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- 1 - DIREITO DAS FAMÍLIAS - 2 - DIREITO DAS FAMÍLIAS - 3 - DIREITO DAS FAMÍLIAS A Editora Bressan Monteiro, fundada em 2018, é uma editora voltara para autores independentes que desejam publicar monografias, TCCs e artigos, em todas as áreas do conhecimento em formato digital, sempre buscando a forma mais simples e prática possível. Todos os direitos reservados ao autor. Nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais, o autor optou pela licença de Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional. A Editora Bressan Monteiro se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição. Nem a editora, nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. Data de fechamento da edição 13-12-2021 Editora Executiva Vanessa da Silva Bressan Monteiro Edição de Arte Paulo R. M. Monteiro Bressan Produção Digital Editora Bressan Monteiro Revisão xxx Serviços Bibliotecários Câmara Brasileira do Livro Maria Alice Ferreira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bressan, Paulo Roberto Meloni Monteiro ____Direito das famílias [livro eletrônico] / Paulo Roberto Meloni Monteiro Bressan. 1 ed. Cacoal-RO: Bressan Monteiro, 2021. PDF ____"Diretrizes Gerais dos Extrajudiciais do Estado de Rondônia -- Súmulas do STF e STJ -- Modelo de Petições". ____Bibliografia ____ISBN 978-65-89690-04-7 ____1. Direito civil 2. Direito civil – Brasil 3. Direito de família 4. Direito de família – Brasil ____I. Título. 22-100727 CDU-347.6 Índices para catálogo sistemático: 1. Direito de família: Direito civil 347.6 Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964 - 4 - DIREITO DAS FAMÍLIAS - 5 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 1. Nota do Autor A proposta deste livro é facilitar os estudos de Direito Civil, de modo a conciliar doutrina, legislação e jurisprudência. Além do aspecto do direito material, há um diálogo entre Direito Civil e Processo Civil, bem como outras legislações correlatas. O texto foi todo construído preservando toda a literalidade lei, mas estruturado em um texto coeso para que seja possível uma compreensão do Direito das Famílias. Foram incluídos diversos instrumentos jurídicos, como provimentos do Conselho Nacional de Justiça e as Diretrizes Gerais dos Extrajudiciais da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de Rondônia. Este livro contém diversas legislações criteriosamente selecionadas relacionada ao Direito das Famílias e inseridas ao longo do texto na forma de citação direta permitindo que haja a compreensão dos aspectos doutrinários e assegurar a leitura da lei seca dos temas estudados. Algumas dicas de leituras, filmes, textos jornalísticos foram inseridos ao longo do texto para permitir uma maior compreensão do Direito das Famílias. Agradeço aos acadêmicos pelos diversos questionamentos em aula, que permitiram a criação deste material rico e atualizadíssimo em Direito das Famílias, além daqueles que enviaram sugestões para deixá-lo mais didático. Além das contribuições dos membros do Grupo Pesquisa Jurídica e Sustentabilidade (GPJus) para consolidação desta obra. Espero que todos possam usufruir deste livro, pois procurei desenvolvê-lo com todos os cuidados e dedicação na transmissão dos meus conhecimentos. Ariquemes-RO, 27 de junho de 2022. - 6 - DIREITO DAS FAMÍLIAS - 7 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 2. Abreviações ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade CC/1916 Código Civil de 1916 CC/2002 Código Civil de 2002 CERO/1989 Constituição do Estado de Rondônia de 1989 CNJ Conselho Nacional de Justiça CP/1940 Código Penal de 1940 CPC/2015 Código de Processo Civil de 2015 CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 DGE/CGJ-RO Diretrizes Gerais dos Extrajudiciais da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de Rondônia EI Estatuto do Idoso ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EPD Estatuto da Pessoa com Deficiência LAP Lei de Alienação Parental LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação LIBRAS Língua Brasileira de Sinais LINDB Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro LMP Lei Maria da Penha LRP Lei de Registros Públicos STF Supremo Tribunal Federal STJ Superior Tribunal de Justiça TRF Tribunal Regional Federal - 8 - DIREITO DAS FAMÍLIAS - 9 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 3. Sumário 1. Nota do Autor ............................................................................................................................................ 5 2. Abreviações ................................................................................................................................................ 7 3. Sumário...................................................................................................................................................... 9 4. Notas Introdutórias .................................................................................................................................. 15 4.1. Princípios Familiares ........................................................................................................................................18 4.1.1. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ........................................................................................................................... 18 4.1.2. Princípio da Afetividade......................................................................................................................................................... 19 4.1.3. Princípio da Função Social da Família .................................................................................................................................... 20 4.1.4. Princípio da Convivência Familiar .......................................................................................................................................... 20 4.1.5. Princípio da Boa-fé ................................................................................................................................................................ 20 4.1.6. Princípio da Solidariedade ..................................................................................................................................................... 22 4.1.7. Princípio da Igualdade ........................................................................................................................................................... 22 4.1.8. Princípio da Liberdade ........................................................................................................................................................... 25 4.2. Intervenção Estatal e Social nas Famílias ..........................................................................................................25 4.3. Evolução Histórica do Direito de Família ..........................................................................................................26 5. Casamento ............................................................................................................................................... 29 5.1. Natureza Jurídica .............................................................................................................................................29 5.2. Princípios do Casamento .................................................................................................................................30 5.2.1. Princípio da monogamia ........................................................................................................................................................ 30 5.2.2. Princípio da liberdade de escolha ..........................................................................................................................................30 5.2.3. Princípio da comunhão plena de vida ................................................................................................................................... 30 5.3. Capacidade para casar-se.................................................................................................................................30 5.3.1. Idade dos Nubentes ............................................................................................................................................................... 30 5.3.2. Dualidade de Sexo ................................................................................................................................................................. 30 5.4. Causas Impeditivas ..........................................................................................................................................31 5.4.1. Impedimento decorrente de parentesco consanguíneo em linha reta ................................................................................. 31 5.4.2. Impedimento decorrente de parentesco por afinidade ........................................................................................................ 31 5.4.3. Impedimentos em decorrência do parentesco civil formado pela adoção ........................................................................... 32 5.4.4. Impedimento decorrente de parentesco consanguíneo colateral ........................................................................................ 32 5.4.5. Impedimento decorrente de vínculo matrimonial ................................................................................................................ 