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MONOGRAFIA-FIM

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio Mesquita Filho” 
Campus Experimental de Ourinhos 
AVENIDA VITALINA MARCUSSO, 1500 – FONE/FAX (14) 3302-5700 - 33025702 
CEP: 19910-206 – OURINHOS – SÃO PAULO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO DA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES DO RIO 
PARANAPANEMA NO MUNICÍPIO DA ESTÂNCIA 
TURÍSTICA DE PIRAJU E A IMPORTÂNCIA DO 
TOMBAMENTO DO ÚLTIMO TRECHO DE CALHA 
NATURAL DO RIO 
 
 
 
 
 
 
Maria Adriana de Barros Garrote Paschoarelli 
 
 
 
 
 
 
 
Orientador: Prof.ª Dr.ª Luciene Cristina Risso 
 
 
 
 
 
 
 
 
OURINHOS – SP 
NOVEMBRO DE 2012 
 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio Mesquita Filho” 
Campus Experimental de Ourinhos 
AVENIDA VITALINA MARCUSSO, 1500 – FONE/FAX (14) 3302-5700 - 33025702 
CEP: 19910-206 – OURINHOS – SÃO PAULO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO DA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES DO RIO 
PARANAPANEMA NO MUNICÍPIO DA ESTÂNCIA 
TURÍSTICA DE PIRAJU E A IMPORTÂNCIA DO 
TOMBAMENTO DO ÚLTIMO TRECHO DE CALHA 
NATURAL DO RIO 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso de 
Especialização para obtenção do título de 
Especialista em “Gerenciamento de 
Recursos Hídricos e Planejamento 
Ambiental em Bacias Hidrográficas” 
ministrado pela UNESP – Universidade 
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 
– Campus de Ourinhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OURINHOS – SP 
NOVEMBRO DE 2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paschoarelli, Maria Adriana de Barros Garrote, 1967– 
P279e Estudo da percepção dos pescadores do Rio Paranapanema no 
município da Estância Turística de Piraju e a importância do 
tombamento do último trecho de calha natural do rio / Maria Adriana 
de Barros Garrote Paschoarelli. – Ourinhos, 2012. 
 93 f. : il., mapas, gráfs., tabs., fots. 
 
Orientação: Luciene Cristina Risso 
 
 Monografia (Especialização em Gerenciamento de Recursos 
Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas) – 
Universidade Estadual Paulista. Campus Experimental de Ourinhos, 
Ourinhos, 2012. 
 
 1. Educação ambiental 2. Pescadores – Piraju (SP). 3. 
Paranapanema, Rio, Bacia (SP e PR). 4. Paisagem – Proteção – 
Brasil. I. Título. II. Universidade Estadual Paulista. III. Campus 
Experimental de Ourinhos. 
 
 CDD 305.96392 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho ao meu amado, querido e saudoso irmão 
Geraldo, que tão receoso estava em atrapalhar minha vida e 
meus trabalhos, e que fez o possível para participar de minhas 
preocupações e do que é importante para mim. 
 
 
 
“ Meu querido Gê, você teve tanto cuidado 
conosco! Foi nos preparando para continuarmos 
sem você. Tive tantas lições e ensinamentos que 
peço a Deus para que, de fato, tenha apreendido 
algo verdadeiro. Vou sentir muita saudade... 
Você faz tanta falta! 
Obrigada por tudo, meu irmão. Eu te amo, agora, 
descanse!” 
 
 
“Houve um tempo em que havia um grande guerreiro: um querido, um irmão, um amigo”. 
 
 
 
 
 
A minha orientadora, a professora Luciene, que tão brilhantemente me inspirou, 
acreditou no meu propósito, me deu forças, me amparou e incentivou nesta caminhada. 
Agradeço aos meus professores: Cezar Leal, Edson Piroli, Paulo Romera, Renata 
Ribeiro, Paulo Rocha, Maria Cristina Perusi, Andréa Zacharias, Salvador Carpi, Jonas Nery, 
Rodrigo Manzione e Marcilene dos Santos, que, de uma forma ou outra, estão presentes 
neste trabalho. 
Agradeço a minha querida amiga, leal companheira, Ana Maria Padlas Strazzi, que 
desde nossos tempos de faculdade me incentiva, acredita em meus propósitos, cedeu-me o 
lugar para essa especialização e que, sei, tanto torce por mim. 
Agradeço aos novos amigos que fiz durante o curso, que tornaram este caminho 
agradável, divertido, humano e solidário. Sinto saudades! 
Agradeço ao meu amigo de ONG, Luís Francisco de Souza, pela prontidão no auxílio 
com os pescadores. 
Agradeço ao grande apoio de minha família: meu marido Edio, que me auxiliou 
durante esta caminhada, nossas conversas, trocas e a revisão da monografia, muito obrigada 
meu grande parceiro, companheiro de minha vida, a meus filhos Romano e Olavo, pela 
compreensão e apoio em minha ausência. À minha mãezinha, que, com sua humildade, 
respeito e grande sabedoria ensinou-me, desde pequena, os cuidados e zelo com tudo à 
nossa volta. 
Agradeço a Deus por ter permitido que este caminho fosse trilhado. 
 
 
 
 
 
 
 
“Primeiro todo homem tem que saber o que fizeram dele para não 
ser ingênuo e depois cada um tem que decidir o que vai fazer com o 
que fizeram de ti”. (Jean-Paul Sartre) 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
SUMÁRIO ............................................................................................... 05 
 
LISTA DE FIGURAS ............................................................................... 07 
 
LISTA DE TABELAS .............................................................................. 08 
 
RESUMO ................................................................................................. 09 
 
ABSTRACT ............................................................................................. 10 
 
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........... 12 
 
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ....................................................... 17 
 
OBJETIVOS ............................................................................................ 23 
 
1. CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA ..................................... 27 
 
1.1 Rio de águas intrépidas e velozes .................................................... 27 
 
1.2 Características de um rio desbravado por Teodoro 
 Sampaio no século XIX .................................................................. 28 
 
1.3 Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos ................................ 29 
 
1.4 O rio precisa correr ......................................................................... 32 
 
1.5 Impactos sócioambientais causados por barramentos ...................... 35 
 
1.6 Setor Econômico ............................................................................. 39 
 
1.7 Tombamento ................................................................................... 42 
 
2. CAPÍTULO II – PIRAJU, SUA IDENTIDADE, 
 SUAS RAÍZES .............................................................................. 51 
 
2.1 Povoamento da região do vale do Paranapanema: 8.000 anos .......... 51 
 
2.2 Do grande rio, a Piraju Guarani ....................................................... 53 
 
2.3 A origem, o “caminho da entrada” para a “terra sem mal” .............. 54 
 
 
 
 
2.4 Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto, Vila de São 
 Sebastião do Tijuco Preto e Piraju .................................................. 56 
 
2.5 A polêmica de São Sebastião, o santo-patrimônio, 
 o santo-devoção .............................................................................. 57 
 
3. CAPÍTULO III — PESQUISA COM PESCADORES 
 AMADORES E PROFISSIONAIS DA ESTÂNCIA 
 TURÍSTICA DE PIRAJU ................................................................ 59 
 
3.1 Da pesquisa com os pescadores ...................................................... 59 
 
CONCLUSÃO ......................................................................................... 83 
 
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 87 
 
ANEXOS ................................................................................................. 92 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
FIGURA 1: Salto do Piraju, local de história, de memória de Piraju .......................... ........... 11 
FIGURA 2: O município da Estância Turística de Piraju – Estadode São Paulo 
– Brasil ............................................................................................................................... 17 
FIGURA 3: Posição do Município em relação ao Estado e sua Capital ................................ 18 
FIGURA 4: Gráfico perfil do rio Paranapanema .................................................................. 29 
FIGURA 5: Peixe Surubim encontrado nas corredeiras do município ................................... 30 
FIGURA 6: Surubim vivo ................................................................................................... 30 
FIGURA 7: Surubim pirajuense, atinge mais de um metro de comprimento ......................... 32 
FIGURA 8: Parque Natural Municipal do Dourado ............................................................. 33 
FIGURA 9: Pescadores nascidos em Piraju e vindos da região ............................................. 61 
FIGURA 10: Moram em Piraju há mais de 23 anos ............................................................. 61 
FIGURA 11: Pesca amadora e profissional .......................................................................... 63 
FIGURA 12: Locais de pesca na Estância Turística de Piraju .............................................. 67 
FIGURA 13: Pescadores relatam a ocorrência de peixe antes e após barragem do novo 
Reservatório, da UHE Piraju, onde não é permitida a entrada .............................................. 69 
FIGURA 14: Quanto aos pontos positivos da pesca em Piraju ............................................. 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
TABELA 1: Mora com quantas pessoas .............................................................................. 62 
TABELA 2: Sua pesca é amadora ou profissional, desde quando ........................................ 62 
TABELA 3: Quais variedades de peixes eram encontradas há 20 anos ................................. 64 
TABELA 4: E hoje, quais os tipos de peixes que se consegue pescar nas corredeiras do 
Paranapanema ................................................................................................................ ..... 66 
TABELA 5: Quais tipos de peixes que se encontra nas águas represadas.............................. 70 
TABELA 6: Quais os pontos negativos da pesca em Piraju ................................................. 73 
TABELA 7: O que você pensa que deveria ser feito pelos pescadores daqui ........................ 76 
TABELA 8: Quais impactos negativos você reconhece como causados por usina 
Hidroelétrica ............................................................................................................... ........ 78 
TABELA 9: Você é a favor da preservação dos últimos sete quilômetros de rio vivo em 
Piraju ................................................................................................................................. 80 
TABELA 10: Se respondeu favorável a preservação ou não, justifique o motivo ................. 82 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
PASCHOARELLI, Maria Adriana de Barros Garrote. Estudo da percepção dos pescadores do 
Rio Paranapanema no município da Estância Turística de Piraju e a importância do 
tombamento do último trecho de calha natural do rio. Trabalho de Conclusão de Curso para 
obtenção do título de Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento 
Ambiental em Bacias Hidrográficas. – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 
Ourinhos: 2012. 93p. 
 
