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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Complicações agudas do Diabetes As complicações agudas do diabetes podem ser divididas em dois grupos principais: - Crises hiperglicêmicas Cetoacidose diabética e Estado hiperglicêmico hiperosmolar. - Hipoglicemia Principal causa de coma em paciente diabéticos. Essas condições se tornam reversíveis quando adequadamente manejadas. CRISES HIPERGLICÊMICAS Ambas são caracterizadas por glicosúria com diurese osmótica, provocando poliúria e depleção volêmica e eletrolítica. O principal fator desencadeante dessas condições são as infecções. Atenção: Todo paciente jovem que chega ao hospital com um suposto “abdome agudo” deve sempre ser avaliado em relação à possibilidade de cetoacidose diabética. A base do tratamento de ambas as complicações é: hidratação vigorosa, insulinoterapia e reposição de potássio. A insulina promove a entrada imediata de potássio e fosfato nas células, fazendo com que a concentração desses eletrólitos no sangue caia drasticamente após as primeiras horas do tratamento. Isso justifica a necessidade rotineira da reposição de potássio e fosfato logo após a introdução de insulinoterapia. Cetoacidose Diabética Glicemia > 250 mg/dl. pH arterial < 7,30. Bicarbonato sérico < 18 mEq/L. Cetonúria e cetonemia. O diagnóstico baseia-se no tripé: hiperglicemia (> 250 mg/dl), acidose metabólica (pH < 7,30 ou bicarbonato < 15 mEq/l) e cetose (cetonemia ou cetonúria). Atenção: Nunca acompanhar a eficácia do tratamento da cetoacidose diabética pela cetonúria e nem pela cetonemia, uma vez que elas só desaparecem em fase tardia! O grau de hiperglicemia nem sempre tem relação direta com o grau de acidose. Por efeito da diluição osmótica do sódio sérico exercida pelo aumento da glicose (que “puxa” a água para o intravascular), espera-se HIPOnatremia. Acidose metabólica com ânion-gap aumentado. Mais comum em paciente com DM1 (ausência de insulina = estado catabólico intenso = produção excessiva de ácidos graxos = metabolização em corpo cetônicos no fígado). Fatores desencadeantes: infecções, cirurgia, suspensão inadvertida da insulinoterapia, distúrbios alimentares e drogas. Sinais e sintomas típicos: dor abdominal, náuseas, vômitos, respiração de Kussmaul (hiperventilação para compensar a acidose), rebaixamento da consciência, poliúria osmótica (com perda de grande quantidade de água, Na, K e fosfato), polidipsia, emagrecimento, desidratação, hipovolemia e hálito cetônico. Pode haver: leucocitose com neutrofilia (mesmo na ausência de infecção), hipertrigliceridemia e aumento da amilase sérica (cuidado para não confundir com pancreatite aguda). Tratamento: 1. Reposição volêmica rápida: 1 a 1,5 L de soro fisiológico 0,90% na primeira hora (15 a 20 ml/kg/h); em seguida, se a concentração sérica de Na estiver normal ou elevada, utilizar solução salina 0,45%; se o Na estiver baixo, usar NaCl 0,90%. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 2. Insulinoterapia e continuação da hidratação venosa: bolus venoso de insulina regular na dose de 0,1 U/kg, seguido de imediato por 0,1 U/kg/h em infusão venosa contínua (bomba se infusão). A velocidade de redução da glicemia deve ser de 50 a 75 mg/dl/h. Quando a glicemia < 250 mg/dl, reduzir a insulina para 0,05 U/kg/h e trocar o soro de reposição por soro glicosado 5% em salina 0,45%, mantendo-se 150 a 200 ml/h para prevenir a hipoglicemia. 3. Reposição de potássio (KCl): A aferição da calemia deve ser realizada a cada 2 horas. Se K > 5,2 mEq/L, aguardar a próxima aferição. Se K entre 3,3 e 5,2 mEq/L, repor 20 a 30 mEq em cada litro de solução de reposição IV. Se K < 3,3 mEq/L, não administrar provisoriamente a insulina; repor 20-30 mEq/h até que K > 3,3 mEq/L. Obs.: O objetivo é manter o potássio na faixa normal de 4 a 5 mEq/L. Antes da reposição de K, verificar a função renal; o paciente deve ter um débito urinário de pelo menos 50 ml/h. Complicações: - Hipoglicemia iatrogênica; - Complicações eletrolíticas iatrogênicas; - Edema cerebral iatrogênico (quando a insulina reduz a glicemia numa velocidade acima de 100 mg/dl/h, o paciente entra num estágio transitório em que a osmolaridade plasmática está inferior à osmolaridade dos neurônios, que, então, absorvem água); - Mucormicose (sendo a forma rinocerebral a mais comum); - Trombose venosa profunda. Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar Glicemia > 600 mg/dl. pH arterial > 7,30 (ausência de acidose). Bicarbonato sérico >18 mEq/L. Osmolaridade sérica > 320 mOsm/kg. Desidratação (a perda volêmica costuma ser maior do que na cetoacidose). O diagnóstico baseia-se em: hiperglicemia extrema (> 600 mg/dl), hiperosmolaridade acentuada e ausência de acidose e cetose importante. Mais comum em pacientes com DM2 (o nível sérico de insulina é suficiente para prevenir a cetoacidose, mas não para impedir a hiperglicemia = quando a glicemia > 200 mg/dl = poliúria por diurese osmótica = desidratação = aumento da osmolaridade plasmática = sede, desorientação e coma hiperosmolar). Os principais fatores precipitantes são: infecções (pneumonia, ITU), AVE, IAM, drogas hiperglicemiantes, estresse agudo clínico ou cirúrgico. Esses pacientes costuma apresentar os sintomas típicos de hiperglicemia (poliúria, polifagia e polidipsia), podendo evoluir para desidratação, rebaixamento do nível de consciência e espoliação hidroeletrolítica intensa. Uma diferença marcante para a cetoacidose é a ausência dos sintomas gastrointestinais e da taquidispneica. O hálito cetônico normalmente não está presente. O tratamento é muito parecido com o da CAD, baseando-se no tripé: reposição hídrica, insulinoterapia e reposição de potássio. A diferença seria o enfoque maior na hidratação, que forma a base da terapia. A solução salina 0,45% é o soro de escolha. O parâmetro de melhora é a queda da osmolaridade abaixo de 310 mOsm/L. A complicação mais temida é o edema cerebral iatrogênico, causado pela correção rápida demais da glicemia, especialmente quando a glicemia baixa mais do que 100 mg/dl/h. HIPOGLICEMIA A hipoglicemia no paciente diabético ocorre quando um dos alicerces do tripé do controle glicêmico é alterado: alimentação, atividade física e insulina. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Os episódios de hipoglicemia são precipitados pela má disciplina terapêutica e pelo descontrole cronológico entre a aplicação da insulina, alimentação e exercício físico. Outros fatores precipitantes de hipoglicemia em diabéticos tipo 1 são: betabloqueadores, principalmente os não seletivos (pelo bloqueio dos receptores beta 2 hepáticos que são necessários para o estímulo gliconeogênese); ingestão de álcool e nefropatia diabética (gera prejuízo na depuração da insulina). Obs.: Todo paciente diabético de longa data que começa a fazer episódios de hipoglicemia, mantendo exatamente a mesma dose de insulina e os mesmo hábitos de vida, deve levantar suspeita sobre a nefropatia diabética, já com queda da filtração glomerular! Os paciente mais propensos a hipoglicemia são os diabéticos tipo 1, uma vez que a destruição autoimune das ilhotas pancreáticas leva a perda de algumas células alfa, responsáveis por produzir o glucagon (principal mecanismo de defesa fisiológico contra a hipoglicemia). Crise hipoglicêmica: TRIADE DE WHIPPLE - Glicemia reduzida (≤ 70 mg/dl). - Sintomas adrenérgicos (tremores finos de extremidades, sudorese frias, palpitações, taquicardia, hipertensão arterial) e neuroglicopênicos (dificuldade de concentração, incoordenação, ataxia, letargia, torpor, coma e convulsões). - Reversão com a normalização da glicemia. Tratamento: - Consumo de algum alimento doce pelo paciente. - Injeção subcutânea de glucagon 0,5 a 1 mg. - Se no ambiente hospitalar, glicose hipertônica intravenosa – 20g.
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