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FACULDADE DOM ALBERTO FUNDAMENTOS E DIDÁTICA DA GEOGRAFIA II SANTA CRUZ DO SUL – RS 2 1 AS METODOLOGIAS DE ENSINO ATIVAS: ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Faz muitos anos que a literatura científica relacionada às diferentes áreas do conhecimento e ao campo educacional colocam sérias resistências à crença de que todo aprendizado é interativo e de que os alunos são potenciais ativos de aprendizagem pelo simples fato de ouvirem explicações que lhes sejam fornecidas (Moraes e Castellar, 2018). Fonte: leiturinha.com.br Dewey (2002) já criticava a organização da sala de aula com vistas a fazer as crianças ouvirem. Para ele, a atitude de ouvir significa passividade, absorção sem reflexão; significa também que há um certo número de materiais já prontos, preparados para que as crianças assimilem da forma mais perfeita possível, no menor espaço de tempo possível. Para Moraes e Castellar (2018) ele entendia que o aprendizado ocorre quando o aluno realiza algo, ou seja, que se aprende fazendo. Aprender fazendo não pode ser entendido como realizar muitas tarefas, mas como o ato de pensar na maneira ou no motivo pelos quais se faz algo. A reflexão é a chave para a AULAS 11 A 20 3 aprendizagem ativa. Isso pode ser alcançado colocando-se o pensamento do aluno em estado de mobilização, estimulando-o, por meio das atividades, a analisar, compreender, comparar fenômenos. Esse mesmo autor entendia também que a mente humana aprenderia quando os fatos estabelecessem, na escola, relações com a experiência individual. Essa construção só ocorreria em ambientes nos quais a democracia estivesse presente, pois seria ela a libertar a inteligência e nos levar a desempenhar nossos trabalhos (Moraes e Castellar, 2018). À escola, na concepção do autor, caberia uma função social: ensinar ao indivíduo não as coisas, mas os significados das coisas, os sinais e sua linguagem (Dewey, 1959). Se a escola não vinculasse a prática das crianças ao que aprendem, ela estaria isolada da sociedade. A escola seria o local onde a criança deveria adquirir diferentes experiências relacionadas ao comportamento moral e ao bem-estar social. Procedendo-se dessa maneira, a separação entre escola e sociedade seria de certa forma amenizada (Moraes e Castellar, 2018). Para alguns educadores (ex.: Kilpatrick, 1987), a aprendizagem está ligada a uma atividade de aquisição de ideias e conhecimentos. A aprendizagem requer, assim, que o indivíduo seja ativo na construção e elaboração de seus próprios modelos mentais. Para Moraes e Castellar (2018) a aprendizagem ativa é compatível com uma prática reflexiva, desde que sejam providas atividades que incluam oportunidades de reflexão, como algo que seja parte do próprio processo de aprendizagem ativa (refletir acerca da própria aprendizagem). Ao tratarmos de um processo de construção de conhecimento baseados em metodologias ativas, estamos assumindo que o propósito fundamental da educação é capacitar os alunos para ter consciência de sua própria construção de significados (Novak, 1998). E construir significados implica pensar, sentir e atuar, pois é dessa maneira que o aluno terá capacidade de criar um novo conhecimento (Moraes e Castellar, 2018). Quando tratamos das metodologias ativas, estamos afirmando que o ensino por investigação, o uso de tecnologias, do teatro, a aprendizagem por problemas, o trabalho de campo, as aulas cooperativas – apenas para citar alguns exemplos do que é considerado metodologia ativa – colocam os alunos em destaque no processo de aquisição de conhecimento. Alguns autores que 4 trabalham na linha de ensino e aprendizagem entendem que a aprendizagem ativa é a que se utiliza de métodos não passivos. Nesse sentido, ler um texto ou observar um instrutor fazendo algo é aprendizagem passiva (Moraes e Castellar, 2018). Kolb (1984) argumenta que a aprendizagem ativa engloba tanto a experiência concreta (com um evento) como a experimentação ativa (planejamento de uma experiência). Ela exige reflexão, observação (pensar sobre o que ocorreu), abstração de conceito (pensar sobre o que aprendeu e estabelecer relação com o que já foi aprendido). A aprendizagem, em uma perspectiva da