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PRINCÍPIOS DA OSTEOSSÍNTESE Sabe-se que a fratura é a solução de continuidade óssea, que pode ser resultado de sobrecarga única (trauma) ou repetitiva (fratura por estresse, comum em maratonistas). Além disso, pode ser classificada como exposta ou fechada - sendo que a fratura exposta pode ter apenas o hematoma fraturário em contato com meio externo, não necessariamente o “osso está para fora” - e simples (2 fragmentos) ou cominutiva (múltiplos fragmentos). Fratura LAYANE SILVA É importante reparar que as fases são sobrepostas, ou seja, enquanto está ocorrendo a fase inflamatória, também há fase de reparação, e enquanto há reparação, também existe o processo de remodelação. Para que o osso “cole” são necessários 2 fatores: estabilidade, este será realizado pelo médico com o material disponível para estabilizar o osso (galho de árvore, papelão, placa e parafuso), e biologia, que consiste no suprimento sanguíneo, periósteo, aporte nutricional adequado do paciente e reabilitação. Inflamatória; Reparo; Remodelação. Ao se deparar com uma fratura, o objetivo médico é conseguir a consolidação óssea, que, em mamíferos, acontece em 3 fases: Inicia com a fratura a partir da formação do hematoma fraturário, que impulsiona o processo inflamatório de recrutamento de células para tentar consolidar essa fratura; Formação de calo mole, que é formado por cartilagem (principalmente) e fibrose, que se torna um calo duro, que substitui a cartilagem por osso - após 4 semanas de uma fratura, no raio-X não é possível visualizar nada, pois há apenas calo mole, que é feito de cartilagem, e somente após 8 semanas, pode-se visualizar o calo duro (ósseo); Fase de turnover ósseo, pois há reabsorção para tentar reduzir o calo ósseo e aproximar a forma anatômica do osso ao que era antes da fratura - assim, o osso sofre remodelação para voltar a forma que tinha antes da fratura, e esse processo pode durar até 2 anos. Consolidação óssea Para realizar a redução, em geral, são necessárias 3 pessoas, uma delas fará tração puxando, a outra fazendo contra- tração segurando, e a última corrigindo a deformidade. Se, por exemplo, o braço está desviado para trás para corrigir o membro, uma pessoa deve puxá-lo, outra segurá-lo e a terceira empurra para corrigir a deformidade. Entorse Redução da fratura para restaurar as relações anatômicas; Em um estudo internacional sobre fraturas de uma sociedade chamada OTA/AO, foram definidos 4 princípios básicos para ter consolidação óssea bem realizada, são eles: Se um osso quebra e sofre desvio, a intenção será realizar a redução para tentar voltar a ter a mesma anatomia que ele tinha antes - ou seja, se o osso já era torto, ele volta a ser torto da mesma forma que era antes da fratura, para tentar restaurar a mesma relação anatômica que tinha antes. Princípios de fixação Importante! O processo de redução sempre deve ser feito sob anestesia, seja ela local, regional ou geral. Fixação da fratura promovendo estabilidade absoluta ou relativa; Após a redução não pode-se apenas soltar, caso contrário a deformidade retorna, por isso, é necessário estabilizar a fratura - essa estabilização pode ser feita cirurgicamente LAYANE SILVA Mobilização segura e precoce. Por fim, deve ser feita a reabilitação do paciente, ou seja, colocar o paciente para mobilizar a articulação e, se possível, dar carga, ou seja, colocar o pé no chão. com uso de placa, parafuso e haste, ou com gesso, e também pode ser classificada como absoluta ou relativa. Importante! Quanto menos desvio, maior a facilidade de estabilizar com materiais mais simples, como o gesso. Preservação do suprimento sanguíneo; É importante preservar a biologia, portanto, quanto menor for a agressão na pele, tecido subcutâneo, tecido muscular, periósteo e vasos sanguíneos, melhor será a consolidação óssea - visto que ela depende de 2 fatores: estabilidade e biologia. Assim, se há dano na biologia do paciente, será ainda mais difícil a consolidação dessa fratura, por isso, o tratamento com gesso é o ideal sempre que possível, visto que o gesso em geral não agride a biologia. Em relação à estabilização existem 2 formas que são utilizadas na prática médica, são elas: a estabilidade absoluta e estabilidade relativa. Estabilidade Revisão! Os 4 princípios de fixação são: (1) reduzir a fratura para restaurar a anatomia, (2) estabilizar de maneira absoluta ou relativa, (3) preservar a biologia, e (4) mobilização segura e precoce. Importante! A indicação do tipo de estabilidade deve ser analisada em cada caso, mas resultados ruins, ou seja, com complicações, como deformidades podem ocorrer em ambos os tipos. ESTABILIDADE ABSOLUTA Consolidação primária sem formação de calo ósseo A estabilidade absoluta é uma maneira artificial de colar o osso, ou seja, naturalmente não vai existir essa modalidade de tratamento, pois ela exige um tratamento cirúrgico. Portanto, é um método exclusivamente artificial que permite consolidar a fratura sem formar calo ósseo, pulando as etapas do processo natural de consolidação