RESUMO 
O objetivo deste trabalho foi descrever a importância do tombamento do rio para sua 
preservação, a fim de oferecer um horizonte certeiro estabelecido no ecodesenvolvimento para 
a comunidade local. Partindo de sua própria história e cultura para, assim, se apropriar de um 
desenvolvimento pautado num enfoque socioambiental, onde a própria comunidade seja o 
sujeito transformador da mudança pretendida. Para tanto, pesquisamos pessoas que têm no rio 
um companheiro diário: os pescadores profissionais e amadores. Desenvolvemos a pesquisa em 
uma abordagem quanti-qualitativa, que nos permitiu constatar que a Educação Ambiental é 
determinante dentro do processo de mudança tão vislumbrado por eles. Os entrevistados 
sabem que o indivíduo sozinho nada consegue. Citam alguns atores sociais que agem como 
agente degradador da natureza, e outros que por sua vez experimentam “o processo de amor” 
pelo local e conservam o ambiente. O Brasil já vive a resolução de problemas com a 
participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade desde o final dos anos 
1980. A Educação Ambiental é um processo (não apenas de um dia só) por onde os indivíduos 
e coletividade desenvolvem habilidades para a conservação do meio ambiente e 
sustentabilidade. Existe, pelos pescadores, a vontade de concretizar a mudança. Despertar o 
sentimento de pertença e compromisso em favor da valorização deste meio já é uma questão a 
ser estudada e trabalhada. 
Palavras-chave: educação ambiental, tombamento, pescadores, turismo 
 
 
 
 
10 
 
 
ABSTRACT 
In order to provide a solution for ecological development in the local community, these final 
papers aim to describe the necessity of putting the river under governmental trust, taking into 
considerations the History and Culture to provide a development based in a social and 
ecological approach, so that community can be responsible for the intended modification. To 
achieve this goal, the main characters of this monograph are the fishermen. During the 
research, it was realized that Environmental Education must be the principal point to improve 
their lives. The fishermen know they aren´t able to accomplish anything alone, and that it is 
necessary an integrated measures. Brazil has been solving environmental problems with 
responsible and active participation since 1980s. Environmental Education is a process 
supposed to last a long time, not only one day, in order that people develop abilities to 
preserve environment and learn the conception of sustainability. Making people love the place 
they belong to and wish to preserve it is a proposal that must be studied and put into practice. 
Keywords: Environmental Education; historic, cultural and ecological heritage; fishermen; 
tourism 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: O Salto do Piraju, popular ‘garganta’: local de história, memória de Piraju 
(Foto: autora) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
ESTUDO DA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES DO RIO 
PARANAPANEMA NO MUNICÍPIO DA ESTÂNCIA TURÍSTICA 
DE PIRAJU E A IMPORTÂNCIA DO TOMBAMENTO DO 
ÚLTIMO TRECHO DE CALHA NATURAL DO RIO 
 
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
Em nossa sociedade moderna, Carvalho (2011) procura focar e diferenciar o 
comportamento humano contemporâneo através de Arendt (1989, p.50), que distingue o ‘agir’ 
e o ‘comportar-se’ dos tempos atuais. Hannah Arendt critica a sociedade moderna porque 
constata nela progressiva perda da capacidade de agir, cuja tendência conformista e 
homogeneizada acaba por restringir as possibilidades de ação. Em vez de possibilitar agir e 
interferir, a sociedade de massas trata-os como indivíduos isolados e espera comportamentos, 
impondo padrões preestabelecidos e esforçando-se por “normalizar”, no sentido de padronizar 
a conduta dos grupos sociais. “(...) A ideia de que os sujeitos se comportam em vez de agirem 
tomou conta do imaginário moderno (...) O comportamento substitui a ação como principal 
forma de atividade humana”. E finaliza apontando que a sociedade se estrutura para 
normalizar condutas (CARVALHO, 2011, p. 188). 
O homem modifica seu meio de modo degradado, em razão da falta de aplicação de 
uma política ambiental efetiva, ou seja, a lei existe, mas não é cumprida. O que há, ainda, é 
uma política de que o homem é o centro do mundo (antropocêntrica),e, portanto, utiliza o 
ambiente de modo impensado, irrefletido, visando apenas às suas necessidades momentâneas 
(DIAS, 2001, p. 215). 
É preciso rever o modo de vida em relação ao planeta Terra, na relação com o lugar em 
que se vive. É preciso uma verdadeira mudança nos hábitos e costumes, na maneira como se 
lida com o que é patrimônio básico para a vida humana: a água, a terra, o ar. Há que se 
repensar a atitude para com tudo o que nos rodeia. Há que se frear essa maneira 
"inconsequente" de viver, agir como se fosse a última geração a passar pelo planeta, sem 
respeito, cuidado ou zelo para com o que existe à volta. É imperioso que a sociedade reflita 
sobre seus atos e atitudes diante da vida. Vive-se sem responsabilidades para com o mundo 
(BRASIL, PCN, 1998, p. 176-177). 
13 
 
 
O sistema sob o qual se vive determina os anseios em relação às reais necessidades. 
Impõe um modelo de vida de forma a não se ter tempo para tantas reflexões e, muitas vezes, 
ser levado a agir sem questionar e a consumir de maneira desenfreada, irrefletida, apenas para 
satisfazer os impulsos condicionados, que movimentam muitos interesses. É visto que, neste 
modelo de desenvolvimento, a energia elétrica é, sem dúvida, um dos principais alicerces, por 
isso, não é de hoje que a sociedade pirajuense convive com as pressões impostas pela 
necessidade de geração de energia elétrica. 
Pérez (1995) destaca a importância de a sociedade voltar sua atenção à questão 
ambiental, de forma bem repetitiva, como um mantra, pois as graves consequências ao 
ambiente podem ser sentidas e observadas no planeta todo. E discorre que em nossa sociedade, 
a produção é que impera como moral, sendo o consumo o motor que mantém esses valores 
altamente consumistas. Ele analisa que esta estabilidade e, ao mesmo tempo, rapidez para 
consumir, está determinando um impacto negativo ao extremo sobre o ambiente. Aponta como 
intrínseco da natureza humana o desejo de possuir, e que, dessa forma, somos levados a 
consumir produtos que muitas vezes não nos são necessários, tão somente contaminados pela 
poluição mental estimulada pela publicidade. E conclui: “todos os cidadãos de nosso país 
recebem mais de uma mensagem consumista por minuto” (PEREZ, 1995, p. 221).
1
 
Palomo, na Espanha, em seu prólogo a Pérez, chega a afirmar que a preocupação 
política pode ser verificada e está mudando até as regras dos três Setores sobre os quais 
repousa o equilíbrio do nosso sistema econômico: o produtor, o transformador e do 
consumidor (PALOMO, In: PÉREZ, 1995, prólogo). Finaliza dizendo da importância de 
harmonizar numa só direção filosofia e ética com as ciências empíricas, experimentais e 
sociais, pois, isoladas, não garantem melhora na qualidade de vida. Mudar o conceito de base 
do homem em relação aos demais elementos vivos e não vivos que integram a natureza. 
Para compreender o mundo, as ideias e os conceitos atuam como lentes da visão da 
realidade pela sociedade. Acontece que, por vezes, ela está tão acostumada com os nomes e 
imagens com as quais pensa sobre as coisas do mundo que esquece que eles (os conceitos) não 
são a única tradução do mundo. E sim que são apenas modos de tentar compreender a 
realidade à qual é inserida. Os conceitos não esgotam o mundo, não abarcam nunca a 
totalidade do real... Somos reféns das nossas visões e conceitos, utilizamos sempre ângulos 
parciais para acessar o mundo (CARVALHO, 2011 p. 33). 
 
1 Nota da autora 
14 
 
 
Carvalho ressalta que, por vezes, somos reféns das lentes que mantêm maneiras de 
enxergar que até então tínhamos como óbvias. Ela enfatiza a importância de renovarmos nossa 
visão de mundo, trocando as lentes e, assim, questionar conceitos já estabilizados em muitos 
campos da experiência humana, de modo que haja renovação em, ao menos, alguns de nossos 
desígnios de vida (CARVALHO, 2011, p. 34). 
O conceito de visão naturalizada é aquele onde se enxerga somente a ordem biológica, 
boa, pacificada, equilibrada e estável em suas interações ecossistêmicas, o qual segue 
autônomo, sem a interação com o ser humano. E, quando mostra alguma interação, esta é 
apresentada como problemática e nefasta para a natureza, assim como se vê nas programações 
de Jacques Cousteau ou da National Geographic. As programações com essa visão 
naturalizada fazem parte do nosso imaginário frente ao ambiente. Carvalho descreve como um 
retrato a influenciar o conceito de ambiente (CARVALHO, 2011, p.35). 
Neste contexto onde a visão naturalista polui o ideário ambiental, dizendo ser o 
ambiente estritamente biológico e colocando-o em oposição ao mundo humano, essa corrente 
filosófica nos faz compreender ser ameaçadora a intervenção humana. Carvalho esclarece que 
essas são somente ideias e que não são naturais, afirma ser apenas uma maneira de enxergar e 
entender as coisas e conclui que existem outras lentes que resultam noutras visões. 
Dentro da visão socioambiental e a coevolução, Carvalho diz: 
 
Nesse ponto de vista, a natureza e os humanos, bem como a sociedade e o 
ambiente, estabelecem uma relação de mútua interação e co-pertença, formando 
um único mundo. Essa lente vai-nos possibilitar repensar a ideia de evolução, 
percebendo-a como interação entre a natureza e a ação das espécies que vão 
surgindo, particularmente a humana. Esse processo, os ecologistas chamam de 
coevolução (CARVALHO, 2011, p.36). 
 
