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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) Definição e Epidemiologia Doença caracterizada por obstrução crônica e parcialmente reversível das vias aéreas inferiores, com destruição progressiva do parênquima pulmonar. Com a evolução da doença, a reversibilidade da obstrução vai se tornando cada vez menor, com agravamento dos sintomas. A DPOC é caracterizada por sintomas respiratórios persistente e limitação ao fluxo aéreo, devido a anormalidades das vias aéreas, usualmente causada pela exposição significativa a partículas e gases inalados, e influenciada por fatores pessoais. A prevalência é crescente no sexo feminino, em virtude do aumento do tabagismo entre as mulheres, mas ainda mantendo uma proporção maior entre os homens. É uma doença da população idosa, geralmente se manifestando na quinta ou sexta década de vida. ASMA DPOC A inflamação das vias aéreas é REVERSÍVEL e se manifesta com hiper-reatividade brônquica, justificando o caráter VARIÁVEL e EPISÓDICO dos sintomas. A principal característica é a INFLAMAÇÃO, sendo a base do tratamento os CORTICÓIDES INALATÓRIOS. Predomínio de EOSINÓFILOS e LTCD4+. A inflamação das vias aéreas possui um componente IRREVERSÍVEL, constituídos por espessamento inflamatório e FIBROSE DA PAREDE dos brônquios e bronquíolos. Lesão do parênquima pulmonar. Base do tratamento são os AGONISTAS BETA-2 INALATÓRIOS. Predomínio de NEUTRÓFILOS, MACRÓFAGOS E LTCD8+. Tabagismo e DPOC O tabagismo é o fator de risco mais importante. Outros que merecem destaque são: exposição ocupacional a poeira e irritantes químicos, história de infecções respiratórias de repetição, deficiência de alfa-1-antitripsina, hiper- reatividade das vias áreas inferiores. Embora a patogênese da DPOC ainda não esteja totalmente conhecida, sabe-se que 90% dos casos têm total relação com o tabagismo. O risco de DPOC depende da carga tabágica cumulativa. Em fumantes com carga acima de 40 maços/ano, a chance de ter DPOC chega a 25%. Obs.: A carga tabágica é calculada multiplicando-se o número médio de maços fumados por dia pelo número de anos em que o paciente fumou. Quanto mais cedo o início do tabagismo, maior o risco de DPOC. A fumaça do tabaco contém milhares de substâncias, algumas delas lesivas aos pulmões e outras com potencial carcinogênico. Os três componentes patológicos da DPOC 1. BRONQUITE OBSTRUTIVA CRÔNICA Componente brônquico. Inflamação da parede dos brônquios com lúmen > 2 mm. É composta por infiltrado leucocitário misto, metaplasia de células caliciforme e hiperplasia das glândulas submucosas, resultando em diminuição do calibre, com obstrução do fluxo aéreo. Clínica: tosse crônica produtiva, com expectoração branca ou amarelada, associada a sinais de obstrução das vias aéreas. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 2. DOENÇA DAS PEQUENAS VIAS AÉREAS Componente bronquiolar. Inflamação da parede dos bronquíolos e pequenos brônquios com lúmen < 2 mm. É composta por infiltrado inflamatório misto e fibrose. Clínica: dispneia e distúrbios da troca gasosa. 3. ENFISEMA PULMONAR Componente parenquimatoso. Doença dos ácinos, que são as unidades funcionais de troca gasosa dos pulmões (alvéolos). Destruição progressiva dos septos alveolares e/ou paredes dos bronquíolos respiratórios, levando à formação de grandes espaços aéreos com reduzido poder de troca gasosa. Degradação do tecido elástico do parênquima pulmonar. Enfisema centroacinar: Típico do tabagismo; a destruição começa e predomina nos bronquíolos respiratórios, no centro do ácino. Enfisema panacrinar: Típico da deficiência de alfa-1-antitripsina; a destruição já começa em todo ácino, destruindo tanto a periferia como o centro. Quadro clínico da DPOC Tosse produtiva crônica, de predomínio matinal. Dispneia progressiva. Ortopneia. Hiperinsuflação pulmonar, com aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em tonel). Cianose ou eritrocianose. Pletora facial. Edema de membros inferiores. Murmúrio vesicular bem reduzido, sibilos, roncos, estertores crepitantes. Bulhas cardíacas hipofonéticas. Achados da gasometria arterial (decorrentes