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1) Definir alergia alimentar e citar os tipos A alergia alimentar é uma resposta imunitária exagerada a componentes da dieta, normalmente proteínas. As manifestações variam significativamente e podem incluir dermatite atópica, sintomas gastrointestinais ou respiratórios e anafilaxia. Principais causadores da reação alérgica: Em recém-nascidos e crianças jovens: leite, soja, ovos (albumina), amendoim e trigo Em crianças mais velhas e adultos: oleaginosas e frutos do mar Em geral, a alergia alimentar é mediada por IgE, linfócitos T, ou ambos: A alergia mediada pela IgE = tem um início agudo (ocorre até 2h), geralmente se desenvolve durante a infância e ocorre mais frequentemente em pessoas com forte história familiar de atopia. Decorrem de sensibilização a alérgenos alimentares com formação de anticorpos específicos da classe IgE, que se fixam a receptores de mastócitos e basófilos. Contatos subsequentes com este mesmo alimento e sua ligação a duas moléculas de IgE próximas determinam a liberação de mediadores vasoativos e citocinas Th2, que induzem às manifestações clínicas de hipersensibilidade imediata. São exemplos de manifestações mais comuns que surgem logo após a exposição ao alimento: reações cutâneas (urticária, angioedema), gastrintestinais (edema e prurido de lábios, língua ou palato, vômitos e diarreia), respiratórias (broncoespasmo, coriza) e reações sistêmicas (anafilaxia e choque anafilático. A alergia mediada por linfócitos T (p. ex., gastroenteropatias por proteínas dietéticas, doença celíaca) se manifesta gradualmente e é crônica (2h após até dias); ela é mais comum em lactentes e crianças. As alergias mediadas tanto por IgE quanto por linfócitos T (p. ex., dermatite atópica, gastroenteropatia eosinofílica) tendem a ser de início tardio ou crônicas. Neste grupo estão incluídas as manifestações decorrentes de mecanismos mediados por IgE associados à participação de linfócitos T e de citocinas pró-inflamatórias. Os principais fatores de risco para alergia alimentar incluem: Histórico familiar: quando doenças como asma, eczema, urticária e outras alergias são comuns na família, as chances de desenvolver alergias alimentares são maiores; Privação do aleitamento materno: O leite materno contém IgA secretora, que funciona como bloqueador de antígenos alimentares e ambientais, bem como vários fatores de amadurecimento da barreira intestinal e fatores imunorreguladores importantes no estabelecimento da microbiota. Histórico de alergia alimentar: na maioria dos casos, muitas crianças deixam de apresentar algumas alergias alimentares quando envelhecem, mas essas alergias podem retornar na fase adulta; Outras alergias: caso você já possua algum tipo de alergia alimentar, as chances de desenvolver alergia a outros alimentos é maior; Idade: dados comprovam que as alergias alimentares são mais comuns em crianças e bebês, pois com o passar dos anos o sistema digestivo amadurece e o corpo torna-se menos propenso a absorver alimentos ou componentes que provocam alergias. Disbiose intestinal: Logo após o nascimento, inicia-se a colonização do recém-nascido. Alguns fatores que interferem nesse processo são: parto cesariano, uso materno de antibiótico, condiçoes excessivas de higiene e o uso de fórmula complementar oferecida à criança que pode resultar em disbiose. O leite materno é rico em oligossacarídeos, responsáveis pelo efeito bifidogênico, o que faz com que lactentes em aleitamento materno tenham aumento de bifidobactérias em seu trato gastrintestinal. Já as crianças que recebem fórmulas infantis ou leite de vaca integral desenvolvem uma microbiota intestinal com predomínio de enterobactérias e bacteroides, tornando o sistema imunológico mais vulnerável à quebra de tolerância. Insuficiência de vitamina D: A insuficiência de vitamina D (abaixo de 15 ng/mL) foi associada a risco aumentado para a sensibilização ao amendoim. A insuficiência