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APG 5 – pan-hipopituitarismo OBJETIVOS: 1. Revisar a fisiologia do eixo hipotálamo-hipófise 2. Estudar as principais alterações no funcionamento hipofisário 3. Discutir as questões psicossociais da obesidade fisiologia da hipófise A hipófise é uma glândula formada por vários tipos celulares, cujos produtos de secreção estimulam outras glândulas endócrinas periféricas a sintetizar e secretar hormônios envolvidos em funções diversas, como crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor, maturação sexual, fertilidade, controle do gasto energético, regulação do metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, manutenção do balanço hidroeletrolítico. A secreção hormonal hipofisária é regulada por hormônios hipotalâmicos e pelos hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas periféricas. A região anterior da hipófise, ou adeno-hipófise, de origem ectodérmica, produz o hormônio do crescimento (GH), as gonadotrofinas (LH e FSH), o hormônio estimulador da tireóide (TSH), o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e a prolactina (PRL). A região posterior, ou neuro-hipófise, de origem neural, produz o hormônio antidiurético (ADH) e a ocitocina. Quase toda a secreção hipofisária é controlada por sinais hormonais e nervosos vindos do hipotálamo. A secreção efetuada pela região posterior da hipófise é controlada por sinais neurais que têm origem no hipotálamo. A secreção da adeno-hipófise é controlada por hormônios, chamados hormônios (ou fatores) estimuladores e hormônios (ou fatores) inibidores, secretados pelo hipotálamo e levados para a adeno-hipófise pelos vasos sanguíneos. Cada eixo endócrino é composto de três níveis de células endócrinas: (1) neurônios hipotalâmicos; (2) células da glândula pituitária anterior e (3) glândulas endócrinas periféricas. Os neurônios do hipotálamo liberam hormônios estimuladores hipotalâmicos (XRHS) específicos que estimulam a secreção de hormônios tróficos pituitários (XTHS) também específicos. Em alguns casos, a produção de um hormônio trófico pituitário é regulada secundariamente por um hormônio Inibidor da liberação (XIH). Os hormônios tróficos da pituitária agem então sobre glândulas-alvo endócrinas periféricas específicas e estimulam essas glândulas a liberarem hormônios periféricos (x). Em cada nível dessa cascata hormonal, é possível uma retroalimentação negativa (ou feedback negativo) das etapas prévias; um nível desnecessariamente elevado de um hormônio inibe a liberação dos hormônios anteriores na cascata, mantendo as concentrações dos hormônios em níveis normais. Assim, a inclusão do hipotálamo em um eixo endócrino permite a integração de uma quantidade considerável de informação para a determinação ou alteração do ponto de equilíbrio deste eixo (ou ambas). A hipófise é constituída de duas glândulas com origens embrionárias diferentes, as quais se fundiram durante o desenvolvimento. (a) A hipófise situa-se em uma cavidade óssea protetora, conectada ao encéfalo por uma fina haste ou pedúnculo. (b) A adeno-hipófise é uma verdadeira glândula endócrina que secreta seis hormônios clássicos. Os neuro-hormônios do hipotálamo controlam a liberação de hormônios da adeno-hipófise. Os hormônios hipotalâmicos alcançam a adeno-hipófise através de uma região especializada da circulação, chamada de sistema porta. pan-hipopituitarismo Hipopituitarismo é a deficiência de um ou mais hormônios da hipófise anterior ou posterior resultante de doenças do hipotálamo ou hipófise. O pan-hipopituitarismo indica a perda de todos os hormônios hipofisários, mas o termo geralmente é usado na prática clínica para descrever pacientes deficientes em hormônio do crescimento (GH), gonadotrofinas, corticotrofina ou tireotropina, nos quais a função hipofisária posterior permanece intacta. Se