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Nutrição e Atividade Física Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Silvana Ramos Atayde Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Suplementos Alimentares e Recursos Ergogênicos Suplementos Alimentares e Recursos Ergogênicos • Conhecer os principais recursos ergogênicos e suplementos existentes no Mercado e os efeitos benéficos e maléficos de cada um. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Suplementos Proteicos; • Suplementos Energéticos; • Benefícios Ergogênicos e Potenciais Riscos para a Saúde do Atleta; • Legislação Pertinente ao Doping. UNIDADE Suplementos Alimentares e Recursos Ergogênicos Suplementos Proteicos A ingestão adequada de nutrientes é de extrema importância para que os espor tistas atinjam seus objetivos. De acordo com essa visão, surgiram os “alimentos para praticantes de atividade física”, a fim de suprir a necessidade aumentada de alguns nutrientes e/ou evitar complicações como a desidratação. Estes são os suplementos alimentares. A Suplementação Esportiva adequada varia conforme a atividade e a caracterís tica do atleta. Suplementos proteicos para atletas foram caracterizados segundo o Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Alimentos para Praticantes de Atividade Física. De acordo com a Resolução RDC n. 18/2010, esses produtos devem ser denomi nados comercialmente com a seguinte definição: “Suplemento proteico para atletas: produto destinado a complementar as necessidades proteicas”. O uso de suplementos proteicos e de aminoácidos deve ser feito com cuidado, vez que pode acarretar uma sobrecarga de nitrogênio. Isso porque, no processo de degradação oxidativa de aminoácidos, há origem do esqueleto carbônico, que é redi recionado para o ciclo do óxido nítrico. Além disso, a produção de amônia pelo processo de degradação é muito tóxica, podendo ser destoxificada no fígado pelo ciclo da ureia e eliminada em seguida pela via renal, sendo, por esse motivo, a suplementação proteica contraindicada em hepatopatas e pacientes renais. Porém, a falta de conhecimento, os hábitos alimen tares inadequados e a influência de pessoas e da Mídia levaram ao uso indiscrimi nado desses suplementos. Para conhecer um pouco mais sobre suplementos, a Universidade de São Paulo fornece o vídeo “Introdução – Curso de Suplementação Nutricional Aplicada ao Exercício”. Disponível em: https://youtu.be/mplomDv-ePI Suplementos Energéticos O Suplemento Energético para atletas é um produto destinado a complementar as necessidades energéticas. Assim: Art. 7º. Os suplementos energéticos para atletas devem atender aos se guintes requisitos: I – o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 75% do valor energético total proveniente dos carboidratos; II – a quantidade de carboidratos deve ser de, no mínimo, 15 g na porção do produto pronto para consumo; 8 9 III – este produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; IV – este produto pode conter lipídios, proteínas intactas e ou parcial mente hidrolisadas; V – este produto não pode ser adicionado de fibras alimentares e de não nutrientes Existem evidências de que a ingestão de carboidratos imediatamente antes e durante o treinamento intenso é benéfica para a performance, independente dos efeitos nos estoques de glicogênio muscular. Durante o exercício físico, quando necessário, é importante que a suplementação de carboidratos ingerida seja rapidamente absorvida para que se mantenham as con centrações da glicose sanguínea, principalmente, em esforços realizados por períodos de tempo prolongados, quando os depósitos endógenos de carboidratos tendem a se reduzir significativamente. Desse modo, a administração de carboidratos pode resultar em aumento na disponibilidade da glicose sanguínea, reduzindo a depleção de glicogênio muscular observada nas fases iniciais do desempenho físico. Apesar de todas essas evidências, muitos estudos têm demonstrado que a suple mentação de carboidratos melhora acentuadamente o desempenho físico apenas em esforços extremamente prolongados ou superiores a duas horas. Durante o exercício, o objetivo primordial/para os nutrientes consumidos é repor os líquidos perdidos e providenciar carboidratos (aproximadamente 30 a 60g por hora) para a manutenção das concentrações de glicose. Esse tipo de nutrição é especialmente importante para atividades superiores a uma hora, ou quando o atleta não consome líquidos e nutrientes adequados antes do treino, ou em ambientes hostis, como calor, frio ou altitude. Nos links a seguir, temos as Legislações que informam sobre suplementos alimentares para atletas: • Resolução – RDC n.º 18, de 27 de Abril de 2010, disponível em: https://bit.ly/2N5SliJ • Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n.º 243, de 26 de Julho de 2018, disponível em: https://bit.ly/2CeKsVZ Benefícios Ergogênicos e Potenciais Riscos para a Saúde do Atleta Você sabe a diferença entre um Suplemento Alimentar e um recurso ergogênicos? Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Suplementos são 9 UNIDADE Suplementos Alimentares e Recursos Ergogênicos nutrientes utilizados para complementar a dieta de um indivíduo e fornecer nutrientes que estão em quantidades insuficientes. Já Recursos Ergogênicos são substâncias utilizadas com o propósito de aumentar a capacidade do trabalho corporal pela intensificação da potência física, da força mental ou do limite mecânico e, dessa forma, prevenir ou retardar o início da fadiga, visando a uma melhora no desempenho. Como vemos, então, substâncias e/ou nutrientes que objetivam a melhora do desempenho físico são chamados ergogênicos, termo derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e gennan (produzir); portanto, esses recursos devem exercem papéis fisiológicos capazes de melhorar o rendimento esportivo de um atleta ou praticante recreativo de atividades físicas. Os atletas, em particular, precisam saber sobre as substâncias que são vendidas e promovidas para o ganho de músculos, a perda de gordura, o aumento da energia e a melhora do desempenho físico e da responsividade ao treinamento. Veja, na tabela a seguir, alguns suplementos que são classificadas como ergogê nicos, seus benefícios e possíveis riscos à saúde: Tabela 1 Substância Funções associadas à sua utilização Características Possíveis efeitos maléficos Tirosina • Retarda a exaustão na atividade física; • A tirosina, ao formar dopamina, epi- nefrina e norepinefrina, pode apre- sentar efeito termogênico. • É um aminoácido essencial; • Aumenta a dopamina (relaxante). • O excesso de tirosina pode gerar ansiedade; Creatina • Diminui a fadiga em atletas; • Aumenta a força. • Formada por meio da glicina, argi- nina e metionina. • Aparecimento de acnes; • Desconforto gastrointestinal. Tirosina (proteína do soro do leite) • Os aminoácidos essenciais, de for- ma geral, parecem estar envolvidos na estimulação da síntese proteica, favorecendo, assim, o aumento de massa magra. • Estas proteínas são extraídas da porção aquosa do leite, durante o processo de produção de diver- sos queijos; • Estudos mostram que o perfil de aminoácidos das proteínas do soro é rico em aminoácidos essenciais, como a leucina, por exemplo. • Flatulência; • Dores de cabeça; • Dores abdominais. Cafeína • A melhora do desempenho físico, tem sido encontrada, principalmente, em exercícios aeróbios de média e longa duração, como corrida, ciclismo, remo entre outros. Em contrapartida, exer- cícios anaeróbios, de baixa duração, porém alta intensidade, necessita de maiores pesquisas acerca da efetiva função da substância. • A cafeína é uma substância pre- sente em diversas bebidas e ali- mentos, entre eles o café, o mate, o guaraná, alguns chás e bebi- das energéticas • Irritação; • Insônia; • Ansiedade; • Taquicardia; • Parestesia; • Ação diurética e até mesmo desconfortos gastrointestinais.Fonte: Adaptado de TOFANI, 2013 10 11 Legislação Pertinente ao Doping O doping pode ser caracterizado como a utilização de quaisquer substâncias per tencentes às classes farmacológicas proibidas que possam afetar positivamente na performance esportiva, ou também como a utilização de qualquer método ilícito que acelere a resposta física em um atleta durante um evento esportivo de competição. De acordo com os Comitês Internacionais Antidoping, World Anti-Doping Agency (Wada) e International Olympic Committee (IOC), será considerado caso de doping qualquer uso de uma das substâncias e métodos proibidos pelo padrão internacional atualizado, desde que não haja justificativa médica comprovada. A WADA dita as regras do controle antidoping para todas as confederações espor tivas pelo mundo inteiro, passando a regulamentar as substâncias e os métodos proi bidos, assim como o credenciamento dos Laboratórios e de suas Técnicas e controle de análises. A harmonização das regras antidoping é normatizada pelo Código Mundial Anti Doping (Code). A lista oficial de substâncias e métodos proibidos do Código Mundial Antidoping se encontra publicada no site da Wada e serve como referência e prevalência no Regulamento de Con- troles de Dopagens das Confederações Brasileiras Esportivas, em especial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Disponível em: https://bit.ly/2Y6v8mR A Legislação brasileira sobre o doping – Resolução n.º 2, de 5 de maio de 2004, contempla, nos Anexos, que são atualizados anualmente, uma lista de substâncias e métodos proibidos. Uma nova versão foi publicada no Diário Oficial da União – D.O.U., Resolução n.