monografia, muito obrigada meu grande parceiro, companheiro de minha vida, a meus filhos Romano e Olavo, pela compreensão e apoio em minha ausência. À minha mãezinha, que, com sua humildade, respeito e grande sabedoria ensinou-me, desde pequena, os cuidados e zelo com tudo à nossa volta. Agradeço a Deus por ter permitido que este caminho fosse trilhado. “Primeiro todo homem tem que saber o que fizeram dele para não ser ingênuo e depois cada um tem que decidir o que vai fazer com o que fizeram de ti”. (Jean-Paul Sartre) SUMÁRIO SUMÁRIO ............................................................................................... 05 LISTA DE FIGURAS ............................................................................... 07 LISTA DE TABELAS .............................................................................. 08 RESUMO ................................................................................................. 09 ABSTRACT ............................................................................................. 10 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........... 12 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ....................................................... 17 OBJETIVOS ............................................................................................ 23 1. CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA ..................................... 27 1.1 Rio de águas intrépidas e velozes .................................................... 27 1.2 Características de um rio desbravado por Teodoro Sampaio no século XIX .................................................................. 28 1.3 Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos ................................ 29 1.4 O rio precisa correr ......................................................................... 32 1.5 Impactos sócioambientais causados por barramentos ...................... 35 1.6 Setor Econômico ............................................................................. 39 1.7 Tombamento ................................................................................... 42 2. CAPÍTULO II – PIRAJU, SUA IDENTIDADE, SUAS RAÍZES .............................................................................. 51 2.1 Povoamento da região do vale do Paranapanema: 8.000 anos .......... 51 2.2 Do grande rio, a Piraju Guarani ....................................................... 53 2.3 A origem, o “caminho da entrada” para a “terra sem mal” .............. 54 2.4 Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto, Vila de São Sebastião do Tijuco Preto e Piraju .................................................. 56 2.5 A polêmica de São Sebastião, o santo-patrimônio, o santo-devoção .............................................................................. 57 3. CAPÍTULO III — PESQUISA COM PESCADORES AMADORES E PROFISSIONAIS DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE PIRAJU ................................................................ 59 3.1 Da pesquisa com os pescadores ...................................................... 59 CONCLUSÃO ......................................................................................... 83 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 87 ANEXOS ................................................................................................. 92 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Salto do Piraju, local de história, de memória de Piraju .......................... ........... 11 FIGURA 2: O município da Estância Turística de Piraju – Estadode São Paulo – Brasil ............................................................................................................................... 17 FIGURA 3: Posição do Município em relação ao Estado e sua Capital ................................ 18 FIGURA 4: Gráfico perfil do rio Paranapanema .................................................................. 29 FIGURA 5: Peixe Surubim encontrado nas corredeiras do município ................................... 30 FIGURA 6: Surubim vivo ................................................................................................... 30 FIGURA 7: Surubim pirajuense, atinge mais de um metro de comprimento ......................... 32 FIGURA 8: Parque Natural Municipal do Dourado ............................................................. 33 FIGURA 9: Pescadores nascidos em Piraju e vindos da região ............................................. 61 FIGURA 10: Moram em Piraju há mais de 23 anos ............................................................. 61 FIGURA 11: Pesca amadora e profissional .......................................................................... 63 FIGURA 12: Locais de pesca na Estância Turística de Piraju .............................................. 67 FIGURA 13: Pescadores relatam a ocorrência de peixe antes e após barragem do novo Reservatório, da UHE Piraju, onde não é permitida a entrada .............................................. 69 FIGURA 14: Quanto aos pontos positivos da pesca em Piraju ............................................. 71 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Mora com quantas pessoas .............................................................................. 62 TABELA 2: Sua pesca é amadora ou profissional, desde quando ........................................ 62 TABELA 3: Quais variedades de peixes eram encontradas há 20 anos ................................. 64 TABELA 4: E hoje, quais os tipos de peixes que se consegue pescar nas corredeiras do Paranapanema ................................................................................................................ ..... 66 TABELA 5: Quais tipos de peixes que se encontra nas águas represadas.............................. 70 TABELA 6: Quais os pontos negativos da pesca em Piraju ................................................. 73 TABELA 7: O que você pensa que deveria ser feito pelos pescadores daqui ........................ 76 TABELA 8: Quais impactos negativos você reconhece como causados por usina Hidroelétrica ............................................................................................................... ........ 78 TABELA 9: Você é a favor da preservação dos últimos sete quilômetros de rio vivo em Piraju ................................................................................................................................. 80 TABELA 10: Se respondeu favorável a preservação ou não, justifique o motivo ................. 82 9 PASCHOARELLI, Maria Adriana de Barros Garrote. Estudo da percepção dos pescadores do Rio Paranapanema no município da Estância Turística de Piraju e a importância do tombamento do último trecho de calha natural do rio. Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas. – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Ourinhos: 2012. 93p. RESUMO O objetivo deste trabalho foi descrever a importância do tombamento do rio para sua preservação, a fim de oferecer um horizonte certeiro estabelecido no ecodesenvolvimento para a comunidade local. Partindo de sua própria história e cultura para, assim, se apropriar de um desenvolvimento pautado num enfoque socioambiental, onde a própria comunidade seja o sujeito transformador da mudança pretendida. Para tanto, pesquisamos pessoas que têm no rio um companheiro diário: os pescadores profissionais e amadores. Desenvolvemos a pesquisa em uma abordagem quanti-qualitativa, que nos permitiu constatar que a Educação Ambiental é determinante dentro do processo de mudança tão vislumbrado por eles. Os entrevistados sabem que o indivíduo sozinho nada consegue. Citam alguns atores sociais que agem como agente degradador da natureza, e outros que por sua vez experimentam “o processo de amor” pelo local e conservam o ambiente. O Brasil já vive a resolução de problemas com a participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade desde o final dos anos 1980. A Educação Ambiental é um processo (não apenas de um dia só) por onde os indivíduos e coletividade desenvolvem habilidades para a conservação do meio ambiente e sustentabilidade. Existe, pelos pescadores, a vontade de concretizar a mudança. Despertar o sentimento de pertença e compromisso em favor da valorização deste meio já é uma questão a ser estudada e trabalhada. Palavras-chave: educação ambiental, tombamento, pescadores, turismo 10 ABSTRACT In order to provide a solution for ecological development in the local community, these final papers aim to describe the necessity of putting the river under governmental trust, taking into considerations the History and Culture to provide a development based in a social and ecological approach, so that community can be responsible for the intended modification. To achieve this goal, the main characters of this monograph are the fishermen. During the research, it was realized that Environmental Education must be the principal point to improve their lives. The fishermen know they aren´t able to accomplish anything alone, and that it is