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1. RELACIONAR OS FATORES SOCIOAMBIENTAIS À OCORRÊNCIA DE VERMINOSES E INFECÇÕES CUTÂNEAS. Estima-se que infecções intestinais causadas por helmintos e protozoários afetem cerca de 3,5 bilhões de pessoas, causando enfermidades em aproximadamente 450 milhões ao redor do mundo, a maior parte destas em crianças. Desnutrição, anemia, diminuição no crescimento, retardo cognitivo, irritabilidade, aumento de suscetibilidade a outras infecções e complicações agudas são algumas das morbidades decorrentes. A prevalência de infecções por parasitos intestinais é um dos melhores indicadores do status socioeconômico de uma população e pode estar associada a diversos determinantes, como instalações sanitárias inadequadas, poluição fecal da água e de alimentos consumidos, fatores socioculturais, contato com animais, ausência de saneamento básico, além da idade do hospedeiro e do tipo de parasito infectante. Ciclo pobreza-doença Os agentes infecciosos e parasitários interagem numa dinâmica complexa em razão das condições socioambientais em que a população está inserida. As DIP enquadram patologias relacionadas a condições de habitação, alimentação e higiene precárias. Além disso, sua disseminação está associada à pobreza e à qualidade de vida, refletindo as condições de desenvolvimento de uma determinada região, através da relação entre níveis de mortalidade e morbidade, assim como das condições de vida da população. A perpetuação da pobreza tem sido um fator determinante na perpetuação da disseminação de agentes patogênicos na população. A pobreza leva a população a morar em condições de precariedade, sem bens e serviços, sem alimentação e educação adequada, o que a fragiliza e a torna mais susceptível a doenças. Estando doentes, as pessoas ficam fragilizadas e não conseguem trabalhar, estudar ou buscar meios para melhorar a sua condição de vida e continuam pobres, perpetuando no tempo um ciclo perverso de Pobreza-Doença. Ambiente O ambiente ocupa um papel determinante na disseminação das doenças infectocontagiosas no homem. O conceito de ambiente deve ser ampliado na tríade agente etiológico-hospedeiro-ambiente, apresentando diferentes facetas, que podem ser denominadas: Ambiente Físico, Ambiente Social, Ambiente Cultural e Ambiente Político. No ambiente físico, considera-se o clima fundamental porque condições ambientais favoráveis de temperatura, umidade e precipitação podem determinar a sobrevivência e multiplicação dos agentes infecciosos. O ambiente social também deve ser considerado neste contexto; como foi já descrito, condições de moradia, emprego, alimentação e saneamento são componentes fundamentais para a disseminação dos agentes infecciosos. Sabe-se que a falta ou precariedade do acesso ao saneamento básico favorece o aumento do contágio de doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 24% das enfermidades e 23% das mortes prematuras, que ocorrem mundialmente, estão relacionadas a deficiências sanitárias. Paralelamente, o ambiente cultural ocupa também um lugar de destaque: educação de qualidade certamente ajuda a população a exercer um papel fundamental no processo do autocuidado, favorecendo a promoção da saúde e a prevenção das doenças. Devemos considerar também, na sociedade atual, o ambiente político: iniciativas governamentais para manter adequadas as condições de vida da população, como o abastecimento permanente de água segura, coleta de resíduos sólidos, coleta e tratamento de esgoto, infraestrutura rodoviária, condições adequadas de SP4 “Só a bailarina que não tem...” moradia, oferta de serviços de saúde eficazes, entre outras condições, são fatores determinantes para evitar a proliferação de agentes infecciosos e vetores. 2- IDENTIFICAR A EPIDEMIOLOGIA E A FISIOPATOLOGIA DAS PRINCIPAIS PARASITOSES CONTRAÍDAS NO CONTATO COM O SOLO (ANCILOSTOMIDEO, SCHISTOSOMA MANSONI, STRONGYLOIDES STERCORALIS, ASCARIS LUMBRICOIDES - NÃO ESQUECER DO CICLO BIOLÓGICO ANCILOSTOMOSE A Ancilostomíase, ancilostomose ou também chamada de amarelão é uma infecção provocada por duas espécies: Ancylostoma duodenale e Necator americanus. Dentre essas espécies, possuímos duas doenças principais: o Amarelão e a Larva Migrans Cutânea, não sendo o foco do artigo, essa é provocada pelas duas últimas espécies citadas, sendo esses parasitas de cães e gatos, o último verme gera, inclusive, o “bicho geográfico”, responsável por gerar, literalmente, um “mapa”. As fêmeas liberam ovos no intestino delgado que são expulsos pelas fezes e eclodem entre cinco e dez dias, tornando-se larvas infectantes. Outras espécies de ancilostomídeos, como Ancylostoma braziliense ou Ancylostoma caninum, causam infecção intestinal em gatos e cães e podem causar larva migrans em humanos. Morfologicamente, temos três fases a serem diferenciadas: vermes adultos, ovos e larvas. Quando adulto, o A. duodenale é um verme que apresenta na cápsula bucal dois pares de dentes, enquanto o N. americanus possui lâminas. Essa estrutura será a responsável por realizar a nutrição do espécime. Ambos são vermes cilindroides, com extremidade curvada dorsalmente, porém a primeira espécie citada é ligeiramente mais alongada. Na forma de larvas, existem dois tipos: larvas rabditoides e larvas filarioides (infectantes). Dois pontos as diferenciam: o tamanho do esôfago e o seu comprimento total. As larvas infectantes são alongadas, com maior esôfago e são maiores que as larvas de estágios iniciais. Essas possuem uma relação intrínseca com a terra e, por conta disso, classifica-se esses vermes com um geotropismo negativo (tendência de permanecer no solo), hidrotropismo e tigmotropismo (atrai-se pela pele do hospedeiro). ↳ Ciclo biológico O ciclo é direto, ou seja, não necessita de hospedeiros intermediários. Tudo se inicia com a expulsão dos ovos junto com as fezes do hospedeiro. Em solo arenoso, de boa oxigenação e úmido, com temperatura adequada (35°-40°C) – observe que é a temperatura tropical –, a eclosão dos ovos é possível, gerando larvas em processo de maturação. https://www.abc.med.br/p/pele-saudavel/748477/larva+migrans+conceito+causas+fisiopatologia+sinais+e+sintomas+diagnostico+tratamento+prevencao+e+complicacoes.htm A larva rabditoide, de esôfago mais curto, é a primeira a ser gerada, sendo considerada do tipo L1 (larva de primeiro estágio). Essa sofre uma primeira muda, gerando uma larva de perfil intermediário (L1 à L2), consecutivamente, desenvolve-se um terceiro estágio (L2 à L3), uma larva de esôfago alongado, agora chamada de larva filarioide (L3). Observe que tanto L1 quanto L2 são larvas rabditoides. Isso tudo ocorre em cerca de 5 a 10 dias. As larvas filarioides são infectantes e apresentam um movimento serpentiforme a fim de conseguirem penetrar na pele do hospedeiro. Essas podem penetrar ativamente através da pele, conjuntiva ou mucosas do organismo humano, ocorrendo em momentos de exposição, como, por exemplo, ao andar descalço em locais pouco higiênicos. A outra forma de ocorrer a infecção é por via passiva, ou seja, por meio da ingestão dos vermes. A infecção por penetração é associada com uma dermatite localizada do tipo pruriginosa em certos pacientes, indicando o local de entrada do nemátodo. Após essa fase, o verme irá atravessar a derme e irá cair na corrente sanguínea, de forma mais comum, ou linfática. Como ponto final, alcançará o coração e, partindo dele via artérias pulmonares, chegará aos pulmões em um total de 10 dias, nesse órgão as larvas irão se tornar de quarto estágio (L4) em até 2 a 7 dias. A presença desses espécimes pode desencadear sintomas como uma tosse seca frente à irritação da mucosa respiratória, os movimentos ciliares desses órgãos irão conduzir as larvasem sentido ascendente até a glote e, passando dessa, serão deglutidas. Finalmente, chegarão ao destino final dessa viagem: o intestino delgado. O ciclo evolutivo será completado na região distal do duodeno, jejuno e íleo proximal, tornando-se, após mais um estágio (L4 à L5), completa a porção da cápsula bucal. Após mais alguns dias, atinge a maturidade (L5 à verme adulto), isso tudo ocorrerá em até 45 dias após a chegada ao trato digestivo. No intestino, a cápsula bucal do verme, responsável por sua nutrição, gera a ingestão e digestão da mucosa intestinal, refletindo nos sinais e sintomas dessa patologia. De L3 até a eliminação de ovos pelos vermes adultos, passam-se cerca de 35 a 60 dias para o A. duodenale e cerca de 42 a 60 dias para o N.americanus. ↳ Fisiopatologia A ancilostomose é transmitida através da penetração ativa de pequenas larvas infectantes na pele de um indivíduo em contato com ambientes propensos, principalmente