º 30, de 17 de dezembro de 2010. Você Sabia? A necessidade do combate ao doping no Esporte é antiga: data dos anos 1920, após indícios do uso de substâncias estimulantes nos Jogos Olímpicos de 1904, em Sain Louis, onde o maratonista Thomas Hicks correu com a ajuda de injeções de estricnina e brandy de drogas administradas durante a corrida. A primeira Federação Esportiva a banir o doping foi a IAAF do Atletismo, em 1928, proibindo o uso de estimulantes. Na década de 1930, surgem os hormônios sintéticos, com uso crescente até os anos 1950. Com a morte do ciclista dinamarquês Knud Jensen Enemark, na Olimpíada de Roma em 1960. Com vestígios de anfetamina em sua autópsia, 11 UNIDADE Suplementos Alimentares e Recursos Ergogênicos aumentaram as pressões para a introdução de testes de drogas. A FIFA (Federação Inter- nacional Associada de Futebol) e a UCI (ciclismo) introduziram testes de dopagem em seus Campeonatos Mundiais em 1966 e, no ano seguinte, o Comitê Olímpico Internacional (COI) instituiu sua comissão médica e a primeira lista de substâncias proibidas. A introdu- ção e a generalização do uso de esteroides anabolizantes, principalmente, em eventos de força, surgem a partir do ano de 1970, sem métodos de identificação até então. Apenas no ano de 1974, foram obtidos métodos de detecção dessas substâncias, sendo listadas como substâncias proibidas apenas em 1976. A punição de Ben Johnson pelo uso do esteroide anabolizante estanozolol, na Olímpiada de Seul, em 1988, é emblemática e um marco na história do uso indiscriminado desse tipo de substância proibida no Esporte. Por todo esse histórico do doping no Esporte, podemos perceber que a luta contra os agentes dopantes é árdua. As substâncias e os métodos artificiais de melhora da performance sempre estão na frente dos seus métodos de detecção, obrigando as Entidades Esportivas a ficarem sempre em alerta, e de permanecerem em constante desenvolvimento tecnológico nas suas formas de prevenção e detecção. Em 1998, escândalos na prova de ciclismo da Tour de France, no qual a polícia apreendeu diversas substâncias proibidas, levaram as Agências Internacionais a se reunirem. A consequência desse encontro é a convocação, pelo COI, da Primeira Conferência Mundial sobre Doping no Esporte, realizada em fevereiro de 1999, em Lausanne, na Suíça. Surge então, em 10 de novembro de 1999, a Agência Mundial AntiDoping – WADA, órgão maior no controle mundial antidoping. Você sabe a diferença entre suplementos alimentares e esteroides anabolizantes? Nós estudamos, anteriormente, que os suplementos alimentares são substâncias ingeridas para suprir as necessidades aumentadas de alguns nutrientes e/ou evitar complicações como a desidratação. Já esteroides anabolizantes são substâncias sintéticas similares aos hormônios do nosso organismo, que auxiliam ao ganho de massa muscular, mas aumentam o risco de doenças cardiovasculares, além de acnes em excesso, por estimular as glândulas sebáceas, hipertensão, além de riscos de danos ao fígado, acelerar a calvície precoce, crescimento desproporcional da gengiva, alterações de humor, agressividade e, em adolescentes, o desenvolvimento e o crescimento natural pode até ser interrompido. Além de todos esses riscos, há efeitos colaterais específicos para homens e mulheres. Efeitos Colaterais em Homens • Devido aos altos níveis de testosterona, o corpo identifica um desequilíbrio hormonal e desenvolve o crescimento de mamas; • Pode ocorrer falência orgânica que induz a uma infertilidade temporária e a câncer de próstata. 12 13 Efeitos Colaterais em Mulheres • Mudança da voz para um tom mais grave, em decorrência do aumento das cordas vocais; • Por um período temporário, o ciclo menstrual pode diminuir; • Pelos surgem na face e por todo o corpo; • Os seios reduzem de tamanho. Além de todos esses efeitos colaterais indesejáveis, o consumo de esteroides é considerado doping pelo Comitê Olímpico Internacional. 13 UNIDADE Suplementos Alimentares e Recursos Ergogênicos Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Nutrição Esportiva: Uma Visão Prática HIRSCHBRUCH, M. D. Nutrição esportiva: uma visão prática. 3. ed. rev. ampl. Barueri: Manole, 2014. Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte BIESK, S.; ALVES, L. A.; GUERRA, I. Estratégias de nutrição e suplementação no esporte. 3.ed. Barueri: Manole, 2015. (e-book) Vídeos Introdução - Curso de Suplementação Nutricional Aplicada ao Exercício – USP https://youtu.be/mplomDv-ePI Leitura Efeito da Suplementação com Probióticos no Exercício Físico https://bit.ly/3hyaRye 14 15 Referências CBF – Confederação Brasileira De Futebol. Regulamento de Controle de Dopagem, [S. l.]: CBF, 2014. FISCHBORN, S. C. A influência do tempo de ingestão da suplementação de whey protein em relação à atividade física. Rio Grande do Sul, Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 3, n. 14, p. 132143, 2009. GUERRA, I. Futebol. In: HIRSCHBRUCH, M. D.; CARVALHO, J. R. Nutrição esportiva. 2.ed. Barueri: Manole, 2008. KATCH, F. I.; KATCH, V. L.; MCARDLE, W. D. Nutrição para o Esporte e o Exercício. 4.ed. [S. l.]: Guanabara Koogan, 2016. 600p. MINISTÉRIO DA SAÚDE, DOU nº 79, de 28 de abril de 2010. Regulamento técnico sobre alimentos para atletas. [S. l.]: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2010. PEREIRA, I. A. T. S. A vigorexia e os esteroides anabolizantes andrógenos em levantadores de peso. 2009. 104 p. Dissertação (Licenciatura em Desporto) – Universidade do Porto. Porto, 2009. PHILLIPS, S. M. Protein requirements and supplementation in strength sports. Nutrition. Canadá, v. 20, n. 7, p. 689695, 2004. POOLE, C. et al. The Role of Post-Exercise Nutrient Administration on Muscle Protein Synthesis and Glycogen Synthesis. Journal of Sports Science & Medicine. EUA, v. 9, n. 3, p. 354363, 2010. RIBEIRO, S. M. L. et al. Leptina: aspectos sobre o balanço energético, exercício fí sico e amenorreia do esforço. Arq Bras Endocrinol Metab, São Paulo, v. 51, n. 1, p. 1124, fev. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S000427302007000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 fev. 2020. ROSSI, L. et al. Perfil antropométrico e nutricional de atletas de Kung Fu. Revista Mackenziede Educação Física e Esporte. São Paulo, v. 9, n. 2, p. 8389, 2010. TOFANI, A. Suplementação Nutricional na Prática Clínica e Esportiva – Entenda os conceitos da suplementação esportiva e bioquímica no esporte. 2.ed. Viçosa: A. S. Sistemas, 2013. UNESCO. Nutrição no esporte. Brasília: Fundação Vale, 2013. (Cadernos de Referência de Esporte – 8). 15 Nutrição e Atividade Física Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Silvana Ramos Atayde Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas • Analisar necessidade nutricional para o exercício; • Desenvolver Plano Alimentar para atletas. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Necessidades Energéticas para o Exercício Físico; • Nutrição, Dieta e Atividade Física; • Modificação dos Hábitos Alimentares Durante o Exercício. UNIDADE Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas Necessidades Energéticas para o Exercício Físico A estimativa da necessidade energética de indivíduos esportistas e atletas pode ser realizada de forma direta ou indireta. A forma direta inclui as Técnicas da Água Duplamente Marcada e Calorimetria. Entretanto, essas técnicas são normalmente inviáveis do ponto de vista prático por apresentarem alto custo e difícil execução, sendo utilizadas, principalmente, em pes- quisas científicas. A forma indireta é representada pelas equações de predição, as quais foram criadas a partir das técnicas diretas, sendo mais utilizadas na prática clínica da nutrição esportiva. Para calcularmos o valor de energia gasto ao longo do dia, devemos considerar o Gasto Energético Basal (GEB), principal componente do Gasto Energético Total (GET) da maioria dos indivíduos. Além do GEB, para composição do GET, consideramos, também, o Gasto Ener- gético com Atividades Físicas (GAF), somado ao gasto com os Processos de Diges- tão, Absorção e Armazenamento de nutrientes dos alimentos. Para atletas e indivíduos fisicamente ativos, o GAF pode superar o GEB e, sendo assim, é muito importante estimar adequadamente os requerimentos de energia ocasio- nados pela atividade física desses indivíduos. A dificuldade de cálculo do gasto energético durante a maioria das atividades físicas reside no fato de a solicitação energética ser mista. Assim, importa saber identificar em que condição é possível medir ou estimar o custo energético e em que condição não é possível. Existem diversas referências para o cálculo do GEB ou da Taxa Metabólica Basal (TMB). Na Tabela 1, a seguir, encontramos as equações estipuladas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de acordo com gênero e idade: Tabela 1 – Equações para a predição da Taxa Metabólica Basal (TMB) preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) Homens Mulheres Idade (anos) TMB (kCal/dia) TMB (kCal/dia) < 3 60,9 x Pesp - 54 61,0 e Peso - 51 3 - 10 22,7 x Peso + 495 22,5 x Peso + 499 10 - 18 17,5 x Peso + 651 12,2 x Peso + 746 18 - 30 15,3 x Peso + 679 14,7 x Peso + 496 30 - 60 11,6 x PEso + 879 8,7 x Peso + 829 > 60 13,5 x Peso + 487 10,5 x Peso + 596 Fonte: OMS, 1985 8 9 Outra referência muito utilizada para homens e mulheres maiores de 19 anos é: • Para homens: GET = 293 – (3,8 x Idade) + (456,4 x Estatura) + (10,12 x Peso); • Para mulheres: GET = 247 – (2,67 x Idade) + (401,5 x Estatura) + (8,6 x Peso). * Idade em anos, estatura em cm e peso em kg. Para o cálculo da energia gasta referente à atividade física, é utilizada a medida do MET (equivalente metabólico). Convencionalmente, admite-se que o custo energético em repouso de qualquer avaliado torna-se igual a 1 MET. São universalmente aceitas estimativas de 3,5ml de oxigênio utilizado por kg de peso, aproximadamente 5kCal, quando uma dieta mista de carboidratos, proteínas e lipídios é “queimada” em 1 litro de oxigênio. Esses valores podem ser transformados em mililitros (ou litros) de