necessary an integrated measures. Brazil has been solving environmental problems with responsible and active participation since 1980s. Environmental Education is a process supposed to last a long time, not only one day, in order that people develop abilities to preserve environment and learn the conception of sustainability. Making people love the place they belong to and wish to preserve it is a proposal that must be studied and put into practice. Keywords: Environmental Education; historic, cultural and ecological heritage; fishermen; tourism 11 Figura 1: O Salto do Piraju, popular ‘garganta’: local de história, memória de Piraju (Foto: autora) 12 ESTUDO DA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES DO RIO PARANAPANEMA NO MUNICÍPIO DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE PIRAJU E A IMPORTÂNCIA DO TOMBAMENTO DO ÚLTIMO TRECHO DE CALHA NATURAL DO RIO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Em nossa sociedade moderna, Carvalho (2011) procura focar e diferenciar o comportamento humano contemporâneo através de Arendt (1989, p.50), que distingue o ‘agir’ e o ‘comportar-se’ dos tempos atuais. Hannah Arendt critica a sociedade moderna porque constata nela progressiva perda da capacidade de agir, cuja tendência conformista e homogeneizada acaba por restringir as possibilidades de ação. Em vez de possibilitar agir e interferir, a sociedade de massas trata-os como indivíduos isolados e espera comportamentos, impondo padrões preestabelecidos e esforçando-se por “normalizar”, no sentido de padronizar a conduta dos grupos sociais. “(...) A ideia de que os sujeitos se comportam em vez de agirem tomou conta do imaginário moderno (...) O comportamento substitui a ação como principal forma de atividade humana”. E finaliza apontando que a sociedade se estrutura para normalizar condutas (CARVALHO, 2011, p. 188). O homem modifica seu meio de modo degradado, em razão da falta de aplicação de uma política ambiental efetiva, ou seja, a lei existe, mas não é cumprida. O que há, ainda, é uma política de que o homem é o centro do mundo (antropocêntrica),e, portanto, utiliza o ambiente de modo impensado, irrefletido, visando apenas às suas necessidades momentâneas (DIAS, 2001, p. 215). É preciso rever o modo de vida em relação ao planeta Terra, na relação com o lugar em que se vive. É preciso uma verdadeira mudança nos hábitos e costumes, na maneira como se lida com o que é patrimônio básico para a vida humana: a água, a terra, o ar. Há que se repensar a atitude para com tudo o que nos rodeia. Há que se frear essa maneira "inconsequente" de viver, agir como se fosse a última geração a passar pelo planeta, sem respeito, cuidado ou zelo para com o que existe à volta. É imperioso que a sociedade reflita sobre seus atos e atitudes diante da vida. Vive-se sem responsabilidades para com o mundo (BRASIL, PCN, 1998, p. 176-177). 13 O sistema sob o qual se vive determina os anseios em relação às reais necessidades. Impõe um modelo de vida de forma a não se ter tempo para tantas reflexões e, muitas vezes, ser levado a agir sem questionar e a consumir de maneira desenfreada, irrefletida, apenas para satisfazer os impulsos condicionados, que movimentam muitos interesses. É visto que, neste modelo de desenvolvimento, a energia elétrica é, sem dúvida, um dos principais alicerces, por isso, não é de hoje que a sociedade pirajuense convive com as pressões impostas pela necessidade de geração de energia elétrica. Pérez (1995) destaca a importância de a sociedade voltar sua atenção à questão ambiental, de forma bem repetitiva, como um mantra, pois as graves consequências ao ambiente podem ser sentidas e observadas no planeta todo. E discorre que em nossa sociedade, a produção é que impera como moral, sendo o consumo o motor que mantém esses valores altamente consumistas. Ele analisa que esta estabilidade e, ao mesmo tempo, rapidez para consumir, está determinando um impacto negativo ao extremo sobre o ambiente. Aponta como intrínseco da natureza humana o desejo de possuir, e que, dessa forma, somos levados a consumir produtos que muitas vezes não nos são necessários, tão somente contaminados pela poluição mental estimulada pela publicidade. E conclui: “todos os cidadãos de nosso país recebem mais de uma mensagem consumista por minuto” (PEREZ, 1995, p. 221). 1 Palomo, na Espanha, em seu prólogo a Pérez, chega a afirmar que a preocupação política pode ser verificada e está mudando até as regras dos três Setores sobre os quais repousa o equilíbrio do nosso sistema econômico: o produtor, o transformador e do consumidor (PALOMO, In: PÉREZ, 1995, prólogo). Finaliza dizendo da importância de harmonizar numa só direção filosofia e ética com as ciências empíricas, experimentais e sociais, pois, isoladas, não garantem melhora na qualidade de vida. Mudar o conceito de base do homem em relação aos demais elementos vivos e não vivos que integram a natureza. Para compreender o mundo, as ideias e os conceitos atuam como lentes da visão da realidade pela sociedade. Acontece que, por vezes, ela está tão acostumada com os nomes e imagens com as quais pensa sobre as coisas do mundo que esquece que eles (os conceitos) não são a única tradução do mundo. E sim que são apenas modos de tentar compreender a realidade à qual é inserida. Os conceitos não esgotam o mundo, não abarcam nunca a totalidade do real... Somos reféns das nossas visões e conceitos, utilizamos sempre ângulos parciais para acessar o mundo (CARVALHO, 2011 p. 33). 1 Nota da autora 14 Carvalho ressalta que, por vezes, somos reféns das lentes que mantêm maneiras de enxergar que até então tínhamos como óbvias. Ela enfatiza a importância de renovarmos nossa visão de mundo, trocando as lentes e, assim, questionar conceitos já estabilizados em muitos campos da experiência humana, de modo que haja renovação em, ao menos, alguns de nossos desígnios de vida (CARVALHO, 2011, p. 34). O conceito de visão naturalizada é aquele onde se enxerga somente a ordem biológica, boa, pacificada, equilibrada e estável em suas interações ecossistêmicas, o qual segue autônomo, sem a interação com o ser humano. E, quando mostra alguma interação, esta é apresentada como problemática e nefasta para a natureza, assim como se vê nas programações de Jacques Cousteau ou da National Geographic. As programações com essa visão naturalizada fazem parte do nosso imaginário frente ao ambiente. Carvalho descreve como um retrato a influenciar o conceito de ambiente (CARVALHO, 2011, p.35). Neste contexto onde a visão naturalista polui o ideário ambiental, dizendo ser o ambiente estritamente biológico e colocando-o em oposição ao mundo humano, essa corrente filosófica nos faz compreender ser ameaçadora a intervenção humana. Carvalho esclarece que essas são somente ideias e que não são naturais, afirma ser apenas uma maneira de enxergar e entender as coisas e conclui que existem outras lentes que resultam noutras visões. Dentro da visão socioambiental e a coevolução, Carvalho diz: Nesse ponto de vista, a natureza e os humanos, bem como a sociedade e o ambiente, estabelecem uma relação de mútua interação e co-pertença, formando um único mundo. Essa lente vai-nos possibilitar repensar a ideia de evolução, percebendo-a como interação entre a natureza e a ação das espécies que vão surgindo, particularmente a humana. Esse processo, os ecologistas chamam de coevolução (CARVALHO, 2011, p.36). Finaliza ressaltando a importância de se afirmar as trocas de lentes de uma Educação Ambiental de tradição naturalista por uma visão socioambiental, onde se consegue perceber e ver a “interação permanente entre a vida humana social e a vida biológica da natureza” (CARVALHO, 2011, p.37). É preciso perceber que o termo ecologia migrou da apenas ‘ciência biológica e ecológica’ para a complexidade da vida e organização no planeta. Então, ao significado foi 15 incorporado um contexto de preocupações e ações sociais e mostra-se questionador em relação ao industrialismo e à sociedade de consumo. Ou seja, migrou para o campo social. Carvalho (2011) procura definir as lutas ecológicas como um conjunto de ações políticas, as quais desejam uma relação de harmonia entre ambiente e sociedade e dá o nome de movimento ecológico. O qual atua na formação do sujeito ecológico. A questão ambiental é vista como uma questão social. A contribuição que esta pesquisa traz para a área profissional reside no interesse em atuar efetivamente no campo da educação ambiental, procurando desenvolver um trabalho de conscientização política e cidadã. Pérez (1995) afirma que foi a partir da Conferência Internacional de Tbilisi que começaram a surgir outras conferências, e coloca como objetivo da educação ambiental seis tópicos a seguir. Primeiramente, aponta a necessidade de se proporcionar a compreensão da estrutura do ambiente através da aquisição de conhecimentos e competências, para provocar comportamentos e atitudes a fim de se conseguir uma melhora da qualidade de vida com conservação visando ao agora e às futuras gerações. Depois, enfatiza proporcionar independências: econômicas, políticas e ecológicas, com o sentido