não adequadamente tratado, o hipopituitarismo resulta em elevada morbimortalidade. O quadro clínico e as complicações do hipopituitarismo dependem da etiologia, do tipo e da gravidade da insuficiência hormonal. A reserva funcional da hipófise é grande, e as manifestações clínicas da doença são evidentes apenas quando ocorre o comprometimento de, pelo menos, 75% de seu parênquima. As deficiências na secreção dos hormônios hipofisários manifestam-se, em geral, na seguinte ordem: · gonadotrofinas (hormônio luteinizante [LH] · hormônio foliculestimulante [FSH]) · hormônio do crescimento (GH) ou somatotrofina · hormônio tireoestimulante (TSH), · hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) · prolactina (PRL). O termo pan-hipopituitarismo tem sido empregado diante da deficiência de dois ou mais hormônios hipofisários. etiologia O hipopituitarismo é uma doença pouco comum. Pode ser causado por inúmeros fatores, inclusive determinados distúrbios inflamatórios, um tumor da hipófise ou um suprimento insuficiente de sangue para a hipófise. Pode ser congênita ou adquirida: • CONGÊNITA: mutações em fatores de transcrição produzem deficiências hormonais múltiplas. Mutações em genes produzem deficiência hormonal única. • ADQUIRIDA: o resultado da destruição das células hipofisárias causada por: 1. Apoplexia hipofisária: hemorragia ou infarto da hipófise. Os fatores predisponentes incluem diabetes melito, terapia anticoagulante, traumatismo craniano e radioterapia. 2. Síndrome de Sheehan: necrose pós-parto, uma rara complicação após a gravidez. 3. Doença infiltrativa: incluindo sarcoidose, hemocromatose, histiocitose X, granulomatose de Wegener, hipofisite linfocitária e infecção da hipófise (tuberculose, micose, sífilis). 4. Síndrome da sela vazia primária: achatamento da hipófise, causado pela extensão do espaço subaracnóideo e enchimento de líquido cerebrospinal dentro da sela túrcica. 5. Tumores hipofisários: classificados por tamanho (microadenomas, <10 mm; macroadenomas, >10 mm) e função. Tumores secretores de prolactina e tumores não funcionais respondem pela maior parte dos adenomas hipofisários. 6. Tumores suprasselares: craniofaringiomas são os mais comuns. · Embriopatias congênitas da linha mediana. · Síndrome de Prader-Willi. · Sindrome de Laurence-Moon-Bardet-Biedl. · Sindrome de Kallman. · Adenoma hipofisário com expansão suprasselar. · Craniofaringioma. · Hamartoma. · Disgerminoma suprasselar. · Sarcoidose. · Granuloma eosinofílico (sindrome X). · Histiocitose de células de Langerhans (histiocitose · Radioterapia. sinais e sintomas Os sintomas dependem do tipo de início, número e gravidade das deficiências de hormônio, seus órgãos-alvo, e idade de início. Pacientes com lesões hipotalâmico-hipofisárias podem apresentar sintomas compressivos, caracterizados por cefaleia (compressão da dura-máter ou hipertensão intracraniana), alterações de campo visual (compressão do nervo óptico), paralisias de nervos periféricos (extensão lateral da lesão) ou relativos à deficiência hormonal. Em relação à deficiência hormonal, o quadro clínico é variável e depende do grau de comprometimento da glândula e da época em que a doença surgiu. • O efeito de massa de um tumor hipofisário pode causar cefaleias e distúrbios visuais (tipicamente como hemianopsia bitemporal). • Rinorreia. • Deficiência de corticotrofina: 1. Fadiga e fraqueza, falta de apetite, dor abdominal, náusea, vômito, dificuldade de desenvolvimento em crianças e hiponatremia. Se o início é abrupto, hipotensão e choque. • Deficiência de tireotropina: 1. Fadiga e fraqueza, ganho de peso, intolerância ao frio, anemia, constipação. 2. Bradicardia, reflexo patelar com relaxamento prolongado (hung-up), edema pré-tibial, alteração na voz e perda de cabelos. • Deficiência de gonadotrofina: 1. Perda de libido, disfunção erétil, amenorreia, ondas de calor, dispaurenia, infertilidade, ginecomastia, diminuição da massa muscular e anemia. • Deficiência de GH: 1. Retardo de crescimento em crianças. 