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A IMPORTÂNCIA DO MUNICÍPIO DE MARÍLIA NO CENÁRIO DO CENTRO- OESTE PAULISTA1. Jéssica de Sousa Baldassarini Jessika_baldassarini@hotmail.com Aluna de graduação do 2º ano de geografia. Universidade Estadual Paulista: Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências e Tecnologia. Bolsa de Apoio Acadêmico e Extensão I (BAE). Orientadora: Prof. Dra. Rosângela Ap. de Medeiros Hespanhol. Dep. de Geografia/FCT/UNESP RESUMO Esse trabalho busca compreender a importância do município de Marília no cenário do Centro- Oeste Paulista, no que tange as suas atividades sócio-econômicas que atualmente atendem a população de outras cidades da região Centro-Oeste (serviços de saúde, educação, produtos industriais etc.). Para que este diagnóstico fosse possível foi realizada pesquisa bibliográfica sobre o histórico e o crescimento econômico e social do município, além de entrevistas com responsáveis por órgãos públicos (Prefeitura, Associação Comercial) e indústrias da cidade. O processo de crescimento do município foi iniciado com a produção agrícola que atraiu indústrias de beneficiamento para a cidade e que, por sua vez, influenciaram no maior crescimento do comércio e do setor de serviços. Posteriormente houve a expansão de institutos de ensino, estabelecimentos de saúde etc., que atendem cidades paulistas. Todos estes fatores estiveram vinculados com o crescimento populacional da cidade. Concomitantemente observou-se a proliferação de problemas ocasionados pelo crescimento desordenado da cidade, como por exemplo, o aumento da periferia, a ineficácia do abastecimento de água, do tratamento de esgoto e da falta de adequação da deposição do lixo gerado, falta de investimentos na produção de matérias-primas utilizadas pelas indústrias locais etc. Palavras Chave: Marília; Indústria; Serviços; Crescimento Populacional; Economia. INTRODUÇÃO Nessa pesquisa objetivamos compreender a estruturação e a funcionalidade da cidade de Marília. Seu processo de crescimento foi iniciado com a grande produção agrícola, sobretudo da cafeicultura, que atraiu indústrias de beneficiamento para a cidade, as quais por sua vez, influenciaram no maior crescimento do comércio e do setor de serviços. Compreender como a cidade se formou, os acontecimentos que auxiliaram no seu crescimento e os aspectos que fazem o município influente na região do 1 Eixo Temático: Geografia Urbana mailto:Jessika_baldassarini@hotmail.com Centro-Oeste Paulista tanto no que se refere à prestação de serviços e educação como também na geração de empregos e abastecimento do mercado regional, são de suma importância para o entendimento de todo o sistema industrial e populacional que permeia a dinâmica geográfica do Estado de São Paulo. Para que os objetivos da pesquisa fossem alcançados, se iniciou com a busca de material na Biblioteca da Câmara Municipal de Marília e do campus da UNESP de Presidente Prudente. Além dos livros e das demais obras, foram utilizados diversos periódicos que circularam na região e que apresentavam como tema estudos e análises sobre a economia mariliense e suas implicações. Após esta revisão histórica de Marília, foram elaborados diversos questionários destinados a distintos setores da cidade como a ACIM (Associação Comercial e Industrial de Marília), a Prefeitura do município, as instituições de ensino superior e técnico da cidade, as instituições de saúde (particulares e públicas) e as principais indústrias como Marilan, Nestlé, Marcon, Ikeda, Sasazaki, Dori e Bel. O artigo está dividido em três partes, além da introdução, considerações finais e referências. A primeira consiste em uma revisão bibliográfica, em que foi enfatizado o processo de ocupação da região e o histórico das empresas que se instalaram ou que foram fundadas em Marília. A segunda parte foi elaborada com o auxilio de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), da SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) e de periódicos que apresentavam informações sobre Marília, incluindo as ligadas com a prestação de serviços como saúde e educação, ao comércio etc. A terceira parte abrange a estruturação econômica, geração de empregos, qualidade hospitalar etc. e a inserção da cidade de Marília para a economia nacional e internacional por meio das indústrias instaladas nessa localidade que souberam conseguiram crescer frente às dificuldades de uma região periférica do estado e, por fim, foram abordadas as dificuldades que ainda impedem o maior crescimento do município, no que tange, principalmente, ao aspecto