de responsabilidade entre os países. Num terceiro ponto, acredita na modificação de estruturas, na gestão nas dimensões setoriais, regionais, nacionais e internacionais. Auxiliar na descoberta de valores que a própria comunidade não consegue perceber. Pregar uma atuante participação social com fins de se conseguir políticas e melhoras na comunidade. E finaliza os conceitos com o verdadeiro ingresso nos meios educacionais a fim de propiciar uma integração e análises críticas em relação aos conceitos pertinentes. Em relação aos conteúdos da educação ambiental, Pérez (1995) aponta os âmbitos de intervenção: Auxiliar na aquisição de mais sensibilidade e consciência com as questões à sua volta - consciência; Auxiliar, também, na compreensão básica em sua totalidade e levar a uma responsabilidade crítica através dos conhecimentos; auxiliar na aquisição de valores de interesse ambiental a fim de impulsioná-los a agirem ativa e prontamente na melhoria do ambiente - atitudes; 16 auxiliar no desenvolvimento de aptidões a fim de se conseguir resolver questões ambientais - aptidões; auxiliar numa avaliação ambiental de caráter ecológico, político, econômico, social, estético e educacional – capacidade de avaliação; através da participação, conseguir o envolvimento com responsabilidade e consciência para resolver questões ambientais - participação. (PÉREZ, 1995, p. 154). Vale lembrar que, para Arendt e Carvalho, a Educação Ambiental está muito mais voltada para o comportamentalismo do que para uma real mudança de atitude. Só se fez, até agora, comportamento, não gerou atitude. De acordo com o artigo primeiro da lei 9795/99 sobre a PNEA, entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (RISSO, 2012, p. 2) 17 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA A Estância Turística de Piraju está localizada na região Sudoeste do Estado de São Paulo, a 49º 22’ 2” de longitude e 23º 11’ 44” de latitude. Divide limites com 10 municípios: Bernardino de Campos, Óleo, Manduri, Fartura, Tejupá, Cerqueira César, Itaí, Ipauçu, Timburi e Sarutaiá. Possui área de 603 km2 e altitude de 591 m. Figura 2: Município da Estância Turística de Piraju – Estado de São Paulo – Brasil (Fonte: http://www.google.com.br/imgres) O clima é subtropical úmido, com verão quente e inverno ameno, tendendo a úmido. Em seu aspecto físico, possui relevos colinares com baixas declividades na margem direita do Paranapanema; relevos de morros com declividades médias e altas na margem esquerda; morros tabulares na microbacia do ribeirão Neblina. A vegetação caracteriza-se pela Floresta Latifoliada Tropical, isto é, a designação dada ao tipo de mata na qual os indivíduos que a constituem são dotados de folhas largas, planas (não aculiformes). Esta designação surgiu da necessidade de se adotar uma expressão mais exata, essencialmente mais descritiva, para biomas tão distintos, do que apenas pluvial, tropical, discorre Romariz (1996). Afirma, ainda, dentro da classificação da formação vegetal brasileira, que esta formação arbórea, a da Floresta Latifoliada Tropical, é a mais devastada pela ação do homem. (ROMARIZ, 1996, p. 9). Piraju, hoje, possui apenas 7,3 da sua cobertura vegetal nativa. http://www.google.com.br/imgres 18 Há manchas de cerrado na microbacia do Monte Alegre e o ponto mais elevado: morro das Três Barras, 932 m (altos da Serra da Fartura). A população urbana é de 28.475 habitantes, taxa de urbanização de 87,04%. A densidade demográfica é de 57.9 hab./km2. Possui 8.164 domicílios urbanos e 1.617 rurais (dados Fund. SEADE, 2012). Figura 3: Posição do Município em relação ao Estado e sua Capital (Fonte: IBGE, 1957) A comunidade local, de tempos em tempos, mobiliza-se visando à preservação de seu patrimônio primeiro: o rio Paranapanema. E não é de hoje a necessidade da atuação da população para determinar o caminho desejado para o futuro a ser percorrido. Enxergam a terra ainda não explorada e procuram negociar tecnologias e estratégias “salvadoras”, pretendendo esconder a cobiça (SILVEIRA, In: PEDRINI, 2010, p. 189). Em 1977 houve a luta para a não permissão da instalação de uma indústria de celulose às margens do rio. Em 1992 havia um projeto da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) que pretendia desviar o rio da cidade para produção de energia elétrica. Em 2002, a luta foi contra a instalação de uma quarta usina hidrelétrica novamente dentro do município de Piraju, mais precisamente dentro da Unidade de Conservação de Proteção Integral (UC), o Parque Natural Municipal do Dourado, o que eliminaria para sempre as últimas corredeiras naturais do rio Paranapanema — lamentavelmente, até hoje vive-se esse assédio. Mesmo estando o local protegido por várias leis municipais embasadas na lei federal. 19 O município já possui três barramentos para geração de energia e cinco usinas: a UHE – Usina Hidrelétrica Jurumirim, a UHE – Usina Hidrelétrica Paranapanema e as três PCH – Pequena Central Hidrelétrica – bem no local onde o rio corta a cidade, em um só reservatório: a barragem apresenta comprimento de 140 metros e altura de 16 metros, e abriga as seguintes usinas hidrelétricas: a PCH Paranapanema MD, a PCH Paranapanema ME e a PCH Paranapanema Nova (CSPE, 2004, p. 126 – 131). Porém, convive com o impacto de quatro reservatórios. Assim, já contribui bastante para o abastecimento de energia elétrica do país. O Paranapanema possui onze usinas hidrelétricas em todo o seu curso. O rio tem 930 km e quase toda a sua extensão já está represada para produzir energia (à exceção do início do rio). O último trecho de sete quilômetros é o que resta de calha natural. É importante preservar, porque este trecho, de aproximadamente sete quilômetros, é patrimônio ambiental do município — o tombamento foi aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Resolução 1, de 2 de agosto de 2002). (Anexo). Do ponto de vista da riqueza ecológica, os peixes necessitam das corredeiras para a época da piracema. E sem corredeiras, não há desova, e sem desova, não haverá mais a piapara, a tabarana, o pacu, a piracanjuba, o dourado, dentre outros, inclusive o surubim (espécie rara e endêmica — de 15 milhões de anos —, um peixe pré-histórico) 2 . As matas ciliares já estão estabilizadas. As diversidades ali existentes garantem não só a qualidade da água, a estabilidade do solo, mas respondem pelo sustento dos peixes e da fauna local. O tratamento do esgoto da cidade é feito através de três lagoas de decantação, desde 2007. As lagoas devem funcionar 24 horas, porém há que se questionar o seu funcionamento (trabalha apenas 18 horas?) sendo que não abrange a totalidade das residências da área urbana. São vários os bairros não contemplados: Morada do Sol, Shangrilá, Eldorado, Vila Tibiriçá, Loteamento Sérgio Garcia ficam fora do sistema. Até então, todo o esgoto era lançado "in natura" nas corredeiras do rio. A jusante da barragem central e a dois quilômetros abaixo já estava aerado e completamente diluído. A preservação do leito natural deve ser vista como prioridade, ao invés de se formar um novo lago, que, em futuro próximo, se transformaria em um imenso depósito de dejetos humanos, agravando os riscos de contaminação por leishmaniose, febre amarela, hepatite, dentre outras doenças. 2 Preservação do patrimônio ambiental porque, também no local, existe uma espécie rara e endêmica do peixe surubim – conforme laudo elaborado pelo dr. Paulo Buckup, professor Adjunto do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 27 de junho de 2002 - , pelas matas ciliares já estabilizadas, pela riquíssima fauna e flora ali existentes. 20 Ainda com relação ao esgoto da cidade, e sobre um dos patrimônios básicos para a vida, a água, pairam muitas questões a serem resolvidas. As três lagoas de decantação começaram a funcionar apenas em 2007. São apontados alguns aspectos: - avaliar o fato de o reservatório de água tratada ficar ao lado do cemitério. Em estudos em outras localidades (RIBEIRO, 2009), é possível verificar que o necrochorume (30% líquido produzido pela decomposição de cadáveres) caminha na direção de corpos d’água. E que causa inúmeros problemas de saúde; - qual é a malha do esgoto da cidade?