oxigênio por quilograma de peso corporal por minuto (ml/kg/min). Assim: • 1000ml O2 = 5kcal; • 200m O2 = 1kcal; • 1 MET = 3,5 ml O2/kg/min. A Tabela a seguir apresenta uma classificação em cinco níveis, com base na ener- gia (Kcal) de que necessitam homens e mulheres destreinados para realizar atividades físicas diferentes: Tabela 2 – Classifi cação em cinco níveis de atividade física com base no dispêndio de energia Homens Mulheres Intensidade kCal/min MET’s kCal/min MET’s Leve 2,0 a 4,9 1,6 a 3,9 1,5 a 3,4 1,2 a 2,7 Moderado 5,0 a 7,4 4,0 a 5,9 3,5 a 5,4 2,8 a 4,3 Pesado 7,5 a 9,9 6,0 a 7,9 5,5 a 7,4 4,4 a 5,9 Muito Pesado 10,0 a 12,4 8,0 a 9,9 7,5 a 9,4 6,0 a 7,5 Extremamente Pesado ≥12,5 ≥ 10,0 ≥ 9,5 ≥ 7,6 Fonte: Adaptado de GUEDES; GUEDES, 2006 Vamos, agora, simular o dispêndio energético de uma determinada pessoa do sexo masculino: • Idade: 31 anos; • Peso: 75 kg; • Atividade Física: aeróbica de baixo impacto = 5 METs; • Duração da atividade física: 1 hora 9 UNIDADE Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas De acordo com as equações da OMS (1985): TMB = 11,6 X PESO + 879 TMB = 11,6 X 75 + 879 TMB = 1749 Kcal Utilizando o Equivalente Metabólico (MET), podemos estimar qual foi o dispêndio energético dessa pessoa durante a realização da atividade física: MET = 3,5ml O2 X Kg X min DE = (5 METs X 3,5 ml O2) X kg X min DE = 17,5 ml O2 X 75 kg X 60 min DE = 78,750ml = 78,75 ltO2 1 litro = 5Kcal DE = 78,75 ml x 5Kcal DE = 393,75Kcal * D.E. = Dispêndio Energético * Exemplos de atividades que equivalem a 5 METs A Tabela a seguir apresenta a classificação de METs de acordo com a atividade física, de acordo com Ainsworth et al., 2002. Tabela 3 – Classificação de METs de acordo com a atividade física, de acordo com Ainsworth Atividade Física METs Atividade Física METs Aeróbica 6,50 Corrida 13,8 km/h 14,00 Aeróbica de baixo impacto 5,00 Corrida 12,8 km/h 13,50 Aeróbica de alto impacto 7,00 Corrida 12,0 km/h 12,50 Alongamento 2,50 Corrida 11,2 km/h 11,50 Ballet 4,80 Corrida 10,7 km/h 11,00 Basquete casual 6,00 Corrida 9,7 km/h 10,00 Basquete oficial 7,00 Corrida 8,3 km/h 9,00 Basquete competição 8,00 Corrida 8,0 km/h 8,00 Boxe luta 12,00 Futebol competição 10,00 Caminhada 4,8 km/h (leve) 3,30 Ginástica em geral 4,00 Caminhada 6,5 km/h (mod/forte) 5,00 Hidroginástica 4,00 Caminhada 7,24 km/h (forte) 6,30 Jiu-Jitsu, Judô, Karatê 10,0 Ciclismo < 16,00 km/h 4,00 Musculação Leve 3,00 Ciclismo 16,0 a 19,0 km/h 6,00 Musculação Média 4,50 Ciclismo 19,0 a 22,0 km/h 8,00 Musculação Pesada 6,00 Ciclismo 22,0 a 25,0 km/h 10,00 Natação (livre/forte) 10,00 Ciclismo 25,0 a 30,0 km/h 12,00 Natação (livre/leve) 7,00 Ciclismo > 32,3 km/h 16,00 Natação (livre/médio) 8,50 Corrida 17,5 km/h 18,00 Spinning (*) 9,00 Corrida 16,0 km/h 16,00 Squash 12,00 Corrida 14,4 km/h 15,00 Tênis 7,00 Fonte: AINSWORTH et al., 2002 10 11 Importante! Uma opção de cálculo rápido para a estimativa da necessidade energética é a utiliza- ção dos valores propostos pela Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2009), que preconiza a faixa de 30 a 50kcal/kg/dia. Quando o objetivo é a perda de peso, pode-se promover uma redução de 10 a 20% da ingestão energética total, o que permite a alteração da composição corporal sem induzir à fome ou à fadiga. Fonte: https://bit.ly/37CX5ph Nutrição, Dieta e Atividade Física A nutrição e a fisiologia do exercício estão naturalmente interligadas. Uma nutrição adequada constitui o alicerce para o desempenho físico, proporciona os elementos necessários para o trabalho biológico e as substâncias químicas para extrair e utilizar a energia potencial existente nos alimentos. Os nutrientes dos alimentos também fornecem os elementos essenciais para o reparo das células já existentes e para a Síntese de Novos Tecidos. Alguns autores já argumentaram que uma dieta “bem balanceada” fornece pronta- mente nutrientes adequados para a atividade física e o exercício, de modoque um conhe- cimento profundo da nutrição pouco teria a acrescentar aos fisiologistas do exercício. Os nutrientes fornecem energia e regulam os processos fisiológicos antes, no decorrer e depois da atividade física, de maneira que a obtenção de melhora no de- sempenho humano, frequentemente, está ligada a modificações nutricionais. Muitas vezes, os indivíduos dedicam tempo e esforço consideráveis procurando otimizar o desempenho no exercício, apenas para constatar que não alcançam sua meta por causa de práticas nutricionais inadequadas, contraproducentes e, algumas vezes, prejudiciais. Necessidade Diária de Proteínas A ingestão recomendada nas Dietary Reference Intakes (Institute of Medicine, 2005) é de consumo diário de proteínas recomendado para indivíduos sedentários é de 0,8 a 1,2g/kg de massa corpórea por dia. As necessidades para indivíduos ativos, no entanto, mostram-se maiores, e depen- dem do tipo de exercício praticado, conforme demonstrado a seguir. Atividade/Quantidade em gramas por kg de peso corporal • Sedentários / 0,8 – 1,2g/kg; • Atletas em geral / 1,2 – 1,5g/kg; 11 UNIDADE Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas • Endurance e Ultra-endurance / 1,2 – 1,6g/kg; • Força / 1,4 – 1,8g/kg. Fonte: Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2009); ACSM; ADA; DC (2009), LEMON, (1998). Modificação dos Hábitos Alimentares Durante o Exercício As recomendações nutricionais para indivíduos fisicamente ativos precisam levar em conta as necessidades energéticas de determinada atividade ou Esporte e suas demandas de treinamento, incluindo as preferências nutricionais individuais. Não existe “um único” alimento ou dieta capaz de proporcionar saúde e desem- penho ótimos nos exercícios. A avaliação e o planejamento minuciosos da ingestão alimentar devem obedecer a diretrizes nutricionais apropriadas. A pessoa fisicamente ativa deve obter energia e macronutrientes suficientes para repor o glicogênio hepático e muscular, proporcionar aminoácidos para o crescimento e o reparo dos tecidos e para manter o aporte de lipídios capaz de proporcionar ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis. Em geral, indivíduos que se dedicam à prática de atividade física com regularidade para se manterem fisicamente aptos não necessitam de nutrientes adicionais, além dos existentes em uma dieta nutricionalmente bem balanceada. As demandas dos treinamentos e das competições, junto a outras atividades roti- neiras do atleta, como estudo ou trabalho, podem exercer grande influência nos seus hábitos alimentares. Nesse sentido, devem ser observados vários aspectos inerentes à rotina esportiva, como o tipo, a intensidade e a duração do exercício, a tolerância à prática alimentar durante o esforço, os possíveis locais para reabastecimento durante os exercícios externos prolongados, a necessidade de controle de peso corporal e outros. Assim, o conhecimento do padrão de treinamento e estilo de vida do atleta permite identificar e contornar quais fatores podem limitar o seu consumo dietético. A ingestão de pequenas e frequentes refeições de adequada densidade de energia e nutrientes pode auxiliar o atleta no atendimento de suas necessidades nutricionais e, ao mesmo tempo, prevenir distúrbios gastrintestinais durante o exercício, impedir a ingestão excessiva de alimentos e evitar a fadiga. A importância dada às questões nutricionais no desempenho esportivo também pode determinar o comportamento alimentar de grupos atléticos. É possível obser- var, por exemplo, padrões dietéticos próprios ao tipo de modalidade esportiva, ao comparar quatro grupos de atletas de elite do sexo masculino (triatletas, maratonistas, levantadores de peso e jogadores de futebol). 12 13 Os atletas de endurance (triatletas e maratonistas) apresentaram maiores inges- tões de energia e de carboidrato do que os demais grupos, o que foi explicado pelo alto consumo de pães e cereais e pelo maior dispêndio energético nos treinos. Além disso, esses atletas foram os que se mostraram mais conscientes da impor- tância da alimentação na saúde e no desempenho, e mais interessados no preparo de suas refeições e em leituras relativas à nutrição. Plano Alimentar para Atletas em Períodos de Treinamento, Pré-Competição e Competição Refeição Pré-Competição Com frequência, os atletas competem pela manhã, após jejum noturno. Isso pode levar a uma redução considerável nas reservas corporais de carboidratos durante um período de 8 a 12 horas sem comer, até mesmo quando adotadas previamente as recomendações dietéticas apropriadas. Por isso, a nutrição pré-competição adquire importância considerável. A refeição pré-competição deve proporcionar a quantidade adequada de energia proveniente dos carboidratos e garantir hidratação ótima. O jejum antes da competição ou do treinamento não faz qualquer sentido do ponto de vista fisiológico, pois depleta rapidamente o glicogênio hepático e muscular, o que acarreta deterioração do desempenho nos exercícios. Se a pessoa treina ou compete na parte da tarde, o desjejum passa a constituir a refeição mais importante para oti- mizar as reservas de glicogênio. Para treinamento ou competição realizados no fim da tarde, o almoço passa a ser a fonte mais importante para completar as reservas de glicogênio. Como regra geral, no dia da competição, convém excluir os alimentos ricos em lipídios e proteínas, pois eles são digeridos lentamente e permanecem no Sistema Digestório por período mais longo que os alimentos de conteúdo energético seme- lhante sob a forma de carboidratos. O momento mais oportuno para a refeição pré-competição também deve ser levado em conta. O estresse e a tensão aumentados que acompanham uma com- petição reduzem o fluxo sanguíneo para o Sistema Digestório, de modo a produzir absorção intestinal deprimida. Uma refeição pré-competição rica em carboidratos requer 1 a 4 horas para digestão, absorção e armazenamento sob a apresentação de glicogênios muscular e hepático (os carboidratos altamente glicêmicos são digeridos e absorvidos mais rapidamente). Comer antes do exercício, em oposição ao exercício em jejum, é uma prática que melhora o desempenho físico. A refeição ou lanche consumido antes da competição ou de um treino intenso deve preparar os atletas para a atividade que se segue, eliminar a sensação de fome e, ao mesmo tempo, permitir o esvaziamento do estômago dos alimentos não digeridos. 