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Leptospirose: Zoonose Mundial

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Leptospirose
O que é?
A leptospirose é uma zoonose
de distribuição mundial que acomete
os animais domésticos, silvestres e o
ser humano.
Quando presente em animais
de produção gera perdas econômicas
significativas, com alta morbidade,
sendo uma doença de importante
repercussão na saúde pública.
Etiologia
É uma doença causada por
bactérias da ordem Spirochaetales,
família Leptospiraceae, gênero
Leptospira, não capsuladas e não
esporuladas.
É uma bactéria de forma
helicoidal, aeróbia obrigatória, forma
de gancho, possui grande motilidade,
movimento rotatório em torno do seu
eixo (devido a seus endoflagelos).
Tem características gram negativas
(LPS → 12x menos potente que a
E.coli) e gram positivas
(peptideoglicano).
Só se cora com colorações a
base de prata e prefere locais mais
frios no corpo, por isso os rins são seu
principal órgão alvo.
Não se multiplica fora do
hospedeiro e sua sobrevivência fora
dele depende das condições do meio
ambiente (gosta de água limpa → ph
neutro).
Contém diversas variáveis
sorológicas denominadas sorovares,
que estão agrupados em 18 grupos.
São iguais morfologicamente, mas
diferentes antigenicamente.
Devido a complexidade de
espécies, pode haver imunidade
cruzada ou não, sendo que às vezes o
inóculo vacinal não é capaz de
prevenir.
A parede celular é completa e
robusta, sendo capazes de se unir a
diversos receptores. Por esse motivo,
a leptospirose é uma síndrome.
Principais sorovares: canicola e
icterohaemorrhagiae.
Epidemiologia
A forma de transmissão direta
ocorre, geralmente, pelo contato com
sangue e/ou urina de animais doentes,
por transmissão venérea, placentária,
feridas por mordedura (pele) ou pela
ingestão de carnes infectadas.
A indireta pode ocorrer por
contato com solo, vegetação,
alimentação e água contaminados,
roupas e outros fômites.
A disseminação da infecção se
dá pela convivência entre os cães que
excretam a bactéria de forma
intermitente por meses a anos após a
infecção. Os cães que se recuperam
da doença eliminam o agente de
forma intermitente por meses após a
infecção.
O risco da transmissão indireta
aumenta consideravelmente para o
homem quando as condições
ambientais são favoráveis à
manutenção e replicação das
leptospiras, em especial após
enchentes, ou em coleções de água
com pouca movimentação, em
temperaturas variando entre 0°C e
25°C, principalmente em populações
de baixo poder aquisitivo.
Para animais o risco aumenta
em locais onde ratos infectados
tenham acesso aos alimentos ou
bebedouros ofertados para os
animais. Ao comer ou beber, por
motivo fisiológico, os ratos urinam,
fazendo com que ocorra contaminação
do alimento e/ou água.
Os surtos de leptospirose no
Brasil frequentemente são registrados
nos períodos mais quentes e
chuvosos do ano (entre dezembro e
março).
Os mais suscetíveis são
indivíduos que entrem em contato
diário com animais, que morem em
locais sem saneamento e que
pratiquem esportes náuticos.
Patogenia
Quando a leptospira penetra a
pele (ocorre independentemente da
presença de fissuras) imediatamente
vai para corrente sanguínea, fazendo
lise de hemácias, degradação do
complemento e com que macrófagos
secretam citocinas pró-inflamatórias.
Isso faz com que o sistema imune
fique debilitado.
A patogenia dessa bactéria não
reside nas características de sua
parede, como os fatores de virulência
do LPS, mas sim na sua capacidade
de fazer com que macrófagos
secretam uma grande quantidade de
citocinas pró-inflamatórias, que lesam
o organismo.
É considerada uma doença
bifásica, pois até a 1º semana
permanece na circulação, havendo
uma janela imunológica*, sendo
detectada sorologicamente apenas
após a 2º semana, quando já está
presente nos órgãos alvo (rins, fígado,
entre outros).
O homem é acometido por
todos os sorovares e é tido como
hospedeiro acidental.
*período que um organismo leva, a partir
de uma infecção, para produzir
anticorpos que possam ser detectados
por exames de sangue.
Sinais Clínicos
Cães
Podem desenvolver quatro
formas clínicas:
● Hemorragia aguda subaguda
(hemorragias difusas)
● Ictérica ou de Weil → causada
pela icterohaemorrhagiae;
● Subaguda ou ou de Stuttgart →
causada pela canicola;
Raramente é acompanhada de
icterícia, e evolui de forma
crônica, lesando rins de forma a
determinar síndroma de uremia
(aumento da taxa de uréia no
sangue).
● Forma inaparente.
Bovinos
Leva a uma síndrome
reprodutiva, com nascimento de
natimortos e bezerros fracos, além da
presença de cordão umbilical muito
edemaciado.
Além disso, também causa
diminuição da produção de leite por
causar a “mastite fria”.
É denominada mastite fria
porque não há presenças dos cinco
sinais cardinais da inflamação, como
rubor ou calor. É possível identificar
esse tipo de mastite quando o leite fica
com aspecto semelhante ao colostro
e/ou apresenta ranhuras de sangue.
Suínos
Podem desenvolver duas
formas clínicas:
● Subclínica - repetição de cio,
reabsorção embrionária ou
mumificação do feto;
● Assintomática.
Equinos
● Uveítes ou “olhos de lua” - se
deve a uma reação entre Ag e
Ac;
● Febre;
● Depressão;
● Icterícia.
Cabras e ovinos
● Abortamentos;
● Geralmente são assintomáticos.
Gatos
Antigamente eram resistentes,
pois caçavam os ratos. No entanto,
hoje em dia apresentam quadro
sintomatológico.
É importante se atentar em
gatos que têm acesso a rua ou que
fugiram recentemente).
Diagnóstico
Notificação compulsória imediata
(em até 24 horas)
O diagnóstico pode ser feito por
microscopia direta (necessita de
microscópio de campo escuro), cultivo,
inoculação (sorologia, cultivo, PCR e
lâminas) ou por sorologia (teste de
aglutinação microscópica → padrão
ouro; macroaglutinação → só pode ser
feita em picos de febre; ELISA ou
fixação de complemento).
Tratamento
O tratamento deve se basear
em três pilares:
● Inativar a bactéria;
● Restabelecimento da função
hepática;
● Restabelecimento da função
renal.
Recomenda-se tratamento
suporte, com reposição
hidroeletrolítica e nutrição. Além disso,
a antibioticoterapia é imprescindível,
mas é preciso administrar as doses
exatas, pois se não realizado dessa
forma o animal nunca mais conseguirá
eliminar a leptospira.
Profilaxia e Controle
Na fonte de infecção: controle
de roedores. Isolamento, diagnóstico e
tratamento de animais doentes
Na via de transmissão: destino
adequado das excretas, limpeza e
desinfecção química das instalações
(uso de derivados fenólicos).
Drenagem da água das pastagens,
não utilizar sêmen suspeito
Nos susceptíveis: as vacinas
contra a leptospirose são bacterinas
(cultura morta) e por isso a sua
imunidade é baixa e previnem contra a
sintomatologia clínica. Há relatos de
animais que apresentam leptospirúria
após a vacinação. O esquema da
vacinação adotado vai depender da
prevalência da doença na região. Em
locais endêmicos, recomenda-se a
vacinação a cada 6 meses. Se não for
o caso, uma vez por ano

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