É sabido que alguns bairros não são contemplados pela decantação, os conjuntos habitacionais dr. José Ribeiro e Sérgio Garcia utilizam fossa próxima ao reservatório e a montante da captação de água da cidade; o que se pretende fazer para sanar o problema; - acompanhar o trabalho de fiscalização da Cetesb, que publica a análise (eficácia) das lagoas de decantação em Piraju, que são lançadas ao rio; - o local onde foram instaladas as três lagoas de decantação eram pontos já catalogados de sítios arqueológicos. A compensação financeira foi injetada na Estação Ferroviária? Qual o valor? Onde foi aproveitada essa compensação financeira? - teria como utilizar os gases da estação de decantação para a geração de energia, ao invés de jogá-lo na atmosfera? - no funcionamento da decantação é liberado o gás metano. E ocorre também a expulsão do gás sulfídrico, que, quando inalado em grandes proporções, causa hemorragias internas. O que é feito para evitar que isso aconteça? Outro fator preocupante advindo do barramento é a destruição da mata ciliar, que deixa as barrancas desprotegidas. Fica a preocupação com o uso de defensivos agrícolas, fertilizantes químicos, pesticidas e queima da cana de açúcar, que vão parar no leito do rio, levando-o à destruição. Para embasamento teórico, recorremos a Silveira (2010), que faz o alerta: (...) apesar da proibição ou do uso limitado de 113 produtos agrotóxicos em vários países, 29 deles são permitidos no Brasil pela Portaria n. 10/Disad, 12/3/85. Isso é, em parte, responsável pela alta taxa de veneno na nossa corrente sanguínea, de 572,6 ppb (parte por bilhão), sendo a mesma de 43,3 ppb na Argentina, de 22,7 nos EUA, e de 14,4 ppb na Inglaterra, e por ser o Brasil o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do mundo (CUSTÓDIO, 1991). Essa contradição reflete problemas de informação técnico-científica, de interesses sociais, 21 econômicos e/ou políticos, que clamam por programas de EA e políticas públicas consequentes (SILVEIRA, 2010, p. 186). Para Bachelard (1977) embora a ciência crie a filosofia, ele fala em diálogo entre elas. E propõe a superação do isolamento da ciência com as outras áreas do saber (CASTRO, In: PEDRINI, 2010, p. 148). Esse pensamento contemporâneo nos conduz a imperante necessidade de ações integradas na resolução das questões sociais e econômicas. Vasconcelos (2010) discorre sobre essa ‘saída do campus’ das universidades brasileiras movidas pelos “contrastes de nossa sociedade... que deixa-se levar por, convocar por”(HEIDEGGER, 1979, p. 71). As atividades envolvidas pela pesquisa e o ensino da universidade resultam num compromisso social. Vasconcelos relata a análise do que foi vivido através de uma Pesquisa-Ação, pela qual, através da participação direta, se chega a um processo de transformação social. Nessa visão de projetar o futuro embasado nos estudos, ele cita FLORIAN, 1994, p. 12: “o primeiro passo para a transformação social e envolve os grupos sociais na geração de seu próprio conhecimento e na sistematização de sua própria experiência”. O turismo é o setor que mais cresce no mundo e Piraju adquiriu o título de Estância Turística em 2002. Para os interesses econômicos do município, o ecoturismo é apontado como o verdadeiro caminho. Esportes chamados radicais e competições náuticas em corredeiras também fazem parte da vocação da cidade. A história e a cultura também estariam comprometidas com a violação do rio. A região é repleta de sítios arqueológicos, todos cadastrados pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – Mae/USP. O povoamento se iniciou há 8 mil anos e seu valor histórico é, portanto, inestimável. Represar o último trecho de corredeiras descaracterizaria o rio e corromperia a história local, pois um dos significados do nome de Piraju tem origem em uma antiga aldeia, e surgiu da corruptela de Pi-rã-yú (alusão ao fundo do rio), que significa fundo nivelado, estreitado, afunilado (em Guarani). No Salto do Piraju deu-se o ato da fundação da cidade, ele representa o marco histórico, a carteira de identidade. O alagamento levaria ao assoreamento e à total descaracterização e seria extinto o marco histórico da fundação da cidade. Alegar a crescente demanda para justificar a construção de mais uma usina no município não se sustenta, pois o problema energético no Brasil é muito mais profundo, e suas 22 dimensões ultrapassam em muito a parcela que seria acrescentada. Já em perdas ambientais, históricas e culturais, essas seriam irreparáveis, simplesmente não possuem um valor que possa ser negociado, vide as lições do chefe Seattle: ... como é que pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? (DIAS, 2001, p. 516). À comunidade fica o questionamento: lagos para todo lado, energia saindo e proporcionando o desenvolvimento dos lugares mais ricos do Estado de São Paulo. E o desenvolvimento pautado no ecoturismo? Com mais o último lago possível sendo concretizado, não haverá para a comunidade pirajuense nenhuma chance de turismo de corredeiras, de esportes radicais, e de desenvolvimento através dos esportes de aventura. Seria determinar o fim de um sonho, e impor limites à sobrevivência. Lembrando sempre que essas águas geram energia elétrica desde 1937 e, ainda assim, o hospital, o asilo, o orfanato, a Apae – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - e muitas outras instituições que servem à sociedade têm de pagar a conta, e caro. Não há qualquer isenção. Não existe, até hoje, qualquer programa social efetivo voltado à comunidade. Essa visão de mundo, em que a organização só retira o que necessita e nada mais faz, quer somente as mãos e não todo o corpo do profissional, ou seja, onde não existe a responsabilidade com o local, há uma empresa "sem alma", como descreveu a revista Fortune. A instituição sofre de um inimigo interno e se espelha na frase de Henry Ford: Por que sempre fico com a pessoa inteira quando, na verdade, o que quero são apenas duas mãos? (apud A LIDERANÇA, 2000, p.10). Há que se ter responsabilidade e comprometimento sobre de onde se necessita tanto. Há que se perceber suas necessidades, olhar para além do limite das águas. 23 OBJETIVO GERAL Enfatizar a importância do tombamento do rio Paranapanema assegurando sua preservação. E, ao mesmo tempo, visualizar um possível horizonte certeiro com base sólida no desenvolvimento pautado na própria história e cultura da comunidade local, através de pesquisa com os que convivem diariamente com o rio: os pescadores amadores e profissionais. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Um dos caminhos para que a sociedade local perceba e interfira frente a suas questões mais pertinentes é o conhecimento e a informação. Com este propósito, o presente trabalho pretende ser uma contribuição sobre a necessidade de conscientização, e, ao mesmo tempo, semear a participação da comunidade na defesa das riquezas naturais, de preservação e conservação do patrimônio ambiental, cultural, histórico e paisagístico do município. Acredita-se que, ao trabalhar estas questões locais pertinentes, é possível debater essa relação de sociobiodiversidade, onde ocorre a interação das pessoas com o seu ambiente, formando cadeias produtivas de interesse local e, assim, ajuda-se tanto no conhecimento adquirido, como na atuação e interferência como cidadão, que faz parte de uma localidade, de um país, de um planeta. E, assim, atua na história de seu lugar. No momento, mais do que pensar em comprar, consumir, em desenvolvimento, é preciso pensar e atuar para a preservação e conservação da natureza. "O maior desafio para a sustentabilidade da espécie humana é ser ético em todas as suas decisões e relações" (DIAS, 2001, p. 21). Como dizo ‘Alerta dos cientistas do mundo à sociedade’, com as assinaturas de 1.600 cientistas em 18 de novembro de 1992: Se quisermos parar a destruição do meio ambiente, devemos impor limites a esse crescimento... ( ) Devemos reconhecer a capacidade limitada da Terra em sustentar a espécie humana. Devemos reconhecer a sua fragilidade....( ) (DIAS, 2001, p. 381). Para uma atuação enfática tomou-se como base a teoria humanista de Jacques Maritain (1959). A teoria humanista é uma concepção do mundo e da existência, cuja questão central é o homem. O filósofo defende que o Humanismo pode tornar o homem mais verdadeiramente humano quando manifesta sua original grandeza, quando participa de tudo aquilo de que possa, desenvolvendo “as virtudes contidas em si mesmo, suas forças criadoras e a vida da 24 razão, e trabalhe no sentido de fazer das forças do mundo físico instrumento de sua liberdade” (COBRA, 2001). O homem, em relação à natureza, não é apenas animal, mas também um animal de cultura, e sua espécie só sobrevive com o progresso da sociedade e da civilização na qual está inserido. O homem não progride em sua vida — intelectual e moral — sem a experiência coletiva (MARITAIN, 1959, p.15). MÉTODO O procedimento de abordagem do trabalho tomou como base o método Fenomenológico. A Fenomenologia tende a buscar a essência das coisas. O significado atribuído às coisas não representa a realidade, necessita desenvolver a essência delas, então é importante perceber esse movimento do homem no momento em que ele compreende as coisas, lhes empresta um significado, que parte de sua própria reflexão, vontade e consciência. Husserl propõe uma análise da consciência de forma profunda, que procure responder às questões no âmbito de sua epistemologia, de sua origem, do fundamento absoluto da lógica e da ciência (GILES, 1975, p.136). A Fenomenologia está aberta e não dentro de um sistema acabado, fechado. O método procura descrever com fidelidade os fenômenos ocorridos a partir do que se encontra antes de qualquer ponto de vista, antes de se possuir um pré-conceito. Para essa filosofia, só pode ser aceitável o que pode ser verificável e justificável e, também, ser totalmente válido para todos os homens e para todas as épocas. O fenomenólogo está voltado ao significado do que seu espírito julga, afirma e vive, diferentemente do lógico, que se preocupa