econômico. Estudar as características de cidades médias como Marília é de extrema importância para conhecermos como se deu a estruturação de uma influente cidade do Estado de São Paulo. Desde sua fundação, o município tem sido influenciado por movimentos migratórios (da região metropolitana e de diversas outras regiões do país, como o nordeste), por movimentos revolucionários (como a revolução de 1930) e até por conjunturas internacionais como a Segunda Guerra Mundial, que favoreciam ou não o seu crescimento e que com certeza foram fundamentais para as realidades atuais. A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA NA FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARÍLIA O surgimento do município de Marília esteve associado com a última etapa da expansão do cultivo de café em solo paulista iniciado na década de 1920. Apesar deste fator, Marília não se viu presa a uma única cultura, visto que em meio às plantações de café encontravam-se o cultivo do milho, arroz, algodão e outros. Esta característica tornou-se um marco primordial para o crescimento econômico da região mesmo no momento da intensa crise cafeeira de 1929 (LARA, 1991). Dessa forma, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro representava uma nova possibilidade para a continuação da produção de café. Esse fato favoreceu a intensa migração para a região de Marília. O município chegou a ter em 1935 cerca de 20.000.000 de pés de cafeeiros, como foi retratado por Póvoas (1947). Em 1926 foi criado o Distrito de Paz de Marília com auxilio de Bento de Abreu Sampaio Vidal. Após a instalação deste, Bento de Abreu, deputado da Assembléia Legislativa do Estado, iniciou os trabalhos para permitir a elevação de Marília à categoria de município. Em 29 de dezembro de 1928, chegou à cidade a noticia da criação do município, mas a instalação se deu somente em quatro de abril de 1929. Apesar de o café ter sido o produto precursor da economia mariliense, seu crescimento durou até a crise de 1929 que afetou todo o país. Essa crise só não causou maiores danos econômicos e sociais em virtude da produção do arroz, feijão e do milho, cultivados de forma consorciada nas terras férteis dos cafezais e em outras terras da região. A tabela 1 demonstra que a produção continuou significativa no município de Marília até mesmo uma década depois da crise, apesar de ter havido um declínio da mesma, visto que logo após esta época houve maior participação da cultura do algodão, por exemplo. Tabela 1 - Produção das principais lavouras em Marília nos primeiros anos da década de 1940 (EM SACAS DE 60 KG). Lavouras 1943 1944 1945 1946 Café (beneficiado) 300.000 250.000 160.000 Arroz 30.000 35.000 20.000 50.000 Feijão 10.000 12.000 8.000 20.000 Milho 90.000 120.000 150.000 150.00 0 Mamona 5.833 6.666 3.000 8.000 Batata 6.000 10.000 15.000 10.000 Casúlos * 520.000 700.000 1.000.000 900.00 0 Amendoim 15.000 18.000 20.000 20.000* kg: Quilos por saca. Fonte: Serviço de Estatística da Prefeitura Municipal de Marília (Póvoas, 1947). Em 1932, com a proibição do plantio do café, o algodão tornou-se o produto líder da produção mariliense, estando ligado com as pequenas propriedades e com a imigração japonesa. Em 1936 o município foi o maior produtor de algodão do estado de São Paulo. Já em 1944 a cidade bateu recorde mundial, produzindo quatro milhões e seiscentos mil arrobas do produto (PEREIRA, 1936). Durante o ciclo do algodão, diversas foram as fábricas de beneficiamento dessa cultura que se instalaram na cidade ao lado das de beneficiamento de café, arroz, óleo etc., pois o mercado internacional necessitava da fibra. Foi em meados da década de 1930 que as primeiras grandes indústrias como Anderson Clayton & Cia. e a SANBRA (ambas instaladas no ano de 1936), a Matarazzo fundada em 1937 e a Zillo fundada em 1938 foram implantadas no município de Marília. Posteriormente também foram instaladas a Novaes (empresa de capital local) e a J. A. Veríssimo. De acordo com Mourão (1994), a presença dessas indústrias, em especial de beneficiamento de algodão, tornou a cidade uma das mais industrializadas do Estado de São Paulo na década de 1940. Não se deve deixar de ressaltar, porém, que todas estas empresas dependiam das atividades agrícolas realizadas na região, sendo evidente que após o termino da ascensão produtiva influenciada pelo esgotamento do solo e conseqüente queda do fornecimento de matéria-prima de gêneros agrícolas como o algodão, estas indústrias saíram da cidade rumo às novas áreas com maiores produções. Na década de 1940, a cidade de Marília já era considerada