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ÁLGEBRA Thiago Nascimento Rodrigues Corpo dos números complexos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir corpo dos números complexos. � Identificar as propriedades algébricas dos números complexos. � Calcular as raízes da unidade. Introdução O conjunto dos números complexos tem sido largamente utilizado em diversas áreas não somente da matemática teórica, mas também das ciências aplicadas. Os resultados que podem ser observados com a manipulação de elementos desse conjunto dão suporte à modelagem de diversos problemas, os quais, de outra maneira, não poderiam ser solucionados de forma precisa. Neste capítulo, você vai estudar o conjunto dos números complexos e as principais propriedades que podem ser identificadas nele. Você vai verificar diversas operações algébricas com esses números, de forma a compreender como é possível solucionar problemas nesse escopo. Além disso, você vai estudar o cálculo de raízes n-ésimas de números comple- xos e vai verificar os principais resultados associados a essa operação. 1 Números complexos Resolver equações algébricas tem sido um dos tópicos favoritos dos matemáti- cos historicamente. Embora as equações lineares sempre possam ser resolvidas em números reais, nem todas as equações quadráticas têm essa propriedade. A mais simples dessas equações é x2 + 1 = 0. Até o século XVIII, os matemáticos evitaram equações quadráticas que não eram resolvíveis em relação a ℝ. Leonhard Euler rompeu com essa tendência ao introduzir o “número” em seu famoso livro Elements of Algebra (“ele- mentos de álgebra”, em português) com as seguintes palavras, em tradução livre: “... nem nada, nem maior que nada, nem menos que nada”. Nessa mesma obra, ele ainda comenta que “esses números existem em nossa imaginação e temos uma ideia suficiente deles; nada nos impede de fazer uso desses números imaginários e empregá-los no cálculo”. Euler denotou o número por i e o chamou de unidade imaginária. Este se tornou um dos símbolos mais úteis da matemática. Usando esse símbolo, definem-se os números complexos como aqueles que possuem a forma z = a + bi, onde a e b são números reais. O estudo dos números complexos continua e foi aprimorado nos últimos dois séculos e meio; na verdade, é impossível imaginar a matemática moderna sem números complexos. Todos os domínios da matemática fazem uso deles de alguma forma. Isso também se aplica a outras disciplinas, como mecânica, física teórica, hidrodinâmica e química (ANDREESCU; ANDRICA, 2006). Considere o conjunto ℝ2 = ℝ × ℝ = {(x, y) | x, y ∈ ℝ}. Dois elementos (x1, y1) e (x2, y2) de ℝ2 são iguais se, e somente se, x1 = x2 e y1 = y2. As operações de adição e multiplicação são definidas no conjunto ℝ2 como segue: z1 + z2 = (x1, y1) + (x2, y2) = (x1 + x2, y1 + y2) ∈ ℝ2 e z1 ∙ z2 = (x1, y1) ∙ (x2, y2) = (x1x2 − y1 y2, x1y2 + x2 y1) ∈ ℝ2 para todo z1 = (x1, y1) ∈ ℝ2 e z2 = (x2, y2) ∈ ℝ2. O elemento z1 + z2 ∈ ℝ2 é chamado de soma de z1, z2, e o elemento z1 ∙ z2 ∈ ℝ2 é chamado de produto de z1, z2. 1. Se z1 = (x1, 0) ∈ ℝ2 e z2 = (x2, 0) ∈ ℝ2, então z1 ∙ z2 = (x1x2, 0). 