Finaliza ressaltando a importância de se afirmar as trocas de lentes de uma Educação 
Ambiental de tradição naturalista por uma visão socioambiental, onde se consegue perceber e 
ver a “interação permanente entre a vida humana social e a vida biológica da natureza” 
(CARVALHO, 2011, p.37). 
É preciso perceber que o termo ecologia migrou da apenas ‘ciência biológica e 
ecológica’ para a complexidade da vida e organização no planeta. Então, ao significado foi 
15 
 
 
incorporado um contexto de preocupações e ações sociais e mostra-se questionador em 
relação ao industrialismo e à sociedade de consumo. Ou seja, migrou para o campo social. 
Carvalho (2011) procura definir as lutas ecológicas como um conjunto de ações 
políticas, as quais desejam uma relação de harmonia entre ambiente e sociedade e dá o nome 
de movimento ecológico. O qual atua na formação do sujeito ecológico. 
A questão ambiental é vista como uma questão social. A contribuição que esta pesquisa 
traz para a área profissional reside no interesse em atuar efetivamente no campo da educação 
ambiental, procurando desenvolver um trabalho de conscientização política e cidadã. 
Pérez (1995) afirma que foi a partir da Conferência Internacional de Tbilisi que 
começaram a surgir outras conferências, e coloca como objetivo da educação ambiental seis 
tópicos a seguir. Primeiramente, aponta a necessidade de se proporcionar a compreensão da 
estrutura do ambiente através da aquisição de conhecimentos e competências, para provocar 
comportamentos e atitudes a fim de se conseguir uma melhora da qualidade de vida com 
conservação visando ao agora e às futuras gerações. Depois, enfatiza proporcionar 
independências: econômicas, políticas e ecológicas, com o sentido de responsabilidade entre os 
países. Num terceiro ponto, acredita na modificação de estruturas, na gestão nas dimensões 
setoriais, regionais, nacionais e internacionais. Auxiliar na descoberta de valores que a própria 
comunidade não consegue perceber. Pregar uma atuante participação social com fins de se 
conseguir políticas e melhoras na comunidade. E finaliza os conceitos com o verdadeiro 
ingresso nos meios educacionais a fim de propiciar uma integração e análises críticas em 
relação aos conceitos pertinentes. 
Em relação aos conteúdos da educação ambiental, Pérez (1995) aponta os âmbitos de 
intervenção: 
 Auxiliar na aquisição de mais sensibilidade e consciência com as questões à sua 
volta - consciência; 
Auxiliar, também, na compreensão básica em sua totalidade e levar a uma 
responsabilidade crítica através dos conhecimentos; 
 auxiliar na aquisição de valores de interesse ambiental a fim de impulsioná-los a 
agirem ativa e prontamente na melhoria do ambiente - atitudes; 
16 
 
 
 auxiliar no desenvolvimento de aptidões a fim de se conseguir resolver questões 
ambientais - aptidões; 
 auxiliar numa avaliação ambiental de caráter ecológico, político, econômico, social, 
estético e educacional – capacidade de avaliação; 
 através da participação, conseguir o envolvimento com responsabilidade e 
consciência para resolver questões ambientais - participação. (PÉREZ, 1995, p. 
154). 
Vale lembrar que, para Arendt e Carvalho, a Educação Ambiental está muito mais 
voltada para o comportamentalismo do que para uma real mudança de atitude. Só se fez, até 
agora, comportamento, não gerou atitude. 
 
De acordo com o artigo primeiro da lei 9795/99 sobre a PNEA, entendem-se por 
educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade 
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências 
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, 
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (RISSO, 2012, p. 2) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 
A Estância Turística de Piraju está localizada na região Sudoeste do Estado de São 
Paulo, a 49º 22’ 2” de longitude e 23º 11’ 44” de latitude. Divide limites com 10 municípios: 
Bernardino de Campos, Óleo, Manduri, Fartura, Tejupá, Cerqueira César, Itaí, Ipauçu, 
Timburi e Sarutaiá. Possui área de 603 km2 e altitude de 591 m. 
 
 
Figura 2: Município da Estância Turística de Piraju – Estado de São Paulo – Brasil 
(Fonte: http://www.google.com.br/imgres) 
 
O clima é subtropical úmido, com verão quente e inverno ameno, tendendo a úmido. 
Em seu aspecto físico, possui relevos colinares com baixas declividades na margem direita do 
Paranapanema; relevos de morros com declividades médias e altas na margem esquerda; 
morros tabulares na microbacia do ribeirão Neblina. 
A vegetação caracteriza-se pela Floresta Latifoliada Tropical, isto é, a designação dada 
ao tipo de mata na qual os indivíduos que a constituem são dotados de folhas largas, planas 
(não aculiformes). Esta designação surgiu da necessidade de se adotar uma expressão mais 
exata, essencialmente mais descritiva, para biomas tão distintos, do que apenas pluvial, 
tropical, discorre Romariz (1996). 
Afirma, ainda, dentro da classificação da formação vegetal brasileira, que esta formação 
arbórea, a da Floresta Latifoliada Tropical, é a mais devastada pela ação do homem. 
(ROMARIZ, 1996, p. 9). Piraju, hoje, possui apenas 7,3 da sua cobertura vegetal nativa. 
http://www.google.com.br/imgres
18 
 
 
Há manchas de cerrado na microbacia do Monte Alegre e o ponto mais elevado: morro 
das Três Barras, 932 m (altos da Serra da Fartura). A população urbana é de 28.475 
habitantes, taxa de urbanização de 87,04%. A densidade demográfica é de 57.9 hab./km2. 
Possui 8.164 domicílios urbanos e 1.617 rurais (dados Fund. SEADE, 2012). 
 
 
Figura 3: Posição do Município em relação ao Estado e sua Capital (Fonte: IBGE, 1957) 
 
A comunidade local, de tempos em tempos, mobiliza-se visando à preservação de seu 
patrimônio primeiro: o rio Paranapanema. E não é de hoje a necessidade da atuação da 
população para determinar o caminho desejado para o futuro a ser percorrido. Enxergam a 
terra ainda não explorada e procuram negociar tecnologias e estratégias “salvadoras”, 
pretendendo esconder a cobiça (SILVEIRA, In: PEDRINI, 2010, p. 189). 
Em 1977 houve a luta para a não permissão da instalação de uma indústria de celulose 
às margens do rio. Em 1992 havia um projeto da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) 
que pretendia desviar o rio da cidade para produção de energia elétrica. Em 2002, a luta foi 
contra a instalação de uma quarta usina hidrelétrica novamente dentro do município de Piraju, 
mais precisamente dentro da Unidade de Conservação de Proteção Integral (UC), o Parque 
Natural Municipal do Dourado, o que eliminaria para sempre as últimas corredeiras naturais do 
rio Paranapanema — lamentavelmente, até hoje vive-se esse assédio. Mesmo estando o local 
protegido por várias leis municipais embasadas na lei federal. 
19 
 
 
O município já possui três barramentos para geração de energia e cinco usinas: a UHE 
– Usina Hidrelétrica Jurumirim, a UHE – Usina Hidrelétrica Paranapanema e as três PCH – 
Pequena Central Hidrelétrica – bem no local onde o rio corta a cidade, em um só reservatório: 
a barragem apresenta comprimento de 140 metros e altura de 16 metros, e abriga as seguintes 
usinas hidrelétricas: a PCH Paranapanema MD, a PCH Paranapanema ME e a PCH 
Paranapanema Nova (CSPE, 2004, p. 126 – 131). Porém, convive com o impacto de quatro 
reservatórios. Assim, já contribui bastante para o abastecimento de energia elétrica do país. O 
Paranapanema possui onze usinas hidrelétricas em todo o seu curso. O rio tem 930 km e quase 
toda a sua extensão já está represada para produzir energia (à exceção do início do rio). O 
último trecho de sete quilômetros é o que resta de calha natural. 
É importante preservar, porque este trecho, de aproximadamente sete quilômetros, é 
patrimônio ambiental do município — o tombamento foi aprovado pelo Conselho Municipal de 
Meio Ambiente (Resolução 1, de 2 de agosto de 2002). (Anexo). 
Do ponto de vista da riqueza ecológica, os peixes necessitam das corredeiras para a 
época da piracema. E sem corredeiras, não há desova, e sem desova, não haverá mais a 
piapara, a tabarana, o pacu, a piracanjuba, o dourado, dentre outros, inclusive o surubim 
(espécie rara e endêmica — de 15 milhões de anos —, um peixe pré-histórico)
2
. As matas 
ciliares já estão estabilizadas. As diversidades ali existentes garantem não só a qualidade da 
água, a estabilidade do solo, mas respondem pelo sustento dos peixes e da fauna local. 
O tratamento do esgoto da cidade é feito através de três lagoas de decantação, desde 
2007. As lagoas devem funcionar 24 horas, porém há que se questionar o seu funcionamento 
(trabalha apenas 18 horas?) sendo que não abrange a totalidade das residências da área urbana. 
São vários os bairros não contemplados: Morada do Sol, Shangrilá, Eldorado, Vila Tibiriçá, 
Loteamento Sérgio Garcia ficam fora do sistema. Até então, todo o esgoto era lançado "in 
natura" nas corredeiras do rio. A jusante da barragem central e a dois quilômetros abaixo já 
estava aerado e completamente diluído. A preservação do leito natural deve ser vista como 
prioridade, ao invés de se formar um novo lago, que, em futuro próximo, se transformaria em 
um imenso depósito de dejetos humanos, agravando os riscos de contaminação por 
leishmaniose, febre amarela, hepatite, dentre outras doenças. 
 