capital regional, visto que apresentava um setor de comércios e serviços bem estruturado que garantia a distribuição regional de produtos. Havia também diversas agências bancárias como o Banco Comercial do Estado de São Paulo, Banco do Comércio entre outros (LARA, 1991). Além disso, neste período a cidade apresentava um eficaz sistema de transportes - lembrar que em Marília foi construída a primeira Estação Rodoviária do país -, contando também com fábricas de grande porte como serrarias, olarias, fábricas de bala e massas (futuro marco da industrialização da cidade) que produziam para o abastecimento da toda a região. Na cidade surgiram algumas empresas no setor de prestação de serviços que na atualidade estão entre as maiores do país como: o Banco Brasileiro de Descontos (Bradesco) e a empresa de Transportes Aéreos Marília (TAM), sendo que esta última, em virtude do seu crescimento, teve que mudar da cidade, pois esta não mais oferecia a infra-estrutura aérea necessária ao porte da empresa. Já o Banco Bradesco mantém na cidade diversas agências e a Escola Fundação Bradesco, financiada pela instituição Bradesco. Os ciclos econômicos da cidade de Marília se mantiveram a mercê das conjunturas externas. Dessa forma, como já havia ocorrido com o café, a realidade do algodão esteve sob a influência da fragilidade do país, dependente do mercado internacional, da demanda externa e do capital estrangeiro. Com isso, nas terras cansadas da região foi cultivado o amendoim que, ao lado do café e também da pecuária, se constituíram como os produtos mais influentes e marcantes na economia agrícola mariliense até a atualidade (LARA, 1991). Paralelamente à produção de amendoim, viu-se durante o período da Segunda Guerra Mundial, o acelerado crescimento do cultivo de amoreiras e da sericicultura com o objetivo de produzir seda para a confecção de paraquedas para atender a demanda dos países em guerra. No ano de 1945, a produção de casulos atingiu 1.000 toneladas na cidade, o que representava cerca de 20% da produção do Estado de São Paulo, que foi de 4.843 toneladas (MOURÃO, 1994). Nesse momento um dos maiores destaques no município foram as pequenas atividades artesanais. Essas foram responsáveis por impedir o maior colapso da economia, que até então se encontrava a mercê da atividade agrícola. De acordo com Mourão (1994), esses primeiros artesãos que atendiam os colonos da região, produzindo bebidas, alimentos, móveis, artigos de vestuário, etc. vão se expandir e se especializar na produção de alguns tipos de alimentos, de utensílios agrícolas etc., tornando-se fonte de iniciativas da criação de diversas indústrias no município. No que se refere à expansão da atividade industrial e comercial da cidade, deve-se lembrar que a principio se instalaram as serrarias, olarias e estabelecimentos de beneficiamento de arroz, café e, posteriormente, algodão. Com a expansão das plantações de amendoim houve também a implantação de fábricas de produção de óleo. Enquanto a exploração do amendoim foi possível, a produção se manteve, porém, no fim da década de 1960, ela já apresentava dificuldades de se manter. Em 1970 o gênero de alimentos ainda era o de maior destaque no município de Marília, mas desta vez estava relacionado com a produção de massas, balas e doces e não mais o de beneficiamento e produção de óleo. Entre os exemplos destas indústrias alimentícias estão o Pastifício Marília (1948), que deu origem a Raineri Indústria de Massas Alimentícias, a Ailiram criada na década de 1940 com a produção de balas e bolachas e que foi comprada pela Nestlé em 1989, a Dori (1967) que produz balas e a Marilan S/A Indústria e Comércio (1957) produtora de biscoitos. Também nesse momento há a ascensão da indústria metalúrgica que ocupou a segunda colocação no número de empregos e de produção na cidade. As principais foram a Sasazaki e a Ikeda Empresarial Ltda. (MOURÃO, 1994). O que se observou na história de grande parte das indústrias de Marília é que aquelas que apresentavam bons investimentos e/ou uma boa gestão administrativa e que alicerçaram seu crescimento em inovações tecnológicas, conseguiram ganhar espaço no mercado regional, como a Sasazaki, Ikeda e a Marcon. Por outro lado algumas indústrias marilienses como a Ailiram e da Raineri que apresentavam problemas internos de gestão administrativa, atraíram a atenção de empresas de maior porte e recursos que efetuaram a compra de ambas. A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE INDUSTRIAL NO MUNICÍPIO DE MARÍLIA No que se refere à economia industrial da cidade, é de