óssea (hematoma fraturário, processo inflamatório, calo mole, calo duro e remodelação). De forma geral, para consolidar uma fratura, é necessário reduzir a fratura anatomicamente, ou seja, reduzir perfeitamente os 2 fragmentos da fratura e dar compressão entre eles. Após esse processo, ocorre a formação de um ósteo, que é composto por 2 osteoblastos, um na frente e outro atrás da região, cruzando o foco de fratura, o que faz com que o osso se consolide após a formação de vários ósteos. Assim, não é necessária a formação do calo duro, pois a fratura irá consolidar diretamente pelo acúmulo de ósteos na região. Importante! Em fraturas próximas à articulação, o ideal é realizar uma estabilidade absoluta pois a formação do calo ósseo na estabilidade relativa impediria completamente o movimento articular. Portanto, em toda fratura articular que exige redução anatômica, há uma tendência para realizar estabilidade absoluta, evitando a formação de calo ósseo dentro da articulação LAYANE SILVA Esses fatores são importantes para não provocar encurtamento (distúrbio de comprimento) ou desvio (em valgo ou em varum, que são distúrbios de eixo) ou rodado externa ou internamente (distúrbio de rotação). Importante! Para haver a consolidação óssea por estabilidade absoluta, é necessário ter a redução anatômica perfeita e a compressão entre os fragmentos. ESTABILIDADE RELATIVA Consolidação secundária com formação de calo ósseo Esse tipo de estabilidade é mais natural, ou seja, ela acontece de forma secundária com a formação de calo ósseo, e para alcançar a estabilidade é necessário um tutor de estabilização (gesso, esteira de praia, haste, placa) que vai manter o comprimento, eixo e rotação. Desse modo não será necessário reduzir a fratura para que os fragmentos fiquem perfeitamente alinhados, basta reduzir até manter comprimento, eixo e rotação. Importante! Se for fratura articular, o ideal é que a superfície articular se mantenha perfeita - sempre que for fratura articular há indicação cirúrgica para realizar estabilidade absoluta. Curiosidade! Pacientes com rotação interna do membro inferior, ao andar, batem com os pés um no outro. Portanto, o princípio da estabilidade relativa é justamente não mexer no foco de fratura, por vezes, no raio-X a consolidação não parece tão anatômica - “o osso não fica igual a como era antes” - mas o objetivo é que ele mantenha comprimento, eixo e rotação para ter a mesma função que tinha antes. Revisão! Lembrando que a ortopedia lida apenas com fraturas de esqueleto axial e apendicular. Em resumo, na estabilidade absoluta é necessário abrir a pele, retirar as estruturas acima do osso para visualizar os fragmentos, reduzir perfeitamente e aplicar compressão. Já, na estabilidade relativa, faz-se o contrário, há tentativa de manter o foco de fratura intacto. Importante! A idade não é uma contraindicação para nenhum tipo de estabilidade, as indicações devem ser analisadas caso a caso. Para tratar as fraturasfornecendo estabilidade, os implantes são: gesso, tala gessada, placa, parafuso, haste intramedular, fixador externo e fios de Kirschner. Implante Importante! Não existe uma fase específica na qual os implantes devem ser colocados, mas idealmente devem ser usados antes que a fratura esteja consolidada (< 1 mês). GESSO Consiste em colocar algodão ortopédico e enrolar todo o membro acometido com gesso, sem usar a atadura de crepon, assim, é mais estável mas não permite expansão - ou seja, se houver edema muscular, o gesso não expande, por isso, o paciente pode ter uma compressão vascular por conta do uso do gesso. Importante! Para crianças que tem baixo risco de síndrome compartimental, pode-se utilizar o gesso fechado por ser muito raro uma síndrome compressiva em crianças. Curiosidade! Atualmente, existem gessos sintéticos com fibra de carbono que são usados para modelação 3D para adequar a anatomia do paciente. TALA GESSADA Na tala gessada, é colocada a atadura de gesso apenas em uma porção do membro - há uma parte de gesso, outra parte de algodão ortopédico, ambos enrolados em uma atadura de crepon. Uma das suas vantagens em relação ao gesso é a possibilidade de expansão sem o risco de compressão pois o gesso está em apenas uma das partes. LAYANE SILVA esse osso é envolto por cartilagem, configurando fratura intra articular. Nesse caso, foi necessário abrir a mão, reduzir perfeitamente e oferecer compressão como parafuso. Importante! Em geral, o gesso é usado como tratamento definitivo e a tala gessada como tratamento provisório. PLACA Não bloqueada: esse tipo de placa não possui rosca nos furos, ou seja, tem um fundo liso, então o parafuso fica preso somente no osso e não na placa em si. A placa com parafuso, que erroneamente são chamadas de próteses, são divididas em bloqueadas e não bloqueadas. Bloqueada: esse tipo placa possui rosca no furo da placa, assim, o parafuso além de ficar preso no osso, também fica preso na placa. Normalmente são usadas em pacientes com osso osteoporótico, pois tem uma maior estabilidade - mas, a desvantagem é o alto custo. PARAFUSO Outro tipo