32 5.4.6. Impedimento decorrente de crime ....................................................................................................................................... 32 5.5. Causas Suspensivas .........................................................................................................................................32 5.6. Invalidade do Casamento ................................................................................................................................34 5.6.1. Casamento Inexistente .......................................................................................................................................................... 34 5.6.2. Casamento Anulável (Nulidade Relativa) .............................................................................................................................. 34 5.6.3. Casamento Nulo (Nulidade Absoluta) ................................................................................................................................... 37 5.7. Processo de Habilitação ...................................................................................................................................38 5.7.1. Requerimento de Habilitação ................................................................................................................................................ 39 5.7.2. Análise do Requerimento de Habilitação .............................................................................................................................. 41 5.7.3. Oposição dos Impedimentos do Casamento ......................................................................................................................... 42 5.7.4. Oposição das Causas Suspensivas de Casamento ................................................................................................................. 43 5.7.5. Celebração do casamento ..................................................................................................................................................... 43 5.8. Formas de casamento ......................................................................................................................................45 5.8.1. Casamento por Menores ....................................................................................................................................................... 45 - 10 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 5.8.2. Casamento celebrado por incapaz de consentir e de manifestar de forma inequívoca a sua vontade ................................ 45 5.8.3. Casamento por Analfabetos .................................................................................................................................................. 45 5.8.4. Casamento por Pessoa com Deficiência Mental ................................................................................................................... 45 5.8.5. Casamento por Pessoa com Deficiência Física ...................................................................................................................... 45 5.8.6. Casamento em caso de moléstia grave ................................................................................................................................. 46 5.8.7. Casamento Nuncupativo ....................................................................................................................................................... 46 5.8.8. Casamento por Procuração ................................................................................................................................................... 47 5.8.9. Casamento Religioso com Efeitos Civis ................................................................................................................................. 48 5.8.10. Casamento Putativo ............................................................................................................................................................ 49 5.8.11. Casamento Consular ............................................................................................................................................................ 50 5.8.12. Casamento celebrado fora do país, perante autoridades estrangeiras .............................................................................. 50 5.8.13. Casamento de Estrangeiros ................................................................................................................................................. 50 5.8.14. Casamento Infantil .............................................................................................................................................................. 51 5.9. Provas do Casamento ...................................................................................................................................... 51 5.10. Efeitos do casamento .................................................................................................................................... 51 5.10.1. Efeitos pessoais e seus deveres ........................................................................................................................................... 51 5.10.2. Efeitos Patrimoniais e os Regime de bens ........................................................................................................................... 53 5.11. Pacto Antenupcial ......................................................................................................................................... 57 6. União Estável ............................................................................................................................................ 58 6.1. Natureza Jurídica ............................................................................................................................................ 58 6.2. Capacidade para contrair União Estável ........................................................................................................... 58 6.3. Requisitos ....................................................................................................................................................... 58 6.3.1. Desnecessidade da Dualidadede sexos ................................................................................................................................ 58 6.3.2. Publicidade ............................................................................................................................................................................ 59 6.3.3. Continuidade ......................................................................................................................................................................... 59 6.3.4. Estabilidade e o Lapso Temporal ........................................................................................................................................... 59 6.3.5. Objetivo de constituição de família ....................................................................................................................................... 59 6.3.6. Coabitação ............................................................................................................................................................................. 60 6.3.7. Caráter Monogâmico ............................................................................................................................................................. 60 6.3.8. Impedimentos para a configuração da União Estável ........................................................................................................... 60 6.3.9. Formalidades ......................................................................................................................................................................... 61 6.4. Efeitos da União Estável .................................................................................................................................. 62 6.4.1. Deveres Conjugais ................................................................................................................................................................. 62 6.4.2. Mudança de Nome ................................................................................................................................................................ 62 6.4.3. Parentesco ............................................................................................................................................................................. 63 6.4.4. Estado Civil ............................................................................................................................................................................ 63 6.4.5. Maioridade Civil ..................................................................................................................................................................... 64 6.4.6. Paternidade ........................................................................................................................................................................... 64 6.4.7. Regime de Bens na União Estável ......................................................................................................................................... 