13 UNIDADE Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas A dimensão e o timing da refeição antes do exercício estão interligados, pois não se deve treinar/competir com o estômago cheio (o sangue deve estar totalmente disponível para alimentar e arrefecer os músculos). Informações sobre alimentação antes do treino: • Pequenas refeições devem ser consumidas perto do evento (treino ou competição) para permitir o esvaziamento gástrico; • Grandes refeições podem e devem ser consumidas quando existe mais tempo disponível (> 3 horas) antes do exercício ou da competição; • As quantidades de carboidratos que foram demonstradas como capazes de melho- rar o desempenho atlético variaram aproximadamente entre os 200 a 300g de carboidratos para as refeições consumidas 3 a 4 horas antes do exercício; • Embora as orientações acima referidas sejam sólidas e eficazes, as particularidades individuais do atleta devem ser levadas em conta; • Alguns atletas toleram com facilidade uma refeição substancial 2 a 4 horas antes do exercício ou da competição, mas outros podem sentir desconforto gastroin- testinal grave após tal refeição e necessitam recorrer a refeições líquidas; • Os atletas devem garantir sempre que sabem o que funciona melhor para si mesmos, experimentando novos alimentos e bebidas durante fases prévias de preparação, e devem planejar o futuro para garantir que terão acesso a esses alimentos no momento oportuno; • Adicionar pequenas quantidades de gordura nas refeiçõespré treino pode ajudar a controlar a resposta glicêmica durante o exercício. Você Sabia? Existem cuidados diferenciados para a dieta do atleta em dia de treino e no dia da com- petição. Uma estratégia para melhorar o desempenho do atleta na competição é a super- compensação de carboidratos. Essa estratégia consiste na ingestão de uma dieta com elevado teor em carboidratos. Após um período de relativa privação deles, isso resultará num aumento acentuado de glicogênio muscular (200mmol/kg), o que aumenta o de- sempenho nos exercícios prolongados subsequentes. Em atletas treinados, consegue-se aumentar o glicogênio muscular para 180mmol/kg em apenas um dia, por meio da inges- tão de 10g de carboidratos/kg de peso. Um aumento do consumo de carboidratos para 70% do valor calórico total, cinco a sete dias antes da competição, é, geralmente, associado a um melhor desempenho quando a duração do exercício é superior a 90 minutos. Nos dois a três dias antes da competição, os atletas devem, também, diminuir a intensidade de treino em 30 a 50% e continuar com a mesma dieta. Esta estratégia permite saturar as reservas de glicogênio muscular e hepático no período pré-competitivo e melhorar o desempenho do esforço prolongado, pois permite manter um nível de glicose sanguínea adequado durante o exercício. Durante exercícios prolongados e vigorosos, a taxa de oxidação dos carboidratos pode chegar aos 3 a 4g/min, utilizando, principalmente, glicogênio muscular. Durante exer- cícios de elevada intensidade, observa-se maior desempenho quando existe elevada concentração de glicogênio muscular após o aumento da ingestão de carboidratos. Com repetidas séries de exercícios de alta intensidade, maior disponibilidade de glicogênio muscular está associada ao aumento do desempenho em exercícios intermitentes. 14 15 Refeições Durante o Exercício Durante exercícios prolongados, os níveis de glicogênio muscular são os princi- pais determinantes do desempenho. Disponibilizar carboidratos por meio da alimen- tação ou da suplementação durante o exercício ajuda a manter os níveis de glicose no sangue e melhorar o desempenho, principalmente, quando os níveis de glicogênio muscular se encontram baixos, no início do exercício. Conforme vai aumentando a duração do exercício além dos 60 minutos, as fontes exógenas de carboidratos vão se tornando cada vez mais importantes, para manter os níveis de glicose sanguínea e as reservas de glicogênio muscular. Assim, durante o exer- cício, o principal objetivo, além da reposição hídrica, é a disponibilização energética de carboidratos. Em treinos longos, o consumo de 0,7g de carboidratos por kg peso cor- poral h-1 (aproximadamente 30-60g. h-1) melhora o desempenho do esforço aeróbio. Consumir hidratos de carbono durante o exercício é ainda mais importante em situações em que os atletas reduzem o consumo de carboidratos, não consumiram refeições anteriores ao exercício ou limitaram a ingestão de energia para perder peso ou, ainda, quando as condições ambientais assim o determinam: calor, frio ou altitude. A ingestão de carboidratos deve começar logo após o início da atividade. Con- sumir uma determinada quantidade de carboidratos na forma de um comprimido grande depois de 2 horas de exercício não é tão eficaz como consumir a mesma quantidade em intervalos de 15 a 20 minutos durante as duas horas de atividade. Deve-se ingerir entre 30 a 60g/hora de carboidratos sólidos, em gel, ou 300 a 450ml de uma solução de carboidratos e eletrólitos (4 a 6%) a cada 15/20 minutos, para manutenção da glicemia. A forma como os carboidratos são ingeridos não parece fazer diferença se o atleta consumir os carboidratos sob a forma de gel e ingerir água ou, ainda, se beber uma bebida desportiva. A utilização dessa bebida ou gel é especialmente importante durante os exercícios matinais, em que as reservas de glicogênio hepático estão diminuídas devido ao jejum noturno. A adição de proteínas às bebidas com carboidratos aumenta mais o rendimento do que aquelas que apenas contêm carboidratos. Essas proteínas atenuam, também, as lesões musculares associadas a esforços prolongados e exaustivos, assim como diminuem a degradação proteica durante o exercício e proporcionam maior adaptação ao treino. A adição de proteínas deve ser feita na proporção de 3-4 de carboidratos para 1 de proteínas. Refeições Pós-Exercício/Recuperação O tempo de consumo e a composição das refeições ou lanches antes e após as competições/exercícios dependem da duração e da intensidade da sessão de exer- cício (dependem de ter ocorrido a depleção de glicogênio) e de quando o próximo treino intenso irá ocorrer. 15 UNIDADE Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas Por exemplo, a maioria dos atletas termina uma maratona com as reservas de glicogênio esgotadas, enquanto o esgotamento do glicogênio seria menos acentuado após um treino de apenas 90 minutos. Como os atletas que competem numa maratona não realizarão outra corrida ou treino intensivo no mesmo dia, o tempo de consumo e a composição da refeição após o exercício são menos críticos para eles. Por outro lado, um triatleta que parti- cipa numa corrida de 90 minutos pela manhã e num treino de ciclismo de 3 horas à tarde precisa maximizar a recuperação entre as sessões de treino. A refeição após o treino assume uma importância considerável na consecução dessa meta. Após o exercício, o principal objetivo da alimentação é restabelecer os líquidos e os eletrólitos perdidos e permitir a reposição energética e do glicogênio muscular. O balanço energético, em particular o consumo de carboidratos, é de extrema im- portância para que os aminoácidos possam ser poupados para a Síntese Proteica, em vez de serem oxidados para contribuírem para suprir necessidades energéticas. O timing da ingestão de carboidratos após o exercício afeta a Síntese de Glicogênio em curto prazo. O consumo de hidratos de carbono na primeira meia hora após o exer- cício deve ser de 1 a 1,5g/kg de peso corporal, repetindo-se de duas em duas horas, nas 4 a 6 horas após o exercício, de forma a atingir níveis mais elevados de glicogênio, estratégia bem mais eficaz do que quando a ingestão é adiada por algumas horas. Após o exercício, a alimentação deve também considerar a ingestão proteica, já que a proteína fornece os aminoácidos necessários para a reparação de tecido muscular, atenuando a lesão muscular, promovendo maior recuperação do glicogênio muscular e um perfil hormonal mais anabólico. A ingestão de aminoácidos após esforços aeróbios (até três horas depois do esforço) promove aumento da Síntese Proteica Muscular, dando origem a alterações mínimas na degradação proteica e aumentando o balanço proteico em geral. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Estratégias de nutrição e suplementação no esporte BIESK, S. et al. Estratégias de nutrição e suplementação no esporte. 3. ed. Barueri: Manole, 2015 . Nutrição Esportiva Clínica BURKE, L.; DEAKIN, V. Nutrição Esportiva Clínica. 5.ed. [S. l.]: Educação McGraw-Hill, 2015. 828p. Leitura Efeitos da suplementação nutricional sobre a composição corporal e desempenho de atletas: uma revisão BECKER, L. K. et al. Efeitos da suplementação nutricional sobre a composição corporal e desempenho de atletas: uma revisão, Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo, v. 10. n. 55, p. 93-111, 2016. https://bit.ly/2BgIBPU Estratégias nutricionais para promover a recuperação pós-exercício BEELEN, M. et al. Estratégias nutricionais para promover a recuperação pós-exercício. Revista Internacional de Nutrição Esportiva e Metabolismo do Exercício, [s. l.], v. 20, ed. 6, p. 515-532, dez. 2010. 