com as "condições". Difere também do sábio, que se preocupa através da "pergunta", e do psicólogo, que se volta "efetivamente para a consciência" de um determinado saber. A Fenomenologia é um método em contato direto com o ser absoluto das coisas, não se trata apenas de descrever o simples 'aparecer' das coisas, mas também de formular uma teoria do conhecimento (GILES, 1975, p. 137). De retornar à estaca zero do problema para que se encontre evidência e fundamentação. Para tanto, neste projeto, buscou-se o ‘desconstruir’ o pensamento de que a utilização do potencial hidrelétrico do rio em questão traz desenvolvimento e somente gera progresso à comunidade em que está inserido, visto que o projeto desejou explicitar e desmistificar toda a questão. Pretendeu discorrer sobre os pontos 25 que cerceiam o problema para acrescentar um olhar mais apurado e assim colaborar para um efetivo ingresso nas discussões, saindo de vez do senso comum. METODOLOGIA A metodologia utilizada na pesquisa com os pescadores foi a de um questionário na forma de entrevista, com questões abertas, para que descrevessem o que realmente percebiam na relação com o rio, quais as reais necessidades, desafios e o que esperam ver acontecer. A abordagem utilizada foi quanti-qualitativa. Nome; idade; data. Mora em Piraju há quanto tempo; Profissão. Tem família? Quantas pessoas. Sua pesca é amadora ou profissional. Por quantos anos pescou como amador. Realiza a pesca profissional há quanto tempo. Quais variedades de peixes eram pescados há vinte (20) anos. E hoje, quais tipos de peixes que se consegue pescar nas corredeiras do Paranapanema. Quais os locais em que já pescou aqui em Piraju, é em barranca ou de barco. Já foi diferente a ocorrência de peixes onde foi instalada a última represa em 2002. Você pode hoje chegar perto desse trecho represado para pescar. Quais tipos de peixes que se encontra nas águas represadas. Quais os pontos positivos da pesca em Piraju. Quais os pontos negativos da pesca em Piraju. O que você pensa que deveria ser feito pelos pescadores daqui. Quais impactos negativos você reconhece como causados por usina hidroelétrica. 26 Você é a favor da preservação dos últimos sete quilômetros de rio vivo em Piraju: ( ) Sim ( ) Não Se respondeu favorável ou não a preservação, justifique o motivo. 27 CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA (...) manifestaram grande preocupação e chegaram a falar que iriam fazer muitas fotos de toda a área para mais tarde recordar como eram as suas Terras...3 (HELM, In: STIPP, 1999, p.13) 1.1 Rio de águas intrépidas e velozes O rio Paranapanema possui várias nascentes que estão localizadas na Bacia do rio das Almas, na Serra do Paranapiacaba, município de Capão Bonito, a 903 metros de altitude, ao sudeste do estado de São Paulo. Tem uma extensão total de 929 km em um desnível de 570 m, desenvolvendo-se no sentido geral leste-oeste e desenvolvimento no rio Paraná numa altitude de 239 m. Localizado a aproximadamente 100 km da costa Atlântica, com latitude 24º 51’ sul e longitude 48º 10’, acerca de 900 m acima do nível do mar (VARELLA, 2003, p. 2) A bacia está localizada dentro da fazenda Guapiara, de propriedade da empresa Orsa Celulose Papel e Embalagens, numa área de 2.884 hectares, sendo 1.229 hectares de reflorestamento. Essas terras integram a APA (Área de Proteção Ambiental) da Serra do Mar, e a mata nativa não pode mais ser tocada (ZOCCHI, 2002, p. 17). Nascente das maiores águas, sua declividade é grande e ele corre rápido sobre as pedras negras, cortando formações basálticas e solo de terra roxa. Existe mistério até em seu nome. Paraná significa rio, em Tupi, e Panema é considerado imprestável ou sem valor. “Paranapane”, ou “Parana Pane”, “Pabaquario” e “Paraquario” são alguns dos nomes pelos quais era conhecido nos anos de 1600. A questão referente ao seu nome permanece aberta, pois não foi, ainda, realizado qualquer “sério estudo etimológico”. Por enquanto, apenas especulações: para alguns, seu sufixo negativo é devido à pouca navegabilidade (porém, os índios mais caminhavam). Há, também, a questão da pouca quantidade de peixes (será que os índios comparavam rios tão longínquos?). É possível que a malária tenha feito sua (fama) rota, segundo o doutor José Luiz de Morais (ZOCCHI, 2002, p. 22 e 23). 3 Sobre a reação da tribo Kaingang, em 1995, ante a possibilidade de alagamento de suas terras, que acabou se concretizando, às margens do rio Tibagi, no Paraná. 28 Na enciclopédia “Brasil histórias, costumes e lendas”, editora Três, página 232, onde é focado o homem da Amazônia, com o título “O mundo Mágico”, é citado “... A mente do homem se povoa de panema (medo)...”. Segundo essa interpretação, ‘panema’ significa ‘medo’ na língua indígena, podendo ser um dos possíveis significados, devido à rapidez com que suas águas deslizavam sobre o basalto e também pelas inúmeras cachoeiras e corredeiras que permeavam todo o leito. Além de ser rápido, era considerado um ‘rio bravo’ quando chovia. Aspiravam ‘domá- lo’, “estudar a sua navegabilidade”, pois até 1886 era citado no mapa do Estado como lugar de “terrenos desconhecidos e habitados pelos indígenas”. Foi quando, na época, o governo da Província de São Paulo criou a Comissão Geográfica e Geológica,que pretendia mapear todo o rio, pois objetivava a “expansão das lavouras de café”. A expedição foi iniciada em 11 de abril de 1886 e, chefiada pelo americano Orville Derby. Contou com 18 práticos e 3 cientistas, liderados por Teodoro Sampaio (ZOCCHI, 2002, p. 27 e 28). 1.2 Características de um rio desbravado por Teodoro Sampaio no século XIX Teodoro Sampaio — historiador, geógrafo, etnógrafo, geólogo, engenheiro — desceu pela primeira vez as águas do Paranapanema quando ainda aqui era a Vila de São Sebastião do Tijuco Preto, no ano de 1886 – em primeira expedição científica –, e foi recebido por Major Mariano Leonel Ferreira, que o ajudou no que pode, inclusive a engrossar o seu pessoal com três índios Caiuás, do aldeamento do Piraju, que eram muito práticos e conhecedores de todo o rio (SAMPAIO, 1978, p.113). Quando chegam à Cachoeira do Jurumirim (até São Sebastião do Tijuco Preto, o rio serpenteia por 45 quilômetros, com 3 saltos e 39 cachoeiras – são 18 km em linha reta), acaba a seção desimpedida e tem início o trecho de maior dificuldade para navegação, com uma série de grandes obstáculos. Para percorrer a distância do Salto dos Aranhas até a foz do ribeirão das Araras, são apenas três quilômetros; pelo rio, o trajeto ultrapassa os 18 quilômetros. A uma légua acima da Vila de São Sebastião do Tijuco Preto até o Salto dos Aranhas (finado Salto Simão, belíssimo local que hoje está aproximadamente há 60 metros sob o lago), a descida pelo rio se efetuou com grande dificuldade, vencendo as numerosas cachoeiras. 29 Sampaio não tinha como se arriscar a descer pelas águas, preferindo vir por terra, pelas margens, até nossa Vila, pois o que se vê (via) é o trecho de um rio exageradamente, demasiadamente, excessivamente encachoeirado. Viera arrastando seus barcos até que encontrasse uma parte do rio mais praticável. Carros de bois puxavam as embarcações por terra, margeando o rio e cruzando um espigão de aproximadamente 60 metros de altura (SAMPAIO, 1978, p.112). O Salto do Piraju fica a um quilômetro abaixo da vila, é uma queda de cerca de 2 metros de alto, apertadíssima entre grandes penedos, simulando as águas correrem quase subterraneamente. Estes passos estreitos são então freqüentes: cerca de 3 ½ quilômetros abaixo do Piraju, na barra do Córrego do Campanha, todo o Paranapanema, cujo volume é de cerca de 80 metros cúbicos de descarga por segundo, passa em apertado canal de pouco mais de 6 metros de largura; mais adiante outro estrangulamento do leito entre morros escarpados reduz a largura do rio a uns 20 metros, onde há fortíssima cachoeira (SAMPAIO, 1978, p. 141). Hoje, ao contrário de seu traçado original, com o rio domado, o que se observa são lagos navegáveis, com águas calmas, paradas. Pode-se verificar que a utilização do potencial hidrelétrico leva à total descaracterização de um rio. Figura 4: Gráfico perfil do rio Paranapanema (Fonte: ZOCCHI, 2002) 1.3 Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos O Salto do Piraju, devido às corredeiras, possui em suas águas importante diversidade de peixes: a tabarana, a piapara, a piracanjuba, o pacu, o dourado, sendo este último, o peixe símbolo da cidade. Ocorre também o surubim, que nesta parte do rio é encontrado com abundância. O que o torna diferente dos outros é que é um peixe raro, endêmico, ou seja, que só existe ali e em nenhum outro lugar. Vive nas corredeiras do Salto do Piraju há 15 milhões de anos, é um peixe pré-histórico e já consta na lista de animais ameaçados de extinção, sem mesmo ter sido catalogado pela ciência, conforme laudo expedido pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 30 Figura 5: O peixe Surubim, espécie rara encontrada nas corredeiras do Paranapanema em Piraju (Foto: Alberto Yamaguchi, 2007) O surubim pirajuense pertence à família Pimelodidae, ao gênero Steidachneridion, e foi provisoriamente identificado como representante da espécie Steindachneridion Scriptum, cuja identificação é de caráter provisório, pois trata-se de material muito raro em coleções ictiológicas, espécie ainda desconhecida para a ciência. Ele possui a cabeça achatada, como o fundo do rio, nivelado, estreitado. A existência da espécie na bacia do Paranapanema enfatiza a necessidade de se tomarem medidas conservacionistas de forma a preservar os trechos de corredeira do rio visando evitar a possibilidade de extinção de uma espécie de excepcional valor biológico antes mesmo de sua descrição formal... sendo necessário, portanto, a manutenção deste tipo de ambiente para a sobrevivência da espécie ( BUCKUP, Laudo de 27 de jun. de 2002). Figura 6: Exemplar de Surubim capturado, e ainda vivo, em pescaria noturna (Foto: Luís Francisco de Souza, 2009) 31 O exemplar foi examinado pelo professor Alberto Akama, mestre em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, e depois foi registrado na Coleção Ictiológica do Museu Nacional do Rio de Janeiro, catálogo n.