fundamental importância abordar a contribuição das mesmas. Entre estas indústrias está a Sasazaki Indústria e Comércio Ltda. considerada uma das maiores da América Latina na produção de portas e janelas de aço e de alumínio. Os produtos são revendidos por cerca de 5.000 pontos de vendas distribuídos pelo país. A Ikeda Empresarial Ltda. Encontra-se dividida nas sessões de: Giragrill, que fabrica equipamentos e acessórios para churrasco; a divisão Loudy, que projetou caixas acústicas para Áudio e Home Theater; e na divisão Airon, que produz móveis High-End para Áudio, Home Theater e Decoração. A Marcon está no ramo metalúrgico desde 1988 e atualmente fabrica mais de 80 mil itens por mês, dividido nas linhas de Mecânica (bancadas, armários), Hidráulica (empilhadeira, guinchos, macacos, prensas) e Movimento (carros plataforma, rodas e ferragens). A Empresa Marcon comercializa em todo o território nacional e América Latina. No que se refere à indústria alimentícia que, desde o início da industrialização de Marília é considerada o carro forte da economia do município, diversas são as que se destacam. Entre elas está a Bel Produtos Alimentícios Ltda. produzindo doces atendendo o mercado nacional e exportando para diversos países do mundo. A Dori, fundada em 1967, é responsável pela produção de balas. A empresa é responsável pela participação também no mercado internacional, exportando para vários países (Estados Unidos, Canadá, Argentina, Uruguai etc.). A Marilan Alimentos S/Aé responsável pela produção de mais de 100 mil toneladas de produtos por ano. A empresa atualmente é considerada uma das maiores fabricantes de biscoitos do país, expandindo seus mercados para mais de 30 países (Estados Unidos, Canadá, Israel, Angola, Austrália etc.). A Nestlé instalou-se na cidade a partir da compra da Ailiram. Atualmente as vendas da empresa visam, principalmente, o abastecimento do mercado da região sudeste, produzindo biscoitos. Na área de bebidas destaca-se na cidade a Spaipa S/A-Indústria Brasileira de Bebidas. Atualmente, a unidade da Spaipa em Marília é considerada a mais moderna fábrica da Coca-Cola da América Latina e a 3ª maior do Brasil em capacidade produtiva. Atualmente ela é responsável por atuar em todo o Paraná e interior de São Paulo. Outros fatores que sustentaram o crescimento da cidade foram avaliados, por exemplo, pela Fundação Instituto de Pesquisa da USP (pesquisa divulgada pelo Marília Hoje: Informativo da Prefeitura de Marília, 2002), que declarou que no ano de 1999 a cidade de Marília apresentou o maior nível de crescimento do interior do estado, sendo de 9,9%. No que se refere ao sistema comercial da cidade, faz-se de suma importância destacar a abertura de novos estabelecimentos de pequeno porte, do Marília Shopping (anteriormente chamado Aquário Shopping) e o Esmeralda Shopping, localizado na zona sul da cidade. Houve ainda a abertura de estabelecimentos de grande estrutura como o supermercado Walmart, Makro e Confiança, além da inauguração de novas filiais de supermercados da cidade como o Tauste e o Kawakami. Todos estes foram responsáveis pela geração de centenas de empregos e garantem o abastecimento de vários bairros da cidade e de municípios de pequeno porte do entorno. Outro fator de suma importância comercial refere-se à ampliação de corredores comerciais em diversos pontos da cidade, elemento este que demonstrou o processo de desconcentração do comércio de Marília. Alguns exemplos deste processo são as avenidas João Ramalho e Durval de Menezes na região sul, que receberam diversos investimentos em estabelecimentos comerciais de compras. Já na zona norte, os destaques são as Avenidas João Martins Coelho, com expressivo aumento de lojas comerciais, e a República. No que se refere à região leste, destaca- se o centro universitário da cidade. De acordo com o Jornal Diário publicado no ano 2000, mais de 20 mil alunos das universidades da cidade são responsáveis por aproximadamente 30% da economia mariliense. Nos últimos anos observa-se na realidade econômica do município uma participação, ainda que menor, da atividade agrícola, principalmente sob a representação da agroindústria e da produção de culturas como o café, melancia, amendoim e a soja. Deve-se levar em consideração os acontecimentos históricos que permeiam a agricultura da região. Apesar das grandes produções que o município já apresentou e ainda apresenta até os dias atuais, não se deve esquecer que grande parte delas apresentou crises profundas impulsionadas, por exemplo, pelo esgotamento dos recursos naturais que permitiam a