2 Preservação do patrimônio ambiental porque, também no local, existe uma espécie rara e endêmica do peixe 
surubim – conforme laudo elaborado pelo dr. Paulo Buckup, professor Adjunto do Museu 
Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 27 de junho de 2002 - , pelas matas ciliares já 
estabilizadas, pela riquíssima fauna e flora ali existentes. 
20 
 
 
Ainda com relação ao esgoto da cidade, e sobre um dos patrimônios básicos para a 
vida, a água, pairam muitas questões a serem resolvidas. As três lagoas de decantação 
começaram a funcionar apenas em 2007. São apontados alguns aspectos: 
- avaliar o fato de o reservatório de água tratada ficar ao lado do cemitério. Em estudos 
em outras localidades (RIBEIRO, 2009), é possível verificar que o necrochorume (30% líquido 
produzido pela decomposição de cadáveres) caminha na direção de corpos d’água. E que 
causa inúmeros problemas de saúde; 
- qual é a malha do esgoto da cidade?É sabido que alguns bairros não são 
contemplados pela decantação, os conjuntos habitacionais dr. José Ribeiro e Sérgio Garcia 
utilizam fossa próxima ao reservatório e a montante da captação de água da cidade; o que se 
pretende fazer para sanar o problema; 
- acompanhar o trabalho de fiscalização da Cetesb, que publica a análise (eficácia) das 
lagoas de decantação em Piraju, que são lançadas ao rio; 
- o local onde foram instaladas as três lagoas de decantação eram pontos já catalogados 
de sítios arqueológicos. A compensação financeira foi injetada na Estação Ferroviária? Qual o 
valor? Onde foi aproveitada essa compensação financeira? 
- teria como utilizar os gases da estação de decantação para a geração de energia, ao 
invés de jogá-lo na atmosfera? 
- no funcionamento da decantação é liberado o gás metano. E ocorre também a 
expulsão do gás sulfídrico, que, quando inalado em grandes proporções, causa hemorragias 
internas. O que é feito para evitar que isso aconteça? 
Outro fator preocupante advindo do barramento é a destruição da mata ciliar, que deixa 
as barrancas desprotegidas. Fica a preocupação com o uso de defensivos agrícolas, fertilizantes 
químicos, pesticidas e queima da cana de açúcar, que vão parar no leito do rio, levando-o à 
destruição. Para embasamento teórico, recorremos a Silveira (2010), que faz o alerta: 
 
(...) apesar da proibição ou do uso limitado de 113 produtos agrotóxicos em vários 
países, 29 deles são permitidos no Brasil pela Portaria n. 10/Disad, 12/3/85. Isso 
é, em parte, responsável pela alta taxa de veneno na nossa corrente sanguínea, de 
572,6 ppb (parte por bilhão), sendo a mesma de 43,3 ppb na Argentina, de 22,7 
nos EUA, e de 14,4 ppb na Inglaterra, e por ser o Brasil o terceiro maior 
consumidor de agrotóxicos do mundo (CUSTÓDIO, 1991). Essa contradição 
reflete problemas de informação técnico-científica, de interesses sociais, 
21 
 
 
econômicos e/ou políticos, que clamam por programas de EA e políticas públicas 
consequentes (SILVEIRA, 2010, p. 186). 
 
Para Bachelard (1977) embora a ciência crie a filosofia, ele fala em diálogo entre elas. 
E propõe a superação do isolamento da ciência com as outras áreas do saber (CASTRO, In: 
PEDRINI, 2010, p. 148). Esse pensamento contemporâneo nos conduz a imperante 
necessidade de ações integradas na resolução das questões sociais e econômicas. 
Vasconcelos (2010) discorre sobre essa ‘saída do campus’ das universidades brasileiras 
movidas pelos “contrastes de nossa sociedade... que deixa-se levar por, convocar 
por”(HEIDEGGER, 1979, p. 71). As atividades envolvidas pela pesquisa e o ensino da 
universidade resultam num compromisso social. Vasconcelos relata a análise do que foi vivido 
através de uma Pesquisa-Ação, pela qual, através da participação direta, se chega a um 
processo de transformação social. Nessa visão de projetar o futuro embasado nos estudos, ele 
cita FLORIAN, 1994, p. 12: “o primeiro passo para a transformação social e envolve os 
grupos sociais na geração de seu próprio conhecimento e na sistematização de sua própria 
experiência”. 
O turismo é o setor que mais cresce no mundo e Piraju adquiriu o título de Estância 
Turística em 2002. Para os interesses econômicos do município, o ecoturismo é apontado 
como o verdadeiro caminho. Esportes chamados radicais e competições náuticas em 
corredeiras também fazem parte da vocação da cidade. 
A história e a cultura também estariam comprometidas com a violação do rio. A região 
é repleta de sítios arqueológicos, todos cadastrados pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da 
Universidade de São Paulo – Mae/USP. O povoamento se iniciou há 8 mil anos e seu valor 
histórico é, portanto, inestimável. 
Represar o último trecho de corredeiras descaracterizaria o rio e corromperia a história 
local, pois um dos significados do nome de Piraju tem origem em uma antiga aldeia, e surgiu 
da corruptela de Pi-rã-yú (alusão ao fundo do rio), que significa fundo nivelado, estreitado, 
afunilado (em Guarani). No Salto do Piraju deu-se o ato da fundação da cidade, ele representa 
o marco histórico, a carteira de identidade. O alagamento levaria ao assoreamento e à total 
descaracterização e seria extinto o marco histórico da fundação da cidade. 
Alegar a crescente demanda para justificar a construção de mais uma usina no 
município não se sustenta, pois o problema energético no Brasil é muito mais profundo, e suas 
22 
 
 
dimensões ultrapassam em muito a parcela que seria acrescentada. Já em perdas ambientais, 
históricas e culturais, essas seriam irreparáveis, simplesmente não possuem um valor que possa 
ser negociado, vide as lições do chefe Seattle: ... como é que pode comprar ou vender o céu, o 
calor da terra? Essa idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar e 
o brilho da água, como é possível comprá-los? (DIAS, 2001, p. 516). 
À comunidade fica o questionamento: lagos para todo lado, energia saindo e 
proporcionando o desenvolvimento dos lugares mais ricos do Estado de São Paulo. E o 
desenvolvimento pautado no ecoturismo? Com mais o último lago possível sendo 
concretizado, não haverá para a comunidade pirajuense nenhuma chance de turismo de 
corredeiras, de esportes radicais, e de desenvolvimento através dos esportes de aventura. Seria 
determinar o fim de um sonho, e impor limites à sobrevivência. 
Lembrando sempre que essas águas geram energia elétrica desde 1937 e, ainda assim, o 
hospital, o asilo, o orfanato, a Apae – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - e 
muitas outras instituições que servem à sociedade têm de pagar a conta, e caro. Não há 
qualquer isenção. Não existe, até hoje, qualquer programa social efetivo voltado à 
comunidade. 
Essa visão de mundo, em que a organização só retira o que necessita e nada mais faz, 
quer somente as mãos e não todo o corpo do profissional, ou seja, onde não existe a 
responsabilidade com o local, há uma empresa "sem alma", como descreveu a revista Fortune. 
A instituição sofre de um inimigo interno e se espelha na frase de Henry Ford: Por que sempre 
fico com a pessoa inteira quando, na verdade, o que quero são apenas duas mãos? (apud A 
LIDERANÇA, 2000, p.10). Há que se ter responsabilidade e comprometimento sobre de onde 
se necessita tanto. Há que se perceber suas necessidades, olhar para além do limite das águas. 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
OBJETIVO GERAL 
Enfatizar a importância do tombamento do rio Paranapanema assegurando sua 
preservação. E, ao mesmo tempo, visualizar um possível horizonte certeiro com base sólida no 
desenvolvimento pautado na própria história e cultura da comunidade local, através de 
pesquisa com os que convivem diariamente com o rio: os pescadores amadores e profissionais. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
Um dos caminhos para que a sociedade local perceba e interfira frente a suas questões 
mais pertinentes é o conhecimento e a informação. Com este propósito, o presente trabalho 
pretende ser uma contribuição sobre a necessidade de conscientização, e, ao mesmo tempo, 
semear a participação da comunidade na defesa das riquezas naturais, de preservação e 
conservação do patrimônio ambiental, cultural, histórico e paisagístico do município. 
Acredita-se que, ao trabalhar estas questões locais pertinentes, é possível debater essa 
relação de sociobiodiversidade, onde ocorre a interação das pessoas com o seu ambiente, 
formando cadeias produtivas de interesse local e, assim, ajuda-se tanto no conhecimento 
adquirido, como na atuação e interferência como cidadão, que faz parte de uma localidade, de 
um país, de um planeta. E, assim, atua na história de seu lugar. No momento, mais do que 
pensar em comprar, consumir, em desenvolvimento, é preciso pensar e atuar para a 
preservação e conservação da natureza. "O maior desafio para a sustentabilidade da espécie 
humana é ser ético em todas as suas decisões e relações" (DIAS, 2001, p. 21). 
 Como dizo ‘Alerta dos cientistas do mundo à sociedade’, com as assinaturas de 1.600 
cientistas em 18 de novembro de 1992: Se quisermos parar a destruição do meio ambiente, 
devemos impor limites a esse crescimento... ( ) Devemos reconhecer a capacidade limitada da 
Terra em sustentar a espécie humana. Devemos reconhecer a sua fragilidade....( ) (DIAS, 
2001, p. 381). 
Para uma atuação enfática tomou-se como base a teoria humanista de Jacques Maritain 
(1959). A teoria humanista é uma concepção do mundo e da existência, cuja questão central é 
o homem. O filósofo defende que o Humanismo pode tornar o homem mais verdadeiramente 
humano quando manifesta sua original grandeza, quando participa de tudo aquilo de que 
possa, desenvolvendo “as virtudes contidas em si mesmo, suas forças criadoras e a vida da 
24 
 
 
razão, e trabalhe no sentido de fazer das forças do mundo físico instrumento de sua 
liberdade” (COBRA, 2001). 
O homem, em relação à natureza, não é apenas animal, mas também um animal de 
cultura, e sua espécie só sobrevive com o progresso da sociedade e da civilização na qual está 
inserido. O homem não progride em sua vida — intelectual e moral — sem a experiência 
coletiva (MARITAIN, 1959, p.15). 
 