º MNRJ 22742. Esse surubim é “muito importante” para a ciência. Trata-se de uma espécie do gênero Steindachneridion, bagre da família Pimelodidae, considerado muito raro, ainda pouco se sabe, pois é uma espécie de difícil captura, que só vive em corredeiras. É preciso realizar mais estudos, pois pode se tratar de uma das duas espécies que aparentemente existem nesse rio, e apenas uma delas, a Steindachneridion scripta, já foi descrita pelos cientistas, em 1918. O surubim pirajuense é uma espécie de peixe de couro que se diferencia dos que ocorrem no Pantanal, na Amazônia e no Rio São Francisco – estes pertencem ao gênero Pseudoplatystoma. Possui um colorido reticulado muito bonito no dorso — de onde advém o nome scripta; por possuir a cabeça achatada, é indício de que habita o fundo do rio (pois o relevo do Paranapanema é estreito, como um funil). Se parece com um jaú alongado e de cabeça chata. É um dos maiores peixes do rio, seu porte, quando adulto, pode atingir até um metro de comprimento e mais de quinze quilos. Foram encontrados fósseis desse gênero na região de Tremembé, São Paulo. Sua idade é calculada em 15 milhões de anos, aproximadamente. Segundo o professor Akama (anexo), embora o surubim tenha resistido milhões de anos, hoje o homem é a sua mais séria ameaça, pois esta espécie se encontra “extremamente ameaçada de extinção”, e as corredeiras estão localizadas em regiões densamente povoadas, onde os rios sofrem com a poluição e, principalmente, são barrados para a produção de energia elétrica. Ato contínuo, seu habitat é destruído, não sendo mais possível o ambiente propício para sua existência, pois essas espécies nativas dependem de corredeira para sobreviver. Sua reprodução e seus hábitos são ainda pouco conhecidos. Sua cabeça deprimida (achatada) é que indica o fundo do rio como seu ambiente. Outro ponto é que esta espécie era relativamente comum nos rios em que ocorria. A eliminação das corredeiras significa a extinção da espécie. Fica a pergunta do que é mais importante preservar, se é o habitat ou a espécie. Na realidade, quando conservamos o ambiente natural, todas as espécies ficam protegidas; e mais, 32 conservar o habitat é a única possibilidade de efetivamente se conservar espécies (ROCHA et al., 2002. p. 255-267). Para Buckup (2002) esse espécime de surubim deve ter assegurado seu habitat natural para que haja a sobrevivência de sua espécie, pois sua raridade já está definida. E assim possibilitar estudos que possam melhor delimitá-la. Pois há muitos ictiólogos que não estão satisfeitos com a delimitação proposta por Garavello (2005). Acredita-se que ele possui características distintas das do gênero em que está descrito, o Steindachneridion scriptum. Figura 7: Vasculhando o fundo estreitado do rio Paranapanema há 15 milhões de anos, o Surubim pirajuense ainda carecede estudos mais aprofundados (Foto: Euclides Firmino de Souza, 2000) 1.4 O rio precisa correr O Paranapanema passa por 34 cidades, onde vivem mais de 530 mil habitantes. E é o maior rio não poluído do estado de São Paulo. Possui um dia especial de comemoração só para ele: o “Dia do Paranapanema” é comemorado todos os anos em 27 de agosto. Foi instituído pela lei 10.488, promulgada pelo então governador Mario Covas em 29/12/1999. O rio Paranapanema é o maior patrimônio natural da Estância Turística de Piraju. Juntamente com ele, as matas fornecem o equilíbrio perfeito ao ambiente. Seu trecho de calha natural também contempla o antigo Posto Agropecuário Municipal, hoje Parque Natural Municipal do Dourado, Unidade de Conservação de Proteção Integral – UC – através da Lei Municipal n° 2634/2002, embasada na Lei Federal n° 9.985, de 18/07/2000, que define as 33 unidades ambientais basicamente em função dos atributos físicos e da biodiversidade, sempre com vistas à preservação ou conservação ambiental. Figura 8: Pesca de lazer no Parque Natural Municipal do Dourado, Unidade de Conservação de Proteção Integral (Foto: Fernando Franco, 2010) O represamento do rio causaria a extirpação e o alagamento dessa vegetação ciliar de mata atlântica. No local existem matas ciliares já estabilizadas, inclusive muitas em estados avançados de regeneração. Sendo cortadas e novas plantadas, nunca se atingiria o estado de regeneração que a mata já atingiu até o momento. Esse trecho natural é único (CHEGA DE USINA, 2003). As matas ciliares são responsáveis pela manutenção da qualidade da água, pela estabilidade do solo, evitam a erosão e o assoreamento do rio e também respondem pelo desenvolvimento e sustento dos peixes e da fauna local. Quando se faz o reflorestamento da margem de uma represa, o que se perde não são só suas matas, mas a diversidade de espécies existentes. Sem a fauna, o local sofrerá da Síndrome da Floresta Vazia, onde há o esvaziamento da fauna, e sem animais há o empobrecimento da biodiversidade, e isso possui consequências para toda a floresta. Como se dará o reflorestamento natural tão vital numa floresta? Há quem compara floresta vazia a uma cidade sem crianças e afirma que funciona somente agora, mas, e no futuro? (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, set. 2012). 34 As mudas produzidas em cativeiro pertencem a espécies de uma mesma família. A perda é grande e em vários pontos. O rio fica desprotegido até que suas mudas possam crescer, e isso levará quatro ou cinco gerações. Até lá, o rio terá suas águas cada vez mais rasas. À mercê do assoreamento, que significa a escassez dos recursos hídricos, à mercê de contaminações da água pela atividade agropecuária (adubos e defensivos) e industrial, e também a questão do esgoto. Atualmente, um pássaro que sai de sua região e chega até as matas da beirada do rio carrega em suas penas uma semente diferenciada, o que garante a variedade de vida existente. As espécies animais são vitais para a diversidade. Com a destruição da mata ciliar, a polinização ficará comprometida, pois não haverá pássaros. E a diversidade estará comprometida por décadas. Quanto aos mamíferos retirados, a grande maioria acaba morrendo na captura ou logo após, por sua dificuldade de adaptação ao novo meio, ou por se tornarem presa fácil. De acordo com publicação da empresa Duke Energy (2008), a área alagada por barramentos para geração de energia elétrica nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais ultrapassa um milhão e duzentos mil hectares, e abrigam 40 grandes hidrelétricas. A organização deste complexo gerador de energia foi imperiosa e absolutamente necessária. Mas, ao mesmo tempo, é absolutamente incontestável admitir que o barramento dos rios com fins hidrelétricos descaracterizou províncias faunísticas, ameaçando a conservação e a biodiversidade da ictiofauna das várias regiões brasileiras, em particular do Sul e Sudeste (DUKE ENERGY, 2008, p.6). O rio Paranapanema possui onze aproveitamentos hidrelétricos por todo o seu curso. São eles: Jurumirim, Piraju, Paranapanema, Chavantes, Ourinhos, Salto Grande, Canoas II, Canoas I, Capivara, Taquaruçu e Rosana (DUKE ENERGY, 2008, p.4 – 10). Piraju é uma das cidades mais ‘usinadas’ do mundo (CHEGA DE USINA, 2003). A região possui quatro hidrelétricas em pleno funcionamento: as gigantes Jurumirim (98 MW) e Chavantes (414 MW), Paranapanema (32 MW) e a recém-construída Piraju (80 MW). Para a instalação desta última usina foi desmatada uma área de 295 hectares, o que representa mais de 300 campos de futebol, com 14 mil árvores de grande porte cortadas. 