produção. De acordo com dados extraídos do site da Fundação SEADE, é possível refletir sobre diversos aspectos da cidade. Entre estes aspectos estão: a segunda maior taxa de crescimento anual da população e o maior valor adicionado em agropecuária quando comparado a municípios como Bauru, Presidente Prudente, São José do Rio Preto e Ourinhos. Apesar da expansão econômica da cidade, esta tem problemas, por exemplo, com relação a sua rede de esgotos (levando em consideração que o município ainda não implantou um tratamento eficaz de esgoto, que era uma das políticas públicas do atual governo) e coleta de lixo (não há em Marília uma coleta seletiva eficaz e em conjunto com toda a população, não havendo, portanto, um manejo correto do lixo). AS ATUAIS CONTRIBUIÇÕES DE MARÍLIA NO CENTRO-OESTE PAULISTA E SEUS PRINCIPAIS IMPASSES. De acordo com entrevistas realizadas com funcionários das diversas instituições de saúde da cidade, o município comporta sete hospitais, 43 postos de saúde e 702 leitos hospitalares. Essa estrutura atual é responsável pelo atendimento de parte da população da cidade e de indivíduos de diversas regiões do Estado de São Paulo. Além disso, a cidade apresenta uma expressiva infra-estrutura programa educacional com duas faculdades de medicina: a Unimar (Universidade de Marília) e a Famema (Faculdade de Medicina de Marília), ambas responsáveis pelo atendimento da população. Todo este sistema faz com que o setor de saúde seja um dos que mais cria empregos na cidade. Com a grande procura o sistema de saúde de Marília infelizmente não tem a potencialidade de atender a toda a procura de forma satisfatoriamente eficiente. O maior exemplo de atendimento da região é o Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Marília Unidade I, onde cerca de metade dos pacientes que se encaminham para ele são de cidades da região, como Vera Cruz, Pompéia, Oswaldo Cruz, Oriente, distritos do município e, até mesmo, de cidades distantes do estado. Também se encontra no município a Associação Beneficente Hospital Universitário que pertence à Universidade de Marília (UNIMAR), com uma das mais modernas estruturas hospitalares da cidade. Já a Santa Casa de Misericórdia de Marília auxilia no atendimento regional de cidades como Getulina, Echaporã, Guaimbê, Osvaldo Cruz, etc. No que se refere ao tratamento de doenças crônicas e psíquicas há em funcionamento o Hospital Espírita de Marília. Por fim, também há o Hospital e Maternidade Gota de Leite que também atende Marília e região. Outro setor de destaque do município é o sistema educacional de ensino superior e profissionalizante. Atualmente a cidade é composta pela Universidade de Marília (Unimar) que atende todo o estado paulista e outros estados, Faculdade de Ensino Euripedes Soares da Rocha (Univem) (atende as cidades do Centro-Oeste Paulista), Faculdade João Paulo 2° (Fajopa) (alguns alunos do Oeste Paulista), Faculdade Ensino Superior do Interior Paulista (Faip/Faef) que atende alunos de Assis, Bauru, Presidente Prudente, Pirajuí e outras, Faculdade de Medicina de Marília (Famema) (estado paulista e outros estados), Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (UNESP) (estado paulista e outros) e Faculdade de Tecnologia (Fatec) que apresenta alunos de cidades mais próximas de Marília como Tupã, Oriente, Pompéia etc. Além destas instituições, o SENAI (40% dos alunos que freqüentam a instituição moram em cidades do Centro-Oeste Paulista, sendo que as principais são Pompéia, Quintana, Oriente, Garça, Tupã, Paraguaçu Paulista, Oscar Bressane, Echaporã, Ocauçu, Ourinhos, Lupércio e Júlio Mesquita) e o SENAC Marília (atende toda a região Centro-Oeste Paulista) são responsáveis por grande parte da formação de profissionais que atuam na cidade e na região em diversas áreas. Com base nas informações disponíveis nos sites e em conversas com funcionários das maiores indústrias de Marília, foi possível observar que a grande maioria das empresas foi fundada a partir do crescimento econômico dos próprios comerciantes ou pequenos empresários da cidade, que ao encontrarem brecha na economia da região, conseguiram ampliar suas empresas. Estas empresas, por sua vez, ao apresentarem grande crescimento, atraíram empresas nacionais e internacionais mais fortes como foi o caso da Ailiram, posteriormente adquirida pela Nestlé. Além destas empresas originadas com o auxilio do capital local, houve aquelas que buscaram a cidade de Marília por já ser considerada, nas suas correspondentes décadas de fundação, pólo regional do Oeste Paulista. Esta realidade foi possível porque a