64 6.4.8. Direito Real de habitação ...................................................................................................................................................... 65 6.4.9. União Estável do Idoso .......................................................................................................................................................... 65 6.4.10. Vênia Conjugal ..................................................................................................................................................................... 65 6.4.11. Alimentos ............................................................................................................................................................................ 66 6.5. Conversão da União Estável em Casamento ..................................................................................................... 66 6.6. O Reconhecimento da União Estável ............................................................................................................... 67 6.7. Medidas Judiciais ............................................................................................................................................ 67 6.7.1. Ação de Reconhecimento de União Estável .......................................................................................................................... 67 6.7.2. Ação de Reconhecimento de União Estável post mortem .................................................................................................... 67 6.7.3. Ação de Extinção da União .................................................................................................................................................... 68 7. Concubinato ............................................................................................................................................. 70 7.1. Natureza Jurídica ............................................................................................................................................ 70 7.2. Requisitos para Caracterização do Concubinato ............................................................................................... 70 8. Namoro .................................................................................................................................................... 72 8.1. Natureza Jurídica ............................................................................................................................................ 72 8.2. Namoro Qualificado ........................................................................................................................................ 72 8.3. Requisitos para Caracterização do Namoro ...................................................................................................... 72 9. Famílias Simultâneas ................................................................................................................................ 74 - 11 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 10. Famílias Multiespécies ............................................................................................................................ 76 11. Dissolução Conjugal ................................................................................................................................ 78 11.1. Dissolução da sociedade e do vínculo conjugal ...............................................................................................78 11.1.1. Causas Terminativas ............................................................................................................................................................ 79 11.1.2. Causas Dissolutivas .............................................................................................................................................................. 79 11.1.3. Separação de fato ................................................................................................................................................................ 79 11.1.4. Separação de direito ............................................................................................................................................................ 80 11.1.5. Divórcio ................................................................................................................................................................................ 80 11.2. Medidas Judiciais ..........................................................................................................................................81 11.2.1. Julgamento Antecipado do Mérito ...................................................................................................................................... 81 11.3. Medidas Extrajudiciais...................................................................................................................................81 12. Filiação e Relações de Parentalidade ....................................................................................................... 83 12.1. Relações de Parentalidade .............................................................................................................................83 12.1.1. Multiparentalidade .............................................................................................................................................................. 83 12.1.2. Graus de parentesco............................................................................................................................................................ 83 12.2. Critérios para Filiação ....................................................................................................................................84 12.2.1. Critério Presuntivo ............................................................................................................................................................... 84 12.2.2. Critério Biológico ................................................................................................................................................................. 86 12.2.3. Critério Socioafetivo ............................................................................................................................................................ 86 12.3. Reconhecimento dos Filhos ...........................................................................................................................88 12.3.1. Reconhecimento Voluntário ................................................................................................................................................ 88 12.3.2. Reconhecimento Voluntário Socioafetivo ........................................................................................................................... 89 12.3.3. Reconhecimento Judicial ..................................................................................................................................................... 90 12.4. Adoção ..........................................................................................................................................................91 12.4.1. Adoção À Brasileira .............................................................................................................................................................. 93 12.4.2. Adoção Internacional .......................................................................................................................................................... 93 12.4.3. Adoção por Ascendentes ..................................................................................................................................................... 94 12.4.4. Adoção por Casal Homoafetivo ........................................................................................................................................... 94 12.4.5. Adoção por Divorciados ...................................................................................................................................................... 94 12.4.6. Requisitos ............................................................................................................................................................................ 94 12.4.7. Efeitos da Adoção ................................................................................................................................................................ 95 12.4.8. Processo Judicial .................................................................................................................................................................. 96 12.4.9. Adoção de Adultos............................................................................................................................................................... 96 12.4.10. Revogação da Adoção ....................................................................................................................................................... 96 13. Autoridade Familiar ................................................................................................................................ 99 13.1. Exercício da Autoridade ............................................................................................................................... 100 13.1.1. Obediência, Maus Tratos e Castigo Imoderado................................................................................................................. 