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Objetivos OBJETIVO 1: Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento do hipo e hiperparatireoidismo Hipoparatireoidismo: EPIDEMIOLOGIA: • É um distúrbio decorrente da secreção ou da ação deficiente do paratormônio (PTH) pelas paratireoides, como consequência, tem-se redução das concentrações de cálcio no líquido extracelular. Laboratorialmente, o diagnóstico se dá por baixos níveis de cálcio no sangue e altos níveis de fósforo. • Há uma prevalência de 24 casos a cada 100.000 habitantes, por um estudo feito na Dinamarca. • O estudo também mostrou aumento do risco de insuficiência renal, doenças cardiovasculares, catarata, infecções e complicações neuropsiquiátricas entre os pacientes com HPT • Mais comum em mulheres RESUMO DA FISIOLOGIA DO PTH: Ele provém de uma molécula denominada pré-pró-PTH e sua ação ocorre por meio da ligação entre PTH e um receptor de membrana encontrado nos órgãos alvos. Existem três tipos de receptores (PTHR1, R2, R3) que estão acoplados a proteína G. Os efeitos fisiológicos do PTH são mediados pelo receptor PTHR1 localizados nos osteoblastos e nos rins. Nos ossos, o PTH regula a liberação de cálcio, estimulando a reabsorção óssea, enquanto que nos rins, atua aumentando a reabsorção tubular de cálcio e diminuindo a reabsorção de fosfato. Indiretamente ele aumenta a absorção intestinal de cálcio via calcitriol. No hipoparatireoidismo os efeitos do PTH nos ossos e rins são ausentes ou diminuídos, o que resulta em menor produção de calcitriol, hipocalemia e hiperfosfatemia. O controle do PTH se dá por meio de feedback negativo, levando em consideração as concentrações séricas de cálcio. ETIOLOGIA: A etiologia ocorre por duas situações: 1) Secreção deficiente de PTH (mais comum) Hipoparatireoidismo e Hiperparatireoidismo Módulo I - Endocrinologia 2) Resistência a Ação do PTH (mais raramente) 1. SECREÇÃO DEFICIENTE DE PTH/ HIPOPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO: Pode ser resultado de doenças congênitas ou adquiridas. Estima-se que uma glândula paratireoide normal já seja suficiente para manter os níveis de PTH e homeostase do cálcio sérico CAUSAS ADQUIRIDAS: CAUSAS CONGÊNITAS: Iatrogênico: causas cirúrgicas (principal etiologia correspondendo a 75% dos casos e podem ser transitórias decorrentes de diminuição do luxo sanguíneo das paratireoides ou permanentes decorrentes da remoção das glândulas), radioterapia, terapias com iodo 131. Mutações no gene do pré-pró-PTH Idiopático: sem causa aparente Mutações ativadoras do gene receptor sensor do cálcio Autoimune: isolado, síndrome poliglandular autoimune Síndrome de DiGeorge: defeito embriológico que resulta em ausência de paratireoides Doenças infiltrativas/destrutivas: hemocromatose, talassemia, doenças granulomatosas, doença de Wilson, amiloidose, sarcoidose, metástases Síndrome hipoparatireoidismo-surdez-displasia renal (HDR): modificações genéticas que causam HPT, surdez neurossensorial, anomalias ou disfunção renal Distúrbio na secreção do PTH: hipomagnesemia diminui a secreção de PTH e aumenta a resistência aos efeitos do PTH nos ossos e nos rins) e hipermagnesemia Síndrome hipoparatireoidismo-retardo mental- dismorfismo (HRD): de origem árabe, caracterizado por causa congênita, apresenta retardo mental e manifestações dismórficas Neonatal: secundário a hiperparatireoidismo materno ou secundário a hipercalcemia hipocalciúrica familiar materna Distúrbios mitoconfriais: Neste grupo, estão a síndrome de Kearns-Sayre e e MTDPS (síndrome da depleção do DNA mitocondrial) Essas síndromes são causadas por defeitos em genes mitocondriais e, como tal, têm transmissão materna. Hipoparatireoidismo isolado familiar (HIF): rata-se de uma condição rara, com diferentes tipos de herança genética e etiologia, em que sintomas de hipocalcemia (p. ex., convulsões) podem se manifestar nos primeiros dias de vida. 2. RESISTÊNCIA A AÇÃO DO PTH/ HIPOPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO: Pode ser causada por: • Pseudo-paratireoidismo: se refere a um grupo de distúrbios metabólicos raros, caracterizados pela resistência dos órgãos-alvo a ação do PTH, resultando em hipocalcemia e hiperfosfatemia (O fósforo e o cálcio dietéticos estão associados no metabolismo para a absorção, sendo preconizada uma relação de 2:1 (cálcio: fósforo) para a otimização na taxa de absorção. O desbalance em um destes, que afeta esta relação, pode interferir no processo de homeostase de ambos os componentes). A fisiopatologia se baseia na resistência renal ao PTH; • Hipomagnesemia • Medicações (ex: bifosfato, calcitonina e plicamicina) • Condrodisplasia letal de Blomstrand FISIOPATOLOGIA: Não há uma fisiopatologia específica, pois cada etiologia possui uma história diferencial. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Alguns pacientes podem ser assintomáticos Todas as manifestações, independentemente da etiologia ocorrem pela hipocalcemia, a qual desencadeia quadros de excitabilidade neuromuscular esquelética e miocárdica. Quanto menor o nível de cálcio sérico mais evidentes são os sintomas. Os sintomas mais característicos da hipocalemia são: • Caibras e parestesias (periféricas e perioral) • Em condições mais graves, tetania (contração muscular involuntária), espasmo carpopedal, laringoespasmo, broncospasmo, convulsões e arritmias cardíacas podendo levar a óbito Crises convulsivas podem ser a apresentação inicial do HPT A hipocalcemia crônica pode também propiciar o surgimento de disfunção extrapiramidal (parkinsonismo, coreia, disartria etc.) e cerebelar (anormalidades da marcha, instabilidade postural etc.) DIAGNÓSTICO: Clínico: através do exame físico, realizando-se inspeção da região cervical em busca de sinais de cirurgia previa e avaliação dos sinais de Chvostek e Trousseau Laboratorial: dosagem séria de cálcio (geralmente diminuída), PTH (geralmente diminuído), fósforo (geralmente aumentado ou normais), creatinina (geralmente aumentada quando há perda de função renal), cálcio urinário de 24h. A presença de hipocalcemia e valores de PTH <20ng/ml ou indetectáveis confirmam o diagnóstico de hipoparatireoidismo. TRATAMENTO: Visa corrigir a hipocalcemia e a hiperfosfatemia, para reduzir ou eliminar os sintomas e prevenir complicações crônicas • HIPOPARATIREOIDISMO AGUDO: quadros que se instalam com um curto espaço de tempo determinam um tratamento mais rápido. Valores de cálcio <7,5mg/dl e sinais graves como tetania e convulsões indicam necessidade de tratamento intravenoso, como o gliconato de cálcio (GC) a 10% + solução glicosada (SG) • HIPOPARATIREOIDISMO CRÔNICO: suplementação de cálcio (GC a 10%, carbonato de cálcio, citrato de cálcio, glibionato de cálcio) e análogos de vitamina D (calcitriol, colecalciferol/VITD3, alfacalcidol. também em 2016 foi aprovado o uso de PTH recombinante humano. Hiperparatireoidismo: EPIDEMIOLOGIA: • O hiperparatireoidismo primário (HPTP) que resulta da hipersecreção de paratormônio (PTH) é a causa mais comum de hipercalcemia. • É mais frequente entre 40-65 anos de idade; menos comum na adolescência e menos ainda na infância • Predomina no sexo feminino • Variam de 0,4 a 21,6 casos por 100.000 pessoas/ano ETIOLOGIA: A principal etiologia do hiperparatireoidismo primário diz respeito a: • ADENOMAS ÚNICOS/SOLITÁRIOS (90% dos casos) • HIPERPLASIAS, ADENOMAS DUPLOS OU MÚLTIPLOS (1-4%) • CARCINOMAS (<1%) • SÍNDROME DE HIPERPARATIREOIDISMO FAMILIAR: Em pacientes jovens a principal causa é hiperplasia multiglandular de origem genética, corresponde a 10% dos casos de HPTP e podem surgir isoladamente ou se associar a doenças endócrinas hereditárias autossômicas dominantes como neoplasias endócrinas tipo 1 (MEN-1), MEN-2, MEN-4, síndrome do hiperparatireoidismo-tumor de mandíbula (HTM)e hipercalcemia hipocalúria familiar (FHH) FISIOPATOLOGIA: Pode ser dividido em: • Hiperparatireoidismo primário: acometimento de uma ou mais glândulas da paratireoide, em que há aumento da secreção de PTH, geralmente é ocasionada por adenomas solitários e em menores frequências por