metodologia ativa, é vista como um gradual, mas cumulativo, desenvolvimento de “conhecimentos”, por meio da participação em atividades nas quais o conhecimento é progressivamente construído, aplicado e revisto (Moraes e Castellar, 2018). Para Moraes e Castellar (2018) o que se deve considerar quando se trabalha com aprendizagem ativa é que há uma série de aquisições a serem feitas pelos alunos e professores, aprendizagens que vão além de conceitos a serem adquiridos. Nesse sentido, interessa a aquisição, por parte dos alunos, de estratégias, habilidades, valores, capacidade, por exemplo, de analisar, sintetizar, entre outras. Alguns professores ainda apresentam resistência em relação à aprendizagem ativa, por considerarem difícil aplicar esses métodos quando os alunos não possuem um conhecimento mínimo necessário para trabalhar algumas coisas (Kerawalla et al., 2013). A resistência de alguns professores às novas propostas revela, muitas vezes, uma falta de conhecimento das estratégias de ensino. Em outros casos, ela decorre do fato de que tais estratégias nunca foram ensinadas aos professores. De qualquer modo, não podemos considerar nenhum modelo de ensino como uma salvação (Moraes e Castellar, 2018). Nesse sentido, afirmamos que não há uma metodologia de ensino que, por si só, garanta o sucesso da aprendizagem. Aqueles que trabalham em uma perspectiva de construção do conhecimento, portanto da aprendizagem pela metodologia ativa, têm de tomar cuidado com dois mitos (Scheyvens, Griffin, Jocoy, Liu e Bradford, 2008, p. 60): 1. O fazer garante aprendizagem ativa. 5 É necessário haver atividades, mas também é necessário que essas atividades sejam relevantes. Nesse sentido, é preciso haver relação entre atividades e objetivos de aprendizagem, e que ambos levem à reflexão. 2. Ao ouvir, o aluno vai formulando suas hipóteses, interiorizando conhecimento e teorias. Ouvir e trabalhar com hipóteses, quando feito apenas pelo aluno ou de uma forma que o professor não acompanhe a mudança do pensamento do aluno, não garante uma aprendizagem ativa. Nesse sentido, participar como ouvinte de uma palestra não faz parte da aprendizagem ativa. Ao contrário, para que um momento se qualifique como aprendizagem ativa, é essencial que o professor e o aluno estejam cognitivamente envolvidos em outros métodos além de ouvir. Um exemplo que pode ser aplicado é fazer o aluno se envolver com grupos de discussão e ir acompanhando as mudanças que daí decorrerem (Moraes e Castellar, 2018). Segundo Tuna (2012), a aprendizagem ativa é caracterizada por tarefas de aprendizagem, como: - aprendizagem colaborativa, em que há envolvimento de mais alunos no processo de construção de conhecimento, como trocas entre eles, para o aprendizado ocorrer. Ela deve envolver alunos para fazerem coisas e estimulá- los a pensar sobre elas; - um contínuo de tarefas que vão das simples para as complexas, exigindo-se, aos poucos, um nível maior do uso das funções cognitivas; - instrução direta dos professores e trabalho dos alunos a partir dessa instrução; e, por fim, - aprendizagem individual levada pelo próprio aluno, em que este sistematizará o que foi trabalhado e aprendido no grupo e formará para si um conhecimento. Ou seja, a aprendizagem, mesmo em grupos, é individual. Essa aprendizagem individual pode ser operacionalizada, por exemplo, a partir de estratégias envolvendo a escrita. Por meio dessas tarefas, (Moraes e Castellar, 2018) afirma que podemos superar os mitos antes apresentados, tornando as atividadesmais significativas, estimulando os alunos a ouvir os outros, a pensar sobre o que está sendo discutido e, por fim, a elaborar registros coletivos e individuais. 