101 13.1.2. Exploração do Trabalho Infantil ......................................................................................................................................... 102 13.1.3. A Educação e Homeschooling ............................................................................................................................................ 102 13.1.4. Vacinação .......................................................................................................................................................................... 105 13.1.5. Da Autorização para Viajar ................................................................................................................................................ 106 13.1.6. Exposição do Menor .......................................................................................................................................................... 107 13.1.7. Planejamento Familiar ....................................................................................................................................................... 107 13.2. Gestão dos Bens do Menor .......................................................................................................................... 108 13.3. Abandono do Menor e Abandono Afetivo .................................................................................................... 109 13.4. Suspensão e Extinção da Autoridade Parental .............................................................................................. 109 13.4.1. Extinção da Autoridade Familiar ....................................................................................................................................... 110 13.4.2. Suspensão da Autoridade Familiar .................................................................................................................................... 110 13.4.3. Violência Doméstica .......................................................................................................................................................... 111 13.5. Alienação Parental ...................................................................................................................................... 111 13.5.1. Autoalienação Parental ..................................................................................................................................................... 116 13.6. Guarda ........................................................................................................................................................ 116 13.6.1. Modalidades de Guarda .................................................................................................................................................... 118 13.6.2. Guarda para Terceiros ....................................................................................................................................................... 121 13.6.3. Dificuldade de Convívio Familiar ....................................................................................................................................... 121 14. Alimentos .............................................................................................................................................123 14.1. Características ............................................................................................................................................. 123 - 12 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 14.1.1. Irrenunciável ...................................................................................................................................................................... 123 14.1.2. intransferível ..................................................................................................................................................................... 123 14.1.3. impenhorável .................................................................................................................................................................... 123 14.1.4. incompensável................................................................................................................................................................... 123 14.2. Finalidades ................................................................................................................................................. 124 14.2.1. Condição Social.................................................................................................................................................................. 124 14.2.2. Educação ........................................................................................................................................................................... 124 14.3. Alimentante e Alimentado .......................................................................................................................... 124 14.3.1. Pais e Filhos ....................................................................................................................................................................... 124 14.3.2. Alimentos Gravídicos ......................................................................................................................................................... 124 14.3.3. Alimentos Provisionais ...................................................................................................................................................... 125 14.3.4. Alimentos Avoengos .......................................................................................................................................................... 125 14.3.5. Alimentos a ex-cônjuges.................................................................................................................................................... 125 14.3.6. Alimentos pagos por Terceiros .......................................................................................................................................... 125 14.4. Critérios de fixação ..................................................................................................................................... 126 14.4.1. A Culpa e os Alimentos ...................................................................................................................................................... 127 14.5. Renúncia de Alimentos ................................................................................................................................ 127 14.6. Revisão dos Alimentos ................................................................................................................................ 127 14.7. Exoneração dos Alimentos .......................................................................................................................... 129 14.8. Prisão do Devedor ....................................................................................................................................... 130 14.9. Pagamento Parcial dos Alimentos ................................................................................................................ 130 14.10. Falecimento do Alimentado ou Alimentante .............................................................................................. 131 14.11. Medidas Judiciais ...................................................................................................................................... 131 14.11.1. Execução de Obrigação Alimentar Extrajudicial .............................................................................................................. 132 14.11.2. Cumprimento de Sentença da Obrigação de Prestar Alimentos ..................................................................................... 132 15. Bens de Família..................................................................................................................................... 135 15.1. Bens de Família Voluntários ........................................................................................................................ 135 15.2. Bens de Família Legais ................................................................................................................................. 137 15.3. Proteção dos Bens de Família ...................................................................................................................... 137 15.3.1. Impenhorabilidade ............................................................................................................................................................ 137 16. Responsabilidade Civil .......................................................................................................................... 139 16.1. Responsabilização Civil no Casamento ......................................................................................................... 139 16.1.1. Promessa de Casamento e a Ruptura do Noivado ............................................................................................................ 139 16.1.2. Traição ............................................................................................................................................................................... 