2. Fadiga fácil, hipoglicemia. 3. A massa magra está reduzida, e a massa adiposa está aumentada, levando à obesidade. 4. Diminuição da densidade mineral óssea, aumento da lipoproteína de baixa densidade-colesterol, obesidade, aumento dos marcadores inflamatórioscardiovasculares (interleucina-6 e proteína C-reativa). • Hiperprolactinemia: 1. Galactorreia, hipogonadismo, incapacidade de lactação após o parto. 2. Hipófise posterior (vasopressina; deficiência de hormônio antidiurético [ADH]): diabetes insípido com poliúria, polidipsia, noctúria, hipotensão e desidratação. diagnóstico A avaliação diagnóstica do paciente com suspeita de hipopituitarismo deve determinar: (1) a presença, o tipo e o grau de deficiência hormonal; (2) a etiologia; e (3) a presença de alterações visuais. Um rastreamento inicial da função hipofisária pode ser realizado a partir das dosagens basais dos hormônios hipofisários e/ou das glândulas-alvo. Geralmente, para o diagnóstico da deficiência de GH e ACTH, é necessários testes de estímulo, como o teste de tolerância à insulina (ITT). EXAMES LABORATORIAIS • Deficiência de corticotrofina: 1. A presença de um nível de cortisol >20 mcg/dL ou <4 mcg/dL às 9 horas da manhã geralmente confirma suficiência ou deficiência, respectivamente. 2. Teste de estimulação com corticotrofina usando 250 mcg de corticotrofina administrada IV e medição do cortisol sérico antes e 30 e 60 min após administração. A resposta normal é um aumento no nível do cortisol sérico >20 mcg/dL. 3. Com a doença da hipófise, os resultados desse teste podem ser indeterminados, e testes mais dinâmicos, como o teste de tolerância à insulina ou o teste com metirapona, podem ser necessários. • Deficiência de tireotropina: 1. Medidas de hormônio estimulador da tireoide (TSH) e de T4 livre. 2. Hipotireoidismo primário: amostras de TSH elevado com T4 livre baixo. Hipotireoidismo secundário: amostra de TSH normal ou baixo com T4 livre baixo e captação baixa em resina de T3. • Deficiência de gonadotrofina: 1. Medidas de hormônio folículo-estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH), estrógeno e testosterona. 2. Em homens, hipogonadismo hipogonadotrófico é visto com baixos níveis de testosterona e níveis normais ou baixos de FSH e LH (idealmente medidos às 9 horas da manhã por causa do ritmo diurno). Verifique a testosterona livre se o paciente for obeso. 3. Em mulheres na pré-menopausa com amenorreia, baixo estrógeno com níveis normais ou baixos de FSH e LH são tipicamente vistos. • Deficiência de GH: 1. Teste de estimulação de hipoglicemia induzida por insulina usando 0,1 a 0,15 unidade/kg de insulina regular administrada IV e medindo o GH 30, 60, e 120 minutos após a administração. A resposta normal é um nível de GH >3 mcg/dL. Este teste é contraindicado no caso de convulsões ou doença cardíaca isquêmica. 2. Combinação de hormônio liberador de GH com arginina é teste alternativo, com limiar diagnóstico de 9 mcg/L. 3. Como a relação entre os níveis séricos do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF)-1 e GH se torna indistinta com o envelhecimento, um IGF-1 sérico normal não exclui o diagnóstico em idosos. • Hiperprolactinemia: os níveis de prolactina podem estar elevados nos adenomas de hipófise secretores de prolactina. • Deficiência de vasopressina: 1. Urinálise mostra baixa densidade específica. 2. A osmolalidade urinária é baixa. 3. A osmolalidade sérica é alta. 4. Teste de privação de fluidos durante 18 horas com incapacidade de concentrar a urina. 5. O nível de vasopressina sérica é baixo. 