o solo, contendo fezes contaminadas por ovos que eclodem e se desenvolvem em larvas. Após passarem pela epiderme, as larvas atingem a corrente sanguínea, seguindo em direção aos alvéolos nos pulmões. Por meio das vias respiratórias, as larvas se deslocam pela traqueia até a laringe, onde são deglutidas com os alimentos ingeridos, passando pelo esôfago, estômago e alcançando a parede do intestino. As formas adultas do Ancylostoma duodenale e do Necator americanus se instalam no aparelho digestivo dos seres humanos, onde se fixam na porção que compreende o intestino delgado, nutrindo-se de sangue do hospedeiro e causando anemia. Neste local se reproduzem, eliminando ovos juntamente com as fezes. A adesão dos vermes no ducto intestinal ocorre em razão da presença de um aparelho bucal munido de dentículos que se inserem na superfície interna da região duodenal, provocando lesão e consequentemente sangramento, o que agrava o quadro anêmico. ↳ Pontos importantes acerca da fisiopatologia Há 3 locais principais afetados que irão ter lesões em diferentes níveis, de acordo com a carga parasitária e a sensibilidade do hospedeiro: Pele: lesões traumáticas mínimas, porém em alguns casos, gerando uma reação eritematopapulosa, normalmente quando ocorre uma alta carga parasitária. Pode-se chegar ao nível de dermatite ou permanecer com uma hiperemia. Pulmonar: na fase de migração pulmonar, já é possível haver lesões, também microscópicas, de caráter hemorrágico. Durante a fase de migração pulmonar, as larvas liberam substâncias que podem gerar tosse, febre baixe e, laboratorialmente, ser notado uma eosinofilia. A evolução para quadros graves durante essa fase pode gerar a Síndrome de Löffler. Essa síndrome pode ser verificada por radiografias (presença de consolidações periféricas, por exemplo). Intestinal: o grande caracterizador da doença, o nível da perda sanguínea nesse local é o responsável pelas manifestações clássicas dessa infecção. Os sintomas envolvidos nessa fase, relacionados com a perda sanguínea, são, principalmente, a palidez, desânimo, cansaço, astenia e diminuição do apetite. Outros achados possíveis são: náuseas, vômitos, dores abdominais, melena, dentre outros. Importante ressaltar que em adultos os sintomas costumam ser mais brandos do que para pacientes pediátricos. A anemia é muitas vezes o principal sinal do Amarelão, a anemia ferropriva gerada por essa ação espoliativa dos vermes pode afetar o desenvolvimento intelectual e cognitivo de crianças, além de ser extremamente perigoso para gestantes, por poder prejudicar o desenvolvimento fetal. Nesse estágio, já se considera que se passou da fase aguda da doença, caracterizando um perfil crônico. A anemia e a hipoproteinemia são as suas principais manifestações. Outros sintomas incluem alterações cardíacas (taquipneia, dores anginosas, sopros), edema generalizado (anasarca) e hepatomegalia. ESQUISTOSSOMOSE No Brasil, a esquistossomose é conhecida popularmente como “xistose”, “barriga d’água” ou “doença dos caramujos”. É uma doença parasitária muito prevalente causada pelo helminto Schistosoma Mansoni, sendo uma das causas da hipertensão portal. A esquistossomose é a infecção mais importante por trematódeos. O Schistosoma é o único trematódeo que invade o corpo pela pele; todos os outros trematódeos o fazem somente por via digestória. O verme adulto possui como habitat natural o sistema porta intra-hepático e utiliza de moluscos (caramujo do gênero Biomphalaria) como “hospedeiro intermediário” para poder completar o seu ciclo. A magnitude de sua prevalência, associada à severidade das formas clínicas e a sua evolução, conferem a esquistossomose uma grande relevância como problema de saúde pública. ↳ Epidemiologia No Brasil, a doença foi descrita em 18 estados e no Distrito Federal, sendo que sua ocorrência está diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores. Os estados das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-oeste são os mais afetados. Estima- se que cerca de 25 milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença. Aproximadamente 207 milhões de pessoas estão infectadas no mundo. ↳ Ciclo de Vida Tudo se inicia com a contaminação onde há penetração da cercária na pele e na mucosa do humano. Após a penetração as cercárias desenvolvem-se para uma forma parasitária primária denominada esquistossômulo, e esses migram pelo tecido subcutâneo (após ficar 3 a 4 dias na pele), penetrando em um vaso e assim que inicia o processo de migração, via circulação sanguínea e linfática, até atingir o coração e em seguida os pulmões. Dos pulmões, os esquistossômulos migram em direção ao fígado através da via sanguínea (a principal) ou por via transtissular (vai atravessando tecido até chegar no parênquima hepático). Os esquistossômulos alcançam o fígado, onde evoluem para as formas adultas, crescendo exponencialmente de tamanho. Eles demoram cerca de 25 dias (após a penetração) para se tornarem machos/fêmeas adultos. Depois desse tempo, migram para os ramos terminais da veia mesentérica inferior, onde então nos vasos portais mesentéricos, ocorre a sobreposição da fêmea no canal ginecóforo do macho e, consequentemente, a cópula, seguida de oviposição na submucosa, o que demora uns 35 dias. Os ovos são colocados na submucosa, e por uma série de fatores (mecânicos, inflamatórios, enzimas proteolíticas), eles atingem a luz intestinal. Assim, eles são expulsos juntamente com as fezes. No ambiente aquático, ocorre a eclosão dos ovos e liberação da forma ativa infectante do hospedeiro intermediário, denominada miracídio. Os miracídios possuem uma afinidade por moluscos, e quando são liberados na água, nadam em direção ao caramujo, penetrando-o. Algumas horas após a penetração dos miracídios no caramujo, tem início um complexo processo de alterações morfológicas que darão origem as cercárias. Os primeiros ovos nas fezes são notados cerca de 42 dias após a infecção. Quando saem do caramujo, após uns 20 a 30 dias dentro dele, assumem a forma de cercárias e assim estão prontas para contaminarem mais uma vez um novo indivíduo. ↳ Patogenia Fatores que influenciam na patogenicidade: Carga parasitária/ cepa do parasito; Idade do indivíduo; Estado nutricional; Resposta imune do paciente. As diferentes formas do parasito causam diferente repercussões patológicas no paciente. A cercária provoca dermatite cercariana ou dermatite do nadador: comichão, erupção urticantes, eritema, edema pequenas pápulas e dor. Já os esquistossômulos provocam linfadenia generalizada, febre, aumento do volume do baço e sintomas pulmonares. A forma adulta não produz lesões de monta, os mortos as lesões são maiores (espoliam os hospedeiros => alto metabolismo). Já os ovos são elementos fundamentais(pouco viáveis) atingindo a luz intestinal => lesões mínimas com reparação tecidual (hemorragias, edemas da mucosa e fenômenos degenerativos). No fígado, causam as alterações mais importantes da doença. A permanência de ovos na mucosa, seus produtos desencadeiam uma reação local do tipo granulomatosa. Números macrófagos seguidos de eosinófilos, linfócitos e alguns plasmócitos circundam os ovos e os macrófagos se fundem e formam gigantócitos, que envolvem o ovo e começam a digeri- lo. Morto o embrião, diminuem os granulócitos e multiplicam-se aí os fibroblastos que assumem a deposição de fibras reticulares e colágeno. Os fibroblastos cessam sua produção de colágeno e se tornam simples fibrócitos. O resultado é a formação de uma estrutura cicatricial fibrosa, causando hipertensão portal. A patogenia possui um perfil Th2 e com grande atuação de eosinófilos. ↳ Fases da esquistossomose Clinicamente, a esquistossomose pode ser classificada em fase inicial e fase tardia. Fase inicial Corresponde à penetração das cercarias por meio da pele. Nessa fase, as manifestações alérgicas predominam; são mais intensas nos indivíduos hipersensíveis e nas reinfecções. Além das alterações dermatológicas ocorrem também manifestações gerais devido ao comprometimento em outros tecidos e órgãos. As formas agudas podem ser assintomáticas ou sintomáticas. Assintomática: em geral, o primeiro contato com os hospedeiros intermediários da esquistossomose ocorre na infância. Na maioria dos portadores da doença é assintomática, passa despercebida e pode ser confundida com outras doenças dessa fase. Geralmente é diagnosticada nas alterações encontradas nos exames laboratoriais de rotina (eosinofilia e ovos viáveis de mansoninas fezes). Sintomática: a dermatite cercariana corresponde à fase de penetração das larvas (cercarias) através da pele. Caracteriza-se por micropápulas eritematosas e pruriginosas, semelhantes