6 Isso significa que algumas características associadas às estratégias ativas de aprendizagem devem ser estruturadas, para que os alunos sejam mais que ouvintes passivos: eles devem envolver-se em atividades (leitura, discussão, escrita etc.); a ênfase menor deve estar na informação a ser adquirida, e a maior no desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, ou seja, é preciso instigar o aluno a pesquisar, fazer analogias, comparar. Além disso, as atividades devem estimular as atitudes e valores; a motivação dos alunos deve aumentar (especialmente nos adultos); os alunos devem receber retornos do professor, e serem capazes de realizar análises, sínteses, avaliações, etc (Moraes e Castellar, 2018). O que envolve, portanto, uma aprendizagem ativa? Discussão, resolução de problemas, apresentação, trabalho em grupo, discussão em grupo, troca de papéis (representar um papel, por exemplo), ou seja, tudo aquilo que faz com que os alunos interajam uns com os outros, apoiando essas interações na leitura de materiais (Moraes e Castellar, 2018). Conforme Moraes e Castellar (2018) se pensarmos no cotidiano escolar, pode parecer que o que estamos apresentando como uma possibilidade para o aluno se apropriar de conhecimento científico é algo impossível. Mas a proposta desta conversa é criar condições para que as ações em sala de aula sejam instigantes e envolvam os alunos, levando-os a participar das atividades. Há inúmeras estratégias que auxiliam o professor na promoção de uma aprendizagem mais ativa. Elas implicam uma melhor compreensão, da parte do professor, quanto às potencialidades de determinadas atividades, como uma seção de leitura ou a produção de uma maquete (em quanto tempo devem ser feitas; se antecedem ou não uma atividade; caso antecedam, o que deve ser priorizado), da disposição das salas de aula, do envolvimento que se proporá aos alunos, entre outros (Moraes e Castellar, 2018). Kolb (1984) argumenta que o aluno passa por um processo contínuo de integração da teoria com a prática, da ação com a observação, quando é incentivado a ser ator e observador, interagir e ter experiência, aplicar o raciocínio abstrato e teórico. Por um lado, existe uma reflexão acerca de como desenvolvemos atividades de forma a promover um ensino que envolva os alunos. Por outro lado, devem ser discutidos os referenciais que estão por detrás 7 dessas estratégias, além de entender a que formas de pensamento tais referenciais estão associados. Discutir sobre metodologias ativas implica alterar a concepção que se tem acerca do currículo, entendê-lo como influenciado pelas necessidades, histórias, investimento político e, também, por certa inércia institucional. Implica também analisar as habilidades e estratégias que se quer desenvolver nos alunos, dentro da construção do conhecimento científico (Mayrose, 2012; Whalley, Saunders, Lewis, Buenemann e Sutton, 2011). 2 CUIDADOS ÉTICOS NA PESQUISA Fonte: s2consultoria.com.br Segundo Teixeira e Oliveira (2010) A ideia-chave que norteia nossas reflexões é a defesa da vida e os deveres dos pesquisadores para com todas as formas de vida: vida das pessoas, dos animais e dos ecossistemas. O texto prioriza e focaliza o respeito à pessoa-participante da pesquisa: pessoa-aluno, pessoa-professor, etc. O respeito à pessoa-participante da pesquisa envolve aproximação cautelosa, relação afetuosa, interação sigilosa. É com essa ideia-chave que iniciamos nossas reflexões sobre cuidados éticos na pesquisa. O objetivo é chamar a atenção dos pesquisadores (autores e também orientadores) para tais cuidados e contribuir com o debate e a reflexão acerca da temática. O texto está organizado em sessões- tópico que partem de 8 algumas questões de que temos tratado em palestras e discussões sobre o tema (Teixeira e Oliveira, 2010). Neste capítulo, damos ênfase ao debate acerca das bases teóricas sobre a ética e sua aplicação na pesquisa, abordando alguns antecedentes históricos do movimento a favor da ética na pesquisa e nos detendo com mais exaustividade no processo de normalização que subsidia o “fazer-pesquisa” e que se materializarem procedimentos específicos, os cuidados éticos na pesquisa (Teixeira e Oliveira, 2010). 