2. Se z1 = (0, y1) ∈ ℝ2 e z2 = (0, y2) ∈ ℝ2, então z1 ∙ z2 = (−y1y2, 0). Corpo dos números complexos2 1. Sejam z1 = (−5, 6) e z2 = (1, −2). Então, z1 + z2 = (−5, 6) + (1, −2) = (−4, 4) z1 ∙ z2 = (−5, 6) + (1, −2) = (−5 + 12, 10 + 6) = (7, 16) 2. Sejam: 3. Então, Definição: O conjunto ℝ, com suas operações de adição e multiplicação, é chamado de conjunto dos números complexos e é denotado por ℂ. Todo elemento z = (x, y) ∈ ℂ é chamado de número complexo. A notação ℂ* é usada para indicar o conjunto ℂ \ {(0,0)}. Uma vez definido o conjunto dos números complexos, o Teorema 1 a seguir apresenta o primeiro resultado associado a esse conjunto. Teorema 1: ℂ é um corpo. Demonstração (Teorema 1): A associatividade e a comutatividade da adição podem ser observadas diretamente pela definição da operação (HEFEZ, 2002). O elemento zero é (0, 0), pois, para todo z = (a, b) ∈ ℂ, tem-se: (a, b) + (0, 0) = (a, b) O simétrico de (a, b) é (−a, −b), pois: (a, b) + (−a, −b) = (0, 0) 3Corpo dos números complexos A associatividade, a comutatividade da multiplicação e a distributividade da multiplicação com relação à adição são de direta verificação. A unidade da multiplicação é (1, 0), pois, para todo (a, b) ∈ ℂ, tem-se: (a, b) + (1, 0) = (a, b) O inverso de z = (a, b) ≠ (0, 0), denotado por z–1, é: pois: Os grupos, os anéis e os corpos se dividem em propriedades e permitem operações matemáticas específicas que compõem parte da álgebra abstrata, conforme apresenta a Figura 1. Figura 1. Algumas das principais estruturas da álgebra. Fonte: Souza (2012). Corpo dos números complexos4 Com base nessa definição, um número complexo pode ser visualizado como um ponto no plano conhecido como plano complexo. O plano complexo é formado tomando-se duas cópias da reta real e colocando uma na horizontal e a outra na vertical. A cópia horizontal é chamada de eixo 𝑥 ou eixo real e a cópia vertical é chamada de eixo 𝑦 ou eixo imaginário. Os dois eixos se cruzam no ponto (0, 0) chamado de origem (WARNER, 2018). A Figura 2 traz uma representação de quatro números complexos no plano. Figura 2. Representação geométrica dos números complexos z1, z2, z3 e z4. Fonte: Rezende (2017). Para manipulações algébricas, porém, não é conveniente representar um número complexo como um par ordenado. Em função disso, considere o conjunto ℝ × {0}, junto com as operações de adição e multiplicação definidas em ℝ2. A função: f: ℝ → ℝ × {0}, f (x) = (x, 0) é bijetora e, além disso, (x, 0) + (y, 0) = (x + y, 0) e (x, 0) ∙ (y, 0) = (xy, 0). 5Corpo dos números complexos É importante observar que as operações algébricas em ℝ × {0} são similares às operações em ℝ. Logo, é possível identificar o par ordenado (x, 0) com o número x para todo x ∈ ℝ. Como consequência, pela bijetividade da função f, é possível usar a notação (x, 0) = x. Então, definindo-se i = (0, 1), obtém-se: z = (x, y) = (x, 0) + (0, y) = (x, 0) + (y, 0) ∙ (0, 1) = x + yi = (x, 0) + (0, 1) ∙ (y, 0) = x + iy A seguir, são apresentadas algumas definições importantes (ESPÍRITO SANTO, 2019). Função injetiva: uma função f: A → B é dita injetiva (ou injetora) se, dados quaisquer x1 e x2 em A, tais que f(x1) = f(x2), então x1 = x2. Função sobrejetiva: uma função f: A → B é dita sobrejetiva (ou sobrejetora) quando para cada y ∈ B existe pelo menos um x ∈ A tal que f(x) = y. Função bijetiva: uma função f: A → B é dita bijetiva (ou bijetora) quando é injetiva e sobrejetiva simultaneamente. Com essa identidade, a proposição a seguir dá suporte à construção do corpo ℂ, que contém o corpo ℝ e no qual a equação z2 + 1 = 0 admite duas raízes: os números i e −i. Proposição 1: Qualquer número