de implante muito utilizado é o parafuso - na imagem está sendo utilizado na mão do paciente no osso escafóide, promovendo estabilidade absoluta, visto que Sabe-se que o parafuso é um sistema que transforma forças torcionais em forças axiais, assim, ao girar o parafuso (aplicar rotação) ele entra de maneira axial em função de suas ranhuras (rosca). HASTE INTRAMEDULAR Utilizada para garantir estabilidade relativa, atualmente, a haste intramedular é o padrão-ouro para a maioria das fraturas epifisárias (úmero, fêmur, tíbia), pois não agride a biologia (não mexe no foco de fratura) e promove uma boa estabilidade. A haste é, portanto, colocada dentro da medula óssea, mas não atinge hematoma fraturário, pele, subcutâneo e tecido muscular (envoltório de consolidação) que irão se manter contidos. Importante! Nesse caso, o ideal é apenas manter comprimento, eixo e rotação - além disso, a haste garante recuperação mais rápida, com mais estabilidade e menor chance de complicações quando comparada ao gesso. Em fraturas da tíbia, por exemplo, é feito um corte no joelho, através do qual entra uma haste por dentro da medula e abre uma parte embaixo para colocar os parafusos. Desse modo, o foco de fratura não é manipulado (estabilidade relativa), apenas as extremidades, assim, não é abordado o hematoma fraturário e o processo inflamatório, então os processos de consolidação se mantém, bem como o periósteo e o tecido subcutâneo. Visto que para consolidar o osso precisa de estabilidade e biologia, a não manipulação da biologia garante vantagem no processo de consolidação óssea. Assim, em uma fratura de tíbia, por exemplo, para realizar estabilidade absoluta seria necessário abrir a tíbia para visualizar os fragmentos e retirar toda a circulação sanguínea para fazer a compressão (método mais agressivo). LAYANE SILVA É um método de pouca estabilidade, que é muito usado em crianças por ser pouco invasivo e facilmente retirado. Existem vários tipos de fixador externo, como o linear e o circular (ou em gaiola), sendo que este último garante maior estabilidade em relação ao primeiro - usados com frequência para tratar complicações associadas a fratura, como lesão de partes moles, infecção, esmagamento, perda de altura (redução do comprimento do membro). Complicações Curiosidade! Por ser um material de síntese, é possível retirar a haste intramedular da mesma forma que o gesso, visto que após a consolidação da fratura ela não tem mais função. No entanto, para retirar precisa ser feita uma nova cirurgia, assim, em geral prefere-se deixar, exceto se o paciente tiver risco grande de ter uma nova fratura com o implante dentro do osso. FIXADOR EXTERNO Consiste em uma estabilidade relativa, ou seja, longe do foco de fratura permitindo inclusive o movimento desse foco - este não tem uma estabilidade tão boa, mas é uma opção em casos onde não é possível utilizar outros tipos de implante, principalmente se há lesão de partes moles. Curiosidade! Se por acaso o paciente teve uma fratura exposta e o fragmento foi perdido, é possível utilizar enxerto ósseo no local do fragmento (ideal) ou pode encurtar o membro. Antigamente, acreditava-se que o osso só consolidava se fosse realizada a compressão dos fragmentos, mas o cirurgião Ilizarov descobriu que se for feita a distração gradual (1 mm por dia) o osso também consolida, possibilitando o ganho de comprimento ósseo. FIOS DE KIRSCHNER São fios metálicos feitos de aço inoxidável com uma ponta cortante, capaz de cortar tanto a pele quanto o osso. Importante! Em crianças não é bom deixar o implante pois pode crescer osso em volta do implante. Importante! Nas crianças, deve-se atentar para a fise de crescimento que não pode ser cruzada, visto que se provocar a morte de alguma célula na fise de crescimento, isto pode destruir o membro. CONSOLIDAÇÃO VICIOSA Fratura consolidou mas com comprimento, rotação ou eixo inadequado. Observa-se uma fratura de fêmur, na qual foi usado gesso, após um tempo, houve a consolidação mas de forma inadequada, causando deformidade angular, rotacional e de comprimento, o que pode comprometer a função e ser prejudicial ao paciente. RETARDO DE CONSOLIDAÇÃO A consolidação da fratura não está ocorrendo no período esperado - no entanto, ainda há potencial de consolidação, ou seja, a fratura poderá consolidar sem intervenção cirúrgica (modificação nutricional, de carga). Observa-se fratura de fêmur tratada com fixador externo que oferece pouca estabilidade, e após um tempo ainda não havia calo ósseo, e o paciente continua com dor. Assim, deve-se retirar o fixador externo e aplicar um implante com maior estabilidade para garantir a consolidação. PSEUDOARTROSE A fratura ainda existe e o processo de consolidação cessou, não existe potencial de consolidação, ou seja, a fratura não vai consolidar sem intervenção cirúrgica. Nesse caso, será feita a abertura para retirar a fibrose, tornar o osso vivo novamente, colocar enxerto ósseo autólogo e oferecer um método de estabilidade (fixador externo, haste, placa).
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