de vitamina D como fator de risco para alergia alimentar é mais frequente em países distantes do Equador e com menor radiaçao ultravioleta, apesar desta associação ser controversa. Fatores comportamentais e culturais: Estes fatores também estão associados ao risco de alergia alimentar, e podem ser modificáveis. Os filhos de gestantes que fumaram na gravidez apresentam níveis elevados de IgE e eosinofilia no sangue do cordão umbilical, sugerindo que este irritante respiratório pode ser indutor de desvio Th2 e consequentemente, de doença alérgica. Do mesmo modo, o consumo de álcool durante a gestação encontra-se documentado como um fator de risco importante, com elevação da IgE específica para antígenos alimentares e aeroalérgenos. Crianças expostas no início da vida a irmãos mais velhos e animais de estimação em casa podem apresentar menor risco de alergia ao ovo aos 12 meses, em decorrência da estimulação do microbioma, o que pode ter efeito protetor em termos de desenvolvimento de alergia . 2) Epidemiologia Estima-se que as reações alimentares de causas alérgicas verdadeiras acometam 6% a 8% das crianças com menos de 3 anos de idade e 2% a 3% dos adultos. Pacientes com doenças alérgicas apresentam uma maior incidência de alergia alimentar, sendo encontrada em 38% das crianças com dermatite atópica e em 5% das crianças com quadro de asma. Os principais alérgenos identificados foram frutos do mar (0,9%), fruta ou vegetal (0,5%), leite e derivados (0,5%), e amendoim (0,5%). 3) Diferenciar reação alérgica de reação adversa Reação alérgica = As reações alérgicas (reações de hipersensibilidade) são respostas inadequadas do sistema imunológico a uma substância que normalmente é inofensiva. Reação adversa = É qualquer reação indesejável que ocorre após ingestão de alimentos ou aditivos alimentares. Essas reações podem ser tóxicas e não-tóxicas. As não-tóxicas podem ser de intolerância ou hipersensibilidade. Exemplo de reação não-alérgica são as reações por ingestão de alimentos contaminados por microrganismos, e que se apresentam agudamente com febre, vômitos, diarreia e geralmente acometem várias pessoas que ingeriram os alimentos contaminados. 3) Patogênese A alergia é uma reação de hipersensibilidade desencadeada por mecanismos imunológicos específicos. Segundo Gell e Combs, as reações alérgicas podem ser classificadas em quatro tipos: tipo I – reação anafilática, tipo II – citotóxica, tipo III – reação por complexos antígeno-anticorpo, e tipo IV – reação de imunidade celular. A reação de hipersensibilidade imediata, ou tipo I, é a responsável pela maioria das reações alérgicas a alimentos em indivíduos sensíveis. O mecanismo envolvido na hipersensibilidade imediata tipo I é bem conhecido. O desenvolvimento da resposta mediada por IgE a um alérgeno é o resultado de uma série de interações moleculares e celulares envolvendo as células apresentadoras de antígeno, linfócito T e linfócitos B. A mucosa gastrointestinal apresenta uma barreira física, constituída pelo muco, junções entre as células epiteliais e enzimas, e uma barreira imunológica constituída pela secreção da imunoglobulina IgA. Após atravessarem essas barreiras, os antígenos da dieta podem entrar na mucosa intestinal através das células M situadas na placa de Peyer. Os macrófagos residentes nessa placa fagocitam, processam e apresentam peptídeos unidos ao Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC) Classe II para os linfócitos Th, os quais apresentam um receptor de célula T (TCR). Essa interação é o “primeiro” sinal que leva à proliferação dos linfócitos T e síntese de citocinas, gerando um “segundo” sinal que promove uma resposta Th2. Os linfócitos Th2 liberam interleucina-4 (IL-4), IL-5, IL-6, IL-9, IL-10, IL-13, que causam a ativação e a diferenciação dos linfócitos B, em plasmócitos, que são responsáveis pela síntese do anticorpo IgE antígeno-específico. Os linfócitos T e B migram, então, das placas de Peyer para