a picadas de inseto e eczema de contato, com duração de até 5 dias após a infecção. Pode ocorrer a febre de Katayama após 3 a 7 semanas de exposição. É caracterizada por alterações gerais que compreendem: linfodenopatia, febre, cefaléia, anorexia, dor abdominal e, com menor frequência, o paciente pode referir diarréia, náuseas, vômitos e tosse seca. Ao exame físico, pode ser encontrado hepatoesplenomegalia. O achado laboratorial de eosinofilia elevada é bastante sugestivo, quando associado aos dados epidemiológicos. Fase tardia Formas crônicas: iniciam-se a partir do sexto mês após a infecção, podendo durar vários anos. Podem surgir os sinais de progressão da doença para diversos órgãos, chegando a atingir graus extremos de severidade, como hipertensão pulmonar e portal, ascite, ruptura de varizes do esôfago. As manifestações clínicas variam a depender da localização e intensidade da carga parasitária, da capacidade de resposta do indivíduo ou do tratamento instituído. Apresenta-se nas seguintes formas clínicas: Hepatointestinal: em geral, nesta forma da doença as pessoas não apresentam sintomas e o diagnóstico torna-se acidental, quando o médico se depara com a presença de ovos viáveis de mansonino exame de fezes de rotina. Nas pessoas com queixas clínicas, a sintomatologia é variável e inespecífica: desânimo, indisposição para o trabalho, tonturas, cefaleia e sintomas distônicos. Os sintomas digestivos podem predominar: sensação de plenitude, flatulência, dor epigástrica e hiporexia. Observam-se surtos diarreicos e, por vezes, disenteriformes, intercalados com constipação intestinal crônica. Esse quadro clínico, exceto pela presença de sangue nas fezes, não difere do encontrado em pessoas sem esquistossomose, mas com a presença de outras parasitoses intestinais. Hepática: a apresentação clínica dos pacientes pode ser assintomática ou com sintomas da forma hepatointestinal. Ao exame físico, o fígado é palpável e endurecido, à semelhança do que acontece na forma hepatoesplênica. Na ultrassonografia, verifica-se a presença de fibrose hepática, moderada ou intensa. Hepatoesplênica: Apresenta-se de nas formas: compensada e descompensada ou complicada. Hepatoesplênica compensada: a característica fundamental desta forma é a presença de hipertensão portal, levando à esplenomegalia e ao aparecimento de varizes no esôfago. Os pacientes costumam apresentar sinais e sintomas gerais inespecíficos, como dores abdominais atípicas, alterações das funções intestinais e sensação de peso ou desconforto no hipocôndrio esquerdo, devido ao crescimento do baço. Às vezes, o primeiro sinal de descompensação da doença é a hemorragia digestiva com a presença de hematêmese e/ou melena. Ao exame físico, o fígado encontra-se aumentado. O baço aumentado mostra-se endurecido e indolor à palpação. Esta forma predomina nos adolescentes e adultos jovens. Hepatoesplênica descompensada: considerada uma das formas mais graves da esquistossomose mansoni, responsável por óbitos por essa causa específica. Caracteriza-se por diminuição acentuada do estado funcional do fígado. Essa descompensação relaciona-se à ação de vários fatores, tais como os surtos de hemorragia digestiva e consequente isquemia hepática e fatores associados (hepatite viral, alcoolismo). Existem, ainda, outras formas clínicas: vasculopulmonar, a hipertensão pulmonar, verificadas em estágios avançados da doença e a glomerulopatia. Dentre as formas ectópicas, a mais grave é a neuroesquistossomose (mielorradiculopatiaesquistossomótica), caracterizada pela presença de ovos e de granulomas esquistossomóticos no sistema nervoso central. O diagnóstico é difícil, mas a suspeita clínica e epidemiológica conduz, com segurança, ao diagnóstico presuntivo. O diagnóstico e a terapêutica precoces previnem a evolução para quadros incapacitantes e óbitos. A prevalência dessa forma nas áreas endêmicas tem sido subestimada. Outras localizações: são formas que aparecem com menos frequência. As mais importantes localizações encontram-se nos órgãos genitais femininos, testículos, na pele, na retina, tireóide e coração, podendo aparecer em qualquer órgão ou tecido do corpo humano, http://www.saude.gov.br/hipertensao uma vez que a esquistossomose mansoni é considerada uma doença granulomatosa. Forma pseudoneoplásica: a esquistossomose pode provocar tumores que parecem neoplasias e, ainda, apresentarem doença linfoproliferativa. ASCARIDÍASE Ascaridíase é a denominação da doença causada pelo parasita Ascaris lumbricoides. Trata-se do maior nematódeo intestinal que parasita o intestino humano, de formato cilíndrico, medindo cerca de 20 a 40 cm quando adulto, sendo a fêmea maior e mais robusta que o macho. É uma das infecções humanas helmínticas mais comuns em todo o mundo. Existe ainda o Ascaris suum, que concerne de um parasita intestinal de suínos que possui grande semelhança genética com o A. lumbricoides e também pode causar infecção humana. A transmissão da ascaridíase ocorre principalmente pela ingestão de solo, água ou alimentos contaminados com ovos de Ascaris. Um dos fatores que contribuem para a disseminação dessa infecção é o hábito de utilizar fezes como fertilizantes, a ausência de saneamento básico adequado e higiene inadequada. ↳ Epidemiologia A infecção por Ascaris lumbricoides ocorre em quase todos os países, entretanto acontece com frequência variada devido às condições ambientais, climáticas e também do nível sócio-econômico. Estima-se que essa parasitose atinja cerca de um quarto da população mundial e é provavelmente a helmintíase mais comum no homem. É mais comum na Ásia, África e América Latina, principalmente em regiões muito povoadas e com baixas condições de saneamento básico. Aascaridíase é mais comum entre crianças de 2 a 10 anos de idade, e a prevalência da infecção diminui entre indivíduos com mais de 15 anos de idade. A infecção por Ascaris devido a A. suum tem sido identificada em regiões onde há criação de suínos e o uso de fezes desses animais como fertilizantes. Os porcos, por sua vez, geralmente são infectados ao comer ovos eliminados por outros porcos, mas ocasionalmente podem ser infectados após a ingestão de fígados e pulmões de galinhas infectadas com Ascaris de origem suína. ↳ Ciclo biológico Fisiopatologia Para entender a fisiopatologia da doença, é necessário entender o ciclo de vida deste parasita. Os ovos de Ascaris eliminados nas fezes são depositados no solo, onde embrionam e se tornam infectantes em duas a quatro semanas. Após a ingestão oral de ovos infecciosos de Ascaris (por meio do solo, de alimentos ou água contaminados), os ovos eclodem no intestino delgado do hospedeiro em quatro dias e liberam suas larvas, que migram através da mucosa intestinal. Posteriormente, algumas larvas penetram na parede intestinal e são transportadas por via hematogênica através do sistema porta para o fígado. Essas larvas seguem em caminho ascendente e, através das veias hepáticas, chegam ao coração e seguem para os pulmões. Esse fluxo percorrido é necessário pois as larvas só amadurecem nos alvéolos, num tempo médio de 10 a 14 dias. A partir de então, as larvas já maduras seguem pela árvore brônquica até a traquéia, onde causam o reflexo da tosse e são engolidas. Em alguns casos, essas larvas podem migrar para outros locais, como o cérebro ou os rins. Uma vez de volta ao intestino, as larvas amadurecem em vermes adultos (fêmeas de 20 a 35 cm; machos de 15 a 30 cm) no lúmen do intestino delgado, mais especificamente no jejuno, que é onde a maioria dos vermes estão localizados – mas podem ser encontrados qualquer parte do trato gastrointestinal (TGI). Para que a produção dos ovos ocorram, é necessário que haja a infecção de, pelo menos, uma verme fêmea e um verme macho. Na presença apenas de vermes fêmeas, os ovos produzidos são inferteis e não evoluem para a fase infecciona. Se apenas machos estiverem no TGI, nenhum ovo é formado. Os ovos começam a ser produzidos em aproximadamente 9 a 11 semanas, e cada fêmea é capaz de produzir 200.000 ovos fertilizados por dia. Vale ressaltar que os vermes adultos não se multiplicam no hospedeiro humano. Seu número em um indivíduo infectado depende da exposição e da ingestão de ovos infectados. Outro ponto importante é que a fase de transmissão da doença inclui todo o período que o indivíduo for portador do A. lumbricoides e estiver eliminando seus ovos pelas fezes. ESTRONGILOIDÍASE O Strongyloides stercoralis é um helminto intestinal que infecta os seres humanos através do contato com o solo que contém as larvas. O Strongyloides stercoralis é endêmico em países tropicais e subtropicais, com prevalência nestes locais de até 20%. Aproximadamente