MÉTODO 
O procedimento de abordagem do trabalho tomou como base o método 
Fenomenológico. A Fenomenologia tende a buscar a essência das coisas. O significado 
atribuído às coisas não representa a realidade, necessita desenvolver a essência delas, então é 
importante perceber esse movimento do homem no momento em que ele compreende as 
coisas, lhes empresta um significado, que parte de sua própria reflexão, vontade e consciência. 
Husserl propõe uma análise da consciência de forma profunda, que procure responder 
às questões no âmbito de sua epistemologia, de sua origem, do fundamento absoluto da lógica 
e da ciência (GILES, 1975, p.136). A Fenomenologia está aberta e não dentro de um sistema 
acabado, fechado. O método procura descrever com fidelidade os fenômenos ocorridos a partir 
do que se encontra antes de qualquer ponto de vista, antes de se possuir um pré-conceito. Para 
essa filosofia, só pode ser aceitável o que pode ser verificável e justificável e, também, ser 
totalmente válido para todos os homens e para todas as épocas. O fenomenólogo está voltado 
ao significado do que seu espírito julga, afirma e vive, diferentemente do lógico, que se 
preocupa com as "condições". Difere também do sábio, que se preocupa através da 
"pergunta", e do psicólogo, que se volta "efetivamente para a consciência" de um determinado 
saber. 
A Fenomenologia é um método em contato direto com o ser absoluto das coisas, não 
se trata apenas de descrever o simples 'aparecer' das coisas, mas também de formular uma 
teoria do conhecimento (GILES, 1975, p. 137). De retornar à estaca zero do problema para 
que se encontre evidência e fundamentação. Para tanto, neste projeto, buscou-se o 
‘desconstruir’ o pensamento de que a utilização do potencial hidrelétrico do rio em questão 
traz desenvolvimento e somente gera progresso à comunidade em que está inserido, visto que 
o projeto desejou explicitar e desmistificar toda a questão. Pretendeu discorrer sobre os pontos 
25 
 
 
que cerceiam o problema para acrescentar um olhar mais apurado e assim colaborar para um 
efetivo ingresso nas discussões, saindo de vez do senso comum. 
 
METODOLOGIA 
 
A metodologia utilizada na pesquisa com os pescadores foi a de um questionário na 
forma de entrevista, com questões abertas, para que descrevessem o que realmente percebiam 
na relação com o rio, quais as reais necessidades, desafios e o que esperam ver acontecer. A 
abordagem utilizada foi quanti-qualitativa. 
 Nome; idade; data. 
 Mora em Piraju há quanto tempo; Profissão. 
 Tem família? Quantas pessoas. 
 Sua pesca é amadora ou profissional. 
 Por quantos anos pescou como amador. 
 Realiza a pesca profissional há quanto tempo. 
 Quais variedades de peixes eram pescados há vinte (20) anos. 
 E hoje, quais tipos de peixes que se consegue pescar nas corredeiras do 
Paranapanema. 
 Quais os locais em que já pescou aqui em Piraju, é em barranca ou de barco. 
 Já foi diferente a ocorrência de peixes onde foi instalada a última represa em 2002. 
Você pode hoje chegar perto desse trecho represado para pescar. 
 Quais tipos de peixes que se encontra nas águas represadas. 
 Quais os pontos positivos da pesca em Piraju. 
 Quais os pontos negativos da pesca em Piraju. O que você pensa que deveria ser 
feito pelos pescadores daqui. 
 Quais impactos negativos você reconhece como causados por usina hidroelétrica. 
26 
 
 
 Você é a favor da preservação dos últimos sete quilômetros de rio vivo em Piraju: 
( ) Sim ( ) Não 
 Se respondeu favorável ou não a preservação, justifique o motivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA 
(...) manifestaram grande preocupação e chegaram a falar que iriam fazer muitas 
fotos de toda a área para mais tarde recordar como eram as suas Terras...3 
(HELM, In: STIPP, 1999, p.13) 
 
1.1 Rio de águas intrépidas e velozes 
O rio Paranapanema possui várias nascentes que estão localizadas na Bacia do rio das 
Almas, na Serra do Paranapiacaba, município de Capão Bonito, a 903 metros de altitude, ao 
sudeste do estado de São Paulo. 
 
Tem uma extensão total de 929 km em um desnível de 570 m, desenvolvendo-se no 
sentido geral leste-oeste e desenvolvimento no rio Paraná numa altitude de 239 m. 
Localizado a aproximadamente 100 km da costa Atlântica, com latitude 24º 51’ sul 
e longitude 48º 10’, acerca de 900 m acima do nível do mar (VARELLA, 2003, p. 
2) 
 
A bacia está localizada dentro da fazenda Guapiara, de propriedade da empresa Orsa 
Celulose Papel e Embalagens, numa área de 2.884 hectares, sendo 1.229 hectares de 
reflorestamento. Essas terras integram a APA (Área de Proteção Ambiental) da Serra do 
Mar, e a mata nativa não pode mais ser tocada (ZOCCHI, 2002, p. 17). 
Nascente das maiores águas, sua declividade é grande e ele corre rápido sobre as 
pedras negras, cortando formações basálticas e solo de terra roxa. Existe mistério até em seu 
nome. Paraná significa rio, em Tupi, e Panema é considerado imprestável ou sem valor. 
“Paranapane”, ou “Parana Pane”, “Pabaquario” e “Paraquario” são alguns dos nomes pelos 
quais era conhecido nos anos de 1600. 
A questão referente ao seu nome permanece aberta, pois não foi, ainda, realizado 
qualquer “sério estudo etimológico”. Por enquanto, apenas especulações: para alguns, seu 
sufixo negativo é devido à pouca navegabilidade (porém, os índios mais caminhavam). Há, 
também, a questão da pouca quantidade de peixes (será que os índios comparavam rios tão 
longínquos?). É possível que a malária tenha feito sua (fama) rota, segundo o doutor José Luiz 
de Morais (ZOCCHI, 2002, p. 22 e 23). 
 
3 Sobre a reação da tribo Kaingang, em 1995, ante a possibilidade de alagamento de suas terras, que acabou se 
concretizando, às margens do rio Tibagi, no Paraná. 
28 
 
 
 Na enciclopédia “Brasil histórias, costumes e lendas”, editora Três, página 232, onde é 
focado o homem da Amazônia, com o título “O mundo Mágico”, é citado “... A mente do 
homem se povoa de panema (medo)...”. Segundo essa interpretação, ‘panema’ significa ‘medo’ 
na língua indígena, podendo ser um dos possíveis significados, devido à rapidez com que suas 
águas deslizavam sobre o basalto e também pelas inúmeras cachoeiras e corredeiras que 
permeavam todo o leito. 
Além de ser rápido, era considerado um ‘rio bravo’ quando chovia. Aspiravam ‘domá-
lo’, “estudar a sua navegabilidade”, pois até 1886 era citado no mapa do Estado como lugar de 
“terrenos desconhecidos e habitados pelos indígenas”. Foi quando, na época, o governo da 
Província de São Paulo criou a Comissão Geográfica e Geológica,que pretendia mapear todo 
o rio, pois objetivava a “expansão das lavouras de café”. A expedição foi iniciada em 11 de 
abril de 1886 e, chefiada pelo americano Orville Derby. Contou com 18 práticos e 3 cientistas, 
liderados por Teodoro Sampaio (ZOCCHI, 2002, p. 27 e 28). 
 
1.2 Características de um rio desbravado por Teodoro Sampaio no século XIX 
Teodoro Sampaio — historiador, geógrafo, etnógrafo, geólogo, engenheiro — desceu 
pela primeira vez as águas do Paranapanema quando ainda aqui era a Vila de São Sebastião do 
Tijuco Preto, no ano de 1886 – em primeira expedição científica –, e foi recebido por Major 
Mariano Leonel Ferreira, que o ajudou no que pode, inclusive a engrossar o seu pessoal com 
três índios Caiuás, do aldeamento do Piraju, que eram muito práticos e conhecedores de todo 
o rio (SAMPAIO, 1978, p.113). 
Quando chegam à Cachoeira do Jurumirim (até São Sebastião do Tijuco Preto, o rio 
serpenteia por 45 quilômetros, com 3 saltos e 39 cachoeiras – são 18 km em linha reta), acaba 
a seção desimpedida e tem início o trecho de maior dificuldade para navegação, com uma 
série de grandes obstáculos. 
Para percorrer a distância do Salto dos Aranhas até a foz do ribeirão das Araras, são 
apenas três quilômetros; pelo rio, o trajeto ultrapassa os 18 quilômetros. 
A uma légua acima da Vila de São Sebastião do Tijuco Preto até o Salto dos Aranhas 
(finado Salto Simão, belíssimo local que hoje está aproximadamente há 60 metros sob o lago), 
a descida pelo rio se efetuou com grande dificuldade, vencendo as numerosas cachoeiras. 
29 
 
 
Sampaio não tinha como se arriscar a descer pelas águas, preferindo vir por terra, pelas 
margens, até nossa Vila, pois o que se vê (via) é o trecho de um rio exageradamente, 
demasiadamente, excessivamente encachoeirado. Viera arrastando seus barcos até que 
encontrasse uma parte do rio mais praticável. Carros de bois puxavam as embarcações por 
terra, margeando o rio e cruzando um espigão de aproximadamente 60 metros de altura 
(SAMPAIO, 1978, p.112). 
 
O Salto do Piraju fica a um quilômetro abaixo da vila, é uma queda de cerca de 2 
metros de alto, apertadíssima entre grandes penedos, simulando as águas 
correrem quase subterraneamente. Estes passos estreitos são então freqüentes: 
cerca de 3 ½ quilômetros abaixo do Piraju, na barra do Córrego do Campanha, 
todo o Paranapanema, cujo volume é de cerca de 80 metros cúbicos de descarga 
por segundo, passa em apertado canal de pouco mais de 6 metros de largura; mais 
adiante outro estrangulamento do leito entre morros escarpados reduz a largura 
do rio a uns 20 metros, onde há fortíssima cachoeira (SAMPAIO, 1978, p. 141). 
 