17 UNIDADE Necessidades Nutricionais do Atleta e Modificações Dietéticas Referências FAO/WHO/UNU. Energy and protein requirements. Geneva: World Health- Organization, 1985. (WHO – Technical Report Series,724). GUEDES, D. P.; GUEDES J. E. R. P. Manual Prático para avaliação em Educa- ção Física. Barueri: Manole, 2006. HERNANDEZ, A. J.; NAHAS, R. M. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde, Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2009. Disponível em: <https://www.scielo.br/ pdf/rbme/v15n3s0/v15n3s0a01.pdf>. Acesso em: 05/06/2020. Institute of Medicine. DRI: Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids. 2005. Disponível em: <https://www.nal.usda.gov/sites/default/files/fnic_uploads/energy_full_report.pdf>. Acesso em: 05/06/2020. KLEINER, S. M.; GREENWOOD-ROBINSON, M. Nutrição para o treinamento de força. 4.ed. Barueri: Manole, 2016. (E-book) MANORE, M.; MEYER, N. L.; THOMPSON, J. Nutrição esportiva para saúde e desempenho. ed. il. [S. l.]: Cinética Humana, 2009. 543p. MCARDLE, W. D. et al. Fisiologia do exercício: Nutrição, energia e desempenho humano. 8.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. PANZA, V. P. et al. Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre recomendações nutri- cionais, hábitos alimentares e métodos para avaliação do gasto e consumo energéticos. Rev. Nutr., Campinas, v. 20, n. 6, p. 681-692. dez. 2007. Disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732007000600010&lng=e n&nrm=iso>. Acesso em: 11/02/2020. Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Diretrizes. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogê- nica e potenciais riscos para a saúde. 2003. Disponível em: <http://www.medicinadoes- porte.org.br/wp-content/uploads/2020/01/v9n2a02.pdf>. Acesso em: 05/06/2020. RODRIGUEZ, N. R.; DIMARCO, N. M.; LANGLEY, S. Position of the American Dietetic Association, Dietitians of Canada, and the American College of Sports Medicine: Nutrition and Athletic Performance. Journal of the American Dietetic Association. Disponível em: <https://jandonline.org/action/showPdf?pi i=S0002-8223%2809%2900006-6>. Acesso em: 05/06/2020. 18 Nutrição e Atividade Física Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Silvana Ramos Atayde Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Avaliação Nutricional do Atleta Avaliação Nutricional do Atleta • Estabelecer avaliação do perfil antropométrico e composição corporal de atletas e prati- cantes de exercício físico. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Introdução; • Antropometria; • Pesagem Hidrostática; • Impedância Bioelétrica (IB) ou Bioimpedância Elétrica (BIA); • Medida de Dobras Cutâneas; • Classificação do Estado Nutricional de Atletas. UNIDADE Avaliação Nutricional do Atleta Introdução A composição corporal é um componente-chave para aptidão física e saúde. Por meio do estudo da composição corporal é possível quantificar, de forma isolada e em relação ao peso corporal total, os principais componentes do organismo humano: ossos, musculatura, gordura corporal e água. Existem diferentes métodos de avaliação da composição corporal, alguns mais complexos e outros mais simples, avaliando a composição do corpo humano. Dos métodos mais simples, temos como exemplo as populares tabelas de altura-peso que ainda são um padrão usado com frequência; e dos métodos mais complexos e precisos, temos alguns que necessitam de equipamentos específicos e preparo anterior do atleta. A avaliação da composição corporal para atletas é importante por diversos fatores, a saber: • Auxilia a basear-se para decisões atuais e futuras acerca da perda e do ganho ponderais; • Proporciona objetivos realistas acerca da melhor maneira de conseguir um equi- líbrio “ideal” entre a gordura corporal e os compartimentos sem gordura; • Relaciona-se com o estado de saúde geral e é importante nos objetivos associados à saúde e aptidão física para todos os indivíduos; • Monitora as mudanças nos componentes adiposos e magros durante os esquemas de atividade física com diferentes durações e intensidades; • Permite aos profissionais da área da Saúde (nutricionistas, personal trainers, quiropráticos, coachs, treinadores físicos, fisioterapeutas, médicos, profissionais de Educação Física) interagir com os indivíduos com os quais lidam para pro- porcionar-lhes informação de qualidade relacionada ao treinamento físico, à nutrição, ao controle de peso, exercício e à reabilitação; • Proporciona informação objetiva que relaciona a avaliação da composição corporal com o desempenho nos esportes e as mudanças na composição corporal advindas do treinamento variado e dos esquemas de atividade física. Verificaremos a seguir diferentes metodologias de avaliação da composição cor- poral de atletas e as suas considerações de aplicação. Antropometria A antropometria compreende a mensuração das variações de dimensões, com- ponentes e proporções corporais, utilizando-se isoladamente ou em combinações (índices) as medidas de peso, estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais, procurando avaliar o perfil corporal de indivíduos. Pode ser aplicada em todas as fases de vida e possibilita a classificação de indivíduos e grupos segundo o seu estado nutricional. 8 9 Pesagem Hidrostática A pesagem hidrostática, ou hidrodensitometria, é baseada na relação do peso no ar e na água. Uma vez obtido esse valor, é possível, por meio da utilização de modelos matemáticos, estimar o percentual de gordura corporal. Trata-se de um dos métodos mais baratos, porém, de difícil aplicação em alguns grupos – tais como crianças e idosos –, requerendo pessoal treinado e alto grau de colaboração do indi- víduo. Apesar de ser considerado um “padrão ouro” na determinação da composição corporal, é impraticável em locais como academias e consultórios. Impedância Bioelétrica (IB) ou Bioimpedância Elétrica (BIA) Na bioimpedância elétrica uma pequena corrente alternante que flui entre dois eletrodos passa mais rapidamente através dos tecidos corporais sem gordura, hidra- tados e da água extracelular do que através da gordura ou dos tecidos ósseos, por causa do maior conteúdo eletrolítico (resistência elétrica mais baixa) do componente sem gordura. Em essência, o conteúdo hídrico do corpo conduz o fluxo das cargas elétricas, de forma que quando a corrente flui através do líquido, uma instrumentação sensível consegue detectar a impedância da água. A impedância ao fluxo da corrente elétrica, calculada medindo-se a corrente e voltagem, baseia-se na Lei de Ohm (R = V/I, em que R = resistência, V = volume e I = corrente). Essas relações conseguem quantificar o volume de água no corpo e, a partir daí, o percentual de gordura corporal e a massa magra. A bioimpedância elétrica (BIA), é um método barato, portátil e seguro na esti- mativa da composição corporal e totalmente aplicável para atletas. Tem conside- rável potencial quando usada individualmente ou em combinação com a antropo- metria, porém, o uso simplista desse método pode levar a erros na sua aplicação e validade. Medida de Dobras Cutâneas Medida das dobras cutâneas é um método barato, inofensivo e rotineiramente empregado na avaliação nutricional de indivíduos de todas as idades, assim como medidas de peso e altura, porém, esse método exige treinamento e nem todos estão aptos a realizá-lo. Para que os componentes da composição corporal sejam avaliados, tais medidas, uma vez obtidas, devem ser aplicadas a equações, o que demanda tempo e representa uma dificuldade adicional. Atualmente, entretanto, são utilizados programas para a realização de equações, diminuindo erros. 9 UNIDADE Avaliação Nutricional do Atleta Sabemos que a prática de esportes para crianças e adolescentes é comum, de modo que parâmetros específicos são necessários. Assim, os métodos de análise da composição corporal mais utilizados em crianças e adolescentes fisicamente ativostêm sido a densitometria, BIA e antropometria. Geralmente, em cada um desses métodos fraciona-se o corpo em dois componentes: gordura e massa corporal livre de gordura. Para uma avaliação mais assertiva, além de medidas antropométricas habituais (medição de peso, altura e dobras cutâneas), utiliza-se a BIA associada. As técnicas de medida de dobras cutâneas e de BIA são consideradas simples, de custo razoavelmente baixo e não invasivas para estimar a composição corporal – por esses motivos têm rece- bido importante atenção da literatura com relação à sua utilização em atletas. Importante! Para atletas de alto nível, o nutricionista, independentemente da composição da equipe profissional, deve acompanhar a evolução antropométrica e ter seu registro próprio, com a descrição do treinamento, uma vez que faz parte efetiva da anamnese nutricional e influi diretamente no acompanhamento nutricional objetivando rendimento e saúde. Classificação do Estado Nutricional de Atletas Índice de Massa Corporal (IMC) Obtido através da relação do peso corporal dividido pela altura ao quadrado, o IMC é amplamente conhecido pela sua simplicidade em determinar o estado nutri- cional do indivíduo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o IMC consi- derado ideal é o que está entre 18,5 e 24,9 Kg/m². Esse método não é indicado para a avaliação do estado nutricional de atletas, pois mensura o estado nutricional considerando apenas o peso e a altura. Nesse método não é possível determinar as participações de líquido, massa magra, massa muscular, mas- sa óssea e gordura de seu corpo. Devido às alterações corporais proporcionadas pela prática constante de exercício físico, esse método é limitado, pois poderá determinar um diagnóstico inadequado com relação ao verdadeiro estado nutricional. Podemos observar como exemplo um indivíduo que realiza treinamento de força regularmente possuindo peso corporal aumentado proveniente de um alto teor de massa muscular. Ao realizar a avaliação da composição corporal classificando somente critérios de IMC, provavelmente se tratará de sobrepeso, sendo que muitas vezes esse mesmo indivíduo apresenta baixíssima porcentagem de gordura corporal. 