entre 30 e 100 milhões de pessoas são infectadas em todo o mundo anualmente. Nos Estados Unido, a estrongiloidíase ocorre predominantemente em emigrantes ou viajantes provenientes de áreas endêmicas. A doença pode apresentar manifestações cutâneas ou sintomas gastrointestinais, mas é assintomática em mais de 60% dos casos. Geralmente, é apenas suspeitada, em grande parte dos casos, devido ao aparecimento de eosinofilia significativa. O diagnóstico é importante, pois a infecção pode persistir por décadas, e pacientes imunodeprimidos com estrongiloidíase crônica apresentam alto risco de desenvolver quadros de hiperinfecção, uma complicação potencialmente fatal em que a proliferação larval leva à sepse e falência de múltiplos órgãos. ↳ Modo de Transmissão As larvas infectantes (filarioides), presentes no solo, penetram através da pele e chegam aos pulmões, traqueia e epiglote. Após serem deglutidas atingem o trato digestivo onde se transformam em verme adulto. A fêmea libera os ovos larvados que eclodem ainda no intestino, liberando larvas rabditoides (não infectantes), que saem pelas fezes. No meio externo, as larvas rabditoides podem evoluir para a larva filarioide (forma infectante) ou para adultos de vida livre que ao se acasalarem geram novas formas infectantes. Outra forma de infecção, é por meio da transmissão fecal-oral, com a ingestão de água ou alimentos contaminados com larvas infectantes. Além disso, é possível ter a autoinfecção externa e interna. A autoinfecção externa ocorre quando as larvas presentes em resíduos de fezes na região anal e perianal penetram no indivíduo pela mucosa retal. Já a autoinfecção interna ocorre no próprio intestino do indivíduo infectado, quando fatores intestinais propiciam a transformação das larvas e permitem a invasão direta da mucosa, e esse fator pode cronificar a doença em vários meses e anos. O período de incubação entre a penetração através do tegumento e o surgimento de larvas não infectantes nas fezes ocorre no prazo de 14 a 28 dias. Já o tempo para a manifestação dos primeiros sintomas varia de pessoa para pessoa. ↳ Ciclo biológico De maneira geral, o ciclo na estrongiloidíase pode ser dividido em duas etapas, o ciclo de vida livre e o ciclo parasitário. Ciclo de vida livre O ciclo de vida livre inicia com a liberação das larvas rabditoides com as fezes de um paciente infectado. As larvas rabditoides podem se desenvolver em vermes fêmeas e machos adultos de vida livre. Os vermes adultos copulam e a fêmea põe ovos que original larvas rabditoides. As larvas rabditoides sofrem maturação e originam larvas filarioides que estão aptas a penetrar na pele humana. Esse é o ciclo indireto (de vida livre). No ciclo direto (de vida livre) algumas larvas rabditoites liberadas com as fezes sofrem maturação direta originando larvas filarioides. Essas já apresentam potencial de infecção de novos seres humanos. Os ciclos direto e indireto darão origem a larvas filarioides que podem penetrar na pele de novas pessoas. Ciclo parasitário Ao penetrarem na pele do ser humano, as larvas filarioides migram para o intestino delgado. Elas podem entrar na corrente sanguínea e irem até os pulmões. Lá elas atravessam os alvéolos e são expelidas junto com o muco. Ao atingirem a laringe elas podem ser deglutidas e migrarem para o intestino delgado. Alguns autores também sugerem que as larvas podem migar diretamente pelas vísceras. Ao chegarem ao intestino delgado as fêmeas adultas partenogenéticas põem ovos. Dos ovos eclodem larvas rabditoites que podem ser eliminadas junto com as fezes, contaminando o ambiente. As larvas rabditoites também podem penetrar na mucosa do intestino grosso, ou da região perianal. Nesse caso elas entram na corrente sanguínea e seguem novamente em direção ao intestino delgado, originando novas fêmeas parasitas. ↳ Estrongiloidíase disseminada ou hiperinfecção A hiperinfecção por estrongiloides ou estrongiloidíase disseminada, ocorre particularmente quando os pacientes cronicamente infectados pelo Strongyloides stercoralis usam medicações imunossupressoras, como glicocorticoides, ou iniciam quimioterapia por malignidade. Pode ainda ocorrer em imunossuprimidos no contexto de uma infecção aguda pelo Strongyloides stercoralis. Em contraste, a infecção pelo HIV não parece ser associada com risco aumentado do desenvolvimento de estrongiloidíase disseminada. Estes pacientes apresentam proliferação descontrolada de larvas com disseminação para órgãos terminais, incluindo os pulmões, fígado e cérebro. A disseminação dos parasitas pode resultar em processo inflamatório significativo e disfunção de órgãos, que podem por si só desenvolver choque séptico. Os pacientes podem ainda apresentar translocação de enterobactériasque contribuem para desenvolvimento de sepse grave, pode ainda ocorrer invasão bacteriana do líquido cefalorraquidiano e meningite. Os sintomas iniciais incluem febre, náusea e vômitos, diarreia, dor abdominal, tosse, hemoptise e sibilância. A radiografia de tórax pode revelar infiltrados pulmonares, o que pode representar uma combinação de edema, hemorragia e pneumonite. Quadros de broncoespasmo são comuns em pacientes com estrongiloidíase disseminada. Distúrbios gastrointestinais, por sua vez, são comuns e podem progredir para íleo paralítico ou hemorragia franca. A hiponatremia, como resultado de síndrome de secreção inadequada de hormônio antidiurético (SIADH), também foi relatada nestas circunstâncias, mas é menos frequente. Na estrongiloidíase disseminada, as larvas filariformes podem ser encontradas em fluidos corporais, como líquido pleural. Devido à imunossupressão concomitante, com alguma frequência eosinofilia não aparece nestes pacientes, principalmente se bacteremia por gram-negativos acompanha o quadro. A tabela 2 se refere aos fatores de risco para desenvolvimento da estrongiloidíase disseminada. Em particular, as alterações de imunidade celular são particularmente suscetíveis ao desenvolvimento de estrongiloidíase disseminada, entre as drogas imunossupressoras a ciclosporina, por apresentar atividade contra o Strongyloides Stercoralis parece apresentar menor risco de desenvolvimento de estrongiloidíase disseminada. 3. IDENTIFICAR AS PARASITÁRIAS COM CICLO PULMONAR (SÍNDROME DE LOEFFLER) (NECATOR AMERICANOS, ANCYLOSTOMA DUODENALE, STRONGYLOIDES STERCORALIS E ASCARIS LUMBRICOIDES). A Síndrome de Loeffler é o comprometimento do trato respiratório associada a eosinofilia e alteração radiológica, causada por infecção parasitária e reação de hipersensibilidade aguda a drogas. O ciclo de pulmonar ou ciclo de Loss acontece em alguns parasitas que têm em seu ciclo de vida a necessidade de maturação das larvas no pulmão. É causada, principalmente, pelos helmintos: Necator americanus, Ancylostoma duodenale, Strongyloides stercoralis e Ascaris lumbricoides, destacando-se o último (utiliza-se o mnemônico NASA para memorização). Durante o ciclo de Loss, o paciente pode apresentar tosse seca, febre e perda de peso, o que define a síndrome de Loeffler. As lesões pulmonares são transitórias e as alterações radiológicas são caracterizadas por sombras que variam de tamanho e forma, e podem surgir em qualquer um dos lobos pulmonares. Outra característica da síndrome de Loeffler é o fato da mesma ter uma evolução clínica benigna. Vale lembrar, que a Sindrome de Loeffler pode ocorrer em indivíduos de qualquer faixa etária. Países de clima tropical e, principalmente, aqueles com condições sanitárias precárias, tem prevalência ainda maior. CICLO O ciclo do Ascaris lumbricoides é monoxênico, no qual a fêmea do helminto coloca cerca de 200.000 ovos não- embrionados que chegam ao ambiente através das fezes do hospedeiro. Os ovos, em condições de temperatura e umidade adequadas, tornam-se embrionados em cerca de 15 dias. É formada, então, dentro do ovo a primeira larva (L1) que após uma semana sofre transformação em L2 e, em seguida, em L3 que é a forma infectante. Dentro do ovo, essas larvas permanecem infectantes no solo por vários meses podendo infectar o hospedeiro que as ingerir. Após a ingesta dos ovos contendo L3, o ciclo apresenta duas fases: uma migratória através dos pulmões como larva (cursando com eosinofilia pulmonar) e uma crônica no intestino delgado, onde o verme se torna adulto. Os ovos embrionados atravessam o trato digestivo e as larvas eclodem no intestino delgado graças às condições específicas fornecidas pelo próprio hospedeiro (presença de agentes redutores, Ph ótimo, temperatura, sais e principalmente CO2) e liberam as larvas que atravessam as paredes intestinais na altura do ceco e entram nas vênulas e vasos linfáticos, passam pela circulação