cidade, em relação a outros municípios mais próximos,era considerada a mais preparada em termos de serviços de transportes e comunicação, meios para escoamento da produção, garantia de fornecimento de energia elétrica, presença de matéria-prima utilizada nos processos produtivos das empresas na região, prestação de serviços, comércio etc. Além disso, a presença de instituições de ensino, principalmente o SENAI, auxiliou na vinda de empresas como a Ikeda e Filhos, e também foi responsável pela formação profissional de fundadores de empresas da cidade como é o caso da Maquinas Man. Apesar da importância das indústrias de Marília para o abastecimento do mercado regional e, mais recentemente nacional, as empresas da cidade não geram empregos nas outras cidades da região, visto que toda a mão-de-obra necessitada por elas está localizada na cidade. De acordo com dados encontrados no site do Observatório Nacional de Segurança Pública, a cidade de Marília no período de 1940 até 1991 apresentou um crescimento populacional de 133%, sendo que este crescimento desacelerou na década de 1990 (época em que empresas como a Raineri e Iguatemy foram fechadas). De acordo com o mesmo site, no período de 2000 a 2006 a taxa de crescimento caiu para 1,98%, apesar disso as taxas de crescimento atuais estão superiores às da região e do Estado. A tendência mantida pela cidade é a de atrair a população dos municípios circunvizinhos. No setor de comércio foi possível obter diversas informações importantes por meio de entrevista realizada com o senhor Romildo Raineri, atual Vice-Presidente da ACIM (Associação Comercial e Industrial de Marília). Atualmente o comércio de Marília recebe de 90 a 100 novas empresas por mês, sendo que cerca de 40 a 50 são fechadas no mesmo período. Apesar disso foi possível constatar a importância do comércio pela sua influência na comercialização de produtos para os municípios de toda a região como Garça, Assis, Pompéia, Ourinhos etc. Houve a instalação de empresas de consultoria para exportação, sendo que na própria Associação Comercial de Marília há profissionais que auxiliam as empresas que pretendem promover a ampliação da sua área de atuação. Ainda no setor comercial foi possível destacar a importância dos novos corredores comerciais que atendem as áreas periféricas da cidade, a abertura de novos supermercados em Marília, a importância regional de seus serviços etc. E, por fim, foi ressaltado o papel da parceria desenvolvida pela Prefeitura Municipal da cidade, a ACIM, a ADEMA (Associação das Indústrias Alimentícias de Marília), responsável por defender os interesses das indústrias do setor instaladas no município e diversos empresários da cidade em promover a propaganda da cidade em âmbito regional. Entre as ações que Romildo Raineri pretende tomar como Secretário da Indústria e Comércio estão: fortalecer a estrutura das empresas já instaladas na cidade, com o auxilio de financiamentos; desenvolver parcerias com instituições como SEBRAE, SENAC e SENAI; e promover o Turismo de Negócios na cidade através de feiras e eventos. Apesar de todas as conquistas das empresas da cidade é preciso levar em consideração que muitas ações ainda precisam ser tomadas para que a cidade continue buscando o desenvolvimento equilibrado e constante. Como a ampliação e sofisticação do aeroporto da cidade que se encontra, apesar de tudo, defasado frente às atuais necessidades de Marília. Além disso, é preciso buscar a maior eficiência da malha rodoviária, voltar a funcionar o serviço de transporte de cargas pela linha férrea e fornecer através de incentivos públicos a produção das principais matérias-primas necessitadas pelas indústrias da cidade. Uma das saídas para este problema seria promover a construção de um moinho de trigo (esta construção já foi proposta por vários empresários na década de 1990) (MOURÃO, 1994) e que poderia impedir que muitas indústrias precisassem adquirir o produto em cidades com mais de 100 km de distância do município. Referente à questão ambiental é preciso buscar superar alguns problemas antigos da cidade como falta de um sistema eficaz de coleta seletiva e de reciclagem do lixo produzido, a questão do abastecimento de água da cidade e por fim, também é necessário concluir a obra de tratamento de esgoto. Por fim, não se deve esquecer que um dos problemas que mais afetam o país como um todo e que também atinge Marília é o grande crescimento das favelas e da exclusão social, visto que há falta de políticas públicas de inclusão e auxilio da população que esta diretamente ligada a esta realidade. CONCLUSÃO