complexo z = x + yi pode ser unicamente representado na forma z = x + yi, onde x, y são números reais. A forma acima é chamada de forma normal do número complexo (x, y). A relação i2 = −1 é válida, já que i2 = (0, 1) ∙ (0, 1) = (−1, 0) = −1. A expressão x + yi também é chamada de representação algébrica do número complexo z = (x, y), e o corpo dos números complexos pode ser descrito como C = {x + yi | x ∈ ℝ, y ∈ ℝ, i2 = −1}. O número real x = Re(z) é chamado de parte real do número complexo z, enquanto y = Im(z) é chamado de parte imaginária de z. Números complexos da forma iy, y ∈ ℝ — ou seja, números complexos cuja parte real é 0 — são chamados imaginários. Por outro lado, núme- ros complexos da forma iy, y ∈ ℝ* são chamados puramente imaginários, e o número complexo i é chamado de unidade imaginária. Corpo dos números complexos6 Cabe notar que, na forma normal, x1 + y1i = x2 + y2i se, e somente se, x1 = x2 e y1 = y2. Além disso, opera-se usando as propriedades de corpo e a informação adicional i2 = −1 como nas identidades a seguir: (a1 + b1i) + (a2 + b2i) = (a1 + a2) + (b1 + b2)i (a1 + b1i) - (a2 + b2i) = (a1 − a2)+ (b1 − b2)i (a1 + b1i) ∙ (a2 + b2i) = a1a2 + b1a2i + a1b2i + b1b2i 2 = (a1a2 − b1b2) + (b1a2 + a1b2)i 2 Propriedades dos números complexos Várias propriedades de adição e multiplicação de números complexos são as mesmas que para números reais. Algumas dessas propriedades foram previa- mente apresentadas na demonstração do Teorema 1, enquanto outras podem ser diretamente observáveis a partir da própria definição das operações de adição e multiplicação de números complexos. Usando a representação algébrica, a seguir serão apresentadas mais dessas propriedades. Começando com a observação da existência de inversos multiplicativos, pode-se, portanto, afirmar que, se o produto z1z2 é zero, então pelo menos um dos fatores z1 e z2 também é. De fato, suponha que z1z2 seja zero e z1 ≠ 0. Como o inverso multiplicativo existe, e como qualquer número complexo multiplicado por zero é zero, tem-se z2 = z2 ∙ 1 = z2(z1z1 –1) = z1 –1(z1z2) = z1 –1 · 0 = 0. As demais operações usuais com números complexos podem ser executadas como segue (BROWN; CHURCHILL, 2014). Adição z1 + z2 = (x1 + y1i) + (x2 + y2i) = (x1 + x2) + (y1+ y2)i ∈ ℂ 7Corpo dos números complexos Pode-se observar que a soma de dois números complexos é um número complexo cuja parte real (imaginária) corresponde à soma das partes reais (imaginárias) dos números envolvidos na operação: Re(z1 + z2) = Re(z1) + Re(z2) Im(z1 + z2) = Im(z1) + Im(z2) Multiplicação z1 ∙ z2 = (x1 + y1i) ∙ (x2 + y2i) = (x1x2 − y1y2) + (x1y2 + x2y1)i ∈ ℂ Em outras palavras, Re(z1z2) = Re(z1) ∙ Re(z2) − Im(z1) ∙ Im(z2) e Im(z1z2) = Im(z1) ∙ Re(z2) + Im(z2) ∙ Re(z1) Para um número real λ e um número complexo z = x + yi, λ ∙ z = λ(x + yi) = λx + λyi ∈ ℂ é o produto de um número real com um número complexo. As seguintes propriedades podem ser diretamente observadas: 1. λ(z1 + z2) = λz1 + λz2; 2. λ1(λ2z) = (λ1λ2)z; 3. (λ1 + λ2)z = λ1z + λ2z para todo z, z1, z2 ∈ ℂ e λ, λ1, λ2 ∈ ℝ. Cabe notar que as relações 1 e 3 são casos especiais da propriedade distri- butiva, e a relação 2 deriva da propriedade associativa da multiplicação dos números complexos. Corpo dos números complexos8 Subtração e divisão Ambas as operações são definidas em termos dos inversos aditivos e multi- plicativos, respectivamente: z1 – z2 = z1 + (−z2) = (x1 − x2) + (y1 − y2)i ∈ ℂ De forma simplificada, a divisão de números complexos também pode ser expressa como: O exemplo a seguir ilustra a propriedade da divisão. As fórmulas para as potências de números complexos com expoentes inteiros são preservadas na forma algébrica. Se z = i, tem-se: i0 = 1; i1 = i; i2 = −1; i3 = i2 ∙ i = −i; i4 = i3 ∙ i = 1; i5 = i4 ∙ i = i; i6 = i5 ∙ i = −1; i7 = i6 ∙ i = −i Pode-se perceber que, a partir do expoente 4, as potências começam a se repetir de 4 em 4, ou seja, i4n = 1; i4n+1 = i; i4n+2 = −1; i4n+3 = −i 9Corpo dos números complexos Na prática, se n for inteiro positivo, para calcular uma potência in, basta dividir n por 4, isto é, escrever n = 4q + r, com 0 ≤ r ≤ 4, e considerar o resto da divisão como expoente: in = i4q + r = (i4)q ∙ ir = 1q ∙ ir = ir Logo, in ∈ {−1, 1, −i, i} para todos os inteiros n ≥ 0. Se n for um inteiro negativo, tem-se: Os próximos dois exemplos ilustram o uso da potenciação de números complexos. i105 + i23 + i20 – i34 = i4∙26+1 + i4∙5+3 + i4∙5 – i4∙8+2 = i – i + 1 + 1 = 2 Encontre a solução para a equação z3 = 18 + 26i, onde z = x + yi e x, y são inteiros. Solução: A equação pode ser escrita como: (x + yi) 3 = (x + yi) 2 ∙ (x + yi) = (x 2 – y2 + 2xyi)(x + yi) = (x 3 – 3xy2) + (3x2y - y3)i = 18 + 26i Usando a definição de igualdade de números complexos, tem-se: Definindo y = tx na igualdade 18(3x2y – y3) = 26(x3 – 3xy2), observa-se que, se x ≠ 0 e y ≠ 0, tem-se 18(3t – t3) = 26(1 – 3t2). Essa última relação é equivalente a (3t – 1)(3t2 – 12t – 13) = 0 A única solução racional da equação é: Logo, x = 3, y = 1 e z = 3 + i. Corpo dos números complexos10 Conjugado de um número complexo Outra propriedade relevante dos números complexos é conhecida como o complexo conjugado. Para um número complexo z = x + yi, o número z̅ = x – yi é chamado de complexo conjugado. Com base nessa definição, tem- -se a proposição a seguir. Proposição 2: 1. A relação z = z̅ é válida se, e somente se, z ∈ ℝ. 2. Para qualquer número complexo z, a relação z = z̿ é válida. 3. Para qualquer número complexo z, o número z ∙ z̅ ∈ ℝ é um número real não negativo. 4. — o conjugado da soma é a soma dos conjugados. 5. — o conjugado do produto é o produto dos conjugados. 6. Para qualquer número complexo z diferente de 0, a relação = z̅ –1 é válida. 7. , z ≠ 0 — o conjugado de um quociente é o quociente dos conjugados. 8. As fórmulas: são válidas para todo z ∈ ℂ. Demonstração (Proposição 2): 1. Se z = x + yi, então a relação z = z̅ é equivalente a x + yi = x – yi. Logo, tem-se 2yi = 0, o que implica y = 0 e, finalmente, z = x ∈ ℝ. 2. Se z̅ = x – yi, então z̿ = x – (–y)i = x + yi = z. 3. Basta observar que: z ∙ z̅ = (x + yi)(x – yi) = x2 + y2 ≥ 0 11Corpo dos números complexos 4. Basta observar que: 5. Pode-se escrever: 6. Como: tem-se: e, consequentemente: produzindo = (z̅ )–1. 