portal e invadem o fígado em 18 a 24 horas após o contágio. Em 2 a 3 dias, chegam ao átrio direito por meio da veia cava inferior ou superior e em 4 a 5 dias após, alcançam os pulmões (ciclo cardiopulmonar ou de LOSS). Após 8 dias da infecção, as larvas se transformam em L4, rompem os capilares e chegam aos alvéolos, onde mudam para a forma L5. Posteriormente, ascendem pelos bronquíolos; brônquios; traqueia; laringe e faringe, provocando tosse ao passar pela epiglote, podendo ser expelidas pela expectoração ou deglutidas, atravessando incólumes o estômago e fixando-se no intestino delgado. Transformam-se em adultos jovens 20 a 30 dias após a infecção e, só então, em 40 a 60 dias atingem maturidade sexual, iniciam a copulação e oviposição e os ovos já são encontrados nas fezes do hospedeiro e podem contaminar água e alimentos, reiniciando o ciclo. Em resumo: A infecção por A. lumbricoides inicia-se com a ingesta de ovos de vermes presentes em alimentos contaminados, as larvas liberadas no intestino, alcançam a circulação portal, atravessam o fígado e chegam a circulação pulmonar, onde invadem o espaço alveolar. Neste estágio ocorre o desenvolvimento da larva, que é então reintroduzida no canal alimentar através da deglutição de escarro contaminado. A larva atinge então a fase adulta, iniciando a reprodução e a colocação de ovos, que irão contaminar o solo e consequentemente os alimentos, reiniciando o processo. O desenvolvimento da infecção por A. lumbricoides da ingesta até a maturação do verme adulto e eliminação de ovos dura cerca de 18 a 42 dias e os sintomas, quando presentes, iniciam-se após 1 a 2 semanas do contágio. O dano ao tecido pulmonar na síndrome de Loeffler é causado pela liberação de citocinas dos eosinófilos, células envolvidas em infecções parasitárias, de um perfil de resposta inflamatória modulada por linfócitos Th2, que medeia a ativação, diferenciação, sobrevivência e migração de mais eosinófilos, através de citocinas específicas (IL-4, IL-5), um processo característico de uma reação de hipersensibilidade do tipo I em resposta ao Ascaris lumbricoides. DIAGNOSTICO Clinicamente a Sindrome de Loeffler pode ser assintomática, mas a maioria das vezes é caracterizada por um quadro de dispneia asmatiforme moderada, tosse seca, sibilos, desconforto retroesternal e febre baixa. Pode ocorrer também hemoptise, mialgia, dor torácica e anorexia. O exame físico geralmente apresenta sibilos e crepitações difusas à ausculta pulmonar. Laboratorialmente, a síndrome é reconhecida por eosinofilia em que 500-1.000 células/mm3 (25% a 30%) dos leucócitos sanguíneos são eosinófilos. Eosinofilia tecidual também está presente na síndrome, todavia, a biópsia do tecido pulmonar não é obrigatória para concluir o diagnóstico. Altas concentrações de Proteína C-reativa e de IgE no plasma também são achados laboratoriais comuns. Os sintomas surgem 10 a 16 dias após o início da infecção, seja a ingesta do ovo ou a penetração das larvas, dependendo do verme. Deve-se, então, investigar a história social e de viagem para áreas de risco neste período. O exame físico pode ser normal ou apresentar sibilos e creptações finas à ausculta pulmonar. Podendo, ainda, associar-se a manifestações extra-pulmonares como hepatomegalia, reações meningeas ou erupção cutânea prurítica. O exame parasitológico das fezes, é importante, entretanto, na maioria dos casos ele é inicialmente negativo, permanecendo desta fora até cerca de 8 semanas após o início dos sintomas pulmonares. Esta negatividade ocorre porque na fase pulmonar do ciclo parasitário, os vermes ainda estão na fase larvária, e, portanto, não colocam os ovos, que seriam percebidos pelo exame. A radiografia de tórax evidencia infiltrado alvéolo- intersticialnão segmentares, transitórios, de caráter migratório, localizados preferencialmente na periferia, mas que podem ter qualquer localização e ser unilateral ou bilateral. Além disso, podem ter forma pequena e arredondada ou grande e irregular. TRATAMENTO Quando há confirmação laboratorial da infecção parasitária, deve-se utilizar drogas anti-helmínticas como base do tratamento, até mesmo para evitar manifestações tardias da parasitose, como diarreia, desnutrição, dor abdominal e oclusão intestinal. Corticoide sistêmico também pode ser utilizado, e são bastante efetivos na diminuição da inflamação celular e da eosinofilia. Neste caso, a droga mais usada é a Prednisona. Os medicamentos normalmente indicados são vermífugos como Albendazol, Praziquantel ou Ivermectina, por exemplo, de acordo com o parasita causador da síndrome de Loeffler e com a orientação médica. Além do tratamento com medicamentos anti- parasitários, é importante, nesses casos, ter atenção às condições de higiene já que as parasitoses normalmente estão relacionadas a condições sanitárias precárias. Por isso, é importante lavar frequentemente as mãos, manter as unhas aparadas e lavar os alimentos antes de prepará-los. 4. IDENTIFICAR AS FORMAS DE PREVENÇÃO DE VERMINOSES. A Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe intervenções de controle baseadas na administração periódica de anti-helmínticos em grupos de pessoas (pré-escolar, escolar, mulheres em idade reprodutiva [incluindo mulheres grávidas no segundo e terceiro trimestres e mulheres que amamentam], adultos em certas ocupações de alto risco, como apanhadores de chá ou mineiros) vivendo em áreas de risco, apoiadas com estratégias para melhorar o saneamento básico e a educação para saúde. A estratégia de tratamento comunitário requer o levantamento da prevalência e intensidade da infecção na comunidade para determinar a carga parasitária da população e o planejamento. A OMS não recomenda o rastreamento individual, já que o custo deste é de quatro a dez vezes maior do que o tratamento em si. Recomenda que haja tratamento comunitário empírico anual somente em áreas onde a prevalência de HTS esteja entre 20% e 50% da população, e tratamento duas vezes por ano em áreas com mais de 50%. Os medicamentos recomendados pela OMS - albendazol (400 mg – dose única) e mebendazol (500 mg – dose única) - são eficazes, baratos e fáceis de administrar. Estes medicamentos passaram por extensos testes de segurança e foram usados em milhões de pessoas com poucos e pequenos efeitos colaterais. Recomenda-se a disponibilização aos ministérios da saúde nacionais em todos os países endêmicos o tratamento com estas doses para todas as crianças pré-escolares com idade entre 24 e 60 meses e crianças em idade escolar. Meia dose de albendazol (isso é, 200 mg) é recomendada para crianças com 12 a 24 meses de idade. A quimioterapia preventiva (desverminação), usando uma dose de albendazol (400 mg) ou mebendazol (500 mg) é recomendada como intervenção de saúde pública para gestantes, após o primeiro trimestre de gestação, que habitem áreas onde: (i) a linha de base da prevalência de infecções por ancilostomídeos e/ou T. trichiura seja 20% ou superior para mulheres gestantes, e (ii) a anemia seja um problema grave de saúde pública, com prevalência de 40% ou mais entre as mulheres gestantes, para reduzir a carga de infecção por ancilostomídeos e T. trichiura. O Brasil, a partir de 2016, saiu da situação endêmica de HTS, não necessitando mais de administração em massa de medicações anti-helmínticas. Atualmente, nosso país se encontra em vigilância para garantir que os níveis de infecção permaneçam abaixo dos limiares de eliminação comunitária. É importante analisar os aspectos coletivos e individuais. As boas condições sanitárias (educação da comunidade; controle e vigilância dos alimentos, lixo e esgoto; oferta de água tratada) e de moradia, assim como a boa saúde da população contribuem para a profilaxia geral. Para protozoários a disseminação da infecção poderá ser controlada pela higienização das mãos após a defecação e o manuseio de alimentos, lavagem de frutas e vegetais antes do consumo, saneamento básico e tratamento da água potável. Nas creches, devem ser enfatizados o saneamento adequado e os cuidados pessoais. A higienização das mãos com água e sabão pela equipe e pelas crianças deve ser enfatizada, especialmente no uso do banheiro ou no manuseio de fraldas sujas, ação preventiva fundamental para a disseminação da giardíase. Quando há suspeita de um surto, o serviço de vigilância epidemiológica deve ser contatado e a investigação deve ser realizada para tratar todas as crianças com sintomas, cuidadores de crianças e familiares infectados com Giardia. Crianças infectadas devem ser excluídas da creche até que as fezes fiquem na fralda ou na criança continente, que a frequência das evacuações não seja superior a duas vezes da