A partir das atividades desenvolvidas foi possível compreender com maior clareza como é fundamentada a realidade econômica, política e social de Marília e que fizeram ou ainda fazem com que a cidade seja considerada um pólo regional no Centro-Oeste Paulista. Inicialmente se observou que desde sua formação a cidade foi alvo de diversos incentivos financeiros oriundos dos proprietários de terra do município que investiam nos solos férteis da região. De fato a qualidade das terras por muitas décadas foi o fator fundamental da economia regional, que cresceu graças à grande produtividade do solo. Por diversas vezes o município foi responsável pelas maiores produções de diversas culturas no Estado de São Paulo e também se destacou em âmbito nacional. Essa vantagem fez com que diversas pessoas do país e de outros países se instalassem na cidade em busca de uma vida melhor. Esse êxodo trouxe consequentemente, o progresso para Marília e proporcionou as condições necessárias para sua realidade atual. Juntamente com estas características foi possível descobrir elementos da história da cidade que até então não eram conhecidos como: a primeira Estação Rodoviária do país ter sido construída em Marília e que empresas conhecidas nacional e internacionalmente terem surgido na cidade, como foi o caso da TAM e do Banco Bradesco. Nas primeiras décadas de sua formação foi possível observar que sua economia também era dependente de acontecimentos externos, por ser uma cidade que se encontrava baseada na atividade agrícola, muitas vezes de larga escala, que dependia da exportação para se manter. Com tudo isso o município viu por diversas vezes sua economia se fragilizar sem poder tomar muitas atitudes eficazes. Essa situação manteve-se assim até que o município desenvolvesse de forma concreta maneiras alternativas de buscar rendimentos econômicos. Uma destas formas foi o comércio, que inicialmente com o intuito de servir aos colonos da região, conseguiu alcançar boas proporções na economia local e foram os precursores da liderança industrial da cidade. Muitos dos pequenos artesãos da época se tornaram a elite industrial de Marília e fundaram muitas das principais empresas da cidade e da região. Posteriormente muitas das pequenas empresas cresceram e atraíram novos empresários que resolveram investir na implantação de estabelecimentos comerciais e indústrias na cidade (Sasazaki, Ikeda, Marcon) etc. Essa foi uma das principais características que marcaram o processo de industrialização do município, sendo que a desconcentração industrial desta vez não foi a principal responsável por trazer para o interior o processo produtivo da capital. O fator que verdadeiramente fundou o complexo industrial da cidade foi o crescimento e fortalecimento da indústria local, incentivada pelo distanciamento da capital e sua conseqüente menor concorrência com estes produtos. Outro fator importante foi por serem atividades que podem ser iniciadas com baixo investimento e produção artesanal, por terem acesso a mão-de-obra mais barata e abundante, por serem constituídas de atividades com pouca tecnologia (não provocando de forma drástica o chamado desemprego estrutural) e que possuíam espaçono mercado nacional. Além disso, é importante enfatizar que o processo industrial da cidade encontra-se em uma base sólida se comparado com outras atividades, visto que a sua principal atividade econômica atualmente esta ligada com a produção de alimentos que, por sua vez, é indispensável para a subsistência de toda a sociedade. Dessa forma, estas indústrias estão mais protegidas contra as oscilações do mercado. Na atualidade Marília abriga algumas das maiores empresas nacionais do ramo de alimentos e de esquadrias metálicas, o que faz com que o município seja conhecido nacionalmente. O crescimento da economia local faz com que o município tenha muitas funcionalidades na prestação de serviços na região, sendo este também um dos fatores que atraíram empresas para a cidade. No que se referem aos serviços hospitalares, todas as grandes instituições de saúde da cidade atendem pacientes oriundos de outros municípios. Essa realidade faz com que muitos recursos da área da saúde sejam canalizados para a cidade. Também no sistema educacional a contribuição é considerável, principalmente no que se refere a alunos de cidades da região. Com relação aos estudantes de locais distantes que buscavam os cursos oferecidos em Marília, foi possível observar que eles possuem agora a possibilidade de estudarem próximos de suas casas, em virtude da abertura de novas universidades em