7. Basta observar que 8. Das relações z + z̅ = (x + yi) + (x – yi) = 2x z – z̅ = (x + yi) – (x – yi) = 2yi Corpo dos números complexos12 segue que Para obter o inverso multiplicativo de um número complexo z ∈ ℂ, é possível usar a seguinte abordagem: O complexo conjugado possibilita a obtenção do quociente de dois números com- plexos, como apresentado a seguir: Veja a seguir um exemplo de como essas propriedades podem ser aplicadas. Calcule o valor do número complexo z expresso por: Solução: O número pode ser escrito como segue: 13Corpo dos números complexos Módulo de um número complexo O número |z| = é chamado de módulo ou valor absoluto de um número complexo z = x + yi. Por exemplo, os números complexos: z1 = 4 + 3i, z2 = –3i e z3 = 2 têm os seguintes módulos: Proposição 3: As seguintes propriedades são válidas: 1. –|z| ≤ Re(z) ≤ |z| e –|z| ≤ Im(z) ≤ |z|; 2. |z| ≥ 0 para todo z ∈ ℂ. Além disso, tem-se |z| = 0 se, e somente se, z = 0; 3. |z| = |–z| = |z̅ |; 4. z ∙ z̅ = |z|2; 5. |z1 ∙ z2| = |z1| ∙ |z2| — o módulo de um produto é o produto dos módulos; 6. |z1| – |z2| ≤ |z1 + z2| ≤ |z1| + |z2|; 7. |z–1| = |z|–1, z ≠ 0; 8. , z2 ≠ 0 — o módulo de um quociente é o quociente dos módulos; 9. |z1| – |z2| ≤ |z1 – z2| ≤ |z1| + |z2|. Demonstração (Proposição 3): 1 a 4. As propriedades são de verificação direta. 5. Como |z| ≥ 0 para todo z ∈ ℂ, então |z1 ∙ z2| = |z1| ∙ |z2|. Corpo dos números complexos14 6. É preciso observar que: Como: segue que: Logo, |z1 + z2| 2 ≤ (|z1| + |z2|) 2 e, consequentemente, |z1 + z2| ≤ |z1| + |z2|, conforme se queria mostrar. Para se obter a desigualdade ao lado es- querdo, é preciso notar que |z1| = |z1 + z2 + (–z2)| ≤ |z1 + z2| + |–z2| = |z1 + z2| + |z2| logo, |z1| – |z2| ≤ |z1 + z2|. 7. Basta notar que 8. Basta notar que 9. É possível escrever |z1| = |z1 – z2 + z2| ≤ |z1 – z2| + |z2|. Logo, |z1 – z2| ≥ |z1| – |z2|. Por outro lado, |z1 – z2| = |z1 + (–z2)| ≤ |z1| + |–z2| = |z1| + |z2|. 15Corpo dos números complexos 3 Raízes da unidade Seja um número complexo não nulo z = x + iy. Se |z| corresponde ao compri- mento do segmento de reta que liga a origem a z (norma de z) e θ é o ângulo que |z| faz com o eixo x (0 ≤ θ ≤ 2π) conforme apresentado na Figura 3, então é possível escrever: e, portanto, z = |z| cos θ + i|z|sen θ = |z|(cos θ + isen θ) A representação acima é chamada de representação polar do número complexo z. O número θ é chamado de argumento de z e será denotado por arg(z). É importante observar que é possível determinar θ de maneira única, exigindo, por exemplo, que 0 ≤ θ ≤ 2π ou que −π ≤ θ ≤ π. Figura 3. Representação geométrica do módulo |z|. Fonte: Carreira (2014). A seguir, é apresentado um exemplo da representação polar de um número complexo. Para finsde simplificação da notação, a norma |z| de z também será denotada por r. Corpo dos números complexos16 Seja z1 = 2 – 2i, então: Logo, uma forma polar desse número complexo é: Proposição 4: Sejam z1 = r1(cos θ1 + isen θ1) e z2 = r2(cos θ2 + isen θ2). Então, z1 ∙ z2 = r1 ∙ r2[(cos(θ1 + θ2) + isen(θ1 + θ2)] Demonstração (Proposição 4): Efetuando-se o produto, tem-se que: z1 ∙ z2 = r1 ∙ r2[(cosθ1cosθ2 – senθ1senθ2) + i(cosθ1senθ2 + senθ1cosθ2)] = r1 ∙ r2[cos(θ1 + θ2) + isen(θ1 + θ2)] De forma análoga, é direto demonstrar que, para z1 = r1(cosθ1 + isenθ1) e z2 = r2(cosθ2 + isenθ2), também é válida a identidade: Com base na Proposição 4, a multiplicação de dois números complexos na forma polar pode ser estendida para um número qualquer de fatores. De fato, tomando-se: zj = rj(cosθj + isenθj), j = 1, 2, …, n tem-se: z1z2 … zn = r1r2 … rn[cos(θ1 + θ2 + ... + θn) + isen(θ1 + θ2 + ... + θn)] 17Corpo dos números complexos Em particular, quando todos os fatores são iguais, obtém-se a chamada fórmula de Moivre: [r(cos θ + isen θ)]n = rn(cos nθ + isen nθ) Veja a seguir um exemplo de como a fórmula de Moivre pode ser aplicada na potenciação de números