139 16.2. Responsabilização Civil nas Relações de Parentescos ................................................................................... 139 16.2.1. Abandono Afetivo pelos Pais ............................................................................................................................................. 139 16.2.2. Abandono Afetivo aos Ascendentes .................................................................................................................................. 140 16.2.3. Abandono Material pelos Pais ........................................................................................................................................... 141 16.2.4. Desistência da Adoção ...................................................................................................................................................... 141 17. Direito Assistencial ............................................................................................................................... 143 17.1. Tutela ......................................................................................................................................................... 143 17.1.1. Dos Incapazes de Exercer a Tutela .................................................................................................................................... 145 17.1.2. Da Escusa dos Tutores ....................................................................................................................................................... 145 17.1.3. Do Exercício da Tutela ....................................................................................................................................................... 146 17.1.4. Dos Bens do Tutelado ........................................................................................................................................................147 17.1.5. Da Prestação de Contas ..................................................................................................................................................... 147 17.1.6. Da Cessação da Tutela ....................................................................................................................................................... 147 17.1.7. Aspectos Processuais......................................................................................................................................................... 148 17.2. Curatela ...................................................................................................................................................... 148 17.2.1. A Curatela do Nascituro e do Enfermo ou Portador de Deficiência Física ........................................................................ 148 17.2.2. O Exercício da Curatela...................................................................................................................................................... 148 17.2.3. Medidas Judiciais ............................................................................................................................................................... 149 17.3. Tomada de Decisão Apoiada ........................................................................................................................ 149 17.3.1. A Prestação de Contas ....................................................................................................................................................... 149 17.3.2. O Interesse da Pessoa com Deficiência ............................................................................................................................. 149 18. Resoluções de Conflitos ........................................................................................................................ 151 19. Crimes contra Família ........................................................................................................................... 153 - 13 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 19.1. Dos crimes contra o Casamento ................................................................................................................... 153 19.1.1. Bigamia .............................................................................................................................................................................. 153 19.1.2. Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento ............................................................................................. 153 19.1.3. Conhecimento prévio de impedimento para o casamento ............................................................................................... 153 19.1.4. Simulação de autoridade para celebração de casamento ................................................................................................. 153 19.1.5. Simulação de casamento ................................................................................................................................................... 153 19.1.6. Adultério ............................................................................................................................................................................ 153 19.2. Dos crimes contra o estado de Filiação ......................................................................................................... 153 19.2.1. Registro de nascimento inexistente .................................................................................................................................. 153 19.2.2. Parto suposto, com supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido ................................. 154 19.2.3. Sonegação de estado de filiação ....................................................................................................................................... 154 19.3. Dos crimes contra a Assistência Familiar ...................................................................................................... 154 19.3.1. Abandono Material............................................................................................................................................................ 154 19.3.2. Entrega de filho menor a pessoa inidônea ........................................................................................................................ 154 19.3.3. Abandono Intelectual ........................................................................................................................................................ 154 19.3.4. Violência Patrimonial ......................................................................................................................................................... 155 19.4. Dos crimes contra o Pátrio Poder, Tutela e Curatela ..................................................................................... 155 19.4.1. Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes ................................................................................. 155 19.4.2. Subtração de incapazes ..................................................................................................................................................... 155 20. Direito Sucessório ................................................................................................................................. 157 21. Índice ................................................................................................................................................... 159 22. Referências........................................................................................................................................... 161 - 14 - DIREITO DAS FAMÍLIAS - 15 - DIREITO DAS FAMÍLIAS 4. Notas Introdutórias O direito das famílias1 é, de todos os ramos do direito, o mais intimamente ligado à própria vida das pessoas, uma vez que, de modo geral, as pessoas provêm de um organismo familiar e a ele conservam-se vinculadas durante a sua existência, mesmo que venham a constituir nova família pelo casamento ou pela união estável, por isso pode-se afirmar que é o mais humano de todos os ramos do direito. Sendo portando, uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, o núcleo fundamental em que repousa toda a organização social. O direito das famílias constitui o ramo do direito civil que disciplina as relações entre pessoas unidas pelo matrimônio, pela união estável ou pelo parentesco, bem como os institutos complementares da tutela e curatela, visto que, embora tais institutos de caráter protetivo ou assistencial não advenham de relações familiares, têm, em razão de sua finalidade, nítida conexão com aquele. Está regulando no Código Civil de 2002 destina o Livro IV da Parte Especial a este ramo do direito civil, regulando questões de direito pessoal e patrimonial das famílias. Dentro do Direito das Famílias há questões existenciais ou pessoais que é centrado na pessoa humana com normas cogentes ou de ordem pública, que não podem ser afastadas pelas partes; há também as questões patrimoniais, com dispositivos de ordem privada, ao qual cabem as partes optar em segui-las ou afastá-las. “No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa” (art. 5º, II da LMP) é pode podemos ter os mais diversos elos afetivos entre as pessoas, já que a ideia de família não é construída por meio de um conceito biológico estático, mas sim através de um conceito sociocultural. Pode-se afirmar, assim, que família significa a possibilidade de convivência, conforme expõe Stolze (2020, p. 1.743) “não é possível apresentar um conceito único e absoluto de família”. A família é uma construçãocultural, dispõe de estruturação psíquica, na qual todos ocupam um lugar, possuem uma função — lugar do pai, lugar da mãe, lugar dos filhos —, sem, entretanto, estarem necessariamente ligados biologicamente, e essa estrutura familiar que interessa investigar e preservar em seu aspecto mais significativo, de um verdadeiro LAR: Lugar de Afeto e Respeito (DIAS, 2021, p. 42-3). Há uma proposta legislativa em que “são reconhecidas como famílias todas as formas de união entre duas ou mais pessoas que para este fim se constituam e que se baseiem no amor, na socioafetividade, independentemente de consanguinidade, gênero, orientação sexual, nacionalidade, credo ou raça, incluindo seus filhos ou pessoas que assim sejam consideradas” (art. 2º do PL nº 3.369/2015). Mas legislação não definiu um conceito único de família, porém diversas configurações são identificadas pela doutrina e pelas legislações, pode-se citar os formatos familiares: Família Definição Natural “Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes” (art. 25 do ECA) Ampliada, Extensa ou Estendida “Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade” (art. 25, parágrafo único do ECA) Matrimonial Decorrente do casamento. Informal Decorrente da união estável. 