Hoje, ao contrário de seu traçado original, com o rio domado, o que se observa são 
lagos navegáveis, com águas calmas, paradas. Pode-se verificar que a utilização do potencial 
hidrelétrico leva à total descaracterização de um rio. 
Figura 4: Gráfico perfil do rio Paranapanema (Fonte: ZOCCHI, 2002) 
 
1.3 Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos 
O Salto do Piraju, devido às corredeiras, possui em suas águas importante diversidade 
de peixes: a tabarana, a piapara, a piracanjuba, o pacu, o dourado, sendo este último, o peixe 
símbolo da cidade. Ocorre também o surubim, que nesta parte do rio é encontrado com 
abundância. O que o torna diferente dos outros é que é um peixe raro, endêmico, ou seja, que 
só existe ali e em nenhum outro lugar. Vive nas corredeiras do Salto do Piraju há 15 milhões 
de anos, é um peixe pré-histórico e já consta na lista de animais ameaçados de extinção, sem 
mesmo ter sido catalogado pela ciência, conforme laudo expedido pelo Museu Nacional da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
30 
 
 
 
Figura 5: O peixe Surubim, espécie rara encontrada nas corredeiras do Paranapanema em Piraju 
(Foto: Alberto Yamaguchi, 2007) 
 
O surubim pirajuense pertence à família Pimelodidae, ao gênero Steidachneridion, e foi 
provisoriamente identificado como representante da espécie Steindachneridion Scriptum, cuja 
identificação é de caráter provisório, pois trata-se de material muito raro em coleções 
ictiológicas, espécie ainda desconhecida para a ciência. Ele possui a cabeça achatada, como 
o fundo do rio, nivelado, estreitado. 
 
A existência da espécie na bacia do Paranapanema enfatiza a necessidade de se 
tomarem medidas conservacionistas de forma a preservar os trechos de corredeira 
do rio visando evitar a possibilidade de extinção de uma espécie de excepcional 
valor biológico antes mesmo de sua descrição formal... sendo necessário, portanto, 
a manutenção deste tipo de ambiente para a sobrevivência da espécie ( BUCKUP, 
Laudo de 27 de jun. de 2002). 
 
 
 
Figura 6: Exemplar de Surubim capturado, e ainda vivo, em pescaria noturna 
(Foto: Luís Francisco de Souza, 2009) 
31 
 
 
 
O exemplar foi examinado pelo professor Alberto Akama, mestre em Zoologia pelo 
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, e depois foi registrado na Coleção 
Ictiológica do Museu Nacional do Rio de Janeiro, catálogo n.º MNRJ 22742. 
Esse surubim é “muito importante” para a ciência. Trata-se de uma espécie do gênero 
Steindachneridion, bagre da família Pimelodidae, considerado muito raro, ainda pouco se 
sabe, pois é uma espécie de difícil captura, que só vive em corredeiras. É preciso realizar mais 
estudos, pois pode se tratar de uma das duas espécies que aparentemente existem nesse rio, e 
apenas uma delas, a Steindachneridion scripta, já foi descrita pelos cientistas, em 1918. 
O surubim pirajuense é uma espécie de peixe de couro que se diferencia dos que 
ocorrem no Pantanal, na Amazônia e no Rio São Francisco – estes pertencem ao gênero 
Pseudoplatystoma. Possui um colorido reticulado muito bonito no dorso — de onde advém o 
nome scripta; por possuir a cabeça achatada, é indício de que habita o fundo do rio (pois o 
relevo do Paranapanema é estreito, como um funil). Se parece com um jaú alongado e de 
cabeça chata. É um dos maiores peixes do rio, seu porte, quando adulto, pode atingir até um 
metro de comprimento e mais de quinze quilos. Foram encontrados fósseis desse gênero na 
região de Tremembé, São Paulo. Sua idade é calculada em 15 milhões de anos, 
aproximadamente. 
Segundo o professor Akama (anexo), embora o surubim tenha resistido milhões de 
anos, hoje o homem é a sua mais séria ameaça, pois esta espécie se encontra “extremamente 
ameaçada de extinção”, e as corredeiras estão localizadas em regiões densamente povoadas, 
onde os rios sofrem com a poluição e, principalmente, são barrados para a produção de 
energia elétrica. Ato contínuo, seu habitat é destruído, não sendo mais possível o ambiente 
propício para sua existência, pois essas espécies nativas dependem de corredeira para 
sobreviver. Sua reprodução e seus hábitos são ainda pouco conhecidos. Sua cabeça deprimida 
(achatada) é que indica o fundo do rio como seu ambiente. Outro ponto é que esta espécie era 
relativamente comum nos rios em que ocorria. A eliminação das corredeiras significa a 
extinção da espécie. 
Fica a pergunta do que é mais importante preservar, se é o habitat ou a espécie. Na 
realidade, quando conservamos o ambiente natural, todas as espécies ficam protegidas; e mais, 
32 
 
 
conservar o habitat é a única possibilidade de efetivamente se conservar espécies (ROCHA et 
al., 2002. p. 255-267). 
Para Buckup (2002) esse espécime de surubim deve ter assegurado seu habitat natural 
para que haja a sobrevivência de sua espécie, pois sua raridade já está definida. E assim 
possibilitar estudos que possam melhor delimitá-la. Pois há muitos ictiólogos que não estão 
satisfeitos com a delimitação proposta por Garavello (2005). Acredita-se que ele possui 
características distintas das do gênero em que está descrito, o Steindachneridion scriptum. 
 
 
Figura 7: Vasculhando o fundo estreitado do rio Paranapanema há 15 milhões de anos, o Surubim 
pirajuense ainda carecede estudos mais aprofundados (Foto: Euclides Firmino de Souza, 2000) 
 
1.4 O rio precisa correr 
O Paranapanema passa por 34 cidades, onde vivem mais de 530 mil habitantes. E é o 
maior rio não poluído do estado de São Paulo. Possui um dia especial de comemoração só 
para ele: o “Dia do Paranapanema” é comemorado todos os anos em 27 de agosto. Foi 
instituído pela lei 10.488, promulgada pelo então governador Mario Covas em 29/12/1999. 
O rio Paranapanema é o maior patrimônio natural da Estância Turística de Piraju. 
Juntamente com ele, as matas fornecem o equilíbrio perfeito ao ambiente. Seu trecho de calha 
natural também contempla o antigo Posto Agropecuário Municipal, hoje Parque Natural 
Municipal do Dourado, Unidade de Conservação de Proteção Integral – UC – através da Lei 
Municipal n° 2634/2002, embasada na Lei Federal n° 9.985, de 18/07/2000, que define as 
33 
 
 
unidades ambientais basicamente em função dos atributos físicos e da biodiversidade, sempre 
com vistas à preservação ou conservação ambiental. 
 
 
Figura 8: Pesca de lazer no Parque Natural Municipal do Dourado, Unidade de 
Conservação de Proteção Integral (Foto: Fernando Franco, 2010) 
 
O represamento do rio causaria a extirpação e o alagamento dessa vegetação ciliar de 
mata atlântica. No local existem matas ciliares já estabilizadas, inclusive muitas em estados 
avançados de regeneração. Sendo cortadas e novas plantadas, nunca se atingiria o estado de 
regeneração que a mata já atingiu até o momento. Esse trecho natural é único (CHEGA DE 
USINA, 2003). 
As matas ciliares são responsáveis pela manutenção da qualidade da água, pela 
estabilidade do solo, evitam a erosão e o assoreamento do rio e também respondem pelo 
desenvolvimento e sustento dos peixes e da fauna local. Quando se faz o reflorestamento da 
margem de uma represa, o que se perde não são só suas matas, mas a diversidade de espécies 
existentes. Sem a fauna, o local sofrerá da Síndrome da Floresta Vazia, onde há o 
esvaziamento da fauna, e sem animais há o empobrecimento da biodiversidade, e isso possui 
consequências para toda a floresta. Como se dará o reflorestamento natural tão vital numa 
floresta? Há quem compara floresta vazia a uma cidade sem crianças e afirma que funciona 
somente agora, mas, e no futuro? (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, set. 2012). 
34 
 
 
As mudas produzidas em cativeiro pertencem a espécies de uma mesma família. A 
perda é grande e em vários pontos. O rio fica desprotegido até que suas mudas possam 
crescer, e isso levará quatro ou cinco gerações. 
Até lá, o rio terá suas águas cada vez mais rasas. À mercê do assoreamento, que 
significa a escassez dos recursos hídricos, à mercê de contaminações da água pela atividade 
agropecuária (adubos e defensivos) e industrial, e também a questão do esgoto. 
Atualmente, um pássaro que sai de sua região e chega até as matas da beirada do rio 
carrega em suas penas uma semente diferenciada, o que garante a variedade de vida existente. 
As espécies animais são vitais para a diversidade. Com a destruição da mata ciliar, a 
polinização ficará comprometida, pois não haverá pássaros. E a diversidade estará 
comprometida por décadas. Quanto aos mamíferos retirados, a grande maioria acaba morrendo 
na captura ou logo após, por sua dificuldade de adaptação ao novo meio, ou por se tornarem 
presa fácil. 
De acordo com publicação da empresa Duke Energy (2008), a área alagada por 
barramentos para geração de energia elétrica nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais 
ultrapassa um milhão e duzentos mil hectares, e abrigam 40 grandes hidrelétricas. 
 
A organização deste complexo gerador de energia foi imperiosa e absolutamente 
necessária. Mas, ao mesmo tempo, é absolutamente incontestável admitir que o 
barramento dos rios com fins hidrelétricos descaracterizou províncias faunísticas, 
ameaçando a conservação e a biodiversidade da ictiofauna das várias regiões 
brasileiras, em particular do Sul e Sudeste (DUKE ENERGY, 2008, p.6). 
 