2.1 O que é a ética? A palavra ética, etimologicamente, é oriunda do grego ethos com o sig- nificado de “costumes”, “jeito” ou “modo de ser”. A ética, como costume, csiíi relacionada à produção cultural humana, que é construída historicamente (Teixeira e Oliveira, 2010). Para Teixeira e Oliveira (2010) a ética diferencia-se da moral. Para Vàzquez (1980, p. 25), a moral é “um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social dada”, e o seu significado, função e validade variam historicamente. A moral é histórica porque “a natureza humana é a de estar se fazendo ou autoproduzindo constantemente tanto no plano de sua existência material, prática, como no de sua vida espiritual, incluída nesta a moral”. Nesse sentido, para Teixeira e Oliveira (2010) a moral está vinculada às práticas sociais, está ligada “a costumes e a tradições específicas de cada povo, vinculada a um sistema de valores, próprio de cada cultura e de cada caminho espiritual. Por sua natureza, a moral é sempre plural” (BOFF, 1997, p. 92). Isso significa que cada grupo social, em suas relações interpessoais, estabelece significado às suas ações, atribuindo-lhes valores, que orientam as normas e as regras de convivência social. Conforme Oliveira (2006), os indivíduos em suas relações sociais desenvolvem ações, cuja decisão interfere no outro, produz consequências a outros indivíduos. Assim, a ação moral humana caracteriza-se por ser fruto de uma decisão e de um julgamento, face às consequências para o outro ser humano. É uma ação que implica liberdade e responsabilidade do indivíduo face 9 a outros seres humanos, porque envolve decisão livre e consciente do indivíduo no seu agir perante o outro. Se o indivíduo tem consciência de suas ações perante o outro, ele tem a capacidade de refletir sobre as normas morais presentes nas práticas sociais, teorizar sobre ela, e essa ação é ética (Teixeira e Oliveira, 2010). A ética é um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, historicamente produzidos, cujo objetivo é balizar as ações humanas. A ética existe como uma referência para os seres humanos em sociedade, de modo tal que a sociedade possa se tornar cada vez mais humana (CASALI, 2000, p. 07). A ética apresenta um caráter reflexivo e norteia os comportamentos morais. O ser humano reflete assim como teoriza sobre o comportamento moral. Ao teorizar, busca os fundamentos da ação moral humana e a construção de princípios éticos, numa perspectiva universal. “A ética faz parte do existir humano em sociedade, envolvendo criticidade, opção e decisão dos indivíduos (OLIVEIRA, 2006, p.179). Para Freire (1997, p.36), por sermos seres “histórico- sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos” (Teixeira e Oliveira, 2010). 2.2 Qual a importância social da ética? Para Teixeira e Oliveira (2010), a ética, ao estabelecer princípios humanitários comuns, regula o desenvolvimento histórico-cultural da humanidade. Para Casali (2000, p.7), o fato de os seres humanos concordarem sobre princípios, “como justiça, igualdade de direitos, dignidade da pessoa humana, cidadania plena, solidariedade etc., cria chances para que esses princípios possam vir a ser postos em prática”, mas não significa que sejam cumpridos, havendo necessidade de que cada indivíduo incorpore essesprincípios como uma atitude prática diante da vida cotidiana. A ética está relacionada ao processo de construção da cidadania e de inclusão social, na medida em que problematiza de forma crítica as situações de desrespeito à vida, aos direitos humanos e ao ambiente, a exploração e discriminação de pessoas por diversos fatores e a moral vigente na sociedade, 10 que se caracteriza pelo individualismo e o utilitarismo ao valorizar o ter ao invés do ser; moral do vale-tudo, do salve-se-quem-puder, do cada-um-por- si, em que prevalece o egoísmo sobre a solidariedade (Oliveira, 2004). Nesse sentido, é a vida humana que se dimensiona como critério ético fundamental, a partir da qual as normas morais são questionadas e refutadas (Teixeira e Oliveira, 2010). 3 A RELAÇÃO OBJETIVO-CONTEÚDO-MÉTODO Fonte: idiomatika.com.br Para Libâneo (1994) ao longo dos nossos estudos temos tratado sistematicamente dessa questão fundamental do processo de ensino. Os métodos não têm a vida independentemente dos objetivos e conteúdos, assim como a assimilação dos conteúdos depende tanto dos métodos de ensino como dos de aprendizagem. A primeira consideração que devemos fazer a esse respeito é que o conteúdo de ensino não é a matéria em si, mas uma matéria de ensino, selecionada e preparada pedagógica e didaticamente para ser assimilada pelos alunos. Ao dizermos isso, queremos insistir em que não basta transmitir a matéria, ainda que levemos em conta as condições prévias dos alunos. É preciso considerar que a matéria de ensino está