os linfonodos mesentéricos; desses trafegam para o ducto torácico chegando à circulação sanguínea. Da circulação, os linfócitos ativados retornam à mucosa digestivae passam a residir na lâmina própria. Os anticorpos IgE antígeno-específicos se ligam a receptores específicos presentes na superfície dos mastócitos e basófilos. Quando novamente ingerido, o antígeno forma ligações com várias IgEs (crosslinking) ligadas aos mastócitos, o que estimula a abertura dos canais de cálcio, além de ativar a fosfolipase C. O cálcio, então, liga-se à calmodulina, formando um complexo que é capaz de ativar enzimas. O inositol trifosfato (IP3) e o diacilglicerol (DAG) ativam a proteína C presente na membrana. Ocorre, então, a fosforilação de proteínas perigranulares pela proteína C ativada e pelo complexo calmodulina/ cálcio. Após a fosforilação das proteínas perigranulares, há degranulação dos mastócitos com liberação da histamina, serotonina, ECF-A (fator quimiotático para eosinófilos da anafilaxia), NCF-A (fator quimiotático para neutrófilos da anafilaxia), e mediadores derivados da matriz do grânulo, como heparina e tripsina. Esses mediadores geram muitas modificações locais que são responsáveis pelas manifestações clínicas da alergia alimentar A via intestinal, embora seja a via predominante de sensibilização alergênica, não é a única capaz de induzir alergia alimentar. A pele e o trato respiratório podem também atuar como vias de penetração e sensibilização a antígenos alimentares. Acredita-se que a sensibilização transcutânea ocorra especialmente nos pacientes com dermatite atópica, onde a quebra da barreira cutânea é um mecanismo favorecedor da penetração de alérgenos. A sensibilização primária pela via respiratória é rara, e o principal exemplo é a "asma do padeiro", por sensibilização ao trigo devido à inalação frequente e em grandes quantidades deste alérgeno. 4) Quadro clínico e complicações http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=851 Urticária é caracterizada por eritema, pápulas e pruridos cutâneos. O angioedema é o mesmo fenômeno da urticária, porém acometendo a derme, levando ao edema de http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=851 pálpebras, lábios, língua, bolsa escrotal e de mãos e pés. A dermatite atópica é a manifestação alérgica mais pruriginosa, podendo levar a escoriações e assumindo uma distribuição característica em flexuras, nos pacientes maiores. A síndrome oral alérgica é de início rápido, com prurido e desconforto nos lábios, língua e orofaringe, podendo haver sensação de aperto na garganta e angioedema. Alguns pacientes apresentam vômitos de início súbito, bem como diarréia e dor abdominal. Anafilaxia associada ao exercício ocorre com a realização de exercício físico 2 a 4 horas após a ingestão do alimento causal. Durante o repouso, o mesmo alimento não causa sintoma algum . Asma é rara como manifestação isolada de alergia alimentar. Geralmente, acompanha sintomas cutâneos e gastrointestinais. FPIES = vômitos sucessivos. Os sinais e sintomas das alergias alimentares variam de acordo com o alérgeno, mecanismo e idade do paciente. 5) Diagnóstico HISTÓRIA CLÍNICA: A história clínica tem baixo poder de resolução diagnóstica. Deve-se questionar: a. Qual alimento é suspeito de provocar a reação; b. O intervalo entre a ingestão do alimento e o surgimento dos sintomas; c. Quais foram os sintomas; d. Se os sintomas ocorrem sempre que o alimento é ingerido; e. Se há melhora ou desaparecimento dos sintomas após a suspensão do alimento suspeito; f. Se há re-surgimento dos sintomas após a re-introdução (acidental ou provocada) do alimento suspeito. A descrição dos sintomas deve ser compatível com as manifestações de alergia alimentar, descritas anteriormente. O exame físico é útil para caracterizar as manifestações tipicamente alérgicas. TESTES CUTÂNEOS: Os testes cutâneos imediatos devem ser realizados por alergista. Isoladamente não confirmam o