O rio Paranapanema possui onze aproveitamentos hidrelétricos por todo o seu curso. 
São eles: Jurumirim, Piraju, Paranapanema, Chavantes, Ourinhos, Salto Grande, Canoas II, 
Canoas I, Capivara, Taquaruçu e Rosana (DUKE ENERGY, 2008, p.4 – 10). 
 Piraju é uma das cidades mais ‘usinadas’ do mundo (CHEGA DE USINA, 2003). A 
região possui quatro hidrelétricas em pleno funcionamento: as gigantes Jurumirim (98 MW) e 
Chavantes (414 MW), Paranapanema (32 MW) e a recém-construída Piraju (80 MW). Para a 
instalação desta última usina foi desmatada uma área de 295 hectares, o que representa mais de 
300 campos de futebol, com 14 mil árvores de grande porte cortadas. 
 
35 
 
 
A construção das barragens, entretanto, com o surgimento de grandes e sucessivos 
lagos onde havia apenas um curso d’água, trouxe profundas alterações no regime 
hídrico e no ambiente em volta. Os grandes reservatórios – Chavantes, Jurumirim 
e Capivara – trouxeram modificações maiores: são lagos nos quais as águas ficam 
até 450 dias antes de sair (ZOCCHI, 2002, p.72-74). 
 
Com essa intenção de barrar todo o rio, resultará um grande ‘lagoão’, onde todo o 
ecossistema será alterado. O velho rio terá sido extinto, e em seu lugar existirão sucessivos 
lagos, onde a água ficará parada por pelo menos um ano e meio. 
Uma das consequências mais conhecidas dos barramentos é a modificação no teor de 
oxigênio. Nas épocas de estiada, a água acaba permanecendo por mais tempo no reservatório, 
ocasionando anoxia - carência de oxigênio. Nesse período, essa água sem oxigênio prevalece 
sobre a água do vertedouro, que, ao contrário, é rica em oxigênio – aquela que passa por cima 
da barragem, o que determina dois fluxos bem diferentes, um rico e outro pobre em oxigênio. 
Está comprovado que esses fluxos só irão se misturar por completo 40 quilômetros rio abaixo. 
Imaginem as alterações produzidas na biota aquática (DIAS, 2001, p. 290-291). 
Essas modificações, inclusive na qualidade da água, transformam o habitat natural de 
seres vegetais e animais. Um dos peixes que dependem da mata ciliar para sua sobrevivência é 
o piracanjuba, que se alimenta de folhas e frutos das árvores e de insetos. Hoje, o sol e o 
fitoplâncton (parte vegetal, organismos sem poder de locomoção) passaram a ser a fonte de 
alimentação da fauna aquática, dada a interferência dos reservatórios, por conta do 
desmatamento da floresta e da distância das margens, que, de 100 metros passou a cinco 
quilômetros (ZOCCHI, 2002, p. 82). 
A formação de mais um lago também compromete seriamente o desenvolvimento e a 
sobrevivência destas espécies. Portanto, considerando a nova ordem ambiental mundial, torna-
se imprescindível preservá-lo. 
 
1.5 Impactos socioambientais causados por barramentos 
No caminho do desenvolvimento, seja de uma localidade ou de um país, não cabe mais 
atuar de forma impensada e insensata. É preciso analisar todas as alternativas antes de fazer a 
natureza pagar o preço, ante o momento de intenso consumo e degradação enfrentado pelo 
planeta. 
36 
 
 
São muitos os impactos que sofrem o meio ambiente e a comunidade quando da 
utilização do potencial hidrelétrico de um rio. A forma descontrolada de uso dos recursos 
naturais pode levar a graves e profundos problemas ambientais. É preciso saber, estar atento 
para com o que se perde, e assim verificar as extensões dos danos (STIPP, 1999, p. 93). Os 
meios físicos, bióticos e socioeconômicos sofrem intensas e irreversíveis alterações. 
É importante enfatizar o artigo de Ross (1999, p. 24-27), Hidrelétricas e os impactos 
sócioambientais, em que discorre sobre os efeitos das barragens ao ambiente nas fases de 
construção, de enchimento e operação do reservatório e término da construção. 
Na fase de construção, os impactos diretos no meio físico-biótico iniciam-se com os 
desmatamentos para a abertura de estradas, instalação de canteiros de obras, alojamentoe vila 
residencial, e terraplenagem para instalação das obras de apoio: cortes e aterros, interceptação 
de drenagem e alteração das cabeceiras ou bacias de captação. Há também o prejuízo 
ambiental provocado pelos serviços de construção dos diques e barragens no leito principal e 
nos pontos de fuga de água; extensas áreas de empréstimo – abertura do canal de desvio do 
leito fluvial; cortes no solo e na rocha; grande volume de rejeito de fragmentos de rochas e de 
material de alteração que não se prestam ao uso em aterros. E observa-se, ainda, a 
intensificação da atividade de caça e pesca nos arredores do empreendimento, que pode levar 
ao desaparecimento local de espécies animais. 
Especificamente no âmbito socioeconômico, os efeitos da obra provocam alterações 
marcantes no perfil da comunidade atingida. A acentuada demanda de mão de obra para 
construção civil implica na inserção de um contingente expressivo de homens, procedentes de 
outras regiões, à população local — tal migração potencializa o surgimento de focos de 
prostituição. O repentino aumento populacional favorece o surgimento de moradias precárias e 
favelamento. O comércio legal é incrementado pelo crescimento do consumo, mas o comércio 
clandestino também se intensifica. A mão de obra local é parcialmente absorvida para serviços 
de serventes e auxiliares, mas a construção atrai a mão de obra agrícola, o que reflete nos 
números da produção agropecuária da região afetada. 
Vale ressaltar outras consequências da fase de construção, como a interferência na 
procura por escolas, professores, serviços médicos e hospitalares, a mudança nos hábitos 
sociais da população local, conflitos entre residentes e novos moradores, aumento nos preços 
de mercadorias e serviços, maior volume do tráfego (circulação mais intensa de veículos de 
37 
 
 
serviços e de transporte urbano), deficiência na infraestrutura para atendimento da nova 
demanda — água tratada, esgotos, energia, habitação, escolas, hospitais. 
A fase de enchimento e operação do reservatório provoca outra série de impactos 
diretos no meio físico-biótico: toda a área a ser inundada precisa ser desmatada; extensas áreas 
de terras férteis são ocupadas pela água; um volume considerável de biomassa vegetal é 
eliminado; a fauna terrestre e as aves são afugentadas ou mortas; o regime fluvial do rio sofre 
alterações; a vazão é regularizada; o meio aquático, antes de água corrente, passa a lacustre 
(água parada); há modificações na qualidade da água e dos peixes; recursos minerais que 
poderiam ser aproveitados no futuro são submersos; o aparecimento de extensos remansos de 
águas rasas possibilita o assoreamento e a proliferação de insetos; a comunicação terrestre fica 
dificultada pelo surgimento de áreas de península e ilhas; as margens são afetadas por 
deslizamentos e erosão; o nível das águas sofre ressecamento ou rebaixamento. 
Igualmente nesta fase, não há como ignorar os impactos diretos no meio 
socioeconômico: populações ribeirinhas rurais e urbanas são desalojadas; bens de valor 
cultural, afetivo e religioso sofrem interferência; sítios arqueológicos são inundados; em muitas 
regiões, populações nativas e aldeias indígenas são desalojadas; com a inundação das terras 
agricultáveis, a pequena propriedade rural torna-se economicamente inviável; a circulação e a 
comunicação entre comunidades vizinhas ficam dificultadas pela formação do grande lago; 
muitas famílias de origem rural sofrem desestruturação quando são transferidas para áreas 
muito distantes; criam-se condições para a concentração fundiária em regiões caracterizadas 
por pequenas e médias propriedades rurais; ocorre um falso “boom” de desenvolvimento local, 
que caminha para o esgotamento com o fim da construção e a entrada em operação. 
Com o término da construção, outros impactos são observados, especialmente de 
ordem socioeconômica: acentuada liberação da mão de obra temporariamente absorvida no 
decorrer das obras (desemprego); a economia local é abruptamente desaquecida, com reflexos 
negativos imediatos, como a ociosidade ou subemprego da mão de obra local, queda do nível 
de renda, desocupação de grande número de residências. 
Concluída, a obra também deixa um saldo indesejável no setor de infraestrutura, com 
equipamentos ociosos e o esvaziamento demográfico provocado pela forte emigração urbana. 
É importante insistir na análise das observações de Stipp (1999, 89-94) a respeito 
dessas mesmas transformações: 
38 
 
 
As transformações no meio físico: 
• Alterações climáticas: mudanças no clima local, variação da umidade relativa do ar, 
alterações no comportamento do ciclo de chuvas; 
• sismicidade induzida: técnicas utilizadas durante a obra (explosões, uso de 
maquinário pesado), desmatamentos e alagamentos podem intensificar a ocorrência de 
terremotos de uma região; 
• elevação do lençol freático: com o aumento do nível da água a montante das 
barragens, cresce também o nível do lençol freático, o que pode levar à sua contaminação e o 
consequente comprometimento da qualidade da água; 
• assoreamento do reservatório: devido ao desmatamento das barrancas, o acúmulo de 
terras no fundo do reservatório leva a um lago cada vez mais raso, o que dificulta também a 
oxigenação da água; 
• retenção de nutrientes no reservatório: o represamento provoca a retenção de 
nutrientes pela barragem, o que, a jusante dela, implica em uma carência desses nutrientes, 
obrigando os proprietários de terras a realizar correções de solo para compensar as perdas dos 
minerais retidos nas áreas inundadas; 
As transformações no meio biótico: 
• alterações na composição da fauna: a vida dos peixes não é a mesma quando um rio 
se transforma em lago, é difícil a adaptação neste novo habitat de águas paradas, o que gera a 
extinção de várias espécies originárias de corredeiras; 
 
Os ovos dos peixes em geral morrem no fundo do reservatório, pois afundam à 
grande profundidade, a falta de correnteza deixa espécies como pacus com muita 
gordura, e eles precisam do esforço físico da migração, que queima a gordura, 
para desenvolver o ovário, as barragens amortizam as mudanças no regime 
hídrico que detonam o gatilho da reprodução, como o aumento da temperatura 
(ZOCCHI, 2002, p. 80). 
 