1 A expressão Direito das Famílias em detrimento de Direito da Família é a que melhor atende à necessidade de enlaçar, no seu âmbito de proteção, as famílias, todas elas, sem discriminação, tenham a formação que tiver diante das multifacetadas formatações. - 16 - DIREITO DAS FAMÍLIAS Monoparental Constituídas por um dos genitores com seus filhos. Anaparental Constituídas somente pelos filhos. Eudemonista Caracterizada pelo vínculo afetivo. Mosaico É aquela formada por pessoas que já possuem núcleo familiar e optam por formar outro núcleo. Homoafetiva É aquela formada pela união de pessoas do mesmo sexo, sendo constitucionalmente uma entidade familiar a união formada por qualquer dos pais e descendentes, no sentido de prevalecer a liberdade das pessoas na conformação de suas famílias. Em julgamento histórico para as liberdades e para a dignidade da pessoa (ADPF nº 132/2011), contra inúmeras tentativas de grupos e segmentos organizados da sociedade em impor leituras unilaterais e contrárias ao pluralismo das sociedades democráticas, o STF reconheceu como entidade familiar a união estável de casais do mesmo sexo. Na mesma linha, o mesmo STF criminalizou, em 2019, a chamada homofobia. ADI nº 4277/2011 / Resolução nº 175 CNJ. Concubinato2 É aquela formada por uniões em que há impedimentos para casarem. Poliamor É uma realidade em diversas entidades familiares, sendo um vínculo afetivo de três ou mais famílias. Sendo um tabu pelos legisladores, ao não haver leis que tratem dessa temática, pela sociedade acadêmica e os tribunais, que evitam discutir esta temática. Multiespécie Indicação de Filme O filme estadunidense Os seus, os meus e os nossos (2005) é uma comédia que retrata o dia a dia de dois ex-namorados, que estão viúvos e decidem se casar, no entanto, ele tem 8 filhos e ela 10. A união deles reflete o modelo de família mosaico, demonstrando as dificuldades de se entenderem em razão das diferenças culturais e como criaram planos para que haja um convívio harmonioso nesta nova família. É importante consignar que o conceito de família não é estático e acabado, ao contrário, trata-se de um conceito dinâmico visto em diferentes projeções. Ao observar a sociedade, antes apenas considerava-se família a formada por homem e mulher, hoje, reconhece-se a família homoafetiva e outras configurações. Os conceitos de família apresentados pelos doutrinadores são: Autor(es) Definição Stolze e Pamplona Filho (2020, p. 1.746) é o núcleo existencial integrado por pessoas unidas por vínculo socioafetivo, teleologicamente vocacionada a permitir a realização plena dos seus integrantes Gonçalves (2020, p. 18) é uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, o núcleo fundamental em que repousa toda a organização social Nas percepções de famílias ao longo da história, os filhos havidos fora do casamento, até 1949, eram considerados ilegítimos, não podiam ser reconhecidos. Além disso, havia distinção entre os filhos adotivos e os filhos biológicos, por isso a morte dos pais adotivos era causa de extinção da adoção, a fim de impedir o acesso à herança. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece (XVI 3): A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Sempre se considerou que a maior missão do Estado é preservar o organismo familiar sobre o qual repousam suas bases”. A família é tanto uma estrutura pública como uma relação privada, pois identifica o indivíduo como integrante do vínculo familiar e também como partícipe do contexto social. Além da incidência dos direitos e garantias fundamentais no Direito de Família, passou a gozar de um tratamento diferenciado uma vez que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado” (art. 226 da CRFB/1988), a proteção da família não limitou-se apenas ao casamento “para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (art. 226, § 3º da CRFB/1988), “entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 2 A legislação, o STF e o STJ entendem que não é família, pois “as relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato” (art. 1.727 do CC/2002). Este autor se alinha com este entendimento e inseriu o Concubinato nesta tabela apenas para fins didáticos. - 17 - DIREITO DAS FAMÍLIAS descendentes” (art. 226, § 4º da CRFB/1988), de modo que “o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações” (art. 226, § 8º da CRFB/1988). De modo que o legislador constitucional positivou as questões familiares nos arts. 226 e 227 da CRFB/1988 que tratam de temas específicos. Perceba, portanto, que a CRFB/1988 conferiu uma proteção à família, ao dispor que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (art. 227 da CRFB/1988), no qual “o Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos” (art. 227, § 1º da CRFB/1988): “aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil” (art. 227, § 1º, I da CRFB/1988); “criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação” (art. 227, § 1º, II da CRFB/1988). Com isso, os paradigmas do CC/1916 deram lugar para novos paradigmas, presentes no CC/2002. Embora haja normas de ordem pública dentro do Direito de Família, tanto os sujeitos quanto às relações são entre privados,fazendo com que a doutrina estabeleça o Direito de Família como um ramo de Direito Privado. Indicação de Filme O filme teuto-brasileiro A vida invisível (2019), adaptado do livro "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" escrito por Martha Batalha, retrata a sociedade carioca da década de 1940, demonstrando as relações sociais num regime patriarcal. Marcado pelo autoritarismo de seu pai, Guida decide fugir de casa, enquanto sua irmã Eurídice se submete a um casamento de aparência e luta para manter seus sonhos após o casamento. Indicação de Filme A obra Gabriela, Cravo e Canela (1958), um dos mais célebres romances do escritor brasileiro Jorge Amado, narra na pacata Ilhéus da década de 1920 o caso de amor entre o árabe Nacib e a sertaneja Gabriela, descrevendo as alterações profundas da vida social da Bahia. A obra personifica as transformações de uma sociedade patriarcal, arcaica e autoritária, afetada pelos sopros de renovação cultural, política e econômica. - 18 - DIREITO DAS FAMÍLIAS Código Civil 1916 2002 Modelo Familiar Matrimonializada Múltipla Apenas casamento A família pode ser constituída por diferentes formas: casamento, união estável, monoparental (ascendentes e descendentes) Autoridade Familiar Patriarcal Democrática O homem era o chefe da família, o centro das relações familiares Homens e mulheres possuem direitos e deveres iguais Estrutura Familiar Hierarquizada Igualitária Baseada no pátrio poder, ou seja, todos deviam obediência ao patriarca. Igualdade substancial, tratando desigualmente os desiguais e buscando a igualdade fática entre os componentes familiares. Filiação Biológica Biológica ou Socioafetiva Distinção entre filhos adotivos e biológicos. Filhos biológicos e adotivos possuem os mesmos direitos (art. 1.593 do CC). Formação Familiar Heteroparental Heteroparental e Homoparental Formada por pessoas de sexo distintos Família pode ser formar por pessoas de sexo distintos ou do mesmo sexo Natureza Jurídica Institucional Instrumental Família era uma instituição a ser protegida pelo direito, por isso o casamento era considerado indissolúvel, a esterilidade de um dos cônjuges poderia causar a anulação do casamento. É um instrumento de proteção da pessoa humana. A família é um meio e não um fim. 4.1. Princípios Familiares Ainda que o Estado tenha o dever de regular as relações interpessoais, precisa respeitar a dignidade, a liberdade e a igualdade de todos e de cada um, assim o Código Civil de 2002 procurou adaptar-se à evolução social e aos bons costumes, incorporando também as mudanças legislativas sobrevindas nas últimas décadas do século passado. Adveio, assim, com ampla e atualizada regulamentação dos aspectos essenciais do direito de família à luz dos princípios e normas constitucionais. As alterações introduzidas pelo Código Civil de 2002 em detrimento do 1916 visam preservar a coesão familiar e os valores culturais, conferindo-se à família contemporânea um tratamento mais consentâneo à realidade social, atendendo- se às necessidades da prole e de afeição entre os cônjuges ou companheiros e aos elevados interesses da sociedade. A família contemporânea é permeada pelos princípios da afetividade, função social da família, convivência familiar, boa-fé, dignidade da pessoa humana, solidariedade e igualdade entre familiares. 