10 11 Para o diagnóstico do crescimento e a classificação do estado nutricional de jovens atletas (adolescentes) são utilizados para classificações percentis ou escores Z, levando-se em conta, sempre que possível, os estágios maturacionais, mais que a idade cronológica, dada a grande variabilidade individual no processo de crescimento e maturação. Na classificação do estado nutricional de atletas adultos, normalmente conside- ramos os resultados obtidos na bioimpedância ou através da somatória das dobras cutâneas onde obteremos o percentual de gordura corporal. Existem diversas propostas de estimativa da gordura corporal por meio da soma- tória das dobras cutâneas, ou por meio do cálculo da densidade corporal. Por exemplo, para homens uma das equações mais utilizadas é a de Yuhasz, considerando seis Dobras Cutâneas (DC): DSE + DCT + DCC + DSI + DCA + DCP, onde: • DSE: Dobra cutânea subescapular; • DCT: Dobra cutânea do tríceps; • DCC: Dobra cutânea da coxa; • DSI: Dobra cutânea suprailíaca; • DCA: Dobra cutânea abdominal; • DCP: Dobra cutânea peitoral; • S6: Somatória das 6 pregas. A proposta de Yuhasz considera uma equação para homens jovens e outra para homens adultos. • Para homens jovens: » Porcentagem de gordura corporal = 3,641 + 0,0970 (S6) × 0,736. • Para homens adultos: » Porcentagem de gordura corporal = 4,975 + 0,1066 (S6) × 0,665. Outra equação muito empregada para o cálculo da porcentagem de gordura cor- poral em atletas é a de Faulkner – originalmente desenvolvida para homens jovens e adultos: Porcentagem de gordura corporal = 5,783 + 0,153 × (DCT + DSE + DCA), onde: • DCT: Dobra cutânea do tríceps; • DSE: Dobra cutânea subescapular; • DCA: Dobra cutânea abdominal. Na seguinte Tabela temos outras equações de diferentes referenciais que determi- nam a densidade corporal aplicada em distintas modalidades esportivas: 11 UNIDADE Avaliação Nutricional do Atleta Tabela 1 – Equações antropométricas para a obtenção da Densidade Corporal (DC = g/m3), ou percentual de Gordura (%G) de atletas Esporte População Equação Referência Todos Mulheres (de 18 a 29 anos de idade) DC = 1,096095 − 0,0006952 × (Σ tríceps, suprailíaca anterior, abdome, coxa) + 0,0000011 × (Σ tríceps, suprailíaca anterior, abdome, coxa) 2 − 0,0000714 × (idade) Jackson e colaboradores (1980) Todos Meninos (de 14 a 19 anos de idade) DC = 1,10647 − 0,00162 × (dobra subescapular) − 0,00144 × (dobra abdome) − 0,00077 × (dobra tríceps) + 0,00071 × (dobra axilar média) Forsyth e Sinning (1973) Todos Homens (de 18 a 29 anos de idade) DC = 1,112 - 0,00043499 × (Σ peitoral, axilar média, tríceps, subescapular, suprailíaca anterior, abdome, coxa) + 0,00000055 × (Σ peitoral, axilar média, tríceps, subescapular, suprailíaca anterior, abdome, coxa) 2 − 0,00028826 × (idade) Jackson e Pollock (1978) Atletismo, ginástica, mergulho e luta Meninos adolescentes DC = 1,0987 − 0,00122 × (Σ subescapular, tríceps, suprailíaca) + 0,00000263 × (Σ subescapular, tríceps, suprailíaca) 2 Thorland e colaboradores (1984) Luta Meninos (de 13 a 18 anos de idade) DC = 1,12691 − 0,00357 × (circunferência de braço) − 0,00127 × (circunferência abdominal) + 0,00524 × (circunferência de antebraço) Katch e McArdle (1973) Para converter DC em porcentagem de gordura deve-se empregar as seguintes fórmulas: • Homens: %G = [(4,95 / DC) - 4,50] × 100; • Mulheres: %G = [(5,01 / DC) - 4,57] × 100; • Meninos (13 a 19 anos): %G = [(5,07 / DC) - 4. Estimativa da Gordura Corporal no Esporte e Classificação Segundo as diretrizes sugeridas por Foss e Keteyian (2000), a porcentagem de gordura corporal em relação à composição corporal para o esporte, saúde e aptidão deveria estar assim distribuída: Tabela 2 – Diretrizes sugeridas da composição corporal para esporte, saúde e aptidão Classificação Homens Mulheres Gordura essencial (%) 01 a 05 03 a 08 Maioria dos atletas (%) 05 a 13 12 a 22 Saúde ótima (%) 12 a 18 16 a 25 Obesidade limítrofe (%) 22 a 27 30 a 34 Fonte: Adaptado de FOSS e KETEYIAN, 2000 Tabela 3 – Normalidade para o percentual de gordura Idade Excelente Bom Abaixo da média Média Acima da média Ruim Muito ruim Percentual de Gordura (G%) para homens 18 a 25 anos 4-6% 8-10% 12-13% 14-16% 17-20% 20-24% 26-36% 26 a 35 anos 8-11% 12-15% 16-18% 18-20% 22-24% 24-27% 28-36% 36 a 45 anos 10-14% 16-18% 19-21% 21-23% 24-25% 27-29% 30-39% 46 a 55 anos 12-16% 18-20% 21-23% 24-25% 26-27% 28-30% 32-38% 56 a 65 anos 13-18% 20-21% 22-23% 24-25% 26-27% 28-30% 32-38% 12 13 Idade Excelente Bom Abaixo da média Média Acima da média Ruim Muito ruim Percentual de Gordura (G%) para mulheres 18 a 25 anos 13-16% 17-19% 20-22% 23-25% 26-28% 29-31% 33-43% 26 a 35 anos 14-16% 18-20% 21-23% 24-25% 27-29% 31-33% 36-49% 36 a 45 anos 16-19% 20-23% 24-26% 27-29% 30-32% 33-36% 38-48% 46 a 55 anos 17-21% 23-25% 26-28% 29-31% 32-34% 35-38% 39-50% 56 a 65 anos 18-22% 24-26% 27-29% 30-32% 33-35% 36-38% 39-49% Fonte: Adaptado de POLLOCK e WILMORE, 1993 Determinação da Massa Corporal Magra A massa corporal magra será determinada a partir do peso e percentual de gordura da seguinte maneira: Peso × Percentual de gordura = Gordura absoluta Peso – Gordura absoluta = Massa Corporal Magra (MCM) O Comitê Olímpico Estadunidense (Usco) recomenda as técnicas da Sociedade Internacional para Avanços para Cineantropometria (Isak), através da padronização de medidas internacionais, de somatório de sete dobras (em mm). Considera a seguinte utilização do somatório das dobras cutâneas: abdominal, bíceps, coxa medial, pan- turrilha, subescapular, supraespinal e tríceps. Os valores ideais para os atletas se situariam nos delimitados pelo Usco: • Para mulheres: entre 30 e 60 mm; • Para homens: entre 40 e 90 mm. Vocêsabia? Você sabia que baixos níveis de gordura corporal podem ter associação, em mulheres, à tríade da atleta, a transtornos alimentares, alteração da imagem corporal, entre outros fatores? Já em homens figuram distúrbios hormonais, metabólicos, infertilidade etc. Veja um pouco mais no artigo “A tríade da atleta”, disponível em: https://bit.ly/2Luxip0 Importante! Você já deve ter estudado na Disciplina de Avaliação Nutricional que para uma adequa- da investigação nutricional de um atleta devemos seguir os mesmos componentes de uma anamnese nutricional habitual, ou seja: histórico clínico, histórico dietético, exames laboratoriais, avaliação antropométrica, histórico familiar, histórico sociocultural, avalia- ção da hidratação e avaliação psicossocial. 13 UNIDADE Avaliação Nutricional do Atleta Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Nutrição para o Treinamento de Força KLEINER, S. M.; GREENWOOD-ROBINSON, M. Nutrição para o treinamento de força. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2016. Leitura Pregas Cutâneas versus Impedância Bioelétrica para Avaliação da Composição Corporal em Atletas: Uma Revisão Crítica https://bit.ly/2WSgGgc Diagnóstico do Estado Nutricional dos Atletas da Equipe Olímpica Permanente de Levantamento de Peso do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) https://bit.ly/2X5ywga Amenorreia em Atletas: Revisão da Literatura https://bit.ly/3bxUMo4 14 15 Referências AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Joint position: nutrition and athletic performance. Med. Sci. Sports Exer., v. 41, n. 3, p. 709-731, 2009. FAULKNER, J. A. Physiology of swimming and diving. In: FALLS, H. Exercise physiology. Baltimore, USA: Academic Press, 1968. p. 415-446. FOSS, M. L.; KETEYIAN, S. J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. MARTIN, M.; ZUGATTO, G.; NACIF, M. Perfil alimentar de crianças praticantes de atividade física de um clube em São Paulo (SP). Nutrição Profissional, São Paulo, v. 13, p. 50-52, 2007. NACIF, M. A. L.; VIEBIG, R. P. Avaliação antropométrica nos ciclos da vida: uma visão prática. 2. ed. São Paulo: Metha, 2011. POLLOCK, M. L.; WILMORE, J. H. Exercícios na saúde e na doença. Rio de Janeiro: Medsi, 1993 ROSSI, L. et al. Avaliação nutricional: novas perspectivas. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. ; TIRAPEGUI, J. Comparação dos métodos de bioimpedância e equação de Faulkner para avaliação da composição corporal em desportistas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 37, n. 2, maio/ago. 2001. YUHASZ, M. S. The effects of sports training on body fat in man with predictions of optimal body weight. 1692. Thesis (Doctoral in Physical Education) – University of Illinois, Urbana, IL, USA, 1962. 15 Nutrição e Atividade Física Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Silvana Ramos Atayde Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Atribuições do Nutricionista Esportivo e Noções de Fisiologia e Bioquímica do Exercício Atribuições do Nutricionista Esportivo e Noções de Fisiologia e Bioquímica do Exercício • Conhecer as atribuições do nutricionista esportivo; • Avaliar rotas metabólicas de nutrientes que podem interferir no desempenho e na performance de atletas. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Atribuições do Nutricionista Esportivo; • Noções de Fisiologia do Exercício; • Bioenergética; • Utilização de Substratos Energéticos no Exercício. UNIDADE Atribuições do Nutricionista Esportivo e Noções de Fisiologia e Bioquímica do Exercício Atribuições do Nutricionista Esportivo Você já se perguntou quais são as principais atuações do nutricionista na área esportiva? A resposta encontramos na Resolução do Conselho Federal de Nutricio- nistas (CFN) n.º 600, de fevereiro de 2018. A Resolução CFN n.