adenomas múltiplos e neoplasias malignas. Pode ser causada também por condições de síndrome de hiperparatireoidismo familiar. • Hiperparatireoidismo secundário: condições sistêmicas/doenças que estimulam as paratireoides, pode ocorrer pela baixa ingesta de vitamina D, cálcio ou má absorção desses elementos. Na maioria dos casos, o HPS é causado por doença renal crônica, devido à baixa concentração de 1,25-di-hidroxivitamina D3 decorrente da falência de sua produção renal • Hiperparatireoidismo terciário: uma ou mais glândulas cronicamente estimuladas evoluem com produção autônoma de PTH, como é o caso de pacientes com doença renal crônica e hipocalcemia prolongada, provocando hiperplasia de tireoide e consequentemente produção de PTH de forma autônoma. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Assintomáticos ou sintomáticos, as principais manifestações dizem respeito a hipercalcemia que acomete primordialmente o sistema renal e ósseo. • Manifestações renais: Nefrolitíase (cálculo renal) em 15-30% dos casos, perda gradativa da função renal, nefrocalcinose (mais raramente) • Manifestações ósseas: o PTH causa ação catabólica do esqueleto apendicular, logo, no hiperparatireoidismo há maior perda de osso cortical do que trabecular. No sistema ósseo as manifestações são: dores ósseas, fraturas patológicas, fraqueza muscular, deformidades e comprometimento progressivo da deambulação. Outras manifestações que podem estar presentes são: • Manifestações cardiovasculares: HAS, hipertrofia ventricular esquerda, doença arterial coronariana, calcificações valvulares e miocárdicas, anormalidades nas funções cardíaca e vascular. • Manifestações psiquiátricas: 78% apresentam depressão e ansiedade; outras manifestações são fadiga, perda de memória, dificuldade de concentração, irritabilidade, somatização, transtorno de humor e sono. CRISE HIPERCALCÊMICA: Raramente, o HPTP pode se manifestar por uma crise hipercalcêmica ou crise paratireóidea, que é uma emergência médica e se caracteriza por hipercalcemia muito grave (cálcio sérico > 14 mg/dℓ. Esta situação é mais frequente em pacientes com carcinoma paratireóideo (vista em cerca de 15% dos casos) do que com adenomas (< 2%).34,37 Os sinais e sintomas mais usuais incluem desidratação (decorrente de poliúria e vômitos), arritmias cardíacas e sintomas neurológicos variando de sonolência e confusão mental a estupor e coma. DIAGNÓSTICO: Laboratorial: dosagem de cálcio sérico (geralmente aumentado >10,5mg/dl) ou cálcio ionizado (>5,5mg/dl), dosagem de PTH (geralmente aumentado); em casos em que o PTH está aumentado e o cálcio sérico está normal, é indicado realizar o cálcio ionizado pois o HPP pode apresentar-se com cálcio ionizado elevado, apesar do cálcio sérico normal; dosagem de vitamina D e creatinina. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737180/epub/OEBPS/Text/chapter81.html#re34 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737180/epub/OEBPS/Text/chapter81.html#re37 Imagem: cintilografia com tecnécio (TC99m sestamibi) – 90% de sensibilidade de localização de glândula paratireoide anormal, USG cervical para localizar adenomas – 97% de sensibilidade; radiografia de ossos para busca de baixa densidade mineral óssea. TRATAMENTO: Clínico: o tratamento inclui medidas gerais como manter boa alimentação, evitar diuréticos tiazídicos e terapia com lítio, dieta rica em calcio. Os fármacos utilziados são: vitamina D3, bifosfonatos (aumento de massa osseao), estrogênio (reducao da calcemia), cinacalcete ( aumenta a sensibildiade dos receptores de cálcio, reduzindo a secreção de PTH e aumentando cálcio circulante) Cirúrgico: paratireoidectomia é o tratamento de escolha, com bons reusltados em 95% dos casos e baixos indices de complicação. Referências: • Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo GEN, 2020. • Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Clínica Médica na Prática Diária. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022.
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