determinada por aspectos político- pedagógicos, lógicos e psicológicos, o que significa considerar a relação de subordinação dos métodos aos objetivos gerais e específicos. Os objetivos 11 expressam não só a antecipação dos nossos propósitos em relação ao desenvolvimento e transformação da personalidade dos alunos face às exigências individuais e sociais, como também a conotação pedagógica dos conteúdos. Os métodos, por sua vez, são as formas pelas quais os objetivos e conteúdos se manifestam no processo de ensino (Libâneo, 1994). Para Libâneo (1994) a relação objeto-conteúdo-método tem como característica a mútua interdependência. O método de ensino é determinado pela relação objetivo-conteúdo, mas pode também influir na determinação de objetivos e conteúdos. Com efeito, a matéria de ensino é o elemento de referência para a elaboração dos objetivos específicos que, uma vez definidos, orientam a articulação dos conteúdos e métodos, tendo em vista a atividade de estudo dos alunos. Por sua vez, os métodos, à medida que expressam formas de transmissão e assimilação de determinadas matérias, atuam na seleção de objetivos e conteúdos. Por exemplo, quando definimos objetivos e conteúdos de História, devem estar incluídos neles os métodos próprios de estudo dessa matéria. Se entendermos que o método de estudo da História privilegia mais a compreensão do processo histórico e as relações entre os acontecimentos do que a simples descrição de nomes e fatos, esta particularidade metodológica deve ser transformada em objetivo de ensino. O mesmo raciocínio vala para a matéria Ciências, por exemplo, em relação aos métodos e hábitos científicos (Libâneo, 1994). Podemos dizer, assim, que o conteúdo determina o método, pois é a base informativa concreta para atingir os objetivos. Mas o método pode ser um conteúdo quando é também objeto de assimilação, ou seja, requisito para assimilação ativa dos conteúdos. Por exemplo, para uma aula de leitura estabelecemos objetivos, conteúdos e métodos. Se decidimos aplicar o método de leitura expressiva, nosso objetivo é que o aluno domine uma habilidade de leitura. Nesse caso, o método se converte em objetivo e conteúdo (Libâneo, 1994). Para Libâneo (1994) estas considerações procuram mostrar que a unidade objetivo-conteúdo-métodos constitui a linha fundamental de compreensão do processo didático: os objetivos, explicitando propósitos pedagógicos intencionais e planejamentos de instrução e educação dos alunos, 12 para participação na vida social; os conteúdos, constituindo a base informativa concreta para alcançar os objetivos e determinar os métodos; os métodos, formando a totalidade dos passos, formas didáticas e meios organizativos que viabilizam a assimilação dos conteúdos e, assim, o atingimento dos objetivos. 4 COTIDIANO ESCOLAR: O OBJETO PARA O PSICÓLOGO ESCOLAR Fonte: dombosco.com.br Para Martins (1996) entendemos a escola como uma instituição sócio- cultural, organizada e pautada por valores, concepções e expectativas, perpassada por relações sociais na organização do trabalho e da produção. Nela os alunos, os professores, a direção, os pais e a comunidade são vistos como sujeitos históricos, culturais. Na medida que abordamos a própria instituição escolar como um produto histórico cultural que age e interage numa trama de complexos processos sócioculturais, vislumbramos novas possibilidades para a construção de uma nova concepção de escola. Segundo EZPELETA & ROCKWELL (1986) "A escola é, na teoria tradicional, uma instituição ou um aparelho do Estado. Tanto na versão positivista (Durkheim) como nas versões críticas (Althuser, Bourdieu), sua pertença ao Estado transforma-a automaticamente em representante unívoca da vontade estatal. A escola tem uma história documentada, geralmente escrita a partir do 13 poder estatal, a qual destaca sua existência homogênea. Coexiste, contudo, com esta história e existência documentada, outra história e existência, não documentada, através da qual a escola toma forma material, ganha vida. Nesta história, a determinação e presença estatal se entrecruza com as determinações e presença civis de variadas características. A homogeneidade documentada decompõe-se em múltiplas realidades cotidianas. Nesta