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ATRIBUIÇÕES DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA EM DEMANDAS DE ORIGEM JUDICIAL Em conformidade com os princípios do SUS, o Estado tem como dever a manutenção de uma política de saúde que seja sobretudo abrangente e acessível à população. O Direito Sanitário concebe que o paciente deva ter acesso ao grupo de tecnologias que possibilita a promoção de sua saúde, incluindo recursos como prestação de serviços por profissionais da saúde, distribuição de medicamentos, e contato com demais programas desenvolvidos pelo sistema. Ao garantir tais direitos, as ações de prevenção, promoção, diagnóstico, reabilitação e tratamento passam a ser viabilizadas à população. No campo da assistência farmacêutica, os princípios do SUS aplicam-se, principalmente, ao sistema de dispensação de medicamentos, que é dividido pelo governo entre três esferas: medicamentos da atenção básica, medicamentos estratégicos e medicamentos excepcionais. Estes grupos proporcionam o tratamento da maior parte de patologias prevalentes na população, sejam elas agudas ou crônicas, além de possuírem meios para tratar algumas enfermidades raras. Quando o sistema de saúde recebe uma demanda que não pode ser atendida com medicamentos já disponíveis em uma das três esferas citadas anteriormente, o paciente tem a opção de recorrer a uma ação judicial, podendo possibilitar uma dispensação medicamentosa que está fora da padronização. Nestas situações, recursos financeiros do governo, que poderiam ser destinados a uma quantidade maior de cidadãos, são alocados para um grupo restrito de pacientes, visto que tais demandas são habitualmente de valores mais elevados. Além disso, alguns casos de fornecimento via judicial de medicamentos não possuem evidências de que o tratamento resulte em melhores resultados para a saúde do paciente. Tais questões levam à necessidade de repensar determinações judiciais, dado que, em princípio, todos medicamentos judicializados possuem um análogo já padronizado no SUS (Tanaka, 2008). Apesar de uma das principais implicações da judicialização ser a alocação de maiores recursos financeiros em um único processo, a saúde do paciente também é um grande fator levado em conta; decisões judiciais nem sempre são as mais racionais e benéficas à sua saúde, principalmente em casos de prescrições off label sem justificativas e/ou baseadas em evidências. Diante disto, o ideal seria que a judicialização ocorresse apenas após a certeza de que as tecnologias padronizadas no SUS não são compatíveis com a necessidade do paciente, e a inefetividade seja devidamente comprovada. Vista a importância de reduzir o fenômeno da judicialização na saúde (e promover sua ocorrência apenas quando for pertinente), farmacêuticos, que possuem uma visão global do sistema de saúde e conhecimentos técnico-científicos, podem auxiliar intervindo em diferentes etapas do processo judicial; tanto na fase pré-processual quanto na processual. Um exemplo de intervenção, é a possibilidade do farmacêutico habilitado produzir pareceres com informações que oferecem alternativas de resolução através de processos administrativos (CFF, 2018). O profissional de saúde também pode contar com ferramentas que o auxiliem na administração de fenômenos judiciais, como a check list disponibilizada pelo Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (Sartori e Oliveira, 2021) que cita itens a serem levados em consideração no momento de avaliar tais demandas. Entre as principais orientações fornecidas pelo material, está a importância da avaliação farmacêutica em frente a uma prescrição medicamentosa não SUS, bem como a importância do farmacêutico estar habilitado a fazer tal revisão, possuindo conhecimentos técnicos-científicos e competências como senso crítico para a tomada de decisão. O trabalho interdisciplinar na saúde, com meios de comunicação efetivos e sistemas informatizados que possibilitem a fácil troca de informações, também contribuem para a administração das demandas. Convém aos profissionais de saúde envolvidos neste contexto, buscar conhecimentos e especializações na área do Direito em saúde, favorecendo a compreensão acerca de processos judiciais, e o aprimoramento das habilidades para a defesa do poder público. O farmacêutico possui um papel especial nos casos de judicialização, atuando no acompanhamento farmacoterapêutico do paciente, uma vez que a dispensação do medicamento é mensal, e o contato com o usuário é possibilitado por tal periodicidade. A assistência farmacêutica também previne casos de medicamento-resíduo domiciliar, atribuindo destinação adequada a medicamentos que tiveram seu uso interrompido ou suspenso. O SUS possui como desafio garantir medicamentos fundamentais à população, além de ser capaz de abarcar demandas especiais aprovadas por decisão judicial. Para que o sistema de saúde continue podendo prestar suporte, é imprescindível que sejam respeitados os critérios para judicialização, em prol de um equilíbrio que mantenha a disponibilidade de recursos financeiros destinados à saúde pública. Referências: CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF - Brasil). Judicialização de Medicamentos: apoio técnico-farmacêutico para a diminuição e/ou qualificação das demandas. Grupo de Trabalho de Farmacêuticos no Sistema de Justiça. Brasília, 2018. Disponível em: <https://www.cff.org.br/userfiles/CARTILHA%20JUDICIALIZA%c3%87%c3%83O%2 0-%20FINAL.pdf> SARTORI, Alexandre A. T., OLIVEIRA, Márcia G. Sugestão de check list para auxiliar o farmacêutico na tomada de decisão e contribuir para a redução do fenômeno da judicialização na Saúde. Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul, 2021. Disponível em: <https://media.crfrs.org.br/publicacoes/2021-02%20-%20Chek%20list%20Judicializa %C3%A7%C3%A3o%20na%20Sa%C3%BAde%20(1)-20212319465-741.pdf> TANAKA, Oswaldo Y. A judicialização da prescrição medicamentosa no SUS ou o desafio de garantir o direito constitucional de acesso à assistência farmacêutica. Revista de Direito Sanitário, v. 9, n. 1, p. 139-143, 2008.