frequência normal daquela criança. Além das precauções padrão, recomenda-se as de contato para as crianças com fraldas ou incontinentes durante o período da doença ou para controlar surtos institucionais. Na desinfecção do ambiente, o peróxido de hidrogênio é preferível ao cloro para limpeza ambiental. Para evitar alguns helmintos é importante não consumir carne crua ou defumadas e verificar a procedência destes alimentos. Além disso, evitar o contato íntimo com terra contaminada com fezes humanas ou de animais. No caso da amebíase, a transmissão sexual pode ser evitada pelo uso de preservativos e evitar práticas sexuais que podem permitir a transmissão fecal-oral. Em pessoas imunocompetentes, a excreção de oocistos geralmente cessa dentro de duas semanas após a resolução completa dos sintomas. PREVENÇÃO E CONTROLE DA AMEBÍASE Entamoeba histolytica e E. dispar são cosmopolitas, embora as infecções amebianas ocorram mais frequentemente na Ásia, na África e na América Latina. Estima-se a ocorrência anual de 400 milhões de novas infecções por ambas as espécies em todo o mundo. Sabe-se hoje que E. dispar é dez vezes mais comum do que E. histolytica, motivo pelo qual o número anual de casos de colite amebiana se situa em torno de 40 a 50 milhões. A amebíase é a quarta causa mais frequente de morte por protozoários (70.000 mortes anuais), situando-se depois da malária, da doença de Chagas e das leishmanioses. Nos países desenvolvidos, a ocorrência de amebíase está, em geral, ligada à imigração de trabalhadores vindos de países em desenvolvimento. Nas áreas urbanas do sudeste do Brasil, a amebíase intestinal vem se tornando progressivamente menos comum, sendo raros os casos de disseminação extraintestinal. A amebíase é uma típica doença de transmissão orofecal, cuja profilaxia depende de condições sanitárias adequadas e de educação sanitária. A principal fonte de infecção são os indivíduos assintomáticos que eliminam cistos por longos períodos sem procurar tratamento; os pacientes com disenteria amebiana são relativamente pouco importantes para a disseminação da infecção, pois eliminam predominantemente trofozoítos que se degeneram ao cair no meio externo e, quando confirmado o diagnóstico, são tratados. O principal veículo de transmissão de cistos é a água, embora alimentos como vegetais e frutas também desempenhem um papel importante. Manipuladores de alimentos também são importantes na transmissão, bem como moscas e baratas, considerados vetores mecânicos. A contaminação pessoa a pessoa é também possível. Como os cistos de Entamoeba são sensíveis à dessecação, a transmissão pelo ar não é relatada. A identificação e tratamento dos excretores assintomáticos de cistos é uma estratégia potencial de controle, porém de difícil implementação em áreasde alta transmissão. PREVENÇÃO E CONTROLE DA GIARDÍASE Nos EUA, estima-se que 4 a 7% dos exames parasitológicos de fezes realizados em laboratórios especializados sejam positivos para Giardia duodenalis. No Brasil, observa-se uma tendência de queda pronunciada da prevalência de helmintos intestinais entre crianças, especialmente de área urbana, ao longo das três últimas décadas, tornando G. duodenalis o parasito intestinal mais comum em diversas populações. As cargas parasitárias são distribuídas de modo heterogêneo em populações de hospedeiros; a maioria dos indivíduos não está infectada ou excreta pequenas quantidades de cistos, compatíveis com uma baixa carga parasitária. Poucos excretam quantidades de cistos sugestivas de grandes cargas parasitárias. O uso de métodos bioquímicos e moleculares para a caracterização de isolados de G. duodenalis possibilitou esclarecer o papel de reservatórios animais como fonte potencial de infecção humana. Existem variantes eurixenas de G. duodenalis, reunidas nos grupos genéticos (assemblages) A e B, que circulam entre seres humanos e diversos outros mamíferos, enquanto outras variantes são estenoxenas, confinadas a espécies individuais de hospedeiros, como cães (agrupamentos C e D), gatos (agrupamento F), bovinos, suínos e equinos (agrupamento E) e roedores (agrupamento G). Um dos principais obstáculos para o controle da giardíase humana reside em seu potencial zoonótico. A importância relativa do reservatório animal na infecção humana varia em diferentes contextos epidemiológicos. Em um surto de giardíase de veiculação hídrica no Canadá, por exemplo, a aplicação de métodos bioquímicos permitiu incriminar esquilos como a fonte de infecção. Em áreas urbanas da Austrália, proporções semelhantes de cães são infectados com variantes de G. duodenalis com potencial zoonótico (agrupamentos A e B) e variantes exclusivamente caninas, sugerindo a possibilidade de transmissão de G. duodenalis entre animais de estimação e o homem. Existe uma vacina comercialmente disponível para a prevenção da giardíase canina. A água é reconhecida como importante veículo para a transmissão da giardíase. É também importante mencionar o papel de alimentos contaminados por manipuladores e dos insetos atuando como vetores mecânicos para o transporte de cistos. Os contatos pessoa a pessoa também são relevantes na transmissão, especialmente em instituições como creches e asilos. A transmissão pessoa-pessoa não se restringe necessariamente a situações em que as condições sanitárias são precárias. Explica-se assim, em parte, a persistência da giardíase em comunidades com acesso adequado a água encanada e esgoto tratado, mesmo quando os demais parasitos intestinais se tornam raros. 5. CARACTERIZAR DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS PRINCIPAIS PARASITÁRIA DO TRATO DIGESTÓRIO. DIAGNÓSTICO GERAL Helmintíases Habitualmente, as helmintíases são diagnosticadas pelo exame de amostras fecais ou de outras amostras com presença de ovos, larvas ou, às vezes, vermes adultos ou seus segmentos. O exame macroscópico das fezes quanto à sua cor, consistência, a visualização da presença de qualquer verme ou seus segmentos, ou de sangue ou de muco podem dar uma pista sobre o agente etiológico. Devido à eliminação intermitente de ovos e/ou larvas e à variação da carga da infestação, várias amostras (pelo menos três) coletadas durante o período de 10 dias são mais sensíveis para detectar parasitas. Amostras fecais frescas de quantidade aproximadamente de uma colher das de chá grande ou cerca de 10 mL de amostra de fezes líquidas devem chegar ao laboratório idealmente dentro de uma hora após a coleta. Além da análise direta das fezes, o diagnóstico de algumas helmintíases pode ser realizado ou inferido por outros exames, tais como hemograma, sorologia e testes moleculares. Técnicas baseadas em microscopia A. Microscopia direta Permite a observação de ovos e larvas de helmintos em lâmina de microscópio contendo esfregaço de amostra das fezes. Nos casos de infestação leve a sensibilidade é baixa. Métodos de concentração fecal – Quando é pequena a quantidade de organismos, as técnicas de concentração fecal podem aumentar a sensibilidade diagnóstica. O método de Hoffman, Pons e Janer, também conhecido como método de Lutz, pela sedimentação espontânea, permite o encontro de ovos e larvas de helmintos e de cistos de protozoários. Os métodos de Blagg (também conhecido por método de MIFC), de Ritchie e Coprotest, pela sedimentação por centrifugação, são usados para a pesquisa de ovos e larvas de helmintos, cistos e alguns oocistos de protozoários. Já o método de Willis, baseado no princípio de flutuação espontânea, é mais indicado para a pesquisa de ovos leves, principalmente de ancilostomídeos. Por sua vez, o método de Faust, combina centrifugação e flutuação, usado para a pesquisa de cistos e alguns oocistos de protozoários, permite, também, o encontro de ovos leves. Contagem de ovos (Método de Kato – Katz) - Este é o método mais comumente empregado para quantificação de ovos de helmintos, muito útil em levantamentos epidemiológicos para determinação da carga de parasitas, além da simplicidade e do baixo custo. Esse método se baseia na concentração dos ovos de helmintos pela filtração em uma malha que, ao reter os detritos maiores, permite a passagem somente dos detritos menores e dos ovos. A OMS recomenda a realização desse exame com lâminas duplicadas ao se utilizar esse método. Técnicas FLOTAC e mini-FLOTAC - São métodos de contagem de ovos fecais desenvolvidos mais recentemente. FLOTAC determina a flutuação da amostra em uma centrífuga, seguida pelo corte da suspensão flutuante e quantificação de ovos. A principal vantagem é poder ser usado para a detecção de diferentes helmintos, bem como protozoários intestinais simultaneamente. Alto custo e necessidade do uso de centrífuga são