• interrupção da migração dos peixes: não há como o peixe ‘pular’ a montante através 
da escada da barragem para peixes e depois trilhar o caminho de volta, ou seja, o peixe não 
39 
 
 
consegue localizar os degraus no meio da represa para sua descida, acarretando assim o 
despovoamento a jusante do rio; 
• mortandade de peixes a jusante durante o enchimento do reservatório: com o 
fechamento das comportas, a vazão a jusante diminui drasticamente, impossibilitando a 
sobrevivência das espécies nativas de corredeiras; 
• deslocamento de animais durante o enchimento: a fauna é toda retirada e inserida em 
novo habitat. O que na realidade ocorre é que nem todos são retirados, e os poucos que o são, 
ou morrem devido ao estresse da locomoção ou por não conhecerem a nova morada, 
tornando-se assim presas fáceis. 
As transformações no meio socioeconômico: 
• disseminação de doenças: a água parada do reservatório é um estímulo ao 
aparecimento de vetores de doenças de propagação hídrica, o que se constitui em um dos mais 
graves e custosos problemas para a sociedade, o aumento de doenças como leishmaniose, febre 
amarela, dengue, diarréia, cólera, hepatite; 
• elevação de preços de terras e residências: aumento do custo de vida para a 
população local (aluguéis, compra de imóveis rurais ou urbanos); 
• desaparecimento de prédios e sítios de valor cultural arqueológico e estético: a total 
eliminação de locais históricos e culturais, descaracterização do rio, inundação de importantes 
sítios arqueológicos, descaracterização da paisagem cênica e do lugar são alguns dos prejuízos. 
Todos esses impactos decorrentes da utilização do potencialhidrelétrico apontam para 
a imperiosa necessidade de evitar essa homogeneização, também do rio; essa transformação do 
ambiente acarretaria um ponto final no desenvolvimento para a localidade. Toda a comunidade 
estaria condenada a sobreviver sem perspectivas reais de expansão e crescimento econômico. 
O lugar de memória, de história e de cultura desapareceria para sempre, juntamente 
com o surubim pirajuense e também todas as outras espécies de fauna e flora. Desamparada 
ficaria a própria história do local, culminando no esquecimento e na extinção de todas as 
origens e identidade do cidadão pirajuense. 
 
 
40 
 
 
1.6 Setor econômico 
 
“Nuestro planeta puede satisfacer las necesidades de la humanidad, pero no su 
ambición” Gandhi ( PÉREZ, 1995, p.221) 
 
No dia 8 de julho de 2002, Piraju conquistou o título de Estância Turística. O grande 
sonho só foi possível devido ao potencial natural que a cidade possui. Esse título é fruto da 
vontade política e denota também que o desejo de desenvolvimento da população está 
diretamente relacionado com o rio, o rio de corredeiras, dos esportes de aventura capazes de 
atrair e conquistar turistas de muitas regiões do Brasil e do mundo. 
A pista de slalom (esporte de corredeira) que funciona no Salto do Piraju é classificada 
por atletas e treinadores entre as de maior grau de dificuldade em todo o país, uma raridade 
para a prática do slalom, de acordo com os aficcionados desse esporte. O auxiliar-técnico da 
Seleção Brasileira de Canoagem, Odilon Dias, afirma que o local representa uma das três 
melhores pistas de slalom-canoagem com obstáculos do Brasil. Dias elogia o trecho de 
corredeiras do rio Paranapanema em Piraju pela qualidade das águas e pela privilegiada beleza 
paisagística ao redor. 
As trilhas na mata ainda são pouco difundidas e exploradas. O turismo ambiental do 
município é caminho certo e lucrativo. Crescimento sustentável através do turismo ecológico. 
Barrar o último trecho vivo do rio em Piraju significa pôr fim às expectativas de 
crescimento e geração de emprego para a cidade, pois a recém-inaugurada usina Piraju gerou 
durante sua construção apenas 350 empregos temporários, que já não existem mais. É 
importante salientar que o município de Brotas/SP, com aproximadamente 20 mil habitantes, 
possui um rio de corredeiras e fatura anualmente mais de 4 milhões de reais com o turismo 
profissional e qualificado. Hoje, funcionam em Brotas 14 agências de turismo, dentre elas a 
pioneira “Mata’Dentro”. 
Piraju necessita das corredeiras para implementar efetivamente o turismo. A sociedade 
é soberana para decidir sobre seu destino. Cabe à população decidir, visto que o represamento 
ocuparia somente terras do município, e não deixar ser decidido por pessoas de fora, que não 
vivem aqui e que estão aqui somente com vistas ao lucro. 
41 
 
 
Há que se destacar também que a cidade possui um rio de onde provém a utilização de 
potencial energético particular e, ainda assim, as entidades filantrópicas que atendem à 
sociedade local, como Apae, asilo, hospital, escolas, não são isentas do pagamento da conta de 
luz. Tampouco existem outros programas sociais de relevância para a comunidade. 
De acordo com informações apresentadas pelo atual prefeito de Piraju, Francisco 
Rodrigues, durante reunião realizada na Câmara Municipal, em outubro de 2005, a cidade 
recebe aproximadamente 75 mil reais mensais de royalties por suas áreas represadas. Somente 
a conta de luz do município (90 mil reais) ultrapassa esse valor. Os impactos negativos gerados 
pela utilização do potencial hidrelétrico jamais poderão ser sanados diante da falta de 
perspectiva de crescimento da cidade, haja vista que esse tipo de empreendimento não traz 
desenvolvimento para o local em que é gerada a energia, sem mencionar o fato de que, com o 
tempo, tudo tende a se agravar. 
As indústrias brasileiras pagam apenas a metade da conta de luz, e é exatamente onde 
ocorre o maior índice de desperdício, gastam sem consciência. Se o setor industrial pagasse o 
mesmo que os consumidores domésticos pagam, já haveria racionamento, porque teria de 
economizar, uma vez que são as indústrias as maiores consumidoras de energia elétrica do país 
(STIPP, 1999, p. 90). 
No Brasil, 17% da energia elétrica gerada são desperdiçados, devido também à má 
conservação dos fios e cabos da rede de distribuição. Somente nas indústrias, o desperdício é 
de 25%. Lâmpadas acesas sem necessidade, equipamentos antigos, banhos demorados e 
máquinas desreguladas são os principais responsáveis pela perda de 5 bilhões de dólares por 
ano. Oito mil dólares é o preço para se instalar um novo chuveiro elétrico e, no mundo, somos 
a única nação a utilizá-lo (DIAS, 2001, p. 529). 
A energia eólica, por exemplo, gerada pelo movimento do ar (vento), é considerada a 
forma mais limpa para se conseguir energia elétrica. Vários países já vivem esta realidade, 
dentre eles, Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Índia e Espanha, que são os pioneiros na 
utilização da energia eólica para uso comercial e industrial. Registram, inclusive, uma expansão 
de 66% em relação ao ano anterior. 
A energia eólica já é utilizada também no nordeste brasileiro, no litoral do Ceará, onde 
aproximadamente 160 mil pessoas são beneficiadas. Outros estados trilham pelos mesmos 
42 
 
 
rumos do Ceará nesta empreitada: Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, 
Pernambuco e a Ilha de Marajó, no Pará. 
O Brasil tem excelente potencial eólico, de acordo com estudos atualizados. Portanto, 
é viável a produção de eletricidade a partir da energia dos ventos. Essa forma de captação 
concorre com as centrais hidroelétricas, termoelétricas, nucleares e, ainda, com baixo custo. 
Mas, também no Brasil, as grandes empreiteiras, construtoras de hidrelétricas, fazem lobby 
contra essa forma de energia (DIAS, 2001, p. 59). 
A construção de novas hidrelétricas causa violentos danos ambientais. É necessário 
estar atento e refletir sobre a necessidade de desenvolver nossa eficiência energética. Acabar 
com o desperdício através da mudança de hábitos, utilizar equipamento que faz o mesmo 
trabalho com menos consumo de energia e, principalmente, investir e utilizar formas 
alternativas de energia, a solar, a eólica, a geotérmica e a biomassa (com manejo) (DIAS, 
2001, p. 529-530). 
É importante destacar que no Brasil ainda não se investe o suficiente em pesquisas 
sobre fontes alternativas de energia. Este seria o papel a ser desenvolvido pelas universidades 
brasileiras, colocando toda a sua infraestrutura – e também seus pesquisadores, professores, 
técnicos – a esse serviço. As universidades devem estar a serviço da melhoria das condições de 
vida da comunidade em que está inserida (STIPP, 1999, p. 91). 
 
1.7 Tombamento 
Piraju iniciou sua história com o movimento ecológico nos anos 1970, em pleno regime 
militar, quando houve a mobilização de toda a comunidade (abraçada inclusive pelo setor 
público), por todo o vale do Paranapanema contra a instalação de uma indústria multinacional 
de celulose e altamente poluidora nas margens do rio Paranapanema. Em 1978, Piraju foi palco 
da “Carta do Vale do Paranapanema” (anexa). Este documento acabou se tornando objeto de 
manifesto de repúdio devido à insistência da empresa Braskraft em se instalar na cabeceira do 
rio, em Angatuba. Não conseguiu implantar seu projeto, pois um sistema antipoluidor custaria 
40 milhões de dólares. 
Batalha vencida, chegamos aos pilares da lei nos anos 1990, através da Lei Municipal 
1752, de 24 de julho de 1992, com a criação do Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio 
Cultural. Este conselho (consultivo, deliberativo) é habilitado para propor, estimular e 
43 
 
 
fiscalizar a execução das políticas municipais referentes a questões tanto ambientais quanto às 
relativas ao patrimônio cultural. 
De acordo com o Parecer Técnico do CTMAPC.SISMMAP (2006),

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