diagnóstico. Apenas detectam a presença de anticorpos IgE específicos para os alimentos testados, demonstrando sensibilização. Devem ser testados apenas os alimentos suspeitos. Painéis de testes com inúmeros alimentos não devem ser realizados. A positividade do teste cutâneo pode persistir por muito tempo após o desaparecimento do quadro clínico. Os testes cutâneos de contato com alimentos têm a finalidade de investigar as reações tardias, mediadas por células T. Os testes cutâneos geralmente são mais sensíveis do que os testes de IgE sérica específicos para alérgenos, mas têm maior probabilidade de apresentar resultados falso-positivos. DOSAGEM DE IGE ESPECÍFICA: Os testes in vitro (Unicap®) servem para dosar a IgE específica para os alimentos suspeitos. Também não têm valor diagnóstico, apenas demonstram se o paciente tem IgE específica para determinado alimento. Painéis de testes para inúmeros alimentos não devem ser realizados, pois pode haver resultados positivos que não se relacionam às manifestações clínicas. DIETA DE EXCLUSÃO: Frente uma história e exame físico sugestivos de alergia alimentar, deve ser realizada dieta de exclusão do alimento suspeito. A dieta de exclusão deve ser realizada com número limitado de alimentos (1 a 3) e de acordo com a história clínica. Após duas a seis semanas de exclusão, os sintomas devem desaparecer. Se os sintomas desaparecerem, um teste de provocação oral deve ser feito para confirmar o diagnóstico. Atenção! Crianças não devem ser submetidas a dietas de exclusão prolongadas, sem provocação oral que confirmem, definitivamente, que as manifestações clínicas foram provocadas pelo alimento excluído. Para crianças exclusivamente alimentadas com leite materno, deve-se suspeitar de sensibilização através do leite materno. Nestes casos a mãe deve submeter-se à dieta de exclusão do alimento suspeito. TESTES DE PROVOCAÇÃO ORAL Uma vez que os sintomas e sinais desaparecem após a exclusão do alimento suspeito, faz-se a provocação oral administrando o mesmo alimento ao paciente. O teste é considerado positivo se os sintomas ressurgem, tal como eram antes da eliminação do alimento da dieta. Os testes de provocação oral são padrão-ouro para comprovação diagnóstica. Também são úteis para se constatar se o paciente já se tornou tolerante ao alimento. São contraindicados quando há história recente de reação anafilática grave e devem ser realizados em ambiente hospitalar. Consiste na oferta progressiva do alimento suspeito e/ou placebo, em intervalos regulares, sob supervisão médica para monitoramento de possíveis reações clínicas, após um período de exclusão dietética necessário para resolução dos sintomas clínicos. Pode ser indicado em qualquer idade, para: – confirmar ou excluir uma alergia alimentar; – avaliar a aquisição de tolerância em alergias alimentares potencialmente transitórias, como a do leite de vaca, do ovo, do trigo ou da soja; – avaliar reatividade clínica em pacientes sensibilizados e nos com dieta restritiva a múltiplos alimentos; – determinar se alérgenos alimentares associados a doenças crônicas podem causar reações imediatas; – avaliar a tolerância a alimentos envolvidos em possíveis reações cruzadas; e – avaliar o efeito do processamento do alimento em sua tolerabilidade. orientaçao pre-teste: suspensão de anti-histaminicos, restriçao do alimento por pelo menos 2 semanas, redução do medicamento para asma, jejum de no minimo 2h aberto = sabem o que será oferecido. crianças menor que 3 anos, sintomas objetivos, fechado: crianças maiores, sintomas subjetivos, aberto duvidoso simples cego = so o examinador sabe duplo cego placebo controlado = o nutricionista que sabe, pct e nem medico sabe. é considerado padrão ouro. dose inicial minima, intervalo 15 a 20min, tempo de observação de pelo menos 2h sintomas objetivos = urticaria, eritema, palidez, tosse, coriza, espirros, alteração da voz, vomitos, hiperemia conjuntival, anafilaxia sintomas subjetivos = prurido sem lesao aparente, dor abdominal, nausea, cefaleia, alterações do comportamento. ENDOSCOPIA E BIÓPSIA: São úteis para avaliar pacientes com manifestações não mediadas por IgE. Hemograma: Embora não seja exame diagnóstico para alergia alimentar, auxilia na detecção de complicações aela associadas, como a anemia. As reservas corporais de ferro (ferritina sérica) devem ser avaliadas. Teoricamente, na alergia alimentar pode ocorrer deficiência de ferro em função de perdas fecais ou de má absorção secundária à lesão do intestino delgado, ou da inflamação sistêmica. Nos casos de doenças gastrintestinais (esofagite eosinofílica, gastroenterite eosinofílica, proctocolite eosinofílica), a eosinofilia é encontrada em parcela expressiva dos casos, e pode auxiliar no diagnóstico. 6) Tratamento ● Dieta de eliminação de alimentos ● Às vezes, cromolina via oral ● Às vezes, corticoides para enteropatia eosinofílica A Cromolina oral tem sido usada para diminuir a reação alérgica com sucesso aparente. Anti-histamínicos são de pouco valor, exceto em reações agudas gerais com urticária e angioedema. Corticoterapia prolongada é útil para a enteropatia eosinofílica sintomática. Pacientes com alergias alimentares graves devem ser aconselhados a carregar consigo anti-histamínicos a fim de tomá-los assim que uma reação começa, além de uma seringa autoinjetável pré-preenchida com adrenalina para usar quando necessário em caso de reações graves. Com relação ao tratamento medicamentoso, várias drogas podem fornecer alívio para certas manifestações da alergia alimentar. Os anti-histamínicos, por exemplo, aliviam parcialmente os sintomas da síndrome da alergia oral e os sintomas cutâneos decorrentes de reações mediadas pela IgE, porém não são capazes de bloquear as manifestações sistêmicas mais graves. Não é correto afirmar que o uso de anti-histamínicos pode prevenir o aparecimento de reações sistêmicas em pacientes sabidamente anafiláticos àquele alimento. Os quadros de alergia não mediadas por IgE não respondem a estas medicações. Os corticosteroides sistêmicos são geralmente eficazes no tratamento das doenças crônicas IgE mediadas ou mistas (p. ex. dermatite atópica e asma), ou das doenças gastrintestinais não IgE mediadas graves (p. ex. esofagite ou gastrenterite eosinofílica alérgica e enteropatia induzida pela dieta). O emprego de corticosteróide oral por curto prazo pode ser utilizado para reverter os sintomas inflamatórios graves, contudo seu uso prolongado está contraindicado, tendo em vista os importantes efeitos adversos que ocasiona. 7) Conhecer quadro clínico e conduta na anafilaxia A anafilaxia induzida por alimentos é uma forma de hipersensibilidade mediada por IgE, com manifestações súbitas de sintomas e representa um quadro emergencial com risco de morte. O complexo de sintomas resulta da ação de mediadores que atuam em alvos como os sistemas respiratório, cardiovascular, gastrintestinal, cutâneo e nervoso. Embora qualquer alimento potencialmente possa induzir uma reação anafilática, os mais apontados são leite de vaca, ovo, camarão, peixe, amendoim e nozes. Os principais sinais e sintomas de anafilaxia são: Pele: eritema, prurido, urticária, angioedema, pode ocorrer ainda exantema morbiliforme e ereção de pelos; Sistema gastrintestinal: prurido e/ou edema dos lábios, língua e palato, sabor metálico na boca, náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal; Sistema respiratório: é o principal órgão do choque anafilático. Pode ocorrer: prurido e sensação de garganta "fechando", disfonia, tosse seca irritativa, edema de glote e de laringe, dispneia, sensação de aperto torácico, sibilos generalizados, crises de espirros, lacrimejamento e congestão nasal intensa; Sistema cardiovascular: síncope, dor torácica, arritmia, hipotensão e choque; Sistema nervoso: cefaléia, diminuição do vigor, confusão mental, sonolência, convulsões, incontinência, perda de consciência e coma. Etapas do tratamento