35 A construção das barragens, entretanto, com o surgimento de grandes e sucessivos lagos onde havia apenas um curso d’água, trouxe profundas alterações no regime hídrico e no ambiente em volta. Os grandes reservatórios – Chavantes, Jurumirim e Capivara – trouxeram modificações maiores: são lagos nos quais as águas ficam até 450 dias antes de sair (ZOCCHI, 2002, p.72-74). Com essa intenção de barrar todo o rio, resultará um grande ‘lagoão’, onde todo o ecossistema será alterado. O velho rio terá sido extinto, e em seu lugar existirão sucessivos lagos, onde a água ficará parada por pelo menos um ano e meio. Uma das consequências mais conhecidas dos barramentos é a modificação no teor de oxigênio. Nas épocas de estiada, a água acaba permanecendo por mais tempo no reservatório, ocasionando anoxia - carência de oxigênio. Nesse período, essa água sem oxigênio prevalece sobre a água do vertedouro, que, ao contrário, é rica em oxigênio – aquela que passa por cima da barragem, o que determina dois fluxos bem diferentes, um rico e outro pobre em oxigênio. Está comprovado que esses fluxos só irão se misturar por completo 40 quilômetros rio abaixo. Imaginem as alterações produzidas na biota aquática (DIAS, 2001, p. 290-291). Essas modificações, inclusive na qualidade da água, transformam o habitat natural de seres vegetais e animais. Um dos peixes que dependem da mata ciliar para sua sobrevivência é o piracanjuba, que se alimenta de folhas e frutos das árvores e de insetos. Hoje, o sol e o fitoplâncton (parte vegetal, organismos sem poder de locomoção) passaram a ser a fonte de alimentação da fauna aquática, dada a interferência dos reservatórios, por conta do desmatamento da floresta e da distância das margens, que, de 100 metros passou a cinco quilômetros (ZOCCHI, 2002, p. 82). A formação de mais um lago também compromete seriamente o desenvolvimento e a sobrevivência destas espécies. Portanto, considerando a nova ordem ambiental mundial, torna- se imprescindível preservá-lo. 1.5 Impactos socioambientais causados por barramentos No caminho do desenvolvimento, seja de uma localidade ou de um país, não cabe mais atuar de forma impensada e insensata. É preciso analisar todas as alternativas antes de fazer a natureza pagar o preço, ante o momento de intenso consumo e degradação enfrentado pelo planeta. 36 São muitos os impactos que sofrem o meio ambiente e a comunidade quando da utilização do potencial hidrelétrico de um rio. A forma descontrolada de uso dos recursos naturais pode levar a graves e profundos problemas ambientais. É preciso saber, estar atento para com o que se perde, e assim verificar as extensões dos danos (STIPP, 1999, p. 93). Os meios físicos, bióticos e socioeconômicos sofrem intensas e irreversíveis alterações. É importante enfatizar o artigo de Ross (1999, p. 24-27), Hidrelétricas e os impactos sócioambientais, em que discorre sobre os efeitos das barragens ao ambiente nas fases de construção, de enchimento e operação do reservatório e término da construção. Na fase de construção, os impactos diretos no meio físico-biótico iniciam-se com os desmatamentos para a abertura de estradas, instalação de canteiros de obras, alojamentoe vila residencial, e terraplenagem para instalação das obras de apoio: cortes e aterros, interceptação de drenagem e alteração das cabeceiras ou bacias de captação. Há também o prejuízo ambiental provocado pelos serviços de construção dos diques e barragens no leito principal e nos pontos de fuga de água; extensas áreas de empréstimo – abertura do canal de desvio do leito fluvial; cortes no solo e na rocha; grande volume de rejeito de fragmentos de rochas e de material de alteração que não se prestam ao uso em aterros. E observa-se, ainda, a intensificação da atividade de caça e pesca nos arredores do empreendimento, que pode levar ao desaparecimento local de espécies animais. Especificamente no âmbito socioeconômico, os efeitos da obra provocam alterações marcantes no perfil da comunidade atingida. A acentuada demanda de mão de obra para construção civil implica na inserção de um contingente expressivo de homens, procedentes de outras regiões, à população local — tal migração potencializa o surgimento de focos de prostituição. O repentino aumento populacional favorece o surgimento de moradias precárias e favelamento. O comércio legal é incrementado pelo crescimento do consumo, mas o comércio clandestino também se intensifica. A mão de obra local é parcialmente absorvida para serviços de serventes e auxiliares, mas a construção atrai a mão de obra agrícola, o que reflete nos números da produção agropecuária da região afetada. Vale ressaltar outras consequências da fase de construção, como a interferência na procura por escolas, professores, serviços médicos e hospitalares, a mudança nos hábitos sociais da população local, conflitos entre residentes e novos moradores, aumento nos preços de mercadorias e serviços, maior volume do tráfego (circulação mais intensa de veículos de 37 serviços e de transporte urbano), deficiência na infraestrutura para atendimento da nova demanda — água tratada, esgotos, energia, habitação, escolas, hospitais. A fase de enchimento e operação do reservatório provoca outra série de impactos diretos no meio físico-biótico: toda a área a ser inundada precisa ser desmatada; extensas áreas de terras férteis são ocupadas pela água; um volume considerável de biomassa vegetal é eliminado; a fauna terrestre e as aves são afugentadas ou mortas; o regime fluvial do rio sofre alterações; a vazão é regularizada; o meio aquático, antes de água corrente, passa a lacustre (água parada); há modificações na qualidade da água e dos peixes; recursos minerais que poderiam ser aproveitados no futuro são submersos; o aparecimento de extensos remansos de águas rasas possibilita o assoreamento e a proliferação de insetos; a comunicação terrestre fica dificultada pelo surgimento de áreas de península e ilhas; as margens são afetadas por deslizamentos e erosão; o nível das águas sofre ressecamento ou rebaixamento. Igualmente nesta fase, não há como ignorar os impactos diretos no meio socioeconômico: populações ribeirinhas rurais e urbanas são desalojadas; bens de valor cultural, afetivo e religioso sofrem interferência; sítios arqueológicos são inundados; em muitas regiões, populações nativas e aldeias indígenas são desalojadas; com a inundação das terras agricultáveis, a pequena propriedade rural torna-se economicamente inviável; a circulação e a comunicação entre comunidades vizinhas ficam dificultadas pela formação do grande lago; muitas famílias de origem rural sofrem desestruturação quando são transferidas para áreas muito distantes; criam-se condições para a concentração fundiária em regiões caracterizadas por pequenas e médias propriedades rurais; ocorre um falso “boom” de desenvolvimento local, que caminha para o esgotamento com o fim da construção e a entrada em operação. Com o término da construção, outros impactos são observados, especialmente de ordem socioeconômica: acentuada liberação da mão de obra temporariamente absorvida no decorrer das obras (desemprego); a economia local é abruptamente desaquecida, com reflexos negativos imediatos, como a ociosidade ou subemprego da mão de obra local, queda do nível de renda, desocupação de grande número de residências. Concluída, a obra também deixa um saldo indesejável no setor de infraestrutura, com equipamentos ociosos e o esvaziamento demográfico provocado pela forte emigração urbana. É importante insistir na análise das observações de Stipp (1999, 89-94) a respeito dessas mesmas transformações: 38 As transformações no meio físico: • Alterações climáticas: mudanças no clima local, variação da umidade relativa do ar, alterações no comportamento do ciclo de chuvas; • sismicidade induzida: técnicas utilizadas durante a obra (explosões, uso de maquinário pesado), desmatamentos e alagamentos podem intensificar a ocorrência de terremotos de uma região; • elevação do lençol freático: com o aumento do nível da água a montante das barragens, cresce também o nível do lençol freático, o que pode levar à sua contaminação e o consequente comprometimento da qualidade da água; • assoreamento do reservatório: devido ao desmatamento das barrancas, o acúmulo de terras no fundo do reservatório leva a um lago cada vez mais raso, o que dificulta também a oxigenação da água; • retenção de nutrientes no reservatório: o represamento provoca a retenção de nutrientes pela barragem, o que, a jusante dela, implica em uma carência desses nutrientes, obrigando os proprietários de terras a realizar correções de solo para compensar as perdas dos minerais retidos nas áreas inundadas; As transformações no meio biótico: • alterações na composição da fauna: a vida dos peixes não é a mesma quando um rio se transforma em lago, é difícil a adaptação neste novo habitat de águas paradas, o que gera a extinção de várias espécies originárias de corredeiras; Os ovos dos peixes em geral morrem no fundo do reservatório, pois afundam à grande profundidade, a falta de correnteza deixa espécies como pacus com muita gordura, e eles precisam do esforço físico da migração, que queima a gordura, para desenvolver o ovário, as barragens amortizam as mudanças no regime hídrico que detonam o gatilho da reprodução, como o aumento da temperatura (ZOCCHI, 2002, p. 80). • interrupção da migração dos peixes: não há como o peixe ‘pular’ a montante através da escada da barragem para peixes e depois trilhar o caminho de volta, ou seja, o peixe não 39 consegue localizar os degraus no meio da represa para sua descida, acarretando assim o despovoamento a jusante do rio; • mortandade de peixes a jusante durante o enchimento do reservatório: com o fechamento das comportas, a vazão a jusante diminui drasticamente, impossibilitando a sobrevivência das espécies nativas de corredeiras; • deslocamento de animais durante o enchimento: a fauna é toda retirada e inserida em novo habitat. O que na realidade ocorre é que nem todos são retirados, e os poucos que o são, ou morrem devido ao estresse da locomoção ou por não conhecerem a nova morada, tornando-se assim presas fáceis. As transformações no meio socioeconômico: • disseminação de doenças: a água parada do reservatório é um estímulo ao aparecimento de vetores de doenças de propagação hídrica, o que se constitui em um dos mais graves e custosos problemas para a sociedade, o aumento de doenças como leishmaniose, febre amarela, dengue, diarréia, cólera, hepatite; • elevação de preços de terras e residências: aumento do custo de vida para a população local (aluguéis, compra de imóveis rurais ou urbanos); • desaparecimento de prédios e sítios de valor cultural arqueológico e estético: a total eliminação de locais históricos e culturais, descaracterização do rio, inundação de importantes sítios arqueológicos, descaracterização da paisagem cênica e do lugar são alguns dos prejuízos. Todos esses impactos decorrentes da utilização do potencialhidrelétrico apontam para a imperiosa necessidade de evitar essa homogeneização, também do rio; essa transformação do ambiente acarretaria um ponto final no desenvolvimento para a localidade. Toda a comunidade estaria condenada a sobreviver sem perspectivas reais de expansão e crescimento econômico. O lugar de memória, de história e de cultura desapareceria para sempre, juntamente com o surubim pirajuense e também todas as outras espécies de fauna e flora. Desamparada ficaria a própria história do local, culminando no esquecimento e na extinção de todas as origens e identidade do cidadão pirajuense. 40 1.6 Setor econômico “Nuestro planeta puede satisfacer las necesidades de la humanidad, pero no su ambición” Gandhi ( PÉREZ, 1995, p.221) No dia 8 de julho de 2002, Piraju conquistou o título de Estância Turística. O grande sonho só foi possível devido ao potencial natural que a cidade possui. Esse título é fruto da vontade política e denota também que o desejo de desenvolvimento da população está diretamente relacionado com o rio, o rio de corredeiras, dos esportes de aventura capazes de atrair e conquistar turistas de muitas regiões do Brasil e do mundo. A pista de slalom (esporte de corredeira) que funciona no Salto do Piraju é classificada por atletas e treinadores entre as de maior grau de dificuldade em todo o país, uma raridade para a prática do slalom, de acordo com os aficcionados desse esporte. O auxiliar-técnico da Seleção Brasileira de Canoagem, Odilon Dias, afirma que o local representa uma das três melhores pistas de slalom-canoagem com obstáculos do Brasil. Dias elogia o trecho de corredeiras do rio Paranapanema em Piraju pela qualidade das águas e pela privilegiada beleza paisagística ao redor. As trilhas na mata ainda são pouco difundidas e exploradas. O turismo ambiental do município é caminho certo e lucrativo. Crescimento sustentável através do turismo ecológico. Barrar o último trecho vivo do rio em Piraju significa pôr fim às expectativas de crescimento e geração de emprego para a cidade, pois a recém-inaugurada usina Piraju gerou durante sua construção apenas 350 empregos temporários, que já não existem mais. É importante salientar que o município de Brotas/SP, com aproximadamente 20 mil habitantes, possui um rio de corredeiras e fatura anualmente mais de 4 milhões de reais com o turismo profissional e qualificado. Hoje, funcionam em Brotas 14 agências de turismo, dentre elas a pioneira “Mata’Dentro”. Piraju necessita das corredeiras para implementar efetivamente o turismo. A sociedade é soberana para decidir sobre seu destino. Cabe à população decidir, visto que o represamento ocuparia somente terras do município, e não deixar ser decidido por pessoas de fora, que não vivem aqui e que estão aqui somente com vistas ao lucro. 41 Há que se destacar também que a cidade possui um rio de onde provém a utilização de potencial energético particular e, ainda assim, as entidades filantrópicas que atendem à sociedade local, como Apae, asilo, hospital, escolas, não são isentas do pagamento da conta de luz. Tampouco existem outros programas sociais de relevância para a comunidade. De acordo com informações apresentadas pelo atual prefeito de Piraju, Francisco Rodrigues, durante reunião realizada na Câmara Municipal, em outubro de 2005, a cidade recebe aproximadamente 75 mil reais mensais de royalties por suas áreas represadas. Somente a conta de luz do município (90 mil reais) ultrapassa esse valor. Os impactos negativos gerados pela utilização do potencial hidrelétrico jamais poderão ser sanados diante da falta de perspectiva de crescimento da cidade, haja vista que esse tipo de empreendimento não traz desenvolvimento para o local em que é gerada a energia, sem mencionar o fato de que, com o tempo, tudo tende a se agravar. As indústrias brasileiras pagam apenas a metade da conta de luz, e é exatamente onde ocorre o maior índice de desperdício, gastam sem consciência. Se o setor industrial pagasse o mesmo que os consumidores domésticos pagam, já haveria racionamento, porque teria de economizar, uma vez que são as indústrias as maiores consumidoras de energia elétrica do país (STIPP, 1999, p. 90). No Brasil, 17% da energia elétrica gerada são desperdiçados, devido também à má conservação dos fios e cabos da rede de distribuição. Somente nas indústrias, o desperdício é de 25%. Lâmpadas acesas sem necessidade, equipamentos antigos, banhos demorados e máquinas desreguladas são os principais responsáveis pela perda de 5 bilhões de dólares por ano. Oito mil dólares é o preço para se instalar um novo chuveiro elétrico e, no mundo, somos a única nação a utilizá-lo (DIAS, 2001, p. 529). A energia eólica, por exemplo, gerada pelo movimento do ar (vento), é considerada a forma mais limpa para se conseguir energia elétrica. Vários países já vivem esta realidade, dentre eles, Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Índia e Espanha, que são os pioneiros na utilização da energia eólica para uso comercial e industrial. Registram, inclusive, uma expansão de 66% em relação ao ano anterior. A energia eólica já é utilizada também no nordeste brasileiro, no litoral do Ceará, onde aproximadamente 160 mil pessoas são beneficiadas. Outros estados trilham pelos mesmos 42 rumos do Ceará nesta empreitada: Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco e a Ilha de Marajó, no Pará. O Brasil tem excelente potencial eólico, de acordo com estudos atualizados. Portanto, é viável a produção de eletricidade a partir da energia dos ventos. Essa forma de captação concorre com as centrais hidroelétricas, termoelétricas, nucleares e, ainda, com baixo custo. Mas, também no Brasil, as grandes empreiteiras, construtoras de hidrelétricas, fazem lobby contra essa forma de energia (DIAS, 2001, p. 59). A construção de novas hidrelétricas causa violentos danos ambientais. É necessário estar atento e refletir sobre a necessidade de desenvolver nossa eficiência energética. Acabar com o desperdício através da mudança de hábitos, utilizar equipamento que faz o mesmo trabalho com menos consumo de energia e, principalmente, investir e utilizar formas alternativas de energia, a solar, a eólica, a geotérmica e a biomassa (com manejo) (DIAS, 2001, p. 529-530). É importante destacar que no Brasil ainda não se investe o suficiente em pesquisas sobre fontes alternativas de energia. Este seria o papel a ser desenvolvido pelas universidades brasileiras, colocando toda a sua infraestrutura – e também seus pesquisadores, professores, técnicos – a esse serviço. As universidades devem estar a serviço da melhoria das condições de vida da comunidade em que está inserida (STIPP, 1999, p. 91). 1.7 Tombamento Piraju iniciou sua história com o movimento ecológico nos anos 1970, em pleno regime militar, quando houve a mobilização de toda a comunidade (abraçada inclusive pelo setor público), por todo o vale do Paranapanema contra a instalação de uma indústria multinacional de celulose e altamente poluidora nas margens do rio Paranapanema. Em 1978, Piraju foi palco da “Carta do Vale do Paranapanema” (anexa). Este documento acabou se tornando objeto de manifesto de repúdio devido à insistência da empresa Braskraft em se instalar na cabeceira do rio, em Angatuba. Não conseguiu implantar seu projeto, pois um sistema antipoluidor custaria 40 milhões de dólares. Batalha vencida, chegamos aos pilares da lei nos anos 1990, através da Lei Municipal 1752, de 24 de julho de 1992, com a criação do Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural. Este conselho (consultivo, deliberativo) é habilitado para propor, estimular e 43 fiscalizar a execução das políticas municipais referentes a questões tanto ambientais quanto às relativas ao patrimônio cultural. De acordo com o Parecer Técnico do CTMAPC.SISMMAP (2006),
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