história não documentada, nesta dimensão cotidiana, os trabalhadores, os alunos e os pais se apropriam dos subsídios e das prescrições estatais e constroem a escola." (EZPELETA & ROCKWELL, 1986, p. 12-3 - assinalamentos no original) Sob esta ótica, a escola não é a mesma em todo o mundo capitalista, pois ela se realiza num mundo profundamente diverso e diferenciado. Olhando o movimento social a partir das situações e dos sujeitos que realizam anonimamente a escola, podemos dizer que a realidade de cada escola é uma construção social: a construção de cada escola, mesmo circunscrita por um movimento histórico de longo alcance (como é o caso do capitalismo), é sempre uma versão local e particular. Dessa expressão local tomam forma internamente as correlações de forças, as condições trabalhistas, as formas de relação predominantes, as prioridades administrativas, as tradições docentes, que constituem a trama real em que se realiza a educação (Martins, 1996). É uma trama em permanente construção que articula histórias locais - pessoais e coletivas -, diante das quais a vontade estatal abstrata pode ser assumida ou ignorada, mascarada ou recriada, em particular abrindo espaços variáveis a uma maior ou menor possibilidade hegemônica. Uma trama, finalmente, que é preciso conhecer, porque constitui, simultaneamente, o ponto de partida e o conteúdo do real em nossas alternativas tanto pedagógicas quanto políticas." (EZPELETA & ROCKWELL, 1986, p. 11). Conforme Martins (1996) a observação participante permite ao psicólogo escolar inserido neste contexto "olhar" para o processo de apropriação de conhecimento dos vários segmentos que estão inseridos no ambiente escolar, o que significa analisar a existência cotidiana da escola como história acumulada; buscar, no seu presente, os elementos estatais e civis com as quais a escola se construiu. Ou seja, na observação da escola ele poderá averiguar o que é convergente, o que é divergente ou contraditório, nas diversas formas do existir da escola. O cotidianoescolar, assim, passa a ser o espaço privilegiado para a pesquisa e para a intervenção do psicólogo escolar, pois é aí onde se dá o 14 encontro dos diversos segmentos que estão envolvidos com o dia-a-dia da escola, o que circunscreve o campo para a emergência das contradições que estão implícitas nas relações sociais que ali se desenvolvem (Martins, 1996). O cotidiano escolar, enfim, caracteriza-se como um campo de interseção entre sujeitos individuais que levam seus saberes específicos para a construção da escola. Nestes espaços incorporam-se e tornam-se significativos numerosos elementos não previstos na realidade, nas categorias tradicionais da realidade escolar. A realidade escolar aparece sempre mediada pela atividade cotidiana, pela apropriação, elaboração, refuncionalização ou repulsa que os sujeitos levam a cabo (Martins, 1996). A partir do cotidiano escolar e através da observação participante, o psicólogo escolar terá acesso às representações sociais que medeiam as relações que se travam intra e extra instituição escolar. "As representações sociais são as explicações e as afirmações que os indivíduos dão sobre sua realidade. É como assimila a estrutura social na qual integram suas experiências, valores, ou seja, é a relação que se estabelece entre o homem e o meio." (SALLES, 1990/1991, p. 15). Para Martins (1996) tendo em vista estas considerações, podemos dizer que, ao tomar o cotidiano escolar como espaço social de pesquisa/intervenção, o psicólogo escolar terá acesso as mediações que os indivíduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representações sociais - e assim, poderá desvelar os mecanismos utilizados (individual e coletivamente) na construção de sentidos para a realidade escolar. Dito de outra forma, o psicólogo escolar poderá desvelar os significados (convergentes ou contraditórios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais, alunos, professores, direção, etc ... - atribuem para a relação professor x aluno, para o conhecimento, para o processo ensino/aprendizagem, para o processo de avaliação, etc... , além dos significados atribuídos ao próprio trabalho do psicólogo escolar.
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