os principais fatores limitantes para sua utilização. O método Mini-FLOTAC, uma forma simplificada do FLOTAC, foi desenvolvido para locais com recursos limitados, com a vantagem de poder avaliar amostras fecais preservadas. A sensibilidade do mini-FLOTAC é comparável à do Kato- Katz, mas inferior à do FLOTAC. B. Método de Graham (Fita Adesiva) É um método específico para pesquisa de ovos de Taenia sp. e Enterobius vermicularis, situação na qual o prurido anal leva à suspeita diagnóstica. A técnica é simples, recolhendo-se os ovos que ficam na região anal, perianal e perineal pela parte adesiva, aplicando- se a seguir sobre uma lâmina para visualização por microscopia. C. Cultura A cultura é usada principalmente para recuperar S. stercoralis, que é vivíparo. Ancilostoma pode ser artificialmente cultivado em laboratório para produzir larvas rabdiformes. Existem muitos métodos, alguns dos quais são obsoletos, enquanto outros são usados em ambientes de pesquisa: Harada-Mori (cultura em tiras de papel de filtro); técnica de cultura de inclinação em papel de filtro usando placa de Petri; cultura em carvão; técnica de cultura de Baermann-Morais e de Rugai. As desvantagens das técnicas de cultura incluem a necessidade de perícia técnica, dificuldade de execução sob condições de campo e a demora. Além disso, amostras antigas e refrigeradas não são adequadas. Outros exames relevantes A. Testes sorológicos Em situações em que amostras fecais não estão disponíveis, a sorologia pode ter um papel no diagnóstico. Existem duas categorias de testes sorológicos: detecção de antígenos e ensaios de detecção de anticorpos. Estes incluem ELISA, imunofluorescência indireta, imunofluorescência direta, imunoblot e imunocromatografia. As desvantagens associadas ao diagnóstico sorológico são: sua naturezamais invasiva; persistência dos anticorpos após o tratamento e, portanto, resultados positivos não serem necessariamente indicativos de infecção ativa; e reação cruzada com outros nematódeos. No entanto, a sorologia desempenha um papel importante no diagnóstico de infecção por S. stercoralis, pois tem maior sensibilidade em comparação com os testes parasitológicos convencionais. Uma outra opção são os testes de detecção de coproantígenos, estando disponíveis principalmente para Strongyloides e ancilostomídeos. B. Testes de biologia molecular Os avanços nas técnicas de biologia molecular proporcionaram uma grande vantagem de detecção rápida, bem como quantificação de ovos de helmintos. A sensibilidade muito melhor das técnicas moleculares as torna especialmente úteis para monitorar o efeito do tratamento ou estratégias de controle. Estão disponíveis vários métodos diferentes de reação em cadeia da polimerase (PCR), tais como PCR convencional, PCR quantitativo (qPCR) e PCR multiplex. Esse último tem como superioridade a possibilidade de de tectar múltiplos parasitas de uma só vez. Muitos estudos compararam as sensibilidades dos métodos moleculares e tradicionais. Para A. lumbricoides, a microscopia teve sensibilidade de 70% a 88% versus 85% a 100% nos métodos moleculares, e de 30% a 88% versus 75% a 100%, 16% a 50% versus 76% a 93% e de 88% versus 100% para ancilostomídeos, S. stercoralis e T. trichiura respectivamente. C. Hemograma A eosinofilia (>600/mm3 ou > 6%) pode ser usada como marcador de possível infecção por helmintos. Muitos estudos mostraram correlação entre a presença de eosinofilia e helmintíase, que é geralmente observada em cerca de 47% dos casos de ascaridíase, 78% dos casos de tricuríase e 82% dos casos de estrongiloidíase, até 60% dos casos de infecção por ancilóstomo. Além de eosinofilia, hemoglobina de ≤ 5g/dL (60%) e baixa concentração de ferritina (33%) podem ser vistas em pacientes com infestação maciça por ancilóstomo. D. Escarro Em caso de ascaridíase, ancilostomose ou S. sterocoralis, durante a fase de migração larval da infecção, o diagnóstico pode ser feito encontrando-se as larvas no escarro ou nas lavagens gástricas. Na ascaridíase, cristais de Charcot-Leyden e eosinófilos podem ser encontrados no escarro. Protozoários A tabela 3 resume os principais exames laboratoriais para diagnóstico das infecções intestinais por protozoários. TRATAMENTO GERAL Helmintíases Dependendo do seu mecanismo de ação, as drogas anti-helmínticas podem ser amplamente classificadas nas seguintes categorias: 1) Ligantes de beta-tubulina: os benzimidazólicos, incluindo mebendazol e albendazol, que são drogas comumente usadas nesta categoria. Ao se ligarem seletivamente à beta-tubulina dos nematoides, eles inibem a formação dos microtúbulos, causando a ruptura do citoesqueleto, bem como má captação intestinal de glicose, e determina então inanição do verme; 2) Agentes espásticos paralisantes: incluem o palmoato de pirantel e o levamisol, que são agonistas dos receptores nicotínicos de acetilcolina 3) Agente indutores de paralisia flácida: a droga clássica é piperazina que inibe reversivelmente a transmissão neuromuscular no verme, sendo um agonista de GABA. 4) Nitazoxanida: é um novo composto de nitrotiazol benzamida com atividade no tratamento de várias infecções intestinais por protozoários e helmintos. No Brasil, está aprovada em bula pela ANVISA para crianças maiores de 12 meses de idade para os seguintes helmintos: Enterobius vermicularis, Ascaris lumbricoides, Strongyloides stercolaris, Ancylostoma duodenale, Necator americanus, Trichuris trichiura, Taenia sp e Hymenolepis nana. A dose recomendada por idade varia: 12-47 meses: 100 mg, VO, 2x/dia por 3 dias; 4-11 anos: 200mg VO, 2x/dia por 3 dias; maiores de 11 anos: 500mg, VO, 2x/dia por 3 dias. O albendazol é metabolizado após a absorção, e o metabólito bioativo resultante pode se distribuir amplamente nos tecidos humanos, tornando-se a droga de escolha para as infecções por larvas de toxocara e de cisticerco, bem como para a maioria das infecções por helmintos intestinais. Por sua vez, o mebendazol, que não é absorvido de forma apreciável fora do intestino, pode ser considerado um medicamento de primeira linha quando utilizado em dose única, apenas para ascaridíase e enterobíase. Cursos prolongados de albendazol ou mebendazol são necessários para tratar a tricuríase e o mebendazol para ancilostomídeos. Terapias combinadas com albendazol e ivermectina também podem ser usadas para tricuríase. Tanto o albendazol quanto o mebendazol podem causar dor abdominal transitória, náusea ou diarreia em crianças infectadas com grande quantidade de vermes. A ivermectina representa hoje o tratamento de primeira linha para a estrongiloidíase. Crianças que necessitam de doses elevadas ou prolongadas de corticosteroides devem ser rastreados para avaliação de risco de hiperinfecção por Strongyloides e tratados com ivermectina antes de começar a imunossupressão. Protozoários Os medicamentos utilizados para tratamento das parasitoses por protozoários estão esquematizados na tabela 5. Diagnóstico laboratorial e tratamento da amebíase O diagnóstico laboratorial da amebíase intestinal é rotineiramente realizado por meio de exame parasitológico de fezes. Em fezes diarreicas ou disentéricas, predominam as formas trofozoíticas; nas fezes formadas predominam os cistos. O encontro de trofozoítos nas fezes exige o exame de amostra fresca ou preservada; se não fixados adequadamente até 30 min após a sua eliminação nas fezes, os trofozoítos tendem a degenerar-se. Para a identificação das características morfológicas que permitem distinguir trofozoítos de E. hystolytica/ E. dispar de trofozoitos de amebas comensais, as preparações devem ser coradas, geralmente com hematoxilina férrica ou tricrômico, antes do exame microscópico. O achado de cistos, em fezes formadas, é geralmente feito com o auxílio de métodos de concentração. Entre eles, os mais frequentemente utilizados na prática diagnóstica são os métodos de Hoffmann et al., que se baseia na sedimentação de elementos parasitários por ação da gravidade, e o de Faust et al., que objetiva concentrar os elementos parasitários mediante diversas etapas de centrífugo-flutuação das amostras de fezes. Embora o cultivo de amebas intestinais seja realizado em laboratórios de pesquisa há mais de 80 anos, seu uso para diagnóstico não é amplamente recomendado. A sensibilidade é relativamente baixa (50 a 70%), mesmo em laboratórios de referência, e o procedimento é excessivamente laborioso para sua implementação na rotina diagnóstica. Entretanto, o cultivo in vitro pode ser utilizado para a posterior caracterização biológica e bioquímica de isolados de amebas. Como o exame microscópico não possibilita distinguir E. histolytica de E. dispar, o desenvolvimento de métodos