º 600 está disponível em: https://bit.ly/2yQZnVb Essa resolução dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e as suas atribuições, indicando parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade. Começaremos os nossos estudos conhecendo as atribuições obrigatórias do nutri- cionista da área esportiva: • Avaliar e acompanhar o perfil antropométrico, bioquímico e a composição corpo- ral do atleta ou desportista, conforme as fases do treinamento e, considerando a perda de peso antes de competições, o aumento de massa muscular e a melhora no desempenho; • Identificar o gasto energético do indivíduo; • Elaborar o plano alimentar do indivíduo, adequando-o à modalidade esportiva ou ao exercício físico desenvolvido, considerando as diversas fases – manutenção, competição e recuperação; • Manter o registro evolutivo individualizado de avaliações nutricionais, composição corporal e prescrições dietéticas e outras condutas pertinentes; • Promover a educação e orientação nutricional do indivíduo e, quando pertinente, dos familiares ou responsáveis; • Estabelecer estratégias de reposição hídrica e energética antes, durante e após a prática de exercícios e na participação em eventos competitivos; • Orientar quanto à execução do plano alimentar para atletas em viagem para competição; • Elaborar relatórios técnicos de não conformidade e as respectivas ações corre- tivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. A Resolução CFN n.º 600 também descreve as atividades complementares do nutricionista esportivo, a saber: • Solicitar exames complementares à avaliação nutricional, prescrição dietética e evolução nutricional dos clientes, quando necessário; • Prescrever suplementos nutricionais, bem como alimentos para fins especiais, em conformidade com a legislação vigente, quando necessário; • Acompanhar e prestar atendimento nutricional aos atletas e desportistas em treinamentos e competições individuais ou coletivas; 8 9 • Desenvolver material educativo para orientação de clientes, treinadores e colaboradores; • Promover periodicamente o aperfeiçoamento e a atualização de funcionários por meio de cursos, palestras e ações afins, quando pertinente; • Interagir com a equipe multiprofissional responsável pelo treinamento/acompa- nhamento do atleta e desportista; • Realizar e divulgar pesquisas e estudos relacionados à sua área de atuação, promo- vendo o intercâmbio técnico-científico; • Participar do planejamento e da supervisão de estágios para estudantes de Gra- duação em Nutrição e de Curso Técnico em Nutrição e Dietética, assim como de programas de aperfeiçoamento para profissionais de Saúde, desde que sejam preservadas as atribuições privativas do nutricionista. Agora que já sabemos quais são as atribuições do nutricionista da área esportiva, estu- daremos conceitos importantes para o desenvolvimento dessas atividades. Vejamos abaixo algumas definições relacionadas à área esportiva: • Esporte: é toda forma de praticar atividade física que, através de participação ocasional ou organizada, visa equilibrar a saúde ou melhorar a aptidão física e/ou mental e propor- cionar entretenimento aos participantes. Pode ser competitivo, onde o(s) vencedor(es) pode(m) ser identificado(s) por obtenção de um objetivo, assim como pode exigir deter- minado grau de habilidade – especialmente em níveis mais elevados; • Atividade física: qualquer movimento corporal que resulte em gasto de energia acima dos níveis de repouso; • Atleta: esta palavra vem do grego athletes e está relacionada aos lutadores que com- batiam em jogos oficiais, portanto, com o ânimo de competição. Assim, exemplifica- tivamente, trata-se daquele que pratica corrida, inscreve-se em maratonas e outras corridas de rua, mas nada recebe por isso, ao contrário, paga a sua inscrição e todos os seus gastos, sendo apenas um desportista, ainda que tenha rendimento similar ao de atletas. Logo, a diferenciaçãoentre atleta e desportista é didática do ponto de vista da prática do esporte de diversas formas e incentivos por cada qual; • Esportista: caracterizado por indivíduos adultos que praticam atividades físicas e esportivas de maneira regular, de moderada a alta intensidade, competindo eventu- almente, porém, sem vínculo profissional com o esporte; • Fitness: de acordo com Saba (2006), fitness enfatiza a dimensão biológica, sendo ori- ginado da junção de duas palavras, “[...] fit que significa apto, e ness, que quer dizer aptidão. Na verdade, a expressão correta é physical fitness, ou aptidão física”; • Wellness: é definido como a integração de todos os aspectos da saúde e aptidão – mental, social, emocional, espiritual e física –, que expande um potencial para viver e trabalhar efetivamente, dando significativa contribuição para a sociedade. Você sabia? Que o nutricionista esportivo atua com público atleta, ou esportistas, em academias e clubes esportivos, tanto para o seguimento fitness ou wellness, quanto de diferentes modalidades esportivas? 9 UNIDADE Atribuições do Nutricionista Esportivo e Noções de Fisiologia e Bioquímica do Exercício Noções de Fisiologia do Exercício De forma geral, a fisiologia do exercício estuda os efeitos agudos e crônicos do exercício físico sobre a estrutura e função dos diversos sistemas orgânicos. Tratando-se de tema amplo, conheceremos algumas informações essenciais e relacionadas às atribuições utilizadas na área de atuação com atletas e esportistas; de modo que entre as diversas modalidades de treinamento físico temos duas classifica- ções básicas, identificadas de acordo com o tipo de metabolismo energético preferen- cialmente utilizado durante a prática de atividade física. Tratam-se dos treinamentos: • Aeróbico: o oxigênio é o fator fundamental, pois será necessário como fonte de queima dos substratos que produzirão a energia transportada para o músculo em atividade. Essa via metabólica é utilizada em exercícios de longa duração, prefe- rencialmente contínuos, assim como de baixa ou moderada intensidade. Neste caso, ocorre o estímulo da função dos sistemas cardiorrespiratório, vascular e do metabolismo, uma vez que aumenta a capacidade cardíaca e pulmonar para suprir a energia do músculo a partir do consumo do oxigênio. São exemplos típicos deste tipo de exercício físico as corridas, o ciclismo e a natação; • Anaeróbico: a utilização de energia não depende do uso de oxigênio, sendo os exercícios de alta intensidade e em curta duração, logo, envolvendo esforço mais intenso, pois são praticados por um número limitado de músculos – havendo produção de ácido lático. Exercícios de força são anaeróbicos, sendo a muscu- lação um exemplo típico. Você sabia? Você já observou que os indivíduos possuem características diferenciadas de ganho de massa muscular? Isto é relacionado ao biotipo de cada pessoa, que é um indicador da forma, estrutura e composição do corpo humano. O biotipo corporal possui considerável influência genética, de modo que o indi- víduo deve sempre levar em consideração o esporte que deseja praticar e as suas relações com a dieta, o metabolismo e desempenho físico. Ademais, o biotipo pode ser classificado como ectomorfo, mesomorfo e endomorfo. O perfil ectomorfo caracteriza-se por uma estrutura óssea pequena, com peitoral reto, ombros pequenos, metabolismo acelerado e dificuldade para ganhar massa muscular. No perfil endomorfo as características são as seguintes: dificuldade para conseguir definição, maior acúmulo de gordura corporal – principalmente na região abdominal –, metabolismo lento e dificuldade para controlar a ingestão de calorias. No perfil mesomorfo as características estão associadas a uma estrutura óssea grande, mais massa muscular e aparência esportiva. Outro fator que determina a aptidão e o desempenho no esporte é o tipo de fibra muscular que compõe em maior proporção o organismo. Este é um aspecto importante para a determinação da capacidade atlética de um indivíduo, dado que algumas pessoas 10 11 conseguem ter mais resistência, enquanto outras mais velocidade – isso é determinado geneticamente. De uma forma geral, existem dois padrões de fibras musculares: • Tipo I: utilizam o sistema de energia aeróbio, que consome o oxigênio do corpo para garantir contrações musculares lentas e maior resistência à fadiga. Por isso são mais apropriadas para exercícios de longa duração, como natação e ciclismo; • Tipo II: empregam a glicose e fosfocreatina como fontes de energia, proporcio- nando explosão e força nos movimentos, mas também as tornam mais susce- tíveis ao cansaço, por isso são utilizadas em atividades como corridas de curta distância (até 200 m), musculação e basquete. O fator hereditário é o principal determinante da composição muscular, porém, é possível a mudança de proporção das fibras, pois as fibras musculares do tipo II são de subdivisão – em tipos IIA e IIB –, possibilitando que algumas fibras mudem as suas características de acordo com o estímulo envolvido, aproximando-se mais da contração rápida ou lenta. Veja como o biotipo fez a diferença para o campeão Michael Phelps na reportagem: “10 Curiosidades sobre Michael Phelps”, disponível em: https://bit.ly/2T7Krsl Bioenergética A atividade pode ser classificada pela via metabólica utilizada para a produção de energia. Assim, para saber o nutriente adequado para fornecer energia – se car- boidratos, proteínas ou gorduras – é fundamental conhecer a via de produção de energia que o exercício físico realizado utiliza com predominância. O complexo mecanismo de contração muscular permite que o organismo humano realize diferentes movimentos. Para tanto, necessita de energia tendo, de forma ade- quada, os processos de ressíntese dessa energia. A estocagem e rápida liberação dessa energia são possíveis graças a uma molé- cula de alto valor energético, o trifosfato de adenosina (ATP) e a potencial hidrólise de sua ligação terminal do