do desequilíbrio ventilação-perfusão): hipoxemia, SatO2 muito baixa, retenção crônica de CO2, HCO3 > 26 mEq/L, BE > +3 mEq/L, pH normal ou levemente reduzido. Foram descritos dois estereótipos da DPOC que representam dois extremos da doença, mas, na prática, a maioria dos pacientes encontra-se num espectro clínico intermediário entre eles. I. Pink Puffer (Soprador Róseo): Estereótipo enfisematoso; são pacientes magros, com diâmetro anteroposterior do tórax bastante aumentado, face rósea, MV universalmente reduzido, sem ruídos adventícios, dispneia expiratória do tipo “soprador”, hipoxemia leve. II. Blue Bloater (Inchado Azul): Estereótipo do bronquítico; apresentam edema de MMII, turgência jugular, hepatomegalia, ascite, cianose crônica, eliminam muita secreção, apresentam diversos ruídos adventícios (roncos, sibilos, estertores), hipoxemia grave, retenção crônica de CO2 e síndrome do cor pulmonale. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Diagnóstico da DPOC O diagnósticos é dado pela presença de SINTOMAS COMPATÍVEIS (tosse crônica, dispneia e cansaço em geral de evolução lenta e progressiva) + ESPIROMETRIA COM PADRÃO OBSTRUTIVO (VEF/CVC < 70% após o uso de broncodilatador). O primeiro parâmetro espirométrico a se alterar na DPOC e nas doenças obstrutivas em geral é a FEF 25 – 75%. O estadiamento da DPOC leva em consideração critérios clínicos, gasométricos e espirométricos. Estágio 0 (em risco) Sintomas de bronquite crônica, porém espirometria normal Estágio 1 (DPOC leve) VEF/CVC < 70% e VEF1 ≥ 80% do previsto Estágio 2 (DPOC moderada) VEF/CVC < 70% e VEF1 ≥ 50% e < 80% do previsto Estágio 3 (DPOC grave) VEF/CVC < 70% e VEF1 ≥ 30% e < 50% do previsto Estágio 4 (DPOC muito grave) VEF/CVC < 70% e VEF1 < 30% do previsto Radiografia de tórax na DPOC Hiperinsuflação pulmonar, caracterizada por: Aumento dos espaços intercostais; Visualização de mais do que nove ou dez arcos costais anteriores; Retificação das hemicúpulas diafragmáticas; Maior penetração dos raios X, com maior hipotransparência pulmonar; Coração alongado (em “gota”). Tratamento farmacológico da DPOC Objetivos do tratamento: alívio sintomático, melhorar a tolerância ao exercício, melhorar o estado de saúde, prevenir progressão da doença, prevenir e tratar exacerbações, redução de mortalidade. BRONCODILATADORES INALATÓRIOS: Uma discreta broncodilatação pode trazer um grande benefício clínico ao paciente. Os corticoides sistêmicos são drogas importantes nas exacerbações agudas da DPOC, não sendo indicado no tratamento de manutenção. Para fins de tratamento clínico, os portadores de DPOC são classificados em quatro grupos, de acordo com a sintomatologia e o histórico recente de exacerbações. 1º passo: Avaliar a sintomatologia por um dos dois questionários (mMRC ou CAT); 2º passo: Avaliar esses pacientes de acordo com o risco de exacerbações, usando o número de exacerbações clínicas no último ano. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C mMRC: CAT: VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C É de acordo com o grupo (A, B, C ou D) que guiamos nosso tratamento inicial: GRUPO A: - Pacientes POUCO sintomáticos e com BAIXO risco de exacerbações da doença. - Tratamento de manutenção: beta-2-agonista de ação longa (formoterol ou salmeterol a cada 12 horas) ou anticolinérgico de ação longa (tiotrópio). GRUPO B: - Pacientes com BAIXO risco de exacerbações (semelhante do grupo A), porém MAIS sintomáticos. - Tratamento de manutenção: beta-2-agonista de ação longa (formoterol ou salmeterol a cada 12 horas) ou anticolinérgico de ação longa (tiotrópio). GRUPO C: - Pacientes POUCO sintomáticos, porém com ALTO risco de exacerbações. - Tratamento de escolha: anticolinérgico de ação longa isoladamente, ficando o beta-2-agonista como segunda opção. GRUPO D: - Pacientes MUITO sintomáticos e com ALTO risco de exacerbações. - Tratamento de escolha: anticolinérgico de ação longa. - Nos pacientes mais sintomáticos, podemos já iniciar o tratamento com uma associação beta-2-agonista de ação longa + anticolinérgico de ação longa. - Pacientes com eosinofilia ≥ 300/mm3 ou história de asma têm indicação