imunológicos e moleculares com essa finalidade recebeu grande impulso em décadas recentes. Há cinco imunoensaios comercialmente disponíveis para a detecção específica de antígenos de E. histolytica nas fezes com o uso de anticorpos monoclonais, embora nenhum deles seja de uso disseminado em laboratórios de rotina do Brasil. Os métodos laboratoriais mais sensíveis para o diagnóstico da amebíase humana são aqueles fundamentados na reação em cadeia da polimerase (PCR). O primeiro obstáculo para o desenvolvimento de ensaios moleculares foi a padronização de métodos apropriados para a conservação e a extração de DNA de cistos e trofozoítos do parasito a partir de amostras de fezes, extremamente ricas em substâncias capazes de inibir a ação das DNA polimerases. Atualmente, entretanto, são encontradosdiversos produtos comerciais que permitem a extração rápida e eficaz de DNA a partir de amostras fecais frescas ou preservadas. Dos inúmeros alvos moleculares usados em ensaios com diferentes formatos, desde a PCR convencional até os protocolos de PCR em tempo real, o mais comum é o gene que codifica a subunidade 18S de RNA ribossômico. Diversos métodos disponíveis em laboratórios de referência permitem a distinção entre E. histolytica, E.dispare E. moshkovskii, embora nenhum deles seja amplamente empregado nos laboratórios de rotina diagnóstica do Brasil. Os métodos moleculares permitem também, de modo mais simples e sensível que a análise de zimodemas, examinar níveis de diversidade genética existentes em isolados naturais de E. histolytica de diferentes regiões endêmicas, associados a padrões distintos de doença. O diagnóstico de abscesso amebiano pode ser relativamente difícil, e depende em grande parte de dados clínicos e epidemiológicos. Exames de imagem, como a ultrassonografia ou a tomografia computadorizada, permitem a identificação de abscessos hepáticos. Em geral não se recomenda a punção dos abscessos amebianos, com finalidade diagnóstica ou terapêutica, diante do risco de contaminação bacteriana secundária. Entretanto, os métodos imunológicos e moleculares de detecção de amebas nas fezes podem também ser utilizados com material obtido por meio de punção de abscessos. Os testes sorológicos são positivos para anticorpos na maioria dos indivíduos com amebíase intestinal invasiva (75%) e abscesso amebiano (90%). O imunoensaio enzimático (ELISA), considerado teste de referência, tem grande utilidade diagnóstica na amebíase extraintestinal de indivíduos provenientes de áreas não endêmicas, em que a presença de anticorpos em pacientes com um quadro clínico sugestivo pode ser interpretada como a confirmação do diagnóstico. Entretanto, em área endêmicas muitos indivíduos saudáveis podem apresentar anticorpos detectáveis meramente em função de infecções prévias. Existem pelo menos sete imunoensaios enzimáticos para a detecção de anticorpos específicos contra E. histolytica comercialmente disponíveis. Os testes de aglutinação em látex, desenvolvidos com a mesma finalidade, são raramente utilizados hoje em dia em função de sua baixa especificidade. O tratamento de amebíase depende da forma clínica encontrada. As estratégias de tratamento baseiam-se em agentes com ação predominante no lúmen intestinal, utilizados nas formas não invasivas, e aqueles com melhor penetração nos tecidos, utilizados nas formas invasivas. Na forma intestinal assintomática, utilizam-se geralmente uma dicloroacetamida (etofamida) ou uma benzilamina (teclosan) como amebicidas de ação luminal nos seguintes esquemas: • Etofamida: 500 mg, 2 vezes/ dia, durante 3 dias • Teclosan: 500 mg de 8 em 8 h por 1 dia ou 100 mg, 3 vezes/ dia, durante 5 dias. Alternativamente, pode-se empregar um composto nitroimidazólico com ação tecidual: • T~nidazol: 2 g/ dia, durante 2 a 5 dias, em adultos; 50 mg/kg/ dia, durante 2 dias, em crianças. Há poucos ensaios clínicos aleatorizados de boa qualidade metodológica que avaliaram o tratamento da amebíase invasiva ou extraintestinal. Em geral, empregam-se derivados nitroimidazólicos nas seguintes dosagens: • Metronidazol: 500 a 750 mg/ dose 3 vezes/ dia, durante 1 O dias, em adultos; 20-40 mg/ dia, durante dez dias, em crianças • Tinidazol: 2 g/ dia, durante 2 a 5 dias, em adultos; 50 mg/kg/ dia, durante 2 a 5 dias, em crianças. O esquema fundamentado em tinidazol parece ser ligeiramente superior, em termos de eficácia, no tratamento da colite amebiana, embora o número disponível de estudos para comparação ainda seja pequeno. Nas formas intestinais, sugere-se realizar a pesquisa de cistos e trofozoítos nas fezes, como controle de cura, 7, 14, 21 e 28 dias após o término do tratamento. Diagnóstico laboratorial e tratamento da giardíase A infecção humana por G. duodenalis é, em geral, diagnosticada por meio de exame parasitológico de fezes. Em fezes diarreicas espera-se encontrar trofozoítos do parasito, situação em que amostras recém-emitidas devem ser examinadas por meio do método direto, preferencialmente com coloração pela hematoxilina férrica ou pelo tricrômico. Nas fezes formadas predominam cistos. Para o diagnóstico, são geralmente necessárias técnicas de concentração, para separar os cistos de partículas interferentes presentes nas fezes. Os métodos de sedimentação de Hoffman et al. e de centrífugo-flutuação de Faust et al. são os mais utilizados, em nosso meio, com essa finalidade. Os cistos podem ser corados com solução de Lugol, hematoxilina férrica ou tricrômico. Como os trofozoítos e, principalmente, os cistos de G. duodenalis são eliminados intermitentemente nas fezes, sugerem-se a coleta e o exame de pelo menos três amostras fecais, colhidas ao longo de 1 semana, para aumentar a sensibilidade do exame parasitológico. Estima-se que a sensibilidade de um único exame de fezes esteja em torno de 60 a 80%, enquanto três exames seriados seriam capazes de detectar mais de 90% das infecções por G. duodenalis. É possível pesquisar trofozoítos de G. duodenalis em amostras de suco duodenal, obtidas por meio de um dispositivo disponível no comércio (Enterotest®), que consiste em uma cápsula contendo um cordão em seu interior com um anel de náilon. A cápsula ingerida pelo paciente degrada-se no intestino delgado, liberando o cordão com o anel em que se aderem os trofozoítos. A extremidade proximal desse cordão é fixada à face do paciente com fita adesiva. O cordão é recuperado, colocado em solução salina e examinado. Ocasionalmente, aspirados duodenais são obtidos para o diagnóstico de giardíase pelo encontro de trofozoítos. A obtenção de amostras de tecido por biopsia é raramente justificada, mas o achado do parasito é possível em amostras obtidas por aposição do fragmento de tecido em uma lâmina, seguida de fixação e coloração. Existem também pelo menos nove produtos comerciais para a detecção de antígenos de G. duodenalis nas fezes, através de imunoensaio enzimático (ELISA) de captura, com sensibilidade entre 85 e 98% e especificidade superior a 90%. Alguns dos testes comercialmente disponíveis detectam não somente antígenos de G. duodenalis, mas também de outros protozoários intestinais como E. histolytica/ dispar, Cryptosporidium parvum e C. hominis. Os métodos moleculares para o diagnóstico de giardíase, que se baseiam na amplificação de sequências de DNA do parasito com a reação em cadeia da polimerase (PCR), bem como as técnicas de cultivo do parasito in vitro, permanecem essencialmente restritos ao ambiente de pesquisa. Por outro lado, os métodos de detecção de anticorpos séricos contra G. duodenalis são utilizados em estudos epidemiológicos, com o objetivo de estimar a população exposta ao parasito, mas não distinguem infecções atuais de pregressas. Por isso, não são em geral aplicados na rotina diagnóstica. Os compostos nitroimidazólicos, como metronidazol, tinidazol, secnidazol, ornidazol e nimorazol, são os principais agentes atualmente empregados no tratamento da giardíase. Em geral são recomendados os seguintes esquemas terapêuticos: • Tinidazol, secnidazol, ornidazol, nimorazol: 2 g, dose única, em adultos; 50 mg/kg, também dose única, em crianças • Metronidazol: 250 mg, 3 vezes/ dia, durante 5 a 10 dias, em adultos; 5 mg/kg/ dia, 3 vezes/ dia, durante 5 a 10 dias, em crianças. As alternativas aos nitroimidazólicos são a furazolidona (100 mg/2 vezes/ dia/7 a 10 dias em adultos e 2 mg/kg/2 vezes/ dia/ 7 a 10 dias em crianças) e o albendazol (400 mg/ dia/ 5 dias em adultos e 15 mg/kg/dia [dose máxima, 400 mg]/5 a 7 dias em crianças. Sugere-serealizar novos exames parasitológicos de fezes, 7, 14 e 21 dias após o término do tratamento, como controle de cura.
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