a. Avaliar a permeabilidade das vias aéreas, respiração, circulação e nível de consciência (estado mental alterado pode sugerir a presença de hipóxia); b. Iniciar imediatamente a ressuscitação cardiopulmonar se observarmos parada cardiorrespiratória; c. Administrar adrenalina (solução 1/1000) na dose de 0,01 mg/kg (ou 0,01 mL/kg) em crianças, máximo 0,3 mg em pré-púberes e 0,5 mg em adolescentes, e adultos por via intramuscular (IM) a cada 5-15 minutos, até o controle dos sintomas e aumento da pressão sanguínea. Em geral 6% a 19% dos casos necessitam duas doses, e raramente outra dose adicional. As doses de adrenalina autoinjetável são fixas e podem ser aplicadas em crianças a partir de 7,5 Kg até 25 Kg na dose de 0,15 mg, e nas crianças maiores ou iguais a 25 Kg, a dose recomendada é de 0,3 mg. Evidenciou-se que a aplicação de adrenalina IM na coxa (vasto lateral) determina absorção mais rápida e níveis séricos mais altos do que a aplicação em outros músculos, tanto em crianças quanto em adultos. Nenhum estudo evidencia a eficácia da adrenalina administrada por outras vias como sendo mais eficaz no tratamento da anafilaxia. Não há contraindicação absoluta para o uso de epinefrina mesmo nos idosos e com doença cardiovascular pré-existente, levando-se em conta o benefício maior do que o risco; e d. Deve-se chamar por auxílio de emergência. Após a aplicação de adrenalina, outros cuidados são necessários, como descritos a seguir. 1. Colocar o paciente em posição supina, com elevação dos membros inferiores se ele tolerar. Isto diminui a progressão de alterações hemodinâmicas; evitar mudanças bruscas de posição; se a paciente estiver grávida, colocar em posição lateral esquerda com as extremidades inferiores elevadas. 2. Fundamental manter as vias aéreas pérvias; assistência ventilatória pode ser necessária, assim como intubação traqueal ou cricotireoidostomia. 3. Considerar o uso de adrenalina nebulizada no estridor por edema laríngeo na dose de 2 a 5 ampolas, em adição à adrenalina IM. 4. Oxigênio: deve ser administrado a todos os pacientes com anafilaxia que tenham reações prolongadas, hipoxemia prévia ou disfunção miocárdica, para aqueles que receberam ß2-agonista inalado como parte do tratamento, ou ainda naqueles que necessitaram múltiplas doses de adrenalina. 5. Acesso venoso para reposição volêmica, preferencialmente com solução salina. Crianças – 5 a 10 mL/kg nos primeiros cinco minutos, e 30 mL/ kg na primeira hora; adolescentes/adultos – 1 a 2 litros rapidamente EV. A avaliação circulatória deve ser periódica, pois muitas vezes há necessidade de aumentar este aporte de volume. 6. Considerar a administração de difenidramina 1 a 2 mg/kg ou 25-50 mg/dose (parenteral); no nosso meio, a prometazina 0,5/kg/dose até 25 mg/dose. Os anti-histamínicos (agonistas inversos dos receptores H1) são considerados de segunda linha, e nunca devem ser administrados isoladamente no tratamento da anafilaxia. 7. Considerar a prescrição de ranitidina, 50 mg em adultos, ou 1 mg/kg em crianças EV. Outra opção em adultos é a cimetidina 4 mg/kg EV, mas em crianças com anafilaxia, a dose ainda não foi estabelecida. 8. Em broncoespasmos resistentes a doses adequadas de adrenalina, deve-se considerar o uso de ß2-agonista por nebulização. 9. Na hipotensão refratária à reposição volêmica e à adrenalina IM, considerar a administração de agentes vasopressores. 10.Os glicocorticoides EV não são úteis para manifestações agudas, mas ajudam a controlar a hipotensão persistente ou o broncoespasmo. A administração oral de prednisona (1 a 2 mg/kg até 75 mg) pode ser útil nos episódios anafiláticos menos graves, e pode prevenir as reações bifásicas. Altas doses nebulizadas de corticosteroides podem ser úteis no edema laríngeo. 11.De acordo com a evolução, deve-se considerar a transferência do paciente para unidade de tratamento intensivo até a sua completa estabilização.
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