6. Os eletrólitos podem mostrar hiponatremia e excluir hiperglicemia. EXAMES DE IMAGEM: • A obtenção de imagens é o primeiro passo para a identificação de uma causa de base. • Ressonância magnética (RM) é mais sensível do que a tomografia computadorizada (TC) na visualização da fossa hipofisária, sela túrcica, quiasma óptico, pedúnculo da hipófise e seios cavernosos. É também mais sensível para detectar microadenomas hipofisários. A TC com contraste pode ser usada se a RM não estiver disponível. • Imagens de vigilância no período basal e 12 meses após, dependendo do protocolo e dos sintomas clínicos. · Os vasos sanguíneos que suprem a hipófise podem ser examinados com angiografia cerebral. A produção de hormônios pela adenohipófise e sua ação nos órgãos alvos. TRATAMENTO Três pilares: remoção da causa de base (cirurgia ou radiação), tratamento das deficiências hormonais e abordagem de quaisquer outras repercussões da deficiência. Tratamento da causa: Quando a causa da deficiência de hormônios hipofisários for um tumor, a remoção cirúrgica de um tumor frequentemente é o primeiro tratamento mais adequado, outra possibilidade é a irradiação da hipófise por hipertensão ou por feixe de prótons para destruir os tumores maiores. Reposição de hormônios deficiente: O tratamento também se concentra na reposição de hormônios deficientes, normalmente não pela reposição de hormônios da hipófise, mas pela substituição de seus hormônios-alvo. Dessa forma, o tratamento é direcionado à causa da hipoatividade da hipófise (quando possível) e à reposição de hormônios deficientes. Terapia de reposição para o hipopituitarismo no adulto: · Hormônio Deficiente · Tratamento · Observações · ACTH · Hidrocortisona: 10-20 mg/dia em doses fracionadas · Acetato de cortisona: 15-25 mg/dia em doses fracionadas · TSH · L-Tiroxina: 0,05-0,2 mg/dia de acordo com os níveis de T4 · FSH/LH (em homens) · Enantato de testosterona: 200 mg IM a cada 2-3 semanas · Testosterona em adesivo transdérmico: 2,5-5,0 mg/dia (ou até 7,5 mg/dia) · Testosterona em gel: 3-6 mg/dia · Para fertilidade: hCG 3 vezes por semana, ou hCG + FSH ou gonadotrofina menopausal ou GnRH · FSH/LH (em mulheres) · Estrógeno conjugado: 0,3-0,625 mg/dia · Estradiol micronizado: 1 mg/dia · Valerato de estradiol: 2 mg · Sulfato de estrona piperazina: 1,25 mg · Estradiol em adesivo transdérmico: 4-8 mg 2X por semana · Todos os estrógenos são administrados com progesterona ou progestina sequencialmente ou em combinação, se o útero estiver presente · Para fertilidade: gonadotrofina menopausal e hCG, ou GnRH · Hormônio do crescimento · Somatotropina (em adultos): 0,2-1,0 mg/dia SC · Somatotropina (em crianças): 0,02-0,05 mg/kg por dia · Vasopressina · Desmopressina intranasal: 10-20 μg 2 vezes ao dia · DDAVP oral: 300-600 μg/dia, geralmente em doses fracionadas. Tratamento não farmacológico: • Reanimação com fluidos IV, correção de anormalidades eletrolíticas e metabólicas com bicarbonato potássico e oxigenoterapia. • Cirurgia transesfenoidal para tumores que causam sintomas específicos. • Radiação ou radiocirurgia estereotática (“gamma knife”) para tumores clinicamente irresponsivos, irressecáveis por cirurgia e tumores para os quais outras modalidades são contraindicadas. São seguras e eficazes para adenomas de hipófise recorrentes ou residuais. Disposição: • A terapia de reposição hormonal é ajustada de acordo com o monitoramento do hormônio sérico. • Se não tratada, pode levar à crise adrenal, hiponatremia e hipotireoidismo graves, anormalidades metabólicas e morte. • Complicações: déficit visual, crise adrenal, suscetibilidade à infecção e outros estressores. • Prognóstico: pacientes estáveis têm prognóstico favorável com terapia de reposição hormonal. Pacientes com descompensação aguda estão em condição crítica com alta taxa de mortalidade. Encaminhamento: Consulta com endocrinologista e neurocirurgião para tratamento cirúrgico.
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