complexos. Calcule o valor de z = (1 + i)200. A norma de z é dada por r = |z| = . Além disso, o argumento pode ser obtido como segue: Portanto, pois, como 50π é múltiplo de 2π, tem-se cos(50π) = 1 e sen(50π) = 0. O problema de extrair a raiz n-ésima, z1/n, do número complexo z ≠ 0 corresponde a resolver a equação wn = z. Tomando-se: w = ρ(cos φ + isen φ) z = r(cos θ + isen θ) Corpo dos números complexos18 segue da fórmula de De Moivre que: ρn(cos nφ + isen nφ) = r(cos θ + isen θ) Consequentemente, da igualdade de números complexos, segue: ρn cos nφ = r cos θ e ρn sen nφ = rsen θ Ou, ainda: ρn = r e nφ = θ + 2kπ onde k é um número inteiro. Daí segue que ρ é a raiz n-ésima positiva de r e: Outro conceito correlato à obtenção das raízes de um número complexo é o de raiz n-ésima da unidade. Em um corpo K, uma raiz n-ésima da unidade, para n ∈ ℕ, é uma solução da equação zn = 1. Se K = ℂ, a única raiz 1-ésima da unidade é 1. Quando n ≥ 2, tem-se: e as raízes complexas n-ésimas da unidade correspondem aos pontos dados por: As raízes n-ésimas da unidade têm por representação no plano os vértices de um polígono regular de n lados inscritos no círculo unitário de centro em z = 0 e tendo um vértice no ponto z = 1. A título de exemplo, as raízes quadradas da unidade são {1, −1}, e as raízes quartas da unidade são {1, i, −1, −i}. Por outro lado, as raízes cúbicas da unidade são: 19Corpo dos números complexos A Figura 4 mostra a representação geométrica das raízes complexas quartas e cúbicas da unidade no círculo de raio 1, centrado na origem. Figura 4. Exemplos de raízes complexas da unidade: (a) Raízes quartas de 1 e (b) Raízes cúbicas de 1. Fonte: Rezende (2017). (a) (b) De posse do conceito de raiz n-ésima da unidade, denotando: tem-se que: Nesse caso, as n raízes complexas da unidade, denotadas por Un(ℂ), são obtidas como potências de ξn, isto é: Logo, conhecendo uma das raízes n-ésimas, é possível determinar todas as outras raízes n-ésimas por meio da proposição que segue. Corpo dos números complexos20 Proposição 5: Sejam z um número complexo não nulo, w ∈ ℂ uma raiz n-ésima de z e: Então, as raízes n-ésimas de z são w ∙ ξn r, r = 1, ..., n. Demonstração (Proposição 5): Seja α ∈ ℂ uma raiz n-ésima de z. Então, αn = z = wn e 1 = αn ∙ w–n = (α ∙ w–1)n. Portanto, α ∙ w–1 é uma raiz n-ésima da unidade. Assim, existe r = 0, ..., n –1 tal que α ∙ w–1 = ξn r, isto é, α ∙ w = ξn r, para algum r = 1, ..., n. A seguir, veja um exemplo de como as raízes n-ésimas da unidade de um número complexo podem ser obtidas. Determine as raízes quartas de z = 16. Solução: Temos que: Então, como w = 2 é uma raiz quarta de 16, as outras raízes são: 21Corpo dos números complexos ANDREESCU, T.; ANDRICA, D. Complex Numbers from A to ... Z. Boston: Birkhäuser, 2006. BROWN, J. W.; CHURCHILL, R. V. Complex variables and applications. 9. ed. New York: Mc Graw Hill, 2014. CARREIRA, A. Parte real de um número complexo. Revista Ciência Elementar, v. 2, n. 4, p. 264, 2014. Disponível em: https://wikiciencias.casadasciencias.org/wiki/index.php/ Parte_real_de_um_n%C3%BAmero_complexo. Acesso em: 13 out. 2020. ESPÍRITO SANTO, A. 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Pure mathematics for beginners. New York: Get 800, 2018. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Corpo dos números complexos22
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