de corticóide inalatório. Tratamento não farmacológico da DPOC Todo paciente com DPOC ou em risco de desenvolver a doença deve ser forte e insistentemente encorajado a parar de fumar. A suspensão do tabagismo é a medida de maior eficácia para reduzir a progressão da doença e melhorar os sintomas. Os portadores de DPOC devem ser vacinados anualmente contra a gripe (vacina anti-influenza) e a cada cinco anos com a vacina antipneumocócica polivalente 23. Exercícios físicos programados e supervisionados por profissionais especializados. Oxigenioterapia nos pacientes francamente hipoxêmicos: - PaO2 ≤ 55 mmHg ou SatO2 ≤ 88% em repouso; - PaO2 entre 55 - 60 mmHg + policitemia ou sinais clínicos de cor pulmonale. Medidas terapêuticas que comprovadamente reduzem a mortalidade da DPOC Interrupção do tabagismo. Oxigenioterapia nos pacientes francamente hipoxêmicos: - PaO2 ≤ 55 mmHg ou SatO2 ≤ 88% em repouso; - PaO2 entre 55 - 60 mmHg + policitemia ou sinais clínicos de cor pulmonale. Cirurgia pneumorredutora. Abordagem das exacerbações agudas da DPOC Exacerbação da DPOC = DPOC descompensada = Estado de piora aguda e sustentada dos sintomas da doença, com dispneia e/ou alteração do escarro (da cor ou do volume). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Causas: infecções respiratórias (influenza/ H. influenza/ S. pneumoniae/ M. catarrhalis), TEP, derrame pleural, pneumotórax e causas cardiogênicas (IVE, arritmias, etc). Exacerbação LEVE Tratada apenas com broncodilatador de ação curta. Exacerbação MODERADA Também trada ambulatorialmente, mas requerendo também antibiótico e/ou corticoide oral. Exacerbação GRAVE Requerendo internação hospitalar e ocasionalmente associada à insuficiência respiratória. Sinais de gravidade: piora súbita da dispneia, taquipneia importante, hipoxemia, confusão mental, insuficiência respiratória aguda, cianose, piora do edema periférico e comorbidades associadas (ex: ICC, arritmias agudas). Sem insuficiência respiratória FR até 30 irpm, sem uso de musculatura acessória, melhora da hipoxemia com O2 suplementar (FiO2 28 a 35%) e sem aumento da PaCO2. Com insuficiência respiratória, sem risco de vida FR > 30 irpm, uso de musculatura acessória, melhora da hipoxemia com O2 suplementar (FiO2 35 a 40 %) e hipercapnia. Com insuficiência respiratória e risco de vida FR > 30 irpm, uso de musculatura acessória, alteração do estado mental, sem melhora da hipoxemia com O2 suplementar, hipercapnia ou acidose. OXIGENOTERAPIA a baixo fluxo (1 a 3 litros por minuto) para manter a oximetria de pulso entre 88 e 92% (evitando hiperoxemia). No paciente com nível de consciência preservado, utilizar ventilação mecânica não invasiva (VNI); caso haja rebaixamento do nível de consciência ou sinais de instabilidade hemodinâmica, realizar intubação orotraqueal + ventilação mecânica. Obs.: A hiperoxemia (altos fluxos de oxigênio) pode promover retenção aguda de CO2 no paciente com DPOC avançado, causando depressão do nível de consciência. Sempre manter o fluxo de O2 entre 1 e 3 L/min. BRONCODILATADORES INALATÓRIOS: beta-2-agonista de curta ação (fenoterol, salbutamol) + anticolinérgico (brometo de ipratrópio). CORTICOIDES SISTÊMICOS: prednisona 40 mg/dia por 5 dias ou, em casos mais graves, Metilprednisolona EV 0,5 a 1 mg/kg/dose. ANTIBIÓTICOS (amoxicilina-clavulanato, quinolona ou betalactâmico) caso haja aumento da dispneia e do volume da expectoração, aspecto purulento à expectoração. Profilaxia para TVP/TEP nos pacientes internados. Coleta de exames laboratoriais e de imagem capazes de detectar possíveis causas para a exacerbação. Gasometria arterial na exacerbação aguda da DPOC: A descompensação (causada por uma pneumonia, por exemplo) piora ainda mais a troca gasosa, aumentando a retenção de CO2 e o pH da gasometria arterial encontra-se baixo (ácido). Em ventilação mecânica, ocorre normalização da pCO2 o que desencadeia uma alcalose. Assim, conclui-se que: a ventilação mecânica em um retentor crônico de CO2 deve ser regulada para manter um pH normal (7,35 a 7,45), mesmo que para isso a p CO2 ainda fique elevada! VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C