todo o país. Se por um lado à ampliação das universidades no país auxiliou no ingresso de estudantes em cursos superiores, por outro foi um dos fatores de maior influencia na diminuição dos negócios imobiliários na cidade de Marília e do comércio local. O comércio como um todo foi um fator que também favoreceu a projeção de Marília em âmbito regional desde sua formação até os dias atuais quando a cidade recebeu um novo fôlego nesta área com criação de diversos hipermercados na cidade (Walmart, Confiança, Makro, etc.). Além disso, houve a criação de novos corredores comerciais e de dois Shoppings, que são responsáveis por atrair não só pessoas da cidade como também da região para compras e para o lazer. O que se percebe na história do desenvolvimento de Marília é que desde sua fundação, a cidade não dependeu de ações de outras regiões para crescer. Apesar de estar, principalmente na época dos ciclos econômicos agrícolas, a mercê de conjunturas internacionais seguindo a tendência do Brasil como um todo, Marília buscou suas primeiras benfeitorias, como o início da produção de diversas lavouras, criações de porcos, pequenos estabelecimentos comerciais etc., a partir das ações dos seus próprios fundadores e pioneiros. Mais recentemente, no período de formação da atividade industrial da cidade, o município não foi privilegiado com a desconcentração industrial da capital paulista, mas pelo próprio crescimento da elite industrial da cidade. Porém, também se deve lembrar que as ações que visam melhorar e promover o crescimento da cidade devem ser constantes, visto que as administrações públicas de Marília ainda precisam promover ações ligadas à infra-estrutura da cidade como: saúde, educação, meio ambiente, etc. para que possa ter capacidade sólida de buscar cada dia mais o seu próprio progresso. Por este motivo é de extrema importância buscar compreender de maneira especifica a realidade construída de cada município, que por si só já apresenta elementos distintos uma das outras. Se ficarmos simplesmente com os conhecimentos superficiais acabamos ignorando elementos que seriam de extrema importância para que nosso conhecimento esteja mais próximo da realidade e da prática. Decifrar os acontecimentos que já ocorreram ou que ainda ocorrem em nossa sociedade é uma forma de realizarmos diagnósticos e previsões que consequentemente nos dão capacidade de promover ações que sejam mais eficazes na solução de vários problemas enfrentados atualmente. É a partir dos erros já cometidos que se esboçam os acertos e é a partir destes que se constrói um desenvolvimento sustentável. REFERÊNCIAS COBRA, Amador Nogueira. Recanto do sertão Paulista São Paulo: Hennies, 1943. LARA, Paulo Corrêa de. Marília, Sua Terra, Sua Gente. Marília, São Paulo: Iguatemy de Comunicações Ltda., 1991. 254p. LOUTO, Ariovaldo Nesso. Marília do Passado ao Novo Milênio. Marília, São Paulo: Prefeitura Municipal de Marília, 2001-2004. 3v. MONBEIG, Pierre. Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec: Polis. 1984. 392p. MOREIRA, Baltazar de Godoy; MAGALHAES, Alcides Lajes. Marília, Cidade Nova e Bonita. Marília, São Paulo: s.c.p. 1936. MOURÃO, Paulo Fernando Cirino. A Industrialização do Oeste Paulista: O Caso de Marília. Presidente Prudente: FCT/UNESP, 1994 (Dissertação de Mestrado em Geografia). PEREIRA, Valdeir Agostinelli. Terra e Poder-Formação Histórica de Marília. Marília, São Paulo. 1936. PÓVOAS, Glycério. Serviço de Estatística da Prefeitura de Marília. Marília, São Paulo: Prefeitura Municipal de Marília, 1947. Prefeitura Municipal de Marília. Relatório de Engenharia. Marília, São Paulo. 1950. ROCHA. Monsenhor Adaucto. “Correio de Marília”. TANURI, Rosalina. Marília, no tempo e na saudade. Marília, São Paulo: s.c.p., 2001. Periódicos: Diário de Marília Jornal da Manhã Jornal Diário de Marília, Diário Cidade: Marília, São Paulo, 4 de Abril de 2000. Jornal Diário de Marília, Diário Urbanismo: Marília, São Paulo, 4 de Abril de 2000. Marília Hoje, Informativo da Prefeitura Municipal de Marília. N°2, 2002. p 1. Sites utilizados para consultas: www.seade.gov.br www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/locais/marilia http://www.marcon.ind.br/ www.bel.com.br www.nestle.com.br www.marilan.com. www.sasazaki.com.br www.dori.com.br www.giragrill.com.br www.cocacola.com.br http://www.seade.gov.br/ http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 http://www.marcon.ind.br/ http://www.nestle.com.br/ http://www.sasazaki.com.br/ http://www.dori.com.br/ http://www.giragrill.com.br/
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