fosfato. Ademais, p ara que a contração muscular possa ocorrer, o fornecimento de energia e a ressíntese das moléculas de ATP devem ser mantidos por três mecanismos: • Anaeróbio alático, ou sistema ATP-CP: realiza a ressíntese do ATP através da energia gerada pela quebra da ligação fosfato-energética da creatina fosfato, capazes de suportar apenas de três a sete contrações máximas, ou seja, somente poucos segundos, pois os estoques intramusculares de ATP em repouso são de, aproximadamente, 6 mM/kg de músculo úmido. A energia oriunda deste sistema recebe o fornecimento pela molécula de creatina-fosfato e não depende de transporte de oxigênio. Portanto, os exercícios em que este sistema é predo- minante são os caracterizados pela alta intensidade e curta duração; 11 UNIDADE Atribuições do Nutricionista Esportivo e Noções de Fisiologia e Bioquímica do Exercício • Anaeróbio lático: durante o metabolismo anaeróbico ocorrem reações químicas a partir da molécula de glicose proveniente do carboidrato, processo chamado de glicólise, resultando na produção de energia suficiente para ressintetizar duas moléculas de ATP. Este sistema tem tal nome por funcionar sem a presença do oxigênio e por ter como produto o ácido lático. Ocorre a formação de duas moléculas de ácido pirúvico, que são convertidas em ácido láctico. O sistema funciona à plena carga durante 45 segundos e, de forma submáxima, será a fonte predominante de energia até o terceiro momento de atividade. Os exercí- cios que utilizam predominantemente esta via como forma de ressíntese de ATP são os de alta intensidade e duração moderada; • Aeróbico, ou sistema oxidativo: a presença de oxigênio permite a conversão do ácido pirúvico em ácido acético, ou Acetil-CoA, que é oxidado no ciclo de Krebs e na cadeia respiratória. 1 mol de glicose pode produzir 36 moles de ATP e se decompõe em água e dióxido de carbono. As reações químicas acontecem nas mitocôndrias (ciclo de Krebs) e utilizam também os lipídios eaminoácidos como aportes energéticos. Este é o mecanismo predominante nas atividades de longa duração e intensidade moderada. Enquanto classificação dos esportes e de acordo com a via metabólica utilizada, temos: • Anaeróbio tático: corrida de 400 a 800 m, natação de 100 a 200 m, ciclismo de 750 a 1.500 m, remo de 250 a 500 m; • Anaeróbio atático: corrida de até 100 m, natação de até 25 m, ciclismo de até 175 m, remo de até 50 m; • Aeróbico: corrida para além de 1.500 m, natação para além de 400 m, ciclismo para além de 3.000 m, remo para além de 1.000 m. Em Síntese As reações bioquímicas que não consomem oxigênio geram muita energia por curtos períodos (sistema ATP-CP e anaeróbico láctico). Essa estratégia celular para a geração de energia rápida é crucial para manter o desempenho nas atividades como sprint – Corridas Curtas de Alta Intensidade (CCAI) –, assim como em outros tipos de exercício físico intermitente de alta intensidade. Em comparação, a atividade de maior duração e menos intensa – corridas longas como maratonas – baseia-se na extração de energia do alimento por meio de reações que necessitam de oxigênio (sistema oxidativo). Utilização de Substratos Energéticos no Exercício Uma nutrição adequada é fundamental para a busca do melhor rendimento no desempenho de atletas e esportistas. Por isso é importante conhecer a ação dos nutrientes energéticos durante o exercício. 12 13 Carboidratos Antigamente, acreditava-se que a proteína era o único nutriente importante para a dieta de um atleta; porém, agora sabemos que o carboidrato tem grande relevância na produção de energia durante o exercício físico. Antes do exercício físico, atletas são frequentemente recomendados a consumir alimentos que são fontes de carboidratos, e após para a reposição de energia; assim como suplementos contendo carboidratos durante exercícios de longa duração. Ademais, o carboidrato pode ser utilizado como recurso ergogênico durante a rea- lização de uma prova, ou quando fornecido nos momentos que precedem o evento. Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI): Uma dieta rica em carboidratos nos momentos que antecedem a com- petição, vai ajudar a melhorar o desempenho, especialmente quando o exercício durar mais que 60 minutos. (INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2007) O s mecanismos de regulação do metabolismo de carboidratos, assim como a relação com o exercício, a fadiga e o desempenho foram estudados nos últimos anos. Assim, uma dieta deficiente em carboidratos rapidamente leva à depleção dos glicogênios muscular e hepático, afetando negativamente o desempenho na atividade anaeróbica a curto prazo e nas atividades aeróbicas intensas e prolongadas. Proteínas Durante algum tempo as proteínas e os aminoácidos não eram considerados subs- tratos para a produção de energia durante o exercício. Contudo, aminoácidos con- tribuemde 5 a 15% da energia fornecida e o mecanismo desse metabolismo não é estudado – pois ainda não foi completamente estabelecido. Os músculos esqueléticos representam 43% da massa corporal e 40% das proteínas do organismo humano encontram-se nos músculos. Estudos mostram que durante o exercício físico os aminoácidos são liberados pelo fígado, liberação esta proporcional à intensidade do esforço físico. Por isso pessoas fisicamente ativas necessitam de maior quantidade de ingestão de proteínas do que indivíduos sedentários. Porém, o consumo acima do necessário não está relacionado a maior ganho de massa muscular. As proteínas só são efetivamente recrutadas como combustíveis quando os esto- ques de carboidratos são depletados, por exemplo, em exercícios físicos de longa duração ou em casos de jejum prolongado. Os aminoácidos liberados pelas proteínas consumidas podem, então, ser utilizados para o metabolismo da glicólise – e não para a síntese proteica muscular. Até mesmo o ácido láctico pode servir de substrato energético, desde que haja oxigênio suficiente para que seja convertido em ácido pirúvico e oxidado. 13 UNIDADE Atribuições do Nutricionista Esportivo e Noções de Fisiologia e Bioquímica do Exercício Lipídeos Os lipídeos são nutrientes importantes para o desenvolvimento esportivo, pois juntamente com os carboidratos são utilizados pelo organismo como fonte de energia durante o exercício. Na produção de energia pela via aeróbica não apenas os carboi- dratos são utilizados. As gorduras representam o maior estoque energético do organismo, sendo o prin- cipal combustível durante o repouso e os exercícios de longa duração. A proporção de energia que cada um desses nutrientes fornecerá dependerá do tipo de exercício, além das características da dieta ingerida antes da atividade. A hidrólise dos triglicerídeos na lipólise libera glicerol e ácidos graxos, sendo os últimos transformados em Acetil-CoA na betaoxidação. O Acetil-CoA entra no ciclo de Krebs e combina-se com o ácido oxalacético, que depende do ácido pirúvico para se formar. Assim, parece necessário um nível prévio e contínuo de catabolismo de glicose para que a desintegração dos ácidos graxos se torne eficiente e não seja desviada para a formação de corpos cetônicos. Você sabia? O equilíbrio entre o aporte e gasto de energia representa a meta principal para o indi- víduo fisicamente ativo com peso corporal normal? O equilíbrio energético otimiza o desempenho físico e ajuda a manter massa corporal magra, a responsividade ao trei- namento e à função imune e reprodutiva. O nível de atividade física representa o fator mais importante que exerce impacto sobre o gasto energético diário. Em Síntese De modo geral, a utilização dos substratos energéticos acontece através de processos contínuos e de completa interação durante o esforço, sendo o aumento da contribui- ção relativa a cada processo dependente, principalmente, da intensidade e duração do exercício. No início de qualquer atividade física ou nos exercícios de alta intensidade os carboidratos são os substratos energéticos predominantes, no segundo caso pela inibi- ção da lipólise – processo pelo qual há degradação de lipídios em ácidos graxos e glicerol – pelo ácido láctico. Podendo o exercício ser prolongado pela manutenção de uma intensidade baixa ou moderada, o metabolismo passa a ser desviado para o aeróbico e a lipólise continuará sendo estimulada. As proteínas só são efetivamente recrutadas como combustíveis quando os estoques de carboidratos forem depletados, por exemplo, em exercícios físicos de longa duração ou em casos de jejum prolongado. 14 15 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites ONlympics Site do Comitê Olímpico Brasileiro. https://bit.ly/366dnqe Livros Nutrição para o Treinamento de Força KLEINER, S. M.; GREENWOOD-ROBINSON, M. Nutrição para o treinamento de força. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2016. Leitura Resolução do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) n.º 600, de fevereiro de 2018 Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. https://bit.ly/2yQZnVb A Quantidade e o Tipo Recomendados de Exercícios para o Desenvolvimento e a Manutenção da Aptidão Cardiorrespiratória e Muscular em Adultos Saudáveis https://bit.ly/363V3hu Comparação dos Métodos de Bioimpedância e Equação de Faulkner para Avaliação da Composição Corporal em Desportistas https://bit.ly/2WXnE3L 15 UNIDADE Atribuições do Nutricionista Esportivo e Noções de Fisiologia e Bioquímica do Exercício Referências APOLINARIO, P. P.; NASCIMENTO. Nutrição no esporte: São Paulo: Martinari, 2016. BELMONTE, A. A.; MELLO, L. P. V. de; BASTOS, G. A. C. Direito do Trabalho Desportivo. Os aspectos jurídicos da Lei Pelé frente as alterações da Lei n.º 12.395/2011. São Paulo: LTR, 2013. CASPERSEN, C. J. et al. Physical activity, exercise, and physical fitness:
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