4.1.1. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana O respeito à dignidade da pessoa humana, como decorrência de que “a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos” (art. 1º da CRFB/1988), entre outros, “a dignidade da pessoa humana” (art. 1º, III da CRFB/1988), portando é a base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, sem qualquer distinção. - 19 - DIREITO DAS FAMÍLIAS De modo que o referido princípio sempre estará presente na aplicação das leis, pois “ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência” (art. 8º do CPC/2015). É o princípio maior, o mais universal de todos os princípios, sendo um macroprincípio do qual se irradiam todos os demais: liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade e solidariedade, uma coleção de princípios éticos. Trata-se de princípio que não representa tão só um limite à atuação estatal. Constitui também um norte para a sua ação positiva. O Estado não tem apenas o dever de abster-se de praticar atos que atentem contra a dignidade humana. Também deve promover essa dignidade através de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para cada ser humano em seu território. Na medida em que a ordem constitucional elevou a dignidade humana a fundamento da ordem jurídica, houve uma opção expressa pela pessoa, ligando todos os institutos à realização de sua personalidade. Tal fenômeno provocou a despatrimonialização e a personalização dos institutos jurídicos, de modo a colocar a pessoa humana no centro protetor do direito. A possibilidade de escolha do regime de bens para o maior de 70 anos, por isso parte da doutrina é válida, uma vez que ao impor o regime de separação de bens é inconstitucional, sendo uma intervenção estatal abusiva. Mas a legislação prevê que “é obrigatório o regime da separação de bens no casamento” “da pessoa maior de 70 (setenta) anos” (art. 1.641, inc. II do CC/2002), impondo assim, a separação legal obrigatória por força de lei. Por isso, o STJ entende que os bens adquiridos na constância do casamento, em esforço comum, comunicam-se, pois no “no regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que comprovado o esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser comprovado. O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil. STJ. 2ª Seção. REsp 1.623.858- MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em 23/05/2018 (recurso repetitivo)” (Informativo nº 628 do STJ). 4.1.2. Princípio da Afetividade O princípio da afetividade na visão clássica, limitava-se apenas nas relações biológicas que eram consideradas como forma de família. Hoje, a socioafetividade também caracteriza família, o que permite reconhecer socialmente diversos arranjos familiares como a união homoafetiva3 e a poliafetiva4, de modo que afetividade é o princípio que fundamenta o Direito das Famílias na estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia em face de considerações de caráter patrimonial ou biológico. Trata-se de um princípio implícito, pois não possui previsão legal, tem como premissa que o afeto tem valor jurídico (no sentido de interação entre pessoas): Afeto positivo: amor; e Afeto negativo: ódio. O Estado tem obrigações para com os seus cidadãos, precisa atuar de modo a ajudar as pessoas a realizarem seus projetos de realização, de preferências ou desejos legítimos e não basta a ausência de interferências estatais, deve criar instrumentos que permita a felicidade das pessoas. Cita-se, como exemplo de algumas das aplicações deste princípio na legislação brasileira: a) a possibilidade de acréscimo do sobrenome do padrasto ou da madrasta como reconhecimento da filiação socioafetiva, após o advento da Lei nº 11.924/2009) que modificou a LRP para que o “o enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2º e 7º desteartigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família” (art. 57, § 8º da LRP) b) “para os fins do art. 1.696, a relação socioafetiva pode ser elemento gerador de obrigação alimentar” (Enunciado nº 341 da IV Jornada de Direito Civil ), no qual “o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros” (art. 1.696 do CC/2002). c) “A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei” (art. 28 do ECA), buscando “na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida” (art. 28, § 3º do ECA). d) “Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade” (art. 1.584 do CC/2002). Deste as possiblidades de relacionamento, Euclides de Oliveira criou a “escalada do afeto”: 3 Conforme Stolze e Pamplona Filho (2020) a opção da expressão “união afetiva” e não “união homossexual” decorre da união em razão do afeto e não da sexualidade. 4 Em razão lógica da afetividade, acredito no reconhecimento das uniões poliafetivas, pois se todos os integrantes demonstram afetos recíprocos, não há por que negar o direito a busca pela felicidade individual. - 20 - DIREITO DAS FAMÍLIAS De modo que todos estes relacionamentos geram implicações jurídicas. Portanto, a família deve ser analisada mais sob o prisma da afetividade do que a estrita legalidade. 4.1.3. Princípio da Função Social da Família Nas esferas constitucionais há que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado” (art. 226 da CRFB/1988) e que “a família, base da sociedade, receberá especial proteção do Estado, na forma da Constituição Federal e desta Constituição” (art. 140 CERO/1989). Ou seja, a família é a “célula mater” da sociedade, havendo mudanças sociais, a família também sofrerá transformações. Logo, há de se reconhecer de novas entidades familiares, além do rol constitucional, que são: Casamento civil; União estável; e Família monoparental. A doutrina e a jurisprudência amplamente majoritárias entendem que o rol é meramente exemplificativo (numerus apertus) e não taxativo (numerus clausus). A função social também está presente nas relações familiares, no qual a família desempenha um papel importante socioculturamente, sendo considerada a base da sociedade, no qual “principal função da família é a sua característica de meio para a realização de nossos anseios e pretensões. Não é mais a família um fim em si mesmo, conforme já afirmamos, mas, sim, o meio social para a busca de nossa felicidade na relação com o outro” (STOLZE e PAMPLONA FILHO, 2020, p. 1.759). 4.1.4. Princípio da Convivência Familiar Os novos rumos conduzem à família socioafetiva, onde prevalecem os laços de afetividade sobre os elementos meramente formais, altera-se o conceito de unidade familiar, antes concebido como pais e filhos legítimos baseada no casamento para um modelo mais flexível inteiramente voltado para a realização espiritual e o desenvolvimento da personalidade de seus membros. Priorizada, assim, a convivência familiar, ora nos defrontamos com o grupo fundado no casamento ou no companheirismo, ora com a família monoparental sujeita aos mesmos deveres e tendo os mesmos direitos. Em face da garantia à convivência familiar, há a tendência de buscar o fortalecimento dos vínculos familiares e a manutenção de crianças e adolescentes no seio da família natural. Porém, no mais das vezes, melhor atende aos seus interesses a destituição do poder familiar e sua entrega à adoção. Deve prevalecer o direito à dignidade e ao desenvolvimento integral. Mas infelizmente tais valores nem sempre são preservados pela família biológica ou extensa. Daí a necessidade de intervenção do Estado, colocando-os a salvo junto a famílias substitutas. Afinal, o direito à convivência familiar não está ligado à origem biológica da filiação. Não é um dado, é uma relação construída no afeto, não derivando dos laços de sangue. Portanto, o afastamento definitivo dos filhos da sua família natural é medida de exceção, apenas recomendável em situações justificadas por interesse superior, a exemplo da adoção, do reconhecimento da paternidade socioafetiva ou da destituição do poder familiar por descumprimento de dever legal. Em nosso sistema, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a par de regular a inserção em família substituta, não admite que os filhossejam separados de seus pais por simples motivo de ordem econômica. Ao prever que a falta de recursos materiais não autoriza a perda ou a suspensão do poder familiar, a norma estatutária está assegurando, especialmente a famílias de baixa renda, a convivência familiar com a sua prole, impedindo que o poder econômico seja utilizado como vetor de determinação da guarda ou de qualquer outra medida em face de suas crianças e adolescentes. O direito à convivência deve se estender também a outros integrantes da família, como os avós, tios e irmãos, com os quais a criança ou o adolescente mantém vínculos de afetividade. 4.1.5. Princípio da Boa-fé A boa-fé está presente nas relações familiares devem ser permeadas pela ela, havendo a boa-fé subjetiva trata da confiança própria, a boa-fé objetiva diz com a confiança no outro. Por isso seu conceito é ligado à noção de lealdade e respeito à expectativa alheia. É reconhecida como princípio do Direito das Família por Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald, Jones Figueiredo Alves, Anderson Schreiber e Fernanda Gurgel. Ficar Namorar Noivar Conviver Casar - 21 - DIREITO DAS FAMÍLIAS Alerta Luiz Edson Fachin que a lealdade é uma decorrência da boa-fé e confiança nas relações privadas, o que remete ao festejado princípio da eticidade. A boa-fé objetiva é definida como cláusula geral que impõe deveres de lealdade e respeito à confiança recíproca entre as partes de uma relação jurídica. O exercício do direito irregular consubstancia quebra da confiança e frustração de expectativas legítimas. Superior Tribunal de Justiça Nas relações familiares, o princípio da boa-fé objetiva deve ser observado e visto sob suas funções integrativas e limitadoras, traduzidas pela figura do venire contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório), que exige coerência comportamental daqueles que buscam a tutela jurisdicional para a solução de conflitos no âmbito do Direito de Família. Na hipótese, a evidente má-fé da genitora e a incúria do recorrido, que conscientemente deixou de agir para tornar pública sua condição de pai biológico e, quiçá, buscar a construção da necessária paternidade socioafetiva, toma-lhes o direito de se insurgirem contra os fatos consolidados. A omissão do recorrido, que contribuiu decisivamente para a perpetuação do engodo urdido pela mãe, atrai o entendimento de que a ninguém é dado alegrar a própria torpeza em seu proveito (nemo auditur propriam turpitudinem allegans) e faz fenecer a sua legitimidade para pleitear o direito de buscar a alteração no registro de nascimento de sua filha biológica (REsp 1.087.163/RJ. Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2011, DJe 31/08/2011). A proibição de comportamento contraditório está sintetizada na expressão: nemo potest venire contra factum proprium. Se alguém se comporta em certo sentido não pode vir a contrariar, posteriormente, este comportamento inicial, lesando a legítima confiança despertada em outrem, sob pena deviolação à boa-fé objetiva do outro. A proibição do comportamento contraditório não depende da vontade de quem agiu de modo dissonante, bastando para sua aplicação efetiva contradição, em transgressão às expectativas legítimas produzidas pelo agir anterior. A surrectio é o surgimento de uma situação ou vantagem para alguém em razão do não exercício por outrem de determinado direito, cerceando a possibilidade de exercê-lo posteriormente. A supressio ou a perda, a supressão de determinada faculdade jurídica pelo decurso do tempo. O retardamento em exercitar determinado direito faz surgir para o outro uma justa expectativa. A quebra da expectativa qualificada pelo tempo gera a supressão de situações jurídicas, impedindo o exercício de direitos, sob pena de caracterização de abuso. A supressio se aproxima do venire contra factum proprium, pois ambas atuam como fatores de preservação da confiança alheia. Há julgados estaduais que aplicam os institutos do supressio e surrectio para os alimentos entre os cônjuges/companheiros: Tribunal de Justiça de SP Ação de alimentos. Pleito ajuizado por esposa separada de fato. Improcedência da ação. Cabimento. Inércia da autora por aproximadamente seis anos, no exercício do direito de pretender alimentos, acarretou verdadeira supressio. Autora, ademais, que admite haver sido auxiliada, neste período, por sua filha. Ausência de demonstração do binômio necessidade/possibilidade. Recurso improvido (TJSP, Apelação 0004121-24.2008.8.26.0024, Acórdão 6030240, Andradina, 7.ª Câmara de Direito Privado, j. 04.07.2012, DJESP 30.07.2012) Tribunal de Justiça do RS Agravo de instrumento. Execução de alimentos. Prisão. Rito artigo 733. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO OBRIGACIONAL PELO COMPORTAMENTO CONTINUADO NO TEMPO. CRIAÇÃO DE DIREITO SUBJETIVO QUE CONTRARIA FRONTALMENTE A REGRA DA BOA-FÉ OBJETIVA. SUPRESSIO. Em atenção a boa-fé objetiva, o credor de alimentos que não recebeu nada do devedor por mais de 12 anos permitiu com sua conduta a criação de uma legítima expectativa no devedor e na efetividade social de que não haveria mais pagamento e cobrança. A inércia do credor em exercer seu direito subjetivo de crédito por tão longo tempo, e a consequente expectativa que esse comportamento gera no devedor, em interpretação conforme a boa-fé objetiva, leva ao desaparecimento do direito, com base no instituto da supressio. Precedentes doutrinários e jurisprudenciais. No caso, o filho deixou de exercer seu direito a alimentos, por mais de 12 anos, admitindo sua representante legal que a paternidade e auxílio econômico ao filho era exercido pelo seu novo esposo. Caso em que se mostra ilegal o decreto prisional com base naquele vetusto título alimentar. DERAM PROVIMENTO. Unânime. (TJRS - Agravo de Instrumento: AI 70042234179 RS) Porém já houve entendimentos contrários Tribunal de Justiça do RJ RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. TÍTULO EXECUTIVO. AUSÊNCIA. COISA JULGADA MATERIAL. OBSERVÂNCIA. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. TEORIA DO ABUSO DE DIREITO. SURRECTIO. INAPLICABILIDADE. PAGAMENTO. AUTONOMIA PRIVADA. MERA LIBERALIDADE. (...) 2. Controvérsia acerca da possibilidade ou não de, com fundamento na teoria do abuso do direito e na surrectio, perpetuar obrigação alimentar assumida por longo período a título de mera liberalidade pelo alimentante já exonerado da dívida. 3. Não há falar em ilicitude na conduta do recorrente por inexistência de previsibilidade de pagamento eterno dos alimentos, especialmente porque ausente relação obrigacional. 4. É cediço que a execução desamparada em título judicial ou extrajudicial é nula. 5. Na hipótese, inviável a manutenção do dever alimentar em virtude do decurso do prazo fixado em acordo homologado em juízo e pela existência de coisa julgada refutando a dívida. 6. Recurso especial provido. (REsp 1789667/RJ, - 22 - DIREITO DAS FAMÍLIAS Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/08/2019, DJe 22/08/2019) Um exemplo da boa-fé está na chamada adoção “à brasileira” não tem cabimento a ação negatória de paternidade por parte do pai que registrou voluntariamente o filho, sabendo que ele não é seu. Admitir a ação violaria a legítima confiança do filho. Tal comportamento afrontaria a boa-fé objetiva incidente sobre aquela relação familiar, ou um dever mais amplo de solidariedade no âmbito da família.4 Com base neste princípio, o STJ reconheceu a cessação do regime de bens pela simples separação, independente de prazo. 4.1.6. Princípio da Solidariedade O princípio da solidariedade determina o amparo, a assistência material e moral recíproca entre todos os membros da família, concretizando a responsabilidade social aplicada à relação familiar, permitindo uma maior dignidade da pessoa humana, demonstrando uma especial forma de responsabilidade social aplicada à relação familiar. Tendo este princípio previsão constitucional quando “constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil” (art. 3º da CRFB/1988), entre eles, “construir uma sociedade livre, justa e solidária” (art. 3º, inc. I da CRFB/1988). A lei se aproveita do comprometimento afetivo que existe no âmbito das relações familiares para gerar deveres recíprocos entre os integrantes do grupo familiar. Cita-se, como exemplo, a obrigação alimentar entre parentes, cônjuges ou companheiros. A lei civil consagra o princípio da reciprocidade ao impor a plena comunhão de vida ao casamento (art. 1.511 do CC/2002). A obrigação alimentar dispõe de igual conteúdo (art. 1.694 do CC/2002). Os integrantes da família são, em regra, reciprocamente credores e devedores de alimentos. A obrigação entre parentes representa a concretização dos princípios da solidariedade e da reciprocidade. Também assim os alimentos compensatórios têm como justificativa o dever de mútua assistência. 4.1.7. Princípio da Igualdade Constitucionalmente é assegurado tratamento isonômico e proteção igualitária a todos os cidadãos no âmbito social, uma vez que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes” (art. 5º da CRFB/1988) desta Constituição. A ideia central é garantir a igualdade, o que interessa particularmente ao Direito, pois está ligada à ideia de Justiça, portanto “em face do princípio da igualdade das entidades familiares, é inconstitucional o tratamento discriminatório conferido ao cônjuge e ao companheiro” (Enunciado nº 3 do IBDFAM) Os conceitos de igualdade e de justiça evoluíram, de modo que a justiça formal se identifica com igualdade formal ao conceder aos seres de uma mesma categoria idêntico tratamento. Mas não basta que a lei seja aplicada igualmente para todos, aspira-se à igualdade material precisamente porque existem desigualdades. Assim, também existe a igualdade como reconhecimento, que significa o respeito devido às minorias, sua identidade e suas diferenças, sejam elas quais forem. Nada mais do que o respeito à diferença, logo com o passar do tempo as mulheres ganharam espaço nas relações familiares pois eram inferiorizadas em legislações anteriores, e com isso haverá situações que visam a equidade no âmbito familiar, tal situação a doutrina chama de discrímen. Portanto, alguns membros da família necessitam de uma proteção diferenciada como os menores, idosos, as mulheres, entre outros, para que seja possível a igualdade material. Pois, o patriarcalismo não mais se coaduna, efetivamente, com a sociedade